terça-feira, 10 de setembro de 2024

COMO SER A IGREJA QUE VOCÊ QUER TER

1 Paulo, prisioneiro de Cristo Jesus, e o irmão Timóteo ao amado Filemom também nosso colaborador, 2 e à irmã Áfia, e a Arquipo, nosso companheiro de lutas, e à igreja que está em tua casa, 3 graça e paz a vós outros, da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo [Fm 1.1-3].

 QUAL A NATUREZA DA IGREJA 

A carta que Paulo escreve (em companhia de Timóteo) para Filemom não parece ser uma carta de um pastor a uma igreja. Até sua classificação entre as cartas de Paulo indica isto. Algumas são chamadas de cartas gerais, endereçadas à igreja, como Romanos, Colossenses e Coríntios por exemplo. No entanto, a carta escrita a Filemom é uma carta mais pessoal, mais íntima mesmo sendo chamada de carta pastoral (Timóteo e Tito eram pastores). Esta carta é a carta de um pastor cuidando de sua ovelha por meio do mecanismo de comunicação ou da mídia social existente no seu tempo. No decorrer do estudo desta carta vamos conhecer mais sobre Filemom e seu servo problemático, para dizer o mínimo, chamado Onésimo. Mas o que podemos destacar inicialmente é que esta carta, embora muito pessoal, começa tratando da natureza da igreja de Cristo. Não parece que este assunto esteja presente aqui, especialmente porque estamos acostumados a pensar em igreja como instituição (prédios, oficiais, programações) - e, embora a reunião do povo em assembleia santa que se reunia na casa de Filemom seja mencionada nesta pequena seção inicial, não é de uma instituição que Paulo está falando. No estudo dos três primeiros versos desta carta quero chamar a sua atenção para A NATUREZA DA IGREJA DE JESUS CRISTO e sobre características que deveriam estar presentes e que deveriam caracterizar a igreja que foi resgatada do pecado por meio da obra salvadora de Jesus Cristo (1Pe 1.18-19). O que uma carta tão pessoal pode nos revelar sobre como deve ser a igreja de Cristo? O principio fundamental para entender seu ensino é que a igreja é composta por pessoas - pessoas como Paulo, Timóteo, Áfia, Arquipo e muitos outros anônimos, como os que se reuniam em nome do Senhor na casa de Filemom. No fim deste estudo desejo que você queira que a igreja da qual você faz parte apresente estas características porque você deve tê-las em sua própria vida.

Existem muitas vozes tentando atrair a sua atenção, querendo que você ouça e as receba como sua fonte de orientação. Políticos, professores, falsos apóstolos e falsos profetas. A igreja, no entanto, deve ouvir somente a voz de Deus através de sua Palavra. É na Palavra de Deus que encontramos a expressão da vontade de Deus.

