quarta-feira, 7 de agosto de 2019

IDE, OU AO IRES

Logo no começo de minha caminhada cristã me deparei com uma questão crucial para minha vida: eu queria servir ao Senhor com todos os recursos de que dispunha, com todas as forças da minha mente e com todo o empenho do meu coração. Em acréscimo a isto uma série de fatores históricos pessoais me impulsionava para algo diferente do que tornar-me um cristão membro de uma Igreja local. Observe que isto não é um demérito, como vamos ver um pouco mais à frente. Mas eu sentia que havia algo diferente no meu chamado para servir a Cristo.
Hoje eu entendo que antes da minha conversão Deus já estava preparando todas as coisas para que eu entendesse e atendesse ao chamado ministerial. Comunicador em uma emissora de rádio aos 13 anos, professor aos 16, convertido aos 17 quando fui o professor de minha própria classe de catecúmenos, pregador 3 dias depois de ter sido recebido na Igreja por profissão de fé e batismo, representante comercial e evangelista pessoal itinerante e responsável por 3 congregações ao longo de 4 anos em duas cidades diferentes. Tudo isto e uma interpretação de um verso da bíblia ainda me trazia algum incômodo ao coração, como se ainda faltasse algo:
Mc 16:15 - E disse-lhes: Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura”.
Esta sensação de que faltava algo era ampliada pelo fato de que nossa mocidade estava ativamente envolvida nos trabalhos evangelísticos na região e inúmeras vezes a pregação da Palavra ficava a meu cargo. Sempre que eu ouvia Mc 16.15 sentia o imperativo do “Ide!” do Senhor Jesus, que era reforçado pelas palavras de Paulo aos romanos:
Rm 10:13-15 - Porque: Todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo. 14 Como, porém, invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem nada ouviram? E como ouvirão, se não há quem pregue? 15 E como pregarão, se não forem enviados? Como está escrito: Quão formosos são os pés dos que anunciam coisas boas!
Eu queria desesperadamente ser um destes enviados. E pela graça de Deus a igreja e dois presbitérios (Vale do São Francisco e Sul Paulistano) reconheceram o chamado que ardia em meu coração, ao mesmo tempo em que não conseguia entender como outros irmãos talentosos não queriam ir pregar o Evangelho do Senhor Jesus da mesma forma que eu queria.
No seminário José Manoel da Conceição, em São Paulo, estudando grego com o Rev. Augustus Nicodemos, analisamos o Evangelho de Marcos e as possíveis implicações do verbo grego poreuqentej (poréutentes) que traduzimos com razoável grau de acerto e acomodação literária como imperativo uma vez que a opção seria substituí-lo por uma frase inteira. Entretanto, o evangelista Marcos usa o verbo num modo chamado aoristo passivo depoente no modo particípio. O que isto significa pra Igreja? De maneira simples de entender quer dizer que não é apenas “ide!” como tantas vezes eu ouvira e me angustiava o coração. Também não é apenas “indo” como se para cumprir a missão houvesse a exigência de deixar um lugar e ir para outro.
A maneira de Marcos escrever ensina que Jesus queria e continua querendo que todos os seus discípulos (o verbo está no plural) anunciassem a salvação unicamente em seu nome (At 4.12) dentro de um modo de vida constante. O aoristo é usado para indicar uma ação que foi iniciada com a ordenança de envio de Jesus aos seus discípulos (Jo 20.21) e se torna permanente e eficiente em todo o restante da vida do crente, que pode exercer este mandato e estilo de vida “enquanto vai” ao mercado, “enquanto está” no trabalho, “enquanto se diverte”, “enquanto cuida de sua casa” e até “enquanto presta seu culto”.
Aí então as coisas começaram a fazer sentido para mim. E então compreendi o que os teólogos chamam de vocação. Por causa da ênfase missioneira de pastores e evangelistas da nossa região eu aprendera que vocação é chamado para o ministério, mas a iluminação do Espírito mediante o estudo da Palavra ensinou que cada cristão tem uma vocação específica. Todos são igualmente vocacionados para a salvação, alguns são vocacionados para o serviço na Igreja e poucos são vocacionados para o ministério da Palavra, mas todos devem ser instrumento de Deus para o cumprimento do poréutentes (a famosa grande comissão) do Senhor Jesus.
Enquanto fores cristão, por onde fores se és verdadeiramente cristão, pregue o Evangelho a toda criatura, anuncie a todos o que o Senhor tem feito por ti! Disto não podes tirar férias um dia sequer de sua vida.

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