quarta-feira, 13 de julho de 2011

GIDEÃO, O LIBERTADOR QUE ERA APENAS HUMANO

A vida cristã vitoriosa deve ser vista como um processo. Sendo um processo, a continuidade é uma exigência fundamental. A vida cristã não pode ser estática, estagnada. Ninguém jamais atingirá um nível espiritual suficientemente elevado para dizer que "não precisa melhorar" [Rm 3.23]. A história de Israel ilustra isso de maneira muito clara. Israel conseguia vitórias retumbantes sobre os inimigos – e logo depois era fragorosamente derrotado e impiedosamente oprimido. Sua força era proporcional à sua disposição de andar com Deus. Após a vitória obtida com Débora e Baraque sobre o exército de Sísera, Israel andou com Deus por 40 anos – e gozou de paz neste período. Percebemos que a tranquilidade tornava Israel menos firme, menos vigilante – e logo abandona Deus para voltar-se para os ídolos dos midianitas [Jz 6.1]. E é justamente sob estes midianitas que eles experimentam nova onda de opressão [vv. 2-7].

Após 7 anos eles clamaram a Deus, questionando o porque de sua fraqueza. E Deus lhes lembrou que seu sofrimento era decorrência da sua própria infidelidade [vv. 8-10]. Deus não havia tirado os olhos de sobre seu povo [Sl 113.5-6], julgando-o segundo a sua própria fidelidade [Jr 17.10]. Deus combina palavra com ação. Após mostrar as falhas de Israel, Deus prova que sua mão não está encolhida [v. 1] e que pode salvar apesar de Israel. Israel não somente não merecia a salvação como merecia a punição. Mas Deus demonstra a sua graça e o anjo do Senhor vai até Gideão, da tribo de Manassés. Seria ele o próximo escolhido para libertar e julgar Israel [v. 11].

Apesar de o Anjo chamar Gideão de "homem valente" [v. 12] o trabalho que fazia indicava muito mais temor do que coragem: ele preparava o trigo para escondê-lo dos invasores constantes [v. 11]. Além disso, demonstra não saber ou não reconhecer a causa do sofrimento de seu povo. Sua afirmação é: "O Senhor nos desamparou" [v. 13]. Suas dúvidas a respeito da fidelidade de Deus levam-no a exigir provas, mesmo depois de o Anjo ter-lhe dito para livrar Israel [v. 14].  Gideão apresentou desculpas absolutamente frágeis [v. 15: 1. não tenho nada – com que?; 2. minha família não tem nada – a mais pobre; 3. Eu não sou nada – sou o menor] e ele precisou de três sinais para finalmente pôr-se a caminho: a aceitação de uma oferta [vv. 17-21] que, diferentemente do que ele esperava, foi milagrosamente consumida pelo fogo e não pelo Anjo.

Ao perceber que não se tratava de um embuste, Gideão se enche de temor [v. 22] à semelhança de Isaías [Is 6.5] mas o Anjo lhe diz que Deus não é só juiz [e Gideão sabia de sua indignidade] mas também graça e, principalmente, paz [v. 24]. Mas, para estar em paz com Deus, há um preço que muitos não estão dispostos a pagar: romper com o mundo. E é exatamente isto o que Deus manda-o fazer [vv. 25-26]. Quando os israelitas reagiram, são confrontados com a realidade: estariam mesmos dispostos a matar um irmão para defender a Baal [vv. 28-30]? Não é assim também no meio do povo de Deus? Persegue-se o irmão, vilipendiam o nome de Cristo, arrostam à lama o nome da igreja do Senhor por causa de interesses contrariados? Os israelitas preferiam esperar a resposta de Baal, e como esta não veio, os midianitas resolveram agir [v. 33], e Deus moveu o coração de Gideão, que chamou os israelitas para a batalha após 7 anos de covardia... e os israelitas começaram a se aprontar para a batalha [vv. 34-35]. Antes, porém, do enfrentamento, Gideão pediu e recebeu dois outros sinais de Deus antes que finalmente fosse fazer a tarefa para a qual Deus o havia chamado [vv. 37-40].

Depois disso, Gideão é chamado de Jerubaal e agrupou trinta e dois mil homens para a batalha, mas Deus disse: "isso é muito, o povo se orgulhará de sua própria vitória" [Jz 7.2]. Então, Gideão disse que os medrosos poderiam retornar para casa. Surpreso, viu vinte e dois mil abandonarem o acampamento, ficando apenas dez mil [v. 3]. Sem que soubessem estes dez mil foram submetidos a outra prova [vigilância – vv. 4-6]. Com apenas 300 homens Gideão enfrentaria o exército de adoradores de Baal [vv. 6-8]. Com tão poucos homens, seria imaginável que Israel conseguisse algum armamento ou tática especial para vencer os numerosos midianitas. Mas a bíblia ensina que nossa luta não é contra carne ou sangue [Ef 6.12]... e aquela luta era de Deus. Ele já tinha mostrado isso quando ordenou o retorno de 31.700 homens. Deus não é servido por mãos humanas [At 17.25] mas age em favor dos seus [Is 64.6]. Suas armas não seriam espadas e lanças, escudos e flechas, mas tochas, jarros e trombetas. As tochas foram colocadas dentro dos jarros. Naquela noite, rodearam o acampamento midianita e quebraram os jarros, deixando as tochas brilharem. Sopraram suas trombetas e gritaram, amedrontando os midianitas que, desorientados, atacaram-se uns aos outros. Os israelitas não precisaram usar da espada – não era sua a honra da vitória [como no caso de Baraque] que foi alcançada por Deus. Mas, mesmo assim, logo eles se voltaram aos mesmos pecados. E quando olhamos para homens cometemos os mesmos erros que os israelitas cometeram.

Deixaram o baalismo, viram o livramento do Senhor, mas logo se voltaram para os mesmos erros. Apesar de Gideão negar-se a ser o juiz de Israel, ele acabou criando uma pedra de tropeço para seu povo.

Sejamos atentos ao perigo de engrandecer homens. Não importa qual seja nosso intento, isso geralmente se transforma em idolatria e tanto o ídolo quanto o idólatra são punidos por isso, como foram Gideão e Israel [Jz 8.27].

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