quinta-feira, 27 de abril de 2017

A IGREJA MANTÉM SUA IDENTIDADE E DESEMPENHA SUA MISSÃO QUANDO POSSUI A HUMILDADE COMO FRUTO DO ESPÍRITO

O Senhor deu, à Igreja, estratégias claras e precisas para desempenhar sua missão. Dentre estas estratégias está o conhecimento de quem é, de fato, seu inimigo. Embora carne e sangue sejam instrumentos de oposição contra a Igreja do Senhor, que, afinal, é uma instituição no mundo mas não do mundo, o verdadeiro inimigo é espiritual. E é nas regiões celestiais, com armas não carnais, que a Igreja vence porque Cristo venceu por ela. Enquanto o inimigo arma-se de todo tipo de instrumento a principal arma da Igreja é a espada do Espírito, a Palavra da verdade, mais cortante que espada de dois gumes e com poder de separar o que parece inseparável (Hb 4:12).
Todavia, deixar-se orientar nem sempre é fácil. O homem tem a tendência, desde a primeira transgressão, de desejar autonomia, tem o desejo de ser senhor do seu destino, tomar as rédeas de sua vida na sua mão e traçar o seu destino. Ledo engano. Mas é assim que pensa, é assim que age, é isso o que deseja. Provavelmente uma das palavras mais odiadas da Bíblia seja “sujeição” ou “submissão”. Homens não querem sujeitar-se a ninguém, mulheres não querem ser submissas a ninguém. Filhos não querem ser obedientes a ninguém. Crentes não querem ser obedientes a ninguém. Opa! Como assim, crentes não querem ser obedientes a ninguém? Será que estamos nos esquecendo que rebelião é como feitiçaria e a obstinação na rebelião é tão maligna quanto a idolatria (I Sm 15:23), como Samuel falou claramente a Saul, mesmo Saul achando que tinha obedecido ao Senhor (I Sm 15:20) mas relaxado só um pouquinho para agradar o povo e quem sabe a Deus (I Sm 15:21)?
Encontramos numerosos exemplos de humildade nas Escrituras. Obviamente que o maior modelo que podemos encontrar é o próprio Senhor Jesus que nos encoraja a aprender dele (Mt 11:29), e, para quem esquece ser ele semelhante a nós, diferente apenas no fato de não ser pecador e não praticar pecados (Hb 4:15) podemos apontar vários outros homens de Deus que se destacaram por sua mansidão, por se deixarem, humildemente, conduzirem, como Moisés (Nm 12:3). Muitos dos problemas que a Igreja enfrenta em seu desafio de ser Igreja e ser comunidade de salvos é o fato de que a humildade cedeu lugar ao orgulho, à arrogância, e por causa disso surgem rixas e pelejas no seio da Igreja. E certamente isso não é motivo de alegria para o boníssimo coração de Deus. Vejamos o que o apóstolo Tiago tem a nos ensinar a respeito deste importante assunto:
6 Antes, maior graça. Portanto, diz: Deus resiste aos soberbos, dá, porém, graça aos humildes.
7 Sujeitai-vos, pois, a Deus; resisti ao diabo, e ele fugirá de vós.
8 Chegai-vos a Deus, e ele se chegará a vós. Limpai as mãos, pecadores; e, vós de duplo ânimo, purificai o coração.
9 Senti as vossas misérias, e lamentai, e chorai; converta-se o vosso riso em pranto, e o vosso gozo, em tristeza.
10 Humilhai-vos perante o Senhor, e ele vos exaltará.
Tg 4.6-10
O texto fala de humilhar-se – e esta é uma virtude que não parece ter muito status entre os homens a ponto de seu significado ser pouco conhecido, sendo basicamente “ter consciência das próprias imperfeições e limitações”, porém, nosso padrão para determinar o que e imperfeição e limitação não é a natureza humana, mas aquele que estabeleceu um padrão ao qual estamos sujeitos (Rm 3:23). Humildade não é ser acomodado ao sofrimento, não é passividade nem covardia. Ninguém ousaria chamar Moisés, ou Jesus, de covardes – embora neles tenhamos excelente exemplo de humildade.
Quais os benefícios que a Igreja pode receber do Senhor quando se humilha sob a sua poderosa mão?

I.                   O QUE É HUMILDADE DO PONTO DE VISTA DE DEUS

6 Antes, maior graça. Portanto, diz: Deus resiste aos soberbos, dá, porém, graça aos humildes.
Há uma historieta a respeito de um sábio de uma nacionalidade qualquer (o que importa aqui não é a filosofia, a religião ou a nacionalidade, mas o ensino) que foi procurado por um de seus alunos que, arrogantemente, lhe dizia estar progredindo rapidamente no caminho da sabedoria, dizendo: - Mestre, eu vou conseguir primeiro que todos os outros alunos teus. Estou me tornando muito humilde. Tenho dormido no chão, tomo apenas água e me alimento apenas de verduras. O sábio logo percebeu a arrogância que buscava exaltação e lhe disse em tom amistoso, mas firme: - Não fazes nada além do que os nossos cavalos fazem, e nem por isso eles são sábios. Você deve aprender a dominar os anseios mais profundos do seu coração, aprender a expulsar dele a arrogância e o desejo de ser exaltado, enchê-lo de humildade e assim darás o primeiro passo no caminho da sabedoria. Como você acha que aquele aluno recebeu aquela reprimenda? Como você reagiria a uma exortação como essa? Provavelmente a maneira como você reage mostrará o que você entende por humildade (Pv 9:8).
Permita-lhe lembrar-me uma segunda historieta, que ouvi há mais de 20 anos e não sei se é verdadeira ou não, mas que é ilustrativa: conta-se que um pastor, depois de muitos anos servindo a uma igreja, recebeu um presente do conselho da Igreja: um lindo quadro, ricamente emoldurado, no qual realçavam sua grande humildade no trato com a Igreja ao longo dos anos. Alguns dias depois, o conselho foi até o gabinete do pastor e perceberam o quadro afixado logo atrás da sua mesa. Insatisfeitos com aquela “demonstração de orgulho da sua humildade”, solicitaram o quadro de volta. O que você pensaria da atitude do pastor? E do conselho?
Tiago afirma que humilde é aquele que é feito habitação do Espírito, isto é, aquele que é habitado pelo Espírito (Tg 4:5) e não é cobiçoso das coisas do mundo (Tg 4:2-3). A palavra que Tiago usa (ταπεινος) pode ser usada tanto com o sentido de “aquele que não se exalta, que não se levanta muito do chão” numa referência ao ato de manter-se abaixado diante de reis orientais como, negativamente, aquele que se comporta de forma humilhante, depressiva, submetendo-se a uma indigna servidão.
Mas Tiago está usando a palavra em seu sentido positivo, de reverência e submissão diante de Deus, que jamais é uma indigna servidão. Israel sempre foi humilhado quando não foi humilde (Sl 107:39) mesmo quando achava que estava sendo, no que podemos considerar uma falsa humildade, isto é, uma humildade fingida, calculada visando a obtenção de recompensas ou privilégios, como no caso dos hebreus que faziam tudo certinho, faziam cerimônias com gestos estudados e maquinalmente aprendidos mas com o coração em outras coisas (Ml 3:14).
Este tipo de atitude não é nada espiritual, é egocêntrica, é centrada no homem, nas recompensas que o homem pode dar ou receber e não tem nada de agradável ao Senhor (Mt 6:16).

