QUANDO UM PATÍBULO SE TORNA PALCO DE UMA IMORRÍVEL ESPERANÇA
Imagine que você tenha a oportunidade de escolher entre duas notícias com consequências fundamentais para sua vida. Imagine que você foi chamado a um luxuoso escritório e fosse convidado a sentar-se em uma confortável poltrona com dois envelopes à sua frente. Nele, duas propostas, duas notícias das quais você poderá escolher apenas uma.
Imagine que a primeira notícia é: você acabou de receber R$ 1.000.000.000,00 (um bilhão de reais) para fazer com ele o que quiser. Você ficaria absolutamente livre de tudo o que te incomoda, de tudo o que tira sua paz, de tudo o que você não gosta. Seja lá o que você não goste, você ficaria livre no exato momento em que concordasse com os termos da doação. Pode comprar casa, comida, carro, fazenda, avião, viajar... Pode fazer o que quiser, com quem quiser, onde quiser... Mas... Junto com esta maravilhosa notícia vem as condições: você teria 24h para usufruir como quisesse. Após este período você morreria e não poderia deixar nada para seus herdeiros.
Agora, imagine a segunda notícia. Você poderia escolher continuar com sua casa e as goteiras que existem nela... Com a dificuldade normal de escolher entre o que adquirir porque o dinheiro não é suficiente para tudo. Com seu emprego enfadonho e o chefe insuportável e colegas desagradáveis... Com sua família e os esforços diários para caminharem apesar da personalidade de cada um. Sem as festas que muitos frequentam. Sem o glamour que muitos usufruem. Sem as viagens paradisíacas que muitos fazem e retornam contando histórias de lugares maravilhosos.
Qual das duas propostas você escolheria? 24h sem nenhum problema e nenhum futuro, ou a vida inteira, com suas lutas constantes e pequenas mas sinceras alegrias?
Vamos aprender uma preciosa lição a este respeito, isto é, sobre como fazer as escolhas que realmente são essenciais, num trecho da Palavra de Deus que apenas o evangelista Lucas registra: o ladrão que, na cruz, pede a Jesus que se lembre dele quando vier no seu reino. Vejamos o que o evangelista registrou para nossa edificação (Lc 23.39-43).
39 Um dos malfeitores crucificados blasfemava contra ele, dizendo: Não és tu o Cristo? Salva-te a ti mesmo e a nós também.
40 Respondendo-lhe, porém, o outro, repreendeu-o dizendo: Nem ao menos temes a Deus, estando sob igual sentença?
41 Nós, na verdade, com justiça, porque recebemos o castigo que os nossos atos merecem; mas este nenhum mal fez.
42 E acrescentou: Jesus, lembra-te de mim quando vieres no teu reino.
43 Jesus lhe respondeu: Em verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso.
O fato de somente Lucas ter registrado este evento, o pedido do ladrão e as palavras de Jesus facilita nosso estudo por não termos outros textos paralelos, mas, ao mesmo tempo, deixa sem resposta uma pergunta: porque Mateus não registrou que, após zombar de Jesus junto com o seu companheiro de infortúnio, percebeu a justiça que estava sendo feita com eles mas também se deu conta da grande injustiça praticada contra Jesus? Porque só Lucas? Não temos esta resposta, mas o fato é que os evangelhos se completam e nos fornecem o quadro mais perfeito possível da humanidade. Ali, no calvário, temos um registro perfeito do que é a humanidade.
Temos ali dois homens merecedores da morte. Temos um ímpio impenitente. Temos um pecador confesso e arrependido e conhecemos um salvador solícito. Quero convidar você a esquecer-se de onde você está e o que você é, e fazer um exercício de imaginação e viajar no tempo e no espaço, ir em imaginação àquele dia e local fatídico.
VOCÊ É UM PECADOR - VOCÊ MERECE ESTAR NA CRUZ!
Imagine que você esteja no local da crucificação. Imagine a multidão excitada. Imagine uma multidão composta por milhares de pessoas que não te conheciam. Imagine que estas pessoas não se importam minimamente com a angústia dos condenados. Ouça seus gritos exaltados! Sinta o calor causticante. Sinta um pouco mais o ambiente. Se aprofunde um pouco mais e tente sentir a dor das feridas em suas costas causadas pelo látego e o incômodo dos insetos que não podem ser espantados. Sinta a dor em suas mãos e pés.
