O
Senhor deu, à Igreja, estratégias claras e precisas para desempenhar sua
missão. Dentre estas estratégias está o conhecimento de quem é, de fato, seu
inimigo. Embora carne e sangue sejam instrumentos de oposição contra a Igreja
do Senhor, que, afinal, é uma instituição no mundo mas não do mundo, o
verdadeiro inimigo é espiritual. E é nas regiões celestiais, com armas não
carnais, que a Igreja vence porque Cristo venceu por ela. Enquanto o inimigo
arma-se de todo tipo de instrumento a principal arma da Igreja é a espada do
Espírito, a Palavra da verdade, mais cortante que espada de dois gumes e com
poder de separar o que parece inseparável (Hb 4:12).
Todavia,
deixar-se orientar nem sempre é fácil. O homem tem a tendência, desde a
primeira transgressão, de desejar autonomia, tem o desejo de ser senhor do seu
destino, tomar as rédeas de sua vida na sua mão e traçar o seu destino. Ledo
engano. Mas é assim que pensa, é assim que age, é isso o que deseja.
Provavelmente uma das palavras mais odiadas da Bíblia seja “sujeição” ou
“submissão”. Homens não querem sujeitar-se a ninguém, mulheres não querem ser
submissas a ninguém. Filhos não querem ser obedientes a ninguém. Crentes não
querem ser obedientes a ninguém. Opa! Como assim, crentes não querem ser
obedientes a ninguém? Será que estamos nos esquecendo que rebelião é como
feitiçaria e a obstinação na rebelião é tão maligna quanto a idolatria (I Sm
15:23), como Samuel falou claramente a Saul, mesmo Saul achando que tinha
obedecido ao Senhor (I Sm 15:20)
mas relaxado só um pouquinho para agradar o povo e quem sabe a Deus (I Sm 15:21)?
Encontramos
numerosos exemplos de humildade nas Escrituras. Obviamente que o maior modelo
que podemos encontrar é o próprio Senhor Jesus que nos encoraja a aprender dele
(Mt 11:29), e, para quem esquece ser
ele semelhante a nós, diferente apenas no fato de não ser pecador e não
praticar pecados (Hb 4:15) podemos apontar vários outros homens de Deus que se
destacaram por sua mansidão, por se deixarem, humildemente, conduzirem, como
Moisés (Nm 12:3). Muitos dos problemas que
a Igreja enfrenta em seu desafio de ser Igreja e ser comunidade de salvos é o
fato de que a humildade cedeu lugar ao orgulho, à arrogância, e por causa disso
surgem rixas e pelejas no seio da Igreja. E certamente isso não é motivo de
alegria para o boníssimo coração de Deus. Vejamos o que o apóstolo Tiago tem a
nos ensinar a respeito deste importante assunto:
6 Antes, dá maior graça.
Portanto, diz: Deus resiste aos soberbos, dá, porém, graça aos humildes.
7 Sujeitai-vos, pois, a Deus;
resisti ao diabo, e ele fugirá de vós.
8 Chegai-vos a Deus, e ele se chegará a vós.
Limpai as mãos, pecadores; e, vós de duplo
ânimo, purificai o coração.
9 Senti as vossas misérias, e lamentai, e chorai; converta-se o vosso riso em pranto, e o vosso gozo, em tristeza.
10 Humilhai-vos perante
o Senhor, e ele vos exaltará.
Tg 4.6-10
O
texto fala de humilhar-se – e esta é uma virtude que não parece ter muito
status entre os homens a ponto de seu significado ser pouco conhecido, sendo
basicamente “ter consciência das próprias imperfeições e limitações”, porém,
nosso padrão para determinar o que e imperfeição e limitação não é a natureza
humana, mas aquele que estabeleceu um padrão ao qual estamos sujeitos (Rm 3:23). Humildade não é ser acomodado ao sofrimento, não
é passividade nem covardia. Ninguém ousaria chamar Moisés, ou Jesus, de
covardes – embora neles tenhamos excelente exemplo de humildade.
Quais
os benefícios que a Igreja pode receber do Senhor quando se humilha sob a sua
poderosa mão?
I.
O QUE É HUMILDADE DO PONTO DE VISTA
DE DEUS
6 Antes, dá maior graça.
Portanto, diz: Deus resiste aos soberbos, dá, porém, graça aos humildes.
