POR QUE SOMOS PROVADOS?
OU PARA QUE SOMOS PROVADOS?
A carta aos Coríntios foi escrita para atender às necessidades da igreja na cidade de Corinto que precisava de orientações urgentes sobre diversos assuntos, e todos eles muito graves.
Paulo trata de problemas como o partidarismo pois a igreja estava se dividindo em grupos tendo como base o nome de Paulo, de Pedro e de Apolo e até o nome de Jesus - mas nenhum destes queria que isso acontecesse pois pastores verdadeiros não querem a igreja dividida, muito menos usando seus nomes como desculpa para seus pecados (1Co 3.4-6).
A igreja também tinha problemas relacionais com irmãos chegando ameaçar outros na tão justiça comum e oferecendo sacrifícios a deuses pagãos para ganhar causas judiciais contra irmãos (1Co 6.4).
Outro problema envolvia a prática de impurezas sexuais. Embora os cristãos não precisassem se submeter as práticas cerimoniais do judaísmo - mas deviam se manter longe da imoralidade e da impureza sexual (At 21.25).
O culto estava caindo em desordem com a atuação de algumas pessoas que se julgavam mais espirituais que outras, pretendendo ter alguma relação especial mais profunda com Deus que Pedro e Paulo tiveram e pretendiam mostrar isso através de pretensos sinais espirituais, mas Paulo diz que eles eram apenas ignorantes (1Co 12.1) e por isso não contribuíam para a edificação da igreja (1Co 14.12).
Mas esta igreja tinha uma característica muito mais importante que todos os problemas que ela enfrentava: ela era a igreja de Deus que estava em Corinto, composta por santificados em Cristo Jesus, chamados para serem santos junto com os outros irmãos que invocam o nome do Senhor em todo lugar. Aquela igreja, como esta, gozava da paz da parte de Deus Pai e do Senhor Jesus Cristo (1Co 1.2-3).
A palavra de Paulo aos coríntios é Palavra de Deus para cada um de nós, que cremos em Jesus Cristo.
INTRODUÇÃO
No milênio passado eu participei de uma reunião de oração dirigida por adolescentes, e um deles leu um pensamento de alguém que me fez pensar muito naquele momento - e que ainda está presente em minha mente e coração: "Se não fossem as provações, a igreja estaria cheia de hipócritas".
E é óbvio que o Senhor não quer uma igreja cheia de hipócritas - uma das mais graves acusações contra os fariseus, os homens mais religiosos do judaísmo do Séc., foi o de hipocrisia (Mt 23.27). A hipocrisia (upokrithj) é um subproduto pecaminoso da árvore contaminada da religiosidade, da autojustificação, da justiça pelas obras.
O hipócrita é um ator, um dissimulado, um impostor, um farsante e por isso seu fim é o de condenação (Mt 24.51) e eu quero crer que você está na igreja justamente porque não deseja ser condenado - ou porque foi alertado da condenação (Hb 12.25) e deu ouvidos à voz do seu pastor, Jesus (Jo 10.27).
O problema é que a hipocrisia é apenas uma máscara - uma maquiagem. E uma maquiagem não resiste a determinadas provas. Para que as máscaras caiam Deus providenciou meios para provar a fé.
Deus permite que sejamos provados, inclusive através das tentações até o limite em que podemos suportar (1Co 10.13). Ele permite que os crentes sejam provados e tentados.
O diabo espera que o crente abandone a fé, ele pretende destruir nossas vidas pelas provações mas Deus nos prova para que sejamos aprovados, maduros, frutíferos. Para que Pedro pudesse fortalecer os irmãos, Deus permitiu que ele fosse joeirado como trigo (Lc 22.31-32).
Somos confortados com a verdade de que Deus é fiel e não permitirá que sejamos provados além das nossas forças. Ele provê uma saída triunfal das provações.
Esta igreja já foi provada. Os membros desta igreja já passaram por tentações e superaram provações, e o fato é que elas são inevitáveis (Jo 17.15), e fazem do processo de crescimento do cristão, pois quando ele persevera nas provações é aprovado e recompensado (Tg 1.12).
É possível que o inimigo tenha olhado esta igreja em determinados momentos de sua história e tripudiado zombeteiramente achando que as portas do inferno prevaleceriam contra ela - mas o Senhor não permitiu que isso acontecesse e não permitirá que isto aconteça.
Esta igreja aprendeu com o Senhor Jesus que quando é sustentada pelo Espírito, quando ora diariamente é fortalecida para não cair quando é tentada - o ensino de Jesus na oração do Senhor é um ensino preventivo. Sendo assim, qual o propósito de Deus em relação às provações que enfrentamos como crentes?
AS PROVAÇÕES REVELAM AS PROVISÕES DA GRAÇA DE DEUS – I Co 10.1-4
Ninguém discorda que o período de Israel no deserto foi um período de provação e disciplina para um povo que se mostrou incrédulo quando não quis entrar na terra de Canaã quando Deus mandou e que resolveu entrar quando Deus disse que não deviam entrar mais como podemos ler no livro de Números (Nm 14).
Paulo fala sobre as provisões de Deus para o povo de Israel em sua caminhada no deserto rumo à terra prometida (10.1-4). Mesmo nas provações Deus não deixou seu povo à mercê da fome, ou da sede, ou da penúria, ou dos inimigos. É possível que os anos no deserto tenham sido o período em que Israel mais gozou de paz ininterrupta.
A experiência de 40 anos no deserto era necessária como provação para o povo de Deus (Dt 8.2-4) - eles precisavam da disciplina para seu crescimento e treinamento devido ao que teriam que enfrentar. Deus estava preparando seus filhos para a posse permanente da terra prometida. A disciplina de Deus em nossa vida é expressão do seu amor paternal (Dt 8.5).
O texto fala da satisfação das necessidades mais básicas de um povo nômade: comida, e Deus lhes deu o maná que desceu do céu (Ex 16.35) e bebida, por isso Deus fala da água que brotou da rocha (Ex 17.6).
Não era uma tarefa fácil. Para saciar a fome de cerca de 2 milhões de pessoas no deserto só por milagre - não havia como produzir ou comprar alimento suficiente para tantas pessoas por tanto tempo.
Nossa realidade é diferente hