terça-feira, 28 de maio de 2013

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sábado, 25 de maio de 2013

PASTOREANDO UMA IGREJA QUE JÁ NÃO EXISTE MAIS

INTRODUÇÃO
Parece uma contradição falar em pastores de uma Igreja que já não existe mais, especialmente quando encontramos relatórios que falam de milhares de igrejas e milhares de pastores, quase dois pastores para cada igreja existente. Sem desconsiderar a existência de outras denominações, quero resguardar-me a liberdade de cometer uma generalização sabendo que ainda existem algumas exceções, tanto em todos os aspectos quanto em apenas alguns dos que pretendo abordar.
De que Igreja pretendo falar? Daquela que proclama possuir algumas características como parte de sua essência. Vejamos que características são essas:
I. A adoção de um livro como absoluto normativo, de origem divina, com autoridade para definir em que se deve acreditar e como se deve agir;
II. A adoção de documentos humanos como explicações aceitáveis deste livro normativo, documentos com os quais voluntariamente se compromete;
III. A submissão a autoridades sem poder coercitivo, tendo como base autoritativa um comprometimento voluntário fruto de uma transformação interior exteriormente motivada.
IV. A coerência entre o que se afirma crer e o que se faz, ou, dito de outra maneira, como o “crer” influencia o “ser” e o “agir”.
Antes de continuar, devo afirmar que olho primeiro para o meu próprio umbigo, isto é, não se trata de uma crítica ao outro, mas de uma chamada a nós, ao corpo, do qual sou parte, com o qual sofro, ao qual faço sofrer e que, também, me causa dor. Chamo a atenção para este mal que atinge todas as áreas, todos os extratos que formam uma Igreja. Desde a liderança formal, regularmente eleita e empossada, até aquela informal e sociologicamente estabelecida, atingindo aqueles que caracteristicamente preferem ser liderados. Assim, pastores, missionários, presbíteros, diáconos, presidentes de sociedades internas e todos os demais membros estão quase sempre, mais ou menos, contaminados por este mal. 
Afinal, que Igreja é esta que não existe mais? Como proposto, quatro temas devem ser abordados: bíblia, confissões de fé, eclesiologia e ética.
A IGREJA E A BÍBLIA
A Igreja não titubeia, ao menos na maioria dos casos e oficialmente, em afirmar que possui um livro sagrado, que deve ser recebido, conhecido e obedecido como regra absoluta daquilo que não apenas se deve mas somente no que se pode crer. Colocado de outra maneira, a Igreja tem um livro que normativa aquilo em que se deve crer. É obrigatório que se creia no conteúdo deste livro porque ele tem origem no ser divino que tem autoridade absoluta. Por outro lado este livro também diz aquilo que não se pode aceitar como matéria de fé, aquilo que tem que ser rejeitado - por mais que pareça desejável.
Avancemos. Esta Igreja afirma de maneira oficial que tudo o que ela crê tem como base o registro da vontade de Deus na sua Palavra, a bíblia Sagrada. Para crer como se deve crer existe a necessidade de conhecer, de conhecer bem e profundamente o que já foi revelado, capacitando a Igreja a dizer não diante de dois tipos de inovações: o antibíblico e o extra bíblico. Ainda existe esta Igreja? Esta Igreja que considera a sua bíblia como fonte absoluta [e não obsoleta] de autoridade para o seu ser e o seu crer? Ela ainda existe realmente?
Lamentavelmente é muito comum que a Palavra seja rebatida, seja rejeitada com argumentos que na verdade não são argumentos, ou seja, frases como “isto que está escrito não tem nada a ver” com as necessidades e com a realidade presente quando suas assertivas não são convenientes. A bíblia é relegada a uma estranha e passada era, cujos textos precisam ser aceitos somente se estiverem concordando com as aspirações da atualidade do momento vivido pela Igreja segundo a sua perspectiva - desconsiderado a sua vivacidade e eficácia intrínseca.
Dito de outra maneira, é a Igreja que decide o que, na bíblia, é  aceitável, ao invés de recebe-la como orientação para corrigir-se e, finalmente, tornar-se aceitável diante de seu autor, Deus. Quando a bíblia diz “isto não pode” a Igreja tem lido “isso não podia”, mas hoje todo mundo faz. Pessoas são tomadas como fonte de autoridade porque avalizaram interesses e opiniões que se quer referendar - e se estas opiniões são contrárias às Escrituras o prejuízo é da autoridade das Escrituras. “Fulano fez” ou “beltrano diz” tem mais peso do que “a bíblia diz”.
O cristão deve  buscar fazer parte desta Igreja que ainda tem a bíblia sendo reconhecida como Palavra de Deus, e, por isso, recebida como normativa absoluta. Não apenas buscar encontra-la. Mas ser parte do processo de torna-la o que ela deveria e ainda deve ser. Os pastores precisam ser proclamadores da Palavra de Deus como aquilo que ela é, a Palavra de Deus. O pastor que a Igreja precisa é aquele que se limita a proclamar toda a verdade de Deus, e que não vá além do que está na Palavra, com toda a fidelidade que lhe foi possível, ao custo que lhe for cobrado, qualquer que seja ele.
