A TRANSIÇÃO DA VELHA PARA A NOVA ALIANÇA
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Aprendi
nas aulas de português com uma professora chamada Sara que a comunicação tem
vários elementos: o emissor, o receptor, o veículo e a mensagem propriamente
dita. No meio disto tudo é possível que um impostor se faça presente: o ruído,
que pode estar em qualquer um ou em todos estes elementos ao mesmo tempo.
Então,
para evitar os famosos mal-entendidos nada mais desejável do que perguntar para
o emissor o que ele realmente quer dizer. E nem sempre isto vai resolver o
problema, como a maioria de nós já sabe por experiências, às vezes bem
desagradáveis.
Quando
pensamos no significado da páscoa (e, acredite, não vale a pena perder tempo
debatendo sobre coelho ou chocolate porque a bíblia nada fala sobre eles),
vamos nos restringir à nossa fonte de ensino, à nossa regra de fé e prática, a
bíblia sagrada.
Eu
acredito que a última páscoa legitimamente celebrada ocorreu em Jerusalém
quando o cordeiro de Deus foi morto pelos pecados do mundo (1Pe 3.18). O
apóstolo Paulo escreve aos coríntios documentando o que ele aprendeu do próprio
Senhor Jesus Cristo. E isto não pode ser desprezado. Mas, além do relato que
ele faz, o que ele aprendeu mesmo de Jesus? O que Jesus fez ao estabelecer a
primeira ceia em substituição à última páscoa?
Quero
adiantar a você que meu entendimento a este respeito é que a páscoa celebrada
com a instituição da ceia foi um ato de obediência do Senhor Jesus a todo o
propósito de Deus (Jo 4.34), numa obra que ele realizava com prazer e
satisfação em favor de pecadores que o Pai lhe deu, para que nenhum deles se
perdesse. Portanto vamos entender a mensagem de Lc 22.7-20 como um ato
de obediência voluntária de Cristo em nosso favor.
JESUS FOI OBEDIENTE
A
primeira coisa que julgo necessário chamar a atenção sobre o que Jesus pensava
a respeito daquele momento é que era um momento necessário embora em um dia
diferente do que era comumente usado pelos judeus (Jo 19.14). Jesus
celebrou a Páscoa numa quinta-feira, 13 de Nissan, e não na sexta, 14 de Nissan
(Nm 28.16).
TEXTO I: Lc 22.7-13
7 Chegou o dia da Festa dos Pães
Asmos, em que importava comemorar a Páscoa.
8 Jesus, pois,
enviou Pedro e João, dizendo: Ide preparar-nos a Páscoa para que a comamos.
9 Eles lhe
perguntaram: Onde queres que a preparemos?
10 Então, lhes
explicou Jesus: Ao entrardes na cidade, encontrareis um homem com um cântaro de
água; segui-o até à casa em que ele entrar 11 e dizei ao dono da casa: O Mestre
manda perguntar-te: Onde é o aposento no qual hei de comer a Páscoa com os meus
discípulos? 12 Ele vos mostrará um espaçoso cenáculo
mobilado; ali fazei os preparativos.
13 E, indo, tudo encontraram
como Jesus lhes dissera e prepararam a Páscoa.
Lucas
traz um detalhe que os outros evangelistas não mencionam. Jesus afirma que
importava (dei) celebrar a Páscoa. A palavra aqui traduzida por importava
traz o significado de uma necessidade imperativa dada a natureza daquele caso
específico. Dizendo de outra maneira, celebrar a Páscoa era um imperativo
divino, um rito estabelecido pelo conselho e decreto de Deus para os judeus – e
Jesus era judeu, um tipo especial e único de judeu, o único capaz de cumprir
toda a lei (Mt 5.17). Celebrar a Páscoa não era um fim em si mesmo, mas
era algo requerido para atingir um fim.
Outro
detalhe é que o cordeiro deveria ser imolado. Isto está claro na palavra comemorar
(quw),
que significa literalmente imolar ou sacrificar o cordeiro. Naquela Páscoa um
cordeiro, macho de um ano e sem defeito foi morto para que Jesus cumprisse tudo
que estava prescrito. Na mesa de Jesus havia cordeiro (e não coelho), ervas
amargas (e não chocolate), vinho e pão.
Foi
somente depois de terem comido da carne do cordeiro com o molho de ervas
amargas foi que Jesus considerou que aquela exigência estava devidamente
cumprida. Havia chegado o momento da sombra (a páscoa dos judeus) dar lugar ao
tipo (a ceia do Senhor). O que era celebrado com expectativa seria cumprido (o
sacrifício do verdadeiro cordeiro de Deus) e uma nova celebração tomaria o seu
lugar, como proclamação de fé em uma promessa que fora cumprida e uma nova
esperança inaugurada.
