sexta-feira, 18 de agosto de 2023

UMA LEITURA DE ATOS 2 À LUZ DE HEBREUS 10.25-27

SUA AGENDA E O CRESCIMENTO DA IGREJA

Você tem uma bíblia em suas mãos? Só digital? Não tem problema. Esta serve também porque não importa o meio, o que importa para nós agora é o conteúdo.

Entre nós, reformados, existe a defesa da autoridade da Escritura em todas as questões da vida, e nós a definimos como nossa única regra de fé e prática. Isto quer dizer que a bíblia tem tudo o que nós devemos crer (por isso única regra de fé) e que ela tem, por conseguinte, todas as instruções positivas (o que devemos fazer) e negativas (o que devemos evitar) para nos mantermos dentro do padrão da vontade de Deus.

É bem possível que, se eu perguntar a você agora, se a bíblia é a sua única regra de fé e prática, você certamente responderá que sim. Mas, e se eu perguntar se, na prática, a bíblia tem regulado sua vida, e te desse um tempo para fazer um autoexame, qual resposta você daria? Quer um tempo pra isso agora? Você o tem.

Eu não preciso de sua resposta. Você precisa, e sua resposta, diante de Deus, é suficiente. Cuidado! Não deixe seu coração te enganar. Deus esquadrinha os pensamentos e conhece o seu interior, como diz o profeta Jeremias (Jr 20:12 Tu, pois, ó SENHOR dos Exércitos, que provas o justo e esquadrinhas os afetos e o coração, permite veja eu a tua vingança contra eles, pois te confiei a minha causa), o mesmo Jeremias que disse antes que o coração do homem não é confiável (Jr 17:9 Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto; quem o conhecerá?).

Daqui a pouco te apresentarei outro objeto, que certamente você conhece, mas antes quero te falar sobre a doutrina da harmonia das Escrituras – que significa que a bíblia não possui contradições, e um texto pode ser lido com a ajuda de outros textos. É o que faremos aqui.

Agora me permita te apresentar outro objeto: uma agenda. E é bem provável que você não tenha uma em suas mãos – alguns, talvez, utilizem o celular para isso, mas a maioria não faz nem uma coisa nem outra. Mas mesmo assim, com certeza você tem uma agenda. Não é de papel. Não é digital. Mas você tem. Você marca e desmarca compromissos. Você tem compromissos que se repetem dia a dia, semana a semana, mês a mês e tem compromissos que aparecem de vez em quando e acabam. Sim, com certeza você tem uma agenda.

Vamos falar sobre isso agora: como sua agenda influencia o crescimento e o desenvolvimento de sua igreja mesmo que você não seja pastor, ou presbítero, ou líder de sociedade.

Vamos fazer, hoje extraordinariamente, a leitura de dois textos bíblicos.

O primeiro, Hb 10.24-27, servirá de lente, de orientação para o entendimento do segundo texto, At 2.41-47:

Hb 10:24 Consideremo-nos também uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras. 25 Não deixemos de congregar-nos, como é costume de alguns; antes, façamos admoestações e tanto mais quanto vedes que o Dia se aproxima. 26 Porque, se vivermos deliberadamente em pecado, depois de termos recebido o pleno conhecimento da verdade, já não resta sacrifício pelos pecados; 27 pelo contrário, certa expectação horrível de juízo e fogo vingador prestes a consumir os adversários.

Veja que o texto fala de todos se estimulando mutuamente, ao amor e às boas obras, ou à prática daquilo que se deve fazer, segundo ensina Tiago (Tg 4:17 Portanto, aquele que sabe que deve fazer o bem e não o faz nisso está pecando), e que não fazer o que se deve é pecado, e pecado deliberado. Guarde este texto da carta aos hebreus em sua mente e coração. Agora, vamos ao segundo texto, bem conhecido, do livro de Atos dos Apóstolos, capítulo 2, versos 41 a 47.

At 2:41 Então, os que lhe aceitaram a palavra foram batizados, havendo um acréscimo naquele dia de quase três mil pessoas. 42 E perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações. 43 Em cada alma havia temor; e muitos prodígios e sinais eram feitos por intermédio dos apóstolos. 44 Todos os que creram estavam juntos e tinham tudo em comum. 45 Vendiam as suas propriedades e bens, distribuindo o produto entre todos, à medida que alguém tinha necessidade. 46 Diariamente perseveravam unânimes no templo, partiam pão de casa em casa e tomavam as suas refeições com alegria e singeleza de coração, 47 louvando a Deus e contando com a simpatia de todo o povo. Enquanto isso, acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os que iam sendo salvos.

Antes de prosseguirmos tenho uma última (e muito importante) observação: podemos ver a igreja como uma comunidade de crentes – mas também podemos considerar a igreja como cada crente individualmente. Você faz parte da igreja de Cristo, você faz parte de uma igreja local, mas você também é igreja. Considere isto daqui pra frente neste estudo da Palavra.

I.   A IGREJA TINHA UMA AGENDA DE EDIFICAÇÃO

Lucas não conheceu a igreja nos seus primeiros dias. Provavelmente ele teve contato com o cristianismo cerca de 15 anos depois. Mas ele ouvia o testemunho de pessoas que conheceram esta igreja, e colecionou e organizou estes testemunhos, nos legando o evangelho que leva seu nome e o livro de Atos.

No começo do texto que selecionamos para nossa edificação agora diz que quase três mil pessoas creram e foram batizadas, formando uma pequena comunidade de crentes que, por serem de diferentes nacionalidades, logo se espalharia por todo o mundo mediterrâneo.

At 2:41 Então, os que lhe aceitaram a palavra foram batizados, havendo um acréscimo naquele dia de quase três mil pessoas. 42 E perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações.

Talvez algumas pessoas retrucassem, cheias de sabedoria: mas pastor, a igreja tinha os apóstolos, tinha até profetas, assim fica fácil crer.

Imaginemos o que aconteceria hoje se contássemos com os apóstolos pregando em nossas igrejas. O que aconteceria se ao invés do Pr. Marthon fosse o apóstolo (o verdadeiro) Pedro, ou Paulo, ou João? Talvez a igreja estivesse cheia de pessoas.

As pessoas criam, e a igreja crescia com vitalidade espiritual e comunhão porque tinha o poderoso testemunho dos apóstolos. Esta é uma afirmação verdadeira. Mas é uma afirmação sofística e enganadora se concluirmos que as pessoas não creem hoje porque não possuem o testemunho dos apóstolos. Como é? A igreja não tem mais o poder que a igreja primitiva tinha? A fonte do poder da igreja era o homem?

Isto não é verdade, porque o que fazia diferença era o poder de Deus, e Deus não mudou nem restringiu sua ação poderosa. A igreja AINDA tem o testemunho dos apóstolos, ela foi edificada e permanece sólida porque AINDA tem a palavra dos profetas (Ef 2:20 ...edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo ele mesmo, Cristo Jesus, a pedra angular).

A igreja ainda tem a poderosa Palavra de Deus que era e AINDA é viva e eficaz (Hb 4:12 Porque a palavra de Deus é viva, e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e propósitos do coração).

A igreja AINDA tem a palavra que é poder de Deus para salvação de todo aquele que crê (Rm 1:16 Pois não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê, primeiro do judeu e também do grego).

A igreja AINDA tem e continuará tendo a Palavra eterna de Deus, a Palavra que não passa e nunca passará como Isaías profetizou (Is 40:8 ...seca-se a erva, e cai a sua flor, mas a palavra de nosso Deus permanece eternamente) e teve seu testemunho plenamente ratificado pelo Senhor Jesus (Lc 21:33 Passará o céu e a terra, porém as minhas palavras não passarão).

A igreja tinha uma agenda de edificação na Palavra – e a igreja que quer crescer em número, que quer crescer em comunhão e que deseja crescer espiritualmente precisa colocar a sua edificação como algo prioritário na sua agenda.

A primeira pergunta que eu tenho para você nesta noite é: você quer que a sua igreja – e a igreja é você – cresça? Que importância você dá para a edificação na Palavra de Deus? Se você pegar a agenda do ano de 2022 e for marcar quantos dias de estudo bíblico você esteve presente escaparia de uma reprovação por falta se fosse em uma escola? Talvez seja momento propício de você reavaliar a sua agenda de edificação.

II.               A IGREJA TINHA UMA AGENDA DE COMUNHÃO

Uma segunda característica da igreja primitiva que Lucas destaca é que havia comunhão, havia perseverança na comunhão, e eles procuravam estar juntos ‘por todo o período do dia’ (καθα ημεραν τε), isto é, por quanto tempo fosse possível.

At 2:46 Diariamente perseveravam unânimes no templo, partiam pão de casa em casa e tomavam as suas refeições com alegria e singeleza de coração.

Talvez você diga que era fácil manter a comunhão por que eram todos judeus, e os judeus estavam acostumados a se manterem em grupos mais coesos, mais fechados, até por uma questão de sobrevivência. De novo, é um argumento muito bom, mesma nacionalidade, autoconservação mas...

Em primeiro lugar a igreja era composta por gente de mais de 15 países diferentes, com estilos de vida relativamente diferentes, a ponto de em pouco tempo a primeira junta diaconal ter que ser organizada justamente para resolver problemas causados por dificuldades de relacionamento devido a nacionalidade (At 6:1 Ora, naqueles dias, multiplicando-se o número dos discípulos, houve murmuração dos helenistas contra os hebreus, porque as viúvas deles estavam sendo esquecidas na distribuição diária).

