sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

SÉRIE PERSONAGENS: NOÉ

NOÉ, E DEUS SE DEU DESCANSO

Gn 5.28 - 8.22
Os descendentes de Adão e Eva estavam se saindo muito bem no cumprimento de, ao menos, uma das ordens de Deus: eram fecundos e estavam enchendo a terra. Viviam muitos anos, e tinham muitos filhos e filhas - dos quais a bíblia relata apenas uma pequena parte por causa do interesse de registrar as linhas genealógicas e a linhagem dos filhos de Deus, herdeiros da promessa.
Mas, mesmo os herdeiros da promessa também herdaram uma outra coisa: o pecado de Adão (Rm 3.10). E o longo tempo de vida só os fez aumentarem a prática de pecados, tornando-se mais e mais corruptos (Gn 6.3).
Não é de estranhar que tenham entrado em aliança com os filhos dos homens (denominação dada aos filhos de Caim). Entraram em uma espécie de competição perversa, tornando-se cada vez mais pecadores, enchendo a terra de corrupção e violência (Gn 6.11), provavelmente estranhando que homens como Enoque, Metusalém e, finalmente, Noé, não se tornassem como eles (I Pe 4.4).
Sabemos que cumprir apenas “parte da lei” é o mesmo que desobedecer toda a lei (Tg 2.10). E era exatamente isto o que estava acontecendo com aquele povo. Obedeciam ao mandato da multiplicação da espécie mas não viviam em harmonia entre si nem com Deus - ao ponto de o Senhor aplicar um duro castigo àquela humanidade corrompida, em nada diferente da nossa (Gn 6.5).
É necessário esclarecer duas coisas:
1. Deus não foi pego de surpresa pela maldade do coração do homem. Deus é onisciente, nada pode ser oculto ao seu conhecimento (Sl 139.12).
2. O verdadeiro significado da palavra arrependimento pode ser colocado na expressão “tristeza inexprimível” porque “arrependimento” (metanoia, mudança de mente), como nós entendemos, é uma disposição de coração e mente para mudar uma conduta que se percebeu pecaminosa, inadequada e ofensiva a Deus e ao próximo (Sl 51.4). Mas a Escritura ensina que em Deus não há treva alguma (I Jo 1.5).
A Escritura também nos ensina que Deus tem um propósito eterno e imutável (Ef 3.11) e que suas promessas sempre são cumpridas (Lc 1.37), de modo que ele não deixaria de fazer o que anunciou a Adão e Eva ainda no Éden.
A profecia a respeito de Noé mostra que Deus já havia decidido o que fazer e que, em cada geração, ele mantinha uma “semente santa” e demonstrou a sua graça preservando a humanidade caída - mas nem por isso deixou de exercer o seu juízo (Nm 1.3).
Apesar de justo (Gn 6.9) a Escritura afirma que Noé “achou graça” (Gn 6.8), rejeitando a ideia de que ele houvesse merecido o beneplácito de Deus.
Foi por causa da graça de Deus que Noé, aos 480 anos, construiu a arca - e não o contrário. As obras de um justo são fruto da ação de Deus e não a causa da ação divina (Ef 2.10).
O justo obedece ao Senhor porque anda por fé (II Co 5.7) e o ímpio não obedece a Deus nem mesmo diante de muitas evidências (Lc 11.29).
Mesmo depois do anúncio do dilúvio e da disposição de Noé em construir uma arca (Hb 11.7) as pessoas continuavam incrédulas.
Sua incredulidade não cedeu nem diante do desfile de animais de todas as espécies ao encontro de Noé dentro da arca (Gn 7.1) durante sete dias (Gn 7.9) sete pares de animais que poderiam ser usados no culto como sacrifício e um casal das demais espécies.
A única evidência que convence o ímpio do juízo de Deus é o próprio momento do julgamento - entretanto, aí já não há mais tempo para arrependimento (Pv 1.28). Após 40 dias de chuvas e mais 150 de enchente o Senhor pôs fim à destruição.
184 dias depois Noé põe novamente os pés em terra e imediatamente constrói um altar e ali adora ao Senhor - que renova a sua aliança com a linhagem santa e promete não mais destruir a terra (Gn 8.20) até o momento do verdadeiro descanso (Rm 8.20-22).
Noé é um tipo de Cristo, evidenciando o julgamento de Deus sobre o pecado (Hb 11.7) e a salvação como obra exclusiva do Senhor (Jn 2.9).
Aliás, num mundo onde abundava o pecado o Senhor fez maior ainda a sua graça (Rm 5.20) salvando Noé e mais 7 pessoas, todos aqueles a quem ele escolheu soberanamente salvar (Rm 9.15).

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

AGORA É OFICIAL!

