sábado, 31 de dezembro de 2016

GRATIDÃO NO SALMO 103

“Um ano mais de vida, guardou-vos o Senhor,
E deu-vos fiel guarida, no seu divino amor,
De coração dai graças, ao vosso eterno pai
Pois mais um ano passa, a Deus mil graças dai”.

Esta não tem sido a tônica nas conversas mais comuns neste fim de ano. Jornais de economia e política colocam o ano de 2016 como o ano a ser esquecido, o ano perdido. Muda a maneira de dizer, muda a idade e muda o tamanho da conta bancária, geralmente mais enxuta, com menos números, às vezes mais colorida... parecida com a camisa do Bahia... azul, vermelha, azul, vermelha... mas ainda é melhor que ficar como a camisa do Internacional – totalmente no vermelho.
Não tem sido muito comum ouvir pessoas dizendo que este ano foi um ano bom. Mas, afinal, este foi ou não foi um ano bom. Bem, depende da perspectiva. Depende de como olhamos para os fatos e feitos, para o quanto valorizamos o que temos e, muitas vezes, de quanto valorizamos o que não temos, não conseguimos, não alcançamos. Às vezes a sensação de que nada foi bem não é nem pelo que perdemos, mas pelo que não conseguimos ter. Enfim, tudo depende daquilo em que colocamos as nossas expectativas de realização, de satisfação. Utilizando uma linguagem mais teológica, depende de quem é o ídolo do coração do homem.
Quanto mais devotado ele for a um ídolo, quanto maior o amor que lhe dedicar, quanto mais esperar dele a sua realização maior a sensação de fracasso quando sofrer algum tipo de decepção. Em todas as áreas da vida. Talvez você diga: “mas como, eu sou cristão, sou evangélico, não tenho ídolos”. Talvez não tenha uma imagem de gesso num canto ou pendurada em uma correntinha, ou uma figura pintada na parede ou pregada em seu carro – e tanto mais profundo é o ídolo, mais difícil de perceber sua realidade e influência porque ele se torna “natural”, parte da vida.
Deixe-me exemplificar. O grande ídolo da vida de alguém pode ser o cônjuge, noivo ou namorado (ou noiva e namorada) por quem é capaz de pequenos e grandes sacrifícios – mas, inconscientemente sempre com a expectativa de que seu sacrifício seja visto, reconhecido e recompensado. Se não vem – isto estraga todos os demais aspectos da vida.
Mas outro ídolo também pode ocupar o lugar do coração do homem. Por exemplo, sua família. Se algo não dá certo, se a família não funciona como acha que é certo, se os filhos não são como “os dos outros” então, o que certamente acontece, os filhos se vão, faculdade, casamentos, chega a síndrome do ninho vazio e vem a sensação de fracasso, de inadequação, de que sempre está faltando algo, mesmo que não haja nenhuma necessidade essencial insatisfeita.
Mais um ídolo: o trabalho. Funcionário esforçado, exemplar, frequente e participativo. Seu ídolo é a carreira, espera reconhecimento dos colegas, do patrão, quem sabe na forma de promoção ou no mínimo com um quadro de “funcionário do ano” na confraternização da firma. Mas de repente o que chega é a aposentadoria, ou, pior, o desemprego. Seu ídolo se foi, e toda a vida é vista com grande desprazer.
Ninguém faz uma imagem ao São Marido, São Trabalho ou Santa Família. Ainda não vi ninguém fazer promessa á Santa Carteira de Trabalho para ter um aumento – ainda não vi, mas, do jeito que andam as coisas, não duvido absolutamente nada de que alguém já tenha feito ou venha a fazer.
Mas, se o trono do seu coração é ocupado pelo Senhor, ou seja, se você já teve a experiência de tomar o Senhor como seu Senhor, entregando-se em suas mãos em absoluta confiança de que ele fará não apenas o melhor que ele puder, mas simplesmente tudo o que lhe for necessário (Sl 37.5), então, você terá a experiência de estar plenamente satisfeito, de não sentir desejos ardentes por mais nada (Sl 23.1) independente de qual seja a sua situação (Fp 4.11) em uma determinada circunstância (Hc 3.17-18) e ainda terá motivos para dar graças por saber que esta é a vontade de seu Deus, de seu Senhor, para sua vida (I Ts 5.18).
É sobre esta experiência que eu gostaria de viver em plenitude que o salmista fala no salmo 103. Vamos ler os versos 1 a 5 para entender que sentimento, que experiência é esta da qual ele fala:
1 Bendize, ó minha alma, ao SENHOR, e tudo o que há em mim bendiga ao seu santo nome.
2 Bendize, ó minha alma, ao SENHOR, e não te esqueças de nem um só de seus benefícios.
3 Ele é quem perdoa todas as tuas iniqüidades; quem sara todas as tuas enfermidades; 4 quem da cova redime a tua vida e te coroa de graça e misericórdia; 5 quem farta de bens a tua velhice, de sorte que a tua mocidade se renova como a da águia.
O louvor de Davi, que foi tirado de detrás da malhada de ovelhas para ser rei em Israel (I Cr 17:7) se concentrou nos atos gloriosos de Deus. Em algum momento ele poderia queixar-se da vida ou de coisas que lhe aconteceram na vida, como ser motivo de desprezo dos seus próprios irmãos, ou ser perseguido pelo próprio sogro simplesmente porque dava o melhor de si mesmo a Deus e Deus o abençoava lhe dando vitórias gloriosas. Mas não, Davi se concentra em dar louvores a Deus, como fez Jó quando instado por sua esposa para amaldiçoar a Deus (Jó 2:10).
Davi louva a Deus, elogia a sua bondade e seu cuidado misericordioso. De Deus recebemos todas as coisas – sem merecer nenhuma delas. Mesmo a pior vida ainda é vida, e nem mesmo nós merecemos. Mesmo o mais infortunado dos homens ainda pode contar bênçãos passadas, bênçãos do presente e confortar-se na expectativa de bênçãos futuras. Se você algum dia não se sentir motivado para louvar a Deus, para agradecer por alguma coisa, se você pensar em dizer que sua vida não vale a pena ser vivida, então, leia as doces e gratas palavras de Davi: “1 Bendize, ó minha alma, ao SENHOR, e tudo o que há em mim bendiga ao seu santo nome”.
O que podemos aprender com Davi e, olhando para o “famigerado 2016”, nos guiarmos nos anos que Deus ainda nos dará? Antes de prosseguir, porém, é necessário que você perceba um pequeno detalhe: o salmista não se prende ao passado, nem espera o futuro para louvar: ele o faz no tempo presente porque entende que a bênção e o cuidado de Deus correm paralelas às nossas lutas diárias – mesmo quando caminhar no vale da sombra da morte faz doer os pés e arder os olhos.
Quero compartilhar com você duas verdades que aprendi ao ler estes versos maravilhosos da Palavra de Deus:

AÇÕES DE GRAÇAS é FRUTO DO CONHECIMENTO DE QUEM DEUS É

Davi diz uma coisa mais que óbvia: a sua alma deveria bendizer ao Senhor. É óbvio, mas precisa ser explicado. Quando o Senhor criou o homem, fê-lo em barro e depois soprou-lhe o fôlego da vida e ele passou a ser alma vivente (Gn 2.7). Fora a discussão se o homem é composto de corpo e alma ou alguma outra coisa, o fato é que o homem é alma vivente e somente sendo alma vivente ele pode louvar a Deus (Is 38.18).
Quando Davi diz que sua alma deve louvar ao Senhor ele está dizendo que vai louvá-lo com a integridade do seu ser, e enquanto tiver vida. Só pode louvar a Deus quem está vivo. Mortos não louvam. Mortos não adoram. Mortos não podem dar testemunho da bondade e da fidelidade de Deus porque, morrendo o homem, cessam as suas cogitações e interesse nas coisas desta vida. Se você tiver dúvida sobre quem deve louvar ao Senhor e sua proposição é que sua alma, seu ser, que ele deve louvar ao Senhor com integridade, com todo o seu ser, enquanto vivo for (Sl 150.6).
Com o que devemos louvar ao Senhor? Com o que devemos servir ao Senhor? O que você tem que serve para servir ao Senhor? Seus bens? Suas propriedades? Seus diplomas? Seu conhecimento científico? Sua rede de relacionamentos (e não estou falando do facebook). A resposta dos catecúmenos é: com meus dons, talentos, bens e presença. Isto quer dizer que devemos servir ao Senhor com todo o nosso ser. Nada menos que isso é aceitável, nenhum homem de ânimo dobre é aceitável diante do Senhor (Tg 1.7-8).
Mas esta adoração não é nem aleatória como era o culto dos atenienses (At 17:27) nem natural e espontânea, pelo contrário, a tendência natural do homem é subverter a verdade e em seu lugar colocar uma mentira que ele próprio é capaz de fabricar segundo a imagem que ele faz de si mesmo como criação caída (Rm 1.25), em alguns momentos criando um deus no qual reflete uma visão de si com qualidades elevadas ou, o que também não é incomum, se coloca como insignificante, inferior aos animais (adorando seres irracionais ou animais) o que revela mais uma vez a mentira no lugar da verdade de Deus (Sl 8.5).
O salmista faz questão de mencionar o nome de Deus, SENHOR (hwhy) e lembrar que o seu Deus não é um Deus como os deuses dos povos, mas o Deus cujo nome é santo (Ez 43.7) e para o qual os anjos cantam louvores (Is 6.3), que são constantes nos salmos sempre lembrando que quem louva ao Senhor deve conhece-lo e jamais esquecer que ele é santo (Sl 30.4; 33.21). 

