sexta-feira, 21 de setembro de 2012

O AMBIENTE MUNDANO NÃO DETERMINA OS LIMITES DA LIBERDADE CRISTÃ

ajudarApós descrever os cristãos como tendo sido lavados no sangue do cordeiro [At 22.16] e libertos dos seus pecados por este sangue [Ap 1.5] e selados publicamente através do batismo, santificados pela obra de Cristo [Ap 7.14] aplicada aos eleitos mediante o Espírito Santo que os selou e declarou definitivamente que eles pertenciam a Deus, e, finalmente declarados justos quando o Senhor bradou na cruz: "está consumado", tendo sido, então, considerados justos, absolvidos de seus pecados anteriores e definitivamente elevados a uma nova categoria de homens: aqueles que foram comprados do pecado e tornados servos do Senhor Jesus, a quem receberam como Senhor e salvador. O fato de terem sido justificados, retirados do estado de condenação, frutifica em uma vida santa e pura. E era isto o que Paulo queria ressaltar como a meta que deveria estar no coração dos coríntios.

Mas como ter uma vida pura? E se estiver exatamente em meio a uma luta entre a santidade e o pecado, como a que Paulo enfrentou e descreve em Rm 7? Paulo apresenta duas atitudes possíveis. A primeira, é comum aos não regenerados, não justificados, não lavados nem santificados: é entregar-se ao desespero, é desistir da única luta que realmente vale a pena. A segunda, mais difícil porque significa lutar contra si mesmo, contra as próprias inclinações carnais e naturais do ser, é aceder ao chamado do Espírito Santo e clamar por aquele que nos dá a vitória, por aquele que justifica, santifica e lava de todo pecado: o Senhor Jesus Cristo mediante o Espírito Santo de Deus. É deste nome santo, deste nome poderoso, que nos vem a vitória. Não adianta tentarmos vencer a carne com armas carnais [ambos perdem], porque a nossa luta não carnal, é espiritual. Partindo do principio de que os coríntios enfrentavam diversos problemas, e que a licenciosidade carnal era muito comum ali, e que todos os demais problemas da Igreja pareciam decorrer do partidarismo em torno de um ou mais licenciosos, mas, certamente, carnais, Paulo passa a tratar de um princípio que pode ajudar a comunidade cristã a enfrentar a luta contra a carnalidade e sair vitorioso – apesar de não ser uma luta fácil, se lutamos em Cristo e com Cristo a vitória é certa e retumbante [Rm 8.37], mas se a luta é contra Cristo, a certeza da derrota é plena [At 26.14].

Decorrente de uma deturpação do ensino de Paulo [Fp 4.13] associada a uma visão epicurista mundana prevalecente em Corinto [carpe diem] surgiu em Corinto um cristianismo epicurista, que afirmava que o cristão pode fazer tudo o que quiser, desde que não seja ilegal. Clamavam a plenos pulmões: "Todas as coisas me são lícitas", e com este brado chegaram ao ponto em que chegaram. A pergunta que os cristãos deviam fazer é: dentre todas as coisas que são lícitas, que não são ilegais, o que, de fato, é permitido a um cristão. Podemos citar alguns exemplos em relação à licitude em nosso país: é lícito fumar, é lícito embriagar-se, é lícito entrar num prostíbulo, é lícito namorados terem relacionamentos íntimos pré-maritais, fazerem um test drive [é bom ressaltar que carro de test drive, quando é vendido, é vendido com ressalvas documentais e por um valor muito inferior aos demais, porque é carro usado por muitos], é lícito ter relacionamentos homossexuais, é lícito mentir, desde que não sejas testemunha num processo, é lícito adorar imagens... há uma enorme lista de licitudes que, certamente, muitos cristãos verdadeiros dirão: "Está errado, pastor, isto não é lícito". Repito, pela lei é. Mas para o coração de um cristão é repulsivo.

Então, com base nas inspiradas palavras do apóstolo Paulo, perguntamos, o que é, de fato, lícito a um cristão?

12 Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas convêm. Todas as coisas me são lícitas, mas eu não me deixarei dominar por nenhuma delas. 13 Os alimentos são para o estômago, e o estômago, para os alimentos; mas Deus destruirá tanto estes como aquele. Porém o corpo não é para a impureza, mas, para o Senhor, e o Senhor, para o corpo. 14 Deus ressuscitou o Senhor e também nos ressuscitará a nós pelo seu poder. 15 Não sabeis que os vossos corpos são membros de Cristo? E eu, porventura, tomaria os membros de Cristo e os faria membros de meretriz? Absolutamente, não. 16 Ou não sabeis que o homem que se une à prostituta forma um só corpo com ela? Porque, como se diz, serão os dois uma só carne. 17 Mas aquele que se une ao Senhor é um espírito com ele. 18 Fugi da impureza. Qualquer outro pecado que uma pessoa cometer é fora do corpo; mas aquele que pratica a imoralidade peca contra o próprio corpo. 19 Acaso, não sabeis que o vosso corpo é santuário do Espírito Santo, que está em vós, o qual tendes da parte de Deus, e que não sois de vós mesmos? 20 Porque fostes comprados por preço. Agora, pois, glorificai a Deus no vosso corpo.

I Co 6.12-20

Para demonstrar qual o princípio que deve nortear o cristão, Paulo faz uso de uma das práticas mais comuns entre os coríntios: a prostituição, que tinha fortes aspectos religiosos e econômicos, além de culturais. Calcula-se que havia, no mínimo, 1000 prostitutas cultuais – além, é claro, de um número desconhecido daquelas que não estavam nos templos. Esta prostituição cultual em honra à Afrodite gerava enorme lucro para uma cidade portuária como Corinto, para onde afluíam pessoas de todos os cantos do mundo greco-romano. Definindo como se relacionar com a prostituição, um dos pecados relacionados à impureza, Paulo podia estabelecer o princípio para os cristãos coríntios resolverem as suas dúvidas em todas as demais áreas. Se não lhes era permitido participar de um conluio impuro, o mesmo se dava em relação à bebedice, à maledicência e a todos os demais pecados tidos como normais e culturalmente aceitos na cidade onde residiam – e este princípio vale não apenas para Corinto, mas para todas as localidades onde os cristãos tenham que se posicionar em relação às obras da carne. Paulo estabelece três princípios para serem observados pelos cristãos, e nós devemos nos ater cuidadosamente a cada um deles:

É CONVENIENTE

12 Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas convêm. Todas as coisas me são lícitas, mas eu não me deixarei dominar por nenhuma delas.

Todos sabem quais são as convenções que regem a sociedade em que vivem. Mais ou menos rígidas, toda sociedade tem suas convenções, suas regras, suas normas para definir o que é lícito, aceitável e praticável à vista [ou ao menos com o conhecimento e sem a repulsa] de todos. Cada cidadão é, desde os seus primeiros dias, orientado por seus pais, familiares, colegas e professores, grupos sociais como clube e, em casos menos numerosos, pela Igreja. Não é à toa que uma das primeiras palavras que uma criança aprende é "não". E quando não é a palavra, aprende a balançar a cabeça de um lado para o outro, em sinal de negativa. Ela foi ensinada que há regras – e desde muito cedo começa a estabelecer as suas próprias regras. A religiosidade pagã desconhece a verdadeira graça, e coloca a salvação, iluminação ou crescimento em termos de conquista, de mérito através de obras morais ou materiais, mas sempre por mérito. Paulo havia ensinado isto aos coríntios, e eles estavam levando esta ideia adiante do que lhes fora ensinado. Leis quanto a alimentação, a casamento, a vestes são comuns em toda religião cunhada pelos homens – e abster-se de determinadas coisas era um sinal de sacrifício da vontade para conseguir o favor das divindades.

Como era corrente em Corinto uma ideia dualista de que matéria era ruim, má ou, no mínimo, desprezível, e que o Espírito era bom e impoluto, para defender suas ideias permissivas alguns cristãos certamente argumentavam que não importava o que se fazia com o corpo, o que importava era o que se acreditava [foi para a liberdade que]. Confundiam liberdade em Cristo com libertinagem coríntia [Jd 1.4], dando, assim, ocasião à carne [Gl 5.13] e suas concupiscências [Rm 13.14]. É claro que o cristianismo não é composto de regras, mas também, não é, por outro lado, a ausência de normas de conduta resultantes da habitação do Espírito Santo na vida do cristão. Mas a obediência a tais normas é fruto, não a razão da salvação [andássemos nelas]. Sob um argumento de que "tanto faz" o que se faz com o corpo, como, por exemplo, já que podemos comer de tudo – e Paulo vai tratar disso especificamente adiante – podemos usar o corpo para qualquer outra coisa também. E nesta lista de outra coisa estava, obviamente, a imoralidade [lembremos que havia este problema no seio da Igreja, um caso de incesto que escandalizava até mesmo os gentios – havia cristãos que achavam que não tinha nada de mais porque eles eram superiores, mais fortes, livres].

