quinta-feira, 27 de abril de 2017

A IGREJA MANTÉM SUA IDENTIDADE E DESEMPENHA SUA MISSÃO QUANDO POSSUI A HUMILDADE COMO FRUTO DO ESPÍRITO

O Senhor deu, à Igreja, estratégias claras e precisas para desempenhar sua missão. Dentre estas estratégias está o conhecimento de quem é, de fato, seu inimigo. Embora carne e sangue sejam instrumentos de oposição contra a Igreja do Senhor, que, afinal, é uma instituição no mundo mas não do mundo, o verdadeiro inimigo é espiritual. E é nas regiões celestiais, com armas não carnais, que a Igreja vence porque Cristo venceu por ela. Enquanto o inimigo arma-se de todo tipo de instrumento a principal arma da Igreja é a espada do Espírito, a Palavra da verdade, mais cortante que espada de dois gumes e com poder de separar o que parece inseparável (Hb 4:12).
Todavia, deixar-se orientar nem sempre é fácil. O homem tem a tendência, desde a primeira transgressão, de desejar autonomia, tem o desejo de ser senhor do seu destino, tomar as rédeas de sua vida na sua mão e traçar o seu destino. Ledo engano. Mas é assim que pensa, é assim que age, é isso o que deseja. Provavelmente uma das palavras mais odiadas da Bíblia seja “sujeição” ou “submissão”. Homens não querem sujeitar-se a ninguém, mulheres não querem ser submissas a ninguém. Filhos não querem ser obedientes a ninguém. Crentes não querem ser obedientes a ninguém. Opa! Como assim, crentes não querem ser obedientes a ninguém? Será que estamos nos esquecendo que rebelião é como feitiçaria e a obstinação na rebelião é tão maligna quanto a idolatria (I Sm 15:23), como Samuel falou claramente a Saul, mesmo Saul achando que tinha obedecido ao Senhor (I Sm 15:20) mas relaxado só um pouquinho para agradar o povo e quem sabe a Deus (I Sm 15:21)?
Encontramos numerosos exemplos de humildade nas Escrituras. Obviamente que o maior modelo que podemos encontrar é o próprio Senhor Jesus que nos encoraja a aprender dele (Mt 11:29), e, para quem esquece ser ele semelhante a nós, diferente apenas no fato de não ser pecador e não praticar pecados (Hb 4:15) podemos apontar vários outros homens de Deus que se destacaram por sua mansidão, por se deixarem, humildemente, conduzirem, como Moisés (Nm 12:3). Muitos dos problemas que a Igreja enfrenta em seu desafio de ser Igreja e ser comunidade de salvos é o fato de que a humildade cedeu lugar ao orgulho, à arrogância, e por causa disso surgem rixas e pelejas no seio da Igreja. E certamente isso não é motivo de alegria para o boníssimo coração de Deus. Vejamos o que o apóstolo Tiago tem a nos ensinar a respeito deste importante assunto:
6 Antes, maior graça. Portanto, diz: Deus resiste aos soberbos, dá, porém, graça aos humildes.
7 Sujeitai-vos, pois, a Deus; resisti ao diabo, e ele fugirá de vós.
8 Chegai-vos a Deus, e ele se chegará a vós. Limpai as mãos, pecadores; e, vós de duplo ânimo, purificai o coração.
9 Senti as vossas misérias, e lamentai, e chorai; converta-se o vosso riso em pranto, e o vosso gozo, em tristeza.
10 Humilhai-vos perante o Senhor, e ele vos exaltará.
Tg 4.6-10
O texto fala de humilhar-se – e esta é uma virtude que não parece ter muito status entre os homens a ponto de seu significado ser pouco conhecido, sendo basicamente “ter consciência das próprias imperfeições e limitações”, porém, nosso padrão para determinar o que e imperfeição e limitação não é a natureza humana, mas aquele que estabeleceu um padrão ao qual estamos sujeitos (Rm 3:23). Humildade não é ser acomodado ao sofrimento, não é passividade nem covardia. Ninguém ousaria chamar Moisés, ou Jesus, de covardes – embora neles tenhamos excelente exemplo de humildade.
Quais os benefícios que a Igreja pode receber do Senhor quando se humilha sob a sua poderosa mão?

