ELEITOS DE DEUS. PARA QUE? MANIFESTAÇÃO PRÁTICA DA ELEIÇÃO.
Mateus e Mathias são irmãos. Nasceram no mesmo dia. São tão
parecidos que seus pais tinham o cuidado de manter cortes de cabelo diferente
para não correr o risco de confusão. Dormiam no mesmo quarto, estudaram nas
mesmas escolas, frequentavam o mesmo clube, gostavam do mesmo esporte, ouviam
as mesmas músicas. Foram criados no mesmo ambiente onde religião era algo a ser
lembrado duas ou três vezes por ano, especialmente na páscoa (bom, não era algo
tão religioso assim, afinal, tudo girava em torno do coelhinho e do chocolate)
e natal (bom, natal é bom, tem família reunida, panetonne e ceia). Um dia um
colega em comum convida-os para uma gincana. Ambos entram em contato com a
Igreja ao participarem da gincana, conhecem novos amigos e acabam aceitando o
convite para participarem de um culto. No culto, participam da mesma liturgia,
cantam os mesmos cânticos e ouvem o mesmo pregador. Mateus sai dali
transformado, crendo no Jesus que estava sendo pregado. Mathias gostou muito do
que viu e ouviu, mas em seu coração nada mudou.
Qualquer teólogo reformado não tem dúvida alguma em afirmar
que Matheus acreditou por ser um eleito de Deus. Quanto a Mathias, o que se
sabe é que, se for um eleito, sua eleição não se manifestou naquele momento.
Para ele ainda era necessário continuar dizendo que ainda era tempo de buscar
ao Senhor, de invocá-lo (Is 55.6). É
pela fé, que vem pela pregação da Palavra de Cristo (Rm 10:17) que se manifesta a eleição daqueles que foram, de
antemão, destinados para a salvação (At
13:48). Sei que isto sempre gera alguma discussão, mas o fato é que em
Antioquia da Psídia só creram os que foram destinados para a salvação. Lucas é
enfático ao afirmar creram os que foram destinados para a salvação. Além disso,
também precisamos destacar que todos os que creram haviam sido destinados para
a salvação, nenhum dos que haviam sido destinados para a salvação se perdeu (Jo 17:12).
Ao escrever para a Igreja dos tessalonicenses que estava em
Deus pai e no Senhor Jesus Cristo, uma Igreja que experimentara a graça de Deus
manifesta em Cristo e estava em paz com Deus por meio de Cristo (At 3:16) e pela qual Paulo orava
incessantemente recordando-se que aquela Igreja possuía uma fé verdadeira, viva
e operosa ao lado de um amor abnegado e uma firme esperança em Jesus Cristo.
Era por estas características que Paulo continua descrevendo esta comunidade de
crentes no Senhor Jesus.
1 Paulo, Silvano e
Timóteo, à igreja dos tessalonicenses em Deus Pai e no Senhor Jesus Cristo,
graça e paz a vós outros.
2 Damos, sempre,
graças a Deus por todos vós, mencionando-vos em nossas orações e, sem cessar, 3
recordando-nos, diante do nosso Deus e Pai, da operosidade da vossa fé, da
abnegação do vosso amor e da firmeza da vossa esperança em nosso Senhor Jesus
Cristo,
4 reconhecendo,
irmãos, amados de Deus, a vossa eleição, 5 porque o nosso evangelho não chegou
até vós tão-somente em palavra, mas,
sobretudo, em poder, no Espírito
Santo e em plena convicção, assim
como sabeis ter sido o nosso procedimento entre vós e por amor de vós.
UMA IGREJA COMPOSTA POR ELEITOS DE DEUS
4 reconhecendo, irmãos,
amados de Deus, a vossa eleição, 5 porque o nosso evangelho não chegou até vós
tão-somente em palavra, mas,
sobretudo, em poder, no Espírito
Santo e em plena convicção, assim
como sabeis ter sido o nosso procedimento entre vós e por amor de vós.
