domingo, 18 de maio de 2025

CORRA APENAS A CARREIRA QUE LHE ESTÁ PROPOSTA

CORRA APENAS A

CARREIRA

QUE LHE ESTÁ PROPOSTA


Hb 12:1 Portanto, também nós, visto que temos a rodear-nos tão grande nuvem de testemunhas, desembaraçando-nos de todo peso e do pecado que tenazmente nos assedia, corramos, com perseverança, a carreira que nos está proposta, 2 olhando firmemente para o Autor e Consumador da fé, Jesus, o qual, em troca da alegria que lhe estava proposta, suportou a cruz, não fazendo caso da ignomínia, e está assentado à destra do trono de Deus.

INTRODUÇÃO

Houve uma época em que o Brasil parava nas madrugadas para assistir uma corrida nas ruas de São Paulo, conhecida como corrida de São Silvestre. Era um evento nacional que com o tempo foi sofrendo mudanças. Mudaram o percurso, mudaram o horário e a corrida acabou sendo esquecida. É provável que muitos aqui tenham ficado acordado para assistir as corridas – e é provável, também, que já não assistam mais. E eu acredito que haja alguns aqui que nem saibam que corrida é essa.

Naquela corrida famosa havia diversos tipos de corredores. Com certeza tinha aqueles que queriam vencer a prova. Queriam a consagração na tradicional corrida de fim de ano. Se preparavam durante meses, alguns, como os quenianos e etíopes, treinavam no deserto, outros treinavam subindo ladeiras com pesos nos pés. Todos montavam sua estratégia para alcançar a melhor classificação possível na prova.

Tinha também aqueles corredores que disputavam provas regionais e queriam completar a prova, obtendo uma classificação honrosa, quanto mais perto dos primeiros colocados melhor e de preferência superando os seus próprios tempos anteriores.

Quando morava em São Paulo conheci uma corredora que sua meta era completar a prova – ela não se importava com o tempo nem com a classificação que obtivesse, seu objetivo era completar a corrida.

Também havia corredores que tinham como meta completar uma parte do percurso – isto lhes bastava. E havia os coelhos. Eram corredores velozes, que se esforçavam por conseguir um lugar na linha de frente, às vezes liderando a prova por centenas de metros ou alguns quilômetros. Eles geralmente não completavam a prova. Seu ritmo era forte demais para suportar ir até o fim. Mas seu objetivo era aparecer na televisão – e havia até quem os patrocinasse.

Faço então a pergunta: quantos eram os vencedores da corrida de São Silvestre? Para o pódio só podiam subir três corredores, e só havia um grande vencedor – mas o coelho conseguia seu objetivo, vencia sua prova pessoal. Aqueles que planejavam correr um trecho e conseguiam também eram vencedores. Os que planejavam completar a prova voltavam para casa como vencedores. Por quê? Cada um corria a sua própria corrida, a corrida que lhe foi proposta.

Os cristãos também têm um longo caminho a percorrer – quando você se entregou a Cristo você foi colocado em uma prova de fé, e terá sua fé provada ao andar no caminho. Será conduzido por Cristo, terá ao seu lado muitos companheiros, mas a caminhada é sua, e só sua. Nem pai, nem mãe, nem irmão ou irmã, ninguém caminhará por você. Este é o ensino claro da Palavra de Deus através do profeta Ezequiel:

Ez 18:20 A alma que pecar, essa morrerá; o filho não levará a iniquidade do pai, nem o pai, a iniquidade do filho; a justiça do justo ficará sobre ele, e a perversidade do perverso cairá sobre este.

Mas todos caminharão com você, levando as cargas uns dos outros, mas não uns carregando outros.

E se desistir? Não se perde apenas tempo. Não se perde apenas esforço físico. Perde-se muito mais. Se persistir significa a conservação da alma, desistir e tornar atrás significa a perdição da alma. E creio que não é isto o que você deseja para você.

Hb 10:39 Nós, porém, não somos dos que retrocedem para a perdição; somos, entretanto, da fé, para a conservação da alma.

I. A CORRIDA É COLETIVA

Nestes dois versos nós temos 7 referências à segunda pessoa do plural: nós. Cinco destas referências são diretas: (1) nós somos rodeados por grande nuvem de testemunhas; (2) nós devemos nos desembaraçar de todo peso; (3) nós devemos nos desembaraçar de todo pecado; (4) nós somos tenazmente assediados pelo pecado; (5) nós devemos correr com perseverança a carreira; (6) nós temos uma proposta de carreira; (7) nós devemos olhar firmemente para o autor e consumador da fé.

Qual é o sentido disso? Por que tantas referências ao coletivo plural se a salvação é individual? Porque tanta ênfase no plural se a bíblia diz que todo aquele (singular) que crê será salvo, não será julgado, e quem não crê já está mais que julgado, está condenado?

Jo 3:18 Quem nele crê não é julgado; o que não crê já está julgado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus.

A resposta é: Cristo morreu para salvar pessoas e com elas criar um povo (Tt 2:14 o qual a si mesmo se deu por nós, a fim de remir-nos de toda iniqüidade e purificar, para si mesmo, um povo exclusivamente seu, zeloso de boas obras). Igreja não é indivíduo, é comunidade, é comunhão que não deve ser desprezada nem abandonada (Hb 10:25 Não deixemos de congregar-nos, como é costume de alguns; antes, façamos admoestações e tanto mais quanto vedes que o Dia se aproxima).

Individualmente somos ovelhas do Senhor, mas somos também rebanho do seu pastoreio (Sl 100:3 Sabei que o SENHOR é Deus; foi ele quem nos fez, e dele somos; somos o seu povo e rebanho do seu pastoreio). Quando os apóstolos pediram a Jesus que lhes ensinasse a orar Jesus começa com um vocativo no plural: Pai nosso (Mt 6:9 Portanto, vós orareis assim: Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja o teu nome).

Jesus não chamou você para fundar a “igreja do eu sozinho”. Seu propósito é juntar gente de todo povo, tribo, língua, de todas as raças e nações, sem qualquer distinção. E um projeto deste está longe de ser considerado individualista. A ovelha que se isola é considerada como ovelha perdida, extraviada (planaw: desencaminhada da verdade, conduzida ao erro, desvirtuada, em pecado).

Se é uma ovelha desencaminhada precisa retornar ao caminho, precisa ser resgatada do erro e do pecado (Mt 18:12 Que vos parece? Se um homem tiver cem ovelhas, e uma delas se extraviar, não deixará ele nos montes as noventa e nove, indo procurar a que se extraviou?) e foi precisamente para isso que Jesus veio a este mundo – para resgatar a ovelha extraviada (Mt 18:11 Porque o Filho do Homem veio salvar o que estava perdido).

Um detalhe interessante de Mt 18.12 é que o pastor deixa as outras 99 nos montes (Lucas fala “no deserto”, significando lugar desabitado, não cultivado e próprio para pastagem – Lc 15.4 Qual, dentre vós, é o homem que, possuindo cem ovelhas e perdendo uma delas, não deixa no deserto as noventa e nove e vai em busca da que se perdeu, até encontrá-la?). Isto não significa que ele deixou as 99 sem cuidados – significa que as 99 estão maior segurança exercendo o cuidado mútuo (Gl 6:2 Levai as cargas uns dos outros e, assim, cumprireis a lei de Cristo).

Você foi chamado para uma corrida coletiva – você não está sozinho. Deus não quer que você esteja sozinho. Quem quer te ver sozinho é o diabo, ilustrado na figura do leão que anda em derredor esperando alguém (sozinho) para devorar, mas que não ousa atacar o rebanho. Note cuidadosamente que somente o sozinho (alguém) é alvo do diabo que ruge, anda em derredor, procurando quem não permanece em comunhão:

1Pe 5:8 Sede sóbrios e vigilantes. O diabo, vosso adversário, anda em derredor, como leão que ruge procurando alguém para devorar; 9 resisti-lhe firmes na fé, certos de que sofrimentos iguais aos vossos estão-se cumprindo na vossa irmandade espalhada pelo mundo.

II. O CORREDOR DEVE ESTAR PREPARADO

Quando as pessoas se inscreviam para a corrida de São Silvestre eles recebiam um kit (camiseta, short e número – mais tarde, quando a corrida passou a ser durante o dia um boné). Supõe-se que cada inscrito se preparasse antecipadamente para a prova que disputaria. Aos 14 anos eu jogava futebol, estava razoavelmente bem fisicamente e cometi o equívoco de me inscrever para uma corrida no dia da criança (16km) sem preparação prévia – fiz o percurso no dia anterior à prova e vocês podem claramente imaginar que não cheguei em primeiro lugar nem ganhei o prêmio que os organizadores ofereciam.

Você precisa estar preparado, descansado, bem alimentado para poder correr a carreira que o Senhor propôs para você. Sabemos como as pessoas se preparam para as corridas. Se exercitam continuamente. Descansam adequadamente. Se alimentam suficientemente.

Conhecem o percurso que precisam percorrer. E tem um alvo, um prêmio que desejam alcançar.

Analogamente, apliquemos estas condições à caminhada cristã. Como você se prepara para a caminhada cristã? Como você se prepara para a vida cristã? Qual o seu método para enfrentar uma caminhada que pode ser longa e exaustiva à ponto de até correrem o risco de se fatigarem e desmaiarem em sua alma.

Hb 12:3 Considerai, pois, atentamente, aquele que suportou tamanha oposição dos pecadores contra si mesmo, para que não vos fatigueis, desmaiando em vossa alma. 

Como você se exercita? Quais as práticas cristãs que você adota para fortalecimento de sua alma? Quanto tempo de oração? Quanto tempo de louvor e adoração ao Senhor? Quanta renúncia às vontades da carne para fortalecer o espírito (1Co 9:27 Mas esmurro o meu corpo e o reduzo à escravidão, para que, tendo pregado a outros, não venha eu mesmo a ser desqualificado). Como é o seu ritmo diário de exercício devocional? Existe um? Como esperar correr uma corrida sem preparação? Qual a possibilidade de um sedentário, com músculos atrofiados pelo exaustivo exercício de mudar posição no sofá e ir à cozinha, conseguir vencer uma corrida ou fazer uma caminhada na qual deve prosseguindo incansavelmente?