Em segundo lugar, a igreja estava poderosamente impactada pela ação do Espírito Santo e por isso seus membros queriam experimentar ainda mais do poder de Deus, reunindo-se onde podiam. Iam ao templo de Jerusalém onde provavelmente se reuniam perto dos mesmos portões onde Jesus conversara com os doutores da lei no início da sua adolescência (Lc 2:49 Ele lhes respondeu: Por que me procuráveis? Não sabíeis que me CUMPRIA estar na casa de meu Pai?), reuniam-se de casa em casa e sempre com alegria e singeleza de coração!

Mas isto levanta uma pergunta: a igreja de hoje não está mais impactada pela ação do Espírito Santo? Não quer mais experimentar o poder de Deus em comunhão com o povo de Deus? A igreja não deseja estar na casa do seu Pai como Cristo disse que lhe cumpria (δει – necessário pela própria natureza, correto, requerido para atingir um fim, um dever imposto por lei ou decreto), e como o salmista afirmava que desejava ardentemente estar na casa do Senhor (Sl 84:2 A minha alma suspira e desfalece pelos átrios do SENHOR; o meu coração e a minha carne exultam pelo Deus vivo!).

A comunhão com os santos do Senhor que era a fonte de prazer para o coração do crente já deixou de ser (Sl 16:3 Quanto aos santos que há na terra, são eles os notáveis nos quais tenho todo o meu prazer)? Quem será que deu direito à igreja de substituir a perseverança diária na comunhão pela visita esporádica e às vezes protocolar a uma ou duas reuniões no fim de semana? A igreja deixou de ser ekklesia, deixou de ser a comunidade dos salvos, a comunidade dos eleitos que foram tirados do mundo para fazer parte de um corpo (Rm 12:4 Porque assim como num só corpo temos muitos membros, mas nem todos os membros têm a mesma função, 5 assim também nós, conquanto muitos, somos um só corpo em Cristo e membros uns dos outros). A união dos crentes em Cristo faz deles um só edifício e não tijolos esparsos cada um em seu canto, uma só lavoura e não plantas isoladas, cooperando com Cristo e uns com outros para mútua edificação (1Co 3:9 Porque de Deus somos cooperadores; lavoura de Deus, edifício de Deus sois vós)?

Mesmo quando a igreja passou a ser perseguida ela continuava se reunindo, continuava perseverando diariamente na doutrina dos apóstolos e na comunhão. A igreja tinha uma agenda de comunhão uns com os outros – e a igreja e a igreja que quer crescer em número, que quer crescer em comunhão e que deseja crescer espiritualmente precisa colocar a edificação como algo prioritário na sua agenda.

A segunda pergunta que eu tenho para você nesta noite é: você quer que a sua igreja – e a igreja é você – cresça? Que importância você dá para a comunhão com seus irmãos em Cristo? Se você pegar a agenda do ano de 2022 e for marcar quantas vezes você buscou a comunhão com seus irmãos em Cristo você escaparia de uma reprovação por falta se fosse em uma escola? Talvez seja momento propício de você reavaliar a sua agenda de comunhão, pois com certeza se você não tem comunhão com os santos que há na terra existem outros nováveis aos quais você dá valor, mesmo que sejam virtuais e eles nem saibam de sua existência.

III.           A IGREJA TINHA UMA AGENDA DE ADORAÇÃO

Eu acredito que, de acordo com a Palavra de Deus, a igreja foi criada para exercer uma vasta gama de atividades, embora haja teólogos que exaltem tanto uma das funções da igreja que acabam se esquecendo das demais. Há quem insista tanto em missões que se esquece da função propedêutica, de ensino, da igreja. há outros que enfatizam o ensino e se esquecem do cuidado dos pobres, órfãos e viúvas. Há aqueles que enfatizam a ação social e se esquecem da evangelização, deixam de denunciar o pecado e conclamar os ouvintes ao arrependimento. O ensino da Palavra de Deus é que a igreja foi chamada para tornar conhecida a multiforme sabedoria de Deus (Ef 3:10 ...para que, pela igreja, a multiforme sabedoria de Deus se torne conhecida, agora, dos principados e potestades nos lugares celestiais) que inclui todas estas coisas e várias outras mais.

Todas as coisas que Deus quer que a igreja seja e faça pode estar resumida em uma frase do breve catecismo a respeito da razão da existência do homem, da razão da sua existência: A função da igreja é glorificar a Deus e (em decorrência disso) gozá-lo para sempre. Para que você não fizesse isso sozinho, e talvez desanimasse, Deus colocou você numa igreja, numa comunidade adoradora (Hb 10:24 Consideremo-nos também uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras).

Talvez você pergunte: pastor, onde está isto de ‘comunidade adoradora’ no texto de At 2? A resposta é: eles partiam o pão. Partir o pão é uma fórmula bem conhecida de referir-se à ceia do Senhor. E a ceia é realizada num culto, num momento que deve ser de comunhão e de adoração, anunciando o que Cristo fez (a sua morte) e o que ainda fará (seu retorno glorioso). Diante disto tudo o mais se torna irrelevante, todos os tesouros do mundo perdem seu brilho e todas as coisas que demandam sua atenção perdem importância (Rm 14:17 Porque o reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo).

Mas talvez você diga que aquela igreja era diferente, porque ela tinha homens como Barnabé (e não somente ele) que vendiam suas propriedades e colocavam o produto da venda aos pés dos apóstolos. O culto era sempre uma festa de amor, de comunhão, de cuidado. Mas o que mudou? Era por causa dos donativos que a igreja adorava? É por causa de acessórios que a igreja deve se reunir? Não. Lucas diz que a igreja adorava porque em cada alma havia temor, amor santo e reverente. E por isso ela adorava.

Porque a igreja adora cada vez menos? Porque falta tempo? Porque falta disposição? Há problema na execução das músicas? Ou na escolha? Nas acomodações? No equipamento? Na iluminação? Onde está o problema para a igreja deixar de frequentar as reuniões, mesmo sabendo que o Senhor não se agrada disso e até manda que você não deixe de congregar (Hb 10:25 Não deixemos de congregar-nos, como é costume de alguns; antes, façamos admoestações e tanto mais quanto vedes que o Dia se aproxima)?

Ou será que o problema não está no coração, ou, melhor, na falta de disposição do coração? Não deveria ser assim porque o Senhor já deu para a igreja um novo coração.

A terceira pergunta que eu tenho para você nesta noite é: você quer que a sua igreja – e a igreja é você – seja uma comunidade composta por adoradores, por verdadeiros adoradores? Que importância você dá para um tempo de adoração em comunhão com a igreja de Cristo? Volte pra sua agenda. Marque mentalmente quantas vezes você esteve presente às reuniões de adoração?

Você seria aprovado ou reprovado por falta se fosse em uma escola? Talvez seja momento propício de você reavaliar a sua agenda de adoração, pois com certeza quem não adora a Deus adora a outra coisa, aos ídolos do mundo ou aos seus próprios ídolos do coração, mas ninguém deixa de adorar algo ou alguma.

IV.             A IGREJA TINHA UMA AGENDA DE ORAÇÃO

Uma igreja que perseverava na doutrina apostólica, que praticava a comunhão dos santos em cultos de adoração obviamente não poderia se esquecer de um aspecto essencial de sua vida de intimidade com Deus, algo que os próprios apóstolos pediram ao Senhor que lhes ensinasse: a prática da oração (Lc 11:1 De uma feita, estava Jesus orando em certo lugar; quando terminou, um dos seus discípulos lhe pediu: Senhor, ensina-nos a orar como também João ensinou aos seus discípulos). Eles sabiam orar. Era uma prática usual dos judeus – mas eles queriam experimentar a comunhão com o Senhor que Jesus tinha, e foi isso que pediram: eles queriam entrar em comunhão com o Pai através da oração.

Em um momento crucial da igreja, onde decisões organizacionais precisavam ser tomadas, os apóstolos escolheram ensinar e orar (At 6:3 Mas, irmãos, escolhei dentre vós sete homens de boa reputação, cheios do Espírito e de sabedoria, aos quais encarregaremos deste serviço; 4 e, quanto a nós, nos consagraremos à ORAÇÃO e ao MINISTÉRIO DA PALAVRA). Como eles poderiam abandonar os momentos de intimidade e comunhão com Deus? Como poderiam se desligar da fonte de poder e graça que os sustentava quando eram maltratados e perseguidos por causa de sua fé?

Mesmo tendo sua vida em risco eles preferiam estar juntos para orar. Quando Pedro foi preso e milagrosamente libertado pelo Senhor, podendo fugir de Jerusalém para não ser preso novamente ele simplesmente se dirige ao local onde a igreja está reunida. Não arquitetam um plano de fuga, nem convidaram políticos ou advogados para articularem alguma estratégia – eles oravam. E foi para lá que Pedro escolheu ir após sair da prisão: para uma reunião de oração (At 12:11 Então, Pedro, caindo em si, disse: Agora, sei, verdadeiramente, que o Senhor enviou o seu anjo e me livrou da mão de Herodes e de toda a expectativa do povo judaico. 12 Considerando ele a sua situação, resolveu ir à casa de Maria, mãe de João, cognominado Marcos, onde muitas pessoas estavam congregadas e ORAVAM).

Os apóstolos sabiam que comunhão com Deus produz confiança, e confiança produz testemunho poderoso. E não há comunhão com Deus sem oração assim como não há relacionamento íntimo com uma pessoa e não quiser proximidade, não quiser dizer o que pensa, o que sente, e ouvir o que o outro tem a dizer. Nenhum cristão, ninguém que afirma está em aliança com Deus terá vida frutífera, abençoada e abençoadora se negligenciar a busca pela intimidade com o Senhor (Sl 25:14 A intimidade do SENHOR é para os que o temem, aos quais ele dará a conhecer a sua aliança).