Ninguém lhe dá um analgésico... Nenhuma palavra de conforto. Apenas palavrões, xingamentos e dor. E então você reage. Sua formação é a de um pecador. Sua formação, suas companhias constantes eram barulhentas, escarnecedoras, violentas. Bandidos... Imagine que você é um bandido. Sim, um bandido, imagine que é você quem está numa das cruzes. Seu companheiro começa a zombar do tolo que se dizia ser o rei dos judeus. Você o segue em seu mau comportamento, instintivamente começa a agir como ele, começa a zombar do tal de Jesus. Todos faziam isso, porque não você? Pelo menos acusar o outro vai te dar um pouco de distração, embora não resolva a sua situação.
Curiosamente as maiores ofensas não eram para eles, ladrões, salteadores, assassinos - eram para um tal de Jesus de Nazaré. O povo zombava dele, fora o povo que o condenara, gritando para que ele fosse crucificado. As maiores autoridades religiosas do povo zombavam dele, foram eles quem o denunciaram e entregaram às autoridades romanas, numa cooperação inimaginável. As autoridades civis, os soldados, também zombavam dele. Até as autoridades romanas zombaram dele, colocando em sua cabeça uma coroa de espinhos e acima dela uma frase em três idiomas diferentes que dizia: “Este é o rei dos judeus”. E fica surpreso com seu silêncio só rompido, uma única vez, para perdoar os que o maltratavam e insultavam.
Não é algo agradável de se imaginar. O barulho, o calor, o sangue coagulado, o suor ardendo nas feridas, as ofensas, a vergonha, a solidão... E você começa a ter algumas certezas. Sua vida foi um fracasso total... Você queria fortuna, e terminou na cruz. Queria a liberdade de seu país e só conseguiu ser cravado em uma cruz... Você pensa na certeza da morte iminente, na dor causada pelos pregos e pelo peso do seu corpo, cada vez mais fraco... Sinta as vertigens causadas pela circulação sanguínea cada vez mais difícil e a cada segundo só uma certeza vai sobrando: a morte, um desejo cada vez mais forte em um coração cheio de ódio pelos romanos, pelos judeus, por todos, inclusive por aquele que ousou dizer ser o rei dos judeus. Você começa a desejar que sua morte seja rápida... mas sabe que não será.
Ali você percebe que, junto com seu amigo, seu companheiro de infortúnio, representa aquilo que o homem é: pecador, merecedor da morte por causa de seus próprios pecados. E, imagine agora que, num lampejo de consciência, uma duvida começa a tomar seu coração. E se... E se for isso mesmo? E se esse homem for mesmo o que ele diz ser? O que ele fez? Qual o crime que ele cometeu? O próprio Pilatos disse não ver nele crime algum. Até a esposa de Pilatos testemunhou que Jesus era justo. Você conhece o sistema, sabe que é fácil encontrar testemunhas que se vendem para falar qualquer coisa... E então você para de zombar e logo adverte o outro ladrão para deixar Jesus em paz. Você admite que é justo estar ali, mas não aquele justo estar na cruz ao lado.
E você começa a pensar seriamente no que tinha ouvido a respeito daquele estranho profeta, nos últimos três anos sua fama se espalhara... Talvez tenha ouvido outras coisas na prisão até que se pergunta: “E se este tal de Jesus for mesmo quem diz ser”? E se ele puder mesmo perdoar pecados? E se ele puder fazer comigo o mesmo que fez com a mulher surpreendida em adultério? Ou com Lázaro? Será que... E se ele for mesmo um rei especial, rei de um reino que não é deste mundo? Ele disse ser filho de Davi, profeta, messias e até mesmo chamou Deus de seu pai. E se seu reino não for mesmo igual aos outros? E se... Será que ele se compadeceria de um pecador condenado que chegou mesmo a zombar dele instantes antes?
