segunda-feira, 24 de março de 2014

A VIDA PRÁTICA DE UMA IGREJA BIBLICAMENTE ORIENTADA

Lucas fez vários relatos da maneira de viver da Igreja que ele conheceu – e a característica que se destaca naquela Igreja é que era uma comunidade que perseverava na doutrina apostólica – enfrentava dificuldades, teve que lidar com falsos crentes e com enganadores, bateu-se contra heresias e legalistas. Mas não abandonava a Palavra.
O evangelista e historiador faz uma ressalva importante a respeito dos judeus tessalonicenses – que não foram diferentes dos judeus dos demais lugares por onde ele andou e até mesmo "andaram contra ele" contrastando-os com s judeus que formaram a Igreja – somente os judeus de Beréia mostraram nobreza ao conferir o que o pregador (Paulo) lhes dizia com o que a própria Escritura havia dito (At 17.11).
Lucas afirma que a Igreja que ele conhecia era uma Igreja biblicamente orientada, e isto impactava a vida, a comunhão, a oração, a administração dos bens pessoais, a adoração comunitária, a expressão de amor dos crentes uns pelos outros e o seu louvor, e, por isso, a Igreja contava com a simpatia do povo e a aprovação de Deus manifestada no crescimento numérico.
Como, então, a Igreja cristã moderna, afastada quase 20 séculos da Igreja Primitiva, pode, também, obter a aprovação de Deus e ser considerada uma Igreja biblicamente orientada? Há outros textos bíblicos que podem nos enriquecer com respostas para esta questão, mas vamos nos limitar à carta que Paulo escreveu aos Filipenses.
27 Vivei, acima de tudo, por modo digno do evangelho de Cristo, para que, ou indo ver-vos ou estando ausente, ouça, no tocante a vós outros, que estais firmes em um só espírito, como uma só alma, lutando juntos pela fé evangélica.
Pode parecer redundância, mas não há nada desnecessário nas Escrituras. O Senhor Jesus afirma que nem um i ou um mero sinal da lei passariam (Mt 5.18). Assim, se a pergunta é: como viver uma vida digna do evangelho de Cristo, a resposta que Paulo nos oferece é: viva o evangelho, porque o evangelho não é teoria, não é filosofia, não é acúmulo de conhecimento.
O evangelho não é costume, não é tradição, não é familiaridade com a verdade, não é um laco social ou familiar. O evangelho é muito mais do que isso. Para ser evangélico de verdade é preciso disposição para abrir mão de tudo o que se tem para ganhar o que é mais importante, precioso e imperecível (Mt 13.45-46). O Senhor faz uma comparação, um símile – e eu não ouso ir além disso.
Você não precisa deixar de ter propriedades (I Tm 6.17) – a Igreja de Jerusalém as tinha e vendiam o que possuíam à medida que alguém tinha necessidade (At 2.45) - você só precisa deixar de considerar estas coisas o alvo final de sua vida (Mt 6. 19-21) porque é impossível amar a Deus e às coisas do mundo (I Jo 2.15). Como, então, viver de modo digno do evangelho?
Há numerosos exemplos no Novo Testamento de pessoas que abraçaram o evangelho e o tiveram como prioridade em suas vidas. Não é o caso de Demas, que "amou o presente século" (II Tm 4.10) e de outros denunciados por João (I Jo 2.19). Mas certamente podemos ver isso em homens como Mateus (Mt 9.9), Zaqueu, (Lc 19.8-10), Pedro (Mc 10.28).
Palavras como família, lazer, carreira, trabalho, estudos, relacionamentos, saúde, dinheiro, tecnologia, conforto, segurança formam diversos níveis de prioridades em nossa vida. Tente colocá-las mentalmente numa ordem de importância. Qual delas você substituiria alegremente pelo evangelho? Quais delas você não teria coragem de substituir? Se a sua resposta for diferente de "eu abro mão de todas elas pelo evangelho" você respondeu errado, pois viver de modo digno do evangelho é ter a Cristo como absoluta prioridade (Lc 14.26).
É possível viver o evangelho na família, no lazer, na carreira, no trabalho, com saúde, nos estudos, nos relacionamentos, com dinheiro, com tecnologia, com conforto e até com segurança – mas é preciso saber que estas coisas podem faltar, mas o cristão permanece firme no evangelho (Fp 4.11).
Paulo lembra aos filipenses que eles devem continuar agindo como crentes independente das circunstancias, independente de quem está observando-os. Não é nada raro Igrejas ficarem menos cheias nos dias em que o pastor da comunidade está ausente. Ou o contrário também ocorre, em dias que pastores muito conhecidos estão presentes as Igrejas ficam menos vazias. Porque este fenômeno ocorre? Ou melhor, como evitar que este fenômeno pernicioso ocorra? A resposta de Paulo é: a Igreja deve ter o evangelho como estilo de vida.
Na presença ou na ausência de Paulo a Igreja em Filipos deveria continuar vivendo de modo digno do evangelho. Mesmo que Paulo não pudesse vê-los e mesmo que ninguém contasse a Paulo, como ocorreu através dos bem intencionados membros da casa de Cloe no caso de Corinto (I Co 1.11).
Não são os olhos do pastor, ou de Paulo, que são, realmente importantes. É diante dos olhos do Senhor que estamos (Sl 33.18-20) e isso não deve ser um peso nem um constrangimento, mas nossa fonte de segurança (Sl 33.20) e alegria (Sl 33.21).
Devemos nos lembrar que o Senhor considera, analisa, observa com cuidado cada um dos nossos passos (Pv 5.21) e retribui a cada um segundo as suas ações (Ap 22.12).
Recentemente tive que enfrentar alguns formigueiros. Ao cortar o gramado do nosso campo particular de futebol (o Taturanão) me deparei com a ferocidade de uma comunidade de formigas vermelhas, aqui conhecidas como paraenses. Minha filha, observando-as de uma distância segura, e vendo o movimento delas sob o sol, exclamava que elas chegavam a brilhar. Mas seu brilho não me atraia – por outro lado, sua ferocidade era intimidadora. Elas saíram em quantidade impossível de contar em busca da fonte de agressão para a sua colônia. Como um exército furioso procuravam o agressor para defenderem a sua casa.
É obvio que a comparação com a Igreja tem que parar aqui. Não precisamos de ódio e fúria para defender o evangelho, pelo contrário, as armas da nossa luta não são carnais (II Co 10.4-5) assim como os nossos inimigos não são carnais.
Para enfrentar o diabo a principal arma do cristão não é a batalha espiritual, mas a sujeição a Deus e a resistência às suas armadilhas (Tg 4.7).
Para enfrentar as instituições mundanas a obediência naquilo que é civil (I Pe 2.13-15) o cristão precisa saber o que é prerrogativa de Deus e o que é dos homens. Pagar impostos é dos homens, anunciar a Jesus é de Deus. Nenhum governante tem o direito de proibir isso.
Para enfrentar injustiças somos orientados a ser mansos (I Pe 3. 14-16).