 COMPROMETIMENTO COM CRISTO

 Não há dúvida alguma que, quando alguém é feito cristão há uma transformação em sua vida, e aprendemos que ao crer no Senhor Jesus Cristo ele é tornado nova criatura (2Co 5.17) e esta transformação altera profundamente sua essência e lhe dá uma nova identidade porque ele tem um novo princípio de vida, a vida de Cristo (Gl 2.20). A história do autor desta carta ilustra perfeitamente esta transformação. Era um benjamita, fervoroso adepto do farisaísmo, cidadão romano e natural da cidade de Tarso, e seu nome era Saulo. A primeira aparição de Saulo em Jerusalém o apresenta como um zeloso fariseu (Gl 1.14) que teve participação ativa na morte do primeiro mártir do cristianismo, o diácono e evangelista Estêvão ‘consentindo’ em sua morte (At 8.1; At 26.10). Saulo, literalmente ‘estava satisfeito ao aprovar’ (ên syneudokôn) o primeiro martírio cristão, tornando-se, à partir daí, o primeiro perseguidor sistemático da igreja cristã (At 9.1-2). O Saulo que perseguia a igreja para prender cristãos agora se apresenta como o prisioneiro do Senhor (Ef 4.1) e esta expressão é tanto literal quanto um adjetivo. Mais de uma vez Paulo esteve em prisões por causa do evangelho (2Co 11.23). Ele ficou preso em Cesaréia, em Filipos e em Roma. Paulo também era um prisioneiro (desmios) de Cristo (Ef 3.1), um servo cuja vontade estava inteiramente comprometida com a vontade do seu Senhor como um soldado na marcha de um exército (2Tm 2.4). Com isto aprendemos que um cristão é alguém totalmente comprometido com seu Senhor. Não é possível ser cristão e não confiar nele a ponto de entregar sua própria vida, seus projetos e desejos (Sl 37.5). O cristão busca, em primeiro lugar, o reino de Deus (Mt 6.33) e tem seu relacionamento com Jesus como sua total prioridade, como fizeram Pedro e os apóstolos (Mt 19.27). Você está realmente comprometido com Jesus a ponto de se considerar seu escravo (doulos) ou prisioneiro (desmios).

 Nenhum cristão deve se considerar autônomo. Nenhum homem é dono de si mesmo. Ou é escravo da carne e do pecado, e por consequência do diabo, ou é um servo de Deus. O cristão que não reconhece esta verdade simplesmente comprova que não foi arregimentado pelo Senhor para andar com ele (2Tm 2.4).

 FRATERNIDADE CRISTÃ

 Um segundo e importante aspecto da saudação de Paulo é que ele compreende a igreja como uma fraternidade - mas não no sentido que usamos atualmente, de amizade ou de relacionamento de solidariedade e união entre pessoas que compartilham objetivos, interesses ou valores comuns. Fraternidade (fraternitas) tem origem no latim frater (irmão) e itas (estado). Assim, literalmente fraternidade significa ‘ser irmão’. Conhecemos aspectos da história de Saulo, o fariseu de Tarso. Ele não era um cristão, muito pelo contrário. Ele considerava a igreja de Cristo um grupo de hereges que precisava ser destruído, sob qualquer forma. Ele mesmo afirma que era insolente, blasfemo, perseguidor e assassino - chegando ao ponto de considerar-se o principal dos pecadores. Mas isto mudou. Após seu encontro com Jesus no caminho de Damasco, quando ainda respirava ameaça de morte contra os cristãos houve uma mudança radical em Paulo. Após alguns incidentes ele é levado para Jerusalém por Barnabé, e, apesar da desconfiança dos cristãos (At 9.26) ele continuava pregando ousadamente, e começa sua historia de correr risco de morte por causa da fé (At 9.29). Neste contexto ele deixa de ser Saulo, o perseguidor, para em breve ser Paulo, o irmão (At 13.9). E, à partir de então, todos os cristãos, indistintamente, são irmãos. Paulo não faz distinção de nacionalidade pois Timóteo é um judeu (At 16.3) e Áfia uma gentia. Ele não faz distinção de sexo, pois Timóteo é um homem e Áfia uma mulher. Ele não faz distinção entre classes, pois Filemom é o respeitável senhor de uma casa, e Onésimo um escravo ladrão e fujão. A exceção que Paulo faz é para os revoltosos que devem ser notados (2Ts 3.14), e afastados da comunhão (2Ts 3.6). Os demais que andam segundo a Palavra de Deus são irmãos dignos do amor cristão (Fp 3.17) e a comunhão nunca deve ser desprezada, e o amor deve ser verdadeiro e nunca meras palavras ocas (1Jo 3.18).

 A igreja não foi idealizada para ser um clube, nem para ser uma associação. A igreja é estabelecida pelo amor do Pai por meio de Jesus, o primogênito de muitos irmãos. Estar na igreja e não considerar este aspecto e não se relacionar fraternalmente com os que foram salvos por Jesus é indicativo de que nunca nasceu de novo.