Como alguém pode provar que é foi eleito por Deus antes
mesmo que existisse (I Pe 1:2)? Como
pode um eleito de Deus demonstrar para quem não vê o coração (I Sm 16:7) que é, de fato, um eleito de
Deus? O apóstolo Paulo afirma ter certeza da eleição dos irmãos
tessalonicenses. E não estamos falando aqui de um discernimento especial do
Espírito Santo, mas por motivos mais palpáveis, mais concretos. Ele diz que era
possível reconhecer (eidw=), isto é, perceber,
notar por meio de algum dos sentidos ou pela atenção, saber com certeza algo a
respeito de um fato. Paulo usa uma palavra que se refere a algo histórico,
concreto, comprovado. Em outras palavras, era possível reconhecer a eleição dos
tessalonicenses, aos quais chama de irmãos amados (I Pe 2:17) que pertencem a Deus. E é só pelo fato de que eles
pertencem a Deus é que podem ser chamados de irmãos. Só pelo fato de estarem em
Cristo (I Ts 1.1) que eles podem ser
chamados por Paulo e por nós de irmãos (Rm
8:29). Ordinariamente somos ensinados que somente o crente pode ter certeza
da sua própria salvação – ninguém mais pode ter esta certeza porque ela é de
foro íntimo, é resultado de um relacionamento especial do redimido com o
redentor mediante o Espírito Santo. Este ensino é verdadeiro. O cristão
verdadeiro sabe que é um redimido porque é habitação do Espírito Santo que lhe
diz o tempo inteiro: “você é de Deus. Você pertence a Deus. Cristo morreu por
você. Ele não te rejeitará” (Rm 8:16).
Mas, e isto é verdade, há algo mais. A salvação não é algo apenas intra nos, isto é, não é algo para ficar
dentro de nós. O crente foi chamado, foi eleito com um propósito. Paulo diz que
o crente foi tornado crente, sem dúvida, para a salvação, mas, também, para
fazer com que aquele que não creu tenha algum vislumbre das virtudes do
salvador (I Pe 2:9) e, se essa
salvação realmente existe, se este relacionamento com Cristo é uma realidade,
então, será impossível de ser ocultado (I
Tm 5:25). Tradicionalmente costumamos nos levantar com acidez e muito vigor
contra a doutrina da salvação através das obras ou da salvação que é completada
pelas obras assistidas pela fé, onde, no fim, a própria fé é vista como uma
obra que o homem é capaz de realizar, daí expressões como “exercer fé,
exercitar fé”, etc... Mas, lutando dedicadamente em uma fronteira esquecemos da
retaguarda, esquecemos que, embora ninguém seja justificado por obras (Tt 3:5) ou salvo por quaisquer méritos
que eventualmente se ache detentor, também ninguém foi redimido para tornar-se
apenas um dado na paisagem de uma Igreja (Ef
2:10) mas para demonstrar visivelmente o fato de que foram eleitos por Deus
e esta eleição resulta em ações práticas que são percebidas por todos para
glória de Deus (I Pe 2:12). E era isto o que acontecia com os
tessalonicenses: gentios eleitos para glorificarem a Deus através de suas vidas
em sua geração (Rm 15:18). Eram
eleitos e sua eleição podia ser vista através de sua vida de obediência ao
Senhor. Responda a duas perguntas bem simples, e lembre-se que aquele que elege
está sondando os seus pensamentos (Sl
139:1): Você é um eleito de Deus? Você vive como um eleito de Deus?
UMA IGREJA COMPOSTA POR CRENTES NO EVANGELHO
5 porque o nosso evangelho não chegou até vós
tão-somente em palavra, mas, sobretudo, em poder, no Espírito Santo e em plena
convicção, assim como sabeis ter sido o nosso procedimento entre vós e por amor
de vós.