Jamais um cristão será condenado por ser um bom cidadão, um bom funcionário, um bom servo – contra humildade e mansidão não há lei em lugar algum do mundo (Gl 5.22-23).
28 e que em nada estais intimidados pelos adversários. Pois o que é para eles prova evidente de perdição é, para vós outros, de salvação, e isto da parte de Deus.
Quando o crente vive de uma maneira que demonstre a sua fé, que não traga vergonha para o evangelho então, ele viver em qualquer circunstância sem temer porque, mesmo o sofrimento é glorioso (I Pe 4.16) e não há razão para fugir dele (II Tm 1.8).
O crente que vive para glória de Deus não teme nada nem ninguém, pois sabe que nada poderá separá-lo do amor de seu Deus que está em Jesus Cristo (Rm 8.38-39). É uma grande tolice temer quem pode matar o corpo e, por causa disso, ofender àquele que pode fazer perecer o ser total no inferno (Mt 10.28).
Somente verdadeiros crentes podem ter a coragem, a ousadia de homens como Daniel (Dn 1.8) e pagar o preço que lhe fosse exigido, inclusive enfrentar uma cova cheia de leões (Dn 6.16).
Somente a transformação causada pela fé em Jesus Cristo pode transformar covardes (Mt 26.69-70) em homens firmes mesmo quando ameaçados por poderosos (At 4.18-20).
O cristão não deve ser dado a confronto e contendas, mas isto não quer dizer que ele deva se intimidar quando enfrentar os adversários do seu Senhor (Jo 15.20). Da mesma maneira que seu mestre não se intimidou diante de Herodes os apóstolos não se intimidaram diante das autoridades (At 4.8-20), Estevão não se intimidou diante da multidão enfurecida (At 7.59) e guardou firme a confissão (Hb 10.23).
Viver sem temer os adversários não quer dizer em contendas, pelo contrário (Tt 3.10), este não deve ser, nunca, o estilo de vida de um crente, que deve ser pacífico e conciliador (I Co 11.16).
A história dos crentes é de enfrentar muitas ameaças tanto entre os patrícios judeus, no início, como entre gentios. A fé foi ameaçada em Jerusalém e no exílio sempre sobreviveu porque Deus levantou homens que se mantiveram firmes, confiando em Deus apesar de não haver mais razão alguma para qualquer esperança (Hc 3.17-18), mas tiveram sua fé provada, e ela foi aprovada por Deus (Tg 1.12).
Por sua fé homens e mulheres de Deus enfrentaram e venceram impérios, principados, potestades carnais ou espirituais – nem toda a força do império romano foi suficiente para vencer crentes que tinham apenas uma arma, mas a mais poderosa de todas as armas: a sua fé (I Jo 5.4). Como temer algo ou alguém se, segundo o Senhor, somos mais que vencedores por meio de Cristo Jesus (Rm 8.37).
Ao escrever para os filipenses Paulo sabia exatamente como era a vida da Igreja, os dilemas e desafios que eles tinham que enfrentar. Como comunidade tinham que resistir às perseguições por parte dos governantes, que estranhavam a maneira de cultuar os cristãos, sem ídolos, sem templos, sem sacerdotes, sem cerimônias elaboradas. Seu culto consistia de oração, cântico e leitura da palavra, com batismos e comunhão na ceia. Nada além disso.
Os gentios não entendiam um culto simples assim. Estavam acostumados a sacrifícios – mesmo estranhando os judeus eles viam nos judeus algo mais parecido com suas religiões. Mas não os cristãos. Eram estranhos, acreditavam num Deus que fora crucificado, celebravam a sua morte, e não uma morte heroica, mas uma morte de cruz, vergonhosa (Dt 21.23).
Os gregos e romanos achavam natural cultuar um herói, um guerreiro, um homem poderoso. Os judeus achavam uma ofensa os cristãos chamarem "o crucificado" de o único caminho para Deus, deixando de lado a circuncisão e os rituais do templo.
Para alguém se tornar cristão a conversão tinha que ser real, verdadeira – significava mesmo morrer para o mundo, em muitos casos passar de perseguidor a perseguido, como foi o caso do apóstolo Paulo. Não havia ganho social, não se ganhava respeitabilidade, pelo contrário, o cristão era motivo de chacota, de desrespeito, sofria opressão e muitos eram mortos.
Quando um gentio ia para o coliseu ver um cristão morrer achava que ia ver um miserável sofrendo, mas, nas palavras de Tertuliano, o sangue dos mártires era a semente de novos cristãos. Quem ia aos sangrentos espetáculos na expectativa de ver os cristãos implorando por suas vidas encontrava-os louvando a Deus, exaltando seu salvador e enfrentando corajosamente as feras e outras formas de assassinato.
Tendo chances de fugir ao martírio, adorando aos deuses pagãos ou através de ajuda de amigos, muitos deles, como Inácio de Antioquia, preferiam a morte por Cristo a um livramento que não fosse do Senhor (Carta aos Romanos, IV)[1]. O sofrimento para o cristão não era uma derrota (Fp 1.29). A própria Igreja de Filipos nasceu num episódio que todos achavam que Paulo havia sido finalmente derrotado (At 16.25).
Quantos cristãos podem dizer que o viver é Cristo, mas o morrer é lucro (Fp 1.21) e infinitamente melhor (Fp 1.23).
Mesmo que todo o mundo julgue um cristão infeliz, se ele está em paz com Deus, crendo alegremente na ressurreição, ele pode ser, efetivamente, considerado o mais feliz de todos os homens (I Co 15.19). Estamos acostumados a ver atletas se esforçando, fazendo condicionamento físico em busca de condições para vencerem as suas provas, e eles o fazem por terem um alvo. Querem ser vencedores.
Nos dias dos romanos eles também tinham as suas provas, suas competições, e os vencedores ganhavam das mãos do imperador uma coroa de louros como símbolo de sua vitória, um prêmio que horas depois começava a murchar. Pedro, entretanto, fala de receber uma coroa não de um mero imperador, mas do supremo pastor. Não uma coroa de louros, mas uma coroa de glória, que não murcha jamais (I Pe 5.4).
Os gentios corriam por honrarias, os modernos correm por fama e fortuna – os cristãos esperavam do Senhor a recompensa da fidelidade, corriam rumo ao alvo da soberana vocação, a salvação no Senhor Jesus (Fp 3.14). Os vencedores ganham ouro e prata, fama e fortuna, mas este não é o alvo dos cristãos. Os mais que vencedores sabem que, ganhando o mundo inteiro, ainda podem perder a sua alma (Lc 9.25).
Quando um gentio celebrava a morte de um cristão o céu celebrava a chegada de um santo (At 7.59) – e ali estava a semente que faria nascer espiritualmente o mais destacado evangelista dentre os apóstolos, Saulo de Tarso, que consentia na morte de Estêvão (At 8.1) e não sabia ser instrumento escolhido para levar o nome de Cristo perante os gentios (At 9.15).
