terça-feira, 27 de agosto de 2019

COISAS DO TEMPO E O TEMPO DAS COISAS


Existem coisas que Deus criou que são totalmente essenciais para nós, em todas as coisas. Não há sequer como raciocinar sem o tempo e o espaço. Tudo o que pensamos fica preso nestas categorias. Tente pensar em algo que fuja a isto e vai fracassar, mais cedo ou mais tarde.

O tempo é uma criação de Deus, uma criação extremamente intrigante e presente, literalmente presente em cada instante de nossas vidas. Não pode ser diferente, temos um começo, temos uma história, e estamos destinados a ter um fim - a menos que a eternidade, a atemporalidade, penetre em nossa história, uma intrusa sempre benvinda.

O sábio disse que há tempo para tudo debaixo do céu. Ele fala em tempo de semear, e tempo de colher, em tempo de sorrir, e tempo de chorar, em tempo de abraçar, e tempo de deixar de abraçar. Sim, há tempo para tudo de baixo do céu e debaixo do sol. Mas para que serve o tempo além de ser gasto?, além de vê-lo passar rapidamente como poeira fina escorrendo por entre os nossos dedos?

O tempo serve para deixar as coisas mais claras ou mais nubladas. Com o tempo percebemos como as coisas realmente são e, como uma câmara escura, revela o que antes era impossível de ser visto mas sempre esteve lá e só não era percebido. O tempo revela histórias não contadas, revela interesses escondidos, revela atitudes mal disfarçadas por gestos e palavras afáveis. O tempo revela os nossos erros de julgamento e até nossas decisões extemporâneas, mesmo aquelas que foram como deveriam realmente ser.

Mas ele também faz com que as coisas fiquem anuviadas, faz com que as lembranças fiquem menos claras e se percam nas brumas confusas de uma miríade de luzes que ofuscam a memória e os afetos, e que, por fim, faz com que o bem que jamais deveria ser esquecido seja apagado do coração em nome de urgências e interesses mais atuais que, por sua vez, em breve tempo serão apenas lembranças confusas, manchadas pela poeira do tempo.

Mas o tempo, esta criação implacável, tem mais uma função preciosa: ele trará a lume a justiça divina. O que é semeado é colhido, e isto é uma regra inescapável porque é o próprio Deus quem garante (Gl 6.7). O tempo faz com que as sementes plantadas frutifiquem. Paulo vai adiante e afirma que o que semeia para a sua própria carne da carne colherá corrupção (Gl 6.8). E conhecemos bem o que a carne produz: ira, dissensão, discórdia, partidarismo, ciúme, porfia, facções e coisas semelhantes a estas, porque esta lista não esgota o que o coração do homem é capaz de tirar do mau tesouro do seu mau coração. E o resultado disto não pode ser outro senão a justa retribuição de Deus porque Ele é justo, se inclina dos céus para ver o que se passa sobre a terra (Sl 113.6) e não deixa de retribuir a cada um segundo as suas obras (Ap 22.12). Deus não deixará, jamais, de honrar a sua Palavra. Que o justo continue a praticar a justiça até que seja recompensado pelo justo juiz, que não é desta terra, mas é rei de toda a terra. Que o ímpio continue a praticar a injustiça, até que receba do Senhor a sua recompensa, porque a boca do Senhor o disse!

O que você tem feito com o tempo que Deus tem lhe dado? Se a semeadura é carnal, a colheita será corrupta e carnal até que seja vindicada pela justiça do Senhor. Mas se a sua semeadura é espiritual, se é amor, alegria, paz, bondade, benignidade, longanimidade, mansidão e domínio das inclinações pecaminosas do coração então sua colheita será maravilhosa. O que você semear, você, inevitavelmente, ceifará.