II.                O CONTRÁRIO DA HUMILDADE – AFASTAMENTO DE DEUS

Ao contrário da humildade, a soberba é uma atitude de autossuficiência que, num efeito teflon, acaba afastando o homem de Deus porque seus intentos são apenas tudo fazer para sua própria glória e reconhecimento de suas habilidades pelos homens (Cl 3:23) e isto não é considerado reto por Deus (Hb 2:4). A soberba foi a causa da queda do rei de Tiro (Is 44.11-15), o homem que muitos insistem em identificar equivocadamente com Satanás (Is 44.16) embora guarde com satanás semelhanças como a de querer ser adorado como se fora Deus – satanás chega ao absurdo de tentar obter a adoração do próprio Filho de Deus (Mt 4:9).
Ao invés da graça de Deus (Pv 15:33) o que o soberbo inevitavelmente receberá é a sua própria destruição, pois a Palavra de Deus ensina que a soberba precede a ruína (Pv 16:18) como aconteceu com o poderoso e orgulhoso Nabucodonosor (Dn 4:29-33).
O poderoso rei Nabucodonosor não é o único caso de soberbo que é derribado. Isto também aconteceu com o insensato Nabal, marido de Abigail (I Sm 25:10) que logo depois morreria em sua estultícia, provavelmente de um derrame (I Sm 25.37-38). Tal também foi o caso de Saul, que, pretensiosamente, deixou de obedecer a Deus e fez a sua própria vontade (I Sm 15:22) e também aconteceu com o arrogante Herodes (At 12.21).
A humildade evita estas desgraças, porque ela aproxima o homem de Deus, aproxima o servo do Senhor, aproxima o pecador do salvador. Não deixe seu coração ser tomado pela soberba – ela precede a ruina, mas lembre-se que Deus concede graça ao humilde.

III.             A RECOMPENSA DA VERDADEIRA HUMILDADE

Enquanto a soberba só traz destruição e humilhação (Pv 29:23) a humildade goza do favor de Deus. Não sejamos tolos imaginando que, aparentando humildade, possamos “atrair a graça de Deus” – graça é favor, não é comprada nem merecida. Não dá para ser bíblico e, ao mesmo tempo, cantar “Encontra em mim, Óh! Deus, algo de valor, quero atrair tua presença”...
Não é possível enganar a Deus. Às vezes as pessoas confundem temperamento, jeito de ser, tanto com humildade quanto como arrogância – e podemos nos enganar pois não vemos como Deus vê. Deus sabe quando é apenas aparência de humildade e quando a humildade é um fruto da ação do Espírito, afinal, é ele mesmo que dá ou é apenas uma ação humana, um pretexto para se sobressair aos seus semelhantes (Cl 2:18) mas que, no final, não tem valor algum, não produz santidade, não vence o pecado e tampouco glorifica a Deus (Cl 2:23).
Enquanto a falsa humildade recebe recompensa dos homens, seja qual for a máscara que use, como esmolas, orações longas, jejuns, vestuário e até dízimos escrupulosamente calculados – o princípio é o mesmo para qualquer destas práticas: se não há verdadeira humildade qualquer recompensa recebida dentre os homens já foi grande demais (Mt 6:5), mas, ao mesmo tempo, por maiores que sejam, são apenas coisas passageiras deste mundo (I Jo 2:17).
Todavia, não é assim com a verdadeira humildade – Deus abençoa grandemente àqueles que se achegam a ele com integridade, e lhes dá graça e auxílio em toda e qualquer situação de suas vidas (Hb 4:16). Esta é uma grandiosa promessa de Deus – de dar-nos atenção do seu trono de graça. Os homens podem até amar mais ouro e prata, mas, por mais que tenha ouro e prata a graça do Senhor é muito mais valiosa, é muito melhor do que todos os tesouros do mundo. Quando, angustiado, Paulo orava ao Senhor pedindo-lhe livramento do “espinho na carne”, seja lá o que isto era, o Senhor lhe respondia que ele já tinha o suficiente, tinha a Sua graça (II Co 12:9).
Vamos apresentar apenas três exemplos do que estamos afirmando. Ao ser informado de que deveria colocar em ordem a sua casa porque logo morreria (II Rs 20:1), o rei Ezequias orou ao Senhor humildemente e o Senhor restaurou sua saúde dando-lhe ainda 15 anos de vida e não apenas isso, mas livramento dos seus inimigos (II Rs 20:5).
A graça de Deus é tão impressionantemente demonstrada diante de um ato de verdadeira humilhação que até mesmo o mais ímpio dos reis que houve em Israel, Acabe, obteve favor do Senhor (I Rs 21:29).
O terceiro exemplo é o do “combate de humildade” entre o fariseu e o publicano. O fariseu coloca-se diante de Deus e, com uma oração muito bem elaborada “agradece” o fato de ele ser bom – seu Deus era ele mesmo. O publicano, repudiado pelos religiosos, simplesmente se humilha publicamente diante de Deus. Ninguém o queria ali. Os fariseus, saduceus e escribas não os queriam no templo. Mas ele queira estar diante de Deus para fazer uma só coisa: humilhar-se, pedindo misericórdia (Lc 18:13.
Teria Deus mudado para, hoje, abençoar a hipocrisia e a arrogância em detrimento da humildade que ele sempre disse agradá-lo em seus servos? O modelo supremo de humildade, o próprio Senhor Jesus, teria por acaso deixado de ser o modelo? E como fica, então, o chamado para aprendermos dele (Mt 11:29)?