Os gentios lutavam e corriam por ouro, os cristãos testemunhavam por terem recebido a salvação de Deus em Cristo Jesus. Para os gentios, o martírio dos cristãos era escárnio e desprezo, para os cristãos era gozo e glória eternos.
29 Porque vos foi concedida a graça de padecerdes por Cristo e não somente de crerdes nele,
30 pois tendes o mesmo combate que vistes em mim e, ainda agora, ouvis que é o meu.
Não resta dúvida que o cristão vive pela graça. Paulo afirma que ela graça de Deus somos o que somos (I Co 5.10). Para o cristão a graça de Deus é melhor que a vida (Sl 63.3).
É uma tolice considerar como razão para a vida apenas as coisas que vemos, porque tais coisas, que estão diante de nós, serão desfeitas (II Pe 3.12). Não duvidamos que é por causa da graça de Deus que ainda existimos (Ml 3.6).
Tem-se confundido a graça de Deus com a mera conquista de vantagens, espirituais ou materiais, isto quando não se junta as duas coisas gerando aberrações que nem merecem o nome de teologia, levando incautos a acreditarem nas promessas de enganadores (I Tm 4.1) deixando de acreditar na Palavra do próprio Senhor Jesus que afirma que a vida dos seus discípulos não seria calma como um passeio em lago de águas paradas, pelo contrário, seus discípulos poderiam ter a plena convicção de que enfrentariam dificuldades (Mt 5.11) e o ódio do mundo (Jo 15.19) – isto não deveria ser, de maneira algum, motivo de surpresa (I Jo 3.13).
Embora o texto mencione primeiro outra palavra, creio que a expressão "não apenas" nos autoriza a tratar primeiro da graça de crer no Senhor, porque é esta graça que permite que possamos experimentar todas as demais experiências da vida cristã. É por causa da graça de crer no Senhor que somos salvos (Ef 2.8). Não haveria vida digna do evangelho se não houvesse a graça salvadora de Deus para transformar filhos da ira em filhos de Deus (Ef 2.3).
Por sua benevolência Deus manifestou a sua graça a nós, pecadores, enquanto ainda éramos fracos e ímpios (Rm 5.6). A graça de Deus não é uma hipótese, mas uma realidade, uma verdade provada, e é por causa dela que vivemos.
A Palavra de Deus afirma que a graça de Deus se manifestou salvadora a todos os homens para que estes pudessem viver, pela graça, uma vida digna da vocação a que fossem chamados. Para que eles pudessem, educados por esta graça, renegar a impiedade e as paixões mundanas, vivendo sensata e justamente (Tt 2.11-14).
Você, eu ou qualquer outro não queríamos crer, não pretendíamos crer pois estávamos mortos e sem capacidade de qualquer percepção espiritual (Ef 2.1), andávamos sem Deus no mundo (Ef 2.11) e não nos preocupávamos com isso. Mas, por sua graça, ele nos chamou e inclinou nossa vontade, fazendo com que desejássemos crer (Fp 2.13).
29 Porque vos foi concedida a graça de padecerdes por Cristo e não somente de crerdes nele,
Provavelmente o cristianismo dos últimos séculos gostaria de não ter algumas passagens em sua bíblia. Considerar o padecimento uma graça parece um absurdo para os cristãos atuais. Admitir que sofrer pode ser um fato da vida ou até mesmo o resultado da ação dos inimigos da fé e pensar que isto é a expressão da vontade de Deus (I Pe 3.17).
Paulo faz um vívido contraste e ao mesmo tempo chama a atenção dos cristãos: crer em Jesus Cristo é uma graça, mas padecer por Cristo também o é e possui a mesma importância. O cristão não deve imaginar que, por ter crido no Senhor do céu e da terra não terá mais qualquer problema. Na verdade ele passa a ser alvo do mundo e de satanás, e passa a enfrentar uma dura batalha espiritual – com armas que não são carnais, mas uma verdadeira guerra (II Co 10.4).
Devemos nos lembrar que, da mesma maneira que o Senhor foi enviado, ele também nos enviou (Jo 20.21). Entendo que Jesus está se referindo à autoridade de envio, mas não podemos nos esquecer que este envio do Senhor tem um propósito (Mc 16.15), capacitação (At 1.8) e alvo (Mt 10.16).
Crer no Senhor é uma benção, padecer é uma consequência, e é na provação que temos a nossa fé aprovada (Tg 1.2-4).
30 pois tendes o mesmo combate que vistes em mim e, ainda agora, ouvis que é o meu.
Diante da exortação de Paulo, o que era esperado dos filipenses? Ele sabiam que:
a) deveriam viver uma vida digna do evangelho, tendo-o como prioridade, como seu estilo de vida, testemunhando as transformações que haviam sofrido por causa do fato de terem conhecido este evangelho da salvação em Cristo Jesus;
b) deveriam viver sem temor dos homens, porque deveriam temer apenas a Deus, enfrentando os adversários da fé que se levantassem, e, pela capacitação do Espírito de Deus, alcançando vitorias surpreendentes e, ao final, recebendo o prêmio das mãos do Senhor, a coroa da vida (Tg 1.12);
c) deveriam viver confiando não em si mesmos ou em seus méritos ou métodos, mas na graça de, revelada aos seus olhos de modo que puderam crer e ainda poderem suportar as provações que se aproximariam.
Em virtude destes fatos, de que maneira os filipenses poderiam responder ao ensino da Palavra através do apóstolo Paulo? O próprio Paulo nos dá uma orientação preciosa:
Se a vida cristã é, efetivamente, uma vida de lutas por causa do evangelho, e se esta luta tem que ser digna e sem temor dos adversários, compete aos cristãos escolherem o combate que devem combater. As opções de combate são muitas, mas somente uma é o bom combate, e este bom combate pode ser lutado em toda e qualquer área da vida. Tem cristãos lutando por bens, por fama, por posses, por reconhecimento, por conforto, por tantas coisas, mas é fundamental que lembremos que a Escritura nos chama a combater o bom combate.
De que adianta vencer uma luta que não vale a pena ser lutada? De que adianta ser o grande vencedor de uma guerra que, ao final, oferece um prêmio efêmero e inútil? Mas o cristão que luta segundo as normas, segundo as regras, receberá o prêmio (II Tm 2.3-5).
Lutar tendo alvo as coisas do mundo vai resultar em receber prêmios mundanos. Um exemplo são os fariseus. Eles buscavam o reconhecimento dos homens – e tiveram o reconhecimento dos homens, mas como rejeitaram a obediência ao Senhor tiveram a reprovação do Senhor (Mt 6.2).
Não temos escolhas, como soldados de Cristo. Ou combatemos, ou automaticamente estamos desqualificados, ficamos de fora do combate, ficamos de fora da marcha do evangelho. E não atingir o alvo é idêntico a não ter começado. Quem deixa de marchar com um exército deixa de pertencer a este exército e se torna presa fácil dos inimigos. Paulo combateu o bom combate, e o combateu até o fim, a ponto de concluir seu período de lutas afirmando que conseguiu, ao combater o bom combate, completar a carreira e guardar a fé (II Tm 4.7).


