sábado, 24 de março de 2018

ELES NÃO O ESPERAM [uma reflexão sobre outra páscoa]


Boletim Dominical da Igreja Presbiteriana de Paragominas, 25 de março de 2018.

Desde o fatídico dia em que Adão e Eva desobedeceram ao mandato no Éden o homem vive um paradoxo: precisa de Deus, só Deus pode satisfazer os anseios do seu coração, no entretanto, a presença de Deus não é agradável. A desobediência levou o homem a preferir a escuridão, as trevas ao invés da luz, porque, na escuridão, pode praticar calmamente as obras da carne.
Neste fim de semana a comunidade cristã lembra que, há quase 2000 anos um homem entrou em Jerusalém enquanto a multidão cantava extasiada cânticos há muito silenciados, pois há muito um membro da família de Davi não era aclamado rei em Israel.
Menos de uma semana depois, aquela mesma multidão também elevava a sua voz, agora com um novo proposito: não aclamavam mais àquele descendente de Davi como seu rei - queriam-no morto, pendurado em uma cruz e negavam-no como seu rei.
Aquela era a grande semana de Israel, a semana em que os hebreus comemoravam a páscoa, celebrando a libertação da opressão egípcia, milhares de judeus vinham de todas as partes do mundo para celebrarem a libertação. Eram dias festivos.
Também eram festivos os dias de preparação da páscoa há algumas décadas. Porém, algo mudou. Mais propaganda, mais marketing, mais comércio, mais criatividade. Mas... E a páscoa, o que foi feito dela, realmente? Esta ‘quase celebração’ é mesmo a celebração da verdadeira páscoa?
Experimente perguntar para 10 crianças qual o símbolo da páscoa e, mesmo na Igreja, raras dentre elas vão dizer que o símbolo da páscoa é o cordeiro, o pão, o vinho, a cruz e, finalmente, o túmulo vazio. A maioria dirá que é o coelho. Pergunte às crianças o que ganhamos na páscoa e a resposta quase unânime será “ovo de chocolate”.
Portanto, antes de dar um ovo de páscoa para uma criança:
i. Diga-lhe que o ovo de chocolate é uma tradição comercial no qual pessoas inteligentes e ricas pagam de 5 a 10x mais do que o normal numa mesma porção de chocolate apenas porque ele é modelado como um ovo e embrulhado em papel colorido.
ii. Esclareça que você poderia dar o chocolate em qualquer forma (ovo, tablete, bola, tartaruga) e em qualquer época, mas que o impulso comercial e o costume que tem levado as pessoas a gastarem mais do que deviam em uma coisa desnecessária torrando um dinheiro que nem sempre está sobrando.
iii. Informe que o chocolate não era conhecido nem foi utilizado na primeira (no Egito, onde foi usado um cordeiro assado e um molho de ervas amargas, e pão sem fermento) nem na última páscoa (na Palestina, onde Jesus usou pão sem fermento e vinho) e informe ainda que os elementos usados (carne de carneiro, ervas amargas, pão, vinho) nada tinham a ver com as guloseimas consumidos hoje.
iv. Lembre que o animal que tomava parte na páscoa era um cordeiro, de um ano, sem defeito, que era morto tipificando o redentor, Jesus Cristo, cordeiro de Deus morto desde antes da fundação do mundo, e que o coelho não tem nada a ver com esta história, e que, aliás, assim como o cordeiro, também não põe ovos.
v. A rigor, os cristãos sequer celebram mais a páscoa, porque ela foi celebrada legitimamente pela última vez pelo Senhor Jesus com seus discípulos, mas celebramos a nova aliança no sangue de Jesus, então, porque gastar um monte de dinheiro em ovos de chocolate só para entrar no clima e não decepcionar uma criança?
vi. Não confunda a criança com o ‘coelhinho de páscoa’, mas diga-lhe que o verdadeiro símbolo da páscoa é Jesus, cordeiro de Deus, e diga-lhe que ele morreu na cruz numa sexta-feira, para que pecadores que nele cressem fossem libertos da morte eterna e do inferno, recebessem vida e herdassem a glória celeste.
vii. Diga-lhe que ambos, você e a criança, são pecadores e que, mesmo comendo muito ovo de chocolate ainda assim não obterão nenhum benefício da verdadeira páscoa se não crerem neste Jesus que morreu e ressuscitou irão para o inferno, mas os que crerem em Jesus Cristo viverão eternamente.
Parece trabalhoso demais? Vai ficar ainda mais trabalhoso se você não optar por ensinar o que é certo e abandonar o que é falso.
Então comece celebrando a vitória de Jesus sobre a morte e pare de ensinar a seus filhos a entrarem no costume comercial, como, talvez, você tenha sido ensinado por seus pais e pelo marketing. Lembre-se: você não está apenas dando um agrado – você está educando, não uma educação qualquer, mas para a vida eterna (Pv 22.6).

quinta-feira, 22 de março de 2018

"MAS", O QUE MESMO?