CONCLUSÃO

Pode parecer estranho afirmar que há algumas coisas em comum entre Deus e o diabo. Não se assuste, não estou dizendo que eles são iguais. Não estou defendendo nenhuma forma de equivalência de poderes entre ambos. Deus é Senhor, é soberano, inclusive sobre o diabo, seus anjos e quaisquer ações que eles venham a intentar. Que coisas em comum, então, poderiam ser essas que tanto a luz quanto as trevas possuem?
A primeira coisa que ambos demonstram querer é alguma forma de proximidade com o ser humano (]. Desde o Éden é assim. O diabo vem falar com os seres humanos (Gn 3:1) e Deus também se aproxima dele para alguma forma de adoração e diálogo (Gn 3:8). Assim como o diabo é o deus deste século, o príncipe do mundo e tem o costume de andar pelo mundo observando o que fazem os filhos dos homens (Jó 1:7) com o intuito de acusá-los (Ap 12:10) ou destruí-los com seus dardos malignos (Ef 6:16) e armadilhas (Ef 6:11) sendo comparado a um leão à espreita (I Pe 5:8) também entendemos pelas Escrituras que Deus é o Senhor do universo, o Deus presente (Ez 36:9) e não um ser ausente como querem muitos materialistas evolucionistas que não abrem mão de atribuírem a si mesmos o apelido de cristãos daí obtendo alguma forma de conforto espiritual. Deus não é o Deus distante (Is 57:15) nem se mantém desconhecido (At 17:23) embora o defeito que impeça os homens de vê-lo está em si mesmos, e não em Deus (Rm 1:20).
A segunda coisa em comum é que tanto o diabo quanto Deus desejam exercer o senhorio sobre sua vida. O diabo quer escravizá-lo, mantendo você como escravo de um império de trevas tendo como única recompensa a morte e o inferno. Ele não pode te dar outra coisa porque ele só pode te dar o que ele tem, e a herança dele é o inferno que foi preparado para ele, para seus anjos e seus servos (Mt 25:41). Ele não pode te dar nada diferente disso porque é só o que ele tem – e no fim os que permanecerem seus servos terão sobre si a permanência da ira de Deus (Jo 3:36) e, com seu senhor, terão toda a eternidade para lamentar (Lc 13:28). Por outro lado a Escritura também afirma que Deus quer o senhorio sobre a vida de pecadores que ele comprou com o precioso sangue de Jesus Cristo (I Co 6:20) não devendo ser escravos de ninguém, se não de homens, menos ainda de satanás (I Co 7:23). Diferente do senhorio satânico, o senhorio de Jesus é suave, é um fardo leve (Mt 11:28-30) e a recompensa é a vida eterna na presença do Senhor que não permitirá que tenhas mais qualquer motivo de choro (Ap 21:4).
Sim, o diabo quer proximidade, mas é a proximidade de um ladrão, assassino, destruidor. É a proximidade de um estelionatário que vai lhe prometer luzes, brilhos, prazeres e euforia e, como um traficante, vai te dar porções cada vez mais inebriantes para te fazer cada vez mais escravo até que você não seja mais do que um trapo e morra a seu serviço. Sim, Deus quer proximidade, mas a proximidade de um amigo, um pai, um irmão, de um salvador que está disposto a ser rasgado por uma lança, pregado em uma cruz para que você tenha acesso livre a Deus (Hb 4:16) porque ninguém pode chegar até o Pai se não for por ele (Jo 14:6).
Então, qual a diferença? O diabo é invasivo e Deus espera seu convite? Isso é uma tolice teológica. Desde quando o Senhor, o dono da casa precisa de sua autorização para entrar naquilo que lhe pertence? Ele é o Senhor tanto da casa quanto do servo, e faz com que o servo queira abrir a porta – e para o servo é dia de regozijo e festa. A diferença está no objetivo deste desejo de proximidade e senhorio. A diferença é que enquanto o diabo quer destruir sua vida Deus lhe dá nova vida porque, antes dele te encontrar (Lc 19:10) você estava morto em delitos e pecados (Ef 2:1) e nesta nova vida ele efetua em você o querer e o realizar que lhe capacita a obedecer-lhe. É por causa desta capacitação, é porque ele efetua um novo querer em você que você está, finalmente, habilitado a resistir ao diabo, isto é, a dizer não à sua nefasta proximidade, a não sujeitar-se-lhe numa escravidão que conduz à morte (mesmo que você durante toda a sua vida a tenha desejado por causa dos enganos de satanás – Ef 2:3). Sua nova vontade, sua vontade renascida leva você a sujeitar-se a Deus, a ser mais que vencedor por meio de Jesus Cristo (Rm 8:37), a achegar-se a Deus como um filho se achega ao pai, como uma criança procura o colo da mãe e nele se aninha após ser desmamada (Sl 131:2).
Não é o que você fez a vida toda que é realmente importante agora – mas o que você vai fazer agora, ou à partir de agora, que define a sua eternidade. A ordem do Senhor é sujeitai-lhe sua vontade para que você possa resistir ao diabo e ele fique longe e você – e você sinta, então, o quão perto Deus tem estado de você, porque nem ele nem sua vontade estão longe (Rm 10:8) embora o pecador sempre queira o máximo de distância dele (Is 59:2).
Escravo do diabo ou servo do Senhor? Morto em delitos e pecados ou vivo para Deus (Rm 6:11)? É a maneira prática que você responde a estas indagações que demonstra, que evidencia o que você efetivamente é: servo de Deus ou escravo do diabo? De quem você quer ficar próximo? Não caia na tolice de achar que, ficando próximo do diabo aqui, vai poder passar a eternidade próximo de Deus.


quinta-feira, 20 de abril de 2017

JOGOS MORTAIS

Nos últimos dias tomei conhecimento de duas “novidades”. Duas brincadeiras que de inocentes não tem nada, embora direcionadas para crianças e adolescentes. É provável que a maioria dos leitores já tenham ouvido falar do desafio da baleia azul. E é provável que poucos tenham conhecimento da tal “fadinha de fogo”.
Ambas as “brincadeiras” requerem grande atenção dos pais em relação ao comportamento de seus filhos, que podem se tornar cada vez mais bizarros até que chegue a uma tragédia. 
O primeiro, o desafio da Baleia Azul, que é na verdade um pacto de suicídio, é a participação em grupos (WhatsApp, facebook, etc.) onde um “curador” lança desafios para os participantes realizarem tarefas como assistir filmes psicodélicos, vencer medos, se cortar e, ao cumpri-los, postar nos grupos até que chegue ao 50º desafio: o suicídio. Já há diversos casos registrados no Brasil e, lamentavelmente, um aqui em Xinguara. As principais vítimas são adolescentes de famílias desestruturadas em busca de auto-afirmação e que, por isso, se tornam altamente competitivos estando dispostos a fazer qualquer coisa para não serem “passados para trás”.
O segundo, o “jogo da fadinha de fogo”, consiste em conseguir acesso a crianças suscetíveis a histórias de contos de fadas, induzindo-as a, quando estiverem sozinhas ou quando todos estiverem dormindo abrirem todos os registros de um fogão e voltarem para seus quartos porque assim, em um determinado momento, aspirariam os aromas do mundo das fadas. O resultado, já confirmado, é de acidentes com pessoas queimadas e intoxicadas.
O que há em comum entre estes dois perigos? Excesso de exposição de crianças e adolescentes e manipuladores inescrupulosos que se aproveitam, em muitos casos, de famílias desestruturadas e pais ausentes.
Em tempo - a baleia azul não tem culpa alguma - as que ainda restam estão tranquilamente nadando nos mares que os homens estão entupindo de lixo. O problema não é o animal - poderia ser qualquer outro. O problema é comportamental, é de desarmonia e desestrutura familiar, de esgarçamento do tecido social.Não, o problema não é, exclusivamente, os jogos (embora devamos, sim, ficar alertas quanto a tais tipos de brincadeiras macabras), não adianta problematizar apenas o jogo, sendo que o problema está nas razões que leva alguém a decidir jogar, ou melhor, o problema está nas pessoas que, desorientadas, deprimidas ou desajustadas na família, na Igreja e na sociedade, escolhem brincar com a morte.
Não quero apresentar lições sobre isto, não agora. Apenas advertir os pais para que observem se comportamentos estranhos, sumiços não explicados, ferimentos e machucados sem razão ou explicação começam repentinamente a acontecer e se repetirem com seus filhos. Quero apenas que os pais se tornem atentos para seus filhos, mesmo em idade ainda bastante tenra.
Do coração do pastor

domingo, 16 de abril de 2017

A ESPERANÇA NÃO MORRE NA CRUZ

QUANDO UM PATÍBULO SE TORNA PALCO DE UMA IMORRÍVEL ESPERANÇA
Imagine que você tenha a oportunidade de escolher entre duas notícias com consequências fundamentais para sua vida. Imagine que você foi chamado a um luxuoso escritório e fosse convidado a sentar-se em uma confortável poltrona com dois envelopes à sua frente. Nele, duas propostas, duas notícias das quais você poderá escolher apenas uma.
Imagine que a primeira notícia é: você acabou de receber R$ 1.000.000.000,00 (um bilhão de reais) para fazer com ele o que quiser. Você ficaria absolutamente livre de tudo o que te incomoda, de tudo o que tira sua paz, de tudo o que você não gosta. Seja lá o que você não goste, você ficaria livre no exato momento em que concordasse com os termos da doação. Pode comprar casa, comida, carro, fazenda, avião, viajar... Pode fazer o que quiser, com quem quiser, onde quiser... Mas... Junto com esta maravilhosa notícia vem as condições: você teria 24h para usufruir como quisesse. Após este período você morreria e não poderia deixar nada para seus herdeiros.
Agora, imagine a segunda notícia. Você poderia escolher continuar com sua casa e as goteiras que existem nela... Com a dificuldade normal de escolher entre o que adquirir porque o dinheiro não é suficiente para tudo. Com seu emprego enfadonho e o chefe insuportável e colegas desagradáveis... Com sua família e os esforços diários para caminharem apesar da personalidade de cada um. Sem as festas que muitos frequentam. Sem o glamour que muitos usufruem. Sem as viagens paradisíacas que muitos fazem e retornam contando histórias de lugares maravilhosos.
Qual das duas propostas você escolheria? 24h sem nenhum problema e nenhum futuro, ou a vida inteira, com suas lutas constantes e pequenas mas sinceras alegrias?
Vamos aprender uma preciosa lição a este respeito, isto é, sobre como fazer as escolhas que realmente são essenciais, num trecho da Palavra de Deus que apenas o evangelista Lucas registra: o ladrão que, na cruz, pede a Jesus que se lembre dele quando vier no seu reino. Vejamos o que o evangelista registrou para nossa edificação (Lc 23.39-43).

39 Um dos malfeitores crucificados blasfemava contra ele, dizendo: Não és tu o Cristo? Salva-te a ti mesmo e a nós também.
40 Respondendo-lhe, porém, o outro, repreendeu-o dizendo: Nem ao menos temes a Deus, estando sob igual sentença?
41 Nós, na verdade, com justiça, porque recebemos o castigo que os nossos atos merecem; mas este nenhum mal fez.
42 E acrescentou: Jesus, lembra-te de mim quando vieres no teu reino.
43 Jesus lhe respondeu: Em verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso.

