sábado, 3 de abril de 2021

A SANTA CEIA E A PÁSCOA: A TRANSIÇÃO DA VELHA PARA A NOVA ALIANÇA

A TRANSIÇÃO DA VELHA PARA A NOVA ALIANÇA

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Aprendi nas aulas de português com uma professora chamada Sara que a comunicação tem vários elementos: o emissor, o receptor, o veículo e a mensagem propriamente dita. No meio disto tudo é possível que um impostor se faça presente: o ruído, que pode estar em qualquer um ou em todos estes elementos ao mesmo tempo.

Então, para evitar os famosos mal-entendidos nada mais desejável do que perguntar para o emissor o que ele realmente quer dizer. E nem sempre isto vai resolver o problema, como a maioria de nós já sabe por experiências, às vezes bem desagradáveis.

Quando pensamos no significado da páscoa (e, acredite, não vale a pena perder tempo debatendo sobre coelho ou chocolate porque a bíblia nada fala sobre eles), vamos nos restringir à nossa fonte de ensino, à nossa regra de fé e prática, a bíblia sagrada.

Eu acredito que a última páscoa legitimamente celebrada ocorreu em Jerusalém quando o cordeiro de Deus foi morto pelos pecados do mundo (1Pe 3.18). O apóstolo Paulo escreve aos coríntios documentando o que ele aprendeu do próprio Senhor Jesus Cristo. E isto não pode ser desprezado. Mas, além do relato que ele faz, o que ele aprendeu mesmo de Jesus? O que Jesus fez ao estabelecer a primeira ceia em substituição à última páscoa?

Quero adiantar a você que meu entendimento a este respeito é que a páscoa celebrada com a instituição da ceia foi um ato de obediência do Senhor Jesus a todo o propósito de Deus (Jo 4.34), numa obra que ele realizava com prazer e satisfação em favor de pecadores que o Pai lhe deu, para que nenhum deles se perdesse. Portanto vamos entender a mensagem de Lc 22.7-20 como um ato de obediência voluntária de Cristo em nosso favor.

JESUS FOI OBEDIENTE

A primeira coisa que julgo necessário chamar a atenção sobre o que Jesus pensava a respeito daquele momento é que era um momento necessário embora em um dia diferente do que era comumente usado pelos judeus (Jo 19.14). Jesus celebrou a Páscoa numa quinta-feira, 13 de Nissan, e não na sexta, 14 de Nissan (Nm 28.16).

TEXTO I: Lc 22.7-13

7 Chegou o dia da Festa dos Pães Asmos, em que importava comemorar a Páscoa.

 8 Jesus, pois, enviou Pedro e João, dizendo: Ide preparar-nos a Páscoa para que a comamos.

 9 Eles lhe perguntaram: Onde queres que a preparemos?

 10 Então, lhes explicou Jesus: Ao entrardes na cidade, encontrareis um homem com um cântaro de água; segui-o até à casa em que ele entrar 11 e dizei ao dono da casa: O Mestre manda perguntar-te: Onde é o aposento no qual hei de comer a Páscoa com os meus discípulos? 12 Ele vos mostrará um espaçoso cenáculo mobilado; ali fazei os preparativos.

 13 E, indo, tudo encontraram como Jesus lhes dissera e prepararam a Páscoa.

Lucas traz um detalhe que os outros evangelistas não mencionam. Jesus afirma que importava (dei) celebrar a Páscoa. A palavra aqui traduzida por importava traz o significado de uma necessidade imperativa dada a natureza daquele caso específico. Dizendo de outra maneira, celebrar a Páscoa era um imperativo divino, um rito estabelecido pelo conselho e decreto de Deus para os judeus – e Jesus era judeu, um tipo especial e único de judeu, o único capaz de cumprir toda a lei (Mt 5.17). Celebrar a Páscoa não era um fim em si mesmo, mas era algo requerido para atingir um fim.

Outro detalhe é que o cordeiro deveria ser imolado. Isto está claro na palavra comemorar (quw), que significa literalmente imolar ou sacrificar o cordeiro. Naquela Páscoa um cordeiro, macho de um ano e sem defeito foi morto para que Jesus cumprisse tudo que estava prescrito. Na mesa de Jesus havia cordeiro (e não coelho), ervas amargas (e não chocolate), vinho e pão.

