Em nossas
mensagens anteriores vimos que a Igreja mantém sua identidade e desempenha sua missão
quando possui autoconhecimento, uma fé operosa e um estilo de vida comprometido
com o reino de Deus, quando ela vive sob a orientação da Palavra de Deus e tem
uma vida consagrada ao serviço do seu Senhor, quando ela está focada e prioriza
o reino de Deus e está disposta a obedecer ao seu Senhor sendo capacitada para
isso pelo Espírito Santo.
O que
significa usar os instrumentos que Deus deu à Igreja para opor-se ao mal. Será que
isto significa aderir ao que, há algum tempo surgiu no seio da Igreja e cujo
movimento foi chamado batalha espiritual no qual os crentes passaram a
denominar-se de guerreiros, alguns dando-se patentes como capitão, general e
coisas parecidas. E foi um tal de mapear território, achar tronos de satanás,
sair marchando pelas cidades declarando que elas pertencem ao Senhor Jesus. Ao
final de mais de três décadas as coisas continuam mais ou menos como eram.
Não
podemos fugir a uma verdade – a bíblia fala de conflitos, como, por exemplo, da
carne contra o Espírito (Gl 5:17), compara os cristãos a soldados arregimentados (II Tm 2:4) e vestidos adequadamente
para uma batalha (Ef 6:13) e fala de uma luta que não é contra carne ou sangue (Ef 6:12) com armas diferentes das
que podem ser encontradas em qualquer arsenal militar, por mais desenvolvidos
que sejam (II
Co 10:4).
Não
devemos confundir as metáforas, símiles e comparações bíblicas com a
pseudoteologia que ficou conhecida como Batalha Espiritual, todavia, o conflito
entre a carne e o Espírito permanece, era uma realidade na igreja primitiva e
ainda é um enorme desafio para a Igreja contemporânea que ainda está sob o
ataque de satanás, o inimigo que quer vê-la caída e derrotada (I Pe 5:8-9) e por isso a Igreja deve
buscar fortalecer-se cada vez mais no Senhor e na força do seu poder (Ef 6:10).
Em
sua luta contra toda forma de mal a Igreja não pode fazer de conta que a
injustiça não existe, pelo contrário, deve opor-se ao mal com os instrumentos
que o Senhor lhe deu. Propositalmente não quero usar as palavras “armas”, mas
instrumentos como amor, justiça, misericórdia, capazes de vencer as barreiras
mais violentas e destruir impérios, como fez com o império romano e como faz com
corações endurecidos e frios (Jr 23:29). Ainda que em determinados momentos a Igreja tenha se servido de
armas carnais, como Davi contra Golias e os reformadores do séc. XVI contra as
forças da idolatria, o que fez e faz da Igreja vencedora não é a arma que
empunha, mas a esperança que carrega em seu coração (I Jo 5:4-5) como declara
confiantemente o futuro rei Davi (I Sm 17:45) utilizando-se, mais do que
da funda ou das pedras, da confiança em Deus.
Mas
de uma coisa eu tenho certeza – não é com passeatas, com marchas infrutíferas
que a Igreja vai produzir frutos de justiça. A única maneira da Igreja produzir
o que o Senhor espera dela é, capacitada pelo Senhor, revestida pelo seu
Espírito, viver a sua fé de maneira coerente com o seu discurso. Vejamos o que
nos diz a Escritura sobre a Igreja que deve opor-se a toda forma de mal e como
ela pode combater as atuações malignas:
10
Quanto ao mais, sede fortalecidos no Senhor e na força do seu poder.
11
Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para poderdes ficar firmes contra as
ciladas do diabo; 12 porque a nossa luta não é contra o sangue e a carne, e sim
contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo
tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestes.
13
Portanto, tomai toda a armadura de Deus, para que possais resistir no dia mau
e, depois de terdes vencido tudo, permanecer inabaláveis.
14
Estai, pois, firmes, cingindo-vos com a verdade e vestindo-vos da couraça da
justiça.
15
Calçai os pés com a preparação do evangelho da paz; 16 embraçando sempre o
escudo da fé, com o qual podereis apagar todos os dardos inflamados do Maligno.