QUEM CONHECE A DEUS SABE PORQUE AGRADECER

O primeiro verso do Sl 103 diz quem, com o que e a quem o louvor deve ser dirigido. Cada homem, cada ser humano, cada ser que respira deve louvar a Deus com todo o seu ser. Os versos 2 a 5 continuam a tratar do mesmo assunto ensinando que louvor é gratidão, é reconhecimento e lembrança do que Deus tem feito – e sua ação poderosa é motivo de esperança para o crente (Lm 3.21) mesmo nas situações mais adversas, como, por exemplo, a dos jovens amigos de Daniel na corte babilônica (Dn 3.17-18).
Davi avança, desenvolve o seu pensamento, descobre mais uma camada do seu pensamento e passa a considerar não mais o ser de Deus, mas seus atos de misericórdia para com seu povo e conclama a si mesmo para não ser ingrato, não se esquecer, isto é, não deixar de considerar os seus feitos grandiosos. Não é possível perceber os atributos de Deus e glorifica-lo sem considerar o que ele faz, porque o que ele faz revela quem ele é (I Jo 4.16).
Se ingratidão é não considerar mais o que Deus faz de bom, então só pode dar graças quem não se esquece de ter sido beneficiado. Bendizer ao Senhor é lembrar que Ele é a fonte de todas as nossas bênçãos. O salmista bendiz ao Senhor com todo o seu ser (SI 146.2). Davi faz uma lista de tipos de benefícios que o Senhor lhe concedeu – e que certamente você já experimentou em ao menos uma vez na sua vida. Se você não quer dar graças a Deus agora ou você é ingrato ou é um esquecido.
Em primeiro lugar Davi diz que o Senhor perdoa todas as tuas iniquidades. Se você não tem casa, não tem carro, não tem família, não tem emprego nem tem saúde... se você tem uma casa que não é do seu jeito, seu carro é velho, sua família é problemática, seu emprego é desgastante e sua saúde não é das melhores... se você tem uma excelente casa, seu carro é o melhor, sua família é uma agradável fonte de alegria, seu emprego é maravilhoso e sua saúde é de ferro... não importa, nada disso é mais importante do que o que Davi afirma aqui: o Senhor perdoa todas as suas iniquidades. Lembremos que o salário do pecado é a morte (Rm 3.23) e a prática do pecado é garantia de eternidade no inferno (I Co 6.9-10). Se você acha que não tem razão para dar graças a Deus, então, lembre-se desta razão, e se ela não for suficiente, você é realmente ingrato demais: Deus te livrou da sentença que paira sobre os praticantes do pecado (condenação ao inferno) e da morte (Rm 8:2).
Em segundo lugar Davi diz que Deus sara todas as tuas enfermidades. Eu creio que ele está se referindo especificamente às enfermidades do ser humano em sua integralidade, isto é, enfermidades morais, psíquicas e físicas e suas manifestações somáticas, no corpo. Embora Deus não tenha a obrigação de curar nenhuma de suas enfermidades, todavia, toda cura provém dele, toda boa dádiva e todo dom perfeito vem dele, vem do alto, para nós. Deus não diz que não haverá enfermidades, mas que é ele quem cura cada uma delas (Dt 32:39). Sou incapaz de afirmar a razão de cada enfermidade que ataca uma pessoa, especialmente o crente. Jamais cairia na tolice de ser como os amigos de Jó. Mas uma coisa é certa – se você está vivo, se você ainda não foi fulminado pela mais inescapável de todas as doenças (a morte) então você tem motivos para agradecer a Deus.
Em terceiro lugar, Davi diz que Deus é aquele que traz redenção ao moribundo, aliás, mais que moribundo, pois sem Deus o estado do homem é de morto (Ef 2.1) e Deus lhe dá vida – uma nova vida, que faz sentido e já é, aqui, um antegozo da bênção da vida eterna que também já foi outorgada, isto é, dada mediante lei irrevogável do supremo legislador. E porque ele faz isso? Não é por nada que possamos fazer, primeiro, porque mortos não podem fazer nada, e, em segundo lugar, para evitar a tentação do arrogante coração humano de achar que tem direito a exigir alguma coisa de Deus. Não caia na tentação de dizer: “Deus eu vou fazer isso, mas quero aquilo”... e, tendo feito, começar a cobrar dizendo: “Deus eu fiz isso, agora faça sua parte”. Deixe-me dizer-lhe que a parte de Deus é ser Senhor, soberano, livre, e se ele nos dá alguma coisa, a redenção inclusive, é porque Ele se compadece em seu coração da nossa miséria e graciosamente nos dá não apenas o que estão diante de nossos olhos, mas, também, seu filho amado (Rm 8:32), nosso Redentor.
Por fim, Davi fala da suficiência que vem de Deus. Ele afirma que Deus é quem farta de bens a velhice e renova a mocidade como a da águia. Na cultura oriental a águia era tida como o animal que, quanto mais velho, mais experiente e forte ele se tornava pela agilidade de seu voo e pela constante renovação de suas plumas, tornando-se, assim, um símbolo de juventude perene (Is 40.31). Um provérbio desejava que a pessoa envelhecesse como a águia, isto é, se tornando mais e mais forte. As Escrituras afirmam que Deus é a fonte de toda suficiência (Tg 1.17), e, embora pareça que a juventude é quem é forte para alcançar as coisas (e a isso a bíblia chama de jactância, arrogância), na verdade é Deus quem dá, tanto ao que trabalha vigorosamente (Tg 4.15-16), como àquele que já não tem mais nenhum vigor (Is 40.29-30).

SE VOCÊ ESTÁ COM DIFICULDADES EM AGRADECER

Este salmo de Davi expressa de maneira magistral o que deve ocupar o coração da Igreja do Senhor Jesus, de cada cristão verdadeiro. O cristão não precisa de bem estar para dar graças a Deus. O cristão dá graças a Deus porque ele conhece o seu Senhor, conhece o seu Deus, conhece o nome santo do Senhor.
Como cristão ele sabe que seu Senhor já lhe proporcionou bênçãos extraordinárias e inalcançáveis pelo braço do homem. O homem não consegue alcançar a sua própria salvação, não consegue promover a sua própria remissão e não consegue, de maneira alguma, o perdão de seus pecados. Quantos ricos e poderosos, ou pobres e miseráveis, tanto faz, vivem vidas loucas, e acabam morrendo em seus abusos simplesmente porque estão buscando, de alguma maneira, esquecer-se lá no mais íntimo de seu ser que são rebeldes sem causa contra o Deus boníssimo e santo? Seu grande problema? Indisposição para agradecer a Deus as pequenas e grandes coisas.
Vamos fazer agora um pequeno exercício mental. Imagine que você tem em suas mãos um papel e uma caneta. Neste papel estão gravados os nomes de algumas pessoas. Os casados imaginem o nome de seu cônjuge, filhos e filhas. Os não casados, imaginem os nomes dos irmãos e pais. Imagine que aí também tem uma lista dos bens que possui. Casa. Carro. Moto. Bicicleta. Celular. Gado. Imagine que aí, nesta lista, também tem coisas que você faz. Estudos. Trabalho. Tarefas domésticas. Imagine que à frente desta lista tem um espaço para você colocar algo que te aborrece nestas coisas.
Agora deixe-me te contar uma história pessoal, acontecida no dia 13 de novembro de 1987. Meu avô comprou uma bicicleta usada, uma Monark, e me deu de presente de aniversário. Eu saí todo feliz e naquele mesmo dia aprendi a andar de bicicleta. Mas ela tinha um problema: os freios estavam desregulados. E, depois de andar a tarde inteira eu, feliz mas cuidadoso, fui falar com meu avô que precisava regular o freio. Não sei por que ele, muito bravo, pegou a bicicleta e eu nunca mais a vi.
Voltemos à listinha imaginária. E se Deus fosse como meu avô foi naquela ocasião? Se cada vez que você murmurasse contra algo que você tem ele tirasse? Está pronto para ficar sem seu cônjuge? Ou sem seus pais? Ou sem seus filhos? Sem seu emprego? Sem seus estudos? Sem sua casa? Sem suas propriedades?
Quero concluir propondo a você um outro modelo de gratidão. Um homem que tinha casa. Tinha propriedades. Tinha esposa. Tinha filhos. E sua riqueza não lhe impedia de devotar-se a Deus com ações de graças. Este homem perdeu tudo. Perdeu propriedades. Perdeu filhos. Perdeu, de alguma maneira, o companheirismo da esposa. Perdeu a saúde. E, ainda assim, continuou a devotar-se a Deus com ações de graças. Seu nome é Jó. Para concluir, cito aqui as benditas palavras do apóstolo dos gentios, Paulo, que deixou tudo o que considerava importante por amor de Cristo (Fp 3.4-11) que diz para todos nós que, em tudo, devemos dar graças:
Em tudo, dai graças, porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco.

