sexta-feira, 18 de maio de 2018

O QUE É TER UM CORAÇÃO DE PASTOR


15 Dar-vos-ei pastores segundo o meu coração, que vos apascentem com conhecimento e com inteligência.
Jr 3:15
Recentemente vi alguém dizer que Deus não dá pastores a igrejas, mas dá Igrejas a pastores. Era uma maneira de responder à indagação porque tantos pastores estão sem Igrejas atualmente e, ao mesmo tempo, porque há Igrejas sem pastores. Infelizmente esta não é uma afirmação correta. O ensino das Escrituras é que Deus dá pastores às Igrejas, mas, também, dá Igrejas para os seus pastores. Este é o caso de Tito. Ele foi dado às Igrejas, mas ao mesmo tempo várias Igrejas foram confiadas às suas mãos, com afirma o apóstolo Pedro (1Pe 5.2-3).
Que tipo de pastor a igreja precisa? Creio que ela precisa de um pastor dado por Deus, um pastor segundo o coração de Deus. E como é este pastor? Ele precisa ter mestrado, doutorado, ser missiólogo, teólogo e ter pós-graduação em gerência de pessoal, marketing ou coisas semelhantes? Creio que ele precisa ser muito mais do que isso.
Ele precisa ser um pastor segundo o coração de Deus, algo que nenhuma instituição humana pode dar. Certamente há muitas características que comporiam o quadro de um pastor segundo o coração de Deus, de um homem que tem um coração de pastor, mas quero ressaltar duas que considero essenciais, especialmente para o momento que a Igreja do Senhor vive em nosso tempo.
12 Que vos parece? Se um homem tiver cem ovelhas, e uma delas se extraviar, não deixará ele nos montes as noventa e nove, indo procurar a que se extraviou? 13 E, se porventura a encontra, em verdade vos digo que maior prazer sentirá por causa desta do que pelas noventa e nove que não se extraviaram (Mt 18:12-13).
O CORAÇÃO DO PASTOR SE COMPADECE DAS OVELHAS
O Senhor Jesus exemplifica este cuidado compassivo do pastor pelas ovelhas ao contar a parábola da ovelha perdida. Ao chegar ao aprisco ele poderia tranquilamente descansar em segurança junto com outros pastores e com 99 ovelhas que estavam sob seu cuidado. Ali havia companheirismo, alimentação e descanso. Mas o pastor que Jesus tipifica vai em busca das ovelhas perdidas, e isto implica em esforço e perigos.
O pastor que Jesus descreve estava pronto para o revezamento das vigílias da noite para proteger o rebanho contra lobos, ursos e salteadores. Vigiaria 3 horas e os outros colegas fariam suas próprias vigílias. Ir em busca da ovelha perdida significa que ele iria trabalhar, talvez por horas, sozinho e sem revezamento. Ali, no aprisco, com a companhia de outros colegas seria fácil resistir a um urso, lobo ou até leão. Mas o pastor tipificado por Jesus se coloca a campo para buscar sua ovelha, para recuperá-la e protegê-la mesmo arriscando a própria vida (Jo 10:11).
Quando Jesus conta esta parábola é provável que o pensamento dos judeus que o ouviam fosse remetido a outro famoso pastor de Israel, o jovem, impetuoso e corajoso Davi, que, com as próprias mãos tirou ovelhas da boca de um leão e de um urso (1Sm 17.34-36).
Gosto de fazer teologia comparando fatos. Davi diz que “com as próprias mãos tirou ovelhas da boca do leão e do urso”, e o Senhor Jesus diz que o bom pastor, ao achar a sua ovelha perdida, não impropera contra ela, não faz exigências, mas toma-a, coloca-a sobre os seus próprios ombros e a leva de volta ao aprisco para receber os cuidados necessários (Lc 15.5).
O que o exemplo de Davi, tão falho quanto nós, e de Jesus tão humano quanto qualquer um de nós exceto no pecado (Hb 4.15) é que o pastor que Deus dá à Igreja se envolve ativamente com o processo de buscar e restaurar as suas ovelhas, se expõe aos riscos junto com elas, e depois se alegra com o resultado de suas busca (Lc 15.6).
 O CORAÇÃO DO PASTOR ABOMINA OS LOBOS DEVORADORES
Este mesmo Davi nos proporciona outra característica interessante a ser analisada quando se trata de pastores segundo o coração de Deus, ou homens que tem o coração de pastor.
Antes de analisarmos o pastor, vejamos como trabalha o mercenário: ele tem a função de conduzir o rebanho, mas ele só se envolve enquanto isto não representa risco pessoal, enquanto sua pele não corre perigo (Jo 10.12-13).  À partir do momento em que se sente ameaçado, ele, obviamente, prefere perder o pagamento (e viver para ganhar outro dinheiro em outro lugar) a perder a própria vida. O mercenário, para salvar a sua vida, sacrifica as ovelhas e poupa os lobos.
Não foi assim com Davi. Ele era um pastor de verdade, conhecia as suas ovelhas e cuidava delas. Quando uma foi arrebatada por um urso partiu em sua defesa, enfrentou o urso (e também um leão), tirou-lhes a ovelha condenada de suas bocas e com as próprias mãos os matou. Davi oferece um quadro de uma luta sangrenta, certamente não tendo ficado sem derramar do seu próprio sangue ao enfrentar aquelas feras – mas ele não sacrificou as ovelhas engordando as feras.
Se havia algo que deveria ser sacrificado naquelas situações eram os animais que ameaçavam não apenas uma ovelha, mas, como ensina o Senhor Jesus, todo o rebanho (Jo 10.12). Pastor que sacrifica uma ovelha na boca do lobo ensina o lobo que ali tem alimento abundante e sem risco, e ele sempre volta – quando não traz consigo auxiliares tão cruéis e sanguinários quanto eles próprios.
Mas se encontrar resistência, se o pastor não fugir, defender o rebanho e expulsar, ferir ou até mesmo executar o lobo, outros não virão. É certo o ditado que diz que “gato escaldado tem medo de água fria”. Lobo que toma pedrada não põe a cabeça em buraco de cerca.
O que tem gerado o aumento da bandidagem em nosso país não é crise econômica – estamos muito melhor que na década de 80, por exemplo, quando havia menos criminalidade. O que gera o aumento da bandidagem, a maior ousadia dos bandidos grandes e pequenos é a certeza da impunidade.
Lembremos o exemplo do prefeito Michael Bloomberg, na cidade de New York. Ele estabeleceu uma política de tolerância zero, isto é, de punição certa para grandes e para os pequenos delitos, conseguindo fazer que a criminalidade caísse rapidamente. Se alguém cometesse um assassinato, teria que pagar por seu crime. Se alguém agredissem sem causar a morte, também deveria ser punido. Se alguém fosse pego com 10kg de cocaína, teria que pagar por seu crime. Se alguém fosse pego com 10g de cocaína, também responderia por seu crime.
Se um lobo ameaça a ovelha, se uma alcateia cerca o rebanho o pastor não pode poupá-los – o coração do pastor vai impulsioná-lo a defender suas ovelhas, sangrar com elas e por elas se for preciso, mas não serão os lobos que serão poupados. A frase completa do pensador Victor Hugo é “A compaixão nem sempre é uma virtude. Quem poupa a vida do lobo, condena à morte as ovelhas”.
Eis qual é a missão dos pastores que Deus tem dado à Igreja: pastorear o rebanho com sabedoria e inteligência, e proteger o rebanho que continuamente é ameaçado por lobos, ursos e leões cruéis, destituídos do amor de Deus, que jamais experimentaram o amor de Cristo e, não amando a Deus e são, portanto, incapazes de amar o irmão (1Jo 4.20).
É isso o que nós devemos entender como “ter um coração de pastor”: ser compassivo com as ovelhas, ser implacável com os lobos.
Do coração do pastor.