 AMOR GENUÍNO

 Talvez devêssemos nos perguntar se todos os cristãos sabem o que é, realmente, o amor cristão, especialmente em uma época onde o conceito de amor foi tão banalizado a ponto de pessoas passarem a dizer que amam alguém que acabaram de conhecer e, pouco tempo depois, desiludidas, já estarem amando outra pessoa antes que surja um novo amor passageiro. Esta banalização do que é o amor também tem influenciado como as pessoas se relacionam com Deus e com a igreja de Deus. É cada vez mais comum pessoas que falam do amor de Cristo enquanto planejam e executam ações para prejudicar o próximo a quem deveriam amar (Gl 5.14). Por saber que o coração do homem é tão enganoso (Jr 17.9), a ponto de enganar a si mesmo (Tg 1.16) que o Senhor orienta os crentes a amarem de verdade, não apenas da boca para fora (Tg 1.16). Mas como o crente pode saber se seu coração não o está enganando? Pode parecer difícil, mas você não precisa fazer análise psicológica para descobrir. Peça ao Senhor para sondar seu coração, mostrar-lhe se há caminho mau (Sl 139.24) e admitir a resposta a uma pergunta tão simples quanto esta: você estaria disposto a abrir mão de um direito seu, qualquer direito, para beneficiar alguém que está neste mesmo ambiente que você? Antes que você pergunte qual pessoa eu lhe digo: qualquer uma, ou, talvez eu devesse perguntar de outra maneira: olhe ao seu redor, veja se há aqui alguém por quem você jamais abriria mão de um direito seu ou de uma pessoa que você ama para abençoá-la? E então, você é capaz de amá-la a este ponto? Eis a definição de amor: Deus nos amou sem que nós o tivéssemos amado (1Jo 4.19) e provou seu amor quando ainda agíamos como seus inimigos (Rm 5.8). Sim, é comum amar os familiares, amigos e pessoas com quem se tem afinidade. Mas e ao próximo? Se a sua resposta é não, mesmo o membro de igreja, tens um coração igual ao de um publicano ou gentio (Mt 5.46-47).

Não é com discursos teológicos ou citações de versos bíblicos que uma pessoa pode provar que é verdadeiro discípulo de Cristo. Embora a defesa da verdade seja importante ao lado de uma moralidade irrepreensível o principal aspecto da vida cristã que identifica o discípulo de Jesus é o amor que une a igreja.

 COOPERAÇÃO MÚTUA

 Paulo teve um ministério bastante frutífero, embora não tenha sido nada fácil. No início ele teve a desconfiança dos cristãos (At 9.26), o ódio dos judeus helenistas (At 9.29) e dos palestinos (At 23.12). Ele era uma verdadeira unanimidade. Enfrentou diversos problemas entre judeus e gentios (2Co 11.26) e tudo isto estava no plano de Deus (At 9.15-16). Mas havia algo na vida de Paulo que lhe servia de consolo: ele sabia que não faria o trabalho sozinho porque Deus enviaria outros para trabalharem juntamente com ele (synergos), para serem seus cooperadores. E o Senhor lhe deu excelentes colaboradores. Logo no começo de sua caminhada cristã ele foi auxiliado por Barnabé, que cuidou dele nos seus primeiros passos, num necessário discipulado na fé cristã pois embora Paulo fosse um profundo conhecedor da teologia judaica sua maneira de crer no messias deveria ser mudada (At 2.36). A lista de cooperadores de Paulo é extensa: Marcos, Silas (ou Silvano), Aristarco, Epafrodito, Lucas, Priscila e Áquila, Timóteo, Crescente, Tito e Demas, que mais tarde se tornaria um apóstata (2Tm 4.10). Certamente havia outros cooperadores que não foram citados aqui (1Co 3.9). Paulo rejeita a apostasia de Demas e celebra a reconciliação com João Marcos, que em um momento o abandonou (At 15.38) mas depois se torna precioso na pregação do evangelho (2Tm 4.11). É da natureza da igreja que os crentes, aqueles que foram tornados irmãos por meio de Cristo e que possuem o mesmo Pai (1Ts 3.11) devem ser unidos, mais unidos que os ímpios quando estes se associam para fazer o mal (Is 41.6) pois o cordão de três dobras não pode se romper facilmente (Ec 4.12).