Há
uma historieta a respeito de um sábio de uma nacionalidade qualquer (o que
importa aqui não é a filosofia, a religião ou a nacionalidade, mas o ensino) que
foi procurado por um de seus alunos que, arrogantemente, lhe dizia estar
progredindo rapidamente no caminho da sabedoria, dizendo: - Mestre, eu vou
conseguir primeiro que todos os outros alunos teus. Estou me tornando muito
humilde. Tenho dormido no chão, tomo apenas água e me alimento apenas de
verduras. O sábio logo percebeu a arrogância que buscava exaltação e lhe disse
em tom amistoso, mas firme: - Não fazes nada além do que os nossos cavalos
fazem, e nem por isso eles são sábios. Você deve aprender a dominar os anseios
mais profundos do seu coração, aprender a expulsar dele a arrogância e o desejo
de ser exaltado, enchê-lo de humildade e assim darás o primeiro passo no
caminho da sabedoria. Como você acha que aquele aluno recebeu aquela reprimenda?
Como você reagiria a uma exortação como essa? Provavelmente a maneira como você
reage mostrará o que você entende por humildade (Pv 9:8).
Permita-lhe
lembrar-me uma segunda historieta, que ouvi há mais de 20 anos e não sei se é
verdadeira ou não, mas que é ilustrativa: conta-se que um pastor, depois de
muitos anos servindo a uma igreja, recebeu um presente do conselho da Igreja:
um lindo quadro, ricamente emoldurado, no qual realçavam sua grande humildade
no trato com a Igreja ao longo dos anos. Alguns dias depois, o conselho foi até
o gabinete do pastor e perceberam o quadro afixado logo atrás da sua mesa.
Insatisfeitos com aquela “demonstração de orgulho da sua humildade”,
solicitaram o quadro de volta. O que você pensaria da atitude do pastor? E do
conselho?
Tiago
afirma que humilde é aquele que é feito habitação do Espírito, isto é, aquele
que é habitado pelo Espírito (Tg 4:5)
e não é cobiçoso das coisas do mundo (Tg 4:2-3). A palavra que Tiago usa (ταπεινος) pode ser usada tanto com o
sentido de “aquele que não se exalta, que não se levanta muito do chão” numa
referência ao ato de manter-se abaixado diante de reis orientais como,
negativamente, aquele que se comporta de forma humilhante, depressiva, submetendo-se
a uma indigna servidão.
Mas
Tiago está usando a palavra em seu sentido positivo, de reverência e submissão
diante de Deus, que jamais é uma indigna servidão. Israel sempre foi humilhado
quando não foi humilde (Sl 107:39)
mesmo quando achava que estava sendo, no que podemos considerar uma falsa
humildade, isto é, uma humildade fingida, calculada visando a obtenção de
recompensas ou privilégios, como no caso dos hebreus que faziam tudo certinho,
faziam cerimônias com gestos estudados e maquinalmente aprendidos mas com o
coração em outras coisas (Ml 3:14).
Este
tipo de atitude não é nada espiritual, é egocêntrica, é centrada no homem, nas
recompensas que o homem pode dar ou receber e não tem nada de agradável ao
Senhor (Mt 6:16).
II.
O CONTRÁRIO DA HUMILDADE –
AFASTAMENTO DE DEUS
Ao
contrário da humildade, a soberba é uma atitude de autossuficiência que, num
efeito teflon, acaba afastando o
homem de Deus porque seus intentos são apenas tudo fazer para sua própria
glória e reconhecimento de suas habilidades pelos homens (Cl 3:23) e isto não é considerado
reto por Deus (Hb 2:4). A
soberba foi a causa da queda do rei de Tiro (Is 44.11-15), o homem que muitos insistem em identificar equivocadamente
com Satanás (Is 44.16) embora
guarde com satanás semelhanças como a de querer ser adorado como se fora Deus –
satanás chega ao absurdo de tentar obter a adoração do próprio Filho de Deus (Mt 4:9).
Ao
invés da graça de Deus (Pv 15:33)
o que o soberbo inevitavelmente receberá é a sua própria destruição, pois a
Palavra de Deus ensina que a soberba precede a ruína (Pv 16:18) como aconteceu com o poderoso e orgulhoso
Nabucodonosor (Dn 4:29-33).
O
poderoso rei Nabucodonosor não é o único caso de soberbo que é derribado. Isto
também aconteceu com o insensato Nabal, marido de Abigail (I Sm 25:10) que logo
depois morreria em sua estultícia, provavelmente de um derrame (I Sm 25.37-38). Tal também foi o caso
de Saul, que, pretensiosamente, deixou de obedecer a Deus e fez a sua própria
vontade (I Sm 15:22) e também
aconteceu com o arrogante Herodes (At
12.21).
A
humildade evita estas desgraças, porque ela aproxima o homem de Deus, aproxima
o servo do Senhor, aproxima o pecador do salvador. Não deixe seu coração ser
tomado pela soberba – ela precede a ruina, mas lembre-se que Deus concede graça
ao humilde.
III.
A RECOMPENSA DA VERDADEIRA
HUMILDADE
Enquanto
a soberba só traz destruição e humilhação (Pv 29:23) a humildade goza do favor de Deus. Não sejamos tolos
imaginando que, aparentando humildade, possamos “atrair a graça de Deus” –
graça é favor, não é comprada nem merecida. Não dá para ser bíblico e, ao mesmo
tempo, cantar “Encontra em mim, Óh! Deus, algo de valor, quero
atrair tua presença”...
Não
é possível enganar a Deus. Às vezes as pessoas confundem temperamento, jeito de
ser, tanto com humildade quanto como arrogância – e podemos nos enganar pois não
vemos como Deus vê. Deus sabe quando é apenas aparência de humildade e quando a
humildade é um fruto da ação do Espírito, afinal, é ele mesmo que dá ou é
apenas uma ação humana, um pretexto para se sobressair aos seus semelhantes (Cl 2:18) mas que, no final, não tem
valor algum, não produz santidade, não vence o pecado e tampouco glorifica a
Deus (Cl 2:23).
Enquanto
a falsa humildade recebe recompensa dos homens, seja qual for a máscara que
use, como esmolas, orações longas, jejuns, vestuário e até dízimos
escrupulosamente calculados – o princípio é o mesmo para qualquer destas
práticas: se não há verdadeira humildade qualquer recompensa recebida dentre os
homens já foi grande demais (Mt 6:5),
mas, ao mesmo tempo, por maiores que sejam, são apenas coisas passageiras deste
mundo (I Jo 2:17).
Todavia,
não é assim com a verdadeira humildade – Deus abençoa grandemente àqueles que
se achegam a ele com integridade, e lhes dá graça e auxílio em toda e qualquer
situação de suas vidas (Hb 4:16).
Esta é uma grandiosa promessa de Deus – de dar-nos atenção do seu trono de
graça. Os homens podem até amar mais ouro e prata, mas, por mais que tenha ouro
e prata a graça do Senhor é muito mais valiosa, é muito melhor do que todos os
tesouros do mundo. Quando, angustiado, Paulo orava ao Senhor pedindo-lhe
livramento do “espinho na carne”, seja lá o que isto era, o Senhor lhe
respondia que ele já tinha o suficiente, tinha a Sua graça (II Co 12:9).
Vamos
apresentar apenas três exemplos do que estamos afirmando. Ao ser informado de
que deveria colocar em ordem a sua casa porque logo morreria (II Rs 20:1), o rei Ezequias orou ao
Senhor humildemente e o Senhor restaurou sua saúde dando-lhe ainda 15 anos de
vida e não apenas isso, mas livramento dos seus inimigos (II Rs 20:5).
A
graça de Deus é tão impressionantemente demonstrada diante de um ato de
verdadeira humilhação que até mesmo o mais ímpio dos reis que houve em Israel,
Acabe, obteve favor do Senhor (I Rs 21:29).
O
terceiro exemplo é o do “combate de humildade” entre o fariseu e o publicano. O
fariseu coloca-se diante de Deus e, com uma oração muito bem elaborada
“agradece” o fato de ele ser bom – seu Deus era ele mesmo. O publicano,
repudiado pelos religiosos, simplesmente se humilha publicamente diante de
Deus. Ninguém o queria ali. Os fariseus, saduceus e escribas não os queriam no
templo. Mas ele queira estar diante de Deus para fazer uma só coisa:
humilhar-se, pedindo misericórdia (Lc
18:13.
Teria
Deus mudado para, hoje, abençoar a hipocrisia e a arrogância em detrimento da
humildade que ele sempre disse agradá-lo em seus servos? O modelo supremo de
humildade, o próprio Senhor Jesus, teria por acaso deixado de ser o modelo? E
como fica, então, o chamado para aprendermos dele (Mt 11:29)?
CONCLUSÃO
Pode
parecer estranho afirmar que há algumas coisas em comum entre Deus e o diabo.
Não se assuste, não estou dizendo que eles são iguais. Não estou defendendo
nenhuma forma de equivalência de poderes entre ambos. Deus é Senhor, é
soberano, inclusive sobre o diabo, seus anjos e quaisquer ações que eles venham
a intentar. Que coisas em comum, então, poderiam ser essas que tanto a luz
quanto as trevas possuem?
A
primeira coisa que ambos demonstram querer é alguma forma de proximidade com o
ser humano (]. Desde o Éden é assim. O diabo vem falar com os seres humanos (Gn 3:1) e Deus também se aproxima
dele para alguma forma de adoração e diálogo (Gn 3:8). Assim como o diabo é o deus deste século, o príncipe do
mundo e tem o costume de andar pelo mundo observando o que fazem os filhos dos
homens (Jó 1:7) com o intuito
de acusá-los (Ap 12:10) ou
destruí-los com seus dardos malignos (Ef
6:16) e armadilhas (Ef 6:11)
sendo comparado a um leão à espreita (I
Pe 5:8) também entendemos pelas Escrituras que Deus é o Senhor do
universo, o Deus presente (Ez 36:9)
e não um ser ausente como querem muitos materialistas evolucionistas que não
abrem mão de atribuírem a si mesmos o apelido de cristãos daí obtendo alguma
forma de conforto espiritual. Deus não é o Deus distante (Is 57:15) nem se mantém desconhecido
(At 17:23) embora o defeito que
impeça os homens de vê-lo está em si mesmos, e não em Deus (Rm 1:20).
A
segunda coisa em comum é que tanto o diabo quanto Deus desejam exercer o
senhorio sobre sua vida. O diabo quer escravizá-lo, mantendo você como escravo
de um império de trevas tendo como única recompensa a morte e o inferno. Ele
não pode te dar outra coisa porque ele só pode te dar o que ele tem, e a
herança dele é o inferno que foi preparado para ele, para seus anjos e seus
servos (Mt 25:41). Ele não pode
te dar nada diferente disso porque é só o que ele tem – e no fim os que
permanecerem seus servos terão sobre si a permanência da ira de Deus (Jo 3:36) e, com seu senhor, terão
toda a eternidade para lamentar (Lc 13:28).
Por outro lado a Escritura também afirma que Deus quer o senhorio sobre a vida
de pecadores que ele comprou com o precioso sangue de Jesus Cristo (I Co 6:20) não devendo ser escravos
de ninguém, se não de homens, menos ainda de satanás (I Co 7:23). Diferente do senhorio satânico, o senhorio de Jesus
é suave, é um fardo leve (Mt 11:28-30)
e a recompensa é a vida eterna na presença do Senhor que não permitirá que
tenhas mais qualquer motivo de choro (Ap
21:4).
Sim,
o diabo quer proximidade, mas é a proximidade de um ladrão, assassino,
destruidor. É a proximidade de um estelionatário que vai lhe prometer luzes,
brilhos, prazeres e euforia e, como um traficante, vai te dar porções cada vez
mais inebriantes para te fazer cada vez mais escravo até que você não seja mais
do que um trapo e morra a seu serviço. Sim, Deus quer proximidade, mas a
proximidade de um amigo, um pai, um irmão, de um salvador que está disposto a
ser rasgado por uma lança, pregado em uma cruz para que você tenha acesso livre
a Deus (Hb 4:16) porque ninguém
pode chegar até o Pai se não for por ele (Jo 14:6).
Então,
qual a diferença? O diabo é invasivo e Deus espera seu convite? Isso é uma
tolice teológica. Desde quando o Senhor, o dono da casa precisa de sua
autorização para entrar naquilo que lhe pertence? Ele é o Senhor tanto da casa
quanto do servo, e faz com que o servo queira abrir a porta – e para o servo é dia
de regozijo e festa. A diferença está no objetivo deste desejo de proximidade e
senhorio. A diferença é que enquanto o diabo quer destruir sua vida Deus lhe dá
nova vida porque, antes dele te encontrar (Lc 19:10) você estava morto em delitos e pecados (Ef 2:1) e nesta nova vida ele efetua
em você o querer e o realizar que lhe capacita a obedecer-lhe. É por causa
desta capacitação, é porque ele efetua um novo querer em você que você está,
finalmente, habilitado a resistir ao diabo, isto é, a dizer não à sua nefasta
proximidade, a não sujeitar-se-lhe numa escravidão que conduz à morte (mesmo
que você durante toda a sua vida a tenha desejado por causa dos enganos de satanás
– Ef 2:3). Sua nova vontade,
sua vontade renascida leva você a sujeitar-se a Deus, a ser mais que vencedor
por meio de Jesus Cristo (Rm 8:37),
a achegar-se a Deus como um filho se achega ao pai, como uma criança procura o
colo da mãe e nele se aninha após ser desmamada (Sl 131:2).
Não
é o que você fez a vida toda que é realmente importante agora – mas o que você
vai fazer agora, ou à partir de agora, que define a sua eternidade. A ordem do
Senhor é sujeitai-lhe sua vontade para que você possa resistir ao diabo e ele
fique longe e você – e você sinta, então, o quão perto Deus tem estado de você,
porque nem ele nem sua vontade estão longe (Rm 10:8) embora o pecador sempre queira o máximo de distância
dele (Is 59:2).
Escravo
do diabo ou servo do Senhor? Morto em delitos e pecados ou vivo para Deus (Rm 6:11)? É a maneira prática que
você responde a estas indagações que demonstra, que evidencia o que você
efetivamente é: servo de Deus ou escravo do diabo? De quem você quer ficar próximo?
Não caia na tolice de achar que, ficando próximo do diabo aqui, vai poder
passar a eternidade próximo de Deus.
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