segunda-feira, 26 de agosto de 2019

PRINCÍPIOS PARA REVITALIZAÇÃO DA IGREJA - NEEMIAS


A palavra revitalização não aparece nas Escrituras, mas o seu conceito sim. Revitalizar é tirar uma Igreja de uma situação de morte aparente ou iminente. Como instituição uma Igreja pode perecer, mas a Igreja de Cristo, não. Veja o que aconteceu nas Igrejas europeias.
O livro de Neemias vem logo depois do de Esdras. Esdras foi para Jerusalém para restaurar a comunidade, mas devido a oposição sua tarefa foi interrompida e Jerusalém ficou em desprezo e opróbrio por mais 18 anos. Até que surge Neemias. Em seu livro encontramos alguns princípios valiosos para serem aplicados em um projeto de revitalização de uma Igreja. 
Foi este livro que norteou o trabalho de pós-graduação nesta área, em 2012, bem como orientou o trabalho desenvolvido aqui em Paragominas com resultados que muitos consideravam impossíveis de serem alcançados.

i. AVALIAÇÃO DA SITUAÇÃO DO CAMPO (Ne 2.1-4): Tenha precisava ter uma visão clara da situação e por isso analisa o relatório recebido a respeito da situação de Jerusalém. É impossível fazer um bom trabalho e não desperdiçar esforços e recursos se não souber o que precisa ser feito. Em Jerusalém não havia liderança, não havia segurança e ainda havia numerosos problemas internos e externos.

ii. DISPOSIÇÃO PARA A OBRA (Ne 1.11; 2.1-6): É preciso haver disposição para superar os problemas que surgirão. Além de boa vontade é necessário disposição para sofrer as perdas e pagar o preço necessário, inclusive o de desagradar pessoas com quem se tem relacionamentos sociais estáveis.

iii. AVALIAÇÃO DO TRABALHO A SER FEITO NO CAMPO (Ne 2.11-15): Revitalizar exige a manutenção do foco no que precisa ser feito. Em Jerusalém Neemias resolve fazer um reconhecimento do terreno para verificar a extensão da obra que tinha que realizar. Ele não conhecera Jerusalém. Tampouco conhecera o templo. Ele deveria saber o que precisava ser feito: cada muro, cada porta, cada etapa do trabalho precisava ser cuidadosamente definida, olhando sem se deter no que era naquele momento, para vislumbrando o que ele sabia ter sido, e para o que poderia ser.

iv. PERSEVERAR APESAR DAS DIFICULDADES (2.14-20): Toda obra tem obstáculos a serem superados. Reconstrução é ainda mais difícil porque há muita coisa antiga que precisa ser removida antes da edificação ser iniciada. Neemias ainda não sabia com quem contar, sabia que a cidade era insegura, com poucos recursos e entre o “resto de povo” não haveria colaboração total pois o julgavam indigno de ser obedecido (3.15). Além disso havia inimigos externos, todos fazendo o que lhes era natural de acordo com suas inclinações pecaminosas do coração.

v. SELEÇÃO DE PESSOAL (2.10; 19-20): Deve-se tomar muito cuidado com descompromissadas com o projeto final (sempre compromissadas com seus próprios planos e interesses) pois se tornam fonte de esforços contrários ao projeto de revitalização. É necessário escolher entre os que querem fazer a obra e os que querem estar em evidência, sob os holofotes em busca de reconhecimento.

vi. DIVISÃO DE TAREFAS (3.1-32; 4.16-23): Não há ninguém que tenha compromisso com o Senhor se sua obra que não tenha com o que contribuir. Todos os envolvidos são identificados em seus trabalhos, embora o trabalho de seleção de pessoal não termine tão rapidamente.

vii. APARECIMENTO DE OPOSIÇÃO INTERNA (4.1-3): Revitalizar implica em realizar mudanças necessárias, troca de peça e funções num processo de relocação que resulta em oposição dentro da comunidade que não querem mudanças no que julgavam direitos adquiridos ou privilégios conquistados porque tem seus próprios projetos, à margem é às vezes antagônicos ao projeto principal de revitalização e tendem a se tornar opositores incansáveis.

viii. CORRIGIR DESVIOS E PROBLEMAS PRE-EXISTENTES (5.1-13): cada problema tem seu tempo de solução, e a prioridade deve ser dada à busca do resultado final e não à satisfação de preferências individuais ou de setores específicos. Resolvidos as carências mais urgentes e graves, problemas secundários também devem ser tratados.