ERROS SÃO DIFERENTES?


Tenho tentado compreender algumas situações que a Igreja vivencia e me pergunto se, quando há um erro, todos que estão envolvidos nele estão na mesma medida, ou as pessoas podem cometer o mesmo erro, com os mesmos danos e as mesmas consequências, e ainda assim, serem diferentes?
Há algumas semanas estes pensamentos circundam a minha mente, e acho que o assunto já está maduro para ser compartilhado.
Em minhas reflexões cheguei à conclusão que há aqueles que cometem erros proposital, intencionalmente. Param para refletir sobre o mal que intentam praticar, e procuram potencializar suas ações para atingirem este mal. Existem numerosos exemplos bíblicos para isso, como os irmãos de José quando o lançaram no fosso e depois o venderam como escravo, ou os sacerdotes judeus que planejaram a morte de Jesus depois que este os qualificou como lavradores maus.
O erro é agravado pelo propósito de causar mal, pelo planejamento da maldade com o intuito de prejudicar alguém, buscando pessoas que pensam da mesma maneira ou manipulando outros para que errem também. Erram assim os ladrões que planejam um assalto, erram os políticos que escolhem que promessas fazer para ganharem votos sabendo que não possuem sequer a intenção de cumprir, os assassinos que planejam a morte de alguém, os maledicentes que difamam ao próximo e que, de acordo com a Palavra de Deus, não habitarão na casa do Senhor (Sl 15.3).
O segundo tipo de erro é o erro deliberado, consciente, mas sem planejamento. É o erro por parceria, de cumplicidade, de companheirismo, de quem já se encontra de tal maneira envolvido no processo que se sente incapaz de sair. É o erro da fidelidade a algo que vinha sendo feito e, mesmo percebendo depois de um tempo que o que havia sido proposto era um esforço inútil, eram labores em busca de um alvo errado não abandonam os esforços por vergonha de admitir o erro ou para não abandonar o companheiro de erro. É quando não há a premeditação mas há a continuidade na prática delituosa. É muito comum este tipo de situação em membros de gangues que seguem cegamente um líder e não o abandonam mesmo quando fica provado por todos os meios seus crimes. Vemos isso na política, onde muitos não podem mais voltar atrás pois estão de tal maneira comprometidos que um sistema vicioso que, se um cai, os outros são arrastados como árvores com ramos entremeados..
O terceiro tipo de erro que gostaria de abordar é o de alguém ludibriado, enganado, que não tem as informações e que acredita piamente que o que está fazendo é o correto. O mal praticado, porque continua sendo um mal, é feito irrefletidamente, e, se questionado, a resposta basicamente é que aprendeu assim, disseram para fazer assim e por isso fazem assim mesmo. Geralmente se tornam massa de manobra e não lucram nada com o que é feito, sua principal realização é a sensação de dever cumprido, de ter feito a vontade do seu líder. É contando com este tipo de atitude que líderes políticos, caudilhos militares e religiosos inescrupulosos constroem seus impérios e juntam fortunas.
Nem sempre é fácil distinguir entre um e outro, mas o fato é que uns precisam de esclarecimento para chegarem ao arrependimento e outros precisam de conversão. Lidamos com situações assim o tempo todo, e às vezes queremos dar informações para os que erram deliberadamente. Informação não vai mudar o coração de homens que se assentam para planejar o mal. Estes precisam ser identificados e mantidos à distância até que demonstrem arrependimento, se, de fato, se arrependerem. Seus parceiros podem chegar ao arrependimento mediante a informação, e geralmente o fazem quando percebem que prosseguir na prática do mal é garantia de perdição. Por fim, muitos precisam de conhecimento, mas nem sempre o conhecimento dá o resultado esperado devido à cegueira causada pelo fanatismo irrefletido.
Toda e qualquer forma de erro deve ser combatida, mas seus autores podem ser tratados de diferentes maneiras. Paciência, moderação, ensino e o necessário rigor disciplinar podem ser aplicados, mas a melhor maneira de evitar cair neste tipo de cilada é o conhecimento da Palavra de Deus, é a prudência no agir, é evitar andar na companhia dos ímpios, não se deter para considerar a possibilidade da prática dos pecados que “todo mundo faz” e não permanecer na roda dos escarnecedores.

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