Mas agir assim era conveniente? A questão não é propriamente religiosa, mas moral e ética. Nem todas as coisas são uteis ou dignas de serem ensinadas ou ensinadas aos cristãos. Há coisas que, embora sejam permitidas pelos costumes, trazem resultados que devem ser evitados pelos cristãos. "Todo mundo faz" não deve, ser, jamais, o padrão para o julgamento do cristão. O padrão precisa ser: "Isto é aconselhável"? "Que resultados morais e espirituais serão colhidos"? que leitura de minha vida e de minha fé a "numerosa nuvem de testemunhas" [Hb 12.1] fará por causa das atitudes que estou tendo? Um pai teria coragem de ensinar seus filhos a fazer as mesmas coisas que faz sob o pretexto da liberdade total? É possível a um cristão verdadeiro ter a ousadia para agir de maneira licenciosa sabedor que os olhos do Senhor estão sobre o que fazem os filhos dos homens e a cada um retribui segundo as suas obras [Jó 34.11]? É bom lembrar que havia já pessoas que questionavam a validade do Antigo Testamento para a Igreja neotestamentária, logo, rejeitavam a ideia de uma disciplina divina sobre os pecadores [a ponto de logo no início do séc. II surgir um movimento muito forte rejeitando todo o Antigo Testamento e muitas partes do Novo Testamento, o gnosticismo cristão, do qual Marcião de Sinope foi um dos mais destacados].

Um cristão podia e pode comer de tudo. Mas pode cometer excessos no comer? Mesmo o comer, que é lícito, requer regras ou terá consequências danosas. Assim como comer, as relações sexuais são parte das necessidades naturais do ser humano. O ser humano foi criado sexuado, o homem para a mulher, a mulher para o homem. Só que as consequências morais e até mesmo espirituais de um comer desregrado não são equiparadas às decorrentes da impureza sexual. Da mesma maneira que um homem podia ir no mercado e escolher sua comida, na sociedade coríntia, podia procurar uma prostituta [e também um prostituto] cultual e isto seria visto como normal e até honroso pela sociedade. Mas isto arruinaria seu testemunho como cristão, ele seria visto como um pagão, ou, talvez ainda pior, como um falso cristão. Ele se tornaria repreensível, pois se ousasse falar da transformação moral e espiritual que o Espírito Santo faz alguém poderia dizer que não via esta transformação nele. Paulo questiona o sofisma levantado pelos coríntios de que tudo é normal e aceitável. Embora admita como natural, ele diz que o estômago [funções digestivas] e alimento não tem tanta importância que a pureza com a qual o cristão deve resguardar seu corpo porque ele é, como já havia afirmado antes, santuário de Deus, instrumento no qual e pelo qual Deus se manifesta naqueles que são tornados sal e luz. A habitação do Espírito, hoje, ainda está em processo de aperfeiçoamento, mas já é a morada do Espírito, o tabernáculo do Deus vivo [em vós habita]. O corpo do cristão é parte de um corpo maior, o corpo de Cristo, não lhe cabendo usar desonrosamente aquilo que deve ser honrado pois é do Senhor.

É FRUTO DA LIBERDADE EM CRISTO

12 Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas convêm. Todas as coisas me são lícitas, mas eu não me deixarei dominar por nenhuma delas.

O segundo principio proposto por Paulo para o agir do cristão é se suas ações são conduzidas pela liberdade que ele recebeu em Cristo Jesus. À afirmação dos coríntios: todas as coisas são lícitas Paulo orienta-os a questionarem se é algo que pode ou não tornar-se dominante nas decisões do cristão. Não é apenas bebidas e drogas que dominam a vida das pessoas. Escolhas erradas podem ocasionar uma sequencia de novas decisões irreversíveis. Há pessoas viciadas em cigarros, outros são viciados em trabalho... existem muitas formas de dependência que não são, necessariamente, causadas por tóxicos. Há situações onde a dependência é moral, e até espiritual. Paulo adverte os coríntios que eles foram chamados para serem livres, eram escravos do pecado, escravos de satanás, e, por causa da graça de Cristo, foram libertos. Quando Paulo os convoca para se perguntarem se aquilo que é lícito pode ou não ser danoso, assumindo o controle de suas vidas ele está lhes lembrando que são servos do Senhor, que seu corpo e sua vida pertencem ao Senhor e que eles só devem fazer aquilo que glorifica ao seu Senhor [Rm 6.12-14] e isso só é possível porque o corpo do cristão, sua vida, é habitação do Espírito Santo [Rm 8.11].

O cristão verdadeiro não deve se importar se o mundo todo vai acha-lo estranho, deslocado, desorientado. Também não deve estranhar ser por ele perseguido, pois o seu Senhor também o foi [Jo 15.20] e é uma honra, não motivo de tristeza, ser chamado a participar dos sofrimentos de Cristo [I Pe 4.13] porque esta perseguição é um atestado de que o cristão, com sua vida e testemunho, denuncia os pecados reinantes do mundo [[Mt 5.11-12]. É sal e luz, chamando à vista de todos a odiosidade do pecado e da rebeldia contra Deus. O que não é admissível é alguém esconder-se atrás da cruz para não sofrer por ser ladrão ou bandido [I Pe 4.15].

Ainda usando como ilustração o relacionamento sexual, Paulo lembra que um homem e uma mulher se tornam um – e este fato faz com que um e outro não mais se dominem, mas se entreguem, se misturem. Paulo faz com que os coríntios pensem: com quem estão realmente unidos? Com Cristo, o Senhor, ou com a imoralidade, com o pecado? Não há como honrar a Cristo usando parte do seu corpo para a imoralidade. Não há como honrar a Cristo dizendo que aqueles por quem ele morreu para santificar podem continuar livremente na prática de imoralidades. Foi para a santidade que os cristãos foram chamados, para viverem uma vida santa, justa, piedosa no meio de uma sociedade pagã, ímpia e adúltera. Não há meio termo. Não há acordo. Não pode haver duplicidade de caminhos para o cristão. A santidade e a licenciosidade são caminhos que começam em um mesmo lugar – mas que se dirigem a lugares radicalmente diferentes. Não pode haver dois senhores no coração do cristão, não pode haver duas regras dominantes: ou se deixa conduzir pelo Espírito, ou será, inevitavelmente, conduzido pela carne e suas paixões.

A difícil escolha a ser feita é: servir a Cristo, o Senhor, ou servir ao pecado imaginando que está sendo independente, dono de si mesmo [Lc 17.33]? A palavra de Deus nos diz que alguns podem até parecer servos de Cristo, mas, em vindo a prova, em vindo os cuidados do mundo – e parece ser exatamente este o problema da Igreja em Corinto – deixam-se seduzir e dominar. Estes cuidados que lhes tomavam a atenção e a devoção eram sociais, culturais, pessoais, familiares. É por este motivo que o Senhor Jesus afirma que qualquer que não amá-lo mais do que a qualquer outra coisa não é digno dele [Lc 14.26]. A exortação para lembrar da mulher de Ló [Lc 17.32-33] refere-se ao fato dela ter olhado para Sodoma lamentando o que deixava para trás, ela queria preservar sua "vida" antiga porque sua cobiça e posses dominavam-na. Muitos hebreus não entraram na terra prometida porque se recusaram a olhar confiantemente para frente, em obediência ao que Deus lhes dizia deverem fazer, e passaram a olhar para trás, para o Egito [Nm 14.3] e sua relativa fartura de comida, e assim pereceram no deserto.

O fruto do Espírito apresenta o autodomínio como uma de suas características – não podemos falar de partes porque é um fruto apenas [Gl 5.22-23], e cada uma destas características está tão intimamente relacionada que fraciona-lo seria o mesmo que diminui-lo. Por outro lado, a bíblia também apresenta os injustos como desprovidos de domínio próprio [II Tm 3.1-7], isto é, dominados por agentes externos pecaminosos [II Pe 2.19]. O cristão foi chamado para ter um Senhor apenas [dois senhores]. Foi arregimentado para o exército do Senhor, e, como tal, não tem outra obrigação ou direito além de fazer a vontade do seu Senhor [II Tm 2.4], só sendo digno de galardão se cumpri-la integralmente, ou, do contrário, será digno de disciplina [Lc 12.48].

É EXPRESSÃO DE SERVIÇO AO SENHOR

19 Acaso, não sabeis que o vosso corpo é santuário do Espírito Santo, que está em vós, o qual tendes da parte de Deus, e que não sois de vós mesmos? 20 Porque fostes comprados por preço. Agora, pois, glorificai a Deus no vosso corpo.

O terceiro princípio é encontrado nos versos 19 e 20. Paulo afirma que ele pertence ao Senhor, por isso submete-se ao seu julgamento [I Co 4.4], ao mesmo tempo, coloca todos os demais cristãos na mesma categoria, ao afirmar que eles possuem o Espírito que o sela como propriedade de Deus [II Tm 2.19]. O cristão é um paradoxo espiritual. É carne, mas não é carnal. É espiritual, mas não é espírito. É santificado, mas tem que santificar-se. É um ser estranho porque vê dentro de si duas leis a se confrontarem [Rm 7.25], possui duas naturezas, é carnal e é também espiritual. Passa por uma transformação radical e total [Jo 5.24], entretanto esta transformação se manifesta paulatinamente, e às vezes, em altos e baixos, com avanços e retrocessos [I Jo 2.1]. A vontade é transformada, mas ainda assim enfrenta uma luta incessante contra si mesma, num estranho desejo de dizer não ao que se deseja [Rm 7.15]. Este estranho ser é chamado para ser livre, mas ao mesmo tempo em que é liberto de um impiedoso Senhor [II Tm 2.26] toma para si um Senhor, entregando-se totalmente em suas mãos [Sl 37.5] buscando, então, fazer sempre a vontade deste senhor, mesmo que ao fazer isso suprima sua própria vontade [Gl 5.17] – ou, o que é muito melhor, tenha sua vontade moldada pela vontade deste Senhor sempre bondoso e misericordioso [Rm 12.2].

O verdadeiro cristão sabe que foi comprado por um preço muito, muito alto [I Co 7.23 ], preço que nenhum homem conseguiria pagar [Sl 49.7-8]. Sabe que este preço foi o sangue do cordeiro de Deus, o sangue do próprio Cristo [Hb 10.10] que entregou-se a si mesmo na cruz do calvário, para remover a condenação que pairava sobre os seus [Jo 3.36] e exclamou que a divida estava, definitiva e totalmente paga [Jo 19.30], exultando no resultado do penoso trabalho de sua alma [Is 53.11]. Esta entrega confiante leva o cristão a servir a Cristo com alegria [Sl 100.2], sabedor que, agradando ao seu Senhor terá, também muitos motivos para alegrar-se [Ne 8.10] e, mesmo que as circunstâncias não sejam agradáveis, ainda assim poderá confiar na bondade e misericórdia do Senhor [Lm 3.22] que no seu tempo e a seu modo demonstra a diferença entre quem teme ao Senhor e quem não o teme [Ml 3.18].

O homem está sempre a serviço de alguém. Mesmo quando é libertado, é libertado para tornar-se servo. É livre para fazer o bem, é livre para alegrar-se no Senhor [Sl 32.11], é livre para louvar a Deus [Jr 20.13], é livre para resistir ao diabo [Tg 4.7], é livre para amar a todos, os da família da fé [Gl 6.10] e até os inimigos [Lc 6.27]. Comprados por preço altíssimo, o sangue do próprio filho de Deus [Hb 9.11-12], somos chamados para viver a seu serviço, para adorá-lo e segui-lo como seus discípulos [Jo 15.14] e seremos conhecidos como tais [Jo 13.35] se fizermos a mais importante de todas as ações: nos amarmos [I Co 13.1-3]. Não há cristianismo sem amor. Sem amor é só barulho, é só hipocrisia, e só fachada. Cristianismo sem amor é mera religião, é formalismo e prática da carne por pessoas carnais [Jo 3.6] sem quaisquer efeitos espirituais [I Co 2.14] porque a justiça do homem não tem valor algum diante da santidade de Deus [Is 64.6].

CONCLUSÃO

Destas três verdades fundamentais que devem nortear a vida do cristão, ficam lições preciosas para a Igreja do Senhor de todas as épocas:

i. Qualquer ação da Igreja deve ser movida pelo amor a Deus, ao próximo e a si mesmo tendo como norma prioritária sua utilidade, conveniência e poder para edificar. Qualquer ação da Igreja deve ser motivada pelo exercício dos dons espirituais com o dedicado amor fraternal [Ef 4.12]. Cada membro tem uma função, um é mão, outro pé, outro junta [Ef 4.16].

ii. Qualquer ação da Igreja deve ser fruto da liberdade que Cristo deu a cada um dos seus amigos para se desvencilharem do odioso fardo do pecado [Mt 11.28-30] e viverem uma nova vida, sabedores que todas as coisas velhas que os prendiam foram despedaçadas, tudo se fez novo [II Co 5.17], foram refeitos em Cristo [Cl 3.10].

iii. Qualquer ação da Igreja deve ter como alvo a glória de Cristo. E a glória de Cristo é ver seus discípulos, aqueles que comprou pagando tão algo preço, vivendo justa, santa, reta e piedosamente [Tt 2.11-14] mesmo que assediados constantemente por ataques de uma geração má e adúltera.

A lógica conclusão de Jesus é que todas as nossas ações devem ter como alvo final vivermos a vida de Cristo em nós [Gl 2.20], crescendo diariamente até atingirmos a estatura de varão perfeito. Assim, conclamo cada cristão genuíno, cada cristão verdadeiro, cada lavado, remido no sangue de Cristo Jesus a, à partir de hoje e de agora, buscarem viver esta nova vida, numa consagração ou reconsagração de vida ao Senhor. Em nome do Senhor Jesus vamos viver usando nossos dons e talentos para edificação do corpo de Cristo, para demonstrar que a liberdade que temos no Senhor é instrumento poderoso de bênção mútua e glorifica ao nosso Senhor.

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

PERIGO À VISTA

casalComo deve ser o vestuário do cristão, especialmente da mulher cristã

Os gregos tinham inúmeras lendas sobre a existência de sereias. Seriam elas seres mitológicos, metade mulher, metade peixe, dotadas de beleza indescritível e de voz maviosa, capaz de enfeitiçar os homens com seu canto. Entretanto, sua beleza escondia um coração maligno, pois arrastavam os marinheiros para recifes perigosos, destruindo navios e ceifando vidas. Raramente se via qualquer relato sobre estes seres que não envolvesse um naufrágio [e é provável que muitos capitães de navio se utilizassem das lendas para justificar sua imperícia em alguma ocasião].

Por trás desta lenda há o que há muito se sabe: o homem é biológica, neurológica e hormonalmente predisposto a admirar a beleza feminina e, admirando-a, sentir-se atraído por ela – não que eles não possuam outros valores na hora de avaliar uma mulher, especialmente aquela que querem por companheira. As mulheres possuíam outras prioridades, avaliavam [quando podiam, o que era raro] outras qualidades. Mas esta curva se tornou mais acentuada, e já não é possível afirmar mais a existência de tal paralelismo, os caminhos se cruzam. E a aparência se torna cada vez mais determinante – mas nem sempre, como podemos ver pela histeria que toma conta de algumas mulheres diante de cantores ou atletas reconhecidamente dotados de pouca ou nenhuma beleza que não a fama e a fortuna [são atraídas pelo que sabem que poderão ver, não pelo que veem – mesmo sem perceber, ainda buscam o provedor, pois, quanto mais rico, maior a histeria].

Há alguns dias vi um artigo que mostrava um homem, em uma igreja, e à sua frente uma mulher quase vestida. Minissaia baixa, colada, parte da sua roupa íntima aparecendo enquanto a mesma erguia as suas mãos em "louvor". Não há aqui o propósito de questionar o que a mulher sentia neste louvor – o problema que quero abordar é diferente: a influência danosa que ela [conscientemente ou não] estava exercendo sobre aquele homem.

Sabe-se que os homens são atraídos pelo olhar. Os homens são facilmente provocados e se sentem excitados em instantes apenas por olhar para o corpo feminino, especialmente quando provocantemente vestidos [ou semidespidos]. A indústria da moda feminina sabe disso, e investe pesadamente nisto. A indústria de lingeries também conhece este aspecto da psique masculina. E a indústria erótica também se aproveita deste fato para faturar bilhões anualmente. Mas tem dois outros personagens que também sabem disso: as mulheres e o diabo.

pregacaoNão pare de ler, não estou defendendo aqui, como os medievalistas, que as mulheres sejam agentes do diabo na tarefa de desvirtuar os homens. Homens e mulheres são igualmente pecadores – cada um com sua própria constituição mental e hormonal. Mas ambos são conhecedores deste aspecto do homem, que resumindo e colocando de uma forma mais direta, é o que se segue: o homem é facilmente tentado por aquilo que vê [e pelo que, em decorrência, deseja ver, tocar, etc.].

Não olhemos para os homens como se os mesmos fossem fracos, inconsequentes, incorrigíveis ou maníacos – não se trata disso. A questão é que sua constituição física e hormonal, estabelecida por Deus, predispõe para uma que o mesmo sinta desejo por aspectos externos – a biologia feminina dispensa em parte este aspecto imediato e é mais trabalhada por fatores emocionais e ambientais, caracterizado por um desejo mais íntimo que superficial. É óbvio que as influências culturais atuais, extremamente permissivas e danosas, tendem a descaracterizar este quadro – mas, passado o período aventuroso, as necessidades femininas permanecem no mesmo patamar.