CONFIANÇA EM DEUS

Nenhum projeto dedicado a Deus é concluído em meio a rebeldia contra a Palavra do próprio Deus. Sem obedecer a direção de Deus não há colheita de bênção, mesmo usando o nome do Senhor como desculpa para a impiedade. O Senhor Jesus ensina a fazer planejamento antes de executar uma tarefa sem esquecer que o resultado final pertence a ele. A posição de Neemias em Jerusalém era perigosa, enfrentando oposição interna e externa (e todos queriam matá-lo) mas ele persevera por saber que estava fazendo a obra de Deus e cria que Deus não deixaria sua obra ficar incompleta (Ne 6.9) quando ora: "Ó Deus, fortalece as minhas mãos".

Analisando os resultados de um processo de revitalização levado a cabo, recomendamos os revitalizadores que observem um item que não foi mencionado mas que também está presente no processo de revitalização. Nem toda liderança existente na igreja almeja o bem do povo de Deus. Deve-se ter cuidado para não colocar em posição de liderança pessoas absolutamente desqualificadas moral e espiritualmente, porque estas serão enorme empecilho para o desenvolvimento do projeto e, pior, podem causar transtornos e perseguições ao revitalizador. Não deve haver pressa porque a obra é do Senhor, Ele a aviva no decorrer dos séculos. O tempo é de Deus, a obra é de Deus, e a pressa pode levar a um erro que compromete o resultado final - aos olhos dos homens, bem feito, mas deixando sequelas e mazelas na liderança da igreja que se perpetuarão e causarão mal aos verdadeiros adoradores.

sexta-feira, 23 de agosto de 2019

ORAÇÃO PASTORAL

Senhor, ali está o púlpito que Tu me confiaste.
Sei que não queres eloquência frívola e que não me colocaste aqui para agradar ouvidos que coçam por novidades. É hora de ir para lá. Está tudo feito. Tantas vezes meus pés pesam enquanto caminho para o púlpito com um peso imensurável nos ombros. Enquanto isto muito pares de olhos estão sobre minhas costas. Conferem meu cabelo, minha roupa, meus gestos, mas nenhum deles é capaz de sondar minha alma e meu coração. Quero entregar com fidelidade a mensagem, peço-te que me ajude. Vou falar às ovelhas que Me confiastes, e peço que haja ao menos um coração sedento por uma palavra Sua. 
Peço-te que refrigeres a minha alma, como nenhum copo de água gelada pode refrigerar. Sei que ninguém além do Senhor sabe como realmente me sinto, ou dão importância para eu estar bem ou mal, alegre ou triste. Minhas preocupações e dores devem ser escondidas, não podem ser externadas, precisam ser disfarçadas como um palhaço disfarça sua tristeza e pinta um sorriso caricato no rosto.
Sinto-me sozinho e abandonado. Minha dor, minhas lutas diárias, minha fragilidade, nada disso pode entrar na mensagem porque ela é Sua e não sobre mim. São profundas as feridas sofridas ao longo destes anos, destes meses cruéis e destes dias angustiantes... sinto que o inferno tenta me retalhar a alma no mesmo instante em que meu único desejo é ser instrumento Seu para avisar aqueles que caminham para lá.
Quantas vezes cheguei aqui depois de ter chorado internamente uma tarde inteira, no mais terrível dos choros por evitar que as lágrimas escorram pelos olhos, para não preocupar ou fazer sofrer outras pessoas.
Não quero decepcionar-te Senhor. Não quero negociar a missão nem a mensagem. Não quero deixar de ser uma voz que diz “Assim diz o Senhor a esta geração”. Mas, Senhor, e o custo disto? O peso? Preciso ser revigorado pelo Senhor, porque é humanamente insuportável!
Senhor, é difícil não odiar quem me persegue implacavelmente usando seu nome e a sua Igreja como desculpa para praticar a impiedade. Quantas vezes tive que falar de cura enquanto sofria com dores excruciantes no corpo e na alma. Quantas vezes tive que consolar almas com espinhos quando o que eu mais precisava era de um abraço, de consolo em um ombro amigo para diminuir a dor das estacas em meu coração.
Quantas vezes fui obrigado a deixar a minha família para cuidar de restauração de famílias que sequer suspeitavam da angústia da minha. Senhor! Senhor! Senhor! Como é difícil às vezes dizer às pessoas para confiar no Senhor, para Te ouvirem quando o que mais me pesa é o seu silêncio sobre mim. Até quando, Senhor!
Ó Senhor! Ó Meu pastor! Tu conheces o coração deste pastor. Tu sabes que não busco holofotes, não anseio por ser grande entre os homens – só quero servir-te com fidelidade. Esta é a minha tarefa, o meu desejo, meu pão e a minha realização. Mas como é difícil alimentar as ovelhas quando sinto-me quase exangue, faminto por uma palavra Sua que me dê novo alento.
Senhor, sei que tenho que ser instrumento de Sua graça sobre este povo que me confiaste, tenho que abençoá-lo. Quero que Sua graça seja derramada sobre o povo de Deus mas eu preciso, careço e clamo: “Meu Deus, não me desampares! Angústias mortais se apoderam de mim. Meus joelhos se dobram, minhas mãos descaem, minha alma fenece, meu alimento tem sido regado a lágrimas e meu sono se foi. Me socorra!”
E, mesmo assim, só consigo olhar para o alvo da soberana vocação, ouvindo o Senhor dizer-me: “Sê fiel até a morte”. Sua Palavra me diz que Sua graça me basta e eu preciso apenas ser encontrado fiel. Ao meu coração sofrido Seu Espírito derrama um pouco de bálsamo e diz: “Busque a minha presença”. Buscarei, pois, Senhor, a Sua presença e Te obedecerei. Não tenho mais forças mas o Senhor há de sustentar-me, porque meus lábios e coração Te pertencem – e há muitos que ainda precisam ouvir a Sua voz advertindo a pecadores e chamando-os ao arrependimento.
Cheguei ao púlpito - uma caminhada de poucos metros que às vezes parece a travessia de um Sinai inteiro. Usa-me. Mesmo que com isso me consumas para Sua glória. Usa-me!