I.                   O QUE É HUMILDADE DO PONTO DE VISTA DE DEUS

6 Antes, maior graça. Portanto, diz: Deus resiste aos soberbos, dá, porém, graça aos humildes.
Há uma historieta a respeito de um sábio de uma nacionalidade qualquer (o que importa aqui não é a filosofia, a religião ou a nacionalidade, mas o ensino) que foi procurado por um de seus alunos que, arrogantemente, lhe dizia estar progredindo rapidamente no caminho da sabedoria, dizendo: - Mestre, eu vou conseguir primeiro que todos os outros alunos teus. Estou me tornando muito humilde. Tenho dormido no chão, tomo apenas água e me alimento apenas de verduras. O sábio logo percebeu a arrogância que buscava exaltação e lhe disse em tom amistoso, mas firme: - Não fazes nada além do que os nossos cavalos fazem, e nem por isso eles são sábios. Você deve aprender a dominar os anseios mais profundos do seu coração, aprender a expulsar dele a arrogância e o desejo de ser exaltado, enchê-lo de humildade e assim darás o primeiro passo no caminho da sabedoria. Como você acha que aquele aluno recebeu aquela reprimenda? Como você reagiria a uma exortação como essa? Provavelmente a maneira como você reage mostrará o que você entende por humildade (Pv 9:8).
Permita-lhe lembrar-me uma segunda historieta, que ouvi há mais de 20 anos e não sei se é verdadeira ou não, mas que é ilustrativa: conta-se que um pastor, depois de muitos anos servindo a uma igreja, recebeu um presente do conselho da Igreja: um lindo quadro, ricamente emoldurado, no qual realçavam sua grande humildade no trato com a Igreja ao longo dos anos. Alguns dias depois, o conselho foi até o gabinete do pastor e perceberam o quadro afixado logo atrás da sua mesa. Insatisfeitos com aquela “demonstração de orgulho da sua humildade”, solicitaram o quadro de volta. O que você pensaria da atitude do pastor? E do conselho?
Tiago afirma que humilde é aquele que é feito habitação do Espírito, isto é, aquele que é habitado pelo Espírito (Tg 4:5) e não é cobiçoso das coisas do mundo (Tg 4:2-3). A palavra que Tiago usa (ταπεινος) pode ser usada tanto com o sentido de “aquele que não se exalta, que não se levanta muito do chão” numa referência ao ato de manter-se abaixado diante de reis orientais como, negativamente, aquele que se comporta de forma humilhante, depressiva, submetendo-se a uma indigna servidão.
Mas Tiago está usando a palavra em seu sentido positivo, de reverência e submissão diante de Deus, que jamais é uma indigna servidão. Israel sempre foi humilhado quando não foi humilde (Sl 107:39) mesmo quando achava que estava sendo, no que podemos considerar uma falsa humildade, isto é, uma humildade fingida, calculada visando a obtenção de recompensas ou privilégios, como no caso dos hebreus que faziam tudo certinho, faziam cerimônias com gestos estudados e maquinalmente aprendidos mas com o coração em outras coisas (Ml 3:14).
Este tipo de atitude não é nada espiritual, é egocêntrica, é centrada no homem, nas recompensas que o homem pode dar ou receber e não tem nada de agradável ao Senhor (Mt 6:16).

II.                O CONTRÁRIO DA HUMILDADE – AFASTAMENTO DE DEUS

Ao contrário da humildade, a soberba é uma atitude de autossuficiência que, num efeito teflon, acaba afastando o homem de Deus porque seus intentos são apenas tudo fazer para sua própria glória e reconhecimento de suas habilidades pelos homens (Cl 3:23) e isto não é considerado reto por Deus (Hb 2:4). A soberba foi a causa da queda do rei de Tiro (Is 44.11-15), o homem que muitos insistem em identificar equivocadamente com Satanás (Is 44.16) embora guarde com satanás semelhanças como a de querer ser adorado como se fora Deus – satanás chega ao absurdo de tentar obter a adoração do próprio Filho de Deus (Mt 4:9).
Ao invés da graça de Deus (Pv 15:33) o que o soberbo inevitavelmente receberá é a sua própria destruição, pois a Palavra de Deus ensina que a soberba precede a ruína (Pv 16:18) como aconteceu com o poderoso e orgulhoso Nabucodonosor (Dn 4:29-33).
O poderoso rei Nabucodonosor não é o único caso de soberbo que é derribado. Isto também aconteceu com o insensato Nabal, marido de Abigail (I Sm 25:10) que logo depois morreria em sua estultícia, provavelmente de um derrame (I Sm 25.37-38). Tal também foi o caso de Saul, que, pretensiosamente, deixou de obedecer a Deus e fez a sua própria vontade (I Sm 15:22) e também aconteceu com o arrogante Herodes (At 12.21).
A humildade evita estas desgraças, porque ela aproxima o homem de Deus, aproxima o servo do Senhor, aproxima o pecador do salvador. Não deixe seu coração ser tomado pela soberba – ela precede a ruina, mas lembre-se que Deus concede graça ao humilde.