I Ts 5:18

quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

POR UM 2017 MELHOR

Tenho conversado com muitas pessoas nos últimos dias e tem sido recorrente a afirmação de que o ano que está se encerrando foi, na melhor das hipóteses, um ano muito difícil. Alguns chegam a afirmar mesmo que foi um ano perdido, com retrocesso.
Se olharmos para os indicadores econômicos somos forçados a concordar. Do ponto de vista político acredito que houve um avanço - embora a desfaçatez e a falta de vergonha dos nossos políticos tenha ficado escancarada. Vergonhoso, no mínimo, seria o termo que sua atuação merecia - inclusive a dos nossos irmãos, a tristemente famosa bancada evangélica. Na saúde pública também não temos o que comemorar - mais uma vez o país de 200 milhões de habitantes à mercê de um inseto de menos de 1cm. Dengue, chicungunha, zica e sabe-se lá o que ainda vem por aí no verão 2017.
Outra expressão que ouço é “Ainda bem que está terminando, agora é virar a página. Ano novo, vida nova”. Esta expressão é comum - e pode ser encontrada tanto na fala de um incrédulo quanto de um crente. Mas será que é assim mesmo? Basta rasgar a última folha do calendário de 2016 e zera tudo? É claro que não. As consequências das ações, dos investimentos, dos desencontros do ano anterior estarão nos esperando quando, no dia primeiro, acordarmos cansados da longa noite de festejos, comilança e fogos - estarão conosco no tão aguardado “ano novo”.
Quer saber mesmo como ter um 2017 melhor - até porque, convenhamos, ter um 2016 melhor é impossível, a oportunidade já passou, o ano já terminou e, se você não aproveitou de nada adianta ficar se lamentando. O jeito é, mesmo, esperar que 2017 seja melhor. E o que você vai fazer para alcançar este desejo?
A melhor e mais simples orientação neste sentido encontrada na Palavra de Deus é: “Entrega o teu caminho ao Senhor, confia nele, e o mais ele fará”. Se você fizer planos, lembra-te da orientação de Tiago: “Diga: se o Senhor quiser...”
Quer experimentar maior comunhão com Deus? Ore mais, conheça-o mais através da sua Palavra, congregue mais. Acho impressionante crentes que querem ser abençoados, que vivem reclamando das dificuldades da vida mas cuja vida é autônoma, independente, descompromissada com Deus e com as coisas de Deus.
Como fazer para ter um lar abençoado? É tolice esperar que a bênção de Deus seja presente e abundante onde Deus não é temido, respeitado e amado, onde sua vontade é considerada prioritária e tem força de lei - doce, suave e agradável, mais que o mel e o destilar dos favos.
É errado desejar a si mesmo e aos outros um “feliz ano novo”? Claro que não. Podemos e devemos desejar o melhor. Mas não vai ser melhor, de forma alguma, se não for com Deus e na presença de Deus.
Feliz ano novo, são os votos do coração do pastor para você e sua família. Mas um feliz ano novo com Jesus, com compromisso com o Senhor e com sua obra, senão será só mais um ano que você vai desperdiçar.


sábado, 24 de dezembro de 2016

SOBRE O DIREITO DE TER OPINIÃO

Recebi recentemente um comentário em uma postagem que dizia o seguinte, colocando entre parênteses apenas a parte específica da discordância, que preferi omitir e apenas indicar do que se trata. Diz o eminente discordante:
“A internet é pública e podemos escrever nossos pensamentos, mas se o artigo tem um cunho informativo, não deveria ter coisas do tipo: (parte onde expresso minha opinião sobre a qualidade e a sensação que me causa certo tipo de música e a existência de outros costumes nacionais que causam grande prejuízo à nação, como mensalinhos, mensalões e petrolões). Nem dá vontade de terminar de ler o artigo com opiniões tão pessoais. O autor deveria salvar para si as próprias opiniões e apenas descrever o que a Bíblia diz sobre o assunto, tentando ser o mais imparcial possível”.
Duas perguntas:
i.                     O artigo não é a expressão do que eu penso? E se eu penso que a música não presta e que os assaltantes eleitos causam mal ao país, não posso expressar isso?
ii.                   Se o blog é a expressão do pensamento do autor, quem vai lê-lo o faz na expectativa de ler a opinião do autor. Se discorda, é livre para parar a leitura.

No mais, acredito que a bíblia condena aqueles que, no papel de príncipes e juízes, torcem o direito para se beneficiarem e enriquecerem. Ou não?