REFLITA
A
celebração da última páscoa e da primeira ceia foram atos de obediência aos
propósitos de Deus e os que creem em Jesus devem ter a mesma atitude de
obediência, que neste caso é a celebração e participação na ceia do Senhor
porque reconhecem que Jesus não fez nada sem propósito, e assim como a páscoa
foi durante séculos a celebração da milagrosa libertação efetuada por Deus,
tirando os hebreus do Egito, o Senhor Jesus instituiu a ceia para que fosse
meio de graça para fortalecimento da nossa fé naquele que os libertou do
império das trevas (Cl 1.13-14).
JESUS FOI VOLUNTÁRIO
A
segunda observação que desejo mencionar é que a celebração daquela páscoa era
algo que o Senhor Jesus sempre havia desejado, na verdade, o anticlímax de sua missão
(Mt 20.28).
TEXTO II: Lc 22.14-16
14 Chegada a hora, pôs-se Jesus à
mesa, e com ele os apóstolos.
15 E disse-lhes:
Tenho desejado ansiosamente comer convosco esta Páscoa, antes do meu
sofrimento.
16 Pois vos digo
que nunca mais a comerei, até que ela se cumpra no reino de Deus.
É
verdade que a bíblia diz para não andarmos (merimnaw) ansiosos de coisa alguma
(Lc 12.22). E não devemos andar ansiosos mesmo. Mas Jesus diz que ele
desejou ansiosamente (epiqumia) celebrar aquela páscoa. Uma
análise superficial pode levar o leitor a acreditar que a bíblia (e o próprio
Jesus) incorre em contradição. Mas a verdade é que não há nenhuma contradição
entre o que Jesus ensinou que devemos sentir e o que ele próprio sentia.
Quando
Jesus diz para não andarmos ansiosos a palavra que Lucas registra não é a mesma
de 22.15. A que ele usa (merimnaw) tem o sentido de
preocupação, de ocupar a mente e o coração primordialmente tentando tomar
providências e cuidados que podem ser tomados para evitar ou reverter uma
situação prejudicial – sem buscar auxílio em Deus. Ele está falando do esforço
humano de resolver o que deve ser entregue confiantemente nas mãos de Deus (Mt
6.27). E isto está de acordo com o que Paulo diz aos filipenses (Fp 4.6).
Embora
a palavra ansiedade usada por Lucas em Lc 22.15 (epiqumia) frequentemente tenha o sentido de desejo ardente pelo que é proibido ela
é usada aqui para expressar um desejo muito forte, um anelo da alma – e é o
contexto que qualifica este desejo.
E
a Escritura mostra que o desejo de sua alma era realizar a vontade do Pai,
realizar o propósito redentivo que passava inevitavelmente pela sua paixão.
Como
podemos provar isto? Porque antes de epiqumia Jesus usa outra palavra (etoimazw) que significa fazer todas as preparações necessárias, como os reis
orientais costumavam fazer enviando mensageiros para que os vassalos
consertassem (etoimazw) as estradas para que
eles transitassem sem maiores problemas (Mc 1.13).
REFLITA
Jesus
não estava ansioso com o coração tomado de preocupação, mas desejoso de
completar a sua missão e salvar todos aqueles que o Pai lhe deu como o fruto do
penoso trabalho de sua alma (Is 53.11). Apesar de orar angustiado no
Getsêmani (Mc 14.36) Jesus sabia que o resultado seria de profunda e
eterna alegria. Tomar parte da celebração da ceia do Senhor é celebrar a
vitória do Cordeiro, para a qual a páscoa apontava.
JESUS FOI ALTRUÍSTA
A
terceira constatação necessária é que a obra de Jesus tinha um propósito –
beneficiar pecadores que não mereciam. Tudo quanto foi feito por Jesus tem um
alvo determinado, que é manifesto pela repetição do pronome na segunda pessoa
do plural: vós.
TEXTO III: Lc 22.17-20
17 E, tomando um cálice, havendo
dado graças, disse: Recebei e reparti entre vós; 18 pois
vos digo que, de agora em diante, não mais beberei do fruto da videira, até que
venha o reino de Deus.
19 E, tomando um
pão, tendo dado graças, o partiu e lhes deu, dizendo: Isto é o meu corpo
oferecido por vós; fazei isto em memória de mim.