A PROPÓSITO DA ELEIÇÃO DE OFICIAIS

Atendendo ao pedido irrecusável de um irmão muito especial.
A eleição de oficiais na Igreja Presbiteriana é sempre precedida por instrução (ao menos um mês) e oração. O conselho da igreja, cumprindo suas funções, deve cuidar para que inaptos e não qualificados bíblica e constitucionalmente venham a concorrer e, eventualmente, serem eleitos, podendo, ainda, recusar-se à ordenação.
Requer-se muito dos oficiais da Igreja Presbiteriana. Mas tudo isto a igreja já tem conhecimento. Eles devem ser sóbrios, hospitaleiros, cumpridores dos seus deveres, bons pais e bons esposos (devem ter uma o mulher e cuidar bem dos filhos). Não podem ser beberrões nem dignos de repreensão.
Mas quero sua atenção para uma parte fundamental neste processo. Oficiais são eleitos para uma igreja e por uma igreja. E a igreja é composta por pessoas. E pessoas costumam ter opiniões e desejos.
A igreja que elege estes oficiais quer vê-los zelosos com as coisas de Deus, de maneira que a casa de Deus esteja em ordem e bem administrada.
A igreja que elege estes oficiais quer vê-los exercendo o ensino e o governo espiritual, de maneira que a doutrina bíblica seja a base sobre a qual a igreja se edifica.
Espere! Espere um pouco! É importante saber o que esta igreja quer, mas também é importante saber o que esta igreja é ou deve ser.
Em primeiro lugar a igreja deve reconhecer aqueles que presidem bem como representantes de Deus para o governo e serviço da igreja, evitando o equivoco de pensar que eles sejam meros representantes da comunidade perante Deus e as instituições.
Em segundo lugar a igreja deve submeter-se àqueles que exercem o seu ministério com zelo e conhecimento - porque insubmissão às autoridades que Deus constituiu é rebeldia contra o próprio Deus.
Em terceiro lugar a igreja deve estar pronta para colaborar com seus oficiais, levando-lhe ao conhecimento as necessidades da comunidade e evitando ser um fardo desnecessário aos seus guias. Isto quer dizer que a igreja deve procurar seus oficiais, porque eles foram eleitos para servir e governar, mas não deve pesar-lhes com atitudes comuns aos ímpios, nem serem omissos nos seus deveres.
Cada cristão foi colocado por Deus na igreja para servir de instrumento de mútua edificação. Agora, é oficial. Oficiais foram eleitos, ordenados e empossados. Serão cobrados, e devem ser. E, igreja do Senhor, eles serão ajudados? 

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

SÉRIE PERSONAGENS: ENOQUE E METUSALÉM

ENOQUE & METUSALÉM – eles andaram com Deus
Gn 5.9-32; Hb 11.5-6
Após a trágica história de Abel e Caim, e a consequente busca de Deus por parte de Adão e Eva após o nascimento do substituto na linhagem da salvação, Sete, a bíblia destaca dois personagens singulares: Enoque e seu filho Metusalém. A singularidade destes homens está no fato de que Enoque não passou pela morte, e Metusalém foi o que mais próximo chegou de viver um milênio.  Metusalém viveu 969 anos e Enoque foi trasladado ou arrebatado por Deus quando tinha “apenas” 365 anos. Se 365 anos parece uma idade avançada, é conveniente lembrar que a média de idade do período passava facilmente dos 600 anos. Enoque significa "professor" e Metusalém significa "homem do dardo".
Ainda nos dias de Metusalém, ao nascer Noé, filho de Lameque (que não é o mesmo descendente de Caim citado em Gn 4.18) foi profetizado que a criança teria um papel especial na história da redenção, embora este papel não seja claro – talvez seus contemporâneos tenham pensado que ele seria o condutor do homem de volta ao paraíso (Gn 5.28-29: Lameque viveu cento e oitenta e dois anos e gerou um filho; pôs-lhe o nome de Noé, dizendo: Este nos consolará dos nossos trabalhos e das fadigas de nossas mãos, nesta terra que o SENHOR amaldiçoou).
Mesmo sob a maldição que Deus lançou sobre a terra e as suas criaturas (Rm 8.20-22: Pois a criação está sujeita à vaidade, não voluntariamente, mas por causa daquele que a sujeitou, na esperança de que a própria criação será redimida do cativeiro da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus. Porque sabemos que toda a criação, a um só tempo, geme e suporta angústias até agora), estas não foram totalmente abandonadas, e especialmente o homem ainda continuam sendo alvo da providência de Deus (Mt 5.45: ...para que vos torneis filhos do vosso Pai celeste, porque ele faz nascer o “seu” sol sobre maus e bons e vir chuvas sobre justos e injustos).
Enquanto os filhos de Deus iam se misturando com os filhos dos homens, e se afastando cada vez mais de Deus,
ENOQUE - O HOMEM QUE ANDOU COM DEUS
Enoque é um personagem bíblico importante por duas razões. Primeiro porque, pela fé, andou com Deus (Hb 11.5: Pela fé, Enoque foi trasladado para não ver a morte; não foi achado, porque Deus o trasladara. Pois, antes da sua trasladação, obteve testemunho de haver agradado a Deus). Ele também é importante porque foi trasladado antes do dilúvio, que nem os homens de Deus que estarão vivos quando Jesus voltar e que serão arrebatados antes da tribulação (I Ts 4.17: ...depois, nós, os vivos, os que ficarmos, seremos arrebatados juntamente com eles, entre nuvens, para o encontro do Senhor nos ares, e, assim, estaremos para sempre com o Senhor). O pai de Enoque, Jerede, foi o segundo homem mais velho registrado na bíblia. Viveu 962 anos.
Com Enoque aprendemos que, pela fé, é possível andar com Deus mesmo que o mundo inteiro esteja indo rapidamente para o abismo (Mc 8.38: Porque qualquer que, nesta geração adúltera e pecadora, se envergonhar de mim e das minhas palavras, também o Filho do Homem se envergonhará dele, quando vier na glória de seu Pai com os santos anjos). Mesmo que todo mundo fizesse, Enoque não fazia. Mesmo que todo mundo fosse, Enoque preferia andar com Deus. Mesmo que ninguém estivesse se importando, Enoque ainda considerava o reino de Deus sua prioridade.
METUSALÉM
Metusalém dá continuidade à linhagem dos filhos de Deus - ele convive com Enoque e sabe que, pela fé, é possível viver para agradar a Deus. Certamente ele transmite esta verdade a seu filho (Lameque) e neto (Noé). Metusalém é, de alguma maneira, o último elo entre os que viram o paraíso e a destruição causada pelo dilúvio, já que ele viu a arca ser construída, embora tenha morrido pouco antes.
Certamente todos os filhos e netos de Metusalém tiveram oportunidade de ouvir a história do criador e os eventos acontecidos desde a expulsão do paraíso - mas a maioria preferiu seguir o caminho dos filhos dos homens, descendentes de Caim, que, em seus dias, viviam despreocupadamente (Lc 17.27 ...comiam, bebiam, casavam e davam-se em casamento, até ao dia em que Noé entrou na arca, e veio o dilúvio e destruiu a todos) até que não havia mais chance de salvação. 
Apesar de todos os anos que Metusalém viveu, quase um milênio, ele não conseguiu superar a barreira da morte porque esta só pode ser vencida por meio de Jesus Cristo (I Co 15.54: E, quando este corpo corruptível se revestir de incorruptibilidade, e o que é mortal se revestir de imortalidade, então, se cumprirá a palavra que está escrita: Tragada foi a morte pela vitória).

