11 Ora, o nosso mesmo Deus e Pai, e Jesus, nosso
Senhor, dirijam-nos o caminho até vós,
12 e o Senhor vos faça crescer e aumentar no
amor uns para com os outros e para com todos, como também nós para convosco,
13 a fim de que seja o vosso coração confirmado
em santidade, isento de culpa, na presença de nosso Deus e Pai, na vinda de
nosso Senhor Jesus, com todos os seus santos.
I Ts 3.11-13
É
um fato a ser lamentado haver muitos que não consideram a comunhão com os
demais irmãos como algo de suma importância, como algo essencial (Sl 16.3).
É muito comum a comunhão ocupar um lugar menos importante na agenda dos
crentes. Mas também é certo que há muitos que consideram a comunhão com os
irmãos o melhor momento de seus dias.
É
provável que você até considere o ato de congregar como uma obrigação (Hb
10.25) que lhe é imposta pelo Senhor (e é mesmo) e pela presença do seu
pastor (ao menos para alguns). E é possível que você se esforce para cumprir
com sua obrigação religiosa. E quer saber? É mesmo uma obrigação. É mesmo um
dever. Mas é muito mais que uma obrigação, na verdade deveria ser, também e
principalmente, um enorme prazer para o cristão (Sl 84.10).
Deixar
de cumpri-lo, deixar de congregar é, sem qualquer sombra de dúvida, uma
desobediência, um sinal de relaxamento e, por fim, um pecado (Hb 10.26-27),
mas congregar é uma alegria, um prazer, um momento muito especial para o crente
porque é o momento em que ele está inserido não apenas espiritualmente, mas
também fisicamente no corpo de Cristo, a Sua Igreja.
Não
é anormal que alguma circunstância atrapalhe o cristão de congregar. Também não
é incomum que as circunstâncias se repitam passando de eventuais para
constantes (uma visita recebida, uma visita a fazer, um jantar de negócios, um
trabalho escolar) e, por fim o congregar vai se tornando cada vez mais
esporádico, virando dominical e, por fim, como diziam os antigos, uma ação “de
ver Deus”. Diante de circunstâncias impeditivas, em dependência de Deus, mais
uma vez aprendemos que o caminho é a sujeição à vontade de Deus em oração. Como
fazer para que as circunstâncias não se tornem impeditivas para a congregação,
para a comunhão?
A
COMUNHÃO É UM PRESENTE DE DEUS
I Ts 3:11 - Ora, o nosso mesmo Deus
e Pai, e Jesus, nosso Senhor, dirijam-nos o caminho até vós,
É
muito comum sentir que a prática de congregar seja interpretada como uma
simples obrigação diante de Deus e da instituição. Mais uma vez: é sim. É uma
obrigação, é um compromisso assumido diante de Deus ao receber Jesus como seu
Senhor e dos homens ao professar a sua fé no redentor perante a Igreja, mas é
muito mais do que isso. É muito mais do que um dever. É muito mais até mesmo do
que um prazer. E é mesmo um prazer estar em comunhão com os irmãos, com os
santos que há na terra nos quais o crente deve ter o seu prazer, considerando o
sempre curto tempo na casa de Deus como mais importante e mais proveitoso que
uma semana inteira em qualquer outro lugar.
Como
devemos ver a estada na casa de Deus? Como devemos considerar os momentos de
comunhão, as oportunidades de estarmos juntos com os nossos irmãos em Cristo?
Há ainda quem interprete como um privilégio cultural, social e um fruto da
nossa liberdade de expressão e liberdade religiosa. Mas é ainda mais do que
isso. É mais do que obrigação, mais do que um dever, mais do que um privilégio.
E o que é então?
Paulo
já havia dito que se empenhara, se esforçara para ir congregar com os irmãos
mas o diabo (o adversário = diaboloj) lhe impedira por duas
vezes e então ele nos mostra que o privilégio de congregar, que o prazer de
congregar é, acima de tudo uma dádiva de Deus, uma dádiva que ele pedia a Deus
para dirigir-lhe o caminho, certamente vencendo ou removendo os obstáculos que
o adversário havia interposto em seu caminho, fossem quais fossem esses
obstáculos que nós desconhecemos.