III.             A RECOMPENSA DA VERDADEIRA HUMILDADE

Enquanto a soberba só traz destruição e humilhação (Pv 29:23) a humildade goza do favor de Deus. Não sejamos tolos imaginando que, aparentando humildade, possamos “atrair a graça de Deus” – graça é favor, não é comprada nem merecida. Não dá para ser bíblico e, ao mesmo tempo, cantar “Encontra em mim, Óh! Deus, algo de valor, quero atrair tua presença”...
Não é possível enganar a Deus. Às vezes as pessoas confundem temperamento, jeito de ser, tanto com humildade quanto como arrogância – e podemos nos enganar pois não vemos como Deus vê. Deus sabe quando é apenas aparência de humildade e quando a humildade é um fruto da ação do Espírito, afinal, é ele mesmo que dá ou é apenas uma ação humana, um pretexto para se sobressair aos seus semelhantes (Cl 2:18) mas que, no final, não tem valor algum, não produz santidade, não vence o pecado e tampouco glorifica a Deus (Cl 2:23).
Enquanto a falsa humildade recebe recompensa dos homens, seja qual for a máscara que use, como esmolas, orações longas, jejuns, vestuário e até dízimos escrupulosamente calculados – o princípio é o mesmo para qualquer destas práticas: se não há verdadeira humildade qualquer recompensa recebida dentre os homens já foi grande demais (Mt 6:5), mas, ao mesmo tempo, por maiores que sejam, são apenas coisas passageiras deste mundo (I Jo 2:17).
Todavia, não é assim com a verdadeira humildade – Deus abençoa grandemente àqueles que se achegam a ele com integridade, e lhes dá graça e auxílio em toda e qualquer situação de suas vidas (Hb 4:16). Esta é uma grandiosa promessa de Deus – de dar-nos atenção do seu trono de graça. Os homens podem até amar mais ouro e prata, mas, por mais que tenha ouro e prata a graça do Senhor é muito mais valiosa, é muito melhor do que todos os tesouros do mundo. Quando, angustiado, Paulo orava ao Senhor pedindo-lhe livramento do “espinho na carne”, seja lá o que isto era, o Senhor lhe respondia que ele já tinha o suficiente, tinha a Sua graça (II Co 12:9).
Vamos apresentar apenas três exemplos do que estamos afirmando. Ao ser informado de que deveria colocar em ordem a sua casa porque logo morreria (II Rs 20:1), o rei Ezequias orou ao Senhor humildemente e o Senhor restaurou sua saúde dando-lhe ainda 15 anos de vida e não apenas isso, mas livramento dos seus inimigos (II Rs 20:5).
A graça de Deus é tão impressionantemente demonstrada diante de um ato de verdadeira humilhação que até mesmo o mais ímpio dos reis que houve em Israel, Acabe, obteve favor do Senhor (I Rs 21:29).
O terceiro exemplo é o do “combate de humildade” entre o fariseu e o publicano. O fariseu coloca-se diante de Deus e, com uma oração muito bem elaborada “agradece” o fato de ele ser bom – seu Deus era ele mesmo. O publicano, repudiado pelos religiosos, simplesmente se humilha publicamente diante de Deus. Ninguém o queria ali. Os fariseus, saduceus e escribas não os queriam no templo. Mas ele queira estar diante de Deus para fazer uma só coisa: humilhar-se, pedindo misericórdia (Lc 18:13.
Teria Deus mudado para, hoje, abençoar a hipocrisia e a arrogância em detrimento da humildade que ele sempre disse agradá-lo em seus servos? O modelo supremo de humildade, o próprio Senhor Jesus, teria por acaso deixado de ser o modelo? E como fica, então, o chamado para aprendermos dele (Mt 11:29)?