É importante que a igreja olhe para si mesma, que cada crente se olhe e pergunte: com o que eu estou colaborando com a igreja de Cristo? De que forma eu estou colaborando para promover a edificação mútua (Ef 4.16)? O que terei nas mãos para mostrar ao Senhor?

 A igreja deve ser uma comunidade na qual os crentes são instrumentos de Deus para edificação uns dos outros e é por isso que a igreja é comparada com um edifício e com um corpo. Embora todos sejam diferentes entre si, e tenham funções diferentes, todos são igualmente úteis e indispensáveis para realização do propósito de Deus.

 COMPANHEIRISMO NAS LUTAS

 Outro escritor do Novo Testamento faz um importante chamado aos cristãos: que estes batalhem diligentemente pela fé que receberam, sem permitir que ela seja alterada (Jd 1.3). Em nossa língua colaborador e companheiro tem sentidos muitos próximos, mas não no propósito que Paulo as usa. Colaborador (synergos) é aquele que trabalha junto tendo um alvo em comum, e isto pode ser vivenciado em qualquer tempo, inclusive em tempos de paz. Já companheiro de lutas (ou de armas) é systratiôtês, aponta para alguém que luta junto pela mesma causa, a causa de Cristo, que enfrenta oposição e experimenta a vitória que é obtida pela fé em Cristo (1Jo 5.4). Sobre Arquipo sabemos muito pouco além de ele fazer parte da comunidade que se reunia na casa de Filemom na cidade de Colossos (Cl 4.17). Mas se há algo que é importante saber sobre ele é que ele era um companheiro de lutas do apóstolo Paulo, alguém que estava pronto para batalhar pela fé que uma vez por todas foi entregue à igreja - e o fato de Filemom abrir a sua casa para reuniões cristãs mostra a sua disposição porque isto podia significar uma sentença de morte, especialmente nas últimas décadas do Séc. I (e devemos nos lembrar que Paulo estava em cadeias quando escreveu esta carta a Filemom). É obvio que Paulo não estava pensando em cavaleiros como cruzados ou templários. Ele também não estava pensando nos modernos soldados ou generais de Cristo da atualidade. Quando pensamos em lutar pela fé é normal pensarmos em cristãos perseguidos por causa do evangelho - e isto é verdade (Mt 5.11), mas você precisa pensar em algo mais, em viver como cristão lutando inclusive contra as inclinações do seu próprio coração, deixando de revidar o mal com o mal (Rm 12.17), fazendo somente o que é bom para edificação (Rm 15.2) e considerando o interesse do outro como superior ao seu próprio sem partidarismos (Fp 2.3).

 A igreja está inserida na maior guerra jamais travada no universo em uma luta que não é carnal e cujas armas são espirituais e não carnais. Nesta luta os que creem em Jesus são arregimentados, isto é, são convocados e aparelhados para batalhar incessantemente, não por si mesmos, mas pela fé que foi entregue para os santos.