Dadas as características do nosso século, sabemos ser realmente impossível aos homens não estarem expostos a este tipo de perigo. Ele está, literalmente, exposto em todos os cantos, esquinas, ruas, avenidas, lojas e repartições por onde andarmos. É um perigo, literalmente, à vista. Entendo que não é impossível resistir – não há nenhum determinismo entre ver e partir, desesperadamente, à caça. O ser humano não é um amontoado de instintos [apesar de tê-los e eles serem muito fortes]. Há outros fatores, como formação moral, espiritual, familiar, que influenciarão a decisão de controlar ou não os olhos e pensamentos, como demonstra o patriarca Jó [Jó 31.1: Fiz aliança com meus olhos; como, pois, os fixaria eu numa donzela?]. Os olhos, janela da alma, permitem a entrada somente daquilo que seu dono permitir e acalentar no coração [Sl 119.11: Guardo no coração as tuas palavras, para não pecar contra ti].

Infelizmente um grande número de homens e mulheres não percebem este perigo que está tão à vista. Muitos, infelizes e insatisfeitos em seus relacionamentos, não veem nada de mais em "dar uma olhadinha"... e muitas, inconsequente ou inconscientemente [embora eu creia que, dado o tempo que as mulheres costumam gastar, em média, ao se arrumar, não haja muito de inconsciente] querem receber estas olhadinhas "que não tira pedaço", porque, segundo o ditado, "o que é bonito é pra ser mostrado". Os homens responsabilizam as mulheres por mostrarem, as mulheres se esquivam dizendo que "olha porque quer". Na verdade, a responsabilidade [ou a irresponsabilidade] é dos dois.

Entendo que há alguns parâmetros no vestir, parâmetros que levam em conta aspectos pessoais e sociais, como conforto, decoro, conveniência, ambiente. Por exemplo, não é de se esperar que alguém vá à praia ou campo de futebol de terno, gravata e sapato social. Da mesma maneira que não se espera que se vá a uma repartição pública, fórum ou, mais importante, ao púlpito de uma igreja, de biquínis, shorts e camiseta. Infelizmente, se o terno não vai à praia, o estilo "semidespido" tem entrado na Igreja. E observe que o fator preponderante é a moda, e não o conforto, pois não consigo conceber conforto em determinadas roupas que para sentar tem que ser esticadas e seguradas, e para levantar tem que ser puxadas e rearranjadas, em situações verdadeiramente constrangedoras.

Este estilo, diferente do que seria esperado, não é apenas de solteiros e solteiras, especialmente jovens. Esta "moda" mundana tem afetado o vestir de senhoras, casadas, avós até, que, não sei por que motivos, se vestem provocantemente, constrangendo a si mesmas, aos seus cônjuges e muitos à sua volta. Em algumas situações beiraria o ridículo, não fosse trágico. Porque buscar o olhar de voyeur, e não o do esposo no leito do matrimonio ou em situações íntimas do casal?

Seria interessante que pais e esposos realmente opinassem sobre o que sua esposa e filha veste. Não apenas aquela olhada protocolar, e, dada a presa para evitar o atraso, emitir um rápido: "está bom". Muitas vezes não está bom, mas, para evitar o conflito, o silêncio – e uma exposição inadequada e demasiadamente sexy, com roupas que salientam indevidamente partes do corpo, mostram demasiadamente outras ao menor movimento, mostrando como que numa vitrine o que não deveria ser oferecido, transmitindo uma mensagem de disponibilidade e vulgaridade que não deveria ser, de maneira alguma, passada adiante.

Repito, é lamentável, mas este estilo adentrou às Igrejas. Usa-se hoje, no dia a dia e especialmente em "eventos sociais" e até nos cultos roupas semelhantes às usadas pelas prostitutas de algumas décadas atrás [compare com o filme "Taxi Driver", por exemplo]. Recentemente me senti envergonhado pelo que senhoras cristãs [?] usavam em um evento cristão. O evento era, a programação foi idealizada para glorificar a Deus, mas o estilo de alguns era mais apropriado para outros ambientes menos santos.

O problema se agrava porque, pais e esposos ficam ofendidos caso suas "jovens" sejam repreendidas por roupas que, noutros tempos, seriam consideradas, para dizer o mínimo, escandalosas, curtas demais, justas demais, excessivamente inapropriadas para estarem em corpos santos, pertencentes a Cristo [I Co 6.19-20]. Um não cristão usá-las para ir a uma igreja é admissível, até que se converta e comece a sentir os efeitos santificadores do Espírito Santo – efeitos estes não vistos em determinadas situações.

É sabido de pastores que desceram do púlpito para repreender ou cobrir vestes de jovens e senhoras assentadas nos primeiros bancos, atraindo a atenção daquele que, à frente da comunidade, deveria ter olhos somente para a glória de Cristo. Lembremos, amados: mesmo os dirigentes litúrgicos e pregadores são homens, são santos, mas são homens. Pior se torna o problema quando são os próprios dirigentes que se vestem inapropriadamente, com microssaias ou microvestidos.

Lembremos que o homem é estimulado pelo que vê – e isto mais rapidamente do que é possível controlar, aliás, determinadas situações é virtualmente controlar. O pecado é do homem, sem dúvida, mas a culpa recai sobre quem oferece a oportunidade do pecar, ainda que apenas com os olhos e pensamentos, num adultério emocional, como define o Senhor Jesus [Mt 5.28]. Seria bom as senhoras e senhoritas pensarem nisso, refletirem que estão induzindo homens a pecarem.

bs_newA bíblia orienta que o adorno da mulher cristã deve ser interior, e não ostentação exterior [I Pe 3.3-6]. Mulheres que se exibem demasiadamente estão mostrando que, em seu interior, ainda não há um coração totalmente convertido ao Senhor, o Espírito ainda não fez a obra de santificação – talvez em muitos casos seja mesmo a evidência de que não fez nem mesmo a obra de regeneração.

A vulgarização da mulher tem atingido níveis tais que muitas se sentem bem quando são comparadas apenas animais [cachorras, vacas, piranhas] a produtos para serem consumidos [melancia, jaca, pera], como se fossem meros pedaços de carne [filé] ou coisas semelhantes, de consumo rápido e rapidamente descartáveis. E produtos para consumo devem ser expostos, é a lógica do mercado. Mas seria admissível isso na Igreja? Na casa de Deus, nos muros santos? As jovens e senhoras, algumas até idosas, não deveriam se expor desta maneira, não estão em vitrine, não são consumíveis, não são descartáveis.

Quem se exibe, quer ser visto, e se tal exposição é carnal, é porque quer dar vazão às obras da carne. E para tanto somos lembrados pelo apóstolo Tiago que as obras da carne são geradoras de morte, e não de vida [Tg 1.14-15]. Toda mulher, verdadeiramente cristã, já tem sobre si todos os olhos e olhares de que precisa: dos filhos e do seu esposo [Pv 31.28-30] e do seu Deus [Sl 113.5-6]. Já tem todo o amor deles e, mais especialmente, o amor de Deus derramado em seu coração. Não precisa ser admirada por olhares estranhos. Não precisa se oferecer a olhares estranhos.

Às vezes fico imaginando a relação entre o folclórico tempo investido pelas mulheres ao se prepararem para sair e o resultado final e não consigo entender o resultado. Se metade do tempo gasto fosse investido em leitura da palavra e oração teríamos Igrejas mais santas, casais mais amorosos, famílias mais estáveis. Mas não é o que se vê. Creio que uma pessoa verdadeiramente cheia do Espírito não intentará induzir outros a pecarem, refreará sua vaidade e, embora seja, dentro dos nossos costumes e sociedade tão permissiva, ser lícito usar vertes que mais mostram que escondem, saberá que nem tudo que é lícito é conveniente, edificante ou santo.  A pergunta não deve ser quantos centímetros acima do joelho deve estar o comprimento das roupas.. nem quantos centímetros abaixo do pescoço. A pergunta deve ser sempre: o meu vestir escandaliza? Não importa a idade, jovem ou madura, é inaceitável uma cristã se vestir como se fosse uma prostituta, como muitas mulheres querem ser vistas. As mulheres cristãs devem se portar como damas, não como mulheres-damas. Devem ser exemplos de vida, não parecer com “mulheres da vida”.

Pastores não determinam tamanho de vestes, não devem se preocupar em dizer a mulheres que não as de sua casa, esposa e filha quantos centímetros a mais devem ter suas roupas. Mas apresento princípios que cada mulher deveria verificar antes de sair de uma loja [é isso mesmo, antes de comprar] – porque, se não tem no armário não vestirá:

i. A roupa é confortável, isto é, permite que se movimente normalmente sem estar presa ou exposta, tendo que segurá-la o tempo todo para não mostrar o que, na prática, já está sendo insinuado?

ii. A roupa é sóbria, isto é, embora possa ser bonita, evidencia mais o caráter que atributos físicos?

iii. A roupa é discreta, isto é, será a pessoa que a usa que será notada, e não a maior quantidade de adereços e menor extensão do tecido que será notada?

iv. A roupa é apropriada para ir ao encontro do Senhor? Se fosse para entrar na glória, ele te receberia com aprovação?