Com o que você está se alimentando? Não falo do que você retira da geladeira ou pede pelo iFood. Como você está alimentando o seu Espírito? Quanto de exercício devocional, leitura diária e estudo sistemático da Palavra você tem praticado para saber onde você deseja chegar – e qual o percurso que você tem que percorrer? Quantos bons livros, ou mensagens edificantes? Que tipo de música você escuta? Quem são seus ídolos pop? Opa... espere... você tem ídolo?

Mas não vamos esquecer a necessidade de desembaraçar de peso e de pecado. Ainda que alguém treine com pesos para aumentar a resistência ninguém compete com pesos supérfluos. O kit São Silvestre era um minishort, uma mini camiseta e um número para pregar na camisa. Os funcionários da limpeza de São Paulo costumavam participar destas provas – mas sem o uniforme da Limpurb, sem os pesados coturnos que protegiam seus pés. Eles deixavam tudo na empresa e iam com o mínimo de peso possível.

Você precisa se desembaraçar dos empecilhos. Os maratonistas dos antigos jogos olímpicos competiam nus. Nenhum peso, nenhum empecilho em seus corpos. Para o autor desta carta peso (ογκος) é um estorvo, algo que atrapalha, que não precisa estar ali. O que você tem carregado que não é necessário em sua caminhada cristã? Ansiedade no trabalho? Cuidados e preocupações com o dia a dia? Tristeza pelo que deixou para trás como a esposa de Ló?

Você também precisa abandonar o pecado (αμαρτια), deixar toda prática que atrapalha sua caminhada, assim como uma alimentação inadequada atrapalha a vida de um atleta (lembra do caso do jogador Walter?). Abandone os caminhos alternativos que te levam para longe do percurso e te impedem de chegar ao final da corrida.

III. O CORREDOR DEVE SER PERSEVERANTE

Talvez você tenha assistido o filme Desafiando Gigantes. Se assistiu você vai se lembrar do Brock carregando um colega nas costas por todo a extensão de um campo de futebol. Cansado, mas sob o incentivo do professor, ele prosseguiu metro a metro. O nome disso é perseverança. É prosseguir, ir em frente sem desistir.

Quando eu penso em perseverança eu me lembro de uma comida típica do Pará, a maniçoba, feita com folhas venenosas de um tipo de mandioca. As folhas são cozidas durante vários dias. Eu me pergunto como é que descobriram que só pode comer depois de 7 dias de preparação. Sabe o que acontece se comer antes? A pessoa é envenenada e pode até morrer – me pergunto qual o custo que foi pago em vidas até se descobrir quando exatamente aquele veneno se transformava em comida.

A expressão “corramos com perseverança a carreira” (di upomonhj trexwmen ton prokeimenon) também pode ser traduzida como “sigamos adiante com firmeza e constância na luta que nos foi designada”. Obviamente que, usando um jargão esportivo o escritor nos traz um incentivo a não desistir, a perseverar com firmeza e esforços constantes para atingir o alvo que nos foi designado. Numa olimpíada não se espera que um levantador de peso vença a prova dos 110m com barreiras. Mas espera-se que o halterofilista levante o máximo de peso que possa, enquanto o corredor seja o mais rápido que conseguir.

E pode acontecer que você esteja no seu limite, como o jovem Brock do filme ‘Desafiando Gigantes’, ou como a corredora Gabrielle Andersen, uma corredora suíça de 39 anos que sonhava completar a maratona. Nos últimos 2km da prova ela foi acometida de hiponatremia (queda da taxa de sódio no sangue), causando problemas cardiovasculares, alteração nas funções motoras e cerebrais, e câimbras nas pernas e braços, podendo até morrer a qualquer momento. Ela estava muito pior do qualquer um de nós aqui – eu desistiria. Em terríveis sofrimentos ela percorre os últimos 500m toda torta e o público se angustiava, gritava a aplaudia, até que ela transpõe a linha de chegada e despenca nos braços da equipe médica – tornando-se um símbolo inigualável de superação.

Andersen perseverou onde a maioria da humanidade desistiria. Seu alvo era uma linha de chegada em uma maratona. Como um cristão pode não perseverar tendo como alvo a vida eterna? Talvez você diga: meu pastor, eu estou muito cansado. Ninguém sabe como eu estou exausto. Minha autoestima está muito baixa. Meu emocional está abalado. Não tenho ajuda, não consigo mais. É melhor desistir e afundar em meu sofá ou me esconder em minha pilha de trabalhos ou quem sabe debaixo de um cobertor. Não dá mais, estou cansado.

Sim, você pode estar cansado e sobrecarregado. E é justamente por você que Jesus veio. Foi justamente para te dar descanso e alívio que Jesus veio – e ele te chama a ele para te dar descanso e alívio (Mt 11:28 Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei).

Talvez você diga: cheguei ao limite, não tenho mais força alguma. Sabe, eu acredito em você. Mas eu acredito mais ainda no impressionante poder criador de Deus, que é capaz de multiplicar o nada que você tem e fazer você andar, correr, voar, isto é, ir além do que você julga capaz (Is 40:29 Faz forte ao cansado e multiplica as forças ao que não tem nenhum vigor).

Você estará cansado e fatigado, caindo de exaustão e o Senhor renovará as suas forças, te fará subir com asas como águias, correr e não se cansar, caminhar e não se fatigar (Is 40:31 mas os que esperam no SENHOR renovam as suas forças, sobem com asas como águias, correm e não se cansam, caminham e não se fatigam). Mas só se você confiar no Senhor e não desistir, só se perseverar em confiar no Senhor e na força do seu poder.

IV. O CORREDOR DEVE TER UM ALVO

O escritor diz que há uma carreira proposta para nós. O que ele está afirmando é que devemos avançar em direção ao que está reservado para nós. A carreira que está proposta para os crentes não é para merecer um prêmio por algum tipo de esforço bem-sucedido. Antes que alguém diga que não precisamos fazer nada, não é isso o que estou afirmando. O que a bíblia ensina é que não podemos fazer nada para a nossa salvação, não podemos fazer nada para merecer a salvação, mas devemos fazer tudo porque fomos salvos porque foi para isso que fomos criados (Ef 2:10 Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas).

Há muito que precisamos fazer porque somos cidadoas do reino dos céus, embora peregrinos nesta terra (Ef 2:19 Assim, já não sois estrangeiros e peregrinos, mas concidadãos dos santos, e sois da família de Deus). E precisamos nos esforçar por entrar no reino – mas este esforço não tem nada de meritório, é um esforço perseverante (At 14:22 fortalecendo a alma dos discípulos, exortando-os a permanecer firmes na fé; e mostrando que, através de muitas tribulações, nos importa entrar no reino de Deus). A salvação não tem que ser conquistada, mas a santificação tem que ser desenvolvida porque fomos salvos (Fp 2:12 Assim, pois, amados meus, como sempre obedecestes, não só na minha presença, porém, muito mais agora, na minha ausência, desenvolvei a vossa salvação com temor e tremor).

Nada vai mudar o fato de que o reino de Deus já está preparado e reservado para os fiéis desde a fundação do mundo (Mt 25:34 então, dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai! Entrai na posse do reino que vos está preparado desde a fundação do mundo).

O Senhor não vai “desmontar” o reino por falta de inquilinos, porque ele começa e termina a boa obra naqueles que ele escolhe (Fp 1:6 Estou plenamente certo de que aquele que começou boa obra em vós há de completá-la até ao Dia de Cristo Jesus). Isto torna ainda mais grave a ingratidão da apostasia, a rejeição da comunhão e o abandono da fé.

O reino é dos fiéis, foi feito para eles porque isto foi do agrado de Deus e não porque eles merecessem. Repito: o reino de Deus é uma expressão da bondade de Deus e não uma recompensa por alguma justiça do homem (Lc 12:32  não temais, ó pequenino rebanho; porque vosso pai se agradou em dar-vos o seu reino). Não há sentido em preparar muitas moradas para não ter muitos moradores – mas assim como uma ovelha tem que andar pelos vales até chegar ao aprisco o crente tem que se esforçar até chegar às portas da morada eterna (Mt 11:12 Desde os dias de João Batista até agora, o reino dos céus é tomado por esforço, e os que se esforçam se apoderam dele).

O reino está pronto, o lugar dos crentes está reservado – mas ainda não estamos lá e se olharmos para o lado, ou para trás como fizeram os hebreus na saída do Egito ou a mulher de Ló corremos o risco de nos desviarmos pelo caminho e demonstramos não sermos aptos (ευθετος), apropriados para reino (Lc 9:62 Mas Jesus lhe replicou: Ninguém que, tendo posto a mão no arado, olha para trás é apto para o reino de Deus). Há uma carreira proposta e ela deve ser iniciada e completada.

A sua hospedagem está reservada – e tudo o que você precisa fazer é seguir em frente, é olhar firmemente para o autor da sua salvação, é renovar-se interiormente e, quando estiver cansado, sobrecarregado e desanimado, esperar confiantemente no Senhor que renovará as suas forças, restaurará seu vigor, e restabelecerá suas mãos descaídas, firmará seus joelhos trôpegos, firmará os seus passos e te manterá na direção certa (Hb 12:12 Por isso, restabelecei as mãos descaídas e os joelhos trôpegos; 13 e fazei caminhos retos para os pés, para que não se extravie o que é manco; antes, seja curado).

CORRA APENAS A SUA CORRIDA

Lembro-me de um personagem dos desenhos animados chamado Dick Vigarista. Aqueles que estiverem entre os 40, 50 anos certamente se lembrarão dele. Quando não havia internet nós consumíamos o que a TV mostrava. E às vezes tínhamos que escolher entre programas de fofocas, ou aqueles de porta de cadeia, ou desenhos animados. Eu preferia os desenhos animados.

E o tal do Dick Vigarista era um personagem curioso. Ele nunca venceu uma das muitas corridas malucas – e não era porque seu carro era pior do que os carros dos demais competidores, pelo contrário, ele tinha um possante carro turbinado, talvez o melhor entre os competidores.