NATAL: O ADVENTO DO VERBO É A RESPOSTA DE DEUS PARA TODO HOMEM

Todo mundo busca respostas para as questões essenciais - e mesmo aqueles que não se importam muito um dia terão, ao menos, a resposta para uma das questões mais essências da humanidade, expressa com maestria no Breve Catecismo: “Para que eu existo”. Mesmo que não acreditem, todos terão a resposta a esta pergunta crucial. E esta resposta não é uma definição, ela é, ao mesmo tempo, uma pessoa e “o Verbo”.
Sim, a única resposta para a pergunta para que eu existo na verdade é: Para quem eu existo? E a resposta só pode ser “para ter algum tipo de relacionamento com o criador”, para ter algum tipo de relacionamento com Jesus Cristo. E não há ninguém que não tenha algum tipo de relacionamento com ele - seja de amizade, seja de inimizade. Não há meio termo. Sim, Jesus é a resposta para qualquer tipo de homem ou mulher.
I. JESUS É A RESPOSTA PARA OS ESTUDIOSOS - no oriente alguns homens conheciam as profecias a respeito de um rei messiânico dos hebreus, e se espantaram com um sinal diferente visto nos céus, interpretando corretamente este sinal como o marco da chegada do salvador (Mt 2.1-2).
II. JESUS É A RESPOSTA PARA OS RELIGIOSOS - nas proximidades do templo havia gente que deveria conhecer as profecias a respeito do rei messiânico, todavia, estavam ocupados demais com religião para atentar para o momento épico da sua religião: o nascimento de Jesus (Mt 2.3-6).
III. JESUS É A RESPOSTA PARA OS PODEROSOS - no trono de Israel encontrava-se assentado um filho de Edom, ocupando um lugar que não lhe pertencia. Poderoso e apegado ao que achava ser seu de direito, deveria ter devolvido ao filho do Senhor da vinha o lugar que era seu de direito, mas preferiu tentar mata-lo (Mt 2.13).
IV. JESUS É A RESPOSTA PARA OS OCUPADOS - nos campos no entorno de Belém os pastores guardavam os seus rebanhos à noite. Era comum grupos de pastores reunirem os rebanhos e se revezarem em vigílias de maneira que todos dormiriam o suficiente, mas mesmo assim eles foram correndo avistar o redentor (Lc 2.8-16).
V. JESUS É A RESPOSTA PARA OS PIEDOSOS - Simeão e Ana aguardavam aquele que era a Redenção de Israel. Simeão ficou tão feliz que considerou o propósito de sua vida cumprido (Lc 2.29).
VI. JESUS É A RESPOSTA PARA OS IDOSOS - Ana era uma profetisa de 84 anos e não cessava de dar graças a Deus pelo menino (Lc 2.38) e mostra que não há idade avançada demais para se alegrar com a vinda de Jesus.
VII. JESUS É A RESPOSTA PARA OS INFANTES - antes mesmo de nascer João Batista já dava um jeito de anunciar que Jesus era, de fato, diferente (Lc 1.41), demonstrando que não há idade mínima para rejubilar-se no salvador.
VIII. JESUS É A RESPOSTA PARA QUEM ESTÁ DISPOSTO A OBEDECER - ao receber a notícia de que seria a mãe do Redentor a virgem, desposada mas com as núpcias ainda não consumadas, não titubeia e coloca-se à disposição do Senhor para que Sua vontade seja feita (Lc 1.38).
E se você não se enquadrar nestas categorias? Há mais uma categoria, e esta eu não deveria deixar de fora porque é a principal delas e é por causa desta categoria de homens que Jesus veio (Mt 1.21).
JESUS É A RESPOSTA PARA OS PECADORES. Jesus veio buscar e salvar o perdido (Lc 19.10). E muitos estão perdidos em seus estudos, afazeres, religião, sede de poder, rebeldia. Alguns dizem que é cedo demais, outros que é tarde demais. Jesus veio para mudar a história de pecadores, veio para tornar inimigos de Deus em filhos amados (Rm 5.10). Jesus é a resposta para os pecadores cansados e sobrecarregados que humildemente reconhecem sua incapacidade e clamam por socorro (Rm 7.24).
Jesus é a resposta para homens de qualquer categoria social ou cultural (I Co 12.13) desde que creiam nele (At 16.31) como seu único salvador (At 4.12) recebendo, assim, a benção de ser feito filho de Deus (Jo 1.12) e a vida eterna (Jo 3.36).

A ciência, a filosofia, a matemática, a história, a correria do dia-a-dia, a família, o poder - nada disso responde ao mais essencial anseio do coração do pecador: “Quem me livrará do corpo desta morte”. A única resposta possível é: Jesus Cristo, o libertador (Rm 7.25).

EU NÃO COMEMORO O NATAL... APENAS NO DIA 25 DE DEZEMBRO

Já escrevi muitos textos a respeito do nascimento do Senhor Jesus. Alguns alusivos aos festejos natalinos, os problemas históricos, o marketing, o comércio, a idolatria, os erros teológicos. Você pode clicar aqui e aqui e em outros links abaixo para ler mais sobre isso. Acredito que  seja lícito ao cristão comemorar o nascimento do redentor – e a data de 25 de dezembro é apenas uma data no calendário litúrgico, que, diga-se de passagem, deve ser observada pelos pastores presbiterianos conforme decisão do Supremo Concílio da Igreja a respeito dos (muitos e diversos) problemas causados pela pregação pseudopuritana (e a Igreja Presbiteriana é uma Igreja conciliar, seus pastores deveriam respeitar as decisões conciliares e, em caso de insatisfação, procurar outra denominação ou, quem sabe, fundar a sua própria com direito a roupas pretas e chapeuzinho).
Sei que o cavalo de batalha é a data na qual o Senhor Jesus teria nascido, e os argumentos contra a celebração festiva no dia 25 (sim, concordo que Jesus muito provavelmente não nasceu nesta data) é embasada em muita teologia de Wikipédia acrescida de um tipo de argumentação que já vem sendo usada pelos adventistas há mais de um século (Constantino, Solus Invictus, Mitra).  Aliás, os sabatistas usam a mesma argumentação a respeito do sábado (mas, neste caso, o subjetivismo seletivista considera os argumentos inapropriados chegando mesmo à sabatização do domingo.
Eu não comemoro o natal apenas no dia 25 de dezembro. Este natal do dia 25 é sem graça – porque o que menos se vê no dia a dia é a lembrança de que o advento é a manifestação da graça de Deus ao pecador. Não sei a data na qual o verbo se fez carne, mas, ao mesmo tempo, a Igreja do Senhor tem festejado seu redentor, e, dentro do calendário litúrgico temos uma excelente oportunidade para, apesar da Simone, anunciar a todos em uma época que as pessoas estão mais predispostas a ouvir, que o redentor se encarnou, foi obediente à Lei e morreu em nosso lugar para que pudéssemos ser transformados de inimigos em amigos de Deus. No advento Deus mostra que é fiel e verdadeiro, capaz de cumprir todas as suas promessas dando-nos um salvador capaz de remir-nos de nossas iniquidades e salvar-nos de nossos próprios pecados.
Sei de outros que não celebraram o nascimento do redentor. Nem no dia 25 (e geralmente os opositores do dia 25 não propõem outra data num clássico estilo desconstrutivista) nem em qualquer outro dia. É curioso que, da mesma maneira que se rejeita a data prevista no calendário litúrgico gostosamente colocam o ano de 2016 (no caso deste ano) quando datam seus documentos, embora saibam que Jesus nasceu há mais de 2016 anos e a datação equivocada deu-se por erros do monge e matemático Dionisius Exiguos. Sua birra se parece com as propostas de um livrinho ruim mas popular, Quebrando Paradigmas (não vale a pena ler) que propunha o abandono dos paradigmas de culto sem nenhuma proposta além da de se tirar o que se tem para deixar o nada no lugar.
Muitos antes também não se importaram com a data. Vale lembrar que os apressados e irritadiços judeus na Belém do sec. I nem se importaram com o nascimento de Jesus anunciado pelos pastores. Os religiosos de Jerusalém, afundados em seus livros, mesmo ouvindo que o Rei havia nascido, mesmo lendo que isto tinha acontecido em Belém, também não se moveram para adorá-lo. Os poderosos, como Herodes, desejosos de manter o poder neste mundo também não demonstraram nenhum interesse em adorar o rei de toda a terra, pelo contrário, queriam que seu nascimento fosse esquecido, matando-o. Os magos orientais mostram que não há barreiras para quem quer adorar o redentor – mas que é possível encontrar muitas razões para não adorá-lo. O mundo não conseguiu que o redentor fosse esquecido, e atualmente o faz tentando secularizá-lo, colocando-o como uma data comercial e enchendo-o de elementos pagãos e idólatras. O mundo está errado – mas não estão errados os cristãos que desejam celebrar com alegria e singeleza de coração.
Eu não comemoro o natal apenas no dia 25 de dezembro. Nem digo “que Jesus nasça em seu coração”. Jesus nasceu, e seu nascimento deve ser comemorado todos os dias, inclusive no dia 25 de dezembro. Seu nascimento deve ser comemorado nas reuniões de oração, doutrinárias, escolas e cultos dominicais e isto nada tem de ilegítimo.