Boletim dominical da Igreja Presbiteriana de Paragominas, 18 de março de 2018

Quem me conhece, quem já conviveu comigo na Igreja sabe que eu já afirmei mais de uma vez que esta é a palavra que eu mais gosto na bíblia.
Antes de prosseguir, esclareço: é óbvio que nenhum nome é mais importante, no céu ou na terra, do que o de Jesus, nome acima de todo nome, nome poderoso para salvar pecadores como eu e você.

Outras palavras também são doces ao ouvido, como “vinde”, “amor”, mas gosto especialmente de “mas”. Não “mais”, como se buscasse sempre algum acréscimo ao que o Senhor já tem dado. Vou explicar, e, talvez, você, mesmo tendo outras palavras preferidas, venha a sentir o mesmo prazer que eu sinto muitas vezes ao ler “mas” nas Escrituras.

Gosto desta palavra. Muitas vezes ela aparece nas Escrituras para mostrar, após o homem colocar-se num estado de total perdição e condenação, a misteriosa e maravilhosa graça de Deus que, não apenas não precisa de nós, mas é ofendido constantemente com nossa rebeldia e transgressões. Vou analisar rapidamente alguns exemplos das aparições de mas nas Escrituras.

A primeira aparição digna de nota nestas minhas considerações está em Gn 2.18, na forma de uma graciosa advertência para que o homem não perdesse a benção maravilhosa de habitar no Éden. Deus poderia ter deixado o homem totalmente livre e solto, sem lhe advertir do impedimento quanto àquela determinada árvore. Mas Deus o chamou, disse-lhe onde estava e qual a árvore de que não poderia comer - a primeira aparição sob destaque apresenta-nos o cuidado protetor de Deus em nosso favor.

Uma segunda aparição da palavra mas que tenho muito prazer em ler é quando o Senhor contempla o resultado da transgressão do homem em sua lide diária, afirmando que muitas são as aflições do justo, mas o Senhor de todas o livra (Sl 34.19). Se o primeiro destaque fala sobre a ação protetora e previdente de Deus, aqui temos o Senhor dizendo que, mesmo o caído, que o teme, conta com seu favor. Não é bíblico esperarmos que um justo não passe por aflições - o ensino do Senhor é que o Senhor de todas o livra. “Mas”, aqui, aponta para Deus e diz ao homem que não o desampara em suas aflições.

A terceira aparição da palavra “mas” que quero destacar aparece para demostrar a justiça de Deus. Somos informados que não há um único homem sobre a terra que não peque, e, então, o Sl 37.9 diz que os malfeitores serão exterminados. Motivo de angústia? Certamente para os malfeitores mas não para os que creem no Senhor, porque a palavrinha mas introduz uma centelha de esperança afirmando que “os que esperam no Senhor possuirão a terra”.

A quarta ocorrência de “mas” em nosso texto em português é encontrada numa sentença interessante do apóstolo João: ele diz que Jesus veio para os que eram seus, isto é, para o povo que foi preparado para esperar o Messias, e eles o rejeitaram, não o receberam. Entretanto (mas) todos quantos o receberam foram agraciados com a dádiva da filiação divina porque creram no seu nome e nasceram de novo.

A quinta aparição de “mas” que pretendo destacar é num dos versos mais conhecidos das Escrituras, onde o apóstolo João afirma que Deus amou o mundo, enviou seu Filho para livrar o mundo da morte. O Filho veio para que o pecador, nele crendo, não morra, mas receba, como uma graça de Deus, a vida eterna. João não se contém e insiste dizendo que a vinda do Filho, naquele instante, não foi para julgamento, mas para salvação. Naquele momento, porque chegará o dia em que ele virá como juiz de toda a terra, para retribuir a cada um segundo as suas obras.

E isto nos leva a mais um “mas”, uma sonora advertência. Ao mesmo tempo que anuncia a graça redentora em Cristo Jesus, João também lembra aos seus leitores que aqueles que se mantiverem rebeldes contra o Filho de modo algum verão a vida, mas sobre eles permanece a justa ira de Deus.

O problema da palavra permanece é que ela indica algo que está posto sobre o homem e do qual ele não pode livrar, uma vez que é um pecador e o salário do pecado é a morte. Todavia, mais uma vez a palavra mas indica a ação de Deus em fazer o que é impossível ao homem, morto em seus delitos e pecados: Paulo diz que o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus (Rm 3.23).

Mas, porque tudo isto? A resposta de Deus inclui mais uma vez, a adversativa mas: Paulo afirma que estávamos mortos em nossos delitos e pecados, mas Deus, por causa do grande amor com que nos amou, nos deu vida em Cristo Jesus.