A oração era vital para a igreja. E a igreja tinha vitalidade. A igreja orava em todo o tempo e em todo lugar – a igreja orava sem cessar (1Ts 5:17 Orai sem cessar). Orava dando graças; orava pedindo sabedoria; orava pedindo direção; orava pedindo poder para testemunhar. Fazia parte da estratégia da igreja orar. E a igreja orava, orava em secreto, orava publicamente – a igreja orava e agia, e colhia frutos porque Deus respondia a sua oração com graça.

Será que a igreja perdeu a fé na capacidade de Deus de recompensar aqueles que o buscam (Hb 11:6 De fato, sem fé é impossível agradar a Deus, porquanto é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe e que se torna galardoador dos que o buscam)?

Eis a quarta e importante pergunta que eu tenho para você nesta noite é: você quer que a sua igreja – e a igreja é você – seja uma comunidade com vitalidade e poder por causa da vida de oração? Que importância você dá para um tempo de oração em comunhão com a igreja de Cristo? Volte pra sua agenda agora. Quantas vezes você esteve presente às reuniões de oração? Onde você tem estado? O que tem feito? Do que tem alimentado o seu Espírito? Reavalie a sua agenda de oração – e se você não tem vontade de orar, ore pedindo para Deus te dar vontade para orar.

O QUE ACONTECEU COM A AGENDA DA IGREJA?

Talvez você responda genericamente como muitos fazem: acho que a igreja esfriou. A igreja não é mais como antes. A igreja não tem mais o mesmo comprometimento que tinha antes. A igreja está diferente porque os tempos estão diferentes.

É provável que você já tenha ouvido, ou até já tenha dito que queria que a igreja fosse mais avivada, fosse mais alegre, fosse mais acolhedora, fosse mais amorosa, fosse mais qualquer outra coisa.

Mas existe um detalhe que eu não vou deixar você sair daqui sem ser lembrado: a igreja é você. Você é a igreja. É de você que o Senhor está falando quando diz que comprou a igreja por seu próprio sangue (At 20:28 Atendei por vós e por todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos, para pastoreardes a igreja de Deus, a qual ele comprou com o seu próprio sangue).

É de você que ele diz que, quando o próprio inferno se levantar, suas portas, isto é, suas forças, não prevalecerão. O inferno inteiro não prevalecerá contra você (Mt 16:18 Também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela).

Foi por você que o apóstolo Paulo foi escolhido pelo Senhor para testemunhar a salvação entre os gentios (At 9:15 Mas o Senhor lhe disse: Vai, porque este é para mim um instrumento escolhido para levar o meu nome perante os gentios e reis, bem como perante os filhos de Israel; 16 pois eu lhe mostrarei quanto lhe importa sofrer pelo meu nome) e era por causa disso que Paulo não recuava em nenhuma situação, pregando ousadamente o nome do Senhor mesmo que isto lhe trouxesse o sofrimento predito pelo Senhor Jesus (Cl 1:24 Agora, me regozijo nos meus sofrimentos por vós; e preencho o que resta das aflições de Cristo, na minha carne, a favor do seu corpo, que é a igreja; 25 da qual me tornei ministro de acordo com a dispensação da parte de Deus, que me foi confiada a vosso favor, para dar pleno cumprimento à palavra de Deus: 26 o mistério que estivera oculto dos séculos e das gerações; agora, todavia, se manifestou aos seus santos; 27 aos quais Deus quis dar a conhecer qual seja a riqueza da glória deste mistério entre os gentios, isto é, Cristo em vós, a esperança da glória).

Foi por você que Cristo se alegrou, mesmo no pior dos sofrimentos, na cruz do calvário, quando o santo era morto no lugar dos injustos (1Pe 3:18 Pois também Cristo morreu, uma única vez, pelos pecados, o justo pelos injustos, para conduzir-vos a Deus; morto, sim, na carne, mas vivificado no espírito).

Ele olhava para você, e considerava sua salvação, considerava livrar você do domínio do diabo, livrar você do inferno e da morte recompensa justa e suficiente pelo sofrimento que experimentava (Is 53:11 Ele verá o fruto do penoso trabalho de sua alma e ficará satisfeito; o meu Servo, o Justo, com o seu conhecimento, justificará a muitos, porque as iniqüidades deles levará sobre si).

Este é o lado bom da moeda. E o outro lado? Teria um lado bom e outro ruim? Não, de jeito nenhum. O outro lado é bom também. É o lado do comprometimento com o Senhor e seu reino, e ser chamado seu povo, e gozar os benefícios de seu senhorio (Jr 7:23 Mas isto lhes ordenei, dizendo: Dai ouvidos à minha voz, e eu serei o vosso Deus, e vós sereis o meu povo; andai em todo o caminho que eu vos ordeno, para que vos vá bem).

É o lado de fazer parte de um povo santo e gozar da comunhão dos eleitos de Deus (Sl 16:3 Quanto aos santos que há na terra, são eles os notáveis nos quais tenho todo o meu prazer). É o lado de poder falar com Deus junto com os santos e em qualquer lugar, mesmo sozinho, sabendo que ele ouve a oração dos que o buscam (Sl 4:1 Responde-me quando clamo, ó Deus da minha justiça; na angústia, me tens aliviado; tem misericórdia de mim e ouve a minha oração).

Talvez você ache que isso são obrigações, são mandamentos. E quer saber de uma coisa? Sim. São obrigações, são mandamentos do Senhor.

Mas há um detalhe nestas obrigações e mandamentos: eles não são penosos para o crente (1Jo 5:3 Porque este é o amor de Deus: que guardemos os seus mandamentos; ora, os seus mandamentos não são penosos) porque aquele que nasceu de novo tem um novo coração que se agrada em fazer a vontade do seu Senhor mais que a sua própria vontade, ou, melhor dizendo, sua vontade foi renovada, foi restaurada, foi redimida e reorientada para fazer com alegria o que o agrada ao seu Senhor, e nisto o crente se alegra (Sl 40:8 ...agrada-me fazer a tua vontade, ó Deus meu; dentro do meu coração, está a tua lei).

segunda-feira, 7 de agosto de 2023

ESTUDOS NA CARTA DE TIAGO - VII SUPERSTIÇÃO E PIEDADE PRODUZEM RESULTADOS DIFERENTES

VII. SUPERSTIÇÃO E PIEDADE PRODUZEM RESULTADOS DIFERENTES

Tg 1:26 Se alguém supõe ser religioso, deixando de refrear a língua, antes, enganando o próprio coração, a sua religião é vã. 27 A religião pura e sem mácula, para com o nosso Deus e Pai, é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações e a si mesmo guardar-se incontaminado do mundo.

Religião e superstição disputam o coração do homem em todos os lugares do mundo. Estatisticamente a superstição, que também pode ser chamada de crendice ou de suposição, ou ainda de credulidade, tem levado vantagem. Os números são auto evidentes – e isto está de acordo com a Palavra de Deus, que não mente (Mt 20:16 Assim, os últimos serão primeiros, e os primeiros serão últimos porque muitos são chamados, mas poucos escolhidos).

A grande maioria da humanidade ao longo de toda a sua história prefere o caminho largo, a estrada na qual há muitas e variadas opções – e todas conduzindo à perdição e à morte, ao invés de andar pelo caminho estreito, escolhido por poucos, que conduz à vida (Mt 7:13 Entrai pela porta estreita [larga é a porta, e espaçoso, o caminho que conduz para a perdição, e são muitos os que entram por ela], 14 porque estreita é a porta, e apertado, o caminho que conduz para a vida, e são poucos os que acertam com ela).

Mas isto me lembra uma ilustração feita por um amigo e professor, cerca de três décadas atrás. Segundo ele a salvação deve ser vista como uma ‘corrida’ não qual existem alguns lugares no pódio, e geralmente centenas e até milhares participam, mas apenas alguns conseguem garantir o seu lugar.

O cinema já consagrou filmes em que planetas ou civilizações estão em vias destruição e há poucas vagas em algum meio de salvação – a maioria acaba se perdendo.

O que o cinema faz é apenas uma mudança (não é capaz de criar, apenas copiar, adaptar, enfeitar, mas não criar). Os escritores, roteiristas, cinegrafistas etc. utilizando o que a imaginação humana é capaz de fazer apenas fazem apenas mudanças estéticas no que, fundamentalmente, pode ser encontrado na história do patriarca Noé.

A maioria (quase que completamente toda a humanidade, com exceção de oito almas) se perdeu porque se manteve descrente. Eles supunham que estavam em segurança, sabiam que nunca tinha havido nada parecido com o cataclisma que Noé pregava tão insistentemente e, é claro, eles não tinham nenhuma evidência que aquilo pudesse acontecer... eles supunham. Noé cria e agia!

E esta é a distinção que Tiago faz: há uma diferença muito clara entre pessoas que prestam atenção, creem e obedecem a Palavra de Deus, praticando-a, e aquelas que, independentemente do ensino que adotam, simplesmente supõem que a sua opinião seja a melhor prática religiosa, abrem seus próprios caminhos e preferem adotar um estilo de vida próprio, particular, e defendem ardorosamente esta escolha.

Tg 1:26 Se alguém supõe ser religioso, deixando de refrear a língua, antes, enganando o próprio coração, a sua religião é vã.