FORAM CONVENCIDOS PELA PALAVRA
Paulo considera que a vida do cristão é importante para a
confirmação de seu relacionamento com Deus chegando ao ponto de mostrar aos
coríntios que a vida deles, coríntios convertidos, era o que ele tinha de
melhor para mostrar sobre o seu próprio apostolado e relacionamento com Deus (II Co 3:2-3) mas estes mesmos coríntios
sabiam que a estada de Paulo entre eles fora frutífera porque Paulo lhes
anunciara o evangelho (I Co 2:1). O
ministério de Paulo era basicamente a pregação do evangelho, e ele se
regozijava nisso (I Co 1:17) porque
queria que seus ouvintes cressem em Cristo e fossem salvos (At 16:31) e não há outro modo de
salvação a não ser pela fé em Cristo, e a fé em Cristo vem somente pela palavra
do próprio Cristo, o verdadeiro evangelho (Gl
1:8) que deve ser pregada (Rm 10:17).
Não há cristão verdadeiro que não seja convencido e convertido pela Palavra de
Cristo. É possível que alguém se aproxime da Igreja por outras razões. É até
possível que fique na Igreja e se torne membro de uma Igreja por uma série de
razões. Por ser filho de crente, por ser cônjuge de crente, por ser amigo de
crente mas só se torna verdadeiramente membro da Igreja se crer em Cristo
segundo as Escrituras (I Co 15:1-4).
Jesus fez questão de ensinar até mesmo para aqueles que não queriam crer que eles precisavam, antes de mais nada, examinar
as Escrituras corretamente porque eram elas quem testificavam dele (Jo 5:39), que
anunciavam ser ele o Cristo (At 3:20). Eles não creram não foi por
falta de ouvirem o evangelho, mas porque não eram das ovelhas de Jesus (Jo 10:26) e eram, portanto, incapazes
de reconhecer a voz do bom pastor (Jo 8:47).
Eles eram do mundo, amavam as coisas do mundo e continuariam amando as coisas
do mundo – mas não amariam as coisas de Deus, porque não amavam ao próprio Deus
(Jo 15:19), pelo contrário, o sentimento
que devotavam a Deus e às coisas de Deus era ódio. Para ser membro da Igreja de
Cristo, o que é mais do que ser membro da Igreja Presbiteriana, você precisa
crer nas Escritura Sagradas. Precisa compreender e aceitar que ela é a Palavra
inspirada de Deus (II Tm 3:16) e que ela
traz orientações preciosas para a sua vida (Pv
7:2): Porque
você está na igreja? O que te convenceu a se tornar membro dela? O que te
convence a ficar nela?
FORAM RENOVADOS PELO PODER DO ESPÍRITO SANTO
5 porque o nosso
evangelho não chegou até vós tão-somente em palavra, mas, sobretudo, em poder, no Espírito Santo e em plena
convicção, assim como sabeis ter sido o nosso procedimento entre vós e por amor
de vós.
Ninguém pode ir ao Senhor Jesus se não for dado pelo Pai e
não for levado pelo Espírito Santo que é quem convence o pecador de que ele é
um pecador e que há uma justiça divina que ele não é capaz de alcançar, por
isso correndo o risco de sofrer duro juízo (Jo 16:8-11).
É pela atuação do Espírito que o pecador, morto, é
renascido. É pela atuação do Espírito que o pecador, convencido de seu pecado,
volta-se para Deus. É pela atuação do Espírito que o pecador, convencido de seu
pecado, volta-se para Deus e recebe a aplicação dos benefícios da obra de
Cristo. Paulo resume tudo isto ao dizer que só aguardamos a justiça que provém
da fé por causa da atuação do Espírito Santo (Gl 5:5).
Sem a atuação do Espírito é impossível ao pecador enxergar
as coisas de Deus porque elas precisam ser ensinadas pelo próprio Deus (I Co 2:13) e por mais que os homens
viessem a se esforçar (e não se esforçam) eles não as conseguiriam compreender
por que elas só podem ser discernidas espiritualmente (I Co 2:14).