Para termos esta Igreja os seus líderes, especialmente os regentes, precisam se empenhar em conhecer esta palavra revelada, em tê-la como autoridade absoluta tanto no governo da comunidade quanto no ensino, cobrando do docente o ensino fiel e a capacitação para serem eles também aptos para ensinar e, sendo conhecedores, estarem em condições de apoiar decisões baseadas nas Escrituras - mas não apenas conhecedores, mas praticantes da Palavra. O que se aplica aos presbíteros aplica-se igualmente aos diáconos e a toda a membresia. Muitos pensam, erroneamente, que o diaconato é o primeiro passo para alcançar o presbiterato e não como uma preciosa oportunidade de serviço. A Igreja precisa cobrar de sua liderança que ela seja bíblica, que lhe ensine a Palavra com fidelidade - e, quando receber isto, quando receber alimento oriundo da Palavra, quando receber água pura, vai nutrir-se dela e vai produzir segundo a fonte da qual se tem nutrido.
A Igreja deve buscar liderança bíblica - infelizmente tem buscado uma liderança legal, divertida, presbíteros amigáveis e familiares, que sejam seu espelho e não os governantes colocados por Deus para dirigi-los. A Igreja que não tem liderança bíblica vai ser destruída por falta de conhecimento [Os 4.6: O meu povo está sendo destruído, porque lhe falta o conhecimento. Porque tu, sacerdote, rejeitaste o conhecimento, também eu te rejeitarei, para que não sejas sacerdote diante de mim; visto que te esqueceste da lei do teu Deus, também eu me esquecerei de teus filhos]. Destruída como Igreja, ainda que permaneça de pé como instituição, terá uma liderança mundana, que reproduzirá uma Igreja mundana. Uma liderança sem bíblia produzirá uma igreja sem bíblia. Uma Igreja sem bíblia não é legitima Igreja. Uma Igreja sem bíblia é uma Igreja que não existe mais.
A IGREJA E OS SÍMBOLOS DE FÉ
Recentemente questionei um público que tinha, em média, 20 anos de vida eclesiástica, o que era a Confissão de Fé e a primeira resposta obtida foi que é “a responsabilidade cristã de não negar o Senhor Jesus”. Perguntei ao restante se concordavam com aquela resposta e alguns concordaram, enquanto os demais permaneciam impassíveis. Sem dúvida foi uma resposta “piedosa”, mas ao mesmo tempo estarrecedora e reveladora. Mais estarrecedor se torna o fato se observamos que na plateia havia presbíteros, oficiais da Igreja, com mais de uma dezena de anos de oficialato que desconheciam em absoluto os símbolos de fé adotados pela Igreja Presbiteriana do Brasil.
Como já abordamos a necessidade de recepção da bíblia como autoritativa, tratamos agora dos documentos criados pelo homem como exposição desta palavra mediante profunda reflexão e estudo: a Confissão de Fé de Westminster e os Catecismos, Maior e Breve. Deve a Igreja submeter sua consciência a tais documentos? Não a qualquer documento, mas é lícito que o faça em relação a documentos que expressam da melhor maneira possível e com alto grau de fidelidade o conteúdo das sagradas Escrituras.
A Igreja Presbiteriana se define como uma Igreja confessional e busca encontrar esta característica nas diversas denominações, tecendo-lhes pesadas críticas e já tendo chegado ao ponto de engaveta-las, com a sua filosofia subjacente ou até mesmo a absoluta falta de parâmetros doutrinários dentro de uma perspectiva que eles próprios não pretendem para si. É justa esta perspectiva? Por contraditório que possa parecer, a resposta é: sim, é justo, mas não, não é justo. Como assim? É uma cobrança justa na medida em que uma instituição deve ter uma identidade claramente explícita para que seus adeptos e simpatizantes saibam exatamente do que estão fazendo parte. Todavia é uma cobrança injusta quando parte de quem apenas teoricamente professa possuir tais documentos de identificação, mas na prática os desconhece e quando os mesmos lhe são apresentados os rejeitam, ou tacitamente ou, mais honestamente, mediante negativa e confronto.
Sejamos honestos, como instituição afirmamos uma confessionalidade mas, na prática, esta afirmação é, inúmeras vezes, hipócrita. Lamentavelmente são obras raramente encontradas nas prateleiras, e, em boa parte destas elas permanecem em um canto empoeirando. Vale lembrar que não são livros difíceis de serem entendidos, pois ao menos um destes documentos foi escrito para crianças, e, ninguém ousaria admitir que presbíteros e pastores do séc. XXI são menos inteligentes e incapazes que as crianças do séc. XVI. Ninguém admitiria isto. Ninguém admitiria ser chamado de menos inteligente que aquelas crianças. O problema não é de desinteligência, mas de rejeição. O problema é de desconhecimento, isto é, de esquecimento, de falta de interesse, ou, para ser mais direto e mais preciso, de falta de confessionalidade.
Em primeiro lugar esta irresponsabilidade é fruto de uma liderança mal formada, leniente e relapsa que se omite de afadigar-se no estudo e no ensino, afirmando que “a Igreja não quer”, e não quer mesmo, mas se não for ensinada ela nunca vai aprender. Se não lhes for apresentada ela nunca vai desejar ou amar, nunca vai se interessar a ponto de amar e obedecer. Esta falta de confessionalidade é fruto de concílios lenientes que não supervisionam adequadamente a obra que está sob seus cuidados, enfatizando muito mais eventos, muito mais o que se vai fazer, qual a próxima atividade [que inúmeras vezes gera cansaço e conflitos] e nunca qual a razão essencial de tais ações.