Estar
na Igreja, estar com a Igreja, louvar a Deus com a Igreja, viver as lutas da
Igreja e experimentar as bênçãos que Deus dá ao seu povo é uma dádiva que se
você não tem experimentado, se você tem negligenciado então, antes de mais nada,
você deve pedir a Deus para que isso seja mudado em seu coração, deve pedir a
ele para renovar sua vontade, para inclinar a sua vontade e efetuar em você o
querer e o realizar (Fp 2.13) porque estar entre os eleitos de Deus é uma
dádiva, um presente que Deus dá aos seus eleitos e certamente tem muitos
eleitos que, neste exato momento, gostariam de ter este mesmo privilégio agora.
CRESCEMOS
EM AMOR ATRAVÉS DA COMUNHÃO
I Ts 3:12 - ...e o
Senhor vos faça crescer e aumentar no amor uns para com os outros e para com
todos, como também nós para convosco,
A
Igreja já era conhecida como uma comunidade amorosa e, mais do que isso, uma
comunidade que possuía um amor abnegado, sacrificial, à semelhança do amor que
lhe havia sido demonstrado por seu Senhor Jesus, o maior amor que era possível
demonstrar por alguém (Jo 15.13) que foi até o fim para demonstrar que o
seu amor é o maior amor do mundo (Jo 13.1) e provar o amor do Pai por
nós da única maneira possível - de forma prática (Rm 5.8).
Este
amor, este grande amor, era vivenciado pela Igreja em seu testemunho como
discípulos do Senhor Jesus (Jo 13.35), da mesma maneira que eles
próprios viram no apóstolo Paulo e seus companheiros Silvano e Timóteo. Mas
Paulo queria ainda mais. Queria que eles crescessem - e em tempos onde o que
conta são relatórios, as estatísticas, os números, a oração de Paulo era para
que eles crescessem em algo que não era mensurável estatisticamente, crescessem
no amor de uns para com os outros, porque com o crescimento em amor a Igreja
certamente experimentaria o mesmo fenômeno que a Igreja em Jerusalém
experimentaria: o Senhor, dia a dia, ia lhes acrescentando os que iam sendo salvos
(At 2:47).
Podemos
entender este crescimento em amor de duas maneiras: a primeira um crescimento
pessoal, interno, com os corações dos cristãos se enternecendo mais e mais uns
pelos outros, e isto é maravilhoso (Cl 3.12) e se compadecendo pelo
estado de perdição, miséria e condenação dos pecadores que podiam ser seus
vizinhos, seus amigos de infância, colegas de trabalho, familiares e todo tipo
de relações interpessoais (Cl 4:5).
É
mais do que desejável que isto aconteça, na verdade é um imperativo divino para
que a Igreja de Deus cumpra o seu papel de testemunhar o amor imenso de Deus ao
mundo, um amor tão grande que o levou a dar o seu próprio filho para resgatá-lo
através de sua morte na cruz.
Você
também poderia entender este crescimento de uma segunda maneira. À medida em
que o amor interno se entranha na Igreja, à medida em que o amor abnegado
consolida a comunhão no interior da Igreja este amor é de expresso de tal maneira
que logo é percebido pelos incrédulos (Rm 12.9-14), e muitos são tocados
por este testemunho vivo, por esta vida diferente do que era visto no mundo de
então e, com os novos convertidos haveria mais gente amando, haveria mais amor,
e Paulo queria estar lá, estar com a Igreja.
Ele
não queria apenas ouvir falar do amor da Igreja, de uma Igreja que estava
geograficamente distante. Ele queria mais, ele queria fazer parte desse
processo, ele queria contribuir com a sua parcela de amor porque ele já amava
aquela Igreja como uma ama que acaricia a criança a quem amamenta ou como um
pai que disciplina a todos os filhos a quem ama.
