Quero concluir lembrando que, embora não fosse o desejo de Paulo humilhar ou envergonhar os cristãos, eles já estavam causando a própria vergonha. Eles deveriam pôr o rosto no pó, rasgar as vestes em sinal de humilhação. Embora crentes, chamados para serem santos, precisavam ainda de uma conversão, isto é, uma mudança em seus caminhos como fruto do verdadeiro arrependimento, como prega o profeta Joel [Jl 2.13: Rasgai o vosso coração, e não as vossas vestes, e convertei-vos ao SENHOR, vosso Deus, porque ele é misericordioso, e compassivo, e tardio em irar-se, e grande em benignidade, e se arrepende do mal].
1. A VERGONHA DE REJEITAR A LIDERANÇA DE SANTOS
Era vergonhoso aos cristãos não terem ninguém que fosse digno de respeito entre eles mesmos. Nem era preciso que fosse respeitado pelos de fora. Paulo não esperava isto, nem julgava que as honrarias do mundo fossem alcançadas por aqueles crentes [aliás, horaria esta cada vez mais buscada em nossos dias]. Apesar do tempo que já tinham de cristianismo, não haviam se desenvolvido. Eram como árvores mirradas, raquíticas, que não produziam fruto algum [Hb 5.12: Pois, com efeito, quando devíeis ser mestres, atendendo ao tempo decorrido, tendes, novamente, necessidade de alguém que vos ensine, de novo, quais são os princípios elementares dos oráculos de Deus; assim, vos tornastes como necessitados de leite e não de alimento sólido].
2. A VERGONHA DE PEDIR A LIDERANÇA DE ÍMPIOS
Era vergonhoso aos cristãos recorrerem a tribunais romanos, irmão contra irmão, sujeitando-se ao julgamento de incrédulos. Era vergonhoso porque atestava a falta de unidade da Igreja, mas era ainda mais vergonhoso porque tais julgamentos se davam com a participação em cultos idólatras, pagãos. Cristãos, que participavam da mesa do Senhor, para ferirem o próprio corpo do Senhor participavam também da mesa de demônios [I Co 10.21: Não podeis beber o cálice do Senhor e o cálice dos demônios; não podeis ser participantes da mesa do Senhor e da mesa dos demônios]. Isto era repulsivo, aberrante, recebendo, da parte de Paulo, a denominação mais depreciativa que se pode dar a um tipo de culto: era demonolatria, a mais baixa forma de idolatria, a adoração a demônios.
3. A VERGONHA DE DIVULGAR PUBLICAMENTE SUAS FALHAS
E, finalmente, era vergonhoso aos cristãos o simples fato ["o só"] existir demandas entre os cristãos. Paulo entende que, como ele, os coríntios deveriam estar dispostos a sofrer a injustiça e o dano. Qualquer que fosse o resultado do processo nos tribunais pagãos, fosse quem fosse o ganhador, ele já conhecia o perdedor: a Igreja – do qual ambos faziam parte. O dano é a todo o corpo de Cristo, a todos os membros. Paulo afirma que maior vitória podia se obtida no sofrimento que na contenda. Fazendo eco às palavras de Jesus, o companheirismo, a solidariedade com o ofensor era maior vitória que retribuir a ofensa sofrida [Mt 5.38: Ouvistes que foi dito: Olho por olho, dente por dente. Eu, porém, vos digo: não resistais ao perverso; mas, a qualquer que te ferir na face direita, volta-lhe também a outra; e, ao que quer demandar contigo e tirar-te a túnica, deixa-lhe também a capa. Se alguém te obrigar a andar uma milha, vai com ele duas].
Este mesmo Paulo escreve aos romanos, também acostumados às disputas judiciais, e orienta-os sobre como tratar os ofensores [Rm 12.20: Pelo contrário, se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe de beber; porque, fazendo isto, amontoarás brasas vivas sobre a sua cabeça]. Não era vergonhoso confessar publicamente os pecados [At 19.18: Muitos dos que creram vieram confessando e denunciando publicamente as suas próprias obras] como aconteceu em Éfeso. O que era vergonhoso era a Igreja atestar publicamente que era pior que o mundo, praticando coisas que nem os mundanos eram capazes de fazer, naquilo que já designei anteriormente de "olimpíada de pecados".
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