VOCÊ É UM PECADOR QUE NÃO PODE FAZER NADA PARA SE SALVAR
Talvez você então comece a pensar: será que um pedido de um ladrão que não pode fazer nada em contrapartida seria aceito? Da cruz seria impossível oferecer qualquer tipo de sacrifício por sua culpa... Nenhuma oferta pelo pecado... Nenhuma oferenda de gratidão... Na verdade, nem intenção de sacrificar existe mais. O que um incapaz, um semimorto, um condenado poderia fazer para merecer a atenção, perdão e salvação por parte de Jesus? Nada! Eis a única resposta! Nada. N A D A!
Mas você continua pensando... Não pode sair mesmo dali... É sua única esperança... Ele perdoou a adúltera sem contrapartidas... Curou o paralítico e perdoou seus pecados sem receber nada em troca. Mas ali a situação era mais grave. Mas o que ele poderia fazer de bom para convencer Jesus? Você talvez se volte para a multidão procurando alguém que, talvez, pudesse fazer alguma coisa por você, que tivesse acesso a Jesus, que de alguma forma pudesse interceder por você e... Nada... Ninguém... Nenhuma ajudinha - é entre você e Jesus, apenas entre vocês dois.
Você se sente ignorante, impotente, incrivelmente incapaz... Você está como Pedro no momento que afundava no lago e só lhe restava uma coisa a fazer: clamar por ajuda, pedir socorro. E você quer ser socorrido... Você não quer que as coisas terminem daquele jeito. Você já aceitou que não vai descer da cruz, mas... E o reino porvir? Já que não havia mais nada a fazer só lhe restava confiar em Jesus e pedir... O “não” você já tinha. A condenação já estava sobre sua cabeça. O inferno já era seu destino mesmo... Não há mais nada a perder... O jeito era pedir. E pede. Pede a Jesus que, quando vier em seu reino, se lembre de você, ouvindo então a promessa de salvação. Eis aqui o retrato da humanidade - um pecador que precisa de um salvador, um pecador que não procura um salvador, um pecador que se encontra com o salvador no mais inesperado dos lugares. Podia ser outro tipo de criminoso. Ladrão, assassino, mentiroso, rebelde, falsário, tanto faz... Era um ladrão, era um pecador, era você.
Você pede - e ao pedir demonstra que houve uma grande mudança em você. Inicialmente você zombava, dizendo a Ele que, se fosse mesmo o rei dos judeus, descesse do trono e você creria. Agora seu pedido a Jesus é para que ele se lembre de você “quando” vier em seu reino. Não há dúvida em seu pedido. Não é um pedido para que ele se lembre “se” vier mesmo em um reino utópico. Ali há confiança, há certeza, há fé naquele pedido. Uma fé que surge até mesmo quando os discípulos mais próximos de Jesus se sentem desalentados e dispersos - todos fugiram quando o pastor foi ferido, mas você nem fugir podia. Os discípulos queriam assentar-se ao lado de Jesus em seu trono, um à direita e outro à esquerda, mas foi um ladrão que tomou este lugar e, pela fé, no trono da cruz, obteve a salvação de sua alma.
Ali Jesus lhe fez uma promessa maravilhosa - imagine o que você poderia fazer para deixar de ser um pecador merecedor da condenação para ganhar uma promessa tão maravilhosa assim do Senhor Jesus? Imagine a sensação de esperança na eternidade em lugar do desespero da morte certa e inferno inescapável. Sinta o suor queimar-lhe a pele ferida e os ardor nos olhos causado pelo suor agora se misturando com as lágrimas de alegria enquanto uma sensação de frescor e renovo toma conta de seu coração, enquanto a nova vida brota em seu coração e finalmente você entende que “ao Senhor pertence a salvação”.
Sim, na cruz era um ladrão. Na cruz era você. Imagine-se ali. Imagine a dor. Imagine a angústia em saber que a morte era iminente. Agora, meu amado, minha amada, imagine a esperança enchendo o seu coração e expulsando a angústia da morte que se aproxima rapidamente. Mas você ouviu a palavra do Filho de Deus - você ouviu o salvador dizer-lhe que sua história não terminaria ali. A promessa dele é a promessa para os que nele creem - você estaria com ele, no mesmo dia, no paraíso.