Foi somente depois de terem comido da carne do cordeiro com o molho de ervas amargas foi que Jesus considerou que aquela exigência estava devidamente cumprida. Havia chegado o momento da sombra (a páscoa dos judeus) dar lugar ao tipo (a ceia do Senhor). O que era celebrado com expectativa seria cumprido (o sacrifício do verdadeiro cordeiro de Deus) e uma nova celebração tomaria o seu lugar, como proclamação de fé em uma promessa que fora cumprida e uma nova esperança inaugurada.

REFLITA

A celebração da última páscoa e da primeira ceia foram atos de obediência aos propósitos de Deus e os que creem em Jesus devem ter a mesma atitude de obediência, que neste caso é a celebração e participação na ceia do Senhor porque reconhecem que Jesus não fez nada sem propósito, e assim como a páscoa foi durante séculos a celebração da milagrosa libertação efetuada por Deus, tirando os hebreus do Egito, o Senhor Jesus instituiu a ceia para que fosse meio de graça para fortalecimento da nossa fé naquele que os libertou do império das trevas (Cl 1.13-14).

JESUS FOI VOLUNTÁRIO

A segunda observação que desejo mencionar é que a celebração daquela páscoa era algo que o Senhor Jesus sempre havia desejado, na verdade, o anticlímax de sua missão (Mt 20.28).

TEXTO II: Lc 22.14-16

14 Chegada a hora, pôs-se Jesus à mesa, e com ele os apóstolos.

 15 E disse-lhes: Tenho desejado ansiosamente comer convosco esta Páscoa, antes do meu sofrimento.

 16 Pois vos digo que nunca mais a comerei, até que ela se cumpra no reino de Deus.

É verdade que a bíblia diz para não andarmos (merimnaw) ansiosos de coisa alguma (Lc 12.22). E não devemos andar ansiosos mesmo. Mas Jesus diz que ele desejou ansiosamente (epiqumia) celebrar aquela páscoa. Uma análise superficial pode levar o leitor a acreditar que a bíblia (e o próprio Jesus) incorre em contradição. Mas a verdade é que não há nenhuma contradição entre o que Jesus ensinou que devemos sentir e o que ele próprio sentia.

Quando Jesus diz para não andarmos ansiosos a palavra que Lucas registra não é a mesma de 22.15. A que ele usa (merimnaw) tem o sentido de preocupação, de ocupar a mente e o coração primordialmente tentando tomar providências e cuidados que podem ser tomados para evitar ou reverter uma situação prejudicial – sem buscar auxílio em Deus. Ele está falando do esforço humano de resolver o que deve ser entregue confiantemente nas mãos de Deus (Mt 6.27). E isto está de acordo com o que Paulo diz aos filipenses (Fp 4.6).

Embora a palavra ansiedade usada por Lucas em Lc 22.15 (epiqumia) frequentemente tenha o sentido de desejo ardente pelo que é proibido ela é usada aqui para expressar um desejo muito forte, um anelo da alma – e é o contexto que qualifica este desejo.

E a Escritura mostra que o desejo de sua alma era realizar a vontade do Pai, realizar o propósito redentivo que passava inevitavelmente pela sua paixão.

Como podemos provar isto? Porque antes de epiqumia Jesus usa outra palavra (etoimazw) que significa fazer todas as preparações necessárias, como os reis orientais costumavam fazer enviando mensageiros para que os vassalos consertassem (etoimazw) as estradas para que eles transitassem sem maiores problemas (Mc 1.13).

REFLITA

Jesus não estava ansioso com o coração tomado de preocupação, mas desejoso de completar a sua missão e salvar todos aqueles que o Pai lhe deu como o fruto do penoso trabalho de sua alma (Is 53.11). Apesar de orar angustiado no Getsêmani (Mc 14.36) Jesus sabia que o resultado seria de profunda e eterna alegria. Tomar parte da celebração da ceia do Senhor é celebrar a vitória do Cordeiro, para a qual a páscoa apontava.

JESUS FOI ALTRUÍSTA

A terceira constatação necessária é que a obra de Jesus tinha um propósito – beneficiar pecadores que não mereciam. Tudo quanto foi feito por Jesus tem um alvo determinado, que é manifesto pela repetição do pronome na segunda pessoa do plural: vós.

TEXTO III: Lc 22.17-20

17 E, tomando um cálice, havendo dado graças, disse: Recebei e reparti entre vós; 18 pois vos digo que, de agora em diante, não mais beberei do fruto da videira, até que venha o reino de Deus.

