domingo, 2 de setembro de 2012

ONDE OS JUSTOS ENCONTRAM A VERDADEIRA JUSTIÇA [I Co 6.1-7]–OS MENORES ENTRE OS SANTOS POSSUEM MAIS JUSTIÇA QUE OS MAIS NOBRES DOS ÍMPIOS

11Paulo denuncia com grave erro envolver os incrédulos nos negócios da Igreja, e especialmente nos seus problemas. É verdade que o pecado afasta as pessoas de Deus, mas os pecados dos crentes lhes dá justificativas para ficarem longe da Igreja. É um contrassenso muitas das disputas nas quais os crentes se envolvem porque se tratam de assuntos daqui, deste mundo. É um contrassenso porque o cristão não tem morada certa [I Co 4.11: Até à presente hora, sofremos fome, e sede, e nudez; e somos esbofeteados, e não temos morada certa] ou permanente aqui [Hb 13.14: Na verdade, não temos aqui cidade permanente, mas buscamos a que há de vir].

É um contrassenso porque o cristão não poderia se deter em disputas por coisas que são deste mundo e não deveriam ocupar seu coração [I Jo 2.15: Não ameis o mundo nem as coisas que há no mundo. Se alguém amar o mundo, o amor do Pai não está nele]. É possível que, na Igreja de Corinto, houvesse pessoas que confundissem "pertencer a Igreja" com pertencer ao corpo de Cristo.

Para alguém levar quem quer que fosse perante um tribunal romano deveria ser cidadão romano e seguir ritos jurídicos que também eram ritos religiosos. Não se abria um procedimento num tribunal romano sem o necessário ritual sacrificial – e aos cristãos não era, em absoluto, permitido participar de tais rituais [I Co 10.20: Antes, digo que as coisas que eles sacrificam, é a demônios que as sacrificam e não a Deus; e eu não quero que vos torneis associados aos demônios], literalmente associando-se a demônios contra irmãos, parte do corpo de Cristo. Apresentar-se a um tribunal romano era, para o cristão, atestar tanto mundanismo quanto idolatria.

Conquanto a cidadania romana fosse almejada e tivesse um alto valor político e monetário, o apóstolo coloca-a muito abaixo daquilo que os cristãos já haviam alcançado. Paulo havia considerado isto como "coisa de nenhum valor" [Fp 3: 8-10: Sim, deveras considero tudo como perda, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; por amor do qual perdi todas as coisas e as considero como refugo, para ganhar a Cristo e ser achado nele, não tendo justiça própria, que procede de lei, senão a que é mediante a fé em Cristo, a justiça que procede de Deus, baseada na fé; para o conhecer, e o poder da sua ressurreição, e a comunhão dos seus sofrimentos, conformando-me com ele na sua morte], em contraste com o ardente desejo de seu coração de gozar pra sempre da cidadania que realmente importa [Fp 3.20: Pois a nossa pátria está nos céus, de onde também aguardamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo].

O documento que mostrava quem os cristãos eram, a que reino pertenciam não era um brasão familiar, nem um documento de um juiz, mas o seu proceder. E era este proceder que deveria mostrar ao mundo a justiça do julgamento de Deus. Ainda que jamais fosse servir de desculpa para os ímpios, o comportamento dos cristãos coríntios não incentivava ninguém a querer ser santo ou sentir-se envergonhado por seus pecados, muito pelo contrário – ao menos exteriormente [no que a carne e a moralidade conseguem] os ímpios estavam sendo mais corretos que os santos.

Paulo questiona-os pelo fato de se aventurarem longe da segurança dos santos muros, do aprisco do Senhor, do reino de Deus e correrem aos tribunais pagãos. Porque chamar não santos para julgarem os santos? Os coríntios já haviam sido de tal maneira influenciados pelos pecados existentes em seu meio, especialmente o partidarismo que já havia causado estragos de tal monta que eles não confiavam em ninguém mais dentro da Igreja. Um "paulino" não confiava nos que se diziam seguidores de Apolo, que por sua vez não confiava em absoluto nos seguidores de Pedro: era desconfiança de todos os lados.

Não confiavam nem mesmo nos da casa de Cloe, agora injustamente considerados como fofoqueiros. E no meio de tanta desconfiança alguém teve a infeliz idéia de ser o primeiro a recorrer, em um caso de natureza civil, a um tribunal civil, sujeitando-se ao parâmetros da legislação romana sob um magistrado romano. Era como se atestassem publicamente, perante eles mesmo e perante os ímpios, a falência da comunhão da Igreja. E quando um faz, os outros também acabam julgando-se no direito de também fazer.

Aparentemente um episódio deu origem a um costume, e a Igreja, que é demonstração tanto do amor quanto do juízo de Deus sobre todas as coisas, rebaixou-se a um padrão menor que o do mundo, afirmando ser incapaz de julgar retamente, admitindo que os ímpios poderiam ser maios justos que eles próprios. Sua sede de "direitos", seu legalismo os cegou de tal forma que os tornou escárnio entre os gentios com justa razão para vergonha do evangelho.

Já vimos que um justo não vai encontrar justiça alguma em submeter seus irmãos a tribunais mundanos. Aprendemos também que é uma atitude de vilania e humilhação submeter a Igreja do Senhor, que há de julgar o mundo, ao julgamento dos mundanos, demonstrando publicamente que a Igreja não atingiu o padrão de unidade que Deus estabeleceu.

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