Mas ele nunca ganhava porque, além de não correr até a linha de chegada, queria correr (ou impedir) a corrida dos outros. Em mais de uma história ele estava a poucos metros da linha de chegada e então parava para criar algum embaraço mirabolante para os que vinham atrás – e alguns, aos pedaços, ajudavam os outros a chegarem. Dick serve de ilustração para que nós tomemos três atitudes na nossa vida cristã:

a. CORRA SUA CARREIRA

Você, ao ouvir o evangelho, foi chamado para correr uma carreira, a carreira da fé, rumo à Jerusalém celestial. Quando você crê em Jesus você se torna um cidadão da nova Jerusalém – é como se você já estivesse lá (Hb 12:22 Mas tendes chegado ao monte Sião e à cidade do Deus vivo, a Jerusalém celestial, e a incontáveis hostes de anjos, e à universal assembléia).

O Senhor tomou a decisão de te conduzir até lá. E ele vai te conduzir. Nada, nenhum poder no universo pode mudar isso. O Senhor não muda. E o Senhor não pode ser impedido de realizar o seu propósito.

Mas há algo que você tem que fazer – você tem que caminhar. Se você não tiver vontade ele efetuará em você o querer e o realizar (Fp 2:13 porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade).

Se você não tiver força alguma ele vai multiplicar o seu zero e te dar força e vigor. Para isso você só tem que esperar nele, só tem que confiar – e obedecer, guardar seus mandamentos sem se desviar nem para a direita nem para a esquerda.

Você tem que ser crente, tem que ser obediente, tem que ser fiel. Tem que correr a sua carreira. O autor e consumador é Cristo, mas a sua carreira pode não ter o mesmo ritmo, as mesmas lutas ou as mesmas alegrias de um irmão de caminhada.

b. CORRA COMO EQUIPE

Esta caminhada não é solitária. É a sua caminhada, você só chegará final se caminhar, mas você não está sozinho. Você tem a obrigação de ajudar seu irmão a carregar a carga dele, e ele a sua. Quando você estiver desanimado você deve estimulá-lo, e quando você cair ele estará de pé ao seu lado para estender a mão e te ajudar a caminhar.

Você não está competindo com seu irmão. Você é parte de um mesmo corpo, e no corpo há aqueles que fazem, há os que suportam, mas todos tem sua utilidade (1Co 12:12 Porque, assim como o corpo é um e tem muitos membros, e todos os membros, sendo muitos, constituem um só corpo, assim também com respeito a Cristo). Você não precisa tomar o lugar de ninguém para ser útil no reino, para correr a sua carreira.

Você não ganhará nada se não o ajudar – e muito menos ainda se o derrubar (1Co 12:26 De maneira que, se um membro sofre, todos sofrem com ele; e, se um deles é honrado, com ele todos se regozijam). Na verdade, você deve suportar seu irmão nas suas fraquezas e ajudá-lo na caminhada, você ganhará muito mais quando renunciar ao que é propriamente seu pelo bem do seu irmão, seguindo o exemplo de Cristo (Fp 2:4 Não tenha cada um em vista o que é propriamente seu, senão também cada qual o que é dos outros).

c. MANTENHA O FOCO

Dick nunca ganhava a corrida porque, na verdade, apesar de cobiçar a vitória, ela não era a sua prioridade. Seu caráter, a inclinação maligna do coração tinha como prioridade impedir outros competidores de ganhá-la. O seu foco não era sua vitória, era a derrota, era o fracasso do outro. E nisso ele se empenhava com muita criatividade.

Muitos cristãos não conseguem viver uma vida cristã satisfatória por uma razão lamentável: ela não é sua prioridade. Há outras vozes, outras luzes, outros sons, outros tons, outras prioridades.

Como alguém pode ser cristão e nunca ter tempo para a comunhão? Pode um cristão não ter tempo para as orações individuais em um canto secreto? Pode um cristão não se dedicar a ler e meditar nas sagradas escrituras, não ter prazer nelas nem se agradar em conhecer a vontade de seu Senhor?

Que cristianismo é este que se tornou apenas mais um compromisso na agenda – e muitas vezes um compromisso escrito a lápis ou pregado com um post it. O lápis pode ser apagado, o post it pode ser arrancado sem deixar marcas e assim o amor de muitos vai se esfriando.

Mas será isto mesmo o que o autor da carta aos hebreus ensina à igreja: correr, com perseverança, a carreira que está proposta, olhando firmemente para o autor e consumador da fé?

Quero concluir com alguns conselhos:

i. Lembre-se que você tem uma carreira para correr, uma corrida rumo a um alvo, a uma recompensa que é sua, e que você só precisa correr perseverantemente a carreira para receber;

ii. Para chegar lá você tem que estar preparado. Seu coração tem que pertencer a Jesus, sua mente precisa ser renovada e alimentada pela Palavra de Deus, seu vigor precisa ser mantido em comunhão com o Espírito Santo e com a igreja do Senhor;

iii. Você não pode desistir – pode ser que tenha momentos em que a corrida seja de obstáculos, ou uma maratona, mas você não pode deixar de prosseguir até poder dizer que combateu o bom combate, completou a carreira e guardou a fé;

iv. Não se deixe desviar – o alvo da sua vocação é Jesus Cristo. Ele tem em suas mãos a coroa da vida, o prêmio da vida eterna que você tanto deseja, e que ele já conquistou para você.

Então, crente, prossiga!

sábado, 26 de abril de 2025

JOSEBE-BASSEBETE, ELEAZAR E SAMAH, OS TRÊS VALENTES DE DAVI: CORAGEM, PERSEVERANÇA E COMPROMETIMENTO COM O REINO A QUALQUER CUSTO

 APRENDENDO COM OS TRÊS

VALENTES 

DE DAVI!

Uma queixa recorrente nos lábios de muitos membros ativos na Igreja é que eles trabalham mais que os outros, se esforçam há anos sem apoio da maioria da Igreja. É uma queixa justa, verdadeira. É um fato que, em média, uma Igreja com 30% de membros ativos já pode se considerar afortunada.

E já foi observado que, quando a barreira dos 50% de envolvimento é ultrapassada, a Igreja experimenta um crescimento numérico, em comunhão e espiritualidade sem precedentes, um avivamento com resultados semelhantes aos primeiros dias da congregação - quando a média de envolvimento geralmente é muito superior a 50%.

Embora alguns reclamem que “falta espaço” para desenvolverem seus dons e talentos, a verdade é que, quando se deseja algum espaço, deseja-se o espaço do outro, fazer o que outro já está fazendo, e isto gera uma mera troca, uma mera substituição que não aumenta a participação geral - e aqueles que se encostaram não apresentam nenhuma alternativa para que seu potencial, dons e talentos seja aproveitado, sem falar que acabam criando alguma raiz de amargura ou ressentimento.

Se este é um problema real, como animar os que já estão no batente para que continuem e, ao mesmo tempo, como despertar os que ainda não se engajaram com todo o vigor para que se comprometam?

As crises são excelentes momentos para demonstrar o caráter e a disposição das pessoas em relação à obra de Deus. Ser cristão na crista da onda, ser filho do rei, viver um cristianismo tranquilo e vida mansa, com tudo indo bem, a igreja cheia, muitas atividades, boas pregações, cultos animados e bem musicados não apresenta dificuldade alguma.

Aliás, não só não apresenta dificuldades como acaba atraindo muitos que se acostumam ao ambiente, gostam das atividades, mas sem que tenham realmente nascido de novo.

Mas, quando chega a tempestade, quando chegam as crises, quando chegam as dificuldades, quando dar algo mais, andar a segunda milha, perdoar o ofensor, suportar a perseguição se torna um imperativo, eis o momento de saber quem, realmente, está edificado na rocha (Lc 6.47: Todo aquele que vem a mim, e ouve as minhas palavras, e as pratica, eu vos mostrarei a quem é semelhante. É semelhante a um homem que, edificando uma casa, cavou, abriu profunda vala e lançou o alicerce sobre a rocha; e, vindo a enchente, arrojou-se o rio contra aquela casa e não a pôde abalar, por ter sido bem construída) e quem era apenas planta sobre a rocha (Mt 13.20: O que foi semeado em solo rochoso, esse é o que ouve a palavra e a recebe logo, com alegria; mas não tem raiz em si mesmo, sendo, antes, de pouca duração; em lhe chegando a angústia ou a perseguição por causa da palavra, logo se escandaliza).

A Palavra de Deus nos apresenta três homens, quase esquecidos na história, de quem quase nada ouvimos falar, mas que foram contados entre os mais valentes guerreiros de Israel, ante os quais nem mesmo os grandes generais, que aparecem mais, como Joabe, Urias, Abisai ou Benaia, conseguiram sobressair. Eram homens de uma têmpera diferente. Quem são eles e porque podem nos servir de exemplo para a Igreja de nossos dias - especialmente quando não estamos em campo de batalha, pelo menos não ainda nem com espadas e lanças?

Sua história é contada em 2Sm 23.8-17.

Josebe-Basebete, Eleazar e Samah. Quem são estes homens? De onde vieram? Em que trabalhavam? Eram daqueles homens amargurados de espírito, endividados, homens rejeitados pela sociedade, certamente desprezados que consideravam seu mundo, sua cidade, um local que não era mais seu (1Sm 22.1-2: Davi retirou-se dali e se refugiou na caverna de Adulão; quando ouviram isso seus irmãos e toda a casa de seu pai, desceram ali para ter com ele. Ajuntaram-se a ele todos os homens que se achavam em aperto, e todo homem endividado, e todos os amargurados de espírito, e ele se fez chefe deles; e eram com ele uns quatrocentos homens).

Não precisamos nos preocupar com suas famílias, embora eles as tivessem. Também tinham esposas, filhos, não eram diferentes de nós - mas não estavam satisfeitos com a vida que tinham, talvez nem mesmo soubessem o que buscavam - e aceitaram a liderança de Davi, homem de guerra, valoroso, cantado em Israel (1Sm 18.7: As mulheres se alegravam e, cantando alternadamente, diziam: Saul feriu os seus milhares, porém Davi, os seus dez milhares) e fora de suas fronteiras (1Sm 21.11: Porém os servos de Aquis lhe disseram: Este não é Davi, o rei da sua terra? Não é a este que se cantava nas danças, dizendo: Saul feriu os seus milhares, porém Davi, os seus dez milhares?) como um grande general.