Sim, eu comemoro o natal e defendo que sua celebração é lícita, e acredito que cada cristão genuíno deve comemorá-lo também, no dia 25 e o ano todo desde que isto seja feito com o sentido real da encarnação do Verbo de Deus, repudiando o falso natal do comércio e da idolatria.

domingo, 18 de dezembro de 2016

I TM 1 18 20: DEIXAR DE CONFIAR NA PALAVRA DE DEUS LEVA AO ABANDONO DO BOM COMBATE

A mensagem foi dividida em 4 tópicos que podem ser lidos na sequência no blog

INTRODUÇÃO

É muito conhecida a história, provavelmente lendária, do soldado Alexandre. Alexandre foi para uma guerra e provavelmente recebeu todo o treinamento que era necessário para empunhar uma espada, uma lança, para usar um escudo. Conhecia as táticas usadas pelos seus comandantes, sabia quais os sinais para marchar, virar a esquerda, direita, recuar, avançar.
Alexandre tinha bons companheiros, o exército do qual ele fazia parte conquistou boa parte da região mediterrânea da Europa e avançava rumo ao oriente vencendo batalha após batalha, derrotando reino após reino. Alexandre também tinha como comandante o maior general de seu tempo. Mas chegou uma hora que Alexandre vacilou. No calor de uma batalha ele provavelmente deixou de acreditar na capacidade de liderança de seu general. Não sentiu nos seus companheiros a mesma firmeza habitual e ansioso por salvar a sua vida abandonou o seu posto – uma atitude que parece sensata mas que gerou um vazio nas fileiras macedônias, colocando em risco toda a estratégia da batalha pois se o inimigo entrasse pelas fileiras de um destacamento poderia atingir os demais pelos flancos. Sua atitude poderia fazer seu exército ser derrotado.
Valentemente seus companheiros conseguiram suprir sua ausência, derrotaram os inimigos mas logo ele foi encontrado e levado perante o seu comandante sendo acusado de deserção. A acusação era grave – e a pena era a morte. A acusação era grave – e verdadeira, e ele sabia que não tinha justificativa para sua ação. Quando foi apresentado ao comandante e a acusação foi feita, o comandante lhe faz uma pergunta inesperada: "Qual o seu nome". Atemorizado e trêmulo, o soldado fujão responde: "Alexandre, meu comandante". Seu comandante vai até ele, toma-o pela mão, ergue-o e lhe diz em tom de comando: "Mude de atitude, ou mude de nome". O comandante era ninguém menos do que Alexandre, o Grande, imperador macedônio que dominou desde o Egito até a Índia com um exército de aventureiros e mercenários, espalhando a língua e a cultura grega no que ficou historicamente conhecido como helenismo.
Esta história é famosa embora de autenticidade duvidosa. Mas há uma outra cuja autenticidade é inquestionável. Um outro soldado recebeu treinamento, capacitação e equipamento adequado (Ef 6.13), tem como comandante o melhor de todos os comandantes e vitória garantida (Rm 8.37), não podendo, portanto receber. Seu nome não é Alexandre. Seu nome é cristão e seu comandante é Jesus Cristo, ao qual Paulo chama de Rei eterno e imortal (I Tm 1.17). A um destes comandados o apóstolo Paulo traz palavras de forte exortação. A nós o Espírito traz palavras de forte exortação:
18 Este é o dever de que te encarrego, ó filho Timóteo, segundo as profecias de que antecipadamente foste objeto: combate, firmado nelas, o bom combate,
19 mantendo fé e boa consciência, porquanto alguns, tendo rejeitado a boa consciência, vieram a naufragar na fé.
20 E dentre esses se contam Himeneu e Alexandre, os quais entreguei a Satanás, para serem castigados, a fim de não mais blasfemarem.