 COMUNHÃO NO ESPÍRITO

 Como resultado do amor, da cooperação e da luta comum o crente vai viver em comunhão com seus irmãos em Cristo. Não é razoável pensar em alguém que é parte do corpo místico de Cristo, a igreja invisível, mas não amar e não participar ativa e totalmente comprometido com a igreja de Cristo - à falta de compromisso a bíblia chama de relaxamento (Jr 48.10) e ao abandono da congregação ela dá o nome de deserção (Hb 10.25). Não é razoável imaginar alguém que diz “amo a Deus” mas em seu coração aborrece a seu próximo (1Jo 4.20), não ama aqueles que foram comprados pelo mesmo sangue, batizados pelo mesmo espírito, adotados pelo mesmo Deus (Ef 4.5) e lutam as mesmas lutas (interiores em seu coração e exteriores, contra o diabo, contra o mundo e, lamentavelmente, até mesmo entre os próprios irmãos) com o intuito de glorificarem a Deus em suas vidas. Lamentavelmente a igreja tem se esquecido do ensino das Escrituras que dizem que a luta da igreja não é contra a carne, nem o sangue, mas que acabam sendo na carne e derramando sangue (Ef 6.12). O resultado da comunhão dos santos é a edificação mútua (2Co 13.10) e não feridas e destruição (Gl 5.15). Veja como Paulo descreve a igreja: irmãos amados, colaboradores e companheiros de lutas - uma igreja que se reúne na casa de Arquipo. Esta é uma carta personalíssima dirigida a Filemom, mas que também é dirigida a Afia, a Arquipo e à igreja que se reúne na casa deste último. Eu tenho certeza que a imensa maioria das pessoas gostaria de fazer parte de uma igreja assim - e talvez até você queira. O que eu não sei é quantos estariam dispostos a ser assim: um irmão amoroso, cooperador e que luta lado a lado pela fé, porque embora muitos creiam que igreja é instituição, isto é, Igreja Presbiteriana, Batista, Assembleia ou qualquer outra a igreja não é prédio, igreja é a comunhão dos crentes que são templo do Espírito Santo (1Co 6.19). A igreja é você - que igreja você quer ser?

 O ensino bíblico é que o propósito de Deus é ter para si uma nação de testemunhas. No passado estas testemunhas foram o povo judeu e atualmente seu povo é a igreja. Embora uma igreja não salve ninguém os salvos são impulsionados à comunhão e só a abandonam os desertores que nunca fizeram parte da verdadeira igreja (1Jo 2.19).

 BÊNÇÃOS: GRAÇA E PAZ

 Há um ditado que diz que é tolice querer mudar os resultados mantendo as mesmas estratégias. Outro diz que quem planta vento colhe tempestade. E é fato, ninguém colhe trigo plantando batatas - esta é a lei da semeadura. A bíblia também fala sobre isso. Ela ensina que quem semeia pouco, colhe pouco, mas quem semeia muito colhe com abundância (2Co 9.6). O que uma igreja comprometida com o Senhor e que apresenta estas características que temos observado até o momento pode esperar do Senhor? A resposta é: a igreja obediente pode esperar as bênçãos resultantes da obediência, assim como uma igreja desobediente deve esperar sofrer as consequências da desobediência. Paulo destaca duas destas bênçãos dadas por Deus por meio de Jesus Cristo: graça e paz. Esta carta é para quem está em Cristo, para quem crê em Deus, para quem ouviu o chamado do Senhor e o serve obedientemente. Geralmente as pessoas perguntem: o que ganho se obedecer, o que Deus tem para mim? Com o que Deus pode me  recompensar se eu aceitar que esta Palavra é para mim. Paulo fala de duas coisas que quando lemos a bíblia de maneira apressada podem passar despercebidas mas que expressam a plenitude da bênção de Deus sobre nossa vida. Elas estão no começo e no fim das cartas - e a leitura apressada passa por elas porque queremos ir logo ao assunto das cartas. Acontece que estas coisas são o assunto das cartas expressando o por quê da existência da Igreja e também o por quê da sua subsistência. É com estas coisas que a Igreja se reúne e se despede na certeza e expectativa de que é abençoada todos as vezes que se reúne para cultuar ao Senhor (Fp 1:2; Ef 6:23-24).