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

EXPECTATIVAS HUMANAS E O TEMPO DA VERDADEIRA FÉ

EXPECTATIVAS HUMANAS E O TEMPO DA VERDADEIRA FÉ
Jo 11.1-45
O relato feito por João da morte e ressurreição de Lázaro tem servido para que muitos creiam no Senhor, como o filho de Deus vindo em carne, e, também, na doutrina da ressurreição dos mortos. Este texto nos fala da onisciência de Cristo, fala-nos de seu poder sobre a morte, mesmo num caso como o de Lázaro - após 4 dias e já em estado de decomposição. Quando lemos este texto podemos perceber um turbilhão de sentimentos. O desespero das irmãs Marta e Maria, sua sensação de incapacidade diante da enfermidade, a desconfiança nos médicos que nada podiam fazer, a esperança e o envio de um pedido de socorro através de amigos para buscarem Jesus, o desejo dos amigos de ajudarem correndo até onde Jesus estava, a atitude tranquila de Jesus e o estranhamento por parte dos discípulos pelo fato de Jesus não ir imediatamente.
Dois dias depois Jesus resolve ir, e, a caminho, demora mais algum tempo. Se levarmos em conta o tempo que os amigos de Marta e Maria gastaram para chegar até Jesus, sua permanência por mais dois dias e, finalmente, a viagem sem pressa até Betânia, nas proximidades de Jerusalém, teremos, então, os 4 dias de Lázaro no túmulo.
Neste contexto quero considerar com vocês o tempo da ação de Deus em resposta às expectativas humanas.

DEUS NÃO TEM QUE AGIR PARA ATENDER OS ANSEIOS IMEDIATOS DOS HOMENS E SEUS PEDIDOS FÚTEIS

Chamo a primeira forma de querer que Deus aja de imediatismo, isto é, o desejo de ver as coisas acontecendo rapidamente, instantaneamente. Embora não gostemos, acabamos nos acostumando com comida instantânea. Uma das maiores redes de lanches do mundo tornou-se um colosso pela rapidez e não pelo sabor ou pelo valor nutritivo de seus alimentos. As empresas de tecnologia investem cada vez mais para que os consumidores gastem cada vez mais em equipamentos que, no final de um dia, lhes darão uma economia de alguns minutos. Tudo é instantâneo, imediatista, urgente. A sociedade moderna sofre da síndrome do coelho de Lewis Carol (Alice no País das Maravilhas).

MARTA E MARIA

Certamente a expectativa de Marta e Maria era que Jesus agisse imediatamente. Elas sabiam que tanto Jesus poderia dirigir-se até lá, como fez quando da ressurreição da filha de Jairo ou do filho da viúva de Naim como poderia simplesmente ordenar e tudo se resolveria mesmo à distância, como fez no caso da mulher de Tiro cuja filha estava endemoninhada, ou do servo do centurião que estava enfermo.

OS AMIGOS DE LÁZARO

Com certeza a expectativa daqueles que foram procurar Jesus era de que ele deixasse tudo o que estava fazendo e se dirigisse imediatamente para Betânia, para cuidar de Lázaro e consolar as irmãs. Eles demonstram esta expectativa e até uma certa pressão adjetivando Lázaro de “aquele a quem amas”, algo como se nós disséssemos “corra, afinal, ele é seu amigão”. É o que todos esperamos, quando há alguém enfermo e vamos à procura de uma pessoa capacitada para cuidar dele, queremos que as coisas aconteçam rapidamente, imediatamente. E é necessário que seja assim, muitas vezes apenas um minuto pode fazer a diferença entre a vida e a morte de uma pessoa.

OS DISCÍPULOS

A expectativa dos discípulos também era semelhante, mas ao mesmo tempo tinham seu próprio entendimento do motivo pelo qual Jesus não foi imediatamente: era de conhecimento público (e Jesus já havia feito esta denúncia) que os judeus queriam mata-lo, e voltar para a Judéia, especialmente Betânia, muito próxima de Jerusalém, era um risco muito grande. Eles sentem-se mais calmos quando Jesus diz que a enfermidade de Lázaro promoverá a glória de Deus e que o próprio Jesus seria glorificado. Finalmente, à seu próprio modo, compreendem o motivo de Jesus não ter pressa: Lázaro estava apenas adormecido, e Jesus iria despertá-lo. Sequer questionam porque Jesus iria despertá-lo, e não outra pessoa qualquer? Marta e Maria não estavam lá, não eram suas irmãs e não podiam cuidar dele?
O texto nos diz que Jesus dissipa lhes as dúvidas ao afirmar: Lázaro morreu (v. 14), mas que eles não deveriam se preocupar, apenas crer, porque este era o propósito de Deus naquele momento. A reação dos discípulos, dentre eles Tomé, é de desânimo diante de um quadro desalentador: voltar para a Judéia, com os líderes judeus desejosos de matar a Jesus, entrar em Betânia após ter feito pouco caso da doença de Lázaro e, certamente, ter perdido o apoio dos poucos amigos que ainda confiavam nele significava a morte. E ele se resigna: vamos juntos, e também morreremos.

