Há algum tempo estive intensamente comprometido com um trabalho de recuperação de uma Igreja que
havia sido devastada por uma ideologia conhecida no meio presbiteriano como
neopuritanismo (talvez você a conheça por outros nomes, como confessionalistas embora eu prefira chamá-los, por motivos óbvios, de pseudopuritanos).
Terra arrasada, tentativa de roubo do patrimônio da igreja, adulteração e ocultamento de documentos, ameaças, disputa judicial, membros dispersos por outras igrejas e até em Igreja nenhuma.
Havia muito por fazer e vontade de fazer muito. Em pouco tempo o trabalho
começa a dar frutos, e, de 26 membros que haviam restado (número que logo
diminuiu com a mudança de 6 para outro estado, logo no primeiro mês) em três
meses a primeira assembléia da comunidade em restauração foi realizada, com a
presença de 42 membros comungantes. Foram dias intensos, e queríamos tudo muito
rápido. Ao fim do primeiro ano podíamos apresentar uma estranha matemática:
26-6=93. Isso mesmo. Mas, havia algo na estratégia de trabalho que, no final,
produziria frutos amargos: havia pressa, vontade de fazer mais, de colher mais
e mais, cada vez mais rápido.
Não
é incomum que, no afã de apresentar resultados rapidamente um trabalho de revitalização venha a incorrer em
grandes equívocos como o de não conhecer bem o rebanho [sempre há ovelhas e bodes] ou dar tempo de maturação à
plantação [sempre há trigo e joio] que se tem sob sua responsabilidade, vendo como dom o que era só
disposição para executar funções em busca de espaço, reconhecimento social,
status e até torpe ganância, e assim pode acontecer de pessoas inaptas e repreensíveis (1Tm 3:2) virem a ocupar cargos de liderança e até ordenadas precipitadamente (1Tm 5:22) para ofícios para os quais não estavam nem
moral nem espiritualmente qualificadas.
A
conclusão a que, como estudioso de projetos e trabalhos de restauração, mas não apenas um estudioso diletante, mas um ministro praticante, acabei chegando é que trabalhos de restauração eclesiásticos geralmente requerem tempo. Alguns podem até apresentar resultados rápidos, e bem feitos, mas sempre existirão adversários de todos os lados. Adversários internos que não querem mudanças no status quo, ou que querem aproveitar eventuais espaços existentes para alcançarem postos para os quais não estão qualificados. Existirão adversários próximos, alguns muito próximos que poderão até privar da mesa do ministro restaurador, e, mais raramente adversários externos podem se apresentar - mas estes geralmente são os menos danosos.
Mas a restauração e edificação espiritual, efetuada apressadamente, sem tempo de maturação, não produzirá resultados benéficos e duradouros. Vários motivos podem ser apontados, mas sem dúvida a falta de tempo de maturação impedirá a correção de problemas que surgirão e porque o velho fermento do divisionismo, do amor a facções e contendas e práticas condenadas pelas Escrituras [Lv 19.16] ainda estarão presentes na comunidade de acordo com a máxima do sr. João Mendes, que costumava dizer que couro ruim não dá selim bom.
Mas a restauração e edificação espiritual, efetuada apressadamente, sem tempo de maturação, não produzirá resultados benéficos e duradouros. Vários motivos podem ser apontados, mas sem dúvida a falta de tempo de maturação impedirá a correção de problemas que surgirão e porque o velho fermento do divisionismo, do amor a facções e contendas e práticas condenadas pelas Escrituras [Lv 19.16] ainda estarão presentes na comunidade de acordo com a máxima do sr. João Mendes, que costumava dizer que couro ruim não dá selim bom.
Esta
introdução nos leva a refletir sobre uma passagem das Escrituras que afirma:
“tudo tem seu tempo determinado”.
Tudo tem o seu tempo determinado,
há tempo para todo propósito debaixo do céu: há tempo de nascer e tempo de
morrer. (Ec 3:1-2)
Quem
escreveu este texto não era um homem qualquer. Era um homem muito sábio.
Discussões à parte se foi Salomão ou outro autor quem escreveu, o fato é que
quem escreveu este texto era alguém tremendamente sábio porque foi inspirado
pelo próprio Deus para nos instruir com estas sábias palavras. É evidente que o
sábio não estava pensando diretamente na situação descrita antes da citação do
verso bíblico, ou naquilo que pretendo abordar em seguida, mas há uma
referência clara à duração da vida humana, e o que fazemos durante este período
que Deus nos dá. Há tempo para todo tipo de atividade, como trabalho, lazer,
devoção, família, descanso e muitas outras coisas. Só precisamos aprender a dar
tempo para todo propósito debaixo do céu.
Podemos
entender que para todo o propósito que se estabeleça durante a nossa vida, há
tempo para eles nascerem, e há tempo para eles se desenvolverem, e até se completarem, ou seja, quando começamos a perseguir e realizar o
propósito estabelecido, seja um projeto, uma etapa na vida escolar, uma
carreira profissional tudo se desenvolverá no seu devido tempo.