17
Tomai também o capacete da salvação e a espada do Espírito, que é a palavra de
Deus;
18
com toda oração e súplica, orando em todo tempo no Espírito e para isto
vigiando com toda perseverança e súplica por todos os santos 19 e também por
mim; para que me seja dada, no abrir da minha boca, a palavra, para, com
intrepidez, fazer conhecido o mistério do evangelho, 20 pelo qual sou
embaixador em cadeias, para que, em Cristo, eu seja ousado para falar, como me
cumpre fazê-lo.
Ef 6.10-20
Um
evento histórico nos mostra o que pode acontecer quando se negocia princípios.
A Alemanha de Adolf Hitler começou a mostrar uma certa ambição imperialista e
os países europeus foram se acomodando com as sucessivas anexações de
territórios, até que perceberam que teriam que enfrentar um inimigo que, de
migalha em migalha, haviam alimentado e tornado um inimigo poderoso. Aí já era
tarde, a França estava sendo tomada, a Inglaterra sob ataques e o caos da II
Grande Guerra instaurado.
Um
segundo evento, mais próximo de nós e de consequências ainda não mensuradas,
mostra a mesma coisa – vagarosamente os valores tradicionais da família (homem,
mulher e filhos) foram sendo substituídos por um princípio vago de “tolerância”
até desembocar na famigerada ideologia de gênero e numa luta ferrenha contra
valores cristãos – e lamentavelmente muitos que a si mesmo se chamam cristãos
defendem tais aberrações.
A
Igreja é chamada para opor-se ao mal. O mal é a capacidade ou o desejo, o poder
de causar dano a algo ou a alguém, desobedecendo ao que o Senhor Jesus resumiu
como o segundo mandamento (Mt 22:39). E não há nada mais fácil
do que encontrar alguém capaz de fazer o mal. Se você quer encontrar uma pessoa
capaz de fazer o mal para alguém basta que você olhe um móvel que tem em sua
casa: o espelho. Ser Igreja é, em primeiro lugar, opor-se à pratica do mal em
sua própria vida – amar a Deus, amar ao próximo, evitar a prática das obras da
carne e ver frutificar o Espírito.
Uma
Igreja unida ao Senhor, em comunhão com o seu Senhor, uma Igreja que é, de
fato, Igreja, que pode dizer que é Cristo quem vive nela (Gl 2:20) terá poder do Senhor para
abster-se de toda forma de mal (I Ts 5:22) e assim poderá reprovar as
obras infrutíferas das trevas (Ef 5:11), porque estará fortalecida
no Senhor e na força do seu poder (v. 10).
Mas
quais os elementos que Deus dá à Igreja para reprovar e manter-se firme contra
a ação do mal? A resposta de Paulo é: com atitudes concretas, práticas,
constantes e firmes. Pode parecer estranho, mas o cristão que deseja batalhar
por sua fé tem que ser intransigente – não pode negociar princípios.
i.
COM A VERDADE
Sem
aprofundar nas metáforas militares usadas pelo apóstolo é possível perceber que
a operação do erro só pode ser combatida com a Palavra da verdade. Não se
combate uma fraude com uma nova fraude porque, mais cedo ou mais tarde, esta
nova fraude vai cair também. Para preservar seus territórios a Igreja Romana
apresentou um documento chamado doação de Constantino, na qual o imperador
teria doado quase toda a península itálica à Igreja – todavia a Igreja foi
envergonhada no séc. XV por estudiosos que mostraram que tudo não era uma
grande fraude, um grande engodo, e isto contribuiu para uma perda de
credibilidade ainda maior. Acusado de apresentar um evangelho mentiroso, Paulo
usa de um artificio filosófico justamente para mostrar que seu evangelho era
verdadeiro (Rm
3:7).
O
cristão não precisa copiar o pai da mentira, satanás, e anunciar o que há em
suas mentes férteis mas cuja produção é inútil porque suas vergonhas ficarão
expostas no dia do juízo (Mq 7:9). A exortação divina para os cristãos é que anunciem a Cristo, somente
a Cristo, porque só ele é “a verdade” (Jo 14:6) e só ele é o poder de Deus
para salvação de todo aquele que crê (Rm 1:16) porque a fé não pode se
apoiar em pensamentos dos homens, mas na verdade de Deus (I Co 2:5).
ii.