FRUSTRAÇÃO DE ANSEIOS IMEDIATISTAS

Quando os anseios imediatistas são frustrados, muitos se sentem frustrados também. E não é pequeno o número de pessoas que se frustram com Jesus porque ele não lhes atende de acordo com a agenda pessoal do homem. As palavras de Tomé (que, à semelhança dos judeus, tinham a expectativa messiânica de um reino terreno) indicam que ele havia desanimado, desistido, mas, que ainda assim, por consideração, acompanharia Jesus até o martírio.

O IMEDIATISMO NA IGREJA MODERNA

Constantemente vemos ou tomamos conhecimento de pessoas que pretendem serem ouvidas por Deus imediatamente. Dão ordens, exigem, determinam. E tem que ser para já, para hoje, para agora. Amarram e expulsam com a mesma desenvoltura, e, pior, dizem a Deus o que ele deve fazer, e, não apenas o que deve, mas quando e como. Lamentavelmente se esquecem que Deus é o Senhor, o todo-poderoso, e o homem apenas o vermezinho de Jacó (Is 41.14: Não temas, ó vermezinho de Jacó, povozinho de Israel; eu te ajudo, diz o SENHOR, e o teu Redentor é o Santo de Israel) e querem dar ordens a Deus, e, infelizmente, o desconhecimento de Deus (mesmo que tenham alguma forma de conhecimento teórico das Escrituras) tem levado multidões a ofenderem a Deus em sua ignorância de quem é Deus. Isaias, ao conhecer um pouco mais sobre Deus viu-se impelido a uma única atitude: prostrar-se.

DEUS NÃO DEIXOU DE AGIR SÓ PORQUE OS HOMENS ACHAM QUE A OPORTUNIDADE PASSOU

Outra forma de reagir à ação de Deus é o que vou denominar de visão condicional da graça de Deus. Esta visão é expressa tanto nas palavras de Marta quanto de Maria. Quatro dias depois da morte de Jesus (e elas certamente sabiam dos dois casos de ressurreição já mencionados anteriormente, ambos antes do sepultamento e imediatamente após a morte dos personagens) já não havia mais esperança.

MARTA E MARIA, DIFERENTES, MAS IGUAIS

Esta forma de ver as coisas é comum a Marta e a Maria - mulheres de temperamento diferente. Maria era contemplativa, gostava de ouvir o Senhor Jesus, observar o que ele fazia e dizia. Marta, porém, era mais ativa, mais dinâmica. Não pretendemos julgá-las, apenas observamos seu modo de ser.
Marta toma uma atitude imediata - assim que soube que Jesus estava se aproximando, correu ao seu encontro e expressa seu ponto de vista, sua maneira de crer. Ela diz a Jesus que não deixou de crer nele, não deixou de amá-lo, e que entende que já é tarde demais. Ela diz: “Jesus, se o Senhor estivesse aqui ele não teria morrido”.

MARTA, UMA MULHER PRÁTICA

É a atitude natural de uma pessoa que quer ver as coisas acontecerem, e acontecerem rápido. Marta é o tipo de pessoa que, se as coisas demoram a acontecer, vai e faz. Sua praticidade faz com que ela veja as coisas como são, como se tornaram. E diz a Jesus que entende e aceita, mas que as coisas poderiam ter sido diferente se Jesus tivesse agido antes. Sua praticidade permite-lhe apenas fazer uma súplica velada, uma oração muito parecida com muitas que são feitas, confundindo conhecimento da doutrina da soberania de Deus com pedido sem veemência.
Marta sabia que, se Jesus quisesse, qualquer coisa poderia acontecer, inclusive a ressurreição de Lázaro, mas ela não ousa pedir. Ela permanece no pretérito condicional. Após conversar com Jesus ela vai chamar sua irmã, Maria - não sabemos o que lhe ia no coração, mas talvez a prática Marta esperasse uma atitude mais devocional, uma oração mais direta, mais “poderosa’ de Maria. Talvez esperássemos uma ação diferente, já que Maria era diferente de Marta. Era mais contemplativa, havia se dedicado mais a ouvir os ensinamentos de Jesus. Ela sabia mais, ela dedicara mais tempo, chegara mesmo a se humilhar publicamente, demonstrando seu carinho por Jesus lavando-lhes os pés com suas próprias lágrimas, e enxugando-o com seus cabelos quando ele fora “destratado” pelo fariseu Simão, que não lhe honrara quando de sua visita.

MARIA, UMA MULHER CONTEMPLATIVA

Mas Maria age da mesma maneira que Marta, da mesma maneira que as pessoas que estavam perto – todas desconsoladas, chorosas. Todas acreditando que se Jesus tivesse chegado antes Lázaro não teria morrido. É possível que alguns tenham esperado até o último minuto, antes de fechar a sepultura, pela chegada de Jesus, afinal, ele ressuscitara o filho da viúva de Naim a caminho do cemitério (Jo 11.37: Mas alguns objetaram: Não podia ele, que abriu os olhos ao cego, fazer que este não morresse?). Mas tal não aconteceu. E Maria também não tinha mais esperanças.