Para que a responsabilidade não fique apenas sob os ombros da liderança [embora sejam os maiores responsáveis] é verdade que a Igreja não quer ser confessional. É verdade que a Igreja não quer ser confessional. É trabalhoso, exige dispêndio de tempo, de esforço, e o que o povo mais almeja é ter, é fazer em busca de resultados a curto prazo. E os resultados da confessionalidade só são experimentados a longo prazo. Podemos verificar isto de uma maneira bem simples: quando precisamos de um ensinador em um momento de crise ou emergência olhamos primariamente e imediatamente para um ancião formado em igrejas onde ainda havia confessionalidade.
Onde está esta Igreja que ainda possui confessionalidade? Com raras exceções deu lugar ao pragmatismo que tem preguiça de refletir a sua fé. Com raras exceções esta é uma Igreja que não existe mais. Talvez por isso haja grande aceitação por liderança agradável, amiga, engraçada e prudente [ou deveria preferir a expressão “politicamente correta”], mas rejeita a biblicidade e a confessionalidade.
A IGREJA E A AUTORIDADE
Por favor, sejam pacientes pois é necessário aprofundar um pouco mais. A Igreja Presbiteriana vive uma grave crise de autoridade, ainda que sob uma capa de verniz conciliar. A Igreja não tem autoridade coercitiva, ela não tem autoridade para obrigar ou proibir qualquer ação. A autoridade que a Igreja possui é espiritual, moral e institucional, isto é, para quem rejeita a autoridade moral e espiritual da Igreja esta pode, em seu máximo grau de uso da autoridade, usar o poder e direito que tem de excluir de seu rol quem dissidiosamente rejeita sua autoridade. De onde vem sua autoridade, afinal? Não é de sua antiguidade, pois práticas antigas podem ser facilmente abandonadas por não se coadunarem com a luz da revelação e até mesmo em relação aos costumes de um certo tempo. Esta autoridade também não pode vir de força política ou militar, porque a Igreja é uma parte do reino de Deus neste mundo, mas não é um reino deste mundo, ela não é nem pode ser mantida por coisas deste mundo - e muitas vezes ela está inserida em ambientes em que a força política e militar lhe é hostil ou, no mínimo, indiferente.
Como fruto de uma cultura individualista e liberacionista encontramos na Igreja grave crise de autoridade. Mas, vamos ser um tanto quanto prudentes sem sermos politicamente corretos [quase sempre biblicamente descomprometidos]  e tenhamos a coragem de admitir que não é a cultura circundante a principal causadora desta crise de autoridade. A causa real pode e deve ser buscada nos dois aspectos precedentes: o abandono de sua biblicidade e de sua confessionalidade. Sem a autoridade da bíblia, ou com a autoridade da bíblia reduzida e submissa ao juízo particular e personalístico na verdade já não existe mais autoridade final, já rejeitou-se o seu juízo e julgamento. Sem os fundamentos, de que maneira poderá a justiça ser estabelecida? A quem deve ou poderá apelar o justo [Sl 11.3: Ora, destruídos os fundamentos, que poderá fazer o justo?]?
Continuemos. Sem a autoridade da bíblia a autoridade dos símbolos de fé, os credos, as confissões, os catecismos e demais documentos que balizaram a vida da Igreja por alguns séculos perde-se na névoa do voluntarismo, ou seja, obedece-se apenas àquilo que é conveniente. Tal voluntarismo pode ser observado em todos os níveis da vida eclesiástica. Os concílios são sistematicamente desobedecidos pelas autoridades da Igreja, especialmente, e lamentavelmente, pelos líderes ordenados. O exemplo vem de cima. Se a Igreja rejeita a palavra, se rejeita as confissões, se a liderança escolhe a quem e ao que obedecer, se a questão é voluntarismo, então os membros sentem-se absolutamente livres para submeter-se ou não a qualquer forma de autoridade.
Perde-se até mesmo a ressalva que se faz quanto ao que chamo de “direito de desobedecer”, isto é, a promessa que os membros fazem de obedecer às autoridades apenas enquanto estas forem fiéis às sagradas Escrituras. Mas a Escritura já foi abandonada. Já não há mais fonte absoluta de autoridade - já não se tem mais como saber se as lideranças estão sendo fiéis ou não, porque não há mais como julgar se há ou não fidelidade. É risível que autoridades que rejeitam autoridades queiram que a Igreja se lhes submeta. É um contrassenso, e a membresia da Igreja não é cega a esta realidade. As desobediências dos líderes gerarão comunidades desobedientes, voluntaristas e, em situações extremas, rebeldes, que ignorarão toda e qualquer forma de autoridade e disciplina eclesiástica.
O ovo da serpente só pode gerar serpentes. E a Igreja tem acalentado este ovo em seu seio, com algumas serpentes já tendo eclodido e picado a Igreja em seu próprio coração. Em lugar da autoridade bíblica outra autoridade será colocada, e normalmente a autoridade que se estabelece é a de personalidade, humana e egocentrada de líderes carismáticos - e isto explica tantas crises eclesiásticas, tantos traumas e tantas rupturas institucionais. Mencionamos o princípio que a obediência aos símbolos de fé é voluntária, mas é uma obediência fruto de uma transformação interior subjacente, fruto da ação do Espírito Santo na vida da Igreja, do individuo. E esta transformação é fruto da Palavra de Deus. E esta palavra tem que ser fielmente interpretada. E esta interpretação deve ser eficientemente anunciada.
Isto nos remete ao quarto e ultimo aspecto que pretendo abordar, já a guisa de considerações finais, que é a necessidade de coerência entre o que se afirma crer e como isto influencia a maneira de agir daquela que é, essencialmente, submisso à Palavra, conhece os termos de sua fé e, nesta base, submete-se consciente e voluntariamente às autoridades humanas embasadas nas autoridades espirituais.