SEJA CORAJOSO

Que lições podemos aprender com eles? A primeira e importante lição a aprender é o que fazer quando você realmente tiver que enfrentar uma grande tarefa por si mesmo.

Tomemos como exemplo Josebe-Bassebete.

JOSEBE-BASSEBETE

8 São estes os nomes dos valentes de Davi: Josebe-Bassebete, filho de Taquemoni, o principal de três; este brandiu a sua lança contra oitocentos e os feriu de uma vez.

Não sabemos em que situação Josebe-Bassebete teve que se defrontar com oitocentos adversários. Mas seu feito fê-lo ser contado como o principal dos três - depois deles tinha uma elite de 30, após grupos de 50, de 100 e de 500. No meio de uma multidão de soldados temos Josebe-Bassebete. Onde estava? Numa fortaleza, numa rocha, num caminho? Não sabemos. Mas enfrentou e venceu 800 homens. Em quanto tempo? Horas, dias? Não sabemos. Mas enfrentou e venceu 800.

Se lhe é difícil ver um homem, sozinho, com uma lança, vencer tantos inimigos indo sobre ele como uma horda, para mim também é. Não sei como foi. Mas, se preferi pensar em um soldado defendendo um posto avançado e os inimigos indo em ondas contra ele, e ele os derrotando pouco a pouco, também é extraordinário por causa da sua perseverança. O que é certo é que 800 é mais que um. Que a força de 800 é maior que a força de um só.

Experimente tomar uma barra com uns 3 kg de peso e fazer, 800 vezes, o movimento de espetá-la em uma madeira (com a vantagem, sua, de que a madeira não se desvia, você não precisa repetir, e repetir, até achar uma brecha para feri-la). Certamente vai se cansar.

O que quero destacar é que Josebe-Bassebete se destacou entre todos os soldados de Davi, sem cargos, sem títulos, sem honras, porque fez o que lhe chegou às mãos para fazer. Ninguém recriminaria este homem se ele abandonasse o seu posto. Ninguém o recriminaria se ele negociasse com os adversários. Mas se ele tivesse feito isto eu não estaria apresentando para você um dos três mais de Davi.

Onde estavam os outros soldados? Não tenho a menor ideia. Havia outros soldados. Pelo menos mais 400. Mas somente este foi corajoso para enfrentar a horda, para enfrentar a batalha, a oposição.

Quero destacar, porque a bíblia o faz, Josebe-Bassebete como um homem de coragem, que não temia a luta. E é como um homem de coragem que Deus retirou do quase anonimato para colocá-lo diante de nós como um exemplo a ser seguido. Se você realmente estiver sozinho, se realmente tiver que fazer uma grande tarefa por si mesmo, a primeira coisa que você precisa ter é consciência do tamanho e da importância da obra que estás fazendo (Ne 6.3: Enviei-lhes mensageiros a dizer: Estou fazendo grande obra, de modo que não poderei descer; por que cessaria a obra, enquanto eu a deixasse e fosse ter convosco?) e, quanto maior a obra, quanto mais importante ela seja, maiores serão os obstáculos.

Lembro-me com emoção de uma canção que fala de um incêndio na savana. Enquanto todos os animais fogem desesperados, um pequeno passarinho vai e volta a uma fonte, enche o seu biquinho de água e joga-a sobre o fogaréu. O grande leão, passando-se por sábio, diz-lhe zombeteiramente que é inútil, que ele não vai conseguir – arrancando gargalhadas das hienas. Ao que o passarinho diz: “Estou fazendo a minha parte”.

Talvez você seja muito bom no seu trabalho. Talvez seja o melhor. E isto é bom, a bíblia manda que você seja mesmo (Pv 22:29 Vês a um homem perito na sua obra? Perante reis será posto; não entre a plebe). Ser menos do que o melhor que você puder é pecado (Cl 3.23: Tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo o coração, como para o Senhor e não para homens, cientes de que recebereis do Senhor a recompensa da herança. A Cristo, o Senhor, é que estais servindo).

Mas talvez, na casa de Deus, na obra de Deus, você seja como um passageiro em um barco. Isto incomoda ao Senhor (Lc 3.9: E também já está posto o machado à raiz das árvores; toda árvore, pois, que não produz bom fruto é cortada e lançada ao fogo). E o que incomoda ao Senhor deve nos incomodar também. E incomodo pior ainda é ser cortado e lançado no fogo.

Tem passageiro que, mais que simplesmente ser carregado pelos demais, é também fonte de desequilíbrio. Nada faz, e ainda atrapalha. Isto também incomoda ao Senhor como se fosse uma pedra de tropeço (Mt 16.23: Mas Jesus, voltando-se, disse a Pedro: Arreda, Satanás! Tu és para mim pedra de tropeço, porque não cogitas das coisas de Deus, e sim das dos homens) e não conta nem de longe com a aprovação do Senhor, pelo contrário, só pode esperar duro julgamento (Mt 18.6: Qualquer, porém, que fizer tropeçar a um destes pequeninos que creem em mim, melhor lhe fora que se lhe pendurasse ao pescoço uma grande pedra de moinho, e fosse afogado na profundeza do mar).

O que fazer? É preciso conversão, é preciso arrependimento do pecado da omissão e da inação e até da oposição, e é preciso que o pecado seja abandonado e passe a praticar obras que mostrem que houve arrependimento para Deus (At 8.22: Arrepende-te, pois, da tua maldade e roga ao Senhor; talvez te seja perdoado o intento do coração). Se é verdadeiramente cristão é preciso que se lembre de quando você se converteu, da alegria da conversão, dos primeiros passos na fé. Não é tarde, ainda (Ap 2.5: Lembra-te, pois, de onde caíste, arrepende-te e volta à prática das primeiras obras; e, se não, venho a ti e moverei do seu lugar o teu candeeiro, caso não te arrependas).

O segundo exemplo é o de Eleazar.

ELEAZAR

9 Depois dele, Eleazar, filho de Dodô, filho de Aoí, entre os três valentes que estavam com Davi, quando desafiaram os filisteus ali reunidos para a peleja. Quando já se haviam retirado os filhos de Israel, 10 ele se levantou e feriu os filisteus, até lhe cansar a mão e ficar pegada à espada; naquele dia, o SENHOR efetuou grande livramento; e o povo voltou para onde Eleazar estava somente para tomar os despojos.

Eleazar viveu uma situação que é, para muitos, simplesmente revoltante. Estavam em campanha militar, enfrentando os sempre odiados e temidos filisteus, que tantos males causaram a Israel, especialmente em seus dias de desobediência. Em determinado momento os filhos de Israel se retiraram, provavelmente um interregno entre uma batalha e outra. Mas não Eleazar. Ele permaneceu, e irrompeu contra os filisteus, sozinho.

Lutou tanto tempo, desferiu tantos golpes, venceu tantos inimigos a ponto de, de tanto apertar o punho da espada em suas mãos, elas já não o obedeciam mais, seus dedos não abriam mais. A espada era como uma extensão de si mesmo - sem ela ele não viveria mais. É uma experiência semelhante à de um motorista que dirige por longas horas a ponto de sua mão endurecer. Recentemente tive esta experiência ao pilotar um cortador de grama. Depois de algumas horas era difícil soltar o aparelho.

Será que, no meio da luta, ele se questionou sobre o que estava fazendo? Ou porque estava ali? Ou onde estavam seus companheiros? Provavelmente, se ele houvesse feito isso, estaríamos contando aqui a história da morte de um insensato. Ele tinha um foco, uma meta, e só pensava em desviar de um ataque, desferir outro golpe, e outro, e outro, sabendo que sempre viria mais um filisteu para tentar mata-lo. Ele não tinha o direito de vacilar um instante sequer.

A Escritura acrescenta um detalhe a mais, muito interessante, na história de Eleazar: após ele ter vencido, o povo voltou. Os “ausentes” retornaram, apareceram. É como a polícia nos filmes: depois de dois mil tiros, dezenas de carros destruídos, explosões, helicópteros, aviões e bombas atômicas, finalmente aparecem - bem na hora do beijo do casal de mocinhos. O povo apareceu, mas não foi para ajudá-lo, nem mesmo para ver se havia ferimentos que precisavam ser tratados. Voltaram para usufruir da vitória, dividir os despojos. Talvez isto revolte você. Você trabalha tanto, corre tanto para que as coisas aconteçam na Igreja e, quando é dia de festa, quem não trabalha aproveita até mais do que você.

Não desanime, ocorre que os nomes dos israelitas desapareceram da história, e estamos aqui aprendendo com Eleazar, instrumento de Deus para benção do seu povo. Diz o texto que, naquele dia, por meio de Eleazar, o Senhor efetuou grande livramento. Não te é suficiente o reconhecimento do seu Senhor (Mt 25.23: Disse-lhe o senhor: Muito bem, servo bom e fiel; foste fiel no pouco, sobre o muito te colocarei; entra no gozo do teu senhor)? Não espere o reconhecimento dos homens, porque isto era o que os fariseus buscavam, isto é religiosidade vazia e vanglória humana (Mt 6.2: Quando, pois, deres esmola, não toques trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas, nas sinagogas e nas ruas, para serem glorificados pelos homens. Em verdade vos digo que eles já receberam a recompensa).

O terceiro exemplo que nos interessa é Samah.

SAMAH

11 Depois dele, Samah, filho de Agé, o hararita, quando os filisteus se ajuntaram em Leí, onde havia um pedaço de terra cheio de lentilhas; e o povo fugia de diante dos filisteus12 Pôs-se Samah no meio daquele terreno, e o defendeu, e feriu os filisteus; e o SENHOR efetuou grande livramento.

Não sabemos quantos filisteus Samah enfrentou. Mas ele defendeu um pedaço de terra cultivável contra os inimigos do povo de Deus em campo aberto. Se no relato sobre Josebe-Basebete não se menciona onde estava o povo, de Eleazar é dito que eles haviam se retirado. Mas aqui o escritor insere uma informação dramática: o povo fugia de diante dos filisteus.