CRENTES, MAS NÃO A PONTO DE PEDIREM O IMPOSSÍVEL

É curioso que, embora dissessem crer no poder de Jesus para fazer qualquer coisa, até mesmo fazer Lázaro ressurgir dos mortos, nenhum deles ousa pedir isso a Jesus. Criam mais no impossível [afinal, Lázaro já havia sido sepultado há 4 dias, já cheirava mal e estava em decomposição). Mesmo diante do Deus dos impossíveis continuavam olhando para o que era impossível aos homens (Lc 18.27: Mas ele respondeu: Os impossíveis dos homens são possíveis para Deus). Preferem a certeza do “se tivesse sido” às promessas certeiras contidas nas palavras claras do Senhor Jesus: “Teu irmão há de ressurgir”. Não podemos nos esquecer que ele já dissera aos discípulos que a enfermidade de Lázaro, com sua consequente morte, era para a glória de Deus e de seu filho, diante dos homens.

OS CRISTÃOS NÃO CREEM MAIS NO DEUS DO IMPOSSÍVEL?

É muito comum percebermos que muitos cristãos não esperam qualquer forma de ação imediata de Deus em suas vidas. É como se o Deus que falou ao coração de Davi (Sl 27.8: Ao meu coração me ocorre: Buscai a minha presença; buscarei, pois, SENHOR, a tua presença) não falasse mais ao coração de seus outros filhos e não mais desejasse ser buscado. O mesmo Deus que abriu o mar para seu povo passar, que destruiu o exército de Faraó, derrubou as muralhas de Jericó e fez o sol parar ainda ama o seu povo, ainda age no meio do seu povo, ainda faz milagres extraordinários todos os dias – mas muitos incrédulos, membros da Igreja visível, acham que Deus agia, fazia, falava. Não pense assim de Deus, você não está fazendo justiça ao Deus imutável (Hb 13.8: Jesus Cristo, ontem e hoje, é o mesmo e o será para sempre).

DEUS NÃO DEIXARÁ DE AGIR SÓ PORQUE OS HOMENS NÃO ESPERAM VER SUA AÇÃO

É outra forma de incredulidade, ou de manifestação da pequena fé. Tanto o imediatismo quanto deixar apenas no passado a possibilidade da ação do Senhor são erros que não andam sozinhos. Há um terceiro erro que chamo de incerteza utópica. A incerteza utópica é só uma máscara para a incredulidade pois não crê na ação do Senhor no tempo presente, não acredita que pode acontecer o impossível diante dos próprios olhos. Sob a alegação de que a fé é a certeza de algo ainda não concretizado (Hb 11.1: Ora, a fé é a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não veem) pode-se perfeitamente jogar a expectativa da realização de algo tão longe no futuro que seja impossível ver - e foi o que Marta e Maria mostraram.

A RESSURREIÇÃO COMO FONTE DE ESPERANÇA E DESÂNIMO

Elas criam na ressurreição - e estavam certas quanto a isto (I. Co 6.14: Deus ressuscitou o Senhor e também nos ressuscitará a nós pelo seu poder), porque, sem esta fé, nem mesmo poderiam ter o mínimo consolo a respeito da morte de seu irmão (I Co 15.19: Se a nossa esperança em Cristo se limita apenas a esta vida, somos os mais infelizes de todos os homens). Mas elas acreditavam na ressurreição, na benção futura, no dia glorioso do retorno do grande rei.

CREMOS QUE ELE VOLTARÁ

Isto não quer dizer que não creiamos neste grande dia. Na verdade ele é a grande expectativa de cada cristão verdadeiro, que tem em suas orações o anseio pela volta do seu Senhor. Mas colocar a esperança apenas no futuro não traz benefícios para o tempo presente. O reino já chegou, o crente já tem o paracleto, o consolador já guia os crentes rumo à verdade, hoje, agora. Já somos cidadãos do reino, o crente já pode dizer que Cristo vive nele (Gl 2.20: …logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que, agora, tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim).

A FALTA DE FÉ E O POLITICAMENTE CORRETO

Marta e Maria, num ambiente “eclesiástico” foram politicamente corretas. Diziam crer nas promessas, crer numa realização futura de seus anseios de reverem o irmão, mas não ousavam dizer a Jesus, com todas as letras, o que todos ali pensavam, e que lhes ocupava a mente e lhes fazia doer o coração: “O Senhor não veio, Jesus. O Senhor demorou e ele morreu. Agora nem o Senhor conserta isso - já é tarde demais e nós já aceitamos conviver com esta perda - agora só na eternidade”.

A FÉ E O PRESENTE

Somente quando Jesus chama a atenção para os fatos presentes, para vivenciar a fé sem tirar os olhos de Jesus, mas no dia-a-dia, é que Marta, novamente, na sua praticidade, diz: “Não adianta, ele já está em decomposição, já cheira mal, deixa pra lá... Vamos voltar pra casa e chorar a nossa dor”. Os amigos de Jairo fizeram a mesma coisa, disseram-lhe para não incomodar mais a Jesus (Mc 5.35: Falava ele ainda, quando chegaram alguns da casa do chefe da sinagoga, a quem disseram: Tua filha já morreu; por que ainda incomodas o Mestre?).

A FÉ DEIXADA NO PASSADO

A fé que só serve para o passado é inócua, não honra o poder nem a presença de Jesus Cristo. A fé que se limita a esta vida não é fé, é apenas utilitarismo, emocionalismo e moralismo. A fé que não se firma nos fatos do passado, não serve para o tempo presente mas se limita à uma expectativa futura se esquece da promessa da presença constante de Jesus com seus discípulos (Mt 28.20: …ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século) e com todos os que viessem a crer (Jo 17.20: Não rogo somente por estes, mas também por aqueles que vierem a crer em mim, por intermédio da sua palavra).

