terça-feira, 4 de abril de 2017

A IGREJA MANTÉM SUA IDENTIDADE E DESEMPENHA SUA MISSÃO QUANDO USA OS INSTRUMENTOS QUE DEUS LHE DÁ PARA SE OPOR AO MAL

Em nossas mensagens anteriores vimos que a Igreja mantém sua identidade e desempenha sua missão quando possui autoconhecimento, uma fé operosa e um estilo de vida comprometido com o reino de Deus, quando ela vive sob a orientação da Palavra de Deus e tem uma vida consagrada ao serviço do seu Senhor, quando ela está focada e prioriza o reino de Deus e está disposta a obedecer ao seu Senhor sendo capacitada para isso pelo Espírito Santo.
O que significa usar os instrumentos que Deus deu à Igreja para opor-se ao mal. Será que isto significa aderir ao que, há algum tempo surgiu no seio da Igreja e cujo movimento foi chamado batalha espiritual no qual os crentes passaram a denominar-se de guerreiros, alguns dando-se patentes como capitão, general e coisas parecidas. E foi um tal de mapear território, achar tronos de satanás, sair marchando pelas cidades declarando que elas pertencem ao Senhor Jesus. Ao final de mais de três décadas as coisas continuam mais ou menos como eram.
Não podemos fugir a uma verdade – a bíblia fala de conflitos, como, por exemplo, da carne contra o Espírito (Gl 5:17), compara os cristãos a soldados arregimentados (II Tm 2:4) e vestidos adequadamente para uma batalha (Ef 6:13) e fala de uma luta que não é contra carne ou sangue (Ef 6:12) com armas diferentes das que podem ser encontradas em qualquer arsenal militar, por mais desenvolvidos que sejam (II Co 10:4).
Não devemos confundir as metáforas, símiles e comparações bíblicas com a pseudoteologia que ficou conhecida como Batalha Espiritual, todavia, o conflito entre a carne e o Espírito permanece, era uma realidade na igreja primitiva e ainda é um enorme desafio para a Igreja contemporânea que ainda está sob o ataque de satanás, o inimigo que quer vê-la caída e derrotada (I Pe 5:8-9) e por isso a Igreja deve buscar fortalecer-se cada vez mais no Senhor e na força do seu poder (Ef 6:10).
Em sua luta contra toda forma de mal a Igreja não pode fazer de conta que a injustiça não existe, pelo contrário, deve opor-se ao mal com os instrumentos que o Senhor lhe deu. Propositalmente não quero usar as palavras “armas”, mas instrumentos como amor, justiça, misericórdia, capazes de vencer as barreiras mais violentas e destruir impérios, como fez com o império romano e como faz com corações endurecidos e frios (Jr 23:29). Ainda que em determinados momentos a Igreja tenha se servido de armas carnais, como Davi contra Golias e os reformadores do séc. XVI contra as forças da idolatria, o que fez e faz da Igreja vencedora não é a arma que empunha, mas a esperança que carrega em seu coração (I Jo 5:4-5) como declara confiantemente o futuro rei Davi (I Sm 17:45) utilizando-se, mais do que da funda ou das pedras, da confiança em Deus.
Mas de uma coisa eu tenho certeza – não é com passeatas, com marchas infrutíferas que a Igreja vai produzir frutos de justiça. A única maneira da Igreja produzir o que o Senhor espera dela é, capacitada pelo Senhor, revestida pelo seu Espírito, viver a sua fé de maneira coerente com o seu discurso. Vejamos o que nos diz a Escritura sobre a Igreja que deve opor-se a toda forma de mal e como ela pode combater as atuações malignas:
10 Quanto ao mais, sede fortalecidos no Senhor e na força do seu poder.
11 Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para poderdes ficar firmes contra as ciladas do diabo; 12 porque a nossa luta não é contra o sangue e a carne, e sim contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestes.
13 Portanto, tomai toda a armadura de Deus, para que possais resistir no dia mau e, depois de terdes vencido tudo, permanecer inabaláveis.
14 Estai, pois, firmes, cingindo-vos com a verdade e vestindo-vos da couraça da justiça.
15 Calçai os pés com a preparação do evangelho da paz; 16 embraçando sempre o escudo da fé, com o qual podereis apagar todos os dardos inflamados do Maligno.
17 Tomai também o capacete da salvação e a espada do Espírito, que é a palavra de Deus;
18 com toda oração e súplica, orando em todo tempo no Espírito e para isto vigiando com toda perseverança e súplica por todos os santos 19 e também por mim; para que me seja dada, no abrir da minha boca, a palavra, para, com intrepidez, fazer conhecido o mistério do evangelho, 20 pelo qual sou embaixador em cadeias, para que, em Cristo, eu seja ousado para falar, como me cumpre fazê-lo.
Ef 6.10-20 
Um evento histórico nos mostra o que pode acontecer quando se negocia princípios. A Alemanha de Adolf Hitler começou a mostrar uma certa ambição imperialista e os países europeus foram se acomodando com as sucessivas anexações de territórios, até que perceberam que teriam que enfrentar um inimigo que, de migalha em migalha, haviam alimentado e tornado um inimigo poderoso. Aí já era tarde, a França estava sendo tomada, a Inglaterra sob ataques e o caos da II Grande Guerra instaurado.
Um segundo evento, mais próximo de nós e de consequências ainda não mensuradas, mostra a mesma coisa – vagarosamente os valores tradicionais da família (homem, mulher e filhos) foram sendo substituídos por um princípio vago de “tolerância” até desembocar na famigerada ideologia de gênero e numa luta ferrenha contra valores cristãos – e lamentavelmente muitos que a si mesmo se chamam cristãos defendem tais aberrações.
A Igreja é chamada para opor-se ao mal. O mal é a capacidade ou o desejo, o poder de causar dano a algo ou a alguém, desobedecendo ao que o Senhor Jesus resumiu como o segundo mandamento (Mt 22:39). E não há nada mais fácil do que encontrar alguém capaz de fazer o mal. Se você quer encontrar uma pessoa capaz de fazer o mal para alguém basta que você olhe um móvel que tem em sua casa: o espelho. Ser Igreja é, em primeiro lugar, opor-se à pratica do mal em sua própria vida – amar a Deus, amar ao próximo, evitar a prática das obras da carne e ver frutificar o Espírito.
Uma Igreja unida ao Senhor, em comunhão com o seu Senhor, uma Igreja que é, de fato, Igreja, que pode dizer que é Cristo quem vive nela (Gl 2:20) terá poder do Senhor para abster-se de toda forma de mal (I Ts 5:22) e assim poderá reprovar as obras infrutíferas das trevas (Ef 5:11), porque estará fortalecida no Senhor e na força do seu poder (v. 10).
Mas quais os elementos que Deus dá à Igreja para reprovar e manter-se firme contra a ação do mal? A resposta de Paulo é: com atitudes concretas, práticas, constantes e firmes. Pode parecer estranho, mas o cristão que deseja batalhar por sua fé tem que ser intransigente – não pode negociar princípios.