quarta-feira, 14 de agosto de 2019

MALEDICÊNCIA! PECADO ODIOSO E DESTRUTIVO!


Recentemente li um artigo de que tratava sobre 5 maneiras de se tratar o problema da maledicência na Igreja trazendo algumas observações e conselhos bastante salutares, que vou resumir aqui antes de prosseguir com algumas observações pastorais. Acredito que se cada cristão observar estes passos simples este mal pode ser erradicado de qualquer igreja, por mais que ela esteja acostumada a esta prática.

I.    MONITORE SUAS PALAVRAS: Antes de ouvir o que as pessoas tem a dizer, ouça o que você mesmo diz. Cuide do que você fala, para quem você fala e o que você quer alcançar com sua fala. Garanta que suas palavras são dignas dos lábios de um cristão, se são edificantes e não destrutivas.

II. EVITE POLUIR SUA MENTE: Seja cuidadoso com o que chega à sua mente porque tudo que lhe chega causa alguma impressão. Não aceite ouvir detalhes negativos sobre a vida de quem estiver ausente. Mude o tema da conversa, saia da presença desta pessoa ou afaste-a do convívio de sua casa imediatamente.

III. REAJA POSITIVAMENTE CONTRA A MALEDICÊNCIA: Rejeite educada e biblicamente participar de qualquer conversa maledicente. Não se deixe dominar pela mórbida curiosidade. Recorde às pessoas se o que elas vão falar merece ser dito para promover a fraternidade cristã e o evangelho de Cristo.

IV. DESCONFIE. SEMPRE HÁ MORTE NA ÁGUA: A maior parte do conteúdo de maledicências tem origem num coração amargurado e pode conter inverdades. Antes de perguntar se o que está sendo dito é verdadeiro, parta do princípio de que toda maledicência é má.

V. FAÇA A MALEDICÊNCIA TERMINAR EM VOCÊ: Você pode estar sendo usado como instrumento para passar uma maledicência adiante. Faça-a morrer quando chegar a você de duas maneiras: a primeira é não dando-lhe crédito, e a segunda é convidando o mexeriqueiro a ir conversar com a vítima deste mal. Se não conseguir, informe a pessoa agredida de que ela está sendo defraudada para que possa se defender.