A FÉ É FONTE DE CERTEZAS ETERNAS

A verdadeira fé não se limita a espaços temporais, ela é eterna, alicerçada no que Deus fez e prometeu, vivenciada no presente e cheia de esperanças para o futuro, mas muitos cristãos modernos não acreditam mais na ação de Deus, e, para não admitirem, colocam as suas afirmativas sempre no futuro: Jesus virá, Jesus fará, quando Jesus vier. E se esquecem que aquele que fez está presente e faz. Não precisamos esperar as portas da eternidade se abrirem para termos a certeza do senhorio de Cristo sobre todas as coisas (Sl 8.6: Deste-lhe domínio sobre as obras da tua mão e sob seus pés tudo lhe puseste). É fundamental que o coração do crente esteja repleto de fé no seu Senhor e salvador, que tanto pode agir de maneira extraordinária, imediata, como ensinar lembrando a história dos feitos de Deus ou, ainda, mostrando-lhes a necessidade de uma confiança simples, mas verdadeira (Mt 18.3: E disse: Em verdade vos digo que, se não vos converterdes e não vos tornardes como crianças, de modo algum entrareis no reino dos céus).

A FÉ VIVA E VIVENCIADA NO DIA-A-DIA

Diante destas diversas manifestações de uma fé apenas aparente mas que, na verdade, são meras manifestações disfarçadas de incredulidade, Jesus chama, de maneira prática, tanto os seus discípulos (aos quais já advertira que a enfermidade de Lázaro era para que Deus e o próprio Cristo fossem glorificados), como de Maria e Marta (às quais já havia dito mais de uma vez que seu irmão ressurgiria dos mortos) e dos demais judeus (que duvidavam de seu poder em ressuscitar Lázaro, apesar de já ter curado um cego de nascença, algo nunca antes visto (Jo 9.32: Desde que há mundo, jamais se ouviu que alguém tenha aberto os olhos a um cego de nascença), para a vivência da fé de maneira real, diária.

A FÉ É PARA SER VIVIDA NO TEMPO PRESENTE

Diante da percepção que Jesus possui da natureza do homem (Jo 2.25: E não precisava de que alguém lhe desse testemunho a respeito do homem, porque ele mesmo sabia o que era a natureza humana) e de seus corações (Lc 5.22: Jesus, porém, conhecendo-lhes os pensamentos, disse-lhes: Que arrazoais em vosso coração?) chama-os para fixarem sua atenção na maneira como deveriam crer, no momento presente e pergunta-lhes: "Onde Lázaro está?". Libertos de seu torpor atemporal, eles respondem: "Vem e vê".

A FÉ NÃO ESTÁ PRESA ÀS EXPERIÊNCIAS DO PRESENTE

Quando chegam diante do sepulcro, mesmo depois de 4 dias, Jesus ordena-lhes que abram o túmulo, que eles removam a pedra do lugar onde haviam disposto, após aguardar até o último instante, a sua expectativa de uma ação de Deus. Para eles não havia mais nada a fazer. Não esperavam que Jesus fizesse mais nada, queriam apenas lamentar as suas dores – e certamente os inimigos de Jesus se alegravam com aquele ambiente, pois já haviam decidido matar Jesus e quanto menos apoio popular ele tivesse, mais fácil se tornaria sua tarefa.

A FÉ SUPLANTA O DESESPERO

Quantas esperanças foram abandonadas, quantas vezes os sonhos são esquecidos simplesmente pelo fato de não se acreditar no poder de Deus. Mesmo diante da presença de Jesus, e da sua ordem para retirar a pedra, ainda assim oferecem objeções que justifiquem esta incredulidade. O problema não está, em absoluto, no que Jesus pode fazer – mas no que os pseudo crentes esperam que Jesus faça (ou não).

A FÉ SUPLANTA A INCREDULIDADE DOS CRENTES

Quantos simplesmente escondem a sua incredulidade dizendo que esperarão o agir de Deus no futuro, num "lindo porvir" que, na verdade, não esperam vir coisa nenhuma. Ser crente correto não é ser politicamente correto. Para não assumirem a sua incredulidade muitos dizem esperar que aconteça, mas vivem como se as promessas de Deus nunca viriam a se realizar. No fim das contas, vivem como se Cristo não voltasse, não podem afirmar que Cristo vive neles, nem podem exclamar "Maranata, vem Senhor Jesus Cristo". Mas, aqueles que observavam as ações de Jesus, ouvindo as ordens do mestre, mesmo vacilando, obedecem ao mandato de Jesus e o Senhor e abrem o túmulo. Contrariados, confrontados com sua incredulidade, incomodados com o olor que provinha do túmulo que abrigava um corpo em decomposição. Mas eles precisavam obedecer, pois somente através da obediência eles poderiam ver a glória de Deus.

OS FEITOS SURPREENDENTES DE JESUS ALICERÇAM NOSSA FÉ

Quando ninguém mais esperava qualquer ação da parte de Jesus, ele mostra que o imediatismo não reflete o tempo de Deus agir. Ele mostra também que, mesmo tendo agido no passado, ainda age. Seu poder não diminuiu. Aquele que é o alfa e o ômega não sofre alteração. Aquele que é o princípio, a origem e a causa, e o término, a razão e a finalidade de todas as coisas porventura deixaria de ter poder de causar ou levar a cabo suas intenções? Aquele que é o mesmo, ontem, hoje e eternamente não pode, então, sofrer qualquer forma de variação ou sombra de mudança (Tg 1.17: Toda boa dádiva e todo dom perfeito são lá do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não pode existir variação ou sombra de mudança). Da mesma forma que agiu antes, curando o cego de nascença, ressuscitando o filho da viúva de Naim, ou a filha de Jairo, Jesus mostra-lhes que ainda é o mesmo, ainda tem o mesmo poder, ainda tem o mesmo amor e interesse pelas ovelhas que lhe foram confiadas. Antes de qualquer outra coisa Jesus glorifica o pai, demonstra o propósito daquele momento, apesar de toda a dor que Marta, Maria e familiares tiveram que passar, era que cressem que ele era o enviado de Deus.