É ou não é uma palavrinha admirável, despercebida mas que dezenas de vezes é usada por Deus para mostrar sua intervenção em nosso favor?

domingo, 11 de março de 2018

O ESTRANHO VERBO “IR”


Boletim dominical da Igreja Presbiteriana de Paragominas, 11 de março de 2018
Costumávamos conversar na época de seminário sobre as dificuldades que tínhamos especialmente com a língua grega. Era muito estranho, uma palavra começava de um jeito e suas declinações e derivações eram tão diferentes que somente conhecendo a língua e suas sutilezas era possível perceber a relação. Mas a língua portuguesa também nos apresenta particularidades, ambiguidades e esquisitices.
Para citar apenas um exemplo: “pois não!” quer dizer sim, e “pois sim” quer dizer não. Mas por estes dias estava refletindo sobre o estranho verbo “ir”. Estranho ou não, quero te convidar para observar alguns usos deste verbo nas Escrituras - e alguns usos que a Igreja faz dele hoje.
Vinde!
Gosto desta forma verbal, quando Deus, do alto de sua majestade, usa o imperativo, com o direito que tem, para chamar suas criaturas, que lhe devem prestar total e irrestrita obediência. Mas o que mais me deleita no caráter de Deus é que ele usa o vinde com o propósito de abençoar o seu povo. É com o “vinde” que ele chama o povo para arrazoar com ele, para, ao final, receber o perdão dos seus pecados se tão somente derem ouvidos à sua voz (Is 1.19). Outra vez, vinde, chamando os sedentos e famintos para, sem dinheiro e sem preço, serem por ele saciados e alimentados. E, ainda uma vez neste curto texto, vinde, intimando o cansado e sobrecarregado para se aliviado e encontrar descanso e doce senhorio nele. Vinde!
Vou!
O Senhor também usa o verbo ir para mostrar sua ação. Não é um imperativo, mas é um exercício de sua vontade. Depois de ensinar e fazer o que estava escrito a seu respeito, ele reuniu seus discípulos e disse-lhes “vou para o Pai” (Jo 16.28), mas não se tratava de um abandono, muito pelo contrário, porque ele já havia dito para onde ia e o que ia fazer: ele ia completar a sua obra preparando o lugar para os seus na “casa do seu Pai” (Jo 14.2)
Ide!
Mas isto não é tudo. Ele também diz ide! Novamente o imperativo, novamente com o intuito de trazer benção para o seu povo. O ide, ao invés de ser um peso para o povo de Deus, na verdade é um refrigério, porque, quanto o povo de Deus cumpre o ide, outros são agregados a este povo, e então aumenta o nome de andarilhos do Senhor, indo por toda a parte anunciando as grandezas de Deus. Quando o povo de Deus obedece o ide, ele ganha novos irmãos, a família aumenta, a seara, que é grande e está pronta, tem mais trabalhadores - e a festa é mais animada, o regozijo é maior.
E a Igreja? Como a Igreja conjuga este verbo? Estará ele sendo conjugado corretamente?
VAI!
Uma das formas que a Igreja tem achado para lidar com o verbo ir é dizendo que alguém tem que ir. Falamos há algum tempo em nossa Igreja que os discípulos de Jesus tem que abrir mão do comodismo, da acomodação, do bem estar pessoal e ir, porque Jesus disse para ir. Mas é mais fácil comissionar alguém para que ele vá em nosso lugar, numa espécie de terceirização da grande comissão. Devemos lembrar que foi “indo” por todos os cantos, anunciando a redenção em Cristo Jesus que a mensagem de salvação se espalhou pelo mundo e atingiu milhões de pecadores, dentre os quais nós também podemos ser contados. Erramos se trocamos o ide pelo .
VENHA!
Outra forma é simplesmente dizer às pessoas para que elas se reúnam em determinados lugares conosco, como se isto fosse ser Igreja. Na reunião há evangelização, há ensino, há adoração. É uma forma de identificação do povo de Deus como povo de Deus, do povo com seu Deus e dos irmãos como congregação de santos, onde, sim, devemos ter todo o nosso prazer, mas é preciso mais do que simplesmente convidar embora seja preciso convidar, sim.
Como a Igreja deve, então, conjugar o verbo ir?
VAMOS!
Sim, como diz o salmista, é com alegria que devemos dizer uns aos outros: vamos! Vamos à casa do Senhor, vamos servir ao Senhor, vamos andar com o Senhor, vamos congregar e nos estimularmos mutuamente ao amor e às boas obras. Às vezes um vamos pode ser o que está faltando para algum irmão se decidir a ir. Pode ser o que alguém está esperando para sair da sua zona de conforto e ter uma mudança radical em sua vida. Pode ser que um simples vamos (quem sabe com a necessidade de você carregar alguém de alguma maneira) que vai fazer toda a diferença até mesmo na sua vida. Que tal, então, dizermos uns aos outros: Vamos!

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