Falando de um personagem hipotético e que pode ser facilmente aplicável a qualquer pessoa que adote esta atitude, Tiago diz que existem pessoas cuja opinião a respeito de si mesmas é que são religiosas. A palavra aqui traduzida por suposição (dokei) não é boa nem má em si mesma. A problema não está na palavra, mas na atitude daquele ‘alguém’ a quem ela se refere – e neste sentido, o uso que Tiago faz é pejorativo. Ele está falando de alguém que está supondo erroneamente. Alguém que faz um juízo de si mesmo que também poderia ser chamado de hipocrisia.

O principal problema da hipocrisia é que seus praticantes acham que estão corretos (Rm 10:3 Porquanto, desconhecendo a justiça de Deus e procurando estabelecer a sua própria, não se sujeitaram à que vem de Deus) – e na verdade eles não estão sendo mentirosos, isto é, eles não estão deliberadamente tentando enganar os outros porque estão fazendo e ensinado o que acham ser correto – o problema é que eles enganam a si mesmos, e com isto perpetuam os seus erros nos discípulos que fazem, por isso são comparados a cegos que guiam cegos (Mt 23:16 Ai de vós, guias cegos, que dizeis: Quem jurar pelo santuário, isso é nada; mas, se alguém jurar pelo ouro do santuário, fica obrigado pelo que jurou!).

Mateus registra em seu evangelho que os praticantes deste juízo irreal a respeito de si mesmos foram criticados por Jesus com extrema dureza. Poucas palavras de Jesus foram dirigidas tão duramente para outras pessoas quanto a que ele endereçou aos hipócritas (Mt 23:13 Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque fechais o reino dos céus diante dos homens; pois vós não entrais, nem deixais entrar os que estão entrando! 14 Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque devorais as casas das viúvas e, para o justificar, fazeis longas orações; por isso, sofrereis juízo muito mais severo! 15 Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque rodeais o mar e a terra para fazer um prosélito; e, uma vez feito, o tornais filho do inferno duas vezes mais do que vós!), não apenas pelo que eles eram, mas por fazerem questão de parecer aquilo que não eram em busca de aceitação social (Mt 6:16 Quando jejuardes, não vos mostreis contristados como os hipócritas; porque desfiguram o rosto com o fim de parecer aos homens que jejuam. Em verdade vos digo que eles já receberam a recompensa).

Os hipócritas se caracterizam pela prática de oferecerem um modelo de aparente piedade e santidade, parecendo aos observadores externos que Deus se agrada deles, mas na prática não possuem nada de espiritualmente aceitável (Mt 23:27 Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque sois semelhantes aos sepulcros caiados, que, por fora, se mostram belos, mas interiormente estão cheios de ossos de mortos e de toda imundícia!).

É óbvio que ninguém deseja receber do Senhor o mesmo tipo de julgamento – mas para isso é necessário mais que palavras nos lábios e atos religiosos bem executados (Is 29:13 O Senhor disse: Visto que este povo se aproxima de mim e com a sua boca e com os seus lábios me honra, mas o seu coração está longe de mim, e o seu temor para comigo consiste só em mandamentos de homens, que maquinalmente aprendeu). É preciso enxergar a si mesmo como Deus enxerga, e receber com gratidão a ação perdoadora de Deus em seu favor (Lc 18:13 O publicano, estando em pé, longe, não ousava nem ainda levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: Ó Deus, sê propício a mim, pecador! 14 Digo-vos que este desceu justificado para sua casa, e não aquele; porque todo o que se exalta será humilhado; mas o que se humilha será exaltado).

Tg 1:26 Se alguém supõe ser religioso, deixando de refrear a língua, antes, enganando o próprio coração, a sua religião é vã.

É provável que você conheça o provérbio que diz que ‘religião não se discute’. Alguns mais afoitos, nestes tempos de mídia social, de embates via Youtube, Twitter, Instagram e outras muito afoitamente vão discordar, afinal, o que mais vemos nos últimos tempos são discussões infrutíferas, geralmente capitaneadas por gente irrelevante que quer aparecer às custas das falas de pessoas que já tem alguma respeitabilidade. São os anões que querem aparecer às custas dos gigantes. Sem tomar partido quero demonstrar que a prática atual é discutir religião numa lamentável perda de tempo e de energia que poderia ser canalizada e mais bem utilizada em algo mais construtivo, produtivo, como, por exemplo, ensino e evangelização.

Este ‘alguém’ de quem Tiago fala não vai agir assim porque quer parecer, mostrar algo que não existe no interior despejando palavras soltas ao vento, como vemos na oração do hipócrita fariseu (Lc 18:11 O fariseu, posto em pé, orava de si para si mesmo, desta forma: Ó Deus, graças te dou porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros, nem ainda como este publicano; 12 jejuo duas vezes por semana e dou o dízimo de tudo quanto ganho).

Uma suposta religião traz três resultados que demonstram sua ineficácia. A primeira característica é ser uma religiosidade com mais discurso que prática. O que é dito como expressão da crença formal não produz reflexos na prática diária (1Tm 1:7 pretendendo passar por mestres da lei, não compreendendo, todavia, nem o que dizem, nem os assuntos sobre os quais fazem ousadas asseverações). É aquela que diz, acertadamente, que é dever do cristão amar ao próximo, mas se resume a discurso que não se concretiza na prática, como denuncia o apóstolo João (1Jo 3:18 Filhinhos, não amemos de palavra, nem de língua, mas de fato e de verdade). Tiago tinha uma grande preocupação com o que a língua de uma pessoa que supõe ser religiosa é capaz de fazer e Pedro trata deste mesmo assunto, ensinando a deixar de ser pseudorreligioso e viver piedosamente dizendo que a língua deve ser refreada do mal e o falar doloso evitado pelos crentes (1Pe 3:10 Pois quem quer amar a vida e ver dias felizes refreie a língua do mal e evite que os seus lábios falem dolosamente).

A segunda característica desta aparência de religião denunciada por Tiago é o de enganar o próprio coração, numa retroalimentação de engano, já que o coração é enganoso e corrupto (Jr 17:9 Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto; quem o conhecerá?). O pseudorreligioso satisfaz-se com o engano, cria argumentos e justificativas para suas práticas ‘em nome de (seu próprio) deus’, faz afirmações ousadas a respeito de si mesmos que não condizem com aquilo que são realmente (Lc 3:8 Produzi, pois, frutos dignos de arrependimento e não comeceis a dizer entre vós mesmos: Temos por pai a Abraão; porque eu vos afirmo que destas pedras Deus pode suscitar filhos a Abraão) e não possuem um coração reto, apesar de querer os benefícios da vida religiosa (At 8:21 Não tens parte nem sorte neste ministério, porque o teu coração não é reto diante de Deus).

O resultado desta pseudorreligiosidade é ser uma completa inutilidade. A palavra que traduzimos por vã (mataioj) significa literalmente um ídolo, algo inútil e que não é capaz de produzir resultado algum, compreendendo coisas como a sabedoria do mundo, práticas idólatras, qualquer crença que negue a ressurreição de Cristo, contendas e um estilo de vida vazio de poder espiritual. O problema é que há quem se contente com este tipo de prática religiosa, mas, no fim, se tornarão os mais infelizes de todos os homens porque argumentarão com Jesus que possuíram uma vida religiosa (Mt 7:22 Muitos, naquele dia, hão de dizer-me: Senhor, Senhor! Porventura, não temos nós profetizado em teu nome, e em teu nome não expelimos demônios, e em teu nome não fizemos muitos milagres?) e ouvirão um veemente: nunca vos conheci (Mt 7:23 Então, lhes direi explicitamente: nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a iniqüidade).

Tg 1:27 A religião pura e sem mácula, para com o nosso Deus e Pai, é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações e a si mesmo guardar-se incontaminado do mundo.

O que deve fazer aquele que tem acreditado, em vão, que sua religiosidade é satisfatória e descobre que Jesus não o aceitará no dia final? A resposta de Tiago é simples: precisa mudar urgentemente, precisa deixar a vaidade de seus próprios pensamentos (Ef 4:17 Isto, portanto, digo e no Senhor testifico que não mais andeis como também andam os gentios, na vaidade dos seus próprios pensamentos) e sujeitá-los a Deus como era feito com os cativos de guerra na antiguidade (2Co 10:5 ...e toda altivez que se levante contra o conhecimento de Deus, e levando cativo todo pensamento à obediência de Cristo).

Já ouvi pessoas dizendo que quem quer ser salvo precisa deixar de ser religioso no entanto isto é um perigoso equívoco, porque a bíblia ensina a ser religioso. Os discípulos de Jesus eram religiosos. Paulo era religioso, mesmo depois de sua conversão no caminho de Damasco (1Co 9:20 Procedi, para com os judeus, como judeu, a fim de ganhar os judeus; para os que vivem sob o regime da lei, como se eu mesmo assim vivesse, para ganhar os que vivem debaixo da lei, embora não esteja eu debaixo da lei. 21 Aos sem lei, como se eu mesmo o fosse, não estando sem lei para com Deus, mas debaixo da lei de Cristo, para ganhar os que vivem fora do regime da lei). Jesus era perfeitamente religioso e afirma desde o primeiro momento de seu ministério público a necessidade de obedecer às normas da religião (Mt 3:15 Mas Jesus lhe respondeu: Deixa por enquanto, porque, assim, nos convém cumprir toda a justiça. Então, ele o admitiu) e fez questão de cumprir toda a lei que fora dada por intermédio de Moisés, e é claro que a lei mosaica era uma legislação religiosa.