[1] Sou trigo de Deus e serei moído pelos dentes das feras. Tenho escrito a todas as Igrejas e a todas elas faço saber que morro por Deus com alegria, desde que vós não me impeçais. Suplico-vos: não demonstreis por mim uma benevolência inoportuna

quinta-feira, 20 de março de 2014

SÉRIE PERSONAGENS: REBECA, MULHER DE FÉ, CORAJOSA, FALÍVEL, HUMANA

REBECA, 

MULHER DE FÉ, CORAJOSA, FALÍVEL, HUMANA

2 Disse Abraão ao seu mais antigo servo da casa, que governava tudo o que possuía: Põe a mão por baixo da minha coxa, 3 para que eu te faça jurar pelo SENHOR, Deus do céu e da terra, que não tomarás esposa para meu filho das filhas dos cananeus, entre os quais habito; 4 mas irás à minha parentela e daí tomarás esposa para Isaque, meu filho.
Gn 24.2-4

Rebeca entra na história bíblica quando Isaque já tem 40 anos - Abraão já atingira 140. O zelo de Abraão impediu Isaque de casar-se com uma canaanita (Gn 24.2-4: Disse Abraão ao seu mais antigo servo da casa, que governava tudo o que possuía: Põe a mão por baixo da minha coxa, para que eu te faça jurar pelo SENHOR, Deus do céu e da terra, que não tomarás esposa para meu filho das filhas dos cananeus, entre os quais habito; mas irás à minha parentela e daí tomarás esposa para Isaque, meu filho).
O filho da promessa deveria ser exemplo para todos os descendentes (Dt 7.3-4: …nem contrairás matrimônio com os filhos dessas nações; não darás tuas filhas a seus filhos, nem tomarás suas filhas para teus filhos; pois elas fariam desviar teus filhos de mim, para que servissem a outros deuses; e a ira do SENHOR se acenderia contra vós outros e depressa vos destruiria).
Abraão queria para Isaque uma jovem da sua família, da família de Sem, o filho abençoado. Não queria de maneira alguma misturar seu sangue com os filhos de Cam, o filho amaldiçoado por Noé, e, muito menos, com o mais amaldiçoado dos filhos dele, Canaã. Toma o damasceno Eliezer e o envia à terra de seus parentes com o juramento de trazer uma noiva para Isaque. Eliezer não queria trazer uma jovem qualquer. Para o filho da promessa nada menos que uma jovem indicada pelo próprio Deus. Eliezer é conduzido a uma jovem chamada Rebeca, a quem Deus revela ser a donzela designada para Isaque.
1. REBECA É RESPOSTA A ORAÇÕES DE ABRAÃO E DE ELIEZER
Eliezer orou para que Deus lhe revelasse quem era a donzela, e Deus atendeu a oração de Eliezer levando-o a Rebeca (Gn 24.12-14: E disse consigo: Ó SENHOR, Deus de meu senhor Abraão, rogo-te que me acudas hoje e uses de bondade para com o meu senhor Abraão! Eis que estou ao pé da fonte de água, e as filhas dos homens desta cidade saem para tirar água; dá-me, pois, que a moça a quem eu disser: inclina o cântaro para que eu beba; e ela me responder: Bebe, e darei ainda de beber aos teus camelos (200l cada), seja a que designaste para o teu servo Isaque; e nisso verei que usaste de bondade para com o meu senhor).
Uma das moças que vem tirar água no poço jovem atende ao pedido de fazer exatamente como Eliézer havia pedido ao Senhor, ele a identifica como sobrinha de Abraão (Gn 24.22-24: Tendo os camelos acabado de beber, tomou o homem um pendente de ouro de meio siclo (cerca de 13g) de peso e duas pulseiras para as mãos dela, do peso de dez siclos de ouro; e lhe perguntou: De quem és filha? Peço-te que me digas. Haverá em casa de teu pai lugar em que eu fique, e a comitiva? Ela respondeu: Sou filha de Betuel, filho de Milca, o qual ela deu à luz a Naor).
A jovem toma conhecimento de quem é Isaque apenas pela descrição que Eliezer faz - solteiro, crente, de boa família e rico, como provam os presentes que Eliézer havia levado (Gn 24.34-40: Então, disse: Sou servo de Abraão. O SENHOR tem abençoado muito ao meu senhor, e ele se tornou grande; deu-lhe ovelhas e bois, e prata e ouro, e servos e servas, e camelos e jumentos. Sara, mulher do meu senhor, era já idosa quando lhe deu à luz um filho; a este deu ele tudo quanto tem. E meu senhor me fez jurar, dizendo: Não tomarás esposa para meu filho das mulheres dos cananeus, em cuja terra habito; porém irás à casa de meu pai e à minha família e tomarás esposa para meu filho. Respondi ao meu senhor: Talvez não queira a mulher seguir-me. Ele me disse: O SENHOR, em cuja presença eu ando, enviará contigo o seu Anjo e levará a bom termo a tua jornada, para que, da minha família e da casa de meu pai, tomes esposa para meu filho).
Por fim, Eliézer apresenta a proposta de casamento invocando o nome do Senhor (Gn 24.48-49: E, prostrando-me, adorei ao SENHOR e bendisse ao SENHOR, Deus do meu senhor Abraão, que me havia conduzido por um caminho direito, a fim de tomar para o filho do meu senhor uma filha do seu parente. Agora, pois, se haveis de usar de benevolência e de verdade para com o meu senhor, fazei-mo saber; se não, declarai-mo, para que eu vá, ou para a direita ou para a esquerda).
2. REBECA É RESPONSÁVEL PELO SEU DESTINO
Na época os casamentos eram arranjados pelos familiares às vezes antes mesmo das crianças nascerem (Gn 24.50-51: Então, responderam Labão e Betuel: Isto procede do SENHOR, nada temos a dizer fora da sua verdade. Eis Rebeca na tua presença; toma-a e vai-te; seja ela a mulher do filho do teu senhor, segundo a palavra do SENHOR).
Mas Betuel, pai de Rebeca, e Labão, seu irmão, permitem-lhe que tome a decisão que vai mudar os rumos de toda a sua vida (Gn 24.57-59: Disseram: Chamemos a moça e ouçamo-la pessoalmente. Chamaram, pois, a Rebeca e lhe perguntaram: Queres ir com este homem? Ela respondeu: Irei. Então, despediram a Rebeca, sua irmã, e a sua ama, e ao servo de Abraão, e a seus homens).
Rebeca fez a decisão mais acertada: aceitou ir com Eliézer e ser a noiva de Isaque. Ela deixou sua família para sempre. Jamais viu seus familiares novamente. Foi para uma terra desconhecida, na presença de um desconhecido. Como Abraão, atendeu a um chamado para um lugar e para um esposo que ainda lhe seria apresentado (sem fotos, vídeos ou internet).
3. REBECA VAI AO ENCONTRO DO SEU CHAMADO
Rebeca vai ao encontro de seu noivo, chega na sua terra e aceita-o sem reservas, tornando-se sua esposa e, 20 anos depois, vê nascerem seus filhos, ambos pai de nações: Esaú e Jacó (Gn 24.60: Abençoaram a Rebeca e lhe disseram: És nossa irmã; sê tu a mãe de milhares de milhares, e que a tua descendência possua a porta dos seus inimigos).
4. REBECA FOI INSTRUMENTO PARA QUE JACÓ FOSSE ABENÇOADO
Rebeca se afeiçoou ao filho mais jovem porque ela sabia que ele seria o continuador da linhagem que traria ao mundo o messias (Gn 25.22-23: Os filhos lutavam no ventre dela; então, disse: Se é assim, por que vivo eu? E consultou ao SENHOR. Respondeu-lhe o SENHOR: Duas nações há no teu ventre, dois povos, nascidos de ti, se dividirão: um povo será mais forte que o outro, e o mais velho servirá ao mais moço), e, aparentemente, ela não comunicou ao seu esposo esta fala de Deus, guardando-a para si. Seu esposo, entretanto, se afeiçoou ao filho mais velho, até mesmo porque a tradição indicava que seria ele o continuador do nome da família.
A história de Rebeca nos mostra que mesmo um servo de Deus é capaz de ações indignas:
I. Ela compactuou com uma mentira de seu esposo (Gn 26.6-8: Isaque, pois, ficou em Gerar. Perguntando-lhe os homens daquele lugar a respeito de sua mulher, disse: É minha irmã; pois temia dizer: É minha mulher; para que, dizia ele consigo, os homens do lugar não me matem por amor de Rebeca, porque era formosa de aparência. Ora, tendo Isaque permanecido ali por muito tempo, Abimeleque, rei dos filisteus, olhando da janela, viu que Isaque acariciava a Rebeca, sua mulher);
II. Ela escutou conversas alheias, que não lhe diziam respeito (Gn 26.5: Rebeca esteve escutando enquanto Isaque falava com Esaú, seu filho. E foi-se Esaú ao campo para apanhar a caça e trazê-la);
III. Ela enganou o esposo e um filho para favorecer outro (Gn 26.6-8: Então, disse Rebeca a Jacó, seu filho: Ouvi teu pai falar com Esaú, teu irmão, assim: Traze caça e faze-me uma comida saborosa, para que eu coma e te abençoe diante do SENHOR, antes que eu morra. Agora, pois, meu filho, atende às minhas palavras com que te ordeno), num lar dividido (Gn 25.28: Isaque amava a Esaú, porque se saboreava de sua caça; Rebeca, porém, amava a Jacó).
Entretanto, mesmo cumprindo os desígnios de Deus, Rebeca foi punida por sua ação:
I. Perdeu o respeito do filho mais velho (Gn 27.46: Disse Rebeca a Isaque: Aborrecida estou da minha vida, por causa das filhas de Hete; se Jacó tomar esposa dentre as filhas de Hete, tais como estas, as filhas desta terra, de que me servirá a vida);
II. Decepcionou seu esposo (Gn 27.35: Respondeu-lhe o pai: Veio teu irmão astuciosamente e tomou a tua bênção) a quem certamente amava e era amada;
III. Recebeu como noras duas canaanitas e ainda uma filha de Ismael (numa tentativa de Esaú de ter como esposa uma parente de Abraão, como era a própria Rebeca e Jacó teria – Gn 28.8-9: …sabedor também de que Isaque, seu pai, não via com bons olhos as filhas de Canaã, foi Esaú à casa de Ismael e, além das mulheres que já possuía, tomou por mulher a Maalate, filha de Ismael, filho de Abraão, e irmã de Nebaiote);
IV. Morreu sem rever o filho a quem amava.
A história de Rebeca nos ensina que Deus tem seus caminhos, e faz o que quer, usando um gentio (o damasceno Eliezer), ou familiares dos crentes (Betuel e Labão), os atos justos dos crentes (Abraão) e até seus atos maus (Rebeca).