COM A JUSTIÇA
Paulo
convivia com soldados – teve a companhia da guarda pretoriana durante muito
tempo, e sabia como era a vestimenta dos mesmos. Parte dela era feita de couro
reforçado com metais no exterior, especialmente aquela que protegia órgãos
vitais. Era a “couraça”, firme, rija. Assim deve ser a justiça do crente, no
Senhor (Jr
33:16)
e a prática da justiça pelo crente – consciente, amorosa, mas intransigente,
constante, inabalável independente das circunstâncias externas, ou ataques dos
inimigos da fé (Ne 6:3) por saber que a obra é do Senhor e para o Senhor (I Co 15:58).
A
Igreja Presbiteriana crescia e se fortalecia porque havia justiça nas relações
interpessoais e com Deus. Quando Ananias e Safira agiram com injustiça, foram
excluídos dela. Quando Simão, o enganador (At 8:11), agiu com injustiça,
também foi excluído da Igreja (At 8:20) mesmo tendo “abraçado a
fé” (At
8:13).
Todavia, os crentes são chamados para agirem com justiça, evidenciando (porque
não podem produzir por si mesmos) o fruto do Espírito que sempre produz o bem e
não mal, e evitando as obras da carne, que sempre produzem injustiça social e
espiritual.
Nenhum
crente genuíno sacrifica a justiça em favor de alguma conveniência particular,
não torce o juízo para favorecer algo ou alguém de seu interesse, nem
depositará a sua confiança em nada deste mundo para manter-se de pé porque sua
justiça é o Senhor.
iii.
COM CONFIANÇA
Os
grandes exércitos, os mais vitoriosos, contavam com soldados confiantes porque
contavam com generais corajosos e vitoriosos. Em uma das batalhas do exército
brasileiro no séc. XIX conta-se que, na guerra do Paraguai, os soldados estavam
reticentes em atacar uma ponte que era guardada por soldados adversários. O
comandante, Luis Alves de Lima e Silva, Duque de Caxias, precisava tomar uma
ponte que cruzava o rio Itororó. No dia 5 de dezembro de 1868 após várias
tentativas e repelidos pelo fogo intenso paraguaio os brasileiros entraram em
pânico e começaram a fugir em desordem. Caxias desembainhou sua espada e
avançou a cavalo em direção à ponte com alguns auxiliares e gritava: “Salve sua
Majestade!”, “Salve o Brasil” e, finalmente, bradou “Sigam-me os que forem
brasileiros”. Isto impediu a retirada, insuflou coragem nos soldados, as
unidades se reagruparam e tomaram a ponte em questão, abrindo caminho para o
fim da guerra.
Os
cristãos podem opor-se ao mal porque seu Senhor é o Senhor dos senhores, o
grande rei, tudo está sob sua autoridade (Mt 28:18) e ele comunica a sua
vitória àqueles a quem ele ama, e por ele são amados, por maiores que sejam os
obstáculos à frente dos seus (Rm 8:37).
A
fé, quando vivida em sua plenitude, logo contou com oposição. Foi assim em
Jerusalém e foi assim em praticamente todo o mundo. Mesmo antes de Cristo a
certeza de que Deus salva os seus era essencial para que os crentes vivessem a
sua fé sem temores das consequências (Dn 3:17).
Paulo
sabia que haveria oposição à fé em Éfeso por causa da cultura local, que
literalmente vivia da idolatria a
Igreja não teria paz e os novos convertidos encontrariam dificuldades para
viver a sua fé (At 19:28-29).
CONCLUSÃO
Por
medo, insegurança, por não confiar inteiramente na graça de Cristo tem muitos
cristãos que vivem sua fé em altos e baixos, desmotivados por todo tipo de
circunstância e se esquecem que a sua salvação é uma dádiva do Deus que não
pode mudar (Ml
3:6)
que perdoa os seus pecados (I Jo 1:7-9) e purifica as suas consciências (Hb 9:14).
É
possível que haja oposição mesmo dentro da Igreja, mesmo daqueles que são
considerados irmãos na fé. Lembre-se que Jesus foi traído e a multidão pediu
sua crucificação, Estevão foi apedrejado, Paulo foi chicoteado, Martinho Lutero
foi excomungado, João Calvino foi expulso da cidade, John Bunyan ficou preso
muitos anos, Jonathan Edwards foi demitido de sua congregação e José Manoel da
Conceição foi considerado demente, só para citar alguns. Mesmo assim, não
precisamos temer os homens, mas viver a nossa fé com temor e confiança naquele
que é o nosso salvador (Mt 10:28).
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