sábado, 10 de março de 2018

O QUE É A IGREJA, III


Boletim dominical da Igreja Presbiteriana em Paragominas, 04 de março de 2018
Aprendemos em Atos 2.42-47 que a Igreja primitiva tinha uma característica muito importante: ela era uma Igreja  cultuadora. Vimos também que ela impactou o mundo no séc. I e este impacto continua pelos séculos porque era uma Igreja ensinadora, de modo que aprendemos com ela sobre prioridades, sobre liberalidade, sobre integridade, sobre disponibilidade e criatividade.
Mas é possível aprender mais algumas coisas sobre a Igreja observando a Igreja modelo de Jerusalém.
A terceira característica desta Igreja, que devemos almejar para nossa Igreja, é a de ser uma Igreja comunitária. A Igreja não é um lugar de reunião. Reuniões são feitas em qualquer lugar (até em templos com o nome de Igreja na frente) e nem assim ser Igreja, e a Igreja pode se reunir em qualquer lugar e ser verdadeira Igreja de Cristo. E a Igreja também pode se reunir nos templos e ser Igreja. Lembremos dos primeiros dias da Igreja cristã em Jerusalém. Perseveravam no templo, e nas casas - e eram Igreja do Senhor em todo lugar.
Uma boa definição a este respeito pode ser a afirmação de que a Igreja é uma comunidade de fiéis que demonstram interesse genuíno uns pelos outros enquanto aprende a doutrina e adora a Deus.
Não encontramos na Igreja atual (com raras exceções e geralmente em igrejas pequenas, que estão começando) a mesma intimidade que era vista na Igreja em Jerusalém. E observe que a Igreja de Jerusalém não era uma Igreja pequena. Já no primeiro relato (antes da primeira leva de conversões o número de crentes era de 120 - 10 vezes o número do colégio apostólico). Na sequência este número sobre a mais de 3000 e nem por isso a Igreja perde a sua característica comunitária, em comunhão. A palavra usada no Novo Testamento para descrever esta vida em comum da Igreja é koinonia, que significa ter algo em comum com outros. Estar em comunhão significa muito mais do que meramente estar juntos num mesmo lugar, mas compartilharem das mesmas coisas. Lucas diz que da multidão dos que creram era só um o coração, como maravilhosamente cantado pelo grupo Vencedores por Cristo:
Da multidão dos que creram era só um o coração,
E a alma, uma somente, uma semente
Somente uma esperança brotando dentro da gente
Nosso era o pão cada dia, 
Nosso era o vinho, santa folia
O que se parte reparte a própria vida
Galho ligado à parreira, vida em comum verdadeira.
Koinonia tem ligação com o substantivo koinonos, que significa “parceiros, co-participantes de alguma coisa, com os mesmos interesses”, isto é, os cristãos são participantes do mesmo evangelho. Sempre que pensamos em comunhão devemos pensar em uma via de mão dupla.
Em primeiro lugar, koinonia significa doação de si mesmo e de algo que se tem com o objetivo de que o outro não tenha necessidade. Koinonia tem ligações com uma outra palavra que indica as coisas de uma casa, coisas tangíveis, que se pode tocar, que se pode experimentar. É por isso que somos chamados pelo apostolo João, que experimentou aquela primeira fase da Igreja, a amar de verdade, não apenas de palavras (1Jo 3.18). O cristão que deseja ser parte de uma Igreja que vive em comunhão precisa, em primeiro lugar, desejar ardentemente ser um doador (sim, de recursos financeiros mas, principalmente, de si mesmos). Analise por si mesmo textos como Hb 13.5 (o amor seja sem avareza) em comparação com 2Co 8.5 (...se deram ao Senhor e a nós). Não é possível ter comunhão sem ter autodoação.
Em segundo lugar, koinonia significa receber o outro com singeleza de coração. Penso que às vezes é mais difícil receber do que doar, por causa de dois problemas presentes no coração humano. O primeiro é o orgulho - receber dá a impressão de humilhação, de que o receptor é menor que o doador, mas At 20.35 não diz que receber não é uma bem aventurança, apenas diz que dar é maior bem aventurança. O segundo problema presente no coração é o juízo. É querer que a doação do outro seja em um molde ou padrão que cada um estabelece e isto resulta em rejeição do que o outro oferece - quando não é absolutamente necessário que seja assim, basta que a doação feita seja como expressão de amor verdadeiro, a Deus e ao próximo. É fácil ver a falha no outro porque o outro está diante de quem julga - e quem julga a doação do outro talvez se esqueça que não pode (ou se recusa) ver as suas próprias falhas.
Por fim, para ter comunhão a Igreja precisa lembrar que tudo e todos são do Senhor. Doe-se, e receba a doação do seu irmão como a Igreja primitiva recebia, com alegria e singeleza de coração.

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