CONCLUSÃO

Pode parecer estranho afirmar que há algumas coisas em comum entre Deus e o diabo. Não se assuste, não estou dizendo que eles são iguais. Não estou defendendo nenhuma forma de equivalência de poderes entre ambos. Deus é Senhor, é soberano, inclusive sobre o diabo, seus anjos e quaisquer ações que eles venham a intentar. Que coisas em comum, então, poderiam ser essas que tanto a luz quanto as trevas possuem?
A primeira coisa que ambos demonstram querer é alguma forma de proximidade com o ser humano (]. Desde o Éden é assim. O diabo vem falar com os seres humanos (Gn 3:1) e Deus também se aproxima dele para alguma forma de adoração e diálogo (Gn 3:8). Assim como o diabo é o deus deste século, o príncipe do mundo e tem o costume de andar pelo mundo observando o que fazem os filhos dos homens (Jó 1:7) com o intuito de acusá-los (Ap 12:10) ou destruí-los com seus dardos malignos (Ef 6:16) e armadilhas (Ef 6:11) sendo comparado a um leão à espreita (I Pe 5:8) também entendemos pelas Escrituras que Deus é o Senhor do universo, o Deus presente (Ez 36:9) e não um ser ausente como querem muitos materialistas evolucionistas que não abrem mão de atribuírem a si mesmos o apelido de cristãos daí obtendo alguma forma de conforto espiritual. Deus não é o Deus distante (Is 57:15) nem se mantém desconhecido (At 17:23) embora o defeito que impeça os homens de vê-lo está em si mesmos, e não em Deus (Rm 1:20).
A segunda coisa em comum é que tanto o diabo quanto Deus desejam exercer o senhorio sobre sua vida. O diabo quer escravizá-lo, mantendo você como escravo de um império de trevas tendo como única recompensa a morte e o inferno. Ele não pode te dar outra coisa porque ele só pode te dar o que ele tem, e a herança dele é o inferno que foi preparado para ele, para seus anjos e seus servos (Mt 25:41). Ele não pode te dar nada diferente disso porque é só o que ele tem – e no fim os que permanecerem seus servos terão sobre si a permanência da ira de Deus (Jo 3:36) e, com seu senhor, terão toda a eternidade para lamentar (Lc 13:28). Por outro lado a Escritura também afirma que Deus quer o senhorio sobre a vida de pecadores que ele comprou com o precioso sangue de Jesus Cristo (I Co 6:20) não devendo ser escravos de ninguém, se não de homens, menos ainda de satanás (I Co 7:23). Diferente do senhorio satânico, o senhorio de Jesus é suave, é um fardo leve (Mt 11:28-30) e a recompensa é a vida eterna na presença do Senhor que não permitirá que tenhas mais qualquer motivo de choro (Ap 21:4).
Sim, o diabo quer proximidade, mas é a proximidade de um ladrão, assassino, destruidor. É a proximidade de um estelionatário que vai lhe prometer luzes, brilhos, prazeres e euforia e, como um traficante, vai te dar porções cada vez mais inebriantes para te fazer cada vez mais escravo até que você não seja mais do que um trapo e morra a seu serviço. Sim, Deus quer proximidade, mas a proximidade de um amigo, um pai, um irmão, de um salvador que está disposto a ser rasgado por uma lança, pregado em uma cruz para que você tenha acesso livre a Deus (Hb 4:16) porque ninguém pode chegar até o Pai se não for por ele (Jo 14:6).
Então, qual a diferença? O diabo é invasivo e Deus espera seu convite? Isso é uma tolice teológica. Desde quando o Senhor, o dono da casa precisa de sua autorização para entrar naquilo que lhe pertence? Ele é o Senhor tanto da casa quanto do servo, e faz com que o servo queira abrir a porta – e para o servo é dia de regozijo e festa. A diferença está no objetivo deste desejo de proximidade e senhorio. A diferença é que enquanto o diabo quer destruir sua vida Deus lhe dá nova vida porque, antes dele te encontrar (Lc 19:10) você estava morto em delitos e pecados (Ef 2:1) e nesta nova vida ele efetua em você o querer e o realizar que lhe capacita a obedecer-lhe. É por causa desta capacitação, é porque ele efetua um novo querer em você que você está, finalmente, habilitado a resistir ao diabo, isto é, a dizer não à sua nefasta proximidade, a não sujeitar-se-lhe numa escravidão que conduz à morte (mesmo que você durante toda a sua vida a tenha desejado por causa dos enganos de satanás – Ef 2:3). Sua nova vontade, sua vontade renascida leva você a sujeitar-se a Deus, a ser mais que vencedor por meio de Jesus Cristo (Rm 8:37), a achegar-se a Deus como um filho se achega ao pai, como uma criança procura o colo da mãe e nele se aninha após ser desmamada (Sl 131:2).
Não é o que você fez a vida toda que é realmente importante agora – mas o que você vai fazer agora, ou à partir de agora, que define a sua eternidade. A ordem do Senhor é sujeitai-lhe sua vontade para que você possa resistir ao diabo e ele fique longe e você – e você sinta, então, o quão perto Deus tem estado de você, porque nem ele nem sua vontade estão longe (Rm 10:8) embora o pecador sempre queira o máximo de distância dele (Is 59:2).
Escravo do diabo ou servo do Senhor? Morto em delitos e pecados ou vivo para Deus (Rm 6:11)? É a maneira prática que você responde a estas indagações que demonstra, que evidencia o que você efetivamente é: servo de Deus ou escravo do diabo? De quem você quer ficar próximo? Não caia na tolice de achar que, ficando próximo do diabo aqui, vai poder passar a eternidade próximo de Deus.


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