 19 E, tomando um pão, tendo dado graças, o partiu e lhes deu, dizendo: Isto é o meu corpo oferecido por vós; fazei isto em memória de mim.

 20 Semelhantemente, depois de cear, tomou o cálice, dizendo: Este é o cálice da nova aliança no meu sangue derramado em favor de vós.

A primeira menção dos beneficiários da obra de Cristo são os seus discípulos (Lc 22.14). Somente aqueles que estavam totalmente comprometidos com o Senhor Jesus e que deixaram tudo por ele foram chamados para aquele momento (Mt 19.27).

No verso 17 a ordem é para que os discípulos repartam o cálice entre eles mesmos (eautou), passando uns para os outros. Não há repetição ou desarmonia quando o texto de Lucas menciona mais de um cálice, porque na pascoa judaica eles costumavam tomar 04 taças de vinho, cada uma com aproximadamente 90ml.

No verso 19 o Senhor Jesus lhes dá o pão, sem que eles tenham a obrigação de reparti-lo. É ele quem o faz – ele é o agente e discípulos são o alvo do derramar de sua graça. Ele o faz como um favor do qual eles são os beneficiários (umwn). Aqui os discípulos não são agentes, são os receptáculos do que o pão representa, inclusive seus benefícios: o corpo de Cristo que seria ferido e moído em seu favor (Is 53.4). É o anúncio do pagamento de uma dívida e do cancelamento de uma punição que para o pecador seria simplesmente insuportável.

Este padrão se repete no verso 20, quando os discípulos recebem um novo cálice e finalmente é mencionado que na morte de Cristo dá-se o estabelecimento de uma nova aliança sem a necessidade de repetição de sacrifícios de animais porque esta aliança era não apenas recente quanto à forma mas também de um tipo sem precedente quanto à substância (kainoj).

Era o mistério da graça de Deus sendo finalmente revelado e um novo pacto (diaqhkh) sendo estabelecido, com seus efeitos benéficos sendo plenamente derramadas sobre aqueles a quem Ele escolheu para si mesmo desde a fundação do mundo (Ef 1.4-6).

REFLITA

Tanto a páscoa quanto a ceia mostram um Deus gracioso que age em favor daqueles a quem ama. Se na páscoa podemos inadvertidamente ser tentados a torcer pelos pobres hebreus oprimidos contra os egípcios malvadões, na nova aliança somos claramente confrontados com a nossa própria indignidade. O justo dá a sua vida pelos injustos (1Pe 3.18), numa aliança na qual requer fé e obediência.

CONCLUSÃO

O medo do desconhecido causa ansiedade – e infelizmente isto é comum e até irresistível. Nada sabemos quanto ao que vai nos acontecer no restante deste dia ou até mesmo amanhã – e às vezes as perspectivas são sombrias e atemorizantes, até porque cada dia tem seus próprios males (Mt 6.34).

Precisamos compreender que Jesus já dispôs todas as coisas para que aqueles aos quais o pai amou sejam alcançados por todas as bênçãos a eles destinadas. Todas as coisas, tanto as do céu quanto da terra cooperarão para que o propósito de Deus seja realizado (Rm 8.28): a salvação dos eleitos e a glória do nome do Senhor sendo cantada em toda a terra. Jesus não temia o amanhã porque este não lhe era desconhecido, apesar do cálice angustiante que ele teria que experimentar. Ele queria que o amanhã chegasse logo porque sabia a recompensa por sua obra. Ele ansiava por aquele momento como um noivo anseia pelo encontro com sua amada na noite de núpcias.

E aos que creem nele ele apresenta a garantia da vitória sobre a morte e o gozo eternos. Porque, então, devemos temer quanto ao nosso destino eterno, ainda que haja sofrimento no tempo presente (Rm 8.18)?

A ansiedade de Jesus era para agir em nosso benefício, estar conosco. Devemos ansiar pelas mesmas coisas. Sabemos que a coroa está reservada, que os lugares celestiais estão preparados, então, não precisamos temer, basta-nos ser fiéis, e fiéis até a morte, fiéis até diante da morte, para recebermos a coroa da vida.

Esta é a mensagem da nova páscoa, da nova aliança. Foi esta mensagem que o apóstolo Paulo aprendeu e ensinou aos crentes em Coríntios como uma mensagem alicerçada no que Cristo fez, na qual celebramos a nossa fé certos da presença abençoadora de Cristo no tempo presente e ansiosos pela volta gloriosa do nosso Redentor.

Amém! Vem, Senhor Jesus!

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