SOMOS
FORTALECIDOS NA CAMINHADA
I Ts 3:13 - a fim de que seja o
vosso coração confirmado em santidade, isento de culpa, na presença de nosso
Deus e Pai, na vinda de nosso Senhor Jesus, com todos os seus santos.
A
Palavra de Deus diz que um cordão de três dobras não se rompe facilmente (Ec
4:12). Você pode fazer prova disto de uma maneira bem simples. Pegue um
barbante e verifique a sua resistência. Coloque um cordão dobrado e veja se ele
não suporta mais que o dobro do peso. É assim com a Igreja também. Quando
caminha em amor, ela se sustenta, cresce ao invés de apenas sobreviver.
É possível
que a Igreja tenha perdido o foco daquilo que é mais importante. No séc. III a
aceitação formal de rituais passou a ser tida como a prova mais importante de
fé. Ser membro, ainda que formalmente, o cumprimento de rituais como o batismo
resolvia o problema do que significava fazer parte da Igreja - e muitos se
contentavam sinceramente com isso por não saber que precisavam de mais.
Séculos
depois o foco foi mudado para a aceitação de doutrinas e o conhecimento de
fórmulas confessionais (I Jo 4.3). Candidatos a membresia da Igreja eram
ensinados e decoravam símbolos doutrinários como o Breve Catecismo e até mesmo
a Confissão de Fé de Westminster (e isto não é ruim em si mesmo, e é uma pena
que tenha se desvirtuado com o tempo e hoje esteja se perdendo).
Algum
tempo depois a influência do relativismo e do empirismo existencialista mudou o
pêndulo e a prova de fé passou a ser a experiência pessoal, êxtases e a
demonstração de certos efeitos cada vez mais caóticos e incontroláveis e a
certeza interior, desprezando tanto a forma quanto o conhecimento.
Obviamente
a Igreja não desprezou e nem deve desprezar o conhecimento porque Paulo queria
ir até os tessalonicenses para suprir as deficiências de sua fé, isto é, havia
coisas que eles ainda precisavam aprender e ele não tivera tempo de lhes
ensinar. É claro que a Igreja também não desprezava o cumprimento de ritos,
como o batismo que é ministrado por Filipe ao Etíope. Jesus havia mandado
ensinar e batizar (Mt 28.19-20) e era isso o que a Igreja estava
fazendo, apesar de Paulo não dar tanta ênfase a tal prática, deixando que
Silvano, Timóteo, Barnabé e outros o fizessem (I Co 1.14-16).
Mas
a Igreja também não desprezava a comunhão, o viver a sua fé de maneira prática
- sua fé seria confirmada numa vida de santidade, de serviço a Deus, de prática
da justiça, de obediência ao Senhor por causa do amor que o cristão sente por
seu Deus (I Jo 4.20), por seus irmãos e pelo seu próximo - todos os
dias, diária e perseverantemente, como era o exemplo da Igreja de Jerusalém,
enquanto aguardavam o retorno de seu Senhor e salvador Jesus Cristo em sua nova
vida (I Jo 3.10).
Andando
juntos, estimulando-se mutuamente (Cl 3:16) ao amor abnegado e à fé
operosa ficava mais fácil, mais suave perseverar na comunidade cristã apenas
das muitas lutas e provações a que os crentes são submetidos até alcançarem a
plenitude de Cristo (Ef 3:19), sendo fieis até à morte e recebendo a
recompensa que o Senhor reservou para os seus, a coroa da vida (Tg 1:12).
CONCLUSÃO
Quando
li este texto eu me perguntei: o que o pastor Paulo, o pastor de pastores Paulo
queria dizer ao pastor que lesse este texto vinte séculos depois? E o que ele
iria querer que os pastores do séc. XXI dissessem para as igrejas que
pastoreariam? Em suma, qual a mensagem de Paulo para mim e para você?
Em
primeiro lugar eu aprendi e gostaria de compartilhar com você sobre a maneira como
você experimenta ou não a comunhão, se você a valoriza ou a despreza. Quero que
você entenda que a comunhão é mais que uma obrigação, mais que um dever, mais
até mesmo que um prazer - embora seja realmente tudo isso.