Mas tudo isto tem consequências. O que ela fez de justo foi recompensada: foi esposa de um patriarca, mãe do homem que lutou com Deus e prevaleceu... Mas também errou, e sofreu por isso.

segunda-feira, 17 de março de 2014

CARACTERÍSTICAS DE UMA IGREJA BIBLICAMENTE ORIENTADA

O primeiro relato que Lucas faz da vida da Igreja cristã encontra um paralelo nas palavras de João que afirma que a igreja é uma comunhão espiritual com os irmãos, com o Pai e com o filho (I Jo 1:3). Da mesma maneira que a comunhão relatada por João é fruto do ensino apostólico, a vida da Igreja primitiva era da maneira descrita por Lucas por causa do ensino apostólico. Vamos refletir sobre a seguinte proposição: a vida da Igreja, descrita no livro de Atos dos apóstolos, só era daquela maneira porque era norteada pela Palavra de Deus (Dt 17:11).
É muito comum ver a defesa de uma espécie de esquizofrenia nos cristãos, pois uns defendem que há coisas que não são licitas "enquanto crentes" mas que são permitidas "enquanto profissionais". Um exemplo é o médico que afirma defender a vida mas pratica o "aborto terapêutico". Outro exemplo é o comerciante que afirma ser necessário submissão às autoridades mas faz de tudo para sonegar impostos. Outro exemplo ainda é cantar "tudo o que tenho, tudo o que sou, como oferenda te entregar" mas tem um namoro impuro e não contribui para a manutenção da Igreja. O nome disto é hipocrisia. Não existe esta divisão! Isto é um engodo do diabo que faz com que muitos achem que podem ser crentes apenas no fim de semana. Para entendermos esta passagem precisamos ter em mente que o conceito chave é perseverança. A igreja nascente não abandonava o ensino dos apóstolos que pode ser simplificado dizendo que os crentes foram comprados por Cristo com seu precioso sangue (I Co 6:20) para que, como povo santo e exclusivo do Senhor (Tt 2:14) vivessem em união (I Ts 5:10) com ele e com o restante da Igreja.
Por causa da perseverança na Palavra a Igreja sabia como viver em comunhão. Dito de outra maneira, eles estavam unidos porque tinham a palavra a reuni-los. A Igreja não era um clube. Ir à Igreja não era um evento social – não era para ser divertido. Embora ali encontrassem amigos e irmãos, eles se reuniam prioritariamente para ouvirem a Palavra, para aprenderem a doutrina da salvação e praticarem esta doutrina, impactando a vida de quem estivesse ao seu redor.
A palavra orientava e determinava como a Igreja praticava a eucaristia, a santa ceia. Ali não havia divisões, não havia partidarismo como mais tarde vamos encontrar em Corinto. Ali não havia participação indigna, como Paulo denuncia e como, talvez, seja muito mais comum em nossos dias.
A Palavra orientava a vida de oração da Igreja – e os crentes se reuniam e oravam uns pelos outros (Tg 5:16), como aconteceu durante a prisão do apóstolo Pedro (At 12:12-14). Por causa da Palavra a Igreja tinha temor de Deus no coração. Não devemos confundir temor com medo. Medo você pode ter de cobra, de rato, de barata, de homens maus e até do diabo. Mas diante de Deus o cristão tem temor, isto é, uma reverência santa e amorosa, um desejo profundo de não ofender ao criador com ações ou omissões, com palavras ou pensamentos.
A palavra orientava a administração dos bens por parte dos irmãos (Gl 6:10) e isto, certamente, inclui dividir o que tem com o que não tem, e isto é extensivo mesmo aos inimigos (Pv 25:21-22) quanto mais aos irmãos. O evangelista Lucas procurou saber o que o Senhor Jesus havia ensinado, e, na memória dos discípulos de Jesus ficou gravada a ordem do Senhor quanto à comunhão dos bens (Lc 3.11) como um dos frutos que os filhos de Abraão devem produzir.
A Palavra moldava a vida da Igreja como comunidade adoradora, pois eles não desprezavam o seu compromisso de cultuarem juntos a Deus. O culto era mais do que uma reunião, era uma expressão de vida da Igreja, e por isso eles perseveravam unanimes, não de vez em quando, mas diariamente. Para eles estarem presentes nos cultos era uma obrigação espiritual (Hb 10.25) e não uma questão de escolha. Para os cristãos primitivos afastar-se da comunhão com o restante da Igreja era o mesmo que calcar aos pés o sangue de Cristo (Hb 10.29), derramado em favor deles para dar-lhes vida (Jo 10:15).
A Igreja moldada pela Palavra se conhecia, estavam em contato, dividiam o culto, o teto e a mesa e faziam isso com alegria, com um coração singelo, amando seu irmão como o Senhor lhe ensinara e como fruto da ação do Espírito no coração dos crentes, aplicando a obra de Cristo como um sintoma desta nova vida (I Pe 1.22-23). Este amor é singelo, é sincero (I Jo 3.18), não suporta hipocrisia ou fingimento, porque o Senhor detesta a hipocrisia (Mc 7.6).
A Igreja de Jerusalém tinha um corpo de apóstolos verdadeiros, tinha um grande número de pessoas que foram discípulos de Jesus. Tinha pelo menos 120 pessoas que foram tomadas pelo Espírito Santo na descida do pentecostes. Centenas de testemunhas oculares dos feitos de Jesus e, curiosamente, apenas Deus era louvado entre eles (Ap 19.10). Nem mesmo um apóstolo tardio aceita ser adorado, porque todo louvor deve ser dado somente ao Senhor (At 14.11-12). Diferente dos neoapóstolos, pseudoapóstolos e farsantes, eles sabiam que Deus não aceita dividir sua honra com ninguém (Is 42.8). Nem apóstolos, nem levitas, nem imagens, nem instituições: todo o louvor da Igreja era dada ao seu Senhor e salvador (Ap 7.12).
Em tempos de marketing e estratégia, perguntamos: qual era a utilizada pela Igreja de Jerusalém? Uma olhada rápida, e mesmo uma mais detalhada, vai mostrar que a única estratégia que a Igreja conhecia era ser Igreja, era viver como Igreja, era ser uma comunidade de cristãos vivendo como cristãos, anunciando o evangelho do reino, levando o bom perfume de Cristo (II Co 2.15) a quem anunciavam a tempo e fora de tempo (I Co 15.8), aproveitando todas as oportunidades (Cl 4.5). Esta Igreja colheu os resultados de sua obediência:
A Igreja não deve buscar a simpatia popular sacrificando a fidelidade no altar sacrílego da popularidade. Nenhum cristão deve ceder ao mundo para ser popular e, depois, tentar influenciar o mundo, porque os ímpios olharão para um cristão assim e dirão: você não agiu como cristão, não tem autoridade, e nem é um dos nossos (Gn 19.9). Mas a Igreja em Jerusalém contava com a simpatia do povo porque nenhum deles tinham o que falar contra a Igreja (I Pe 3.14-17).
Uma Igreja fiel, como a igreja em Jerusalém, era um vivo contraste diante de um sacerdócio vendido, de escribas e fariseus que todos sabiam ser hipócritas. Mesmo quando houve infiéis no meio da Igreja (casos de Simeão: At 8.20 – e Ananias: At 5.3) a Igreja agiu de maneira a preservar sua santidade e isto servia como um testemunho que trazia pessoas desejosas de servir ao Deus vivo e verdadeiro, de conhecerem o santo e serem salvos por ele. A Igreja de Jerusalém não buscava o aumento numérico da "instituição", porque instituição não havia. Não era este seu alvo. Seu alvo era a salvação de pecadores, era levar homens e mulheres arrependidos por seus pecados aos pés do Senhor, para que este os tomasse em suas mãos e começasse e completasse a obra redentora em cada um deles (Fp 1.6).