20 Semelhantemente,
depois de cear, tomou o cálice, dizendo: Este é o cálice da nova aliança no meu
sangue derramado em favor de vós.
A
primeira menção dos beneficiários da obra de Cristo são os seus discípulos (Lc
22.14). Somente aqueles que estavam totalmente comprometidos com o Senhor
Jesus e que deixaram tudo por ele foram chamados para aquele momento (Mt
19.27).
No
verso 17 a ordem é para que os discípulos repartam o cálice entre eles mesmos (eautou), passando uns para os outros. Não há repetição ou desarmonia quando o
texto de Lucas menciona mais de um cálice, porque na pascoa judaica eles
costumavam tomar 04 taças de vinho, cada uma com aproximadamente 90ml.
No
verso 19 o Senhor Jesus lhes dá o pão, sem que eles tenham a obrigação de
reparti-lo. É ele quem o faz – ele é o agente e discípulos são o alvo do
derramar de sua graça. Ele o faz como um favor do qual eles são os
beneficiários (umwn). Aqui os discípulos não
são agentes, são os receptáculos do que o pão representa, inclusive seus
benefícios: o corpo de Cristo que seria ferido e moído em seu favor (Is 53.4).
É o anúncio do pagamento de uma dívida e do cancelamento de uma punição que
para o pecador seria simplesmente insuportável.
Este
padrão se repete no verso 20, quando os discípulos recebem um novo cálice e
finalmente é mencionado que na morte de Cristo dá-se o estabelecimento de uma
nova aliança sem a necessidade de repetição de sacrifícios de animais porque
esta aliança era não apenas recente quanto à forma mas também de um tipo sem precedente
quanto à substância (kainoj).
Era
o mistério da graça de Deus sendo finalmente revelado e um novo pacto (diaqhkh) sendo estabelecido, com seus efeitos benéficos sendo plenamente
derramadas sobre aqueles a quem Ele escolheu para si mesmo desde a fundação do
mundo (Ef 1.4-6).
REFLITA
Tanto
a páscoa quanto a ceia mostram um Deus gracioso que age em favor daqueles a
quem ama. Se na páscoa podemos inadvertidamente ser tentados a torcer pelos
pobres hebreus oprimidos contra os egípcios malvadões, na nova aliança somos
claramente confrontados com a nossa própria indignidade. O justo dá a sua vida
pelos injustos (1Pe 3.18), numa aliança na qual requer fé e obediência.
CONCLUSÃO
O
medo do desconhecido causa ansiedade – e infelizmente isto é comum e até
irresistível. Nada sabemos quanto ao que vai nos acontecer no restante deste
dia ou até mesmo amanhã – e às vezes as perspectivas são sombrias e
atemorizantes, até porque cada dia tem seus próprios males (Mt 6.34).
Precisamos
compreender que Jesus já dispôs todas as coisas para que aqueles aos quais o
pai amou sejam alcançados por todas as bênçãos a eles destinadas. Todas as
coisas, tanto as do céu quanto da terra cooperarão para que o propósito de Deus
seja realizado (Rm 8.28): a salvação dos eleitos e a glória do nome do
Senhor sendo cantada em toda a terra. Jesus não temia o amanhã porque este não
lhe era desconhecido, apesar do cálice angustiante que ele teria que
experimentar. Ele queria que o amanhã chegasse logo porque sabia a recompensa
por sua obra. Ele ansiava por aquele momento como um noivo anseia pelo encontro
com sua amada na noite de núpcias.
E
aos que creem nele ele apresenta a garantia da vitória sobre a morte e o gozo
eternos. Porque, então, devemos temer quanto ao nosso destino eterno, ainda que
haja sofrimento no tempo presente (Rm 8.18)?
A
ansiedade de Jesus era para agir em nosso benefício, estar conosco. Devemos
ansiar pelas mesmas coisas. Sabemos que a coroa está reservada, que os lugares
celestiais estão preparados, então, não precisamos temer, basta-nos ser fiéis,
e fiéis até a morte, fiéis até diante da morte, para recebermos a coroa da
vida.
Esta
é a mensagem da nova páscoa, da nova aliança. Foi esta mensagem que o apóstolo
Paulo aprendeu e ensinou aos crentes em Coríntios como uma mensagem alicerçada
no que Cristo fez, na qual celebramos a nossa fé certos da presença abençoadora
de Cristo no tempo presente e ansiosos pela volta gloriosa do nosso Redentor.
Amém!
Vem, Senhor Jesus!
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