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

SOBRE DIREITOS AUTORAIS

Rev. Charles Melo esclarecendo sobre o assunto:
STJ - ECAD não pode cobrar por execuções musicais em evento religioso, gratuito e sem fins lucrativos. A 3ª turma do STJ excluiu a cobrança de direitos autorais em relação a um evento religioso, com entrada gratuita e sem fins lucrativos promovido, em 2002, pela Mitra Arquidiocesana de Vitória. O TJ/ES havia determinado o pagamento ao ECAD - Escritório Central de Arrecadação e Distribuição. A turma seguiu integralmente o voto do relator do recurso, ministro Paulo de Tarso Sanseverino. A ação de cobrança movida pelo ECAD diz respeito a "execuções musicais e sonorizações ambientais" quando da celebração da abertura do Ano Vocacional em Escola. O TJ/ES considerou que o art. 68 da lei 9.610/98 (clique aqui) autorizaria a cobrança dos direitos autorais. A Mitra recorreu ao STJ. Em seu voto, o ministro Paulo de Tarso Sanseverino admitiu que a leitura isolada do art. 68 da lei 9.610/98 indica a obrigação dos direitos autorais. "Mas a lei, nos artigos 46, 47 e 48 regula as limitações aos direitos autorias", apontou. O relator destacou que entre essas limitações estão o direito à intimidade e à vida privada, desenvolvimento nacional e à cultura, educação e ciência.
Para o magistrado, negar essas limitações seria negar direitos fundamentais que, no caso, devem se sobrepor aos direitos dos autores das obras. Ele apontou, ainda, que o art. 13 do Acordo OMC/TRIPS, do qual o Brasil é signatário, admite a restrição de direitos autorais, desde que não interfira na exploração normal da obra ou prejudiquem injustificavelmente o titular do direito. Para o relator o evento não teria magnitude o bastante para prejudicar a exploração da obra.
O ministro explicou que é preciso verificar três hipóteses em que se admite a reprodução não autorizada de obras de terceiros (a chamada "regra dos três passos"): em certos casos especiais; que não conflitem com a exploração comercial normal da obra; que não prejudiquem injustificadamente os legítimos interesses do autor. Sanseverino acredita ser este o caso. "O evento de que trata os autos – sem fins lucrativos, com entrada gratuita e finalidade exclusivamente religiosa – não conflita com a exploração comercial normal da obra (música e sonorização ambiental), assim como, tendo em vista não constituir evento de grandes proporções, não prejudica injustificamente os legítimos interesses dos autores". E ele completou: "Prepondera, pois, neste específico caso, o direito fundamental à liberdade de culto e de religião frente ao direito do autor".
Irmãos, não paguem nada. Continuem adorando o Senhor como sempre fizeram, sem temor de processos ou algo parecido.
Abraço!
Charles Melo de Oliveira
Pastor Efetivo da Sexta Igreja Presbiteriana de BH
Presidente do CHHM – IPB

 

UMA PALAVRA DO CORAÇÃO DO PASTOR

Agora que ficou claro quem é adorador e quem é mercenário, que tal deixar de comprar CDs e DVDs destes mu$icos? Seria a melhor resposta, pois, se o Deus deles é Mammom, ele que os sustente.

domingo, 2 de setembro de 2012

ONDE OS JUSTOS ENCONTRAM A VERDADEIRA JUSTIÇA [I Co 6.1-7] INTRODUÇÃO

11O sermão foi postado em várias partes, para não ficar um arquivo muito longo. Leia na ordem decrescente, espero que lhe seja proveitoso. Brevemente vou colocar um link para quem quiser baixá-lo na íntegra, sem se dar ao trabalho de juntar as diversas seções. Abraços, do Coração do Pastor.

1 Aventura-se algum de vós, tendo questão contra outro, a submetê-lo a juízo perante os injustos e não perante os santos? 2 Ou não sabeis que os santos hão de julgar o mundo? Ora, se o mundo deverá ser julgado por vós, sois, acaso, indignos de julgar as coisas mínimas? 3 Não sabeis que havemos de julgar os próprios anjos? Quanto mais as coisas desta vida!  4 Entretanto, vós, quando tendes a julgar negócios terrenos, constituís um tribunal daqueles que não têm nenhuma aceitação na igreja.  5 Para vergonha vo-lo digo. Não há, porventura, nem ao menos um sábio entre vós, que possa julgar no meio da irmandade? 6 Mas irá um irmão a juízo contra outro irmão, e isto perante incrédulos! 7 O só existir entre vós demandas já é completa derrota para vós outros. Por que não sofreis, antes, a injustiça? Por que não sofreis, antes, o dano?

I Co 6.1-7

O que fazer em caso de divergências entre irmãos? E quando estas divergências e contendas não são resolvidas aos pés da cruz? Quem deve resolvê-las? Entre os judeus havia um forte sentimento nacionalista, e em tempo algum na história do Israel veterotesetamentário um judeu recorreu a um gentio para julgar outro judeu. Mesmo sem território mantiveram seu governo e tribunais, ainda que com poderes limitados como podemos ver quando intentam matar Jesus [Jo 18.31: Replicou-lhes, pois, Pilatos: Tomai-o vós outros e julgai-o segundo a vossa lei. Responderam-lhe os judeus: A nós não nos é lícito matar ninguém]. É impressionante que, para cumprir o plano de Deus os judeus tenham aberto mão de um dos sentimentos mais fortes em seus corações, o exclusivismo nacionalista [At 2.23: ...sendo este entregue pelo determinado desígnio e presciência de Deus, vós o matastes, crucificando-o por mãos de iníquos]. Foram os judeus que condenaram Jesus, ainda que os romanos o tenham executado no raro caso de inversão de papéis: os dominadores fazendo a vontade dos dominados. Paulo chega a ser preso, e até há representações para os romanos pedindo-lhe a custódia, mas o que eles já haviam decidido era a condenação de Paulo segundo as suas próprias leis, e, se estas falhassem, apelariam para outros meios – inclusive recorrendo a votos assassínios [At 23.12: Quando amanheceu, os judeus se reuniram e, sob anátema, juraram que não haviam de comer, nem beber, enquanto não matassem Paulo].

A CAMINHO DO FUNDO DO POÇO CORÍNTIO

Em Corinto o apóstolo Paulo já havia verificado diversos problemas: partidarismo, imaturidade, acepção de pessoas, relacionamento sexual impuro, e agora trata de mais uma das consequências de tudo isto na vida comunitária, com efeitos teológicos e litúrgicos: a existência de contendas, que ele duramente classifica como "completa derrota" [v. 7: O só existir entre vós demandas já é completa derrota para vós outros]. Diante da necessidade de resolver os problemas, os coríntios tinham duas atitudes possíveis: agir como cristãos [Mt 5.23: Se, pois, ao trazeres ao altar a tua oferta, ali te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa perante o altar a tua oferta, vai primeiro reconciliar-te com teu irmão; e, então, voltando, faze a tua oferta] ou agir como coríntios. E foi exatamente como gentios que eles agiram para vergonha do evangelho. Eis o problema que estava impulsionando, definitivamente, a Igreja coríntia para o fundo do poço: cristãos pelejando contra cristãos diante de pagãos [não apenas diante dos olhos dos pagãos, algo relativamente normal, mas diante de tribunais pagãos], assinando, literalmente, um atestado de quebra da unidade que Cristo veio estabelecer [Ef 4.1-3: Rogo-vos, pois, eu, o prisioneiro no Senhor, que andeis de modo digno da vocação a que fostes chamados, com toda a humildade e mansidão, com longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor, esforçando-vos diligentemente por preservar a unidade do Espírito no vínculo da paz]. Para Paulo isto era um absurdo, pois era inconcebível a tal ponto que ele chama de aventura a atitude de um justo ir a tribunal romano contra outro justo.

ONDE OS JUSTOS ENCONTRAM A VERDADEIRA JUSTIÇA [I Co 6.1-7]–NÃO HÁ JUSTIÇA EM SUBMETER UM JUSTO A UM TRIBUNAL DE INJUSTOS

11Escandaliza ao apóstolo o fato de justos estarem sendo submetidos a julgamento por parte de injustos – mas o escândalo maior se dá pelo fato de que são os próprios cristãos os autores de tais processos. Ser perseguido por causa da fé não era estranho a Paulo nem a muitos coríntios, como Pedro e Apolo, a quem eles conheciam bem. Eles, entretanto, não conheciam esta realidade. Em Corinto ainda não tinha havido qualquer perseguição por parte dos pagãos. Eles não sabiam o que era ser perseguido por causa da fé – logo, podiam pensar que haveria qualquer tipo de justiça nos tribunais que não os perseguia.

Do ponto de vista bíblico há uma diferença fundamental entre os que foram salvos em Cristo Jesus e os que rejeitaram a oferta de salvação. Os primeiros tiveram o preço de seus pecados pagos, totalmente pagos, foram justificados, não devem mais nada [Cl 2.14: ... tendo cancelado o escrito de dívida, que era contra nós e que constava de ordenanças, o qual nos era prejudicial, removeu- o inteiramente, encravando-o na cruz], o escrito da dívida que havia contra eles foi totalmente cancelado na cruz do calvário [João 19.30: Quando, pois, Jesus tomou o vinagre, disse: Está consumado! E, inclinando a cabeça, rendeu o espírito].