quinta-feira, 13 de março de 2014

SÉRIE PERSONAGENS: ISAQUE, O FILHO QUE TROUXE RISO


ISAQUE 

Gn 17.15-18; 18.9-15; 21:1-11 
O nascimento de Isaque é um evento de muitos significados nas Escrituras.
Ele é o filho que Deus deu ao pai da fé que insistia em duvidar.
Ele é o filho impossível cuja existência condena as tentativas humanas de decidir o tempo da ação de Deus.
Isaque nasceu de Abraão e Sara quando Abraão tinha aproximadamente 100 anos e Sara, 90. A Escritura diz que tanto Abraão quanto Sara estavam impossibilitados de ter filhos, mas Deus lhes deu Isaque como o canal que ele havia escolhido de através de quem abençoaria toda a semente espiritual de Abraão, no futuro.
A REALIZAÇÃO DE UMA PROMESSA
O nascimento de Isaque foi uma ocorrência extraordinária, na verdade, um milagre porque Sara era estéril. Sabedor disso Abraão havia pedido, de maneira velada, que Deus mudasse seus planos e abençoasse Ismael, seu filho com a escrava, Agar (Gn 17.18).
Como o propósito de Deus é um só, ele não atendeu ao pedido de Abrão (Gn 17.19).
A DIFÍCIL ESCOLHA DA OBEDIÊNCIA
Quando Isaque foi desmamado, provavelmente em torno de 2 anos de idade, Ismael já tinha 16, e caçoou de seu irmão e isto irritou Sara que resolveu expulsar o filho da escrava de sua presença (Gn 21.9-10).
Abraão experimentou grande tristeza, mas estava colhendo o que plantou ao não confiar na fidelidade de Deus (Gn 21.11), mas, mesmo na sua infidelidade, ele ainda pode contar com a benignidade de Deus (Gn 21.12-13).
18 anos depois de “perder” o seu primeiro filho, o filho que Deus não lhe deu, Abraão é colocado à prova. Por várias vezes ele havia dado provas de não confiar inteiramente em Deus, arrumando estratagemas para sua proteção e realização pessoal, e, agora, era chegada a hora de ganhar o título de “pai da fé”. Após o nascimento de Isaque Abraão aprendeu a confiar totalmente em Deus.
A HORA DA CONFIANÇA
Quando Isaque tinha aproximadamente 20 anos, Deus chama Abraão e exige-lhe uma prova de sua fé (Gn 22.1-2). Deus enfatiza que Abraão não poderá dar um jeitinho indo atrás de Ismael. Deus diz-lhe para tomar seu único filho. Ismael não deveria ser considerado uma opção, assim como jamais devemos pensar que nossos esforços podem substituir a realização da vontade de Deus (Tg 1.20).
Em obediência à ordem divina Abraão prepara tudo o que era necessário para o sacrifício - o que não era uma novidade para ele e provavelmente também não para Isaque que estranha apenas a falta do animal costumeiro para o sacrifício.
Abraão já havia edificado altares por onde passara, como em Siquém (Gn 12.6-7); em Betel (Gn 12.8); em Hebrom (Gn 13.18).
O SACRIFÍCIO DE FÉ
De todos os altares que edificou nenhum, porém, foi mais importante do que o edificado sobre o monte Moriá. Ali, em obediência ao mandato do Senhor, colocou seu único filho sob o altar e o ofereceria ao Senhor confiando que Deus podia retomá-lo dos mortos, pois Deus havia dito que através de Isaque ele teria muitos descendentes (Hb 11.17-19).
Deus efetivamente aceitou o sacrifício de Abraão, que estava disposto mesmo sem entender plenamente o plano de Deus, mas crendo. Embora tenha rejeitado a morte de Isaque Deus aceitou a disposição de Abraão como suficiente para provar e aprovar a fé de seu amigo (Tg 2.23).
Em substituição a Isaque, o filho da promessa, Abraão Deus ofereceu um carneiro que estava por ali, providenciado pelo próprio Deus. É importante destacar o comportamento de um jovem de 20 anos, forte e rápido, obedecendo sem questionar ao seu pai que já tinha 120.
Uma obediência confiante, submissa, como foi a de Jesus (Fp 2.8) que, como cordeiro mudo, de nada reclamou obedecendo ao mandato do Pai (Is 53.7).
Isaque é um tipo de Jesus Cristo, uma figura para mostrar algum aspecto do caráter ou da obra de Cristo. Apesar de seu nome significar riso, seu principal traço de caráter é submissão. Era um homem pacífico, manso, e indica como deve ser o novo homem, o salvo em Cristo Jesus (II Co 5.17).
Ismael e Isaque simbolizam, respectivamente, o velho e o novo homem. O homem natural e o nascido de novo. Ismael tipifica tudo o que a carne pode fazer, Isaque mostra a realização de uma viva esperança no Senhor (Gl 4.23). E o que a carne pode produzir deve ser lançado fora (Gl 4.30) porque a carne e o sangue não podem herdar o reino de Deus (I Co 15.50).
Isaque se casou com 40 anos, com Rebeca, e aos 60 teve dois filhos: Esaú e Jacó, mostrando preferência pelo primeiro (influenciado pelo dever da primogenitura) mas o eleito de Deus era Jacó - ambos tinham grandes falhas de caráter, mas isto não influenciou a escolha de Deus (Rm 9.11).
Isaque chegou a viver 180 anos e possuía uma grande riqueza que herdara de seu pai. É mostrado pelas Escrituras como um homem simples, submisso e sem grandes arroubos, mas certamente pecador (Ec 7.20).
Mas, apesar de sua aparente inatividade, ele cumpriu o propósito de Deus em sua vida: como filho da promessa passou adiante a santa semente (Gl 4.28) mesmo que rejeitados pelos filhos da carne (Gl 4.29).
Com Isaque podemos aprender que um cristão não precisa de uma crise ou de eventos extraordinários para ser um crente sincero e fiel. O cristão não precisa experimentar os prazeres transitórios do pecado (Hb 11.25) para saber que as alegrias da santidade e o opróbrio de Cristo são melhores. Ninguém precisa conhecer o inferno para desejar o céu.
Abraão ensinou a Isaque a ser um crente fiel - e Isaque seguiu os passos de seu pai, de onde aprendemos uma preciosa lição: há recompensa em ensinar a criança no caminho do Senhor (Pv 22.6). 