A IGREJA E A COERÊNCIA ENTRE O “CRER”, O “SER” E O “AGIR”
Pode parecer contraditório mas a Igreja está sendo absolutamente coerente com o que ela acredita ser [Pv 23.7: Porque, como imagina em sua alma, assim ele é; ele te diz: Come e bebe; mas o seu coração não está contigo]. Permita-me explicar: a Igreja torna-se uma grande massa sem forma definida, uma grande tenda que abriga todo tipo de tendência em sua grande maioria desobedientes às autoridades anteriormente mencionadas: Escrituras, símbolos de fé e oficiais.
Já se caminhou uma grande distância nesta direção e o retorno é difícil, custoso e demorado. Ilustro esta verdade com uma viagem feita alguns anos atrás, de carro, entre o Pará e a Bahia. Resolvi ir por um caminho novo, mais curto, e cometi três equívocos: uma grande vontade de chegar logo [expressa na velocidade impressa ao veículo]; distrações [perdi uma entrada ao cruzar com várias carretas no exato momento em que deveria tê-la visto] e, finalmente, falta de balizas, de sinalização, de manutenção e de placas. Isto significou percorrer 240km a mais - mas houve um momento em que uma nova informação foi dada com conhecimento e autoridade, e o retorno teve que ser empreendido. Ainda sem as balizas, foi oferecida uma nova orientação: a entrada ficava a exatos tantos quilômetros de onde estávamos. Havia um novo e confiável referencial: o odômetro que dizia exatamente o quão longe ou perto eu me encontrava de onde precisava estar. Isto se aplica à Igreja. A Igreja que deveria existir já andou para muito longe do que ela deveria ser. Ela tem sido coerente com suas escolhas - tem rejeitado toda e qualquer autoridade que não faça aquilo que gostaria de ver sendo feito. Só que, por causa disso, ela não tem sido coerente com o que ela deveria ser, com sua natureza original e teleológica. Mas isto tem um custo que é o de reconhecer que não é o que deveria ser, que não está onde deveria estar, ou, mais diretamente, que é falha em atingir os alvos que lhe foram propostos pelo seu Senhor. 
Como fazer isto? Como empreender este retorno? Sugiro três passos, ainda que existam outros, possivelmente. O primeiro envolve uma análise do que a Igreja tem crido, para ver se ela, de fato, pode dizer-se segura [II Tm 1.12: ...e, por isso, estou sofrendo estas coisas; todavia, não me envergonho, porque sei em quem tenho crido e estou certo de que ele é poderoso para guardar o meu depósito até aquele Dia]. Certamente será exigida uma transformação, uma mudança nas suas crenças, mas não sem um norte diretivo, e isto nos conduz ao ponto seguinte, que é o de adequar a crença existente à fé verdadeira, alicerçada na única norma realmente autoritativa: a Palavra de Deus. Ao aceitar a autoridade das Escrituras a Igreja estará finalmente pronta para ser coerente, mas uma coerência não apenas na sua prática, mas entre aquilo que ela deve ser, o que está se tornando e qual o meio para que ela não se desvirtue: as autoridades que Deus estabeleceu mediante a própria bíblia: seus oficiais individualmente e, quando reunidos, suas decisões e orientações daí resultantes [determinações conciliares, normativos e os símbolos de fé].
Por onde começar? Pela membresia ou pela liderança? O senso comum apontaria para a liderança, mas ela já está estabelecida e intrinsecamente comprometida com esta Igreja que já não existe mais. Alguém precisa descobrir que está sendo mal alimentado [e tenho visto que é mais fácil deixar-se enganar do que deixar-se convencer de que está sendo enganado] e deve ansiar por alimento verdadeiramente puro, consistente - e deve começar submetendo-se ao próprio Deus mediante a sua Palavra reconhecendo nela a voz de Deus, rejeitando toda e qualquer voz dissonante por mais sirênia que ela possa soar aos ouvidos - e esta voz melodiosa sempre terá ouvidos ansiosos para ouvir, porque tomados de coceiras [II Tm 4.3: Pois haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, cercar-se-ão de mestres segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos]. Da submissão à Palavra a Igreja será levada a entender, a receber e a amar o que a Igreja tem dito a respeito desta palavra com a ressalva de que são documentos humanos sujeitos à ordenança superior de origem divina. Autoridades constituídas que proclamem o conselho divino com fidelidade, que se submetem voluntaria e conscientemente a voz da Palavra devem ser vistos com legitimidade e devem ser honrados por sua fidelidade, cumprindo assim os seus votos feitos no batismo e na profissão de fé.
Como pastorear uma Igreja que já não existe mais? Pastoreando a Igreja que deve existir. Pastorear a Igreja que não existe do jeito dela, da maneira que ela quer ser pastoreada, significa a sua morte - é o que ela quer, mas não é o que ela precisa.
E o trabalho de fazê-la é semelhante ao de tirar gato preso em árvore: o gato precisa ser resgatado, mas, em seu receio, arranha, fere o salvador. Mas o resultado final é o abraço agradecido da garotinha dona do gato. É isto que os pastores devem almejar: serem fiéis, e, no fim, ouvirem do seu Senhor as palavras de aprovação pelo serviço executado [Mt 25.21: Disse-lhe o senhor: Muito bem, servo bom e fiel; foste fiel no pouco, sobre o muito te colocarei; entra no gozo do teu senhor].