O PODER DE JESUS ALIMENTA A FÉ INDEPENDENTE DO TEMPO

Então, clama para que Lázaro saia do túmulo. Era mais uma das muitas frases "estranhas" de Jesus. Jesus disse a uma mulher que chorava a perda do único filho para que não chorasse – diz a mortos para que se levantem, como se mortos pudessem ouvir. E, nesta fala estranha, inesperada, Jesus demonstra o poder de Deus, a graça do Senhor da vida, capaz de levantar mortos, não importando quanto tempo a morte tivesse atingido o homem. Jesus coloca no coração dos seus discípulos, e dos que creram que, para Deus, nada é impossível, mesmo que o homem pense assim. E Lázaro, para surpresa de todos, mesmo depois de 4 dias, mesmo amarrado, pés e mãos, sai do túmulo. Lázaro, de pé, é a maior testemunha que aqueles homens podiam ter do poder de Deus e da intimidade de Jesus com o Pai. À partir deste testemunho vivo, ou melhor, revivido, alguns creram em Jesus. Vão tirar as ataduras de Lázaro, percebem que Jesus de fato era o enviado de Deus. Nem no passado, nem no futuro. A fé tem influência na vida do crente no presente, aguardando pacientemente o tempo e o modo de agir do Senhor.

A FÉ PRODUZ DIFERENTES REAÇÕES

João continua tratando da história da ressurreição de Lázaro e diz que alguns creram – não diz quantos, mas parece ter sido um número significativo. Mas também, outros, a despeito do que Jesus fez, de terem visto o mais absolutamente inesperado acontecer, mesmo sendo testemunhas oculares, preferiram rejeitá-lo ainda mais. Foram falar para aqueles que haviam decidido matar Jesus que se apressassem em fazer o que queriam fazer.

QUAL É A SUA REAÇÃO DIANTE DA VERDADE?

Duas reações possíveis. Alguns creram, outros odiaram Jesus. Você que está diante desta mensagem tem que tomar um posicionamento. Ou você crê, ou você o rejeita. Ou torna-se partidário daqueles que creram no Senhor Jesus ou posicionasse ao lado daqueles que não creram, apesar do testemunho eloquente da ressurreição de Lázaro. Não há jeito de você continuar a sua vida sem se posicionar em relação a Jesus, porque esta mensagem é um desafio a você, ao seu coração, para tomar um posicionamento a respeito de sua vida, de como você olha para Jesus. Discípulo ou opositor – o que você é, afinal?

Separe um tempo agora para colocar seu coração diante de Deus, peça para Deus sondar o seu coração – a Palavra de Deus diz que o coração do homem é enganoso e corrupto, impossível de ser conhecido pelo próprio homem, mas ele pode ser esquadrinhado por Deus, quebrado, transformado, restaurado e renovado. Mas peça para Deus lhe dar um novo coração. Para lhe dar uma nova perspectiva a respeito de Jesus, aquele a quem ele enviou. Creia, porque, se você crer, você receberá de Deus a maior das recompensas: a salvação de sua alma (At 16.31: Responderam-lhe: Crê no Senhor Jesus e serás salvo, tu e tua casa).

sábado, 18 de janeiro de 2014

SÉRIE PERSONAGENS: ABEL E SETE

PERSONAGENS

ABEL E SETE

Gn 4.1-8; 25-5-8 [Gn 4.4]

Sabemos pouco sobre a primeira família. Depois de expulsos do paraíso se estabeleceram, passaram a cultivar  a terra, cuidar de animais e tudo indica que prestavam algum tipo de culto natural a Deus. Não havia bíblia, a revelação escrita era desnecessária pois eles tinham as suas memórias.
Certamente Adão e Eva contaram das maravilhas do paraíso, para onde sonhavam voltar. Também compartilharam com seus muitos filhos e filhas da promessa de Deus a respeito de um redentor (Gn 3.15).
A bíblia destaca Caim e Abel, num primeiro momento, para mostrar que a atitude de um coração entregue ao Senhor e que o busca verdadeiramente (Jr 29.13) é que o faz voltar-se ao pecador (Jr 29.14).
Apesar da impiedade de seu coração, de seus atos rebeldes e violentos, e do crime cometido, essencialmente não há diferença entre Caim, Abel e Sete - todos os três eram igualmente pecadores (Ec 7.20).
Então, o que havia de diferente em Abel e Sete? Se eram, à semelhança de seus pais, pecadores, porque eles são retratados de maneira diferentes e são chamados de “justos”? Neles havia uma disposição do coração para buscar a Deus, para invocá-lo (Gn 4.25), e isto já com uma semente de espiritualidade não encontrada em Caim (Hb 11.4).
A morte de Abel caracteriza a primeira perseguição religiosa, a primeira ação de intolerância por causa do culto da história. Abel não fez nada contra Caim, mas o ímpio sempre tem algo contra o justo, porque o fato de Deus ter aceito Abel e sua oferta o humilha, mostra-lhe o que ele realmente é: um pecador, rejeitado por causa do seu procedimento ímpio (Gn 4.7).
Como muitos, Caim queria ser aceito à sua maneira, com suas ações sem transformação alguma. Mesmo advertido, continuou segundo o curso de seu coração corrompido. Achava que seria justo simplesmente por apresentar uma oferta - uma espécie de troca com Deus. Queria ser aceito pelo que fazia, mesmo que não tivesse fé em seu coração. Com a morte de Abel, a esperança de Adão e Eva volta-se para outro filho - Sete.
Não seria da semente de Caim que sairia o redentor, por isso Deus deu a Adão e Eva o terceiro varão, Sete. Caim, em sua impiedade, só geraria ímpios, que ficaram conhecidos como “filhos dos homens”. Sete, adorador do Senhor, daria origem a uma linhagem santa, que ficaria conhecida como “filhos de Deus”.
Não há razão para pensar que a promessa de Deus falharia - Deus não admite que seu nome seja envergonhado e tem levantado homens e mulheres piedosos para invocarem o seu nome, proclamarem sua graça e guardarem seus mandamentos.
A antiga luta entre os filhos de Deus e os filhos dos homens prossegue. As armas dos filhos de Deus devem ser espirituais, mesmo que tenham que enfrentar armas carnais (II Co 10.4-5).
Os filhos de Deus sempre andaram pela fé (II Co 5.7) e desta maneira conseguiram assombrosas vitórias (Hb 11.33-38).
As atitudes de Caim falam das obras da carne, injustiça e rebelião, conduzindo à morte.