GRAÇA

Paulo deseja que a graça (kharis) seja uma constante na vida da Igreja. Graça é a bondade misericordiosa de Deus por meio de Jesus Cristo, através da qual ele age para abençoar pecadores que nada mereciam além da condenação. Graça é a substituição da merecida manifestação da ira de Deus sobre pecadores, lançando-os na morte eterna, e em lugar disso transformando os pecadores de filhos da ira em filhos do amor, fazendo-os assentar nos lugares celestiais em Cristo Jesus (Ef 2:6). Pela graça Deus exerce santa influência sobre a alma dos pecadores dando-lhes um novo princípio de vida (Ef 2:5) e os capacita para que se voltem para Cristo (Ef 2:8). Pela graça os pecadores são fortalecidos e crescem na fé. Pela graça o coração do pecadores é enternecido para Cristo e para o corpo de Cristo, capacitando-os a amar outros que são tão pecadores quanto eles. Pela graça os pecadores são despertados para o exercício das virtudes cristãs. Não há nenhuma razão para você estar aqui, neste lugar, neste momento, a não ser a graça de Deus. Não há nenhuma razão para você estar vivo agora que não seja a graça de Deus. Não há nenhuma razão para você continuar aqui que não seja a graça de Deus. Não há razão para você ter a esperança da salvação em Cristo a não ser a graça de Deus porque simplesmente nem você nem eu merecemos qualquer coisa de Deus - todos os homens são pecadores (Ec 7:20) e por isso merecem a condenação (Rm 6:23) expressa em ira (Cl 3:5-6). A graça de Deus é derramada nos que creem e eles são espiritualmente motivados a abandonar o pecado e viver para Deus.

PAZ

Ao lado da graça, e por  causa da graça, a Igreja experimenta paz com Deus (Rm 5:1). A palavra paz vem do verbo eirô, que significa juntar, por fim à separação (Ef 2:12).  Paz significa por fim à separação do pecador do Senhor Deus, uma separação causada pelo pecado do homem (Is 59:2). O Senhor concede paz com ele mesmo mediante a obra mediatória de Jesus Cristo. Quando esta paz é estabelecida a separação é cancelada e traz segurança por vir da vontade do Senhor Deus em quem não pode existir variação ou sombra de mudança (Tg 1:17) resultando em uma alma tranquila que tem certeza sem temor de sua salvação através de Cristo. A paz com Deus traz contentamento com a porção terrena que lhe seja dada porque sabe que há muito mais e melhor reservado na glória (Rm 8:18). Paz é algo que o pecador jamais pode experimentar sem Cristo porque somente a paz de Cristo suplanta qualquer forma de conflitos ou dissabores com origem nas circunstâncias ou em pessoas que não conhecemos e que não tem razão nenhuma para nos fazerem mal mas mesmo assim fazem. Ninguém consegue estar imune a problemas emocionais, conflitos em relacionamentos onde a harmonia deveria imperar, como a Igreja (Gl 2:11) e o lar (Mt 10:36), ou em ambientes competitivos, como o trabalho e o lazer. Mas quem tem paz com Deus experimenta paz em circunstâncias  que ninguém mais no mundo entenda (Fp 4:7). Paz de Deus, paz com Deus (Rm 5:1) é um privilégio dos que o invocam em sinceridade (2Tm 2:22). Esta paz excede a capacidade do homem natural compreender (1Co 2:14) porque ela é muito maior, muito mais elevada do aquilo que pode ser alcançado e compreendido pela sabedoria humana. Ela é uma dádiva do Senhor Jesus para os seus - e somente para os seus (Jo 14:27). A verdadeira paz não pode se alcançada no mundo nem imposta por força de armas como tentou o império romano nos dias de Jesus, criando um ambiente de paz armada, evidentemente fracassando como provam as muitas revoltas que haviam naqueles mesmos dias (At 5:36). Paz com Deus é o fim da guerra iniciada por Adão no Éden, é o estabelecimento de uma nova inclinação do coração, de um  desejo de andar com Deus em alegre obediência, entendendo que alegrar-se no Senhor é que é a fonte de força e poder da Igreja (Ne 8:10). Paz com Deus é algo que só a Igreja pode experimentar. Paz com Deus é algo que só na Igreja de Cristo você pode experimentar. Paz com Deus é algo que só a Igreja de Cristo anuncia e pode oferecer. Confie no Senhor, faça o bem (Pv 16:20), e então você entenderá a saudação de Paulo.