PARTE FINAL: PASTOREANDO UMA IGREJA QUE JÁ NÃO EXISTE MAIS

A IGREJA E A COERÊNCIA ENTRE O “CRER”, O “SER” E O “AGIR”
Pode parecer contraditório mas a Igreja está sendo absolutamente coerente com o que ela acredita ser [Pv 23.7: Porque, como imagina em sua alma, assim ele é; ele te diz: Come e bebe; mas o seu coração não está contigo]. Permita-me explicar: a Igreja torna-se uma grande massa sem forma definida, uma grande tenda que abriga todo tipo de tendência em sua grande maioria desobedientes às autoridades anteriormente mencionadas: Escrituras, símbolos de fé e oficiais.
Já se caminhou uma grande distância nesta direção e o retorno é difícil, custoso e demorado. Ilustro esta verdade com uma viagem feita alguns anos atrás, de carro, entre o Pará e a Bahia. Resolvi ir por um caminho novo, mais curto, e cometi três equívocos: uma grande vontade de chegar logo [expressa na velocidade impressa ao veículo]; distrações [perdi uma entrada ao cruzar com várias carretas no exato momento em que deveria tê-la visto] e, finalmente, falta de balizas, de sinalização, de manutenção e de placas. Isto significou percorrer 240km a mais - mas houve um momento em que uma nova informação foi dada com conhecimento e autoridade, e o retorno teve que ser empreendido. Ainda sem as balizas, foi oferecida uma nova orientação: a entrada ficava a exatos tantos quilômetros de onde estávamos. Havia um novo e confiável referencial: o odômetro que dizia exatamente o quão longe ou perto eu me encontrava de onde precisava estar.
Isto se aplica à Igreja. A Igreja que deveria existir já andou para muito longe do que ela deveria ser. Ela tem sido coerente com suas escolhas - tem rejeitado toda e qualquer autoridade que não faça aquilo que gostaria de ver sendo feito. Só que, por causa disso, ela não tem sido coerente com o que ela deveria ser, com sua natureza original e teleológica.
Mas isto tem um custo que é o de reconhecer que não é o que deveria ser, que não está onde deveria estar, ou, mais diretamente, que é falha em atingir os alvos que lhe foram propostos pelo seu Senhor.
Como fazer isto? Como empreender este retorno? Sugiro três passos, ainda que existam outros, possivelmente. O primeiro envolve uma análise do que a Igreja tem crido, para ver se ela, de fato, pode dizer-se segura [II Tm 1.12: ...e, por isso, estou sofrendo estas coisas; todavia, não me envergonho, porque sei em quem tenho crido e estou certo de que ele é poderoso para guardar o meu depósito até aquele Dia]. Certamente será exigida uma transformação, uma mudança nas suas crenças, mas não sem um norte diretivo, e isto nos conduz ao ponto seguinte, que é o de adequar a crença existente à fé verdadeira, alicerçada na única norma realmente autoritativa: a Palavra de Deus.
Ao aceitar a autoridade das Escrituras a Igreja estará finalmente pronta para ser coerente, mas uma coerência não apenas na sua prática, mas entre aquilo que ela deve ser, o que está se tornando e qual o meio para que ela não se desvirtue: as autoridades que Deus estabeleceu mediante a própria bíblia: seus oficiais individualmente e, quando reunidos, suas decisões e orientações daí resultantes [determinações conciliares, normativos e os símbolos de fé].
Por onde começar? Pela membresia ou pela liderança? O senso comum apontaria para a liderança, mas ela já está estabelecida e intrinsecamente comprometida com esta Igreja que já não existe mais. Alguém precisa descobrir que está sendo mal alimentado [e tenho visto que é mais fácil deixar-se enganar do que deixar-se convencer de que está sendo enganado] e deve ansiar por alimento verdadeiramente puro, consistente - e deve começar submetendo-se ao próprio Deus mediante a sua Palavra reconhecendo nela a voz de Deus, rejeitando toda e qualquer voz dissonante por mais sirênia que ela possa soar aos ouvidos - e esta voz melodiosa sempre terá ouvidos ansiosos para ouvir, porque tomados de coceiras [II Tm 4.3: Pois haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, cercar-se-ão de mestres segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos].
Da submissão à Palavra a Igreja será levada a entender, a receber e a amar o que a Igreja tem dito a respeito desta palavra com a ressalva de que são documentos humanos sujeitos à ordenança superior de origem divina.
Autoridades constituídas que proclamem o conselho divino com fidelidade, que se submetem voluntaria e conscientemente a voz da Palavra devem ser vistos com legitimidade e devem ser honrados por sua fidelidade, cumprindo assim os seus votos feitos no batismo e na profissão de fé.
Como pastorear uma Igreja que já não existe mais? Pastoreando a Igreja que deve existir. Pastorear a Igreja que não existe do jeito dela, da maneira que ela quer ser pastoreada, significa a sua morte - é o que ela quer, mas não é o que ela precisa.
E o trabalho de fazê-la é semelhante ao de tirar gato preso em árvore: o gato precisa ser resgatado, mas, em seu receio, arranha, fere o salvador. Mas o resultado final é o abraço agradecido da garotinha dona do gato. É isso que os pastores devem almejar: serem fiéis e, no fim, ouvirem do seu Senhor as palavras de aprovação pelo serviço executado [Mt 25.21: Disse-lhe o senhor: Muito bem, servo bom e fiel; foste fiel no pouco, sobre o muito te colocarei; entra no gozo do teu senhor].