O fato de somente Lucas ter registrado este evento, o pedido do ladrão e as palavras de Jesus facilita nosso estudo por não termos outros textos paralelos, mas, ao mesmo tempo, deixa sem resposta uma pergunta: porque Mateus não registrou que, após zombar de Jesus junto com o seu companheiro de infortúnio, percebeu a justiça que estava sendo feita com eles mas também se deu conta da grande injustiça praticada contra Jesus? Porque só Lucas? Não temos esta resposta, mas o fato é que os evangelhos se completam e nos fornecem o quadro mais perfeito possível da humanidade. Ali, no calvário, temos um registro perfeito do que é a humanidade.
Temos ali dois homens merecedores da morte. Temos um ímpio impenitente. Temos um pecador confesso e arrependido e conhecemos um salvador solícito. Quero convidar você a esquecer-se de onde você está e o que você é, e fazer um exercício de imaginação e viajar no tempo e no espaço, ir em imaginação àquele dia e local fatídico.
VOCÊ É UM PECADOR - VOCÊ MERECE ESTAR NA CRUZ!
Imagine que você esteja no local da crucificação. Imagine a multidão excitada. Imagine uma multidão composta por milhares de pessoas que não te conheciam. Imagine que estas pessoas não se importam minimamente com a angústia dos condenados. Ouça seus gritos exaltados! Sinta o calor causticante. Sinta um pouco mais o ambiente. Se aprofunde um pouco mais e tente sentir a dor das feridas em suas costas causadas pelo látego e o incômodo dos insetos que não podem ser espantados. Sinta a dor em suas mãos e pés.
Ninguém lhe dá um analgésico... Nenhuma palavra de conforto. Apenas palavrões, xingamentos e dor. E então você reage. Sua formação é a de um pecador. Sua formação, suas companhias constantes eram barulhentas, escarnecedoras, violentas. Bandidos... Imagine que você é um bandido. Sim, um bandido, imagine que é você quem está numa das cruzes. Seu companheiro começa a zombar do tolo que se dizia ser o rei dos judeus. Você o segue em seu mau comportamento, instintivamente começa a agir como ele, começa a zombar do tal de Jesus. Todos faziam isso, porque não você? Pelo menos acusar o outro vai te dar um pouco de distração, embora não resolva a sua situação.
Curiosamente as maiores ofensas não eram para eles, ladrões, salteadores, assassinos - eram para um tal de Jesus de Nazaré. O povo zombava dele, fora o povo que o condenara, gritando para que ele fosse crucificado. As maiores autoridades religiosas do povo zombavam dele, foram eles quem o denunciaram e entregaram às autoridades romanas, numa cooperação inimaginável. As autoridades civis, os soldados, também zombavam dele. Até as autoridades romanas zombaram dele, colocando em sua cabeça uma coroa de espinhos e acima dela uma frase em três idiomas diferentes que dizia: “Este é o rei dos judeus”. E fica surpreso com seu silêncio só rompido, uma única vez, para perdoar os que o maltratavam e insultavam.
Não é algo agradável de se imaginar. O barulho, o calor, o sangue coagulado, o suor ardendo nas feridas, as ofensas, a vergonha, a solidão... E você começa a ter algumas certezas. Sua vida foi um fracasso total... Você queria fortuna, e terminou na cruz. Queria a liberdade de seu país e só conseguiu ser cravado em uma cruz... Você pensa na certeza da morte iminente, na dor causada pelos pregos e pelo peso do seu corpo, cada vez mais fraco... Sinta as vertigens causadas pela circulação sanguínea cada vez mais difícil e a cada segundo só uma certeza vai sobrando: a morte, um desejo cada vez mais forte em um coração cheio de ódio pelos romanos, pelos judeus, por todos, inclusive por aquele que ousou dizer ser o rei dos judeus. Você começa a desejar que sua morte seja rápida... mas sabe que não será.
Ali você percebe que, junto com seu amigo, seu companheiro de infortúnio, representa aquilo que o homem é: pecador, merecedor da morte por causa de seus próprios pecados. E, imagine agora que, num lampejo de consciência, uma duvida começa a tomar seu coração. E se... E se for isso mesmo? E se esse homem for mesmo o que ele diz ser? O que ele fez? Qual o crime que ele cometeu? O próprio Pilatos disse não ver nele crime algum. Até a esposa de Pilatos testemunhou que Jesus era justo. Você conhece o sistema, sabe que é fácil encontrar testemunhas que se vendem para falar qualquer coisa... E então você para de zombar e logo adverte o outro ladrão para deixar Jesus em paz. Você admite que é justo estar ali, mas não aquele justo estar na cruz ao lado.
E você começa a pensar seriamente no que tinha ouvido a respeito daquele estranho profeta, nos últimos três anos sua fama se espalhara... Talvez tenha ouvido outras coisas na prisão até que se pergunta: “E se este tal de Jesus for mesmo quem diz ser”? E se ele puder mesmo perdoar pecados? E se ele puder fazer comigo o mesmo que fez com a mulher surpreendida em adultério? Ou com Lázaro? Será que... E se ele for mesmo um rei especial, rei de um reino que não é deste mundo? Ele disse ser filho de Davi, profeta, messias e até mesmo chamou Deus de seu pai. E se seu reino não for mesmo igual aos outros? E se... Será que ele se compadeceria de um pecador condenado que chegou mesmo a zombar dele instantes antes?
VOCÊ É UM PECADOR QUE NÃO PODE FAZER NADA PARA SE SALVAR
Talvez você então comece a pensar: será que um pedido de um ladrão que não pode fazer nada em contrapartida seria aceito? Da cruz seria impossível oferecer qualquer tipo de sacrifício por sua culpa... Nenhuma oferta pelo pecado... Nenhuma oferenda de gratidão... Na verdade, nem intenção de sacrificar existe mais. O que um incapaz, um semimorto, um condenado poderia fazer para merecer a atenção, perdão e salvação por parte de Jesus? Nada! Eis a única resposta! Nada. N A D A!
Mas você continua pensando... Não pode sair mesmo dali... É sua única esperança... Ele perdoou a adúltera sem contrapartidas... Curou o paralítico e perdoou seus pecados sem receber nada em troca. Mas ali a situação era mais grave. Mas o que ele poderia fazer de bom para convencer Jesus? Você talvez se volte para a multidão procurando alguém que, talvez, pudesse fazer alguma coisa por você, que tivesse acesso a Jesus, que de alguma forma pudesse interceder por você e... Nada... Ninguém... Nenhuma ajudinha - é entre você e Jesus, apenas entre vocês dois.
Você se sente ignorante, impotente, incrivelmente incapaz... Você está como Pedro no momento que afundava no lago e só lhe restava uma coisa a fazer: clamar por ajuda, pedir socorro. E você quer ser socorrido... Você não quer que as coisas terminem daquele jeito. Você já aceitou que não vai descer da cruz, mas... E o reino porvir? Já que não havia mais nada a fazer só lhe restava confiar em Jesus e pedir... O “não” você já tinha. A condenação já estava sobre sua cabeça. O inferno já era seu destino mesmo... Não há mais nada a perder... O jeito era pedir. E pede. Pede a Jesus que, quando vier em seu reino, se lembre de você, ouvindo então a promessa de salvação. Eis aqui o retrato da humanidade - um pecador que precisa de um salvador, um pecador que não procura um salvador, um pecador que se encontra com o salvador no mais inesperado dos lugares. Podia ser outro tipo de criminoso. Ladrão, assassino, mentiroso, rebelde, falsário, tanto faz... Era um ladrão, era um pecador, era você.
Você pede - e ao pedir demonstra que houve uma grande mudança em você. Inicialmente você zombava, dizendo a Ele que, se fosse mesmo o rei dos judeus, descesse do trono e você creria. Agora seu pedido a Jesus é para que ele se lembre de você “quando” vier em seu reino. Não há dúvida em seu pedido. Não é um pedido para que ele se lembre “se” vier mesmo em um reino utópico. Ali há confiança, há certeza, há fé naquele pedido. Uma fé que surge até mesmo quando os discípulos mais próximos de Jesus se sentem desalentados e dispersos - todos fugiram quando o pastor foi ferido, mas você nem fugir podia. Os discípulos queriam assentar-se ao lado de Jesus em seu trono, um à direita e outro à esquerda, mas foi um ladrão que tomou este lugar e, pela fé, no trono da cruz, obteve a salvação de sua alma.
Ali Jesus lhe fez uma promessa maravilhosa - imagine o que você poderia fazer para deixar de ser um pecador merecedor da condenação para ganhar uma promessa tão maravilhosa assim do Senhor Jesus? Imagine a sensação de esperança na eternidade em lugar do desespero da morte certa e inferno inescapável. Sinta o suor queimar-lhe a pele ferida e os ardor nos olhos causado pelo suor agora se misturando com as lágrimas de alegria enquanto uma sensação de frescor e renovo toma conta de seu coração, enquanto a nova vida brota em seu coração e finalmente você entende que “ao Senhor pertence a salvação”.
Sim, na cruz era um ladrão. Na cruz era você. Imagine-se ali. Imagine a dor. Imagine a angústia em saber que a morte era iminente. Agora, meu amado, minha amada, imagine a esperança enchendo o seu coração e expulsando a angústia da morte que se aproxima rapidamente. Mas você ouviu a palavra do Filho de Deus - você ouviu o salvador dizer-lhe que sua história não terminaria ali. A promessa dele é a promessa para os que nele creem - você estaria com ele, no mesmo dia, no paraíso.
VOCÊ É UM PECADOR QUE SOMENTE JESUS PODE SALVAR
Com base em que? Com base em quê um pecador condenado, crucificado, semimorto pode esperar salvação? Com base em quê qualquer pecador pode esperar alguma bênção de Deus estando morto por causa de seus próprios pecados (Ef 2.8)? Com base na superabundante graça de Deus (Rm 5.20).
Com base na vontade soberana de Deus que salva a quem quer salvar e endurece a quem quer endurecer (Rm 9:18). Com base na graça maravilhosa de Jesus. Com base no sacrifício substitutivo de Jesus. Sem base alguma em nada do homem que só contribui com a sua pecaminosidade e desesperada necessidade de salvação.
Sim, as palavras de Jesus garantindo a salvação para todo aquele que nele crê (Jo 6.47) são para o ladrão, para a adúltera, para o religioso perseguidor, como foi o apóstolo Paulo, para o pecador traidor que o negou. Lembre-se que naquele mesma noite dois outros judeus também pecaram contra Jesus. Um o traiu com um beijo, outro negou sua fé. Um morreu enforcado e o peso de seu corpo quebrou o galho da árvore e acabou despedaçado num campo que se tornou um cemitério de indigentes. O outro morreu crucificado - mas antes se arrependeu, foi perdoado, anunciou o salvador para que muitos fossem salvos. Sim, a salvação é para todos os demais pecadores: é, afinal, para mim e para você.
Assim como para aquele pecador na cruz a salvação é um negócio urgente para você também e não pode ser deixada para depois. Jesus diz ao ladrão que ele estaria com ele no paraíso, no seio de Abraão ou na bem aventurança dos santos sob o trono do cordeiro... Não importa como você chame, o fato é que para Jesus a salvação é algo urgente, tão urgente quanto era para aquele ladrão na cruz. E se era para o ladrão, porque não seria para você?
CONCLUSÃO
Naquelas cruzes temos a humanidade perfeitamente representada: temos dois pecadores que merecem a morte! Temos um pecador que continua morto porque não crê em Jesus, que permanece em seus pecados, porque, mesmo tão perto de Jesus, seus pecados ainda faziam separação entre ele e Deus. Naquelas cruzes temos, também, um pecador que se reconhece pecador e obtém a salvação por crer em Jesus.
Mas a humanidade não estaria perfeitamente representada ali se ali não estivesse o homem perfeito, o justo substituindo os injustos (I Pe 3.18).
Do alto da cruz ouvimos a sua voz, a doce voz de um salvador solícito, proclamando que, mesmo onde todos consideravam-no um derrotado no patíbulo proclama salvação que nenhum trono do mundo jamais poderia ou poderá ser capaz de dar.
Toda aquela dor, todo aquele espetáculo foi para salvar pecadores. Talvez você já não se veja mais lá... Talvez já tenha se esquecido de sentir o cheiro, o calor, mas há algo que você não pode se esquecer de ouvir: a voz do salvador dizendo aos que nele creem que estarão com ele no paraíso. Naquela cruz ouvimos a promessa de salvação ao ex ladrão, agora crente. Esta promessa é também para o comerciante desonesto, o funcionário corrupto, o patrão ganancioso, o aluno trapaceiro, o filho rebelde, o esposo violento ou relapso, a esposa insubmissa, o folgado preguiçoso, o amante da mentira, o dono de coração idólatra cheio de amor pelo mundo, o religioso soberbo e contencioso achando que sua religiosidade é que lhe garante a salvação, o hipócrita e toda sorte de pecadores.
Foi por você, foi por mim, foi por todo pecador que crê nele e humildemente clama: “Senhor, salva-me”, porque todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo.
Naquelas palavras que proclamam salvação encontramos eco de outras palavras do salvador que dizem “vinde a mim todos os que estais cansados e sobrecarregados e eu vos aliviarei” (Mt 11.28). Você não sabe quanto tempo você, pecador, tem. Então, vá a Jesus porque Ele diz que todo aquele que vai a ele de modo nenhum será rejeitado (Jo 6.37).