Mas Samah ficou. E enfrentou os inimigos. Proporcionou o tempo necessário para que os covardes se distanciassem e ficassem em segurança. Quem eram eles? Era o povo de Deus. Seus nomes? Só Deus sabe. Mas sabemos o nome de Samah. Um dos três valentes de Davi. Esqueça Chuck Norris, esqueça Rambo ou Schwarzenegger. Samah é que o cara. Sem rifles, bazucas ou coisas semelhantes, com uma espada e um escudo, e com a certeza de estar fazendo a vontade de Deus envergonhou não somente os filisteus, mas, também, os judeus que são retratados como covardes.

Creio que Samah também não vacilou pensando em que havia fugido, conjecturando porque eles eram não foram firmes e valentes. Ele apenas fez o que tinha que fazer, e mais uma vez a frase “naquele dia o Senhor efetuou grande livramento” vai aparecer.

Josebe-Basebete, Eleazar e Samah faziam o seu trabalho e o Senhor fazia a sua obra através deles. Eles eram o que eram, soldados em campo de batalha. E soldados tem uma missão apenas - batalhar. Há uma estória de um soldado que foi pego abandonando o seu posto durante uma batalha. Por causa de seu gesto impensado a batalha quase fora perdida, porque abriu uma brecha nas falanges macedônias. Chamado diante do imperador, acusado de um crime cuja punição era a morte, o soldado não tinha justificativa alguma para ter colocado a vida dos colegas em risco. Inquirido sobre seu nome o desertou informa: “Alexandre, meu rei”. Com um brado o imperador Alexandre, o grande, o interrompe e diz-lhe para mudar de atitude, ou de nome.

Samah não abandonou seu posto. Manteve-se firme em sua atitude, como bom soldado. Que bom exemplo Samah nos dá. Como cristãos, se somos dignos deste nome (At 11.26: ...tendo-o encontrado, levou-o para Antioquia. E, por todo um ano, se reuniram naquela igreja e ensinaram numerosa multidão. Em Antioquia, foram os discípulos, pela primeira vez, chamados cristãos). Se você acha que pode ser cristão e, ao mesmo tempo, estar livre de sofrimentos provavelmente você ainda não entendeu o que é ser discípulo de Cristo ou, pior ainda, você não acredita nas palavras do mestre (Jo 16.33: Estas coisas vos tenho dito para que tenhais paz em mim. No mundo, passais por aflições; mas tende bom ânimo; eu venci o mundo). Há ainda uma terceira hipótese, trágica, que é fazer parte da lista dos que operam pelo poder de satanás (2Co 11.14-15: E não é de admirar, porque o próprio Satanás se transforma em anjo de luz. Não é muito, pois, que os seus próprios ministros se transformem em ministros de justiça; e o fim deles será conforme as suas obras).

É verdade que não temos mais os filisteus, então, que inimigos enfrentar? Podemos citar rapidamente pelo menos três desses inimigos:

I. Os erros doutrinários que ameaçam a verdadeira fé (Jd 1.3: Amados, quando empregava toda a diligência em escrever-vos acerca da nossa comum salvação, foi que me senti obrigado a corresponder-me convosco, exortando-vos a batalhardes, diligentemente, pela fé que uma vez por todas foi entregue aos santos) mesmo que o erro venha de um verdadeiro irmão na fé (Gl 2.11: Quando, porém, Cefas veio a Antioquia, resisti -lhe face a face, porque se tornara repreensível). É um equívoco pensar que é sinal de amor ao próximo não o esclarecer de seus erros. Não é incomum ouvir que é melhor uma pessoa andar no erro religioso do que em religião nenhuma. O problema é que quanto mais uma pessoa anda no erro religioso, mais endurecido vai ficando seu coração para a verdade, vai se tornando como os judeus dos dias de Jesus. Eram religiosos, mas odiavam Jesus, procuravam matá-lo. Jesus advertiu duramente a Pedro, Paulo também o fez. Por que nós nos julgamos no direito de simplesmente nos calarmos?

II. As armadilhas do diabo (Tg 4.7: Sujeitai-vos, portanto, a Deus; mas resisti ao diabo, e ele fugirá de vós). É muito comum pensar que perseguição é somente a ameaça da espada sobre a nossa cabeça, como acontece na África e em países islâmicos. Satanás é muito mais sutil do que isto, e a Igreja já vive cercada de ameaças satânicas que precisam ser enfrentadas. A estratégia é tirar um pouco de cada vez, como pequenos dardos envenenados que acabam matando todo o corpo (Ef 6.16: ...embraçando sempre o escudo da fé, com o qual podereis apagar todos os dardos inflamados do Maligno). Já vivemos dias em que a fé é atacada, a família constituída segundo o padrão da Palavra de Deus é atacada de todos os lados. Muitas Igrejas se veem obrigadas a dizer ou deixar de dizer certas coisas com medo de serem consideradas incorretas politicamente - tudo isto e o levante satânico contra tudo o que se chama Deus, querendo, ele próprio, assentar-se no lugar de Deus (2Ts 2.4: ...o qual se opõe e se levanta contra tudo que se chama Deus ou é objeto de culto, a ponto de assentar-se no santuário de Deus, ostentando-se como se fosse o próprio Deus).

III. O terceiro inimigo é mesmo a oposição carnal, declarada. O espinho dos judeus eram povos como os filisteus - na Pérsia tiveram que enfrentar homicidas como Hamã, na própria palestina apareceu um louco chamado Antioco Epifânio. Nos início do cristianismo os perseguidos (os judeus) se tornaram perseguidores (dos cristãos). Durante quase 3 séculos as forças legais romanas tudo fizeram para extirpar o cristianismo. Sobre tudo isto o Senhor já havia advertido seus discípulos (Jo 15.20: Lembrai-vos da palavra que eu vos disse: não é o servo maior do que seu senhor. Se me perseguiram a mim, também perseguirão a vós outros; se guardaram a minha palavra, também guardarão a vossa) . Antes de lamentar, lembremos que o Senhor disse que isto é uma bem aventurança (Lc 6.22: Bem-aventurados sois quando os homens vos odiarem e quando vos expulsarem da sua companhia, vos injuriarem e rejeitarem o vosso nome como indigno, por causa do Filho do Homem) e, a nós, cabe suportar tais sofrimentos (1Pe 5.9: ...resisti-lhe firmes na fé, certos de que sofrimentos iguais aos vossos estão-se cumprindo na vossa irmandade espalhada pelo mundo) entendendo isto como motivo de alegria no Senhor (1Pe 4.13: ...pelo contrário, alegrai-vos na medida em que sois coparticipantes dos sofrimentos de Cristo, para que também, na revelação de sua glória, vos alegreis exultando).

Quem nos deu o direito de pensarmos que podemos nos autointitular povo de Deus, de nos chamarmos de cristãos e acreditar que o inimigo não se importa conosco. Se cumprirmos o nosso papel de ser sal e luz, então, como sal na carne ferida, como luz para olhos acostumados com as trevas, a Igreja será um incômodo.

Mas a Igreja não incomoda. E por não incomodar, não salgar, não lançar luz em olhos que prefere as trevas a Igreja não é perseguida diretamente, mas não deve se iludir - as forças das trevas ainda querem destruí-la.

SEJA PERSEVERANTE

Passamos então, a uma segunda característica destes valentes. Além de não desanimarem nem deixarem seu posto mesmo que estivessem sozinhos, ou cercados de apáticos ou mesmo abandonados pelos covardes e aproveitadores eles eram profundamente comprometidos com a sua liderança.

A história destes valentes, companheiros de Davi, se junta quando seu líder demonstra sentir saudades de sua terra natal.

13 Também três dos trinta cabeças desceram e, no tempo da sega, foram ter com Davi, à caverna de Adulão; e uma tropa de filisteus se acampara no vale dos Refains. 14 Davi estava na fortaleza, e a guarnição dos filisteus, em Belém. 15 Suspirou Davi e disse: Quem me dera beber água do poço que está junto à porta de Belém! 16 Então, aqueles três valentes romperam pelo acampamento dos filisteus, e tiraram água do poço junto à porta de Belém, e tomaram-na, e a levaram a Davi; ele não a quis beber, porém a derramou como libação ao SENHOR.

Como sabemos, Davi era natural de Belém. Crescera nas cercanias da cidade, conhecia cada monte, cada fonte. Fugitivo, sabia que os espiões de Saul certamente avisariam caso se aproximasse da casa de Jessé, seu pai. Para piorar, os históricos inimigos dos judeus haviam montado uma guarnição impedindo o acesso à cidade.

Fora naquela região que, provavelmente, escrevera o salmo 23, enquanto cuidava dos rebanhos de ovelhas de seu pai. Havia muitas experiências e recordações. Ali meditara sobre a suficiência do Senhor na vida dos crentes (Sl 23.1: O SENHOR é o meu pastor; nada me faltará). Ali provavelmente vencera o leão e o urso (1Sm 17.34-35: Respondeu Davi a Saul: Teu servo apascentava as ovelhas de seu pai; quando veio um leão ou um urso e tomou um cordeiro do rebanho, eu saí após ele, e o feri, e livrei o cordeiro da sua boca; levantando-se ele contra mim, agarrei-o pela barba, e o feri, e o matei).

Lembranças como estas podiam estar ocupando a mente de Davi, quando suspira e manifesta o que está em seu coração: o desejo de beber água do poço que está junto à porta em Belém. Davi não pediu, não planejou ir até o poço, apenas manifestou um desejo do seu coração como, muitas vezes, desejamos estar na cidade onde nascemos, ou com pessoas às quais não vemos há muito tempo.

Nem sempre isto quer dizer que queiramos realmente ir para lá, que seja um propósito. E foi o que aconteceu. Davi estava saudoso, pensativo e suspirou.

Mas, com homens como Josebe-Basebete, Eleazar e Samah não se brinca. Eles não temiam nada, não temiam a ninguém. Algumas centenas de filisteus, para eles, não eram motivo de temor. Se separados fizeram o que fizeram, imagina então o que eram capazes de fazer juntos.