quinta-feira, 23 de maio de 2013

PARTE III: PASTOREANDO UMA IGREJA QUE JÁ NÃO EXISTE MAIS

A IGREJA E A AUTORIDADE
Por favor, sejam pacientes pois é necessário aprofundar um pouco mais. A Igreja Presbiteriana vive uma grave crise de autoridade, ainda que sob uma capa de verniz conciliar. A Igreja não tem autoridade coercitiva, ela não tem autoridade para obrigar ou proibir qualquer ação. A autoridade que a Igreja possui é espiritual, moral e institucional, isto é, para quem rejeita a autoridade moral e espiritual da Igreja esta pode, em seu máximo grau de uso da autoridade, usar o poder e direito que tem de excluir de seu rol quem dissidiosamente rejeita sua autoridade.
De onde vem sua autoridade, afinal? Não é de sua antiguidade, pois práticas antigas podem ser facilmente abandonadas por não se coadunarem com a luz da revelação e até mesmo em relação aos costumes de um certo tempo.
Esta autoridade também não pode vir de força política ou militar, porque a Igreja é uma parte do reino de Deus neste mundo, mas não é um reino deste mundo, ela não é nem pode ser mantida por coisas deste mundo - e muitas vezes ela está inserida em ambientes em que a força política e militar lhe é hostil ou, no mínimo, indiferente.
Como fruto de uma cultura individualista e liberacionista encontramos na Igreja grave crise de autoridade. Mas, vamos ser um tanto quanto prudentes sem sermos politicamente corretos [quase sempre biblicamente descomprometidos]  e tenhamos a coragem de admitir que não é a cultura circundante a principal causadora desta crise de autoridade.
A causa real pode e deve ser buscada nos dois aspectos precedentes: o abandono de sua biblicidade e de sua confessionalidade. Sem a autoridade da bíblia, ou com a autoridade da bíblia reduzida e submissa ao juízo particular e personalístico na verdade já não existe mais autoridade final, já rejeitou-se o seu juízo e julgamento.
Sem os fundamentos, de que maneira poderá a justiça ser estabelecida? A quem deve ou poderá apelar o justo [Sl 11.3: Ora, destruídos os fundamentos, que poderá fazer o justo?]?
Continuemos. Sem a autoridade da bíblia a autoridade dos símbolos de fé, os credos, as confissões, os catecismos e demais documentos que balizaram a vida da Igreja por alguns séculos perde-se na névoa do voluntarismo, ou seja, obedece-se apenas àquilo que é conveniente.
Tal voluntarismo pode ser observado em todos os níveis da vida eclesiástica. Os concílios são sistematicamente desobedecidos pelas autoridades da Igreja, especialmente, e lamentavelmente, pelos líderes ordenados. O exemplo vem de cima. Se a Igreja rejeita a palavra, se rejeita as confissões, se a liderança escolhe a quem e ao que obedecer, se a questão é voluntarismo, então os membros sentem-se absolutamente livres para submeter-se ou não a qualquer forma de autoridade.
Perde-se até mesmo a ressalva que se faz quanto ao que chamo de “direito de desobedecer”, isto é, a promessa que os membros fazem de obedecer às autoridades apenas enquanto estas forem fiéis às sagradas Escrituras. Mas a Escritura já foi abandonada. Já não há mais fonte absoluta de autoridade - já não se tem mais como saber se as lideranças estão sendo fiéis ou não, porque não há mais como julgar se há ou não fidelidade.
É risível que autoridades que rejeitam autoridades queiram que a Igreja se lhes submeta. É um contrassenso, e a membresia da Igreja não é cega a esta realidade. As desobediências dos líderes gerarão comunidades desobedientes, voluntaristas e, em situações extremas, rebeldes, que ignorarão toda e qualquer forma de autoridade e disciplina eclesiástica.
O ovo da serpente só pode gerar serpentes. E a Igreja tem acalentado este ovo em seu seio, com algumas serpentes já tendo eclodido e picado a Igreja em seu próprio coração. Em lugar da autoridade bíblica outra autoridade será colocada, e normalmente a autoridade que se estabelece é a de personalidade, humana e egocentrada de líderes carismáticos - e isto explica tantas crises eclesiásticas, tantos traumas e tantas rupturas institucionais.
Mencionamos o princípio que a obediência aos símbolos de fé é voluntária, mas é uma obediência fruto de uma transformação interior subjacente, fruto da ação do Espírito Santo na vida da Igreja, do individuo. E esta transformação é fruto da Palavra de Deus. E esta palavra tem que ser fielmente interpretada. E esta interpretação deve ser eficientemente anunciada. 
Isto nos remete ao quarto e ultimo aspecto que pretendo abordar, já a guisa de considerações finais, que é a necessidade de coerência entre o que se afirma crer e como isto influencia a maneira de agir daquela que é, essencialmente, submisso à Palavra, conhece os termos de sua fé e, nesta base, submete-se consciente e voluntariamente às autoridades humanas embasadas nas autoridades espirituais.