Lembre-se que maledicência pode ser enquadrada como crimes de calúnia (acusar alguém de uma falta que não cometeu com o propósito de causar-lhe prejuízos) ou difamação (espalhar informações verdadeiras ou não a respeito de alguém com o intuito de prejudicar lhe).

A prática da maledicência é chamada de mexerico e mexericar equivale a atentar contra a vida de alguém. Observe que a ordem da Escritura, num dos livros da Lei, é que o crente não ande com quem tem esta prática como costume (Lv 19.16 - Não andarás como mexeriqueiro entre o teu povo; não atentarás contra a vida do teu próximo. Eu sou o SENHOR!). Preste atenção porque a Escritura nunca toma o nome do Senhor em vão.

Evitar o mexerico e o mexeriqueiro também é uma orientação da sabedoria divina (Pv 20.19 - O mexeriqueiro revela o segredo; portanto, não te metas com quem muito abre os lábios). O sábio é enfático: não te metas com o mexeriqueiro, não te deixes enredar por um especialista. Geralmente o que um maledicente fala diz mais sobre o seu próprio caráter do que sobre o caráter da vítima.

Como disse no princípio, quero encerrar com um conselho bastante salutar: não confunda o amor cristão com a omissão diante da prática do mal. O amor cristão não se alegra em ver a injustiça ser praticada. Ele rejubila com a verdade. Quando ouvir algo maldoso sobre alguém, busque o contraditório, dê ao outro o direito de saber do que é acusado e defender-se e não se esquive do dever cristão de testemunhar a verdade.

quarta-feira, 7 de agosto de 2019

160 ANOS E UMA MISSÃO POR CUMPRIR

A Igreja Presbiteriana do Brasil é a mais antiga Igreja evangélica de missão em terras brasilis. No dia 12 de agosto de 1859 ele desembarcou na capital brasileira, Rio de Janeiro, com um propósito para o qual havia sido despertado após ouvir um sermão do seu professor, o dr. Charles Hodge, em Princeton. Podemos afirmar que a missão abraçada por Simonton é fruto do Segundo Grande Avivamento americano, ocorrido na metade do sec. XIX.
Aos 27 anos de idade e apenas 3 meses após sua ordenação Simonton chegou ao brasil e encontrou um grupo de imigrantes alemães e ingleses e suas Igrejas de colônias, sem tentativa de evangelização de brasileiros. Simonton também encontrou aqui o Dr. Robert Reid Kelley, que chegou aqui 5 anos antes dele e fazia um trabalho independente e que foi bastante estimado pelo Rev. Simonton.
Em pouco mais de 8 anos Simonton deixou no Brasil uma obra tão marcante que são poucos os homens que lhe podem rivalizar em realizações. Fundou Igrejas (a primeira foi a do Rio de Janeiro em 12/01/1862 em parceria com o Rev. Alexander Blackford). Gozou férias em 1863 nos Estados Unidos e casou-se com Helen Murdoch. Voltaram ao Brasil em julho de 1863 com quem teve uma filha, Helen Murdoch Simonton, em junho de 1864, mas sua esposa sobreviveu apenas 9 dias após o parto. Neste mesmo ano ele cria o primeiro jornal evangélico com o nome de Imprensa Evangélica. Em 1865 organiza o Presbitério do Rio de Janeiro (Rio de Janeiro, São Paulo e Brotas). Dois anos depois organiza o primeiro seminário que ficou conhecido como Seminário Primitivo (1867). Neste mesmo ano sentiu-se adoentado e foi para São Paulo ficar com sua irmã Elizabeth, seu cunhado Blackford e sua filha Hellen, falecendo no dia 9 de dezembro, acometido de febre biliosa, ou mais precisamente malária.
Em menos de uma década Simonton e seus companheiros ajudaram não apenas a plantar a Igreja Presbiteriana no Brasil, mas abriram as portas de nossa nação ao Evangelho. Após os primeiros anos de trabalho missionário iniciado sem conhecer sequer uma palavra de nossa língua os missionários viram nascer e crescer uma Igreja que logo foi reconhecida como bíblica, sincera e piedosa.
Depois da Igreja Presbiteriana outras Igrejas vieram estabelecer trabalhos de evangelização de brasileiros, como a Igreja Congregacional (já existente mas que se limitava a imigrantes de fala inglesa); a luterana que, por sua vez, limitava-se a imigrantes alemães no interior de São Paulo e desenvolveu seu trabalho evangelístico abaixo das fronteiras do Paraná num acordo para melhor utilização das poucas forças evangelísticas (presbiterianos do Paraná rumo norte e luteranos para o sul). Este acordo ficou conhecido como modus operandi. A obra iniciada por Simonton, Blackford, Lennington e José Manoel da Conceição, entre outros, ainda não foi completada. A obra de evangelização do brasil ainda não está terminada. A tarefa está inacabada, e o bastão está em nossas mãos. Avante, pois!