I Tm 1.18-20

I TM 1 18 20: O CRISTÃO TEM O DEVER DE COMBATER O BOM COMBATE

18 Este é o dever de que te encarrego, ó filho Timóteo, segundo as profecias de que antecipadamente foste objeto: combate, firmado nelas, o bom combate,

I Tm 1.18
Acho estranho cristãos se dando patentes militares num hipotético exército do Senhor Jesus, especialmente porque, no caso de um exército, as patentes geralmente são dadas ou por mérito, o que evidentemente não é o caso. Há, de fato comparações do povo de Deus com um exército, do qual o cristão é metaforicamente chamado de soldado (II Tm 2:4) e chamado para uma batalha (II Co 10.3-6) isto não quer dizer que sejamos, de fato, soldados.
Fazendo uso de uma linguagem militar que qualquer morador do mundo greco-romano de seus dias entenderia facilmente, Paulo conclama os cristãos a combaterem o bom combate. Eles não pegariam em armas contra o império romano (os judeus fizeram isso pouco tempo depois desta carta ter sido escrita e os cristãos que ainda moravam em Jerusalém abandonaram a cidade antes do cerco). Não é esta a guerra dos cristãos porque nem o seu Rei nem o seu reino são deste mundo (Jo 18.26).
Mas, sim, assim como Timóteo, os cristãos têm o dever proclamado publicamente (παραγγελια – palavra da mesma raiz que evangelho) de combater o bom combate, o combate superior a todos os demais combates, de cumprir ativamente a sua obrigação sem recuar, como um militar em expedição, dever que lhe foi entregue solenemente com as armas que lhe foram confiadas pelo seu Senhor e Rei. O apóstolo Paulo fala de armas ofensivas e defensivas, ou, no jargão militar de seus dias, armas "da direita e da esquerda" (II Co 6:7). As armas ofensivas, geralmente usadas na mão direita (δεξιος), eram a espada, a lança e a maça... na esquerda (αριστερος) ficava o escudo, defensivo, que podia em determinadas circunstâncias também funcionar como arma.
Acredito que o cristão tem basicamente uma única arma para combater o bom combate: a Palavra da verdade. Nosso mestre ensinou claramente como usá-la. Ela pode ser usada defensivamente como ele fez quando foi tentado por satanás. Sua ação e respostas baseavam-se exclusivamente no conteúdo da Palavra de Deus, ao afirmar o que estava escrito. Contra a verdade o pai da mentira não tem argumentos e tem que partir para outra estratégias, chegando afinal ao uso da violência (Jo 8:44). A única defesa do cristão contra as armadilhas do diabo é o escudo da fé na verdade de Deus, a verdade que liberta. Sem ela, o homem não passa de um miserável escravo do diabo (Jo 8.31-32).

Ao lado da verdade, o cristão é chamado a empunhar a espada do Espírito, a Palavra de Deus (Ef 6:17) que deve ser evangelizada – e todos os que devem ser evangelizados são inimigos de Deus (Rm 5.8-10). A palavra espada (μαχαιρα) refere-se a uma pequena e pesada espada de corte duplo que precisava de aproximação, força e destreza para poder ser usada. A Escritura diz que a Palavra de Deus é ainda mais cortante que esta espada (Hb 4:12).

I TM 1 18 20: NÃO COMBATER O BOM COMBATE SIGNIFICA NAUFRAGAR NA FÉ

19 mantendo fé e boa consciência, porquanto alguns, tendo rejeitado a boa consciência, vieram a naufragar na fé.

I Tm 1.19
Quando um exército está em marcha em território hostil os soldados só tem uma esperança de não perecerem – se manterem junto com os demais soldados. O mundo animal pode nos ajudar a ilustrar. Na Tanzânia há um parque chamado Serengeti. O ciclo da vida lá é bastante definido. Há o período das chuvas, quando a vegetação cresce e os rios se enchem de água – e o período da seca, quando tudo morre e a água se torna absolutamente escassa. Durante o período das chuvas os animais procriam, as mães amamentam e tudo parece às mil maravilhas – até que começa a secar. Os filhotes de leões começam a trocar de alimentação, do leite materno para a carne. E as mamães leoas começam a caçar para alimentá-los.
Uma de suas principais presas são os gnus, algo parecido com um boi. Quando a seca começa eles (e praticamente todos os animais do Serengeti) iniciam uma longa migração em busca de lugares onde ainda haja pasto e água, formando manadas gigantescas – facilmente seguidas pelos famintos leões. Mesmo fortes, os leões não se atrevem a atacar uma manada de frente, acompanhando-a e tentando cercar os retardatários, formados por indivíduos mais fracos e mães com filhotes menores. Sua estratégia é afastá-los do restante do rebanho. Quando conseguem – é o fim do gnu e o início de uma boa refeição.
Resumindo: na marcha dos gnus em busca do pasto verdejante e das águas abundantes quem fica para trás vira comida de leão. A exortação de Paulo ao seu discípulo Timóteo é que ele mantenha (ele não precisa criar, inventar – ele precisa apenas manter-se) aquilo que ele já recebeu. Paulo diz a Timóteo que ele deve manter (εχω - estar unido por um laço estreito e forte, apegar-se, ter sua mente e emoções controladas e vinculadas) a fé e a boa consciência.
Observe que manter a fé é mais do que simplesmente declarar: "eu creio". Crer é importante, mas manter a fé é viver por fé (II Co 5:7), é experimentar a bem-aventurança da presença do Senhor mesmo sem ter a experiência que os apóstolos tiveram (Jo 20.29). Manter a fé significa viver como discípulo de Jesus mesmo que isto desperte o ódio do mundo (Jo 15:19).
Manter a fé significa ir muito além do discurso de que crê, significa ir além da ortodoxia e adentrar no campo da ortopraxia. Manter a fé significa que as ações devem corroborar a confissão. Manter a fé significa vestir o nu e alimentar o faminto ao mesmo tempo que lhe declara amor (Tg 2.26). Isto não precisa ser criado, com a fé não precisa ser criada, precisa ser experimentada, vivida porque ela é um dom de Deus (Ef 2:8).
Manter a boa consciência (Paulo estava se referindo a uma alma restaurada e tornada saudável pela bem-aventurança recebida - αγαθος συνειδησις) e que, combatendo o bom combate, completa a carreira tendo guardado o bom tesouro, a fé que lhe foi dada pelo Senhor. Deixe-me ilustrar e você decide se isto é uma boa consciência ou uma consciência cauterizada. O livro Exodus, de Leon Uris, que deu origem a dois filmes sobre a segunda guerra mundial e os horrores nazistas, relata a historia de um comandante de um campo de extermínio alemão. Ao fim do dia ele reflete sobre o que aconteceu e diz: "Levantei-me cedo, tomei meu café com esposa filhos, inspecionei os criados judeus e desci para o gabinete. Verifiquei os relatórios e durante o dia vistoriei a aplicação das medidas higiênicas preconizadas. Os equipamentos estão funcionando no limite da capacidade, mas estamos estudando medidas de otimização. Ao fim do dia, reuni-me para a ceia com a família e alguns oficiais, fiz minha oração com meus filhos e beijei minha esposa antes de dormir. Cumpri meus deveres como um bom cristão".
Antes de prosseguir preciso fazer uma correção – o personagem fala de ramo do cristianismo ao qual pertencia, que julguei de bom tom omitir, mas o fato é que ele acreditava que tinha uma boa consciência, mas na verdade sua consciência estava cauterizada – fazia o mal, se esforçava por fazer o mal e ia dormir tranquilamente. Mais uma ilustração. Há pouco tempo um político foi flagrado recebendo propina. E o que ele faz? Ele ora agradecendo a seu deus, não ao Deus verdadeiro, por aquele dinheiro. Pouco me importa se parte daquele dinheiro iria ser entregue como dízimo ou oferta – o fato é que era dinheiro ilícito fruto de uma ação iníqua feita com uma consciência cauterizada, de alguém que literalmente "empurrou para fora de si a boa consciência, repudiou veementemente" e por isso naufragou na fé, não chegaram ao destino adequado.