quarta-feira, 12 de abril de 2017

E ELE NÃO SERÁ ESQUECIDO - BREVE REFLEXÃO SOBRE A VERDADEIRA PÁSCOA

Texto para boletim da Igreja Presbiteriana em Xinguara, 09.03.2017
Uma pausa. Uma pequena pausa sobre as nossas reflexões sobre o que fazemos na Igreja para tratarmos do assunto da semana: a páscoa. Primeiro, quero demonstrar meu estranhamento para o que tenho visto: muitos cristãos, conhecedores das Escrituras, maduros, pedindo para receberem “ovos de páscoa”, ou, pior ainda, comercializando-os como se não soubéssemos que:
1. Coelho, chocolate e ovos enfeitados não tem nenhuma relação com a verdadeira páscoa;
2. Os chocolates em forma de ovos custam até 10 vezes mais do que a mesma quantidade de chocolate em barra;
3. Por trás da montanha de “ovos de páscoa” há uma indústria que quer ganhar dinheiro, muito dinheiro, e uma cosmovisão que rejeita o sacrifício vicário de Cristo.
E, por favor, não venham me dizer a frase mais odiosa quando se trata de demonstrar desinteresse e insubmissão à revelação de Deus: “Nada a ver”. O Deus deste século, que cegou o entendimento de muitos (II Co 4.4) aceita ser adorado de muitas maneiras, até mesmo sendo inserido em uma celebração onde a sua derrota foi mais que fragorosa, foi total e definitiva, onde teve a sua cabeça esmagada e o seu poder de morte foi ferido de morte (I Co 15.54). Não me admiro que os mercados, que os desavisados e não instruídos aceitem uma páscoa sem o Cordeiro de Deus. Até acho normal que nossas crianças aceitem pensar no coelhinho como parte da páscoa devido a intensa informação encontrada na TV, internet e nas escolas.
Mas é inadmissível que crentes maduros se deixem contaminar por tal fermento. Crentes maduros que, devido ao tempo de caminhada cristã já deveriam ser mestres precisam ser ensinados, ensinados e ensinados sobre as mesmas coisas. Em situação assim o apóstolo Paulo chega à beira do desânimo em sua tarefa de ensinar a Igreja (Gl 4.11). A Igreja do Senhor tem a obrigação de ser, antes de mais nada, Igreja do Senhor - sua mensagem é eterna e ela ainda tem a obrigação de contar a velha história, a mesma história: a história de Cristo, o Filho de Deus que se fez carne e entregou-se a si mesmo para resgatar pecadores. Na páscoa de Cristo não tem lugar para chocolate, nem para ovo enfeitado, e muito menos para coelhinho.
Na páscoa tem lugar apenas para Cristo, o Senhor, entronizado nos corações dos crentes e no alto e sublime trono nos céus. Aconteça o que acontecer, mesmo que o mundo inteiro queira substituir o Cristo de Deus por coelhos, ovos e chocolates, o cristão tem que continuar proclamando a Cristo, porque ele não será esquecido.
Do coração do pastor