O problema não é só que o pecador, morto em delitos e
pecados, não consegue discernir – ele não as aceita, ele as conhece mas não
pode entendê-las e se inclina contra elas (Rm
8:5) e por isso é necessário que o Senhor o incline, segundo o seu querer (Pv 21:1) mediante uma ação regeneradora
em todo o ser do homem (Tg 1:18) e
especialmente uma renovação da vontade (Fp
2:13) efetuada pelo seu Espírito Santo que guia os eleitos de Deus a toda a
verdade (Rm 8:14). O que garante que
você é mesmo um eleito de Deus? Qual foi o maior argumento para você crer que é
um eleito de Deus?
FORAM TRANSFORMADOS EM SUAS INCLINAÇÕES
5 porque o nosso
evangelho não chegou até vós tão-somente em palavra, mas, sobretudo, em poder,
no Espírito Santo e em plena convicção,
assim como sabeis ter sido o nosso procedimento entre vós e por amor de vós.
Já dissemos que é pela atuação do Espírito, que convence o
pecador do seu pecado, da justiça de Deus e do juízo iminente que o pecador é
convertido. Paulo pregava com convicção, os apóstolos anunciavam sem receio que
a salvação só podia ser obtida por intermédio de Jesus Cristo (At 4:12). No mundo politeísta do séc. I
eles faziam questão de afirmar que há um só Deus, que só o Senhor é Deus
verdadeiro e que somente Jesus (Jo 14:6)
conduz o pecador à redenção e à reconciliação com Deus (I Tm 2:5). Paulo, Pedro, João e Estêvão não tinham receio de
afirmar que somente Jesus é o salvador. Eles tinham tanta convicção disso que
estavam dispostos a viver a sua vida anunciando isso e, mais ainda que isso,
estavam dispostos a perdê-la (Lc 9:24)
para anunciar esta verdade da qual tinham plena convicção. Diante de uma
multidão disposta a apedrejá-lo, Estevão anunciou ousadamente que Cristo era o messias. Pedro e João,
obrigados a se calarem pelo Sinédrio (At
5:28)
preferiram o risco de sofrerem o mesmo destino que seu mestre mas deixaram
claro que obedeceriam a Deus porque isto era o mais importante a fazer, isto é,
eles tinham que pregar o evangelho do Senhor Jesus, mesmo que o sinédrio e
todos os poderes da terra fossem contra eles (At 5.29). A convicção de Paulo era tal que ele via como uma
obrigação maior do que preservar a sua própria vida a de pregar o evangelho (I Co 9:16) para que os eleitos,
dispersos entre as gentes, pudessem ouvir a voz do bom pastor (Jo 10:27) e atende-la, tornando-se,
então, irmãos preciosos em Cristo. Não é
possível ser verdadeiro crente no Senhor Jesus, verdadeiramente nascido de novo
se não receber as Escrituras como uma criança recebe as palavras de seu pai (Mc 10:15). Você não pode dizer, sou crente, mas não
acredito nisto ou naquilo outro. Isto não é ser crente, é ser juiz. Você não
pode dizer, sou crente, mas não vou fazer isto ou aquilo outro. Isto não é ser
crente, é ser rebelde. Ser crente é fazer a vontade de Jesus, é obedecer aos
seus mandamentos (Jo 15:14), é
recebe-lo como seu salvador e Senhor absoluto. Ser crente é amar a Jesus e tudo fazer para
agradá-lo, por mais caro que isto possa lhe parecer porque você, se é crente, o
ama integralmente, inteiramente, totalmente, mais do que a própria vida (Jo 14:21). Você tem certeza que ama a
Deus? Está disposto a viver para obedecer a Deus? Está disposto a morrer para
obedecer a Deus?