 Somente a igreja de Cristo pode experimentar o que Paulo desejava para os irmãos em Colossos. Não há paz com Deus por meio de boa conduta, ou de sacrifícios, ou de ofertas - não há paz com Deus sem Jesus Cristo. A Palavra de Deus ensina que só há paz com Deus por meio da graça manifestada por Jesus.

 CONSIDERAÇÕES FINAIS

 Sabemos que não existe uma igreja perfeita enquanto o Senhor Jesus não retornar. A igreja que temos hoje é chamada pelos teólogos de igreja visível, por razões óbvias, e também de igreja militante porque enquanto ela está aqui ela luta contra as inclinações de seu coração para o pecado, contra o mundo, contra o diabo. Enquanto o fim não chega e a igreja deixa de ser militante para ser tornada igreja triunfante temos nesta introdução da carta alguns padrões para os crentes. Sua comunidade de fé, sua ‘igreja’ pode ser mais santa, ou menos pecadora apresentando as seguintes características:

Comprometimento: Ela pode ser uma igreja comprometida com seu Senhor a ponto de julgar sua própria vida como menos preciosa do que a adoração ao Senhor em seu estilo de vida (At 20.24);

Amor fraterno: apesar de origens diferentes os crentes são tornados uma só família, são feitos irmãos por meio de Jesus Cristo, e vivem a fraternidade como um só corpo, amando-se mutuamente em obediência ao mandamento do Senhor Jesus (Jo 13.34) e com isto testemunhando a todos que são seus discípulos (Jo 13.35).

Cooperação no trabalho: a cooperação dos cristãos é fundamental para que a igreja se estabeleça. Jesus disse que uma casa dividida não pode subsistir (Mt 12.25). Se você quer o bem da sua igreja, coopere ativamente para que ela progrida. Se você não a ama, não precisa nem que você seja um opositor, basta que você não faça nada.

Companhia na luta: cada cristão tem um mandato e um chamado. Como cristãos temos o mandato do Senhor de, onde quer que a igreja esteja presente, o evangelho do Senhor Jesus tem que ser anunciado (Mc 16.15) e o nome do Senhor glorificado. Isto vai gerar oposição - que pode ser física ou intelectual e por isso os cristãos devem estar prontos a dar a todos a razão da sua esperança (1Pe 3.15) lutando zelosamente pela verdade.

Comunitária: é natural que uma igreja que experimenta o amor mútuo e que coopera na pregação do evangelho lutando pela fé mantenha-se unida pois aprendeu na própria Palavra que o cordão de três dobras não se rompe facilmente (Ec 4.12), uma forma de lembrar o ditado popular de que a união faz a força e que aprendeu que não se deve abandonar o ato de congregar para adorar ao Senhor por isto é motivo de alegria para o crente (Sl 122.1) e que agrada a Deus porque ele assim ordena (Jl 2.16).

Abençoada: a promessa de Deus é que abençoará a obediência de seu povo. O próprio estilo de vida da igreja já é uma bênção - um povo que tinha tudo para se destruir vive em amor e harmonia para sua própria edificação. Mas isto não é tudo - há um aspecto espiritual muito importante. A igreja de Deus, por causa de seu amor e bondade, recebe a manifestação da sua graça por meio de Jesus Cristo e vive em paz porque seu Senhor estabeleceu a boa nova da paz com Deus (Ef 2.17).

Que igreja você quer ter? Que igreja você quer ser?

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