quarta-feira, 22 de maio de 2013

PARTE II. PASTOREANDO UMA IGREJA QUE JÁ NÃO EXISTE MAIS

A IGREJA E OS SÍMBOLOS DE FÉ

Recentemente questionei um público que tinha, em média, 20 anos de vida eclesiástica, o que era a Confissão de Fé e a primeira resposta obtida foi que é “a responsabilidade cristã de não negar o Senhor Jesus”. Perguntei ao restante se concordavam com aquela resposta e alguns concordaram, enquanto os demais permaneciam impassíveis. Sem dúvida foi uma resposta “piedosa”, mas ao mesmo tempo estarrecedora e reveladora.
Mais estarrecedor se torna o fato se observamos que na plateia havia presbíteros, oficiais da Igreja, com mais de uma dezena de anos de oficialato que desconheciam em absoluto os símbolos de fé adotados pela Igreja Presbiteriana do Brasil.
Como já abordamos a necessidade de recepção da bíblia como autoritativa, tratamos agora dos documentos criados pelo homem como exposição desta palavra mediante profunda reflexão e estudo: a Confissão de Fé de Westminster e os Catecismos, Maior e Breve.
Deve a Igreja submeter sua consciência a tais documentos? Não a qualquer documento, mas é lícito que o faça em relação a documentos que expressam da melhor maneira possível e com alto grau de fidelidade o conteúdo das sagradas Escrituras.
A Igreja Presbiteriana se define como uma Igreja confessional e busca encontrar esta característica nas diversas denominações, tecendo-lhes pesadas críticas e já tendo chegado ao ponto de engaveta-las, com a sua filosofia subjacente ou até mesmo a absoluta falta de parâmetros doutrinários dentro de uma perspectiva que eles próprios não pretendem para si. É justa esta perspectiva? Por contraditório que possa parecer, a resposta é: sim, é justo, mas não, não é justo. Como assim?
É uma cobrança justa na medida em que uma instituição deve ter uma identidade claramente explícita para que seus adeptos e simpatizantes saibam exatamente do que estão fazendo parte.
Todavia é uma cobrança injusta quando parte de quem apenas teoricamente professa possuir tais documentos de identificação, mas na prática os desconhece e quando os mesmos lhe são apresentados os rejeitam, ou tacitamente ou, mais honestamente, mediante negativa e confronto.
Sejamos honestos, como instituição afirmamos uma confessionalidade mas, na prática, esta afirmação é, inúmeras vezes, hipócrita. Lamentavelmente são obras raramente encontradas nas prateleiras, e, em boa parte destas elas permanecem em um canto empoeirando.
Vale lembrar que não são livros difíceis de serem entendidos, pois ao menos um destes documentos foi escrito para crianças, e, ninguém ousaria admitir que presbíteros e pastores do séc. XXI são menos inteligentes e incapazes que as crianças do séc. XVI. Ninguém admitiria isto. Ninguém admitiria ser chamado de menos inteligente que aquelas crianças.
O problema não é de desinteligência, mas de rejeição. O problema é de desconhecimento, isto é, de esquecimento, de falta de interesse, ou, para ser mais direto e mais preciso, de falta de confessionalidade.
Em primeiro lugar esta irresponsabilidade é fruto de uma liderança mal formada, leniente e relapsa que se omite de afadigar-se no estudo e no ensino, afirmando que “a Igreja não quer”, e não quer mesmo, mas se não for ensinada ela nunca vai aprender. Se não lhes for apresentada ela nunca vai desejar ou amar, nunca vai se interessar a ponto de amar e obedecer.
Esta falta de confessionalidade é fruto de concílios lenientes que não supervisionam adequadamente a obra que está sob seus cuidados, enfatizando muito mais eventos, muito mais o que se vai fazer, qual a próxima atividade [que inúmeras vezes gera cansaço e conflitos] e nunca qual a razão essencial de tais ações.
Para que a responsabilidade não fique apenas sob os ombros da liderança [embora sejam os maiores responsáveis] é verdade que a Igreja não quer ser confessional. É verdade que a Igreja não quer ser confessional. É trabalhoso, exige dispêndio de tempo, de esforço, e o que o povo mais almeja é ter, é fazer em busca de resultados a curto prazo.
E os resultados da confessionalidade só são experimentados a longo prazo. Podemos verificar isto de uma maneira bem simples: quando precisamos de um ensinador em um momento de crise ou emergência olhamos primariamente e imediatamente para um ancião formado em igrejas onde ainda havia confessionalidade.
Onde está esta Igreja que ainda possui confessionalidade? Com raras exceções deu lugar ao pragmatismo que tem preguiça de refletir a sua fé. Com raras exceções esta é uma Igreja que não existe mais. Talvez por isso haja grande aceitação por liderança agradável, amiga, engraçada e prudente [ou deveria preferir a expressão “politicamente correta”], mas rejeita a biblicidade e a confessionalidade.