segunda-feira, 10 de março de 2014

COMO COMPLETAR BEM A CARREIRA - MENSAGEM MATUTINA NO ENCONTRO DE UMPs PRAR - PRCA

10 Alegrei-me, sobremaneira, no Senhor porque, agora, uma vez mais, renovastes a meu favor o vosso cuidado; o qual também já tínheis antes, mas vos faltava oportunidade. 11 Digo isto, não por causa da pobreza, porque aprendi a viver contente em toda e qualquer situação. 12 Tanto sei estar humilhado como também ser honrado; de tudo e em todas as circunstâncias, já tenho experiência, tanto de fartura como de fome; assim de abundância como de escassez; 13 tudo posso naquele que me fortalece. 14 Todavia, fizestes bem, associando-vos na minha tribulação.
Fp 4.10-14
Ao analisar o Sl 131 chegamos a algumas conclusões: muito do cansaço dos cristãos é devido à busca desenfreada empreendida atrás de algo que não deveria ser o alvo. Muito do cansaço é porque estamos correndo a carreira que não nos foi proposta. Ao invés de correr perseverantemente a carreira que nos está proposta (Hb 12.1) fazemos diferente, corremos insistentemente uma carreira que não é nossa, e, mesmo que cheguemos ao fim daquela carreira, não teremos atingido o nosso alvo – todo o cansaço terá sido em vão.
Vamos relembrar aqui alguns dos erros que estão sendo cometidos pelos cristãos. Não precisamos voltar nossos olhos para os incrédulos – nosso problema, agora, é nosso próprio coração. Mas como é o coração de crentes cansados? Em muitos casos, os crentes estão cansados por possuírem:
i.                    UM CORAÇÃO SOBERBO, obcecado por si mesmo e pelas próprias realizações;
ii.                 UM OLHAR ALTIVO, de desprezo pelo próximo, considerando-o inferior e digno de sujeição;
iii.               UM EGO PRESUNÇOSO, considerando que é capaz de superar até mesmo os limites que Deus estabeleceu;
iv.               UMA MENTE PRETENSIOSA a ponto de julgar a própria revelação de Deus insuficiente.
O resultado de possuir um coração assim é que acabamos nos tornando como crianças birrentas, insatisfeitas mesmo quando tem tudo o que poderiam desejar e ainda assim vivem esperneando por algo de que não precisam.
Dito de outra maneira, não há descanso para quem não está combatendo o bom combate. Como, então, sentir-se realizado após completar a carreira?
Se você realmente correu a carreira que lhe está proposta, mesmo durante a prova, seu sentimento será de confiança no Senhor.

CONFIE NO SENHOR E ISSO PORÁ FIM ÀS ANSIEDADES (Fp 4.10)

Cremos que estamos certos ao afirmar que os crentes estão cansados porque correm atrás do que não precisam, atrás do que não deveria ser prioridade e, mais especificamente, atrás do que não satisfaz. Salomão e Isaias já haviam percebido este mal. Salomão diz que é vaidade, como correr atrás do vento (Ec 2.11) e o resultado é aborrecimento com a vida (Ec 2.17), talvez uma expressão para descrever alguma forma de desalento profundo, uma depressão.
Através do profeta Isaías o Senhor exorta Israel a não cometer a tolice de correr atrás do vento. Numa linguagem menos poética, Isaías diz que se Deus não for a prioridade da vida do homem o resto é afadigar-se, ajuntar dinheiro para comprar o que não satisfaz (Is 55.2) com a única condição de querer e ouvir ao Senhor – sem mais correrias, sem sacrifícios, sem provas de Deus, apenas ouvir ao Senhor (Is 1.19).
Este mal não é exclusivo dos dias de Isaías. Nos dias de Habacuque, mesmo descrevendo sua confiança no Senhor, ele deixa escapar que havia uma procura cuidadosa pelos produtos do campo (Hc 3.17), e sua carência não era nem por falta de esforços, como diz seu contemporâneo Ageu (Ag 1.6). Ageu fala que eles plantavam e colhiam, trabalhavam e recebiam mas nunca era suficiente, nunca dava.
O antídoto para esta ansiedade, para esta correria atrás de nada é aprender a alegrar-se no Senhor. Dada a situação do apóstolo Paulo, que em alguns momentos enfrentou as sórdidas prisões da Judéia e dos destacamentos romanos, não é de se estranhar que ele enfrentasse algumas carências mesmo que, como cidadão romano, tivesse alguns privilégios, como, durante uma parte do seu período de prisão, residir em uma casa e custear as suas despesas (At 28.30) e assim ele precisasse de ajuda.
Mas a sua alegria vem, primeiro, no Senhor – o cuidado da Igreja é uma expressão do cuidado do Senhor sobre a sua vida. É repousante saber que é o Senhor que nos cuida, é o Senhor quem nos guarda, é o Senhor quem nos abençoa (Nm 6. 24). A orientação de Deus é para que nos alegremos no Senhor, isto é, tenhamos a nossa satisfação nele, e, assim, o nosso coração, moldado por ele, estará satisfeito (Sl 37.4).
Deus não tem compromisso de atender os desejos mesquinhos de um coração que não lhe foi entregue. Deus não tem que atender os desejos de um coração que não foi transformado. Ele não fez promessa nenhuma àqueles que ainda não receberam um novo coração (Ez 36.26).
Somente depois da alegria no Senhor é que Paulo menciona a gratidão pelo constante cuidado dos Filipenses. Era do Senhor que Paulo esperava a satisfação de suas necessidades, e os filipenses eram o instrumento que o Senhor usava. A premissa de Paulo era que a glória deveria ser dada ao construtor, não às ferramentas. E isso punha fim às ansiedades reais. Se extinguia as ansiedades reais, quanto mais as desnecessárias.
…lançando sobre ele toda a vossa ansiedade, porque ele tem cuidado de vós.
I Pe 5.7

LIMITE-SE À PORÇÃO QUE O SENHOR LHE CONFIOU (Fp 4.11-13)

Outra fonte de cansaço se chama insatisfação. Andar à procura do que não é essencial, necessário ou urgente. Não é incomum encontrar irmãos outrora ativos na comunidade reclamando de cansaço, de esgotamento mental e espiritual. É uma das queixas que pastor mais ouve, e está ficando cada vez mais difícil a formação de equipes de educação cristã comprometidas com o trabalho a cada fim de ano. Porque?
Porque estão sobrecarregados, estão com mais funções, mais atividades do que foram capacitados para isso. Estão produzindo pelos que enterram seus talentos. É verdade que, se ninguém faz, alguém tem que fazer. Não há como fugir a esta realidade. Mas não deveria ser assim.
Se todo o corpo trabalhasse uniformemente certamente cresceria mais saudavelmente (Ef 4.16), produziria mais e, certamente cresceria muito mais do que tem crescido.
Em Paulo consigo ver a plena consciência de sua limitação, sabendo do que era sua obrigação e do que ele não deveria fazer. Ele fora nomeado apóstolo aos gentios (Rm 15.16), e, embora amando os seus patrícios (Rm 9.3), desenvolveu seu ministério evangelizando-os (At 18.6).
Mas, mesmo nesta dedicação aos gentios Paulo não foi além do que lhe foi confiado. Apesar de ter passado por tantas provas (II Co 11.24-28) e feito mais do que muitos dos apóstolos (I Co 15.10) Paulo não foi além do que lhe foi confiado pelo Senhor.
Quando Paulo fala que não quis edificar sobre fundamento alheio (Rm 15.20) além de defender seu apostolado entre os gentios ele limita o seu trabalho e a sua responsabilidade (Ez 3.18).
Limitar-se à carreira que o Senhor nos propôs (Hb 12.1) significa não se esforçar em vão, mas tendo um alvo definido (I Co 9.26).
Se nós fizermos isso, nos limitarmos ao nosso papel de ser sal e luz, de sermos seus embaixadores, de exortarmos o mundo a que se reconcilie com Deus (II Co 5.20).
Já é uma tarefa grande demais. Já é muito ser sal e luz, ser evangelizador, proclamador da salvação em Jesus Cristo, enfrentar as ciladas do maligno com armas espirituais (II Co 10.4) manter a comunhão e ser fiel ao ensino recebido num procedimento santo (I Pe 2.12) e ainda somar a isso aquilo que Deus não nos confiou significa que a possibilidade de não sermos bem sucedidos torna-se ainda maior. Se nos limitarmos à porção que nos foi confiada, ainda que sejamos classificados como servos inúteis (Lc 17.10), ouviremos do Senhor que, embora inúteis, formos fiéis, e então ele nos confiará o reino (Mt 25.23).