Já os que rejeitaram a oferta da graça não apenas não obtiveram essa graça mas continuam acumulando dívidas, sua injustiça apenas aumenta. Esta é uma questão espiritual e moral que foi definitivamente resolvida. Entretanto, há a questão prática. Constantemente vemos ímpios, não justificados, agirem melhor, mais ordeira e honestamente que muitos que foram "santificados em Cristo Jesus" mas que ainda não estão atendendo devidamente ao "chamado para serem santos" [I Co 1.2: ...à igreja de Deus que está em Corinto, aos santificados em Cristo Jesus, chamados para ser santos, com todos os que em todo lugar invocam o nome de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor deles e nosso].

Podemos imaginar que também isto faz parte da didática divina, mas o que é fato, e para tristeza nossa e de Paulo, é que muitas vezes os ímpios podem agir, e efetivamente agem, com maior senso de justiça entre si que muitos cristãos. Um caso emblemático e até lendário é o cuidado que os membros da fraternidade maçônica costumam propagar que tem entre si, embora eu conheça casos reais onde esta fraternidade não tenha se consumado na prática.

Paulo não tinha dúvida alguma que um juiz não justificado podia julgar retamente segundo as leis romanas. Entretanto, há uma lei maior, superior, à qual os cristãos devem plena atenção e sujeição, e desta lei os injustos não participam, não tem conhecimento e tampouco desejo de viver por ela. Assim como a Igreja não tem jurisdição sobre os injustos, do mesmo modo não deveria submeter-se a seu julgamento, especialmente nos seus assuntos internos, entre membros do mesmo reino celeste, partes de uma mesma família, ainda que fosse um assunto material – não devemos usar o termo "mundanos" porque, para os espirituais, tudo o que fazem é espiritual.

É possível que, nos tribunais romanos, os cristãos obtivessem um julgamento correto segundo a jurisprudência romana, mas o fato é que eles não deveriam sequer aparecer por lá, especialmente em demanda contra os próprios cristãos. Sabiam ser necessário agir como Cristo agiu, suportando a injúria [Hb 12.3: Considerai, pois, atentamente, aquele que suportou tamanha oposição dos pecadores contra si mesmo, para que não vos fatigueis, desmaiando em vossa alma] mas, paradoxalmente, estavam agindo de maneira exatamente oposta, se acusando mutuamente, num triste espetáculo aos olhos dos gentios, para os tais uma comédia, mas, para os cristãos, nada menos que uma tragédia. Uma tragédia moral, social e espiritual.

Como agência proclamadora das boas novas a Igreja estava sem rumo, sem poder e sem crédito. Afinal, como proclamar a unidade das pessoas de todas as nações em Cristo Jesus num tribunal a decidir uma disputa entre aqueles que já teriam experimentado esta unidade? É por isso que Paulo usa uma expressão fortíssima no verso 7 para dizer que a Igreja estava completamente arruinada - [v. 7: O só existir entre vós demandas já é completa derrota para vós outros]. Importa lembrar que Paulo já havia afirmado que não ficaria sem castigo quem destruísse a obra do Senhor, o santuário do Espírito, o corpo místico de Cristo: o assunto, lá e cá, é um só: a unidade da Igreja.

O problema havia ultrapassado os muros santos, havia ultrapassado as fronteiras da Igreja, e isto era vergonhoso e lamentável, para toda a Igreja, pois quando um membro sofre todo o corpo sofre.

Como é o costume de Paulo, ele denuncia o pecado, mostra suas consequências e estabelece parâmetros parra a cessação do mal e consequente restauração do dano causado.

ONDE OS JUSTOS ENCONTRAM A VERDADEIRA JUSTIÇA [I Co 6.1-7]–OS MENORES ENTRE OS SANTOS POSSUEM MAIS JUSTIÇA QUE OS MAIS NOBRES DOS ÍMPIOS

11Paulo denuncia com grave erro envolver os incrédulos nos negócios da Igreja, e especialmente nos seus problemas. É verdade que o pecado afasta as pessoas de Deus, mas os pecados dos crentes lhes dá justificativas para ficarem longe da Igreja. É um contrassenso muitas das disputas nas quais os crentes se envolvem porque se tratam de assuntos daqui, deste mundo. É um contrassenso porque o cristão não tem morada certa [I Co 4.11: Até à presente hora, sofremos fome, e sede, e nudez; e somos esbofeteados, e não temos morada certa] ou permanente aqui [Hb 13.14: Na verdade, não temos aqui cidade permanente, mas buscamos a que há de vir].

É um contrassenso porque o cristão não poderia se deter em disputas por coisas que são deste mundo e não deveriam ocupar seu coração [I Jo 2.15: Não ameis o mundo nem as coisas que há no mundo. Se alguém amar o mundo, o amor do Pai não está nele]. É possível que, na Igreja de Corinto, houvesse pessoas que confundissem "pertencer a Igreja" com pertencer ao corpo de Cristo.

Para alguém levar quem quer que fosse perante um tribunal romano deveria ser cidadão romano e seguir ritos jurídicos que também eram ritos religiosos. Não se abria um procedimento num tribunal romano sem o necessário ritual sacrificial – e aos cristãos não era, em absoluto, permitido participar de tais rituais [I Co 10.20: Antes, digo que as coisas que eles sacrificam, é a demônios que as sacrificam e não a Deus; e eu não quero que vos torneis associados aos demônios], literalmente associando-se a demônios contra irmãos, parte do corpo de Cristo. Apresentar-se a um tribunal romano era, para o cristão, atestar tanto mundanismo quanto idolatria.

Conquanto a cidadania romana fosse almejada e tivesse um alto valor político e monetário, o apóstolo coloca-a muito abaixo daquilo que os cristãos já haviam alcançado. Paulo havia considerado isto como "coisa de nenhum valor" [Fp 3: 8-10: Sim, deveras considero tudo como perda, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; por amor do qual perdi todas as coisas e as considero como refugo, para ganhar a Cristo e ser achado nele, não tendo justiça própria, que procede de lei, senão a que é mediante a fé em Cristo, a justiça que procede de Deus, baseada na fé; para o conhecer, e o poder da sua ressurreição, e a comunhão dos seus sofrimentos, conformando-me com ele na sua morte], em contraste com o ardente desejo de seu coração de gozar pra sempre da cidadania que realmente importa [Fp 3.20: Pois a nossa pátria está nos céus, de onde também aguardamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo].

O documento que mostrava quem os cristãos eram, a que reino pertenciam não era um brasão familiar, nem um documento de um juiz, mas o seu proceder. E era este proceder que deveria mostrar ao mundo a justiça do julgamento de Deus. Ainda que jamais fosse servir de desculpa para os ímpios, o comportamento dos cristãos coríntios não incentivava ninguém a querer ser santo ou sentir-se envergonhado por seus pecados, muito pelo contrário – ao menos exteriormente [no que a carne e a moralidade conseguem] os ímpios estavam sendo mais corretos que os santos.

Paulo questiona-os pelo fato de se aventurarem longe da segurança dos santos muros, do aprisco do Senhor, do reino de Deus e correrem aos tribunais pagãos. Porque chamar não santos para julgarem os santos? Os coríntios já haviam sido de tal maneira influenciados pelos pecados existentes em seu meio, especialmente o partidarismo que já havia causado estragos de tal monta que eles não confiavam em ninguém mais dentro da Igreja. Um "paulino" não confiava nos que se diziam seguidores de Apolo, que por sua vez não confiava em absoluto nos seguidores de Pedro: era desconfiança de todos os lados.

Não confiavam nem mesmo nos da casa de Cloe, agora injustamente considerados como fofoqueiros. E no meio de tanta desconfiança alguém teve a infeliz idéia de ser o primeiro a recorrer, em um caso de natureza civil, a um tribunal civil, sujeitando-se ao parâmetros da legislação romana sob um magistrado romano. Era como se atestassem publicamente, perante eles mesmo e perante os ímpios, a falência da comunhão da Igreja. E quando um faz, os outros também acabam julgando-se no direito de também fazer.

Aparentemente um episódio deu origem a um costume, e a Igreja, que é demonstração tanto do amor quanto do juízo de Deus sobre todas as coisas, rebaixou-se a um padrão menor que o do mundo, afirmando ser incapaz de julgar retamente, admitindo que os ímpios poderiam ser maios justos que eles próprios. Sua sede de "direitos", seu legalismo os cegou de tal forma que os tornou escárnio entre os gentios com justa razão para vergonha do evangelho.

Já vimos que um justo não vai encontrar justiça alguma em submeter seus irmãos a tribunais mundanos. Aprendemos também que é uma atitude de vilania e humilhação submeter a Igreja do Senhor, que há de julgar o mundo, ao julgamento dos mundanos, demonstrando publicamente que a Igreja não atingiu o padrão de unidade que Deus estabeleceu.

