Desde a expulsão do primeiro casal do Éden a insatisfação é um experiência absolutamente comum a toda a humanidade. Não há ninguém que esteja plenamente satisfeito, e isto tem, na vida de cada um, resultados diferentes.
É por causa da insatisfação que alguns trabalham mais que os outros, empreendem, inventam, progridem e provocam progresso. O que satisfaria a alguns não é suficiente para a sede de outros - e por isso conhecemos pessoas que, mesmo tendo o suficiente para umas 10 vidas ainda assim trabalham duramente para manter o que tem e conquistar ainda mais. Sim, a insatisfação é uma causa de progresso e fortuna.
Mas a insatisfação também pode causar um efeito inverso. Pode levar à frustração, à lamúria, à reclamação constante contra tudo e contra todos, contra o sistema, contra o mundo, contra o universo e contra o próprio Deus. No auge da insatisfação, ao invés do progresso, há aqueles que acabam atentando contra o seu próprio bem estar, contra o bem estar de seus semelhantes e até mesmo contra a sua própria vida.
Há muitos insatisfeitos ao nosso redor. Gente insatisfeita com o emprego [talvez seja melhor ficar sem emprego, não acha? É só procurar o patrão e informar que não vai mais trabalhar]. Há gente insatisfeita com os pais [talvez seja melhor visita-los num túmulo do que obedecer-lhes agora]. Há gente insatisfeito com os filhos [um dia eles irão embora, e talvez você se lamente por não ter agradecido mais a Deus pela dádiva que ele lhe deu, afinal, são herança do Senhor e galardão dos céus na terra]. Talvez você esteja insatisfeito com seu cônjuge - quem sabe você se divertiria bastante organizando seu funeral.
Há gente insatisfeito com a Igreja - com o pastor, ou com os presbíteros, ou com os diáconos, com as lideranças das sociedades, ou com a comunidade. Muitos insatisfeitos parte, outros ficam com o coração dorido, cheio de mágoas e ressentimentos. Há quem esteja insatisfeito com a reuniões de oração - mas talvez nem ore para que ela melhore. Talvez a insatisfação seja com os cultos doutrinários - mas quanto de bíblia tem sido estudado diariamente? Olha, não faltará motivos para insatisfação. Mas é este mesmo o problema? Os motivos? Ou é algo muito mais íntimo, muito mais pessoal, muito mais profundo?
Lembre-se: quando você está insatisfeito com o que tem, significa que você está insatisfeito com as coisas que Deus tem lhe dado - e se esta insatisfação leva à murmuração, então, o que você carrega no coração é um grande e terrível pecado, exatamente como os hebreus ao saírem do Egito e ficarem reclamando por que lá tinham cebolas e alhos.
A bíblia nos traz preciosas lições sobre a insatisfação - e isto na vida de um mesmo personagem, o apóstolo Paulo. A primeira lição que Paulo nos dá a respeito da insatisfação é que ela não é legítima se ocasionar ansiedade. O ensino do Senhor Jesus é que o Senhor nosso Deus conhece cada uma das nossas necessidades - e suprirá cada uma delas através de instrumentos que ele mesmo disporá [e o trabalho é um destes preciosos instrumentos que o sem dá aos justos]. O apostolo citado anteriormente afirma que tendo o que comer, beber e vestir devemos estar satisfeitos. A ansiedade por busca de realização ao acumular tesouros é um terrível erro e demonstra falta de maturidade na fé, falta de confiança em Deus [o mesmo Deus que pode dar riquezas em abundância aos seus servos - observe que não é a prosperidade que consideramos um problema, mas a busca por significado, auto realização através da posse de riquezas].
Se você está ansioso por estas coisas, se sua insatisfação é causada por coisas que pertencem a este mundo, sejam materiais ou emocionais, você está terrivelmente equivocado e nada vai suprir esta sensação. Você vai passar o resto da vida murmurando por não conseguir guardar o vento atrás do qual tem corrido com tanto empenho.
Há outra insatisfação percebida na vida do apostolo Paulo. Apesar de ter alcançado um grau de intimidade e comunhão com Deus muito superior à maioria dos crentes, Paulo não estava satisfeito. Ele queria ver e ouvir mais das coisas que Deus preparou para os que o temem, queria ver face a face e não por espelho e, por isso, ele afirma que prosseguia, que continuava indo adiante, que não olhava para trás porque diante dele estava o alvo da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus.
Sua insatisfação significava mais de Deus. Quando todos se contentam com um evento extraordinário Paulo, que tivera visões inenarráveis, prosseguia. Ele queria mais. Ele estava insatisfeito - não com Deus, mas por não ter de Deus tudo o que desejava. O que fazer com sua insatisfação?
Transforme sua insatisfação em uma força motivadora. Se você está insatisfeito com a sua Igreja, e se ela ainda é uma Igreja fiel à Palavra de Deus, seja, então, o instrumento de satisfação das necessidades da sua Igreja. Se ela ora pouco, ore mais. Se ela evangeliza pouco, evangelize mais. Se ela não recebe bem, seja você o hospitaleiro. Mas não fique murmurando num canto. Seja você a Igreja que você quer que a Igreja seja.