terça-feira, 4 de abril de 2017

A IGREJA MANTÉM SUA IDENTIDADE E DESEMPENHA SUA MISSÃO QUANDO USA OS INSTRUMENTOS QUE DEUS LHE DÁ PARA SE OPOR AO MAL

Em nossas mensagens anteriores vimos que a Igreja mantém sua identidade e desempenha sua missão quando possui autoconhecimento, uma fé operosa e um estilo de vida comprometido com o reino de Deus, quando ela vive sob a orientação da Palavra de Deus e tem uma vida consagrada ao serviço do seu Senhor, quando ela está focada e prioriza o reino de Deus e está disposta a obedecer ao seu Senhor sendo capacitada para isso pelo Espírito Santo.
O que significa usar os instrumentos que Deus deu à Igreja para opor-se ao mal. Será que isto significa aderir ao que, há algum tempo surgiu no seio da Igreja e cujo movimento foi chamado batalha espiritual no qual os crentes passaram a denominar-se de guerreiros, alguns dando-se patentes como capitão, general e coisas parecidas. E foi um tal de mapear território, achar tronos de satanás, sair marchando pelas cidades declarando que elas pertencem ao Senhor Jesus. Ao final de mais de três décadas as coisas continuam mais ou menos como eram.
Não podemos fugir a uma verdade – a bíblia fala de conflitos, como, por exemplo, da carne contra o Espírito (Gl 5:17), compara os cristãos a soldados arregimentados (II Tm 2:4) e vestidos adequadamente para uma batalha (Ef 6:13) e fala de uma luta que não é contra carne ou sangue (Ef 6:12) com armas diferentes das que podem ser encontradas em qualquer arsenal militar, por mais desenvolvidos que sejam (II Co 10:4).
Não devemos confundir as metáforas, símiles e comparações bíblicas com a pseudoteologia que ficou conhecida como Batalha Espiritual, todavia, o conflito entre a carne e o Espírito permanece, era uma realidade na igreja primitiva e ainda é um enorme desafio para a Igreja contemporânea que ainda está sob o ataque de satanás, o inimigo que quer vê-la caída e derrotada (I Pe 5:8-9) e por isso a Igreja deve buscar fortalecer-se cada vez mais no Senhor e na força do seu poder (Ef 6:10).
Em sua luta contra toda forma de mal a Igreja não pode fazer de conta que a injustiça não existe, pelo contrário, deve opor-se ao mal com os instrumentos que o Senhor lhe deu. Propositalmente não quero usar as palavras “armas”, mas instrumentos como amor, justiça, misericórdia, capazes de vencer as barreiras mais violentas e destruir impérios, como fez com o império romano e como faz com corações endurecidos e frios (Jr 23:29). Ainda que em determinados momentos a Igreja tenha se servido de armas carnais, como Davi contra Golias e os reformadores do séc. XVI contra as forças da idolatria, o que fez e faz da Igreja vencedora não é a arma que empunha, mas a esperança que carrega em seu coração (I Jo 5:4-5) como declara confiantemente o futuro rei Davi (I Sm 17:45) utilizando-se, mais do que da funda ou das pedras, da confiança em Deus.
Mas de uma coisa eu tenho certeza – não é com passeatas, com marchas infrutíferas que a Igreja vai produzir frutos de justiça. A única maneira da Igreja produzir o que o Senhor espera dela é, capacitada pelo Senhor, revestida pelo seu Espírito, viver a sua fé de maneira coerente com o seu discurso. Vejamos o que nos diz a Escritura sobre a Igreja que deve opor-se a toda forma de mal e como ela pode combater as atuações malignas:
10 Quanto ao mais, sede fortalecidos no Senhor e na força do seu poder.
11 Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para poderdes ficar firmes contra as ciladas do diabo; 12 porque a nossa luta não é contra o sangue e a carne, e sim contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestes.
13 Portanto, tomai toda a armadura de Deus, para que possais resistir no dia mau e, depois de terdes vencido tudo, permanecer inabaláveis.
14 Estai, pois, firmes, cingindo-vos com a verdade e vestindo-vos da couraça da justiça.
15 Calçai os pés com a preparação do evangelho da paz; 16 embraçando sempre o escudo da fé, com o qual podereis apagar todos os dardos inflamados do Maligno.
17 Tomai também o capacete da salvação e a espada do Espírito, que é a palavra de Deus;
18 com toda oração e súplica, orando em todo tempo no Espírito e para isto vigiando com toda perseverança e súplica por todos os santos 19 e também por mim; para que me seja dada, no abrir da minha boca, a palavra, para, com intrepidez, fazer conhecido o mistério do evangelho, 20 pelo qual sou embaixador em cadeias, para que, em Cristo, eu seja ousado para falar, como me cumpre fazê-lo.
Ef 6.10-20 
Um evento histórico nos mostra o que pode acontecer quando se negocia princípios. A Alemanha de Adolf Hitler começou a mostrar uma certa ambição imperialista e os países europeus foram se acomodando com as sucessivas anexações de territórios, até que perceberam que teriam que enfrentar um inimigo que, de migalha em migalha, haviam alimentado e tornado um inimigo poderoso. Aí já era tarde, a França estava sendo tomada, a Inglaterra sob ataques e o caos da II Grande Guerra instaurado.
Um segundo evento, mais próximo de nós e de consequências ainda não mensuradas, mostra a mesma coisa – vagarosamente os valores tradicionais da família (homem, mulher e filhos) foram sendo substituídos por um princípio vago de “tolerância” até desembocar na famigerada ideologia de gênero e numa luta ferrenha contra valores cristãos – e lamentavelmente muitos que a si mesmo se chamam cristãos defendem tais aberrações.
A Igreja é chamada para opor-se ao mal. O mal é a capacidade ou o desejo, o poder de causar dano a algo ou a alguém, desobedecendo ao que o Senhor Jesus resumiu como o segundo mandamento (Mt 22:39). E não há nada mais fácil do que encontrar alguém capaz de fazer o mal. Se você quer encontrar uma pessoa capaz de fazer o mal para alguém basta que você olhe um móvel que tem em sua casa: o espelho. Ser Igreja é, em primeiro lugar, opor-se à pratica do mal em sua própria vida – amar a Deus, amar ao próximo, evitar a prática das obras da carne e ver frutificar o Espírito.
Uma Igreja unida ao Senhor, em comunhão com o seu Senhor, uma Igreja que é, de fato, Igreja, que pode dizer que é Cristo quem vive nela (Gl 2:20) terá poder do Senhor para abster-se de toda forma de mal (I Ts 5:22) e assim poderá reprovar as obras infrutíferas das trevas (Ef 5:11), porque estará fortalecida no Senhor e na força do seu poder (v. 10).
Mas quais os elementos que Deus dá à Igreja para reprovar e manter-se firme contra a ação do mal? A resposta de Paulo é: com atitudes concretas, práticas, constantes e firmes. Pode parecer estranho, mas o cristão que deseja batalhar por sua fé tem que ser intransigente – não pode negociar princípios.