O problema de Israel não estava na religião. O problema estava na maneira como eles viviam a religião. Mesmo os mais cuidadosos em sua obediência aos preceitos da lei erravam por terem muito zelo formal e pouco entendimento do que Deus realmente queria deles (Rm 10:2 Porque lhes dou testemunho de que eles têm zelo por Deus, porém não com entendimento).

O problema dos judeus era que eles se satisfaziam com sua religiosidade impura, misturada com fábulas (2Pe 1:16 Porque não vos demos a conhecer o poder e a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo seguindo fábulas engenhosamente inventadas, mas nós mesmos fomos testemunhas oculares da sua majestade), na qual eles rejeitavam, por meio de subterfúgios teológicos e hermenêuticos, os preceitos do Senhor (Mc 7:9 E disse-lhes ainda: Jeitosamente rejeitais o preceito de Deus para guardardes a vossa própria tradição) e, pior ainda, acabavam considerando como inválidos os mandamentos do Senhor (Mc 7:13 ...invalidando a palavra de Deus pela vossa própria tradição, que vós mesmos transmitistes; e fazeis muitas outras coisas semelhantes).

Esta religiosidade não serve, o Senhor não aceita, Ele requer uma religião pura, na qual o adorador seja um verdadeiro adorador (Jo 4:23 Mas vem a hora e já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque são estes que o Pai procura para seus adoradores), alguém que o adore com integridade, com todo o vigor de seu coração (Jr 24:7 Dar-lhes-ei coração para que me conheçam que eu sou o SENHOR; eles serão o meu povo, e eu serei o seu Deus; porque se voltarão para mim de todo o seu coração) e que tenha uma vida que seja como a descrita pelo profeta Miquéias:

Mq 6:8 Ele te declarou, ó homem, o que é bom e que é o que o SENHOR pede de ti: que pratiques a justiça, e ames a misericórdia, e andes humildemente com o teu Deus.

Tg 1:27 A religião pura e sem mácula, para com o nosso Deus e Pai, é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações e a si mesmo guardar-se incontaminado do mundo.

Atos tem consequências. Não é possível imaginar que seja possível tomar decisões importantes sem consequências relevantes. Abandonar a vaidade de uma religião de suposições leva o crente a olhar, em primeiro lugar, para o seu relacionamento com Deus. Note a sequência de resultados elencados por Paulo quando afirma que pregou o evangelho por diversos lugares: arrependimento, conversão para Deus e vida piedosa (At 26:20 ...mas anunciei primeiramente aos de Damasco e em Jerusalém, por toda a região da Judéia, e aos gentios, que se (1) arrependessem e se (2) convertessem a Deus, (3) praticando obras dignas de arrependimento).

Muitos estudiosos do passado diziam que Paulo e Tiago eram antagonistas, o que não é o caso. Tiago também diz que é preciso abandonar a religiosidade vã e passar a praticar a verdadeira religião (arrependimento) em um novo relacionamento com Deus (conversão) e, por fim, um relacionamento com a criação de Deus, com os semelhantes, biblicamente orientado (prática de obras dignas). Não há, em lugar algum, a menor discordância entre autores das Escrituras. A Escritura se completa, não há falhas, e é dotada de perfeição ilimitada, como é maravilhosamente afirmado pelo salmista (Sl 119:96 Tenho visto que toda perfeição tem seu limite; mas o teu mandamento é ilimitado).

Como saber se a sua religião é verdadeira?

Em primeiro lugar, você precisa observar como é o seu relacionamento com Deus. É motivada por amor e gratidão ou por medo e interesse? Se a sua religiosidade não afeta seu coração e não muda seus interesses então ela é um terrível engano, como foi no caso de Simeão, o mago samaritano (At 8:21 Não tens parte nem sorte neste ministério, porque o teu coração não é reto diante de Deus). Se sua religiosidade não muda as afeições do seu coração então não é uma religião pura, está maculada pelos interesses mundanos e carnais.

Em segundo lugar, você precisa observar se sua religiosidade afeta o seu relacionamento com seu próximo, especialmente com aqueles que precisam de ti (At 20:35 Tenho-vos mostrado em tudo que, trabalhando assim, é mister socorrer os necessitados e recordar as palavras do próprio Senhor Jesus: Mais bem-aventurado é dar que receber). O normal da religiosidade impura e cheia de máculas é a troca de favores, como ocorreu na troca de favores entre Herodes e Pilatos (Lc 23:11 Mas Herodes, juntamente com os da sua guarda, tratou-o com desprezo, e, escarnecendo dele, fê-lo vestir-se de um manto aparatoso, e o devolveu a Pilatos. 12 Naquele mesmo dia, Herodes e Pilatos se reconciliaram, pois, antes, viviam inimizados um com o outro).

Você já reconheceu seu estado de pecado e de necessidade do perdão gracioso de Deus para a sua salvação, deixando de confiar em si mesmo, no que você faz ou possui (Fp 3:7 Mas o que, para mim, era lucro, isto considerei perda por causa de Cristo. 8 Sim, deveras considero tudo como perda, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; por amor do qual perdi todas as coisas e as considero como refugo, para ganhar a Cristo 9 e ser achado nele, não tendo justiça própria, que procede de lei, senão a que é mediante a fé em Cristo, a justiça que procede de Deus, baseada na fé)? Este é um bom indício de que sua religião é pura e não está manchada pela confiança pelo sangue que todo pecador carrega nas mãos.

Você já reconheceu que Deus é o único Senhor, e Jesus Cristo o seu único salvador, porque fora dele não há salvação para ninguém (At 4:12 E não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos) por que todos são pecadores e justamente merecedores da condenação e morte eternas?

Por fim, sua vida religiosa afeta não só sua espiritualidade, mas também sua vida comunitária, amando o seu próximo e especialmente a comunhão com os santos de Deus (Sl 16:3 Quanto aos santos que há na terra, são eles os notáveis nos quais tenho todo o meu prazer), não desprezando os momentos de congraçamento da igreja para adorar ao Senhor (Hb 10:25 Não deixemos de congregar-nos, como é costume de alguns; antes, façamos admoestações e tanto mais quanto vedes que o Dia se aproxima) procurando o bem de todos, orando pela paz e pela prosperidade do povo de Deus (Sl 122:6 Orai pela paz de Jerusalém! Sejam prósperos os que te amam. 7 Reine paz dentro de teus muros e prosperidade nos teus palácios. 8 Por amor dos meus irmãos e amigos, eu peço: haja paz em ti! 9 Por amor da Casa do SENHOR, nosso Deus, buscarei o teu bem).

Você consegue ver isto em sua vida, sem hipocrisia?

Mt 24:46 Bem-aventurado aquele servo a quem seu senhor, quando vier, achar fazendo assim.

ESTUDOS NA CARTA DE TIAGO - VI A DIFERENÇA ENTRE SER OUVINTE E PRATICANTE

VI. A DIFERENÇA ENTRE SER OUVINTE E PRATICANTE

23 Porque, se alguém é ouvinte da palavra e não praticante, assemelha-se ao homem que contempla, num espelho, o seu rosto natural; 24 pois a si mesmo se contempla, e se retira, e para logo se esquece de como era a sua aparência. 25 Mas aquele que considera, atentamente, na lei perfeita, lei da liberdade, e nela persevera, não sendo ouvinte negligente, mas operoso praticante, esse será bem-aventurado no que realizar.

Há coisas que as pessoas sabem que sabem, há coisas que as pessoas sabem sem saber e há coisas que as pessoas sabem e fazem como se não soubessem. Se a maioria das pessoas forem questionadas, rapidamente, sobre quanto é a metade de 2+2 logo respondem 2, porque, afinal, 2+2 é igual a 4, e a metade de 4 é 2.

Só que... lá atrás, quando ainda estavam no ensino fundamental, aprenderam que não é assim que se procede em matemática. Sabem, ou pelo menos aprenderam porque todo professor de matemática ensina, mas não aplicam a regra que é: faça primeiro divisão e multiplicação, na ordem em que aparecerem, e depois adição e subtração, sob a mesma regra de ordem. Assim, o resultado não é 2, mas é três, pois a metade de 2 é 1, mais 2 é igual a 3.

E o que isto tem a ver com a vida se você não é professor de matemática ou engenheiro? Não é a operação aritmética, mas um princípio que eu quero destacar e que pode ser muito útil na sua vida. Você quer saber a razão pela qual as pessoas erram esta operação tão simples? Porque sabem o que devem fazer, mas irrefletidamente não fazem o que devem e fazem o que acham que é certo (Tg 4:17 Portanto, aquele que sabe que deve fazer o bem e não o faz nisso está pecando).

A Bíblia é o livro da vida, não um livro de filosofia. Não há dúvidas de que os autores bíblicos escreveram para tratar de assuntos concretos, problemas vivenciados pela comunidade (como nas cartas aos coríntios, ou aos gálatas), entre pessoas e a comunidade (caso das cartas de Tito e Timóteo) ou por pessoas específicas (no caso da carta de Filemom). O evangelho de Mateus foi escrito com um propósito imediato diferente do de João, embora ambos tratem da mesma história, dos mesmos fatos, mas com o objetivo de ajudarem a igreja a enfrentar problemas diferentes.

Mas você também vai encontrar uma característica interessante: a abstração, a não identificação direta do destinatário, com Tiago faz no verso 23 (e vai repetir no verso 26). Considerada a orientação para que o crente viva a sua fé, seja um praticante e não apenas um ‘ouvinte não comprometido com o que ouve’, ele prossegue: se alguém (ei tij), justamente este ouvinte não praticante, se alguém se contenta com apenas ouvir então sua fé não passa da crença em algo aparente, externo, difuso, facilmente esquecível e que não terá utilidade alguma quanto tiver que enfrentar a provação – vai fraquejar porque sua crença não é a fé alicerçada na rocha dos séculos.