PARTE I. PASTOREANDO UMA IGREJA QUE JÁ NÃO EXISTE MAIS

A IGREJA E A BÍBLIA

A Igreja não titubeia, ao menos na maioria dos casos e oficialmente, em afirmar que possui um livro sagrado, que deve ser recebido, conhecido e obedecido como regra absoluta daquilo que não apenas se deve mas somente no que se pode crer.
Colocado de outra maneira, a Igreja tem um livro que normativa aquilo em que se deve crer. É obrigatório que se creia no conteúdo deste livro porque ele tem origem no ser divino que tem autoridade absoluta. Por outro lado este livro também diz aquilo que não se pode aceitar como matéria de fé, aquilo que tem que ser rejeitado - por mais que pareça desejável.
Avancemos. Esta Igreja afirma de maneira oficial que tudo o que ela crê tem como base o registro da vontade de Deus na sua Palavra, a bíblia Sagrada. Para crer como se deve crer existe a necessidade de conhecer, de conhecer bem e profundamente o que já foi revelado, capacitando a Igreja a dizer não diante de dois tipos de inovações: o antibíblico e o extra bíblico.
Ainda existe esta Igreja? Esta Igreja que considera a sua bíblia como fonte absoluta [e não obsoleta] de autoridade para o seu ser e o seu crer? Ela ainda existe realmente?
Lamentavelmente é muito comum que a Palavra seja rebatida, seja rejeitada com argumentos que na verdade não são argumentos, ou seja, frases como “isto que está escrito não tem nada a ver” com as necessidades e com a realidade presente quando suas assertivas não são convenientes.
A bíblia é relegada a uma estranha e passada era, cujos textos precisam ser aceitos somente se estiverem concordando com as aspirações da atualidade do momento vivido pela Igreja segundo a sua perspectiva - desconsiderado a sua vivacidade e eficácia intrínseca.
Dito de outra maneira, é a Igreja que decide o que, na bíblia, é  aceitável, ao invés de recebe-la como orientação para corrigir-se e, finalmente, tornar-se aceitável diante de seu autor, Deus.
Quando a bíblia diz “isto não pode” a Igreja tem lido “isso não podia”, mas hoje todo mundo faz. Pessoas são tomadas como fonte de autoridade porque avalizaram interesses e opiniões que se quer referendar - e se estas opiniões são contrárias às Escrituras o prejuízo é da autoridade das Escrituras. “Fulano fez” ou “beltrano diz” tem mais peso do que “a bíblia diz”.
O cristão deve  buscar fazer parte desta Igreja que ainda tem a bíblia sendo reconhecida como Palavra de Deus, e, por isso, recebida como normativa absoluta. Não apenas buscar encontra-la. Mas ser parte do processo de torna-la o que ela deveria e ainda deve ser.
Os pastores precisam ser proclamadores da Palavra de Deus como aquilo que ela é, a Palavra de Deus. O pastor que a Igreja precisa é aquele que se limita a proclamar toda a verdade de Deus, e que não vá além do que está na Palavra, com toda a fidelidade que lhe foi possível, ao custo que lhe for cobrado, qualquer que seja ele.
Para termos esta Igreja os seus líderes, especialmente os regentes, precisam se empenhar em conhecer esta palavra revelada, em tê-la como autoridade absoluta tanto no governo da comunidade quanto no ensino, cobrando do docente o ensino fiel e a capacitação para serem eles também aptos para ensinar e, sendo conhecedores, estarem em condições de apoiar decisões baseadas nas Escrituras - mas não apenas conhecedores, mas praticantes da Palavra.
O que se aplica aos presbíteros aplica-se igualmente aos diáconos e a toda a membresia. Muitos pensam, erroneamente, que o diaconato é o primeiro passo para alcançar o presbiterato e não como uma preciosa oportunidade de serviço. A Igreja precisa cobrar de sua liderança que ela seja bíblica, que lhe ensine a Palavra com fidelidade - e, quando receber isto, quando receber alimento oriundo da Palavra, quando receber água pura, vai nutrir-se dela e vai produzir segundo a fonte da qual se tem nutrido.
A Igreja deve buscar liderança bíblica - infelizmente tem buscado uma liderança legal, divertida, presbíteros amigáveis e familiares, que sejam seu espelho e não os governantes colocados por Deus para dirigi-los. A Igreja que não tem liderança bíblica vai ser destruída por falta de conhecimento [Os 4.6: O meu povo está sendo destruído, porque lhe falta o conhecimento. Porque tu, sacerdote, rejeitaste o conhecimento, também eu te rejeitarei, para que não sejas sacerdote diante de mim; visto que te esqueceste da lei do teu Deus, também eu me esquecerei de teus filhos]. Destruída como Igreja, ainda que permaneça de pé como instituição, terá uma liderança mundana, que reproduzirá uma Igreja mundana.
Uma liderança sem bíblia produzirá uma igreja sem bíblia. Uma Igreja sem bíblia não é legitima Igreja. Uma Igreja sem bíblia é uma Igreja que não existe mais.

PASTOREANDO UMA IGREJA QUE JÁ NÃO EXISTE MAIS


INTRODUÇÃO


Parece uma contradição falar em pastores de uma Igreja que já não existe mais, especialmente quando encontramos relatórios que falam de milhares de igrejas e milhares de pastores, quase dois pastores para cada igreja existente
Sem desconsiderar a existência de outras denominações, quero resguardar-me a liberdade de cometer uma generalização sabendo que ainda existem algumas exceções, tanto em todos os aspectos quanto em apenas alguns dos que pretendo abordar.
De que Igreja pretendo falar? Daquela que proclama possuir algumas características como parte de sua essência. Vejamos que características são essas:
I. A adoção de um livro como absoluto normativo, de origem divina, com autoridade para definir em que se deve acreditar e como se deve agir;
II. A adoção de documentos humanos como explicações aceitáveis deste livro normativo, documentos com os quais voluntariamente se compromete;
III. A submissão a autoridades sem poder coercitivo, tendo como base autoritativa um comprometimento voluntário fruto de uma transformação interior exteriormente motivada.
IV. A coerência entre o que se afirma crer e o que se faz, ou, dito de outra maneira, como o “crer” influencia o “ser” e o “agir”.
Antes de continuar, devo afirmar que olho primeiro para o meu próprio umbigo, isto é, não se trata de uma crítica ao outro, mas de uma chamada a nós, ao corpo, do qual sou parte, com o qual sofro, ao qual faço sofrer e que, também, me causa dor.
Chamo a atenção para este mal que atinge todas as áreas, todos os extratos que formam uma Igreja. Desde a liderança formal, regularmente eleita e empossada, até aquela informal e sociologicamente estabelecida, atingindo aqueles que caracteristicamente preferem ser liderados. Assim, pastores, missionários, presbíteros, diáconos, presidentes de sociedades internas e todos os demais membros estão quase sempre, mais ou menos, contaminados por este mal.
Afinal, que Igreja é esta que não existe mais? Como proposto, quatro temas devem ser abordados: bíblia, confissões de fé, eclesiologia e ética.

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