i.                  COM A VERDADE

Sem aprofundar nas metáforas militares usadas pelo apóstolo é possível perceber que a operação do erro só pode ser combatida com a Palavra da verdade. Não se combate uma fraude com uma nova fraude porque, mais cedo ou mais tarde, esta nova fraude vai cair também. Para preservar seus territórios a Igreja Romana apresentou um documento chamado doação de Constantino, na qual o imperador teria doado quase toda a península itálica à Igreja – todavia a Igreja foi envergonhada no séc. XV por estudiosos que mostraram que tudo não era uma grande fraude, um grande engodo, e isto contribuiu para uma perda de credibilidade ainda maior. Acusado de apresentar um evangelho mentiroso, Paulo usa de um artificio filosófico justamente para mostrar que seu evangelho era verdadeiro (Rm 3:7).
O cristão não precisa copiar o pai da mentira, satanás, e anunciar o que há em suas mentes férteis mas cuja produção é inútil porque suas vergonhas ficarão expostas no dia do juízo (Mq 7:9). A exortação divina para os cristãos é que anunciem a Cristo, somente a Cristo, porque só ele é “a verdade” (Jo 14:6) e só ele é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê (Rm 1:16) porque a fé não pode se apoiar em pensamentos dos homens, mas na verdade de Deus (I Co 2:5).

ii.               COM A JUSTIÇA

Paulo convivia com soldados – teve a companhia da guarda pretoriana durante muito tempo, e sabia como era a vestimenta dos mesmos. Parte dela era feita de couro reforçado com metais no exterior, especialmente aquela que protegia órgãos vitais. Era a “couraça”, firme, rija. Assim deve ser a justiça do crente, no Senhor (Jr 33:16) e a prática da justiça pelo crente – consciente, amorosa, mas intransigente, constante, inabalável independente das circunstâncias externas, ou ataques dos inimigos da fé (Ne 6:3) por saber que a obra é do Senhor e para o Senhor (I Co 15:58).
A Igreja Presbiteriana crescia e se fortalecia porque havia justiça nas relações interpessoais e com Deus. Quando Ananias e Safira agiram com injustiça, foram excluídos dela. Quando Simão, o enganador (At 8:11), agiu com injustiça, também foi excluído da Igreja (At 8:20) mesmo tendo “abraçado a fé” (At 8:13). Todavia, os crentes são chamados para agirem com justiça, evidenciando (porque não podem produzir por si mesmos) o fruto do Espírito que sempre produz o bem e não mal, e evitando as obras da carne, que sempre produzem injustiça social e espiritual.
Nenhum crente genuíno sacrifica a justiça em favor de alguma conveniência particular, não torce o juízo para favorecer algo ou alguém de seu interesse, nem depositará a sua confiança em nada deste mundo para manter-se de pé porque sua justiça é o Senhor.

iii.           COM CONFIANÇA

Os grandes exércitos, os mais vitoriosos, contavam com soldados confiantes porque contavam com generais corajosos e vitoriosos. Em uma das batalhas do exército brasileiro no séc. XIX conta-se que, na guerra do Paraguai, os soldados estavam reticentes em atacar uma ponte que era guardada por soldados adversários. O comandante, Luis Alves de Lima e Silva, Duque de Caxias, precisava tomar uma ponte que cruzava o rio Itororó. No dia 5 de dezembro de 1868 após várias tentativas e repelidos pelo fogo intenso paraguaio os brasileiros entraram em pânico e começaram a fugir em desordem. Caxias desembainhou sua espada e avançou a cavalo em direção à ponte com alguns auxiliares e gritava: “Salve sua Majestade!”, “Salve o Brasil” e, finalmente, bradou “Sigam-me os que forem brasileiros”. Isto impediu a retirada, insuflou coragem nos soldados, as unidades se reagruparam e tomaram a ponte em questão, abrindo caminho para o fim da guerra.
Os cristãos podem opor-se ao mal porque seu Senhor é o Senhor dos senhores, o grande rei, tudo está sob sua autoridade (Mt 28:18) e ele comunica a sua vitória àqueles a quem ele ama, e por ele são amados, por maiores que sejam os obstáculos à frente dos seus (Rm 8:37).
A fé, quando vivida em sua plenitude, logo contou com oposição. Foi assim em Jerusalém e foi assim em praticamente todo o mundo. Mesmo antes de Cristo a certeza de que Deus salva os seus era essencial para que os crentes vivessem a sua fé sem temores das consequências (Dn 3:17).
Paulo sabia que haveria oposição à fé em Éfeso por causa da cultura local, que literalmente vivia da idolatria a Igreja não teria paz e os novos convertidos encontrariam dificuldades para viver a sua fé (At 19:28-29).

CONCLUSÃO

Por medo, insegurança, por não confiar inteiramente na graça de Cristo tem muitos cristãos que vivem sua fé em altos e baixos, desmotivados por todo tipo de circunstância e se esquecem que a sua salvação é uma dádiva do Deus que não pode mudar (Ml 3:6) que perdoa os seus pecados (I Jo 1:7-9) e purifica as suas consciências (Hb 9:14).

É possível que haja oposição mesmo dentro da Igreja, mesmo daqueles que são considerados irmãos na fé. Lembre-se que Jesus foi traído e a multidão pediu sua crucificação, Estevão foi apedrejado, Paulo foi chicoteado, Martinho Lutero foi excomungado, João Calvino foi expulso da cidade, John Bunyan ficou preso muitos anos, Jonathan Edwards foi demitido de sua congregação e José Manoel da Conceição foi considerado demente, só para citar alguns. Mesmo assim, não precisamos temer os homens, mas viver a nossa fé com temor e confiança naquele que é o nosso salvador (Mt 10:28).

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