Contemplar em um espelho (que na maior parte das vezes não tinha a nitidez dos nossos espelhos atuais) era uma expressão que queria dizer que a pessoa não conseguia ver com clareza, com perfeição – e acho que você, aqui, agora, terá alguma dificuldade para lembrar exatamente do seu próprio rosto.

Tiago diz que religiosidade sem prática e ineficaz, vazia, sem utilidade e sem resultados consistentes. Mas o apóstolo oferece uma alternativa – a da verdadeira fé, vivida no dia a dia, com resultados bem-aventurados. É sobre isto que trataremos a partir de agora.

23 Porque, se alguém é ouvinte da palavra e não praticante, assemelha-se ao homem que contempla, num espelho, o seu rosto natural; 24 pois a si mesmo se contempla, e se retira, e para logo se esquece de como era a sua aparência.

A religião tem sido, historicamente, uma das forças motrizes das sociedades. Qualquer observador perceberá que nenhuma sociedade foi formada sem a presença da religião. Até mesmo a construção da ímpia Babel tinha Deus como referência, embora rejeitando-o. Eles queriam chegar até os céus (Gn 11:4 Disseram: Vinde, edifiquemos para nós uma cidade e uma torre cujo tope chegue até aos céus e tornemos célebre o nosso nome, para que não sejamos espalhados por toda a terra) numa repetição do mesmo pensamento da serpente, que disse a Eva que ela seria como Deus (Gn 3:5 Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se vos abrirão os olhos e, como Deus, sereis conhecedores do bem e do mal).

Babel inaugura um tipo de religião sem Deus – uma religião com seu próprio deus, a religião do homem. Ao invés de dar adoração a Deus seus construtores queriam que seus próprios nomes fossem tornados célebres – o que, de certa forma, efetivamente aconteceu. Este é o princípio da religião natural. Ela é criada por homens, feita para homens e para celebrar homens.

E é exatamente isto o que Tiago diz aqui. É a religião que tem a cara do homem, aliás, muito apropriada para descrever a religião da geração selfie. O homem não se contenta em ver o resultado do que faz, ele quer imprimir-se em suas obras. Ele não quer fazer coisas memoráveis, ele quer ser lembrado, quer ser visto, quer ser notado – quer ver-se no que faz. Vai à igreja? Tira uma selfie e posta nas redes sociais. Participa da ceia? Tira uma selfie e posta nas redes sociais. Faz uma doação? Tira uma selfie e posta nas redes sociais.

O problema é que tudo o que o homem sem Deus, o homem natural (genesewj) faz, qualquer forma de religião natural é passageira. A religião de Babel foi passageira, a religião de Babilônia foi passageira, a religião dos egípcios foi passageira, a religião dos romanos foi passageira e precisa ser renovada, reinventada, maquiada de tempos em tempos, assim como temos a dificuldade de lembrar exatamente como é o nosso próprio rosto. Eles tinham estátuas, totens, pinturas, alto relevos em paredes de templos e até em montanhas. Nós temos selfies e redes sociais.

O problema? Não glorifica a Deus. Não dá a Deus a glória que lhe é devida. Este tipo de religião é uma usurpação da glória que só ao Senhor é devida, e é, também uma ofensa ao Senhor (Is 42:8 Eu sou o SENHOR, este é o meu nome; a minha glória, pois, não a darei a outrem, nem a minha honra, às imagens de escultura).

Se o que o homem quer é ser como Deus, se o que quer é substituir Deus, então ele pode até se satisfazer com o engano de ser o seu próprio deus – mas sua religião é absolutamente ineficaz, porque não resolve o problema de seu pecado e de alienação do Deus verdadeiro.

23 Porque, se alguém é ouvinte da palavra e não praticante, assemelha-se ao homem que contempla, num espelho, o seu rosto natural; 24 pois a si mesmo se contempla, e se retira, e para logo se esquece de como era a sua aparência.

De que adianta olhar uma imagem que você logo vai se esquecer? Imagino que você já tenha sonhado encontrando um tesouro e guardando-o em algum lugar bem protegido, que pode até ser embaixo da sua cama, seu guarda-roupas ou qualquer outro. Você está todo feliz e, de repente, você acorda. Em alguns casos você, meio sonolento, tenta dormir de novo para continuar desfrutando daquele tesouro – mas de qualquer maneira você acordará dispondo dos mesmos recursos que tinha quando foi dormir. O tesouro de seus sonhos não vale nada simplesmente porque ele não existe.

Para que serve uma religião que tenha como divindade uma coisa qualquer que não existe? De que vale uma religião sem o Deus verdadeiro? Para que serve uma religião cujo deus ou cujos deuses são incapazes de fazer algo em seu favor (Sl 135:16 Têm boca e não falam; têm olhos e não vêem; 17 têm ouvidos e não ouvem; pois não há alento de vida em sua boca). Para que serve uma religião com deuses de pedra, madeira ou metal ou que não seja nada além de pensamentos e filosofias? Quem serve tais deuses e segue tais formas de religião estão trabalhando inutilmente (Sl 135:18 Como eles (os deuses que descritos nos versos 16-17) se tornam os que os fazem, e todos os que neles confiam). O que os que ensinam tais coisas? A bíblia diz simplesmente para não darmos ouvidos (Jr 23:16 Assim diz o SENHOR dos Exércitos: Não deis ouvidos às palavras dos profetas que entre vós profetizam e vos enchem de vãs esperanças; falam as visões do seu coração, não o que vem da boca do SENHOR).

Toda esta aparência serve somente para satisfazer a necessidade de culto que o homem tem em seu coração. Mas, como ele é um rebelde, como ele não quer dar a Deus a glória que é devida ao Senhor ele cria seus próprios deuses, sua própria religião. O reconhecimento de Deus como Senhor implicaria em obediência incondicional, em entrega de seus caminhos (Jo 22:5 Tende cuidado, porém, de guardar com diligência o mandamento e a lei que Moisés, servo do SENHOR, vos ordenou: que ameis o SENHOR, vosso Deus, andeis em todos os seus caminhos, guardeis os seus mandamentos, e vos achegueis a ele, e o sirvais de todo o vosso coração e de toda a vossa alma).

Tiago ensina que uma religião que esteja baseada apenas em aparência que pode ser prontamente esquecida (epelaqeto), pode ser desprezada pela mente, pode ser facilmente substituída por outra fantasia.

Com certeza isto explica a proliferação de pessoas que se declaram a si mesmas de ‘cristãos ecléticos’, que passaram por diversas formas de religião, diversas denominações e nunca chegaram a um compromisso com Deus simplesmente porque ainda não o encontraram para que, então, entregassem a vida confiantemente às suas mãos (Hb 13:6 Assim, afirmemos confiantemente: O Senhor é o meu auxílio, não temerei; que me poderá fazer o homem?).

Sem o Deus verdadeiro você não tem para quem entregar a sua vida – só lhe resta um pensamento, uma lembrança, uma miragem.

25 Mas aquele que considera, atentamente, na lei perfeita, lei da liberdade, e nela persevera, não sendo ouvinte negligente, mas operoso praticante, esse será bem-aventurado no que realizar.

Jesus disse a seus discípulos que, se eles quisessem que as pessoas acreditassem que eles eram seus discípulos eles deveriam ter duas características: a primeira, obviamente, é fé (Jo 8:31 Disse, pois, Jesus aos judeus que haviam crido nele: Se vós permanecerdes na minha palavra, sois verdadeiramente meus discípulos) e segunda é a obediência aos mandamentos do Senhor (Jo 14:15 Se me amais, guardareis os meus mandamentos).

Tiago diz que o crente, ao invés de criar sua própria religião, ao invés de criar uma religião ineficaz, se inclina para ver atentamente (parakuyaj), para prestar atenção na lei que recebeu e que sabe que é perfeita e libertadora.

Perfeição e liberdade são duas características da verdadeira fé. Qualquer coisa que o homem crie tem, por sua própria natureza, a marca da imperfeição. Criaturas imperfeitas não são capazes de criar nada perfeito – mas a lei de Deus é perfeita, restauradora e instrutiva para a alma (Sl 19:7 A lei do SENHOR é perfeita e restaura a alma; o testemunho do SENHOR é fiel e dá sabedoria aos símplices).

Desde o Éden satanás (e boa parte da humanidade a seu serviço) tenta desacreditar a Palavra de Deus e não consegue. Gente de fora, inimigos da fé, e gente de dentro da igreja, teólogos, filósofos, cientistas e todo tipo de gente tem tentado mostrar alguma imperfeição na Lei do Senhor só para falharem miseravelmente.

A segunda característica que Tiago apresenta é que a verdadeira fé é libertadora. Jesus disse que a verdade é libertadora, sua palavra é libertadora (Jo 8:32 e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará). Religião torna seus adeptos escravos de mandamentos de homens que são maquinalmente aprendidos e mecanicamente repetidos.

Mas a promessa é para quem leva a sério a fé, para quem não é um ouvinte que não tem interesse em praticar, mas para quem, literalmente, faz a obra (poihthj ergou) que lhe foi designada fazer (Ef 2:10 Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas). A Palavra de Deus assegura verdadeira liberdade para aquele que crê e é perseverante. Não é para teimosos, não é para insistentes, mas para quem crê na Palavra e é perseverante em sua fé, seja qual for a circunstância, por mais opressiva ou tentadora que seja.