ADMITA SUA LIMITAÇÃO E DESCANSE NO SENHOR (Fp 4.13)

A terceira orientação que Paulo nos apresenta é: descanse no Senhor. Desde que Eva ouviu a cantilena da serpente de ser possível "ser como Deus" o homem tem tentado se esquecer de que é uma criatura, falha e cheia de limitações. No afã de ser como Deus, mesmo não sendo onipotente, quer fazer mais, e mais, na tentativa de fazer tudo acaba acumulando fardos, cada vez mais pesados.
A única solução para este homem sobrecarregado é ouvir as palavras do Senhor Jesus (Mt 11.28). O problema é que muitos estão tão sobrecarregados que são como crianças com fone de ouvidos – já são ruins de escutar, com os fones, então, fica quase impossível.
Nossa insensatez às vezes não nos deixa perceber que as coisas que mais amamos, pelas quais nos esforçamos não passam de pesos que nos embaraçam na nossa carreira. Se ganhar uma corrida sem embaraços já é difícil, com pesos então é praticamente impossível.
Paulo, entretanto, diz-nos que pode tudo naquele que o fortalece, isto é, em Cristo (expressão genitiva que designa origem e posse, e que ele usa 86 vezes das 90 que aparece na bíblia) ele é capaz de tudo. Mas o que é esse tudo mesmo?
Tenho visto cristãos dizerem que podem conseguir qualquer coisa, e se arriscando em atitudes temerárias brandindo este verso das Escrituras. O que ele quer dizer realmente?
Para entendermos o que Paulo está dizendo, precisamos voltar aos versos anteriores. Ele descreve sua vida, sua carreira, seu ministério. E, a despeito de sua importância na história da expansão do evangelho, vemos um relato de lutas que a grande maioria de nós não gostaria de enfrentar. Vamos dividir em duas áreas: pessoal e social.
Paulo provavelmente vinha de uma família de recursos, talvez não rica, mas de recursos moderados e de relativa importância social, a ponto de poder estudar em Jerusalém com um dos mais renomados professores de seu tempo, Gamaliel (At 22.3).
Ele era reconhecido entre os judeus por sua devoção ao judaísmo, podendo afirmar que deixava muitos deles para trás (Gl 1.14) o que é atestado pela confiança que lhe é depositada pelo sinédrio (At 9. 1-2).
Respeitado entre os judeus, era, também, respeitado entre os romanos por possuir cidadania romana (At 22.25-26) tinha alguns direitos especiais mesmo estando na prisão – o que, certamente, foi de grande utilidade para a pregação do evangelho entre os gentios (At 9.15).
Houve época em que era missionário mantido por uma igreja (At 13.1), em outras trabalhou para se manter sem ser pesado à Igreja (At 18.3).
Passou fome, sede, foi humilhado, acorrentado, como em Filipos (At 16.24), sofreu tentativa de extorsão durante dois anos (At 24.25).
No meio de tudo isso o "mais que vencedor" (Rm 8.37), aquele que experimentava as aflições preditas (Jo 16.33) e descritas por Jesus (Mt 5.11) diz que pode todas as coisas. Que coisas, afinal?
A afirmação do apóstolo é que, para completar a carreira, ele estava disposto a suportar tudo o que fosse preciso, esmurrando o seu próprio corpo (I Co 9.27), isto é, dizendo não para as suas próprias vontades, para ser encontrado em Cristo.
Como ninguém é capaz de fazer tudo, e ainda fugir às dificuldades, nada mais razoável do que descansar nas mãos daquele que venceu o mundo por nós (Jo 16.33). É o único meio de pôr fim à ansiedade de uma alma desassossegada.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Paulo pode, evidentemente, chamar-nos para sermos seus imitadores (I Co 4.16). Mas, antes que alguém dissesse que ele estava querendo atrair seguidores para si mesmo, ele acrescenta que só deve ser imitado naquilo que ele imitava a Cristo (I Co 11.1). E quem poderá dizer que Cristo combateu o bom combate, não completou a carreira (Mc 10.45), como Paulo bem sabia e lembra a Timóteo (I Tm 2.6). Ou, ainda, quem poderia dizer que Cristo não descansava em Deus (Lc 23.46) para cumprir sua missão, exatamente como Davi previra (Sl 31.5)?
Paulo nos convoca a combater o mesmo combate que ele combateu, da mesma maneira que ele foi visto combatendo (Fp 1.30) sem desistir, apesar de tantas dificuldades e perseguições que teve que enfrentar (II Co 11.24-27) até que finalmente, chegando ao fim, ele pode dizer que continua prosseguindo (Fp 3.14) com a certeza de não haver sido relaxado ou falhado (II Tm 4.7).
Quero relembrar três conselhos para quem quer completar a carreira, como Paulo:

CONFIE NO SENHOR E ISSO PORÁ FIM ÀS ANSIEDADES

Diz-nos o salmista que o Senhor o ouve (Sl 40.1). O Deus do salmista é o mesmo Deus que nos chamou para si mesmo. Ele socorreu Paulo em sua estada em Roma com a instrumentalidade dos filipenses – e ele ainda é poderoso para salvar (Sf 3.17) porque ele é o mesmo ontem, hoje e eternamente (Hb 13.8).

LIMITE-SE À PORÇÃO QUE O SENHOR LHE CONFIOU E NÃO CORRERÁ DE UM LADO PARA OUTRO

Confiando no Senhor saberemos que ele nos dará exatamente aquilo de que temos necessidade, nem mais, nem menos. Davi podia dizer que, tendo o Senhor como seu pastor não sentia necessidade de mais nada (Sl 23.1). A correria e a canseira é porque queremos mais do que é a nossa porção, e o salmista diz que já temos a porção ideal (Sl 119.57). Não custa lembrar as palavras do Senhor aos levitas (Nm 18.20).

ADMITA SUA LIMITAÇÃO, CORRA APENAS A SUA CARREIRA E DESCANSE NO SENHOR QUANTO ÀS DEMAIS COISAS


Um dos motivos porque corremos tanto não é outra coisa senão inveja. Queremos o mesmo ou mais do que os outros tem, e esquecemos do conselho bíblico de não cobiçar a prosperidade dos outros (Sl 37.7). Precisamos entender que, para completar a carreira, dois requisitos se fazem necessários. O primeiro é importante (a fidelidade a Deus) mas o segundo é fundamental (a fidelidade de Deus). Lembremos que a vitória não é alcançada por quem corre (Rm 9.16) mas é dada para quem é buscado (Lc 19.10).

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