ONDE OS JUSTOS ENCONTRA A VERDADEIRA JUSTIÇA [I Co 6.1-7]– OS CRISTÃOS ESTÃO HABILITADOS A RESOLVER SUAS DIFERENÇAS COM BASE NA LEI A QUE SE SUJEITAM

11Na Igreja coríntia estava presente a ideia de que a vida pode ser dividida em setores: o terreno, passageiro, mundano, material, e o celeste, espiritual, eterno. O dualismo pagão estava presente na mentalidade coríntia. Era normal acreditar que a matéria era uma coisa ruim, passageira, inferior, enquanto que o espírito era uma centelha de Deus, portanto superior e divina.

Os dualistas acreditavam que o corpo era somente a prisão do espírito, e a isto reagiam de maneira desregrada [já que o corpo não vale nada, então não preciso cuidar dele], entregando-se a excessos, afirmando que todas as coisas eram lícitas – e Paulo responde que nem por isso eram convenientes [I Co 6.12: Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas convêm. Todas as coisas me são lícitas, mas eu não me deixarei dominar por nenhuma delas] ou, então, recusavam-se a participar das alegrias da vida, como, por exemplo, o casamento [I Co 7.1: Quanto ao que me escrevestes, é bom que o homem não toque em mulher] em um ascetismo que, aos olhos de Deus, não resulta em proveito algum [Cl 2.20-23: Se morrestes com Cristo para os rudimentos do mundo, por que, como se vivêsseis no mundo, vos sujeitais a ordenanças: não manuseies isto, não proves aquilo, não toques aquiloutro, segundo os preceitos e doutrinas dos homens? Pois que todas estas coisas, com o uso, se destroem. Tais coisas, com efeito, têm aparência de sabedoria, como culto de si mesmo, e de falsa humildade, e de rigor ascético; todavia, não têm valor algum contra a sensualidade].

Com base nestas ideias os coríntios entendiam ser lícito recorrer aos mundanos para resolver questões mundanas – e a resposta de Paulo é que isto lhes era vedado e, pior, que eles deveriam cuidar de resolver suas dificuldades internamente, especialmente pelo fato de que aos cristãos ser dado o poder para julgar inclusive os anjos [Mt 19: 28-30: Jesus lhes respondeu: Em verdade vos digo que vós, os que me seguistes, quando, na regeneração, o Filho do Homem se assentar no trono da sua glória, também vos assentareis em doze tronos para julgar as doze tribos de Israel. E todo aquele que tiver deixado casas, ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe ou mulher, ou filhos, ou campos, por causa do meu nome, receberá muitas vezes mais e herdará a vida eterna. Porém muitos primeiros serão últimos; e os últimos, primeiros].

Se Paulo os repreende de maneira enérgica e irônica, por se julgarem sábios [I Co 4.10: Nós somos loucos por causa de Cristo, e vós, sábios em Cristo; nós, fracos, e vós, fortes; vós, nobres, e nós, desprezíveis], volta ao tema da sabedoria agora dizendo que eles tem condições para constituírem seu próprio tribunal, e julgarem todos os assuntos que envolvam cristãos. Eles não deveriam constituir como juiz sobre a Igreja aqueles que não tem qualquer aceitação na Igreja. Paulo afirma que os que não tem aceitação na Igreja não devem ser honrados na Igreja, da mesma maneira que o mundo não honra os cristãos [I Co 1.28: ...e Deus escolheu as coisas humildes do mundo, e as desprezadas (exouqhene=menouj), e aquelas que não são, para reduzir a nada as que são...].

Se os coríntios eram realmente sábios, então deveriam saber como resolver os seus problemas internos, sem recorrer aos mundanos. Entre eles havia os que exaltavam Paulo, Apolo e Pedro, e até mesmo Jesus. A pergunta de Paulo é: onde está o resultado dos ensinos destes mestres na vida de vocês? A constatação de Paulo, expressa no capítulo 3, é lembrada aqui, embora de passagem [I Co 3.2-3: Leite vos dei a beber, não vos dei alimento sólido; porque ainda não podíeis suportá-lo. Nem ainda agora podeis, porque ainda sois carnais. Porquanto, havendo entre vós ciúmes e contendas, não é assim que sois carnais e andais segundo o homem?].

Toda a sabedoria que eles afirmavam ter não conseguiu produzir nem um sábio sequer, a ponto de precisar ir buscar solucionar os problemas sujeitando-se ao padrão mais baixo, o do mundo. Cremos que havia pessoas educadas e cultas em Corinto, mas o fato é que nenhum entre eles era reconhecido por sua conduta cristã, por seu procedimento correto. Todos estavam contaminados, em maior ou menor grau, pelo partidarismo vigente na comunidade, correndo um sério risco de autodestruição [Gl 5.15: Se vós, porém, vos mordeis e devorais uns aos outros, vede que não sejais mutuamente destruídos].

E este risco era real na medida em que já não havia sequer uma pessoa que fosse considerada digna de respeito por todos naquela Igreja. Nem mesmo os apóstolos gozavam de respeito entre eles. A própria Palavra de Deus era esquecida quando os interesses pessoais, quando o pensamento do grupo era ameaçado. Um exemplo é o caso do incesto não tratado. Outro é quando trata das diferenças entre irmãos. A orientação bíblica é muito clara [Mt 18.15: Se teu irmão pecar contra ti, vai argui-lo entre ti e ele só. Se ele te ouvir, ganhaste a teu irmão]. Entendo que todo pecado contra uma parte do corpo é um pecado contra todo o corpo, isto é, todo pecado cometido contra um membro da Igreja é um pecado contra todo o corpo – mesmo quando é cometido por membro da Igreja, o que neste caso é um agravante, não um atenuante.

Uma das doenças mais difíceis de serem tratadas é o câncer, justamente porque ela não é causada por um invasor [ainda que desencadeada por fatores externos], mas por uma degeneração de células do próprio organismo.

Amados, não há possibilidade de encontrar justiça espiritual em tribunais mundanos, aliás, já é um pecado recorrer a eles contra irmãos causando vergonha para a Igreja do Senhor, que é perfeitamente capaz de resolver suas dificuldades internas, ainda que envolvam assuntos que extrapolem as fronteiras santas.

ONDE OS JUSTOS ENCONTRAM A VERDADEIRA JUSTIÇA [I Co 6.1-7]–A NECESSIDADE DE ABANDONAR ATITUDES VERGONHOSAS

11Quero concluir lembrando que, embora não fosse o desejo de Paulo humilhar ou envergonhar os cristãos, eles já estavam causando a própria vergonha. Eles deveriam pôr o rosto no pó, rasgar as vestes em sinal de humilhação. Embora crentes, chamados para serem santos, precisavam ainda de uma conversão, isto é, uma mudança em seus caminhos como fruto do verdadeiro arrependimento, como prega o profeta Joel [Jl 2.13: Rasgai o vosso coração, e não as vossas vestes, e convertei-vos ao SENHOR, vosso Deus, porque ele é misericordioso, e compassivo, e tardio em irar-se, e grande em benignidade, e se arrepende do mal].

1. A VERGONHA DE REJEITAR A LIDERANÇA DE SANTOS

Era vergonhoso aos cristãos não terem ninguém que fosse digno de respeito entre eles mesmos. Nem era preciso que fosse respeitado pelos de fora. Paulo não esperava isto, nem julgava que as honrarias do mundo fossem alcançadas por aqueles crentes [aliás, horaria esta cada vez mais buscada em nossos dias]. Apesar do tempo que já tinham de cristianismo, não haviam se desenvolvido. Eram como árvores mirradas, raquíticas, que não produziam fruto algum [Hb 5.12: Pois, com efeito, quando devíeis ser mestres, atendendo ao tempo decorrido, tendes, novamente, necessidade de alguém que vos ensine, de novo, quais são os princípios elementares dos oráculos de Deus; assim, vos tornastes como necessitados de leite e não de alimento sólido].

2. A VERGONHA DE PEDIR A LIDERANÇA DE ÍMPIOS

Era vergonhoso aos cristãos recorrerem a tribunais romanos, irmão contra irmão, sujeitando-se ao julgamento de incrédulos. Era vergonhoso porque atestava a falta de unidade da Igreja, mas era ainda mais vergonhoso porque tais julgamentos se davam com a participação em cultos idólatras, pagãos. Cristãos, que participavam da mesa do Senhor, para ferirem o próprio corpo do Senhor participavam também da mesa de demônios [I Co 10.21: Não podeis beber o cálice do Senhor e o cálice dos demônios; não podeis ser participantes da mesa do Senhor e da mesa dos demônios]. Isto era repulsivo, aberrante, recebendo, da parte de Paulo, a denominação mais depreciativa que se pode dar a um tipo de culto: era demonolatria, a mais baixa forma de idolatria, a adoração a demônios.