A fé obediente é perseverante (parameinaj). E isto traz resultados (1Co 16:13 Sede vigilantes, permanecei firmes na fé, portai-vos varonilmente, fortalecei-vos).

25 Mas aquele que considera, atentamente, na lei perfeita, lei da liberdade, e nela persevera, não sendo ouvinte negligente, mas operoso praticante, esse será bem-aventurado no que realizar.

Você conhece alguém que tenha decidido ‘não ser bem-sucedido’? Talvez conheça alguém que não tenha pensado no assunto, que não tenha tentado, mas alguém que tenha simplesmente decidido ser um fracasso? Acho bem difícil encontrar alguém assim.

O que mais se vê são promessas de sucesso fácil, gente ensinando ‘como ganhar seu primeiro milhão’ (vi um motorista de aplicativo, ao telefone, combinando dar um curso sobre como ganhar um milhão) e outras muito semelhantes. O alvo é um só: sucesso. Sucesso econômico, sucesso profissional, sucesso relacional, sucesso! Sucesso!!!

Você sabe que a bíblia também fala sobre isso, a bíblia também fala sobre sucesso. Tiago não é coach, mas diz sobre como ser bem-sucedido. Ele fala de conhecer e praticar as normas da lei de Deus, e não as leis de comportamento ou de mercado.

Ele fala de perseverança na obediência a lei de Deus, ouvindo com atenção e disposição para pôr em prática. E ser bem-sucedido diante de Deus será consequência de um estilo de vida piedoso.

Sejam quais forem os padrões de sucesso adotados pelo mundo aquele que persevera no conhecimento e na obediência à lei de Deus será bem-sucedido aos olhos de quem realmente importa. Anos antes de Tiago escrever esta carta houve um homem que se julgava bem-sucedido em sua sociedade, afinal, ele era um rei. Seus súditos o aclamavam e o divinizavam – mas Deus o considerou digno de um fim terrível, motivo pelo qual Herodes morreu corroído internamente por vermes (At 12:23 No mesmo instante, um anjo do Senhor o feriu, por ele não haver dado glória a Deus; e, comido de vermes, expirou).

Algum tempo antes Jesus também falou sobre um homem que se considerava bem-sucedido financeira e talvez socialmente – ajuntou mantimentos, disse para si mesmo que não precisava mais de ninguém, nem mesmo da bondosa provisão de Deus – e na mesma noite sua vida foi requerida, e seus bens repartidos, e nenhum dos herdeiros tinha o suficiente para desprezar Deus (Lc 12:20 Mas Deus lhe disse: Louco, esta noite te pedirão a tua alma; e o que tens preparado, para quem será?). Outro exemplo de sucesso no mundo e fracasso diante de Deus é o do homem rico, bem-sucedido financeira, social e religiosamente – mas um fracasso espiritual (Mc 10:22 Ele, porém, contrariado com esta palavra, retirou-se triste, porque era dono de muitas propriedades).

Quero que você saiba que você pode ser bem-sucedido. Inclusive diante dos homens, como aconteceu com José, com Daniel e outros servos de Deus. Você pode ser bem-sucedido diante de Deus, vivendo pela fé, e seu sucesso será medido pela sua obediência ao Senhor, à sua Palavra. Jesus mede o seu próprio sucesso ao dizer, em oração, que fez o que o pai queria, glorificando-o (Jo 17:4 Eu te glorifiquei na terra, consumando a obra que me confiaste para fazer; 5 e, agora, glorifica-me, ó Pai, contigo mesmo, com a glória que eu tive junto de ti, antes que houvesse mundo).

O sucesso do crente está em cumprir a vontade de seu mestre (Mt 5:16 Assim brilhe também a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus). Proceder assim não só envergonha quem faz diferente, como faz com que eles tenham que reconhecer a sabedoria e o poder transformador e sustentador de Deus em sua vida (1Pe 2:12 ...mantendo exemplar o vosso procedimento no meio dos gentios, para que, naquilo que falam contra vós outros como de malfeitores, observando-vos em vossas boas obras, glorifiquem a Deus no dia da visitação).

ESTUDOS NA CARTA DE TIAGO - V A SABEDORIA DE DEUS

 V. A SABEDORIA DE DEUS

19 Sabeis estas coisas, meus amados irmãos. Todo homem, pois, seja pronto para ouvir, tardio para falar, tardio para se irar. 20 Porque a ira do homem não produz a justiça de Deus. 21 Portanto, despojando-vos de toda impureza e acúmulo de maldade, acolhei, com mansidão, a palavra em vós implantada, a qual é poderosa para salvar a vossa alma. 22 Tornai-vos, pois, praticantes da palavra e não somente ouvintes, enganando-vos a vós mesmos.

Uma das razões mais comuns das falhas de comunicação entre as pessoas acontece justamente porque, apesar de ter dois ouvidos, normalmente as pessoas têm pouca disposição e também pouca habilidade para ouvir. Lamentavelmente a maioria não desenvolve a habilidade de ouvir. Esta é uma deficiência absolutamente comum entre as pessoas, e, talvez, você esteja entre os quase 101% de pessoa que tem alguma dificuldade para ouvir.

E há alguns motivos para isso. Há quem não saiba ouvir porque tem dificuldade de compreensão, porque as palavras podem ser usadas com sentidos diferentes em contextos diferentes – isto gera desentendimento, desinteresse ou incapacidade de atender.

Outros não sabem ouvir porque não tem interesse no que lhe é dito. Ouvem quando são obrigadas, mas não tem disposição para absorver o sentido das palavras e atender ao propósito da comunicação. É a famosa atitude de fazer ‘ouvidos moucos’ ou ‘de mercador’, fazer de conta que está ouvindo.

Outros são incapazes de ouvir porque já decidiram como pretendem agir e qualquer conversa é uma perda enfadonha de tempo, e nenhum conselho, por melhor que seja a sua origem, é ouvido (Gn 4:7 Se procederes bem, não é certo que serás aceito? Se, todavia, procederes mal, eis que o pecado jaz à porta; o seu desejo será contra ti, mas a ti cumpre dominá-lo). Os sons e significados das palavras são ouvidos e compreendidos, mas isto em nada vai mudar a disposição do coração porque já foi decidido o curso das suas ações independentes da qualidade dos argumentos do outro.

As palavras chegam ao ouvido, mas a mente já respondeu: ‘você não vai me dizer o que devo fazer, você não manda em mim’.

Existem os impacientes que se colocam tanto na defensiva quanto na ofensiva, são os que ‘acham’ que sabem o que vai ser dito e já começam a argumentar se explicando ou rebatendo. Não há dúvida que isto dificulta, quando não impossibilita, qualquer tipo de comunicação.

Tiago, o irmão de Jesus, afirma que esta atitude, que muitos hoje interpretam como ‘imposição’, na verdade é uma tolice, é falta de sabedoria. Tiago tem algo a nos dizer, e é por isso que ele começa esta seção dizendo, no imperativo: sabeis estas coisas (wste). O crente é aquele que sabe (1Jo 2:20 E vós possuís unção que vem do Santo e todos tendes conhecimento).

O que vamos ver agora é algo que Deus julgou que você deveria saber. Vale a pena escutar.

19 Sabeis estas coisas, meus amados irmãos. Todo homem, pois, seja pronto para ouvir, tardio para falar, tardio para se irar.

Tiago está falando para cristãos. Apesar de ser um judeu, de ter crescido em um ambiente judaico, tendo praticamente as mesmas experiências sociais e comunitárias ele segue o exemplo que percebeu no Senhor Jesus, seu irmão, ele não limita sua mensagem aos judeus – ele está falando para os cristãos de todas as épocas. Mas sua maneira de pensar é a de um judeu. Em que isto nos ajuda?

Os ocidentais costumam pensar lógica, sucessiva e cronologicamente. Assim, ao ler o verso 19 podemos ser tentados a pensar: primeiro eu ouço, depois eu respondo e se as coisas ainda não se resolverem, eu resolvo à minha maneira.

Tiago coloca duas atitudes, que à primeira vista parecem opostas, mas que, na verdade, não precisam ser obrigatoriamente antagônicas. Pronto, ou ligeiro (taxuj) é uma atitude que não é, necessariamente o contrário de lento (braduj), pelo menos não é assim neste contexto. A orientação de Tiago para a igreja de Cristo é que ela deve ter prontidão, ligeireza, habilidade para ouvir o que precisa ser ouvido.

Ouvir (akousai) significa a capacidade de atentar para o sentido do que é dito e atender da melhor maneira possível – significa entender, compreender. Normalmente as pessoas são muito rápidas para retrucar (aliás, até mesmo antes de ouvir tudo muitos já respondem), mas muito lentos ou até indispostos para atender. O contrário pode ser verificado: uma pessoa que é rápida para ouvir, isto é, que ouve bem, também pode ser lenta para responder.

A palavra grega (braduj) tem o sentido de ouvir algo como se fosse lento de raciocínio, estúpido, mas também tem o sentido de ouvir reflexivamente. O que isto significa?

Que ouvir é algo que se faz buscando compreender adequadamente, sem precipitação. Quem ouve bem, e entende, refletindo lentamente sobre o que ouviu não vai agir precipitadamente, não vai falar sem pensar, não vai agir sem refletir e raramente vai dar lugar à ira, a não ser que esta ira seja almejando a prática e o estabelecimento da justiça. Como esperar este tipo de atitude da geração WhatsApp e da proliferação de aplicativos de mensagens instantâneas onde as pessoas ficam simplesmente iradas e magoadas quando a resposta de uma mensagem demora mais de alguns segundos?