Aqueles homens possuíam um alto grau de comprometimento com o seu chamado. Não abandonavam o posto, não deixavam a peleja e, mesmo que ficassem sozinhos, somente deixariam de lutar se fossem alcançados pela morte. Ou se tornariam heróis mortos, ou permaneceriam heróis vivos. Mas, jamais se tornariam covardes, apáticos ou ausentes.

Isso é fundamental e merece destaque na atitude destes homens: o seu comprometimento com a liderança. Num mundo onde intrigas eram comuns (1Sm 22.22: Então, Davi disse a Abiatar: Bem sabia eu, naquele dia, que, estando ali Doegue, o edomita, não deixaria de o dizer a Saul. Fui a causa da morte de todas as pessoas da casa de teu pai), e tendo Davi a cabeça a prêmio porque Saul desejava matá-lo, não era muito difícil fazer algo para livrarem-se de Davi e dirigirem, eles mesmos, o bando. Mas não aqueles homens.

Eles chegaram a Davi amargurados de espírito, sem propósitos na vida, endividados (eles ou seus filhos podiam ser tornados escravos pelos seus credores). Não tinham para onde ir - e foram a Davi. Davi não era um lugar, era um líder. E eles o reconheciam como tal. Chegaram sem nada, e, depois de várias campanhas militares, vitórias contra os inimigos de Israel, se sentiam parte de alguma coisa novamente.

Estar com Davi e os outros 400 homens era algo muito importante para eles. E fora Davi que lhes proporcionara. Era seu líder. E eles tinham um profundo senso de comprometimento com a liderança. É impossível ser um homem de Deus sem ser comprometido com a liderança que o próprio Deus instituiu. Um cristão pode rejeitar uma ordem ímpia de um governante ímpio. Mas não pode ser capaz de dar um testemunho eficiente de sua fé se estiver em rebeldia contra a liderança que o próprio Deus instituiu (Rm 13.1: Todo homem esteja sujeito às autoridades superiores; porque não há autoridade que não proceda de Deus; e as autoridades que existem foram por ele instituídas), seja para alegria ou para disciplina (1Pe 2.14: ...quer às autoridades, como enviadas por ele, tanto para castigo dos malfeitores como para louvor dos que praticam o bem) de seu povo.

Paulo e Pedro dizem estas coisas num contexto de governantes romanos, ímpios, inimigos da Igreja - o que dizer, então, da submissão às autoridades dentro da Igreja. Creio que era assim que estes homens se sentiam. Impulsionados por gratidão e dedicação ao seu líder, que, sabiam, era um homem realmente ungido por Deus, através de seu profeta, Samuel (1Sm 16.12-13: Então, mandou chamá-lo e fê-lo entrar. Era ele ruivo, de belos olhos e boa aparência. Disse o SENHOR: Levanta-te e unge-o, pois este é ele. Tomou Samuel o chifre do azeite e o ungiu no meio de seus irmãos; e, daquele dia em diante, o Espírito do SENHOR se apossou de Davi. Então, Samuel se levantou e foi para Ramá), e que, no tempo de Deus, reinaria sobre Israel.

Apenas por saberem qual o desejo de Davi eles resolvem fazer o impensável - algo que nem Davi intentava fazer. Pegam suas armas, invadem o acampamento dos filisteus. Eles não entraram furtivamente, mas romperam, literalmente “dividiram, destroçaram em pedaços de forma vitoriosa” aquele destacamento filisteu. Eles entraram e saíram, o que pressupõe passar duas vezes pelo meio dos inimigos - se na primeira passagem tinham as mãos livres para batalhar, agora carregavam um tesouro.

Onde Davi estava tinha ouro. Tinha, também, joias e vestes conquistadas nas batalhas. Mas só eles tinham o que Davi queria no fundo do seu coração, um desejo que eles ouviram ser mencionado em meio a um suspiro. Só eles tinham este tesouro, e não seria um mero destacamento filisteu a tomar isso deles.

O que vemos aqui é comprometimento com a liderança. Comprometimento total e absoluto. Aqueles homens tinham sua vida totalmente comprometidas com a sua tarefa - lutar. E tinham sua vida totalmente comprometida com a liderança que possuíam.

É obvio que não queremos que os membros da Igreja se façam cegos e se deixem guiar por outros cegos (Mt 23.16: Ai de vós, guias cegos, que dizeis: Quem jurar pelo santuário, isso é nada; mas, se alguém jurar pelo ouro do santuário, fica obrigado pelo que jurou!). O Senhor diz para a Igreja ser criteriosa, julgar todas as coisas, provando os espíritos (1Jo 4.1: Amados, não deis crédito a qualquer espírito; antes, provai os espíritos se procedem de Deus, porque muitos falsos profetas têm saído pelo mundo fora), e retendo apenas o que é bom (1Ts 5.21: ...julgai todas as coisas, retende o que é bom).

Embora haja quem defenda uma obediência cega às autoridades - especialmente eclesiásticas - sob a desculpa de que são os “ungidos do Senhor” precisamos entender que, mesmo os que foram ungidos pelo Senhor, nas páginas das Escrituras, agiram com estultícia e por isso foram, posteriormente, rejeitados pelo Senhor (1Sm 15.26: Porém Samuel disse a Saul: Não tornarei contigo; visto que rejeitaste a palavra do SENHOR, já ele te rejeitou a ti, para que não sejas rei sobre Israel). Ordens insensatas não foram feitas para serem obedecidas (1Sm 14.24-27: Estavam os homens de Israel angustiados naquele dia, porquanto Saul conjurara o povo, dizendo: Maldito o homem que comer pão antes de anoitecer, para que me vingue de meus inimigos. Pelo que todo o povo se absteve de provar pão. Todo o povo chegou a um bosque onde havia mel no chão. Chegando o povo ao bosque, eis que corria mel; porém ninguém chegou a mão à boca, porque o povo temia a conjuração. Jônatas, porém, não tinha ouvido quando seu pai conjurara o povo, e estendeu a ponta da vara que tinha na mão, e a molhou no favo de mel; e, levando a mão à boca, tornaram a brilhar os seus olhos).

Observe que o julgamento sobre Saul é que, com sua ordem insensata, ele perturbou a terra e impediu um progresso maior do povo de Deus (1Sm 14.29-30: Então, disse Jônatas: Meu pai turbou a terra; ora, vede como brilham os meus olhos por ter eu provado um pouco deste mel. Quanto mais se o povo, hoje, tivesse comido livremente do que encontrou do despojo de seus inimigos; porém desta vez não foi tão grande a derrota dos filisteus).

Mas, estamos falando de santos, de quem tem o propósito de servir a Deus com o melhor que tiver, a ponto de comprometer a própria vida nesta tarefa. Queremos o progresso da obra, queremos o crescimento da casa de Deus, então, não pretendemos perder tempo com rebelião (1Sm 15.23: Porque a rebelião é como o pecado de feitiçaria, e a obstinação é como a idolatria e culto a ídolos do lar. Visto que rejeitaste a palavra do SENHOR, ele também te rejeitou a ti, para que não sejas rei) ou dividindo a nossa casa porque, assim procedendo, ela não subsistirá (Mt 12.25: Jesus, porém, conhecendo-lhes os pensamentos, disse: Todo reino dividido contra si mesmo ficará deserto, e toda cidade ou casa dividida contra si mesma não subsistirá).

Precisamos ser cuidados e criteriosos porque, embora o Senhor Jesus tenha prometido que as portas do inferno não prevaleceriam contra a Igreja (Mt 16.18: Também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela) ele certamente estava se referindo à sua Igreja, àqueles que estão em união mística com ele e não a uma instituição ou a um lugar, erro cometido pelos judeus e samaritanos (Jo 4.20: Nossos pais adoravam neste monte; vós, entretanto, dizeis que em Jerusalém é o lugar onde se deve adorar), especialmente os judeus que confiaram, supersticiosamente, muito mais no templo (Jr 7.4: Não confieis em palavras falsas, dizendo: Templo do SENHOR, templo do SENHOR, templo do SENHOR é este) que no Senhor (1s 6.3: E clamavam uns para os outros, dizendo: Santo, santo, santo é o SENHOR dos Exércitos; toda a terra está cheia da sua glória).

Nas nossas Igrejas existem pastores, oficiais, líderes de sociedades e departamentos e é desejável que todos tenham como meta o bem do reino, o crescimento da Igreja nas mais diversas áreas: espiritual, econômica, frequência, numérica, comunitária. Deve ser relativamente incomum (embora a experiência demonstre a existência) de pessoas que assumem a liderança de uma entidade sem o propósito de abençoá-las, querendo, somente, usufruir delas para sua satisfação pessoal.

Davi tinha desejos pessoais, mas nem sequer passava por sua cabeça pedir aos seus valentes que cometessem uma ação temerária como aquela - e se o fizesse demonstraria estar interessado somente em seu bem-estar pessoal, e não dos seus liderados. Mas, por outro lado, eles conheciam Davi, e sabiam que era um líder sensato, prudente e competente.

Aqui temos o perfil de um líder adequado e de liderados adequados - isto é ainda mais relevante quando lembramos que os três eram os maiores guerreiros de Davi, líderes, portanto, dentro da comunidade. Para alguém ser benção na Igreja do Senhor tem que entender que, por graça e bondade, o Senhor concedeu à Igreja diversas formas de lideranças, tais como pastores (cuidado e assistência, administração), mestres (ensino e direção espiritual), guias (com a visão e conhecimento do que é melhor para o corpo).

A uns o Senhor colocou por olhos, outros por mãos e outros por outros membros (1Co 12.16-18: Se o ouvido disser: Porque não sou olho, não sou do corpo; nem por isso deixa de o ser. Se todo o corpo fosse olho, onde estaria o ouvido? Se todo fosse ouvido, onde, o olfato? Mas Deus dispôs os membros, colocando cada um deles no corpo, como lhe aprouve) e é só quando cada um desempenha sua função que o corpo é abençoado (Ef 4.16: ...de quem todo o corpo, bem ajustado e consolidado pelo auxílio de toda junta, segundo a justa cooperação de cada parte, efetua o seu próprio aumento para a edificação de si mesmo em amor).