i.                  COM A VERDADE

Sem aprofundar nas metáforas militares usadas pelo apóstolo é possível perceber que a operação do erro só pode ser combatida com a Palavra da verdade. Não se combate uma fraude com uma nova fraude porque, mais cedo ou mais tarde, esta nova fraude vai cair também. Para preservar seus territórios a Igreja Romana apresentou um documento chamado doação de Constantino, na qual o imperador teria doado quase toda a península itálica à Igreja – todavia a Igreja foi envergonhada no séc. XV por estudiosos que mostraram que tudo não era uma grande fraude, um grande engodo, e isto contribuiu para uma perda de credibilidade ainda maior. Acusado de apresentar um evangelho mentiroso, Paulo usa de um artificio filosófico justamente para mostrar que seu evangelho era verdadeiro (Rm 3:7).
O cristão não precisa copiar o pai da mentira, satanás, e anunciar o que há em suas mentes férteis mas cuja produção é inútil porque suas vergonhas ficarão expostas no dia do juízo (Mq 7:9). A exortação divina para os cristãos é que anunciem a Cristo, somente a Cristo, porque só ele é “a verdade” (Jo 14:6) e só ele é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê (Rm 1:16) porque a fé não pode se apoiar em pensamentos dos homens, mas na verdade de Deus (I Co 2:5).