O amor costuma ser construído ao longo de muitos anos, mas a ira é instantânea – e Tiago diz-nos que isto é tolice, não é sabedoria, e muito menos resultado da ação de Deus no coração e na mente do crente. A ira instantânea é característica de quem não tem o Espírito, já que o fruto do Espírito na vida do cristão é longanimidade (Gl 5:22 Mas o fruto do Espírito é: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, 23 mansidão, domínio próprio. Contra estas coisas não há lei). A ira não produz bons resultados, mas a longanimidade muda até a inclinação do coração dos poderosos (Pv 25:15 A longanimidade persuade o príncipe, e a língua branda esmaga ossos).


20 Porque a ira do homem não produz a justiça de Deus. 21 Portanto, despojando-vos de toda impureza e acúmulo de maldade, acolhei, com mansidão, a palavra em vós implantada, a qual é poderosa para salvar a vossa alma.

Eu sou assim! Eu sempre faço as coisas do meu jeito! Se não for do meu jeito não serve! Quantas crianças saem emburradas de uma brincadeira porque a brincadeira não está do seu agrado, ou porque não consegue ser o centro das atenções. Não há dúvida que o clima fica ruim, às vezes a brincadeira prossegue – mas, no fim, todos perdem um pouco da alegria. Certamente não é uma atitude sábia.

A sabedoria de Deus apresenta três atitudes que o sábio, que recebe a instrução que vem de Deus (Tg 1.5 Se, porém, algum de vós necessita de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente e nada lhes impropera; e ser-lhe-á concedida) deve ter na mais elevada consideração: evitar a ira, a impureza e a maldade. O que Tiago quer dizer mesmo com isso?

Já vimos que a ira não produz bons resultados. Em primeiro lugar, a palavra orgh, aqui traduzida por ira, também significa a disposição natural, os impulsos da alma humana. Se as ações naturais não produzem resultados perfeitos do ponto de vista humano, quanto mais algo que satisfaça a justiça de Deus. Os esforços extenuantes da sabedoria humana acabam produzindo desânimo e raiva ao serem frustrados porque não conduzem aos resultados planejados por Deus.

Em segundo lugar, o resultado destas ações raivosas geralmente, ou até invariavelmente, é ruim, produz desonra, mancha no caráter (ruparia), impureza de alma. O servo de Deus deve ser despojado, remover do seu caminho (apotiqhmi) tudo o que resulta em desânimo (e há alguns que chegam a blasfemar, lançar acusações contra Deus), apesar de possíveis boas intenções, mas fora de sintonia com a vontade de Deus.

Em terceiro lugar a permanência nestas inclinações acaba se tornando um obstáculo, uma abundância ou acúmulo de males (perisseia kakia), mais que as adversidades do dia a dia (Mt 6.34 Portanto, não vos inquieteis com o dia de amanhã, pois o amanhã trará os seus cuidados; basta ao dia o seu próprio mal).

Não é sábio desobedecer a Palavra de Deus. Estas coisas (ira, impureza e maldade) não estão de acordo com a vontade de Deus, e não trarão os resultados que devemos buscar com total prioridade (Mt 6.33 ...buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas) como quem tem fome e sede se esforça em busca água e comida (Mt 5.6 Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão fartos), mas sabendo que está em busca de algo muito mais valioso e perene: a justiça de Deus.

21 Portanto, despojando-vos de toda impureza e acúmulo de maldade, acolhei, com mansidão, a palavra em vós implantada, a qual é poderosa para salvar a vossa alma.

Talvez você já tenha visto ou ouvido falar de pessoas que são classificadas como acumuladores compulsivos. Pessoas acumulam coisas de todos os tipos. Ser um acumulador compulsivo é diferente de ser um colecionador. Um colecionador seleciona coisas que julga de valor e que talvez outros também desejem. Mas há colecionadores de coisas absurdas, como meleca ressecada do nariz ou bolinhas de lã de umbigo. Desculpe-me ferir seus ouvidos com estas coisas, mas eu queria que você observasse o quão absurdas algumas atitudes as pessoas podem ter. Já soube de gente que recolhia gatos ou cachorros chegando a ter dezenas e até mais de uma centena de gatos.

Mas os colecionadores compulsivos vão além disso – eles juntam de tudo até o ponto de não haver mais espaço no lugar onde moram. Suas casas viram verdadeiros depósitos de entulho de todo tipo e em muitos casos familiares abandonam estas pessoas que precisam de tratamento psicológico ou psiquiátrico. Elas simplesmente sentem que não cabem ali (e às vezes não cabem mesmo, fisicamente).

Somente se colocar em prática a cláusula anterior despojar-se de impureza, parar de acumular a maldade é que o crente pode seguir sua caminhada de progresso espiritual. Ele só pode acolher (dexomai) a palavra se parar de acumular a maldade em seu coração. A palavra dexomai significa receber e segurar, tomar para si mesmo, como algo não pode ser, sob hipótese alguma rejeitado, mas que deve ser entesourado para si mesmo e visto como algo que faz parte da estrutura de sua família.

Tirada a impureza a Palavra de Deus deve ser recebida com submissão, com humildade de espírito, deixando-se conduzir mansamente por uma força que sabe que é superior, por uma inteligência que reconhece ser infinitamente mais sábia do que sua própria inteligência. Mas esta Palavra é muito mais produtiva do que qualquer conhecimento que é possível ser obtido por qualquer meio humano. Conhecimento produz cultura – mas a Palavra de Deus produz muito, muito mais, a Palavra de Deus produz salvação quando é implantada, enxertada (emfutoj) na vida do crente. Este implante é tornado ao mesmo tempo congênito, essencial e natural, profundo e interior, mas também tem grande utilidade para instruir a quem se aproxima e observa, como se fosse uma flor, ou outdoor.

Tiago diz que esta Palavra é poderosa (dunamai) para fazer o que nenhum diploma faz, nem mesmo um diploma de teologia. Ela é tem aptidão e competência para produzir salvação (swsai) de sua própria alma. Isto é um poder exclusivo da Palavra de Deus, e qualquer coisa que seja colocada no lugar da Palavra de Deus é apenas acúmulo de lixo, de inutilidade, e, se é posto no lugar de Deus, é maldade.

22 Tornai-vos, pois, praticantes da palavra e não somente ouvintes, enganando-vos a vós mesmos.

Uma coisa interessante sobre os acumuladores compulsivos é que eles jamais usam a maioria das coisas que possuem – mas jamais se despojam delas. Talvez sua esposa esteja olhando para você neste momento e pensando: aquele cantinho bem que precisa de uma ‘despojada’. Calma! Não vamos criar problemas conjugais, até porque daquela ‘bagunça’ sempre sai um parafuso salvador em uma urgência qualquer. Além disso, mesmo que nós de vez em quando percebamos que temos muitos apetrechos inúteis, como cabos, conectores fontes em uma caixa qualquer, ou roupas, maquiagens, sapatos etc. vez por outra sempre damos aquilo que chamo de ‘desbastada’, então, não, seu marido ou sua esposa não é um acumulador compulsivo. No máximo gosta de guardar trecos que costumam se mostrar úteis de vez em quando. E isto vale para os dois.

Veja a utilidade da verdadeira sabedoria: ela não pode ser deixada guardada, ela muda a vida, muda a maneira de fazer as coisas (ginomai) e o crente passa a praticá-la sem haver sequer a necessidade de planejar fazer isso (poihtej). Você guarda um diploma ou determinadas habilidades sem usá-las, mas não pode fazer isto com a sabedoria porque ela é tornada intrínseca, interior, essencial, passa a fazer parte da vida do crente, daquele que é tornado nova criatura e feito como que um outdoor de Deus.

Assim como o mau procedimento é facilmente visto e condenado publicamente (1Sm 2:23 E disse-lhes: Por que fazeis tais coisas? Pois de todo este povo ouço constantemente falar do vosso mau procedimento) os piedosos foram resgatadas deste procedimento mau e fútil e são como outdoors de Deus (1Pe 1:18 ...sabendo que não foi mediante coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados do vosso fútil procedimento que vossos pais vos legaram) e mostram aos ímpios o poder transformador de Deus (1Pe 2:11 Amados, exorto-vos, como peregrinos e forasteiros que sois, a vos absterdes das paixões carnais, que fazem guerra contra a alma, 12 mantendo exemplar o vosso procedimento no meio dos gentios, para que, naquilo que falam contra vós outros como de malfeitores, observando-vos em vossas boas obras, glorifiquem a Deus no dia da visitação).

O crente é, e não pode ser diferente, um executor obediente dos mandamentos da lei de Deus (poihtej). Ele é o que faz as coisas segundo as normas (nossa palavra poeta vem deste sentido, um cumpridor de regras estilísticas com os resultados esperados pela norma – pelo menos era assim antigamente).

Do outro lado temos os que não fazem, que observam, que, embora não façam, podem até se julgar no direito de julgar, são os ouvintes inativos que podem falar muito e nada fazer (akroatej). Tiago poderia usar a palavra akuow, que traz o sentido de submissão, mas ele prefere a que significa apenas compreender o sentido dos sons.

São figueiras estéreis – tem ramos e folhas, estão vivos, mas são improdutivos e, caso achem que assistir é suficiente como demonstração de piedade estão engados (paralogozomai), vivendo uma vida religiosa ilusória. Enganam-se a si mesmos, pode até enganar outros igualmente enganados, mas não enganam a Deus, que discerne a aparência do que está no coração.

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