quarta-feira, 27 de junho de 2018

DISCIPLINA, CORREÇÃO? PARA QUÊ?

Ninguém questiona a veracidade da aplicação da disciplina no Antigo Testamento - aliás, disciplina sempre muito rígida, pública e às vezes definitiva como nos casos de Nadabe e Abiú. O que alguns inadvertidos costumam dizer é que, no Antigo Testamento, o povo de Deus vivia num regime de Lei, e isto mudou quando o Senhor Jesus entregou-se à morte de cruz, inaugurando um novo período, o período da graça, onde já não cabe mais a aplicação da lei, porque isto conduziria a Igreja ao legalismo. Procede tal afirmação?
Esta interpretação faz justiça às Escrituras e à natureza de Deus e à obra expiatória de Jesus Cristo?
Primeiro, precisamos ver a função da Lei, dada no Antigo Testamento, para o povo de Deus, mesmo no Novo Testamento. Segundo o apóstolo Paulo, num contexto de luta contra os legalistas, a lei nos foi dada como um preceptor, um professor, um guia para nos conduzir a Cristo no qual seriamos justificados (Gl 3.24). Legalismo não é a aplicação da lei segundo o reto juízo, mas a busca de justificação espiritual através de esforços humanos insuficientes (Rm 3.23). Paulo afirma que ninguém é justificado pelas obras da lei (Gl 3.11).
Segundo, precisamos ver a durabilidade da lei. O Senhor Jesus diz que suas palavras jamais passariam, e que nenhuma letra sequer da lei cairia na inutilidade (Lc 16.17). Mesmo cumprida integralmente em Jesus Cristo (Mt 5.18).
Terceiro, precisamos ver a aplicabilidade da lei. Nossa compreensão é que ela ainda vigora em seus sentido moral e espiritual, mostrando a hediondez do nosso pecado (Rm 7.7). A lei, segundo o Novo Testamento, foi abolida apenas em sua aplicação cerimonial com o sacrifício perfeito e perpétuo de Cristo (Hb 9.26).
Como aplicar isto de forma prática na Igreja do séc. XXI? Creio que da maneira mais simples: observando a Igreja das Escrituras. Cerimonialmente os cristãos foram desobrigados de guardar todos os rituais característicos do judaísmo. Diante da exigência que os convertidos do paganismo guardassem a lei mosaica (At 15.5) os apóstolos e muitos outros irmãos decidiram:
At 15:19-20 - Pelo que, julgo eu, não devemos perturbar aqueles que, dentre os gentios, se convertem a Deus, 20 mas escrever-lhes que se abstenham das contaminações dos ídolos, bem como das relações sexuais ilícitas, da carne de animais sufocados e do sangue (compare com Ez 36.24-29).
Analisando esta decisão, percebemos que:
a) Quanto aos rituais os cristãos oriundos do mundo não judeu não deveriam circuncidar-se, ou guardar-se de determinados tipos de comida, mas evitar comer carne sufocada e com sangue porque aquilo escandalizaria um judeu presente (At 15.21).
b) Quanto ao aspecto espiritual a obrigação de cultuar somente a Deus permanece, e os gentios deveriam abandonar os seus ídolos, uma prescrição da Lei (1Ts 1.9).
c) Quanto aos aspectos morais os novos convertidos deveriam manter-se castos e puros, evitando as relações sexuais ilícitas (obviamente conforme prescritas na Lei).
Mesmo antes desta decisão a disciplina eclesiástica já havia acontecido por duas vezes no Novo Testamento. O primeiro caso é o de Simão, mago, que julgou poder comprar o poder de Deus com seu dinheiro iníquo e foi amaldiçoado (At 8.20); o segundo caso é o de Ananias e Safira, que acharam que poderiam mentir ao Espírito Santo que dirige a Igreja (At 5.4).
O objetivo da aplicação da disciplina na Igreja primitiva era o de demonstrar a necessidade de pureza no povo de Deus, para que o nome de Deus não fosse mal falado entre os gentios por causa do mau comportamento de alguns cristãos (Rm 2.24). Sabemos que não é preciso muito fermento para levedar uma massa - basta sua presença e a falta de ação para evitar sua propagação (Gl 5.9).
Por fim, temos que concluir perguntando: porque a Igreja cristã, no período da graça, e com o risco de perder os disciplinados para as muitas outras Igrejas existentes, muitas delas ávidas por pescar os descontentes, piores que Simão, o mago (At 8.24) e mais parecidos com Esaú e Judas (Hb 12.17), deve agir disciplinarmente? Insistimos, para manter a sua pureza, para evitar que o nome de Cristo seja blasfemado, para dar ao faltoso o tempo necessário para a reflexão sobre as consequências de suas faltas (At 2.22-23) e arrepender-se e, por fim, para ensinar os demais irmãos sobre a necessidade de vigiarem a si mesmos (1Co 10.12).
Rev. Marthon Mendes

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