ii.               COM A JUSTIÇA

Paulo convivia com soldados – teve a companhia da guarda pretoriana durante muito tempo, e sabia como era a vestimenta dos mesmos. Parte dela era feita de couro reforçado com metais no exterior, especialmente aquela que protegia órgãos vitais. Era a “couraça”, firme, rija. Assim deve ser a justiça do crente, no Senhor (Jr 33:16) e a prática da justiça pelo crente – consciente, amorosa, mas intransigente, constante, inabalável independente das circunstâncias externas, ou ataques dos inimigos da fé (Ne 6:3) por saber que a obra é do Senhor e para o Senhor (I Co 15:58).
A Igreja Presbiteriana crescia e se fortalecia porque havia justiça nas relações interpessoais e com Deus. Quando Ananias e Safira agiram com injustiça, foram excluídos dela. Quando Simão, o enganador (At 8:11), agiu com injustiça, também foi excluído da Igreja (At 8:20) mesmo tendo “abraçado a fé” (At 8:13). Todavia, os crentes são chamados para agirem com justiça, evidenciando (porque não podem produzir por si mesmos) o fruto do Espírito que sempre produz o bem e não mal, e evitando as obras da carne, que sempre produzem injustiça social e espiritual.
Nenhum crente genuíno sacrifica a justiça em favor de alguma conveniência particular, não torce o juízo para favorecer algo ou alguém de seu interesse, nem depositará a sua confiança em nada deste mundo para manter-se de pé porque sua justiça é o Senhor.

iii.           COM CONFIANÇA

Os grandes exércitos, os mais vitoriosos, contavam com soldados confiantes porque contavam com generais corajosos e vitoriosos. Em uma das batalhas do exército brasileiro no séc. XIX conta-se que, na guerra do Paraguai, os soldados estavam reticentes em atacar uma ponte que era guardada por soldados adversários. O comandante, Luis Alves de Lima e Silva, Duque de Caxias, precisava tomar uma ponte que cruzava o rio Itororó. No dia 5 de dezembro de 1868 após várias tentativas e repelidos pelo fogo intenso paraguaio os brasileiros entraram em pânico e começaram a fugir em desordem. Caxias desembainhou sua espada e avançou a cavalo em direção à ponte com alguns auxiliares e gritava: “Salve sua Majestade!”, “Salve o Brasil” e, finalmente, bradou “Sigam-me os que forem brasileiros”. Isto impediu a retirada, insuflou coragem nos soldados, as unidades se reagruparam e tomaram a ponte em questão, abrindo caminho para o fim da guerra.
Os cristãos podem opor-se ao mal porque seu Senhor é o Senhor dos senhores, o grande rei, tudo está sob sua autoridade (Mt 28:18) e ele comunica a sua vitória àqueles a quem ele ama, e por ele são amados, por maiores que sejam os obstáculos à frente dos seus (Rm 8:37).
A fé, quando vivida em sua plenitude, logo contou com oposição. Foi assim em Jerusalém e foi assim em praticamente todo o mundo. Mesmo antes de Cristo a certeza de que Deus salva os seus era essencial para que os crentes vivessem a sua fé sem temores das consequências (Dn 3:17).
Paulo sabia que haveria oposição à fé em Éfeso por causa da cultura local, que literalmente vivia da idolatria a Igreja não teria paz e os novos convertidos encontrariam dificuldades para viver a sua fé (At 19:28-29).

CONCLUSÃO

Por medo, insegurança, por não confiar inteiramente na graça de Cristo tem muitos cristãos que vivem sua fé em altos e baixos, desmotivados por todo tipo de circunstância e se esquecem que a sua salvação é uma dádiva do Deus que não pode mudar (Ml 3:6) que perdoa os seus pecados (I Jo 1:7-9) e purifica as suas consciências (Hb 9:14).

É possível que haja oposição mesmo dentro da Igreja, mesmo daqueles que são considerados irmãos na fé. Lembre-se que Jesus foi traído e a multidão pediu sua crucificação, Estevão foi apedrejado, Paulo foi chicoteado, Martinho Lutero foi excomungado, João Calvino foi expulso da cidade, John Bunyan ficou preso muitos anos, Jonathan Edwards foi demitido de sua congregação e José Manoel da Conceição foi considerado demente, só para citar alguns. Mesmo assim, não precisamos temer os homens, mas viver a nossa fé com temor e confiança naquele que é o nosso salvador (Mt 10:28).

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