Não é hora de você questionar-se: que tipo de consciência eu tenho? Ela é uma boa consciência ou é uma consciência cauterizada. Sou cristão e colo na prova? Sou cristão e namoro escondido? Sou cristão e avanço o sinal no namoro? Sou cristão é dirijo sem habilitação? Sou cristão e sonego impostos? Que tipo de consciência eu tenho?

I TM 1 18 20: NAUFRAGAR NA FÉ SIGNIFICA ESTAR À MERCÊ DE SATANÁS

20 E dentre esses se contam Himeneu e Alexandre, os quais entreguei a Satanás, para serem castigados, a fim de não mais blasfemarem.

I Tm 1.20
É muito comum ouvir hoje a citação equivocada e descontextualizada de versos da Palavra de Deus. Para justificar a baixa frequência à reuniões de oração cita-se que "onde estiverem dois ou três reunidos o Senhor está no meio deles" sem, entretanto, ver que o contexto de julgamento e disciplina de faltosos (Mt 18:20). A moderna profetolatria e a autoproteção evocada por eles como ungidos do Senhor (Sl 105:15) não serve de desculpa para que não haja julgamento, mesmo em relação aos profetas, na verdade, especialmente estes porque dizem falar com autoridade divina (I Co 14:29).
Graças a Deus que o politicamente correto não tinha lugar no coração de Paulo ou de nenhum dos verdadeiros profetas que falavam da parte de Deus. Paulo fala da necessidade de guardar a fé e a boa consciência porque o desprezo desta última faz o inadvertido naufragar na primeira. A bíblia fala de muitos que abraçaram a fé mas, como o personagem vivido por Leonardo de Caprio no filme Titanic, acabaram naufragando. Ele era um penetra no navio – e a tábua da salvação não era para ele.
Um bom exemplo de náufrago que abraçou a fé é Simão, o mago (At 8:13) mas sua má consciência fez dele um perdido (At 8.20). Seu problema: ambição eclesiástica, desejo de reconhecimento popular – típico do cristão que negocia seus princípios para ser aceito nos grupos dentro de igrejas e até mesmo fora da igreja.
Ananias e Safira também ilustram esta triste condição de náufragos por desprezarem a fé e mentirem ao Espírito Santo (At 5.3-4). A pedra que os fez naufragar foi a inveja – viram que a igreja tinha Barnabé em alta conta por ser ele homem piedoso, cheio do Espírito Santo e de profundo espírito liberal, vendendo um campo e dando o produto da venda para ser distribuído entre os carentes. Ananias e Safira quiseram aparentar piedade – e naufragaram com sua máscara.
Mais um exemplo: um homem chamado Demas, companheiro de Paulo, mencionado entre seus cooperadores ao lado de João Marcos, Aristarco e Lucas (Fm 1:24) provavelmente não suportou a pressão de sofrer como cristão (I Pe 4:15-16), acompanhando Paulo em suas cadeias (II Tm 4:16). Diferente de Moisés, Demas preferiu este mundo – amou este mundo como demonstração de o amor do pai não estava nele.
Para uma cultura que diz que não podemos julgar Jesus nos ensina que os frutos são o padrão do julgamento – os frutos de Simão, Ananias, Safira, Demas, e, no caso específico, os heréticos himeneu, que Paulo afirma ter pertencido à igreja mas jamais ter pertencido ao Senhor (II Tm 2:17-19) e Alexandre, que causou muitos males a Paulo se opondo à sua pregação com veemência (II Tm 4:14) daqueles lobos devoradores que Paulo previra aos presbíteros de Éfeso que assaltariam o rebanho (At 20:29).

Paulo diz que estes náufragos na fé estavam despojados da graça, e, portanto, como obreiros de satanás e instrumentos para seus intentos, deveriam ser afastados da Igreja e considerados com o mesmo grau de rigor que os judeus consideravam os gentios e publicanos (Mt 18:17) não lhe sendo dado mais a palavra na Igreja para que não venham a perverter a fé dos crentes com suas blasfêmias. Himeneu e Alexandre foram "entregues à custódia para serem julgados e condenados" (παραδιδωμι). Diferente do Senhor que disciplina a quem ama (Hb 12:6) ser entregue a satanás significa sofrer o castigo apartado da graça de Deus (Mt 25:41).

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