VOCÊ É UM PECADOR QUE SOMENTE JESUS PODE SALVAR
Com base em que? Com base em quê um pecador condenado, crucificado, semimorto pode esperar salvação? Com base em quê qualquer pecador pode esperar alguma bênção de Deus estando morto por causa de seus próprios pecados (Ef 2.8)? Com base na superabundante graça de Deus (Rm 5.20).
Com base na vontade soberana de Deus que salva a quem quer salvar e endurece a quem quer endurecer (Rm 9:18). Com base na graça maravilhosa de Jesus. Com base no sacrifício substitutivo de Jesus. Sem base alguma em nada do homem que só contribui com a sua pecaminosidade e desesperada necessidade de salvação.
Sim, as palavras de Jesus garantindo a salvação para todo aquele que nele crê (Jo 6.47) são para o ladrão, para a adúltera, para o religioso perseguidor, como foi o apóstolo Paulo, para o pecador traidor que o negou. Lembre-se que naquele mesma noite dois outros judeus também pecaram contra Jesus. Um o traiu com um beijo, outro negou sua fé. Um morreu enforcado e o peso de seu corpo quebrou o galho da árvore e acabou despedaçado num campo que se tornou um cemitério de indigentes. O outro morreu crucificado - mas antes se arrependeu, foi perdoado, anunciou o salvador para que muitos fossem salvos. Sim, a salvação é para todos os demais pecadores: é, afinal, para mim e para você.
Assim como para aquele pecador na cruz a salvação é um negócio urgente para você também e não pode ser deixada para depois. Jesus diz ao ladrão que ele estaria com ele no paraíso, no seio de Abraão ou na bem aventurança dos santos sob o trono do cordeiro... Não importa como você chame, o fato é que para Jesus a salvação é algo urgente, tão urgente quanto era para aquele ladrão na cruz. E se era para o ladrão, porque não seria para você?
CONCLUSÃO
Naquelas cruzes temos a humanidade perfeitamente representada: temos dois pecadores que merecem a morte! Temos um pecador que continua morto porque não crê em Jesus, que permanece em seus pecados, porque, mesmo tão perto de Jesus, seus pecados ainda faziam separação entre ele e Deus. Naquelas cruzes temos, também, um pecador que se reconhece pecador e obtém a salvação por crer em Jesus.
Mas a humanidade não estaria perfeitamente representada ali se ali não estivesse o homem perfeito, o justo substituindo os injustos (I Pe 3.18).
Do alto da cruz ouvimos a sua voz, a doce voz de um salvador solícito, proclamando que, mesmo onde todos consideravam-no um derrotado no patíbulo proclama salvação que nenhum trono do mundo jamais poderia ou poderá ser capaz de dar.
Toda aquela dor, todo aquele espetáculo foi para salvar pecadores. Talvez você já não se veja mais lá... Talvez já tenha se esquecido de sentir o cheiro, o calor, mas há algo que você não pode se esquecer de ouvir: a voz do salvador dizendo aos que nele creem que estarão com ele no paraíso. Naquela cruz ouvimos a promessa de salvação ao ex ladrão, agora crente. Esta promessa é também para o comerciante desonesto, o funcionário corrupto, o patrão ganancioso, o aluno trapaceiro, o filho rebelde, o esposo violento ou relapso, a esposa insubmissa, o folgado preguiçoso, o amante da mentira, o dono de coração idólatra cheio de amor pelo mundo, o religioso soberbo e contencioso achando que sua religiosidade é que lhe garante a salvação, o hipócrita e toda sorte de pecadores.
Foi por você, foi por mim, foi por todo pecador que crê nele e humildemente clama: “Senhor, salva-me”, porque todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo.
Naquelas palavras que proclamam salvação encontramos eco de outras palavras do salvador que dizem “vinde a mim todos os que estais cansados e sobrecarregados e eu vos aliviarei” (Mt 11.28). Você não sabe quanto tempo você, pecador, tem. Então, vá a Jesus porque Ele diz que todo aquele que vai a ele de modo nenhum será rejeitado (Jo 6.37).
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