COERÊNCIA: PELO QUE VOCÊ ORA E COMO VOCÊ AGE

Conclamar o povo de Deus a oração é uma constante nas Escrituras. Por exemplo, Paulo pede aos crentes que orem por ele para que lhe fosse dada intrepidez na pregação da Palavra (Ef 6.19). Este é um pedido de oração mais que justo e santo.
Os crentes também são convocados para orarem pela paz de sua cidade (Sl 122.6) embora neste contexto Jerusalém seja mais que uma cidade, apontando, metaforicamente, para a comunidade dos santos de Deus, a Igreja.
Paulo também pede que a Igreja não deixe de orar, em todo o lugar, e nesta prática levantassem mãos santas sem ira ou disputas entre si (1Tm 2.8).
Quero falar ao coração da Igreja de Deus, neste tempo e neste lugar. Quero chamar a Igreja a refletir se, de fato, estamos orando (aqueles que estão orando) e se nossa ação reflete o que falamos em nossas orações.
O tempo presente exige da Igreja do Senhor coerência. Coerência entre aquilo que afirma crer e como aplica esta fé ao seu dia-a-dia, no que poderíamos denominar como ética cristã ou simplesmente testemunho cristão, que certamente fala muito mais sobre nós, nossa fé e nossa Igreja do que qualquer sermão. Um mau testemunho só não fala mau sobre Deus porque se trata de desobediência a Deus - um mau testemunho não fala do caráter de Deus, mas da deformidade do caráter do faltoso que ainda não chegou à medida da perfeita varonilidade (Ef 4.13) e em alguns casos nem busca isto (Hb 12.14), não quer progredir espiritualmente.
Ouvi uma frase que não me causou espanto, embora tenha me causado grande tristeza por causa da Igreja e do Evangelho. Alguém, certa vez, falando sobre o testemunho de membros de uma Igreja, disse que, se eles fossem para o céu ele, o incrédulo, preferia passar longe deste céu. Isto é lamentável e muito, muito distante, do que o cristão deve ser: o bom perfume de Cristo (2Co 2.15).
Não é incomum um membro de Igreja perguntar porque parece que Deus não ouve as nossas orações. A resposta está nas Escrituras. Porque as mãos que estão sendo levantadas não são santas. Porque mesmo que as orações sejam multiplicadas o Senhor não as quer ouvir (Is 1.15). Porque mesmo que as assembleias sejam constantes o Senhor preferiria que as portas permanecessem fechadas (Ml 1.10).
Não é assim que o povo do Senhor deve ser. Fomos chamados para ser nação santa, isto é, separada da corrupção do mundo e se no passado o mundo estranhava que a Igreja não concorresse com eles nos seus excessos pecaminosos hoje parece que o mundo já não consegue acompanhar a Igreja em seus escândalos (1Pe 4.4). Fomos chamados para ser sacerdócio real e parece que a busca da Igreja é acesso a privilégios e poderosos ao invés de achegar-se confiadamente ao trono de graça (Hb 4.16). Somos chamados de povo de propriedade exclusiva de Deus mas até que ponto nossas ações refletem esta filiação divina ou corações inclinados para outro senhorio?