Se
você não entender que a comunhão é um maravilhoso dom de Deus mais cedo ou mais
tarde você acabará desprezando a comunhão por qualquer coisa passageira do
mundo. Se você acha que ela é uma obrigação, então obrigações profissionais,
educacionais, familiares, emergenciais ou outras podem concorrer e ganhar a
disputa por valorização.
Se
você acha interpretar como um prazer então outros prazeres podem tomar o lugar
de maior importância aos seus olhos. Mas só se você reconhecer a comunhão como
uma dádiva de Deus a quem não era povo e agora é mais que povo, é povo de Deus
você vai dar-lhe o devido valor e não deixará que nada tome este lugar. Se você
não valorizar isso, então você não valorizará mais nada, nem mesmo algo que
venha de Deus porque você já está desprezando o chamado do próprio Deus para se
alegrar em sua presença e junto com seus irmãos na fé (Rm 15:10).
Vejamos,
o que podemos aprender em segundo lugar. O que mais o pastor Paulo
ensinou a este respeito? Preciso compartilhar com vocês que a comunhão promove
o crescimento em amor, promove o crescimento individual, promove o crescimento
do amor a Deus e do amor de Deus sendo derramado cada vez mais abundantemente
em seu coração; promove o amor de Deus uns para com os outros, cuidando uns dos
outros, resultando na edificação uns dos outros em amor, mas também aprendi que
para que o número de pessoas que amam a Cristo e se amam em Cristo aumente
aquele que ama ao Senhor também precisa amar cada vez mais e isto na comunhão
dos santos.
Amar
sem comunhão é amar da boca para fora e, no fim, não é amar de verdade. Jesus
nos amou e o Pai provou seu amor quando ele veio estar conosco, viver conosco e
nos amar sacrificialmente, morrendo por nós.
Em
terceiro lugar quero compartilhar um pouco mais do que eu aprendi com o apóstolo
Paulo. Aprendi que quando andamos em comunhão somos mutuamente incentivados a
prosseguir, a não desanimar; aprendemos que enquanto um fraqueja outros ajudam
a carregar as cargas cumprindo assim o mandamento do amor (Gl 6.2),
aprendi que há coisas nas quais eu sou fraco e outros irmãos me ajudam, e que
provavelmente há áreas onde posso ajudar outros irmãos que são menos fortes que
eu.
E,
através da comunhão, o corpo anda se cuidando. Talvez você pense que pode ser
Igreja sozinho ou que não precisa da Igreja. Talvez, mas só se você for mais
espiritual que Paulo, que os apóstolos e que o próprio Senhor Jesus que morreu
para criar um povo (Tt 2.14).
É
como povo, como Igreja, que nos apresentaremos perante o Senhor da glória. Cada
um se desvia por seu próprio caminho - somente a Igreja se apresenta como corpo
perante o Senhor.
Permita-me
concluir: para ser aprovado pelo Senhor como Igreja do Senhor você não pode
desprezar a dádiva da comunhão; para ser aprovado como Igreja do Senhor você
não pode desprezar o crescimento pessoal e comunitário em amor e para você
completar a carreira você precisa estar unido ao corpo de Cristo porque quem
fica sozinho é ovelha perdida - as ovelhas de Cristo estavam perdidas mas foram
buscadas para o aprisco do bom pastor.
Talvez
você tenha entrado aqui como ovelha extraviada, perdida, ferida... Talvez você
não considere a comunhão com este povo importante, talvez nem mesmo queira
amá-lo nem caminhar com ele, mas eu oro para que o Senhor abra o seu coração e,
como Lídia, você entenda e atenda às palavras de Paulo (At 16.14) e
valorize a comunhão como uma dádiva, o amor como um estilo de vida e a
caminhada rumo à Nova Jerusalém celestial como uma empreitada a ser empreendida
junto com os seus irmãos, tornados irmãos em Cristo Jesus.
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