SÉRIE PERSONAGENS: CAIM

PERSONAGENS

CAIM

Gn 4.1-26 [Gn 4.7]

Caim foi o primeiro homem a nascer sobre a terra. Seu pai era Adão e sua mãe Eva. Caim tinha um irmão chamado Abel. Segundo Gn 5.3-4 (Viveu Adão cento e trinta anos, e gerou um filho à sua semelhança, conforme a sua imagem, e lhe chamou Sete. Depois que gerou a Sete, viveu Adão oitocentos anos; e teve filhos e filhas) Caim teve outros irmãos e irmãs, mas Abel é o mais importante para esta lição. Lembremos que a forma de escrever dos hebreus não era linear, como a ocidental, e o relato de Gn 5.4 pode referir-se a, pelo menos, outras filhas de Adão e Eva nascidos enquanto Caim e Abel cresciam, o que é muito natural de se pensar. 
Quando Caim e Abel cresceram, trouxeram uma oferta a Deus. O sacrifício de Abel, pastor, foi uma ovelha e o de Caim, lavrador, foram frutos e vegetais que produziu. Pensadores alegoristas entendem que a oferta de Abel significava confissão pois implicava na morte de um ser “inocente”, enquanto que a de Caim indicava orgulho por seu trabalho, sentindo que não precisava de perdão. Não há nada no texto que favoreça esta interpretação, pois ambas as ofertas são lícitas e ordenadas, tanto a dos cereais (Ex 23.19) quanto de animais (Nm 18.17) - e não devemos nos esquecer da imutabilidade de Deus.
A ênfase do texto é no adorador, e não na oferta. Não é dito que Deus se agradou com a oferta de Abel, mas que Deus se agradou de Abel (Gn 4.4), mas rejeitou a Caim (Gn 4.5).
Eva acreditava que Caim seria o restaurador, aquele que derrotaria a serpente que a enganara e os reconduziria ao paraíso (Gn 4.1). Todavia, Caim é o primeiro “fruto” do casal após o pecado - e ao invés de restaurar a vida que haviam perdido, como fruto do pecado leva o primeiro casal à primeira experiência com a morte (Rm 6.23).
Ainda que o fruto do pecado pareça agradável, no fim ele é mortífero (Pv 14.12).
Diante da tentação, da oportunidade de pecar, só existem duas opções: resistir (Tg 4.7: Sujeitai-vos, portanto, a Deus; mas resisti ao diabo, e ele fugirá de vós) e, se necessário, fugir (I Co 10.13) ou ceder (Tg 1.15).
Mas sujeitar-se a Deus é tudo o que o pecador não quer - Deus disse a Caim para mudar de procedimento e não deixar que o pecado o dominasse (Gn 4.7: Se procederes bem, não é certo que serás aceito? Se, todavia, procederes mal, eis que o pecado jaz à porta; o seu desejo será contra ti, mas a ti cumpre dominá-lo). Mas a rebeldia de Caim o fez ficar ainda mais furioso, ao ponto de tornar-se o primeiro assassino (fratricida) da história, matando seu irmão, Abel.
A bíblia diz que um abismo é apenas prenúncio de outro abismo (Sl 42.7): um coração sem o temor de Deus produz inveja, ira e assassinato. O coração de um assassino produz rebeldia, fuga e religiosidade, isto é, a tentativa de resolver o problema da “comunhão” criando um grupo social - no caso de Caim, a cidade de Enoque, na terra de Node, que tem o mesmo nome de seu primeiro filho (obviamente com uma irmã pois Eva é a mãe de  todos os viventes - Gn 3.20).
Apesar de sua inteligência (dele procederam pecuaristas, músicos, artistas, escultores, ferreiros), a descendência de Caim só não conseguiu uma coisa: encontrar o caminho do arrependimento, como seu pai. Os filhos de Caim foram denominados de “filhos dos homens” em contraste com os filhos de Sete, chamados de filhos de Deus (Gn 6.4).
Caim é um triste exemplo de pessoas que, mesmo advertidas pela Palavra de Deus, ignoram-nas, preferem seguir em sua pecaminosidade e estabelecem seu próprio modo de viver. Na prática, a rejeição da vontade de Deus significa a aceitação da condenação que Deus lança sobre Caim (Gn 4:15) e é entregue ampliada à sua geração (Gn 4.24).
Esta condenação só é retirada daqueles que creem em Jesus Cristo (Jo 3.36), este sim, o enviado por Deus, o verdadeiro descendente da mulher (Gl 3.16).

FAÇA DESTE BLOG SUA PÁGINA INICIAL