OBEDIÊNCIA TRAZ BÊNÇÃOS

Há muitos cristãos muito ocupados ultimamente. Acreditávamos, décadas atrás, com que a tecnologia nos faria trabalhar menos, com maior produtividade, e assim teríamos mais tempo para atividades espirituais e lúdicas. Não é o que se vê. Dia a dia é possível observar que, mesmo com o desenvolvimento prodigioso da tecnologia tem-se cada vez mais ocupações e cada vez menos tempo até para si mesmos.
Certo é que não há problema em ocupar-se com trabalhos. O ensino das Escrituras é que o homem justo é o que trabalha e confia no Senhor para dar-lhe o sustento como fruto de seu trabalho (2Ts 3.10). Este verso pode ser entendido corretamente como uma ordem para o preguiçoso ir trabalhar e, por outro lado, como uma determinação para que nenhum cristão sustente um preguiçoso e indolente.
Mas também precisamos abordar um outro aspecto desta questão: o trabalho em demasia, impedindo o convívio familiar e as atividades devocionais. Ao homem é ordenado, por exemplo, que viva a vida comum do lar (1Pe 3.7) e isto é mais que dar um bom dia antes de sair e um boa noite antes de dormir.
A bíblia fala de alguns homens que tinham uma dura ocupação diária. Se você chegasse em sua casa após o almoço certamente os encontraria dormindo. Mas logo mais, ao fim do dia, eles entrariam em seus barcos e partiriam para a dura tarefa de buscar o sustento no lago de Genesaré. Entre estes homens chamamos a atenção para Pedro, Tiago e João. Pouco antes de terem seus barcos requisitados como plataforma por Jesus eles haviam passado pelo menos 10h navegando pelo lago tentando pescar. E, depois de voltarem às margens, geralmente gastavam mais 2 ou 3 horas preparando-se para a pescaria da noite seguinte.
Esta era a sua rotina, seis vezes por semana. Mas a chegada de Jesus naquela praia, naquela manhã, mudaria um pouco a sua rotina. Mesmo sem terem pescado nada eles tinham que preparar as redes para a noite seguinte e de repente Jesus lhes pede para usar o barco como plataforma de onde pregaria para a multidão que o apertava. Querendo ou não Pedro e os demais tiveram que ficar ali, ouvindo o que Jesus tinha a dizer e aguardando o fim do discurso para, finalmente, irem para casa descansar.
Mas aquela era uma manhã diferente. Eles ouviram tudo quanto Jesus ensinara ao povo. Quando acharam que estava terminando eles recebem uma ordem de Jesus: deviam fazer o que não estavam acostumados a fazer, precisavam mudar sua rotina, precisavam fazer algo diferente porque Jesus estava mandando que fizessem. E eles, mesmo com algum grau de estranhamento e desconfiança, afinal Jesus podia até ser o filho do fazedor de barcos, mas não era pescador. Mas eles obedecem. E se não obedecessem certamente não teriam a alegria de efetuarem a maior e mais impressionante pescaria que alguém já tinha visto naquela região.
O princípio aqui expresso é que se o que você tem ouvido da Palavra de Deus não te impulsiona à obediência, se o que você tem ouvido não te leva a abrir mão de suas convicções pessoais e se não há uma mudança de comportamento então você está gastando seu tempo à toa. Quando você ouve e atende você está investindo seu tempo em aprendizado e será abençoado. Mas quando você ouve e não tem suas inclinações do coração modificadas então você está só perdendo tempo.
O chamamento do Senhor em Isaias é simples e claro: Se você quiser, se você ouvir e se você obedecer então poderá experimentar as melhores e maiores bênçãos de Deus. Mas, por outro lado, se não quiser, se não ouvir e se não obedecer, isto é, se recusardes e continuardes em rebelião, então, a promessa é de que todos os seus esforços serão tão inúteis quanto os de Pedro naquela noite no lago de Genesaré e, pior ainda, corres o risco de perder até o que você acha que tem. É melhor obedecer e ser abençoado, não achas?

