Senhor,
ali está o púlpito que Tu me confiaste.
Sei que não queres eloquência frívola e que não
me colocaste aqui para agradar ouvidos que coçam por novidades. É hora de ir para lá. Está tudo feito. Tantas
vezes meus pés pesam enquanto caminho para o púlpito com um peso imensurável
nos ombros. Enquanto isto muito pares de olhos estão sobre minhas costas.
Conferem meu cabelo, minha roupa, meus gestos, mas nenhum deles é capaz de
sondar minha alma e meu coração. Quero entregar com fidelidade a mensagem,
peço-te que me ajude. Vou falar às ovelhas que Me confiastes, e peço que haja
ao menos um coração sedento por uma palavra Sua.
Peço-te
que refrigeres a minha alma, como nenhum copo de água gelada pode refrigerar.
Sei que ninguém além do Senhor sabe como realmente me sinto, ou dão importância
para eu estar bem ou mal, alegre ou triste. Minhas preocupações e dores devem
ser escondidas, não podem ser externadas, precisam ser disfarçadas como um
palhaço disfarça sua tristeza e pinta um sorriso caricato no rosto.
Sinto-me
sozinho e abandonado. Minha dor, minhas lutas diárias, minha fragilidade, nada
disso pode entrar na mensagem porque ela é Sua e não sobre mim. São profundas as
feridas sofridas ao longo destes anos, destes meses cruéis e destes dias
angustiantes... sinto que o inferno tenta me retalhar a alma no mesmo instante
em que meu único desejo é ser instrumento Seu para avisar aqueles que caminham
para lá.
Quantas
vezes cheguei aqui depois de ter chorado internamente uma tarde inteira, no
mais terrível dos choros por evitar que as lágrimas escorram pelos olhos, para
não preocupar ou fazer sofrer outras pessoas.
Não
quero decepcionar-te Senhor. Não quero negociar a missão nem a mensagem. Não
quero deixar de ser uma voz que diz “Assim diz o Senhor a esta geração”. Mas,
Senhor, e o custo disto? O peso? Preciso ser revigorado pelo Senhor, porque é
humanamente insuportável!
Senhor,
é difícil não odiar quem me persegue implacavelmente usando seu nome e a sua
Igreja como desculpa para praticar a impiedade. Quantas vezes tive que falar de
cura enquanto sofria com dores excruciantes no corpo e na alma. Quantas vezes
tive que consolar almas com espinhos quando o que eu mais precisava era de um
abraço, de consolo em um ombro amigo para diminuir a dor das estacas em meu
coração.
Quantas
vezes fui obrigado a deixar a minha família para cuidar de restauração de
famílias que sequer suspeitavam da angústia da minha. Senhor! Senhor! Senhor! Como
é difícil às vezes dizer às pessoas para confiar no Senhor, para Te ouvirem
quando o que mais me pesa é o seu silêncio sobre mim. Até quando, Senhor!
Ó
Senhor! Ó Meu pastor! Tu conheces o coração deste pastor. Tu sabes que não
busco holofotes, não anseio por ser grande entre os homens – só quero servir-te
com fidelidade. Esta é a minha tarefa, o meu desejo, meu pão e a minha
realização. Mas como é difícil alimentar as ovelhas quando sinto-me quase
exangue, faminto por uma palavra Sua que me dê novo alento.
Senhor,
sei que tenho que ser instrumento de Sua graça sobre este povo que me
confiaste, tenho que abençoá-lo. Quero que Sua graça seja derramada sobre o
povo de Deus mas eu preciso, careço e clamo: “Meu Deus, não me desampares!
Angústias mortais se apoderam de mim. Meus joelhos se dobram, minhas mãos
descaem, minha alma fenece, meu alimento tem sido regado a lágrimas e meu sono
se foi. Me socorra!”
E,
mesmo assim, só consigo olhar para o alvo da soberana vocação, ouvindo o Senhor
dizer-me: “Sê fiel até a morte”. Sua Palavra me diz que Sua graça me basta e eu
preciso apenas ser encontrado fiel. Ao meu coração sofrido Seu Espírito derrama
um pouco de bálsamo e diz: “Busque a minha presença”. Buscarei, pois, Senhor, a
Sua presença e Te obedecerei. Não tenho mais forças mas o Senhor há de
sustentar-me, porque meus lábios e coração Te pertencem – e há muitos que ainda
precisam ouvir a Sua voz advertindo a pecadores e chamando-os ao
arrependimento.
Cheguei
ao púlpito - uma caminhada de poucos metros que às vezes parece a travessia de um Sinai inteiro. Usa-me. Mesmo que com isso me consumas para Sua glória. Usa-me!
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