Colocando um espelho diante de nós, aliás, não um espelho, mas uma lente, um microscópio, de preferência o mais poderoso que há: a lente do Espírito (Sl 139.1-3: SENHOR, tu me sondas e me conheces. Sabes quando me assento e quando me levanto; de longe penetras os meus pensamentos. Esquadrinhas o meu andar e o meu deitar e conheces todos os meus caminhos), perscrutando o nosso coração e dizendo-nos quem nós somos, por um lado, filhos de Deus (Rm 8.16: O próprio Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus) e, por outro, nos convencendo do nosso pecado, da justiça e do juízo de Deus (Jo 16.8: Quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, da justiça e do juízo) nós percebemos que há muito a aprender com o exemplo destes homens. E, mesmo filhos de Deus, somos filhos que ainda estão em processo de educação (1Jo 3.2: Amados, agora, somos filhos de Deus, e ainda não se manifestou o que haveremos de ser. Sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque haveremos de vê-lo como ele é).

Precisamos aprender a nos comprometer, não cegamente, mas inteligentemente, espiritualmente, com a liderança da nossa Igreja. Aprender que somos parte de um corpo e que estamos nele para o crescimento de todos, e não para a nossa satisfação exclusiva, porque isto se chama parasitismo. Comprometimento é não ser como criança mimada cuja principal brincadeira é ter a sua vontade atendida, em qualquer área, do contrário logo fica num canto e diz: “não brinco mais”.

É uma benção quando o corpo anda junto. O exemplo do Senhor Jesus é maravilhoso. Ele diz que veio pela vontade do Pai (João 8:42 Replicou-lhes Jesus: Se Deus fosse, de fato, vosso pai, certamente, me havíeis de amar; porque eu vim de Deus e aqui estou; pois não vim de mim mesmo, mas ele me enviou) para fazer a vontade do Pai (Jo 4.34 Disse-lhes Jesus: A minha comida consiste em fazer a vontade daquele que me enviou e realizar a sua obra). Se Jesus submeteu a sua vontade ao Pai, porque nós não podemos fazer o mesmo, nos submetendo às autoridades que ele colocou sobre nossas vidas, sejam pastores, presbíteros, diáconos, presidentes de sociedades?

Não podemos fazer como os judeus, nos omitindo, escondendo, fugindo - prontos a criticar se não der certo, mas também, aparecendo rapidinho na hora de colher os louros. Se fizermos isso será para nossa vergonha ver que um, sozinho, ou três, fizeram mais que multidões.

Se você está fazendo sozinho, não desista. Se lhe parece estar lutando sozinho, e talvez esteja mesmo, não desanime. O que precisa ser feito tem que ser feito. É muito - é, provavelmente é. Mas, se você não tentar, ninguém fará. Por maiores que sejam os obstáculos o que você fizer será contado como obra do Senhor, como o texto fala duas vezes - a obra foi do Senhor.

Continue, pois quem sabe apareçam mais alguns para ficar do seu lado, fazer ainda mais do que já tem sido feito. Se você parar, talvez deixe sozinho outro que está lutando a mesma luta que você, talvez buscando a mesma coisa que você busca - um companheiro de armas.

SEJA COMPROMISSADOS

Mas a história destes homens não termina aqui. Precisamos falar dos resultados de sua ação. Sozinhos, enfrentaram enormes desafios. Juntos, mostraram grande compromisso com a sua liderança. De que isto adiantou? A resposta é simples: o Senhor recebeu glória por isso.

16 Então, aqueles três valentes romperam pelo acampamento dos filisteus, e tiraram água do poço junto à porta de Belém, e tomaram-na, e a levaram a Davi; ele não a quis beber, porém a derramou como libação ao SENHOR. 17 E disse: Longe de mim, ó SENHOR, fazer tal coisa; beberia eu o sangue dos homens que lá foram com perigo de sua vida? De maneira que não a quis beber. São estas as coisas que fizeram os três valentes.

Quanto valia aquela água para alguém que tinha ouro, que tinha prata, joias e roupas caras? A água em si mesma tinha o mesmo valor e efeito que qualquer outra água, de qualquer outro poço de Israel. Mas ali estava uma prova de companheirismo, camaradagem, comprometimento. Ali estava o esforço de três guerreiros - por aquela água eles arriscaram a própria vida, e é bem provável que tivessem sofrido alguma espécie de ferimento.

Há coisas que são preciosas pelo seu valor, por quanto pode-se obter por elas no mercado. Mas há coisas que são muito mais valiosas pelo que representam. Todos nós sabemos disso, temos coisas que não vendemos “por dinheiro algum” e que se levássemos a uma loja de penhores não conseguiríamos vender por dinheiro nenhum. É diante de uma destas preciosidades que estamos. Tem coisas que não podem ser compradas, e lealdade é uma delas. Davi imediatamente percebeu que estava diante de algo de valor ilimitado, e fez o que um homem segundo o coração de Deus faria (At 13.22: E, tendo tirado a este, levantou-lhes o rei Davi, do qual também, dando testemunho, disse: Achei Davi, filho de Jessé, homem segundo o meu coração, que fará toda a minha vontade). Se o valor é ilimitado, então, deve ser entregue a quem merece toda a honra e louvor (Sl 145.3: Grande é o SENHOR e mui digno de ser louvado; a sua grandeza é insondável).

Se você não conhecesse a história de Davi, o que você faria? Imaginemos que você, pastor, presidente de SAF, missionário, fosse fazer uma visita numa região de difícil acesso e lhe servissem um suco, da fruta que você mais gosta, porque seus anfitriões ouviram você falar em algum lugar que era sua preferida e resolveram fazer o máximo para te agradar. Antes, porém, de você tomar o suco, lhe contam a história de como ele foi conseguido - alguém teve que atravessar, a nado, um pequeno rio infestado de piranhas e arraias. O que você faria? Tomaria o suco?

Eu tenho certeza que, para não contrariar seus anfitriões, você tomaria e pediria um pouco mais. E creio que seu anfitrião ficaria muito feliz com isto. Certa feita, fazendo um Cross country tour na transamazônica, após 5 visitas em uma manhã, 2 cafés da manhãs e 3 sucos diferentes (cupuaçu, graviola e bacaba) cheguei à sexta e última visita antes de tomar o rumo de casa. A irmã, recém-convertida, havia preparado um suco de goiaba (um dos meus preferidos) e preparado a mesa, com bolo e alguns biscoitos.

Depois de 80km de estradas vicinais numa XLR velha, muitos buracos, raízes, córregos, pontes de uma madeira só, colchetes, cancelas, gado no meio no pasto, mais buracos, o estômago já não aguentava mais nada. Foi difícil ter coragem para agradecer e não tomar.

Este quadro ilustra de maneira pequena - toda ilustração é apenas um resumo do que se pretende mostrar - o que aconteceu naquele momento que os três guerreiros entregam a água a Davi. Aquilo era grande, prova de um grande carinho, de uma grande consideração - grande demais para um homem receber. E por isso Davi oferece a Deus.

Embora aqueles homens não tivessem a preocupação de culto enquanto lutavam contra os filisteus, observe que por duas vezes (v. 10 e 12) a bíblia diz que, por meio deles, o próprio Senhor efetuou grande livramento. Por duas vezes suas ações glorificaram a Deus. Por duas vezes o povo de Deus teve motivos para louvar ao Senhor - aliás, sempre temos motivos para louvar ao Senhor (Dt 3.24: Ó SENHOR Deus! Passaste a mostrar ao teu servo a tua grandeza e a tua poderosa mão; porque que deus há, nos céus ou na terra, que possa fazer segundo as tuas obras, segundo os teus poderosos feitos?) e quando ele efetua suas obras maravilhosas, quando contemplamos seus feitos poderosos só nos resta louvá-lo ainda mais intensamente.

 Davi sabia da importância do culto correto ao Senhor, de cultuá-lo com coração integro. Mais tarde não aceitaria que Araúna pagasse pelo sacrifício que ele deveria oferecer (2Sm 24.22-24: Então, disse Araúna a Davi: Tome e ofereça o rei, meu senhor, o que bem lhe parecer; eis aí os bois para o holocausto, e os trilhos, e a apeiragem dos bois para a lenha. Tudo isto, ó rei, Araúna oferece ao rei; e ajuntou: Que o SENHOR, teu Deus, te seja propício. Porém o rei disse a Araúna: Não, mas eu to comprarei pelo devido preço, porque não oferecerei ao SENHOR, meu Deus, holocaustos que não me custem nada. Assim, Davi comprou a eira e pelos bois pagou cinquenta siclos de prata). Não havia como devolver o presente dos guerreiros. Não havia como não aceitar o presente - já estava ali, já custara enorme esforço e risco de seus companheiros - só lhe restava considerar aquilo digno não de um homem, mas do verdadeiro Deus.

No meio de uma multidão de omissos a prontidão glorifica a Deus. Em meio à covardia a bravura destes homens glorifica a Deus. Quando muitos simplesmente lamentariam a impossibilidade o comprometimento destes homens com seu líder e seu Deus resulta numa inigualável demonstração de lealdade e, também, de consideração do esforço dos liderados - com mais uma oferta ao Senhor à partir de um coração moldado pelo Senhor.

Este é um acontecimento que ilustra com clareza cristalina o que realmente significa fazer as coisas como para o Senhor (Cl 3.23 -24: Tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo o coração, como para o Senhor e não para homens, cientes de que recebereis do Senhor a recompensa da herança. A Cristo, o Senhor, é que estais servindo). Fazer todas as coisas como para o Senhor não quer dizer fazer tudo pensando: “Ah! Isto vai agradar a Deus” ou “Oh! Deixe-me ver na bíblia como Deus quer que eu lave a louça esta manhã”... Não é nada disso. Paulo escreve a Tito e ilustra isto de uma maneira muito prática: os servos devem ser obedientes, submissos e honestos (Tt 2.9-10: Quanto aos servos, que sejam, em tudo, obedientes ao seu senhor, dando-lhe motivo de satisfação; não sejam respondões, não furtem; pelo contrário, dêem prova de toda a fidelidade, a fim de ornarem, em todas as coisas, a doutrina de Deus, nosso Salvador). Aos senhores, ele diz para serem justos e se lembrarem que seus servos são, também, seus iguais (Tt 3.1: Senhores, tratai os servos com justiça e com eqüidade, certos de que também vós tendes Senhor no céu). Há também instruções para pastores, presbíteros, jovens, filhos, pais...

