Logo no começo de minha caminhada cristã me deparei
com uma questão crucial para minha vida: eu queria servir ao Senhor com todos
os recursos de que dispunha, com todas as forças da minha mente e com todo o
empenho do meu coração. Em acréscimo a isto uma série de fatores históricos
pessoais me impulsionava para algo diferente do que tornar-me um cristão membro
de uma Igreja local. Observe que isto não é um demérito, como vamos ver um
pouco mais à frente. Mas eu sentia que havia algo diferente no meu chamado para
servir a Cristo.
Hoje eu entendo que antes da minha conversão Deus já
estava preparando todas as coisas para que eu entendesse e atendesse ao chamado
ministerial. Comunicador em uma emissora de rádio aos 13 anos, professor aos
16, convertido aos 17 quando fui o professor de minha própria classe de
catecúmenos, pregador 3 dias depois de ter sido recebido na Igreja por
profissão de fé e batismo, representante comercial e evangelista pessoal
itinerante e responsável por 3 congregações ao longo de 4 anos em duas cidades
diferentes. Tudo isto e uma interpretação de um verso da bíblia ainda me trazia
algum incômodo ao coração, como se ainda faltasse algo:
“Mc 16:15 - E disse-lhes:
Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura”.
Esta sensação de que faltava algo era ampliada pelo
fato de que nossa mocidade estava ativamente envolvida nos trabalhos
evangelísticos na região e inúmeras vezes a pregação da Palavra ficava a meu
cargo. Sempre que eu ouvia Mc 16.15 sentia o imperativo do “Ide!” do
Senhor Jesus, que era reforçado pelas palavras de Paulo aos romanos:
Rm 10:13-15 - Porque: Todo
aquele que invocar o nome do Senhor será salvo. 14 Como, porém, invocarão aquele em quem não creram? E como
crerão naquele de quem nada ouviram? E como ouvirão, se não há quem pregue? 15 E como
pregarão, se não forem enviados? Como está
escrito: Quão formosos são os pés dos que anunciam coisas boas!
Eu queria desesperadamente ser um destes enviados. E
pela graça de Deus a igreja e dois presbitérios (Vale do São Francisco e Sul
Paulistano) reconheceram o chamado que ardia em meu coração, ao mesmo tempo em
que não conseguia entender como outros irmãos talentosos não queriam ir pregar
o Evangelho do Senhor Jesus da mesma forma que eu queria.
No seminário José Manoel da Conceição, em São Paulo,
estudando grego com o Rev. Augustus Nicodemos, analisamos o Evangelho de Marcos
e as possíveis implicações do verbo grego poreuqentej (poréutentes) que traduzimos com razoável grau de acerto
e acomodação literária como imperativo uma vez que a opção seria substituí-lo
por uma frase inteira. Entretanto, o evangelista Marcos usa o verbo num modo
chamado aoristo passivo depoente no modo particípio. O que isto significa pra
Igreja? De maneira simples de entender quer dizer que não é apenas “ide!” como
tantas vezes eu ouvira e me angustiava o coração. Também não é apenas “indo” como
se para cumprir a missão houvesse a exigência de deixar um lugar e ir para
outro.
A maneira de Marcos escrever ensina que Jesus queria
e continua querendo que todos os seus discípulos (o verbo está no plural)
anunciassem a salvação unicamente em seu nome (At 4.12)
dentro de um modo de vida constante. O aoristo é usado para indicar uma ação
que foi iniciada com a ordenança de envio de Jesus aos seus discípulos (Jo 20.21) e se
torna permanente e eficiente em todo o restante da vida do crente, que pode
exercer este mandato e estilo de vida “enquanto vai” ao mercado, “enquanto
está” no trabalho, “enquanto se diverte”, “enquanto cuida de sua casa” e até
“enquanto presta seu culto”.
Aí então as coisas começaram a fazer sentido para
mim. E então compreendi o que os teólogos chamam de vocação. Por causa da
ênfase missioneira de pastores e evangelistas da nossa região eu aprendera que
vocação é chamado para o ministério, mas a iluminação do Espírito mediante o
estudo da Palavra ensinou que cada cristão tem uma vocação específica. Todos
são igualmente vocacionados para a salvação, alguns são vocacionados para o
serviço na Igreja e poucos são vocacionados para o ministério da Palavra, mas
todos devem ser instrumento de Deus para o cumprimento do poréutentes (a
famosa grande comissão) do Senhor Jesus.
Enquanto
fores cristão, por onde fores se és verdadeiramente cristão, pregue o Evangelho
a toda criatura, anuncie a todos o que o Senhor tem feito por ti! Disto
não podes tirar férias um dia sequer de sua vida.
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