Estamos em um novo tempo ministerial. Tudo isso tem um tempo de começar, ou recomeçar, ou de nascer - e renascer. Este é o nosso tempo.
Estamos em um novo tempo ministerial. Tudo isso tem um tempo de começar, ou recomeçar, ou de nascer - e renascer. Este é o nosso tempo.
É
tempo de nascer. E nascimentos requerem tempo de gestação, de maturação.
Antecipar e apressar um nascimento pode gerar muitas deficiências, e algumas
delas podem ser insanáveis, como no processo de restauração eclesiástica
anteriormente citado – fenômeno que pode ser verificado, também, em inúmeros
casos de crianças nascidas prematuras. Quanto mais pressa, menos prontas elas
estão.
Não
é fácil conhecer e reconhecer o tempo de Deus. Não é fácil reconhecer dons e
talentos, vê-los desabrochar no serviço do Senhor e esperar que eles maturem
até que chegue o momento da colheita. Somos quase sempre muito apressados, imaginamos
que temos pouco tempo (70 ou 80), e queremos agir como os trabalhadores
retratados por Jesus na parábola da semente:
Ele, porém, lhes respondeu: Um
inimigo fez isso. Mas os servos lhe perguntaram: Queres que vamos e arranquemos
o joio? Não! Replicou ele, para que, ao separar o joio, não arranqueis também
com ele o trigo. Deixai-os crescer juntos até à colheita, e, no tempo da
colheita, direi aos ceifeiros: ajuntai primeiro o joio, atai-o em feixes para
ser queimado; mas o trigo, recolhei-o no meu celeiro (Mt 13:28-30).
A
pressa prejudica a colheita, machuca a plantação e se traduz em menos frutos.
Colher frutas antes do tempo não fará com que elas amadureçam mais rapidamente,
e sim deficientemente, murchas e sem vigor. Tudo tem seu tempo.
Mas
talvez você insista: temos pouco tempo. A resposta é não. Nós não temos pouco
tempo. Temos todo o tempo que o
Senhor nosso Deus nos deu. Temos a vida inteira pela frente. Se não temos todo
o tempo do mundo, temos todo o tempo no mundo.
Ninguém
vem ou vai desta existência antes do tempo. Todos os nossos dias estão certos e
determinados (Jó 14:5 - Visto que os
seus dias estão contados, contigo está o número dos seus meses; tu ao homem
puseste limites além dos quais não passará).
O
que precisamos aprender a fazer é remir o tempo (Ef 5.16), aproveitar bem as oportunidades (Cl 4:5) e não desperdiçá-lo com
cochilos improdutivos (Pv 6:9-11).
Anos atrás fiz uma prova de redação para um vestibular que tinha como tema uma frase de uma canção de Almir Sater (Tocando em
frente), que dizia: “Ando devagar porque já tive pressa, e levo esse sorriso
porque já chorei demais. Hoje me sinto mais forte mais feliz, quem sabe? Só
levo a certeza de que muito pouco sei ou nada sei”.
Sim,
a música é fortemente existencialista, nada fala de Deus (e aqui talvez caiba
uma outra discussão, à qual poderemos retornar em ocasião oportuna: pode o
cristão ouvir música não cristã?) mas a própria Escritura nos diz que nada
sabemos sobre o amanhã, e quem diz isto é Tiago e não o escritor do Eclesiastes,
acusado por muitos de ser um depressivo existencialista em fim de vida (Tg 4:14).
Resta-nos,
então, como cristãos, viver um delicioso paradoxo: correr com perseverança a
carreira que nos está proposta (Hb 12:1) sem
tirar os olhos do alvo que nos foi proposto (Hb 12:2) com a
certeza que completaremos a carreira (2Tm
4:7),
atingiremos o alvo (Fp 3:14) e
receberemos a coroa da vitória das mãos do supremo juiz (2Tm 4:8). Entretanto, enquanto corremos, esperamos (Sl 27:14) e nos
aquietamos sem abatimentos (Sl 42:5) e
descansamos no Senhor (Sl 37:7)
fazendo o bem (Sl 37.3).
Talvez
outros obtenham resultados mais rapidamente. Talvez você veja coisas estranhas
às Escrituras acontecendo e outros prosperando. Isto não é incomum de acontecer
(Sl 73:2-3) e
talvez você se sinta espiritualmente frustrado tentado a fazer as mesmas coisas
para ver se dá certo (Sl 73:13). Cuidado, a maior vitória que um ímpio pode ter não é tirar a vida de um justo, mas torná-lo semelhante a si mesmo nos pensamentos, escolhas e práticas. Mas... espera em Deus.
Pode
ser também que justos prosperem. Pode ser que em algum lugar o trabalho de
alguém que é fiel ao Senhor esteja indo bem. É a bênção do Senhor. É o tempo do
Senhor. E, enquanto isto...
Enquanto
isto, trabalhemos perseverantemente, fazendo o que o Senhor nos tem confiado às
mãos para fazer, na certeza de que devemos semear diligentemente até que chegue
o tempo da colheita (Gl 6:9),
o tempo de Deus.
Leia o próximo artigo: IMEDIATISMO E SEU FILHO PRAGMATISMO
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