E há, inclusive, para soldados - e estes três homens foram os melhores soldados que puderam ser. Fizeram o que sabiam fazer. Não tocaram, não profetizaram. Apenas lutaram como soldados que eram - e, se tinham a obrigação de fazer a vontade daquele que os arregimentara (2Tm 2.4: Nenhum soldado em serviço se envolve em negócios desta vida, porque o seu objetivo é satisfazer àquele que o arregimentou) então, era isso o que iriam fazer. Davi queria água? Ele teria a água que desejara.

Sem pensar em culto eles deram uma oportunidade impar para que o Senhor fosse cultuado. Sem pensar em ofertas eles produziram algo de valor inigualável para Davi ofertar ao Senhor. O senso de Deus que Davi possuía levava-o a oferecer ao Senhor o que realmente tinha valor - ele jamais ofereceria ao Senhor algo sem valor, desprezível, como Malaquias denuncia que os judeus faziam em seus dias (Ml 1.7: Ofereceis sobre o meu altar pão imundo e ainda perguntais: Em que te havemos profanado? Nisto, que pensais: A mesa do SENHOR é desprezível).

Está difícil para você? Está difícil servir ao Senhor? Está difícil produzir frutos? Falta-lhe tempo? Recursos? Falta-lhe apoio? Falta-lhe companhia? São poucos os que ainda trabalham? Não tem ninguém à sua direita ou esquerda? A vontade de desistir é maior do que a de prosseguir?

Antes de desistir, permita-me perguntar: em que isto vai glorificar a Deus? O seu fracasso, a sua desistência, o lugar vazio que você vai deixar nos remos vai glorificar a Deus em que? Ficar na zona de conforto, como expectador ou assistente vai ser muito bom para você, outros farão por você, mas em que sua vida glorificará a Deus? Creio que não haveria lugar de maior conforto que a glória, mas Cristo deixou-a e trocou-a pela cruz por você (Fp 2.5-8: Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, pois ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana, a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz).

E qual o resultado disso? Qual o resultado da humilhação de Jesus? O mesmo resultado da ousadia e coragem daqueles três bravos soldados: a glorificação do nome do Senhor (Fp 2.9-11: Pelo que também Deus o exaltou sobremaneira e lhe deu o nome que está acima de todo nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai).

É obvio que é possível escolher ficar na costumeira zona de conforto, aproveitando as bênçãos do cristianismo secularizado e acomodado do séc. XXI. Ninguém vai levantar uma voz condenatória, até porque esta é a atitude de grande parte dos cristãos atuais, da absoluta maioria. É consenso que, de cada 100 membros das Igrejas, apenas uma parcela entre 15 e 25% sejam efetivamente ativos - e que ao menos 40% contribui com sua presença e eventualmente financeiramente.

Não há comprometimento, não são, na maioria, soldados em campo de batalha. Muitos querem ser “general de Cristo” mas, ao mesmo tempo, ficar nos acampamentos apenas imaginando como deve ser a peleja - e fazendo isto com alguma eloquência. Geralmente quem menos se envolve é quem mais barulho faz.

É possível optar por ficar omisso, como os judeus ficaram quando Josebe-Bassebete enfrentou os filisteus; pode-se ainda ser ausente como eles foram quando Eleazar venceu os filisteus, ou ainda preferir a atitude semelhante à dos covardes e aproveitadores como foram quando Samah defendeu o campo de lentilhas.

Pior ainda, há ainda a opção de ficar esperando a notícia da queda dos valentes, a desistência dos que ainda lutam, como provavelmente os soldados ficaram quando souberam que eles estavam, sem apoio, indo para Belém onde teriam que enfrentar um acampamento inteiro de filisteus.

Estas atitudes são possíveis? Claro que são. Mas, quem optar por fazer assim não terá seu nome contado entre os grandes, não seremos contados entre os servos bons e fiéis, mas, certamente, estará entre os maus e negligentes (Mt 25.26: Respondeu-lhe, porém, o senhor: Servo mau e negligente, sabias que ceifo onde não semeei e ajunto onde não espalhei?) para os quais não resta outra coisa senão a reprovação do seu Senhor (Mt 25.30: E o servo inútil, lançai-o para fora, nas trevas. Ali haverá choro e ranger de dentes).

Quero lembrar uma coisa importante aos crentes. E só aos crentes. Se você é descrente, então, pode desconsiderar o que vou lhe dizer agora. É obvio que desejamos receber o galardão da mão do Senhor, mas Paulo nos faz uma interessante advertência, fazendo eco às palavras de Jesus de que somos apenas servos inúteis (Lc 17.10: Assim também vós, depois de haverdes feito quanto vos foi ordenado, dizei: Somos servos inúteis, porque fizemos apenas o que devíamos fazer). Nada feito apenas por “obrigação”, feito porque tem que ser feito agrada realmente ao Senhor. Obras vazias fruto de corações frios não agradam ao Senhor, nem mesmo o que julgamos ser mais importante: a contribuição financeira (2Co 9.7: Cada um contribua segundo tiver proposto no coração, não com tristeza ou por necessidade; porque Deus ama a quem dá com alegria) - pelo contrário, o que alegra o coração de Deus é a integridade (2Co 8.5: E não somente fizeram como nós esperávamos, mas também deram-se a si mesmos primeiro ao Senhor, depois a nós, pela vontade de Deus)

Somente aquilo que é feito de coração, com alegria, produz alegria no coração de Deus (1Co 9.17: Se o faço de livre vontade, tenho galardão; mas, se constrangido, é, então, a responsabilidade de despenseiro que me está confiada). Cada um vai receber o galardão do seu trabalho para o Senhor (1Co 3.8: Ora, o que planta e o que rega são um; e cada um receberá o seu galardão, segundo o seu próprio trabalho) - e mesmo muito trabalho, se não for para o Senhor, não tem valor algum (Mt 7.22-23: Muitos, naquele dia, hão de dizer-me: Senhor, Senhor! Porventura, não temos nós profetizado em teu nome, e em teu nome não expelimos demônios, e em teu nome não fizemos muitos milagres? Então, lhes direi explicitamente: nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a iniqüidade).

A orientação bíblica para quem está na obra é não desistir, não desanimar, continuar e ir em frente, mesmo que haja muitos e poderosos adversários (Hb 10.35: Não abandoneis, portanto, a vossa confiança; ela tem grande galardão).

 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O que você faria se estivesse lá? Se pudesse ser transportado para estes eventos, quem você seria? Um dos três valentes? Considere o que você é e isto é exatamente o que você seria. Seria constante Josebe-Bassebete? Teria a coragem de Eleazar? Imitaria a firmeza de Sama? Teria o comprometimento dos três e se reuniria com os valentes para efetuar o que todos julgavam impossível?

O que você faria se na sua Igreja, na sociedade da qual você faz parte ninguém estivesse ajudando? Se todos se ausentassem, ou cruzassem os braços e só aparecessem na hora do pastor parabenizar publicamente a sociedade pelos eventos que a Igreja fez durante o ano?

É provável que o primeiro sentimento seja de revolta: porque tantos cruzam os braços e ninguém se levanta para ajudar? O que acontece que ninguém percebe a necessidade de todos se envolverem e assim o trabalho ser muito mais frutífero?

O segundo sentimento pode ser de autocomplacência, de pena de si mesmo, de ver-se como um miserável sobrecarregado, explorado, cada vez mais cansado.

Em seguida você pode sentir-se desanimado e desejar desistir, abandonar tudo e fazer como todo mundo... Até perceber que não é como todo mundo. Você é único, foi comprado pelo precioso sangue de Cristo. Se os outros querem ser contados como servos maus e negligentes, que não souberam ou não quiseram investir os talentos recebidos, este não é o seu caso. O seu trabalho é para o Senhor, não para homens. É do Senhor que você espera a recompensa - e ele nunca falha.

No futuro a história da obra do Senhor será contada e haverá duas relações - aquela dos que tiveram seus nomes escritos em livros de atas (e, em muitos casos, também no livro da vida do cordeiro - Ap 21.27: Nela, nunca jamais penetrará coisa alguma contaminada, nem o que pratica abominação e mentira, mas somente os inscritos no Livro da Vida do Cordeiro), e a dos que escreveram a história, que foram parte importante e que foram usadas por Deus para que o evangelho fosse anunciado, para que vidas fossem impactadas, para que a Igreja fosse edificada em amor (Ef 4.16: ...de quem todo o corpo, bem ajustado e consolidado pelo auxílio de toda junta, segundo a justa cooperação de cada parte, efetua o seu próprio aumento para a edificação de si mesmo em amor).

Você pode voltar pra casa agora com a decisão de entregar seus cargos, e assentar-se nos bancos apenas para contemplar o que está sendo feito por outros, talvez tão ou mais cansados do que você. Com menos tempo que você. Com cônjuges mais difíceis que os seus. Com filhos mais trabalhosos que os seus. Com maiores dificuldades de locomoção, de recursos, de conhecimentos...

Com certeza você conseguirá achar muitos defeitos no que está sendo feito, e dizer: “Não é assim, deste jeito não está certo, não vai dar certo...” É o que a maioria faz.

Ou...

Ou pode ser como Josebe-Bassebete... Como Eleazar... Como Samah... Como Dorcas... Trabalhar duro, arduamente, mesmo com muito desgaste - e no final ver seu trabalho glorificar a Deus - com a diferença que você terá este objetivo.

A escolha é sua. A recompensa é do Senhor. Se quiser, pode pedir para sair - pode pedir para parar que você quer descer. Meu desafio é: “quem de Cristo ao lado agora quer andar? Quem a sua vida quer lhe dedicar? Tudo abandonando, a Jesus seguir? Encarando as lutas que lhe possam vir”?

(HNC - 313).

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