IDE, OU AO IRES

Logo no começo de minha caminhada cristã me deparei com uma questão crucial para minha vida: eu queria servir ao Senhor com todos os recursos de que dispunha, com todas as forças da minha mente e com todo o empenho do meu coração. Em acréscimo a isto uma série de fatores históricos pessoais me impulsionava para algo diferente do que tornar-me um cristão membro de uma Igreja local. Observe que isto não é um demérito, como vamos ver um pouco mais à frente. Mas eu sentia que havia algo diferente no meu chamado para servir a Cristo.
Hoje eu entendo que antes da minha conversão Deus já estava preparando todas as coisas para que eu entendesse e atendesse ao chamado ministerial. Comunicador em uma emissora de rádio aos 13 anos, professor aos 16, convertido aos 17 quando fui o professor de minha própria classe de catecúmenos, pregador 3 dias depois de ter sido recebido na Igreja por profissão de fé e batismo, representante comercial e evangelista pessoal itinerante e responsável por 3 congregações ao longo de 4 anos em duas cidades diferentes. Tudo isto e uma interpretação de um verso da bíblia ainda me trazia algum incômodo ao coração, como se ainda faltasse algo:
Mc 16:15 - E disse-lhes: Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura”.
Esta sensação de que faltava algo era ampliada pelo fato de que nossa mocidade estava ativamente envolvida nos trabalhos evangelísticos na região e inúmeras vezes a pregação da Palavra ficava a meu cargo. Sempre que eu ouvia Mc 16.15 sentia o imperativo do “Ide!” do Senhor Jesus, que era reforçado pelas palavras de Paulo aos romanos:
Rm 10:13-15 - Porque: Todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo. 14 Como, porém, invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem nada ouviram? E como ouvirão, se não há quem pregue? 15 E como pregarão, se não forem enviados? Como está escrito: Quão formosos são os pés dos que anunciam coisas boas!
Eu queria desesperadamente ser um destes enviados. E pela graça de Deus a igreja e dois presbitérios (Vale do São Francisco e Sul Paulistano) reconheceram o chamado que ardia em meu coração, ao mesmo tempo em que não conseguia entender como outros irmãos talentosos não queriam ir pregar o Evangelho do Senhor Jesus da mesma forma que eu queria.
No seminário José Manoel da Conceição, em São Paulo, estudando grego com o Rev. Augustus Nicodemos, analisamos o Evangelho de Marcos e as possíveis implicações do verbo grego poreuqentej (poréutentes) que traduzimos com razoável grau de acerto e acomodação literária como imperativo uma vez que a opção seria substituí-lo por uma frase inteira. Entretanto, o evangelista Marcos usa o verbo num modo chamado aoristo passivo depoente no modo particípio. O que isto significa pra Igreja? De maneira simples de entender quer dizer que não é apenas “ide!” como tantas vezes eu ouvira e me angustiava o coração. Também não é apenas “indo” como se para cumprir a missão houvesse a exigência de deixar um lugar e ir para outro.
A maneira de Marcos escrever ensina que Jesus queria e continua querendo que todos os seus discípulos (o verbo está no plural) anunciassem a salvação unicamente em seu nome (At 4.12) dentro de um modo de vida constante. O aoristo é usado para indicar uma ação que foi iniciada com a ordenança de envio de Jesus aos seus discípulos (Jo 20.21) e se torna permanente e eficiente em todo o restante da vida do crente, que pode exercer este mandato e estilo de vida “enquanto vai” ao mercado, “enquanto está” no trabalho, “enquanto se diverte”, “enquanto cuida de sua casa” e até “enquanto presta seu culto”.
Aí então as coisas começaram a fazer sentido para mim. E então compreendi o que os teólogos chamam de vocação. Por causa da ênfase missioneira de pastores e evangelistas da nossa região eu aprendera que vocação é chamado para o ministério, mas a iluminação do Espírito mediante o estudo da Palavra ensinou que cada cristão tem uma vocação específica. Todos são igualmente vocacionados para a salvação, alguns são vocacionados para o serviço na Igreja e poucos são vocacionados para o ministério da Palavra, mas todos devem ser instrumento de Deus para o cumprimento do poréutentes (a famosa grande comissão) do Senhor Jesus.
Enquanto fores cristão, por onde fores se és verdadeiramente cristão, pregue o Evangelho a toda criatura, anuncie a todos o que o Senhor tem feito por ti! Disto não podes tirar férias um dia sequer de sua vida.

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