3. A VERGONHA DE DIVULGAR PUBLICAMENTE SUAS FALHAS

E, finalmente, era vergonhoso aos cristãos o simples fato ["o só"] existir demandas entre os cristãos. Paulo entende que, como ele, os coríntios deveriam estar dispostos a sofrer a injustiça e o dano. Qualquer que fosse o resultado do processo nos tribunais pagãos, fosse quem fosse o ganhador, ele já conhecia o perdedor: a Igreja – do qual ambos faziam parte. O dano é a todo o corpo de Cristo, a todos os membros. Paulo afirma que maior vitória podia se obtida no sofrimento que na contenda. Fazendo eco às palavras de Jesus, o companheirismo, a solidariedade com o ofensor era maior vitória que retribuir a ofensa sofrida [Mt 5.38: Ouvistes que foi dito: Olho por olho, dente por dente. Eu, porém, vos digo: não resistais ao perverso; mas, a qualquer que te ferir na face direita, volta-lhe também a outra; e, ao que quer demandar contigo e tirar-te a túnica, deixa-lhe também a capa. Se alguém te obrigar a andar uma milha, vai com ele duas].

Este mesmo Paulo escreve aos romanos, também acostumados às disputas judiciais, e orienta-os sobre como tratar os ofensores [Rm 12.20: Pelo contrário, se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe de beber; porque, fazendo isto, amontoarás brasas vivas sobre a sua cabeça]. Não era vergonhoso confessar publicamente os pecados [At 19.18: Muitos dos que creram vieram confessando e denunciando publicamente as suas próprias obras] como aconteceu em Éfeso. O que era vergonhoso era a Igreja atestar publicamente que era pior que o mundo, praticando coisas que nem os mundanos eram capazes de fazer, naquilo que já designei anteriormente de "olimpíada de pecados".

ONDE OS JUSTOS ENCONTRAM A VERDADEIRA JUSTIÇA [I Co 6.1-7]–UM APELO À UNIDADE

11O apóstolo Pedro é muito claro ao oferecer a solução para a Igreja numa situação semelhante.

SEGUIR O EXEMPLO DE CRISTO

Pedro afirma que Cristo sofreu, na carne, para que seus discípulos deixassem o pecado, vivendo segundo a vontade de Deus e não segundo as vontades da carne [I Pe 4.1-2: Ora, tendo Cristo sofrido na carne, armai-vos também vós do mesmo pensamento; pois aquele que sofreu na carne deixou o pecado, para que, no tempo que vos resta na carne, já não vivais de acordo com as paixões dos homens, mas segundo a vontade de Deus].

ABANDONAR AS OBRAS DA CARNE

É conveniente lembrar que, das 15 obras da carne citadas por Paulo em Gl 5.19-21, pelo menos 9 estavam envolvidas nos problemas coríntios aqui mencionados, e apenas não tempos menção de feitiçaria no decorrer de toda a carta [Ora, as obras da carne são conhecidas e são: prostituição, impureza, lascívia, idolatria, feitiçarias, inimizades, porfias, ciúmes, iras, discórdias, dissensões, facções, invejas, bebedices, glutonarias e coisas semelhantes a estas, a respeito das quais eu vos declaro, como já, outrora, vos preveni, que não herdarão o reino de Deus os que tais coisas praticam].

USAR O TEMPO QUE RESTA NA PRÁTICA DE OBRAS DO ESPÍRITO

Pedro afirma que os cristãos já haviam tido tempo suficiente praticando as obras da carne, e que era, portanto, hora de passar a praticar obras que demonstrassem que, de fato, eram cristãos, mesmo que, com isso, fossem questionados pelos antigos companheiros de práticas pecaminosas [I Pe 4.3-5: Porque basta o tempo decorrido para terdes executado a vontade dos gentios, tendo andado em dissoluções, concupiscências, borracheiras, orgias, bebedices e em detestáveis idolatrias. Por isso, difamando-vos, estranham que não concorrais com eles ao mesmo excesso de devassidão, os quais hão de prestar contas àquele que é competente para julgar vivos e mortos] na certeza de que os ímpios serão julgados pelo que amaram, e os santos serão salvos por aquele a quem amam.

Pedro é enfático lembrando que estas coisas, estas obras más, serão destruídas em breve – e a lição também vale para os coríntios e para nós: devemos ser criteriosos, isto é, bons juízes de nós mesmos, para que nosso culto seja agradável ao Senhor [I Pe 4.7: Ora, o fim de todas as coisas está próximo; sede, portanto, criteriosos e sóbrios a bem das vossas orações].

AMAR VERDADEIRAMENTE AO IRMÃO DEMONSTRA A VERDADEIRA FÉ

Ao olharmos para o problema existente em Corinto, percebemos que a receita de Pedro é absolutamente aplicável, pois eles estavam invertendo o mandamento bíblico, colocando as outras coisas acima do amor para com os irmãos, e Pedro nos diz que o cristão deve ter amor intenso uns para com os outros – não importando o tamanho da ofensa, porque o amor cobre "multidão de pecados" [I Pe 4.8: Acima de tudo, porém, tende amor intenso uns para com os outros, porque o amor cobre multidão de pecados].

ONDE OS JUSTOS ENCONTRAM A VERDADEIRA JUSTIÇA [I Co 6.1-7] – UMA PALAVRA PARA HOJE

11É fato conhecido que dificilmente encontraremos um grupo de pessoas, seja qual for o motivo que os reúne, em que não haja diferenças. É assim nos clubes, nos partidos políticos, nas famílias e, até, nas Igrejas. Diferenças de opinião eram comuns, como entre Paulo e Barnabé a respeito de João Marcos na segunda viagem missionária [At 15.39: Houve entre eles tal desavença, que vieram a separar-se. Então, Barnabé, levando consigo a Marcos, navegou para Chipre]; ou ainda Paulo e Pedro quando este agiu de maneira discriminatória para com os cristãos gentios face a visita de cristãos judeus [Gl 2.11: Quando, porém, Cefas veio a Antioquia, resisti -lhe face a face, porque se tornara repreensível], ou entre Evódia e Síntique, irmãs valiosas da Igreja de Filipos mas que estavam tendo dificuldades de relacionamento [Fp 4.2: Rogo a Evódia e rogo a Síntique pensem concordemente, no Senhor]. A solução sempre foi dar ouvidos à palavra do Senhor. Paulo mais tarde deseja a companhia de João Marcos, chamando de cooperador [Fm 1.24: Marcos, Aristarco, Demas e Lucas, meus cooperadores] e de "útil" [II Tm 4.11: Somente Lucas está comigo. Toma contigo Marcos e traze-o, pois me é útil para o ministério]. Paulo foi a Pedro e evidenciou o problema, e, mais tarde, Pedro reconhece a autoridade apostólica paulina inclusive na escrita da Palavra de Deus [II Pe 3.16: ...ao falar acerca destes assuntos, como, de fato, costuma fazer em todas as suas epístolas, nas quais há certas coisas difíceis de entender, que os ignorantes e instáveis deturpam, como também deturpam as demais Escrituras, para a própria destruição deles].

Concluindo, quero lembrar uma conversa em um aconselhamento feito há algum tempo. Uma jovem perguntou-me porque era tão difícil perdoar. Antes de respondi, perguntei-lhe se ela gostava muito de quem a havia ferido, ao que respondeu positivamente, pois era seu pai. Disse-lhe que havia dois motivos: o primeiro era porque a dor da ferida é proporcional ao quanto amamos alguém. Quanto mais gostamos, mais dor sentimos. Mas este ainda não é o maior problema. O problema maior é que temos tanto maior dificuldade de perdoar quanto nos amamos. Sempre amamos a nós mesmos mais do que amamos àqueles que nos ofendem, por mais queridos que sejam. Não resta dúvida que você já foi ferido alguma vez, por alguém – não importa o quanto ame ou não esta pessoa, o que importa é quanto é importante para você aquele que te amou, e amou até o fim, dando a vida em seu lugar na cruz do calvário. Você já o ofendeu mais de uma vez. Certamente mais de sete. Com certeza mais de 70x7. E ele continua te amando, porque te ama até o fim. E você, o ama? Os coríntios diziam amar a Jesus mas não estavam prontos a tornar publica este amor [Rm 12.10: Amai-vos cordialmente uns aos outros com amor fraternal, preferindo-vos em honra uns aos outros]. Entretanto, este amor não pode ser de palavra apenas porque o Senhor conhece os corações [I Jo 3.18: Filhinhos, não amemos de palavra, nem de língua, mas de fato e de verdade] como prova de uma alma purificada pela obediência à palavra da verdade, a palavra que vem dos lábios do Senhor e quebranta corações [I Pe 1.22: Tendo purificado a vossa alma, pela vossa obediência à verdade, tendo em vista o amor fraternal não fingido, amai-vos, de coração, uns aos outros ardentemente].

Você entrou aqui ferido? Deixe o Senhor curar você. Entrou aqui precisando de perdão? Olhe para Jesus e confesse que é pecador e que necessita dele como seu Senhor e salvador? Entrou aqui magoado por alguém, até por um irmão? O que lhe parece mais difícil na verdade é mais fácil, é seu irmão, parte do mesmo corpo de Cristo. O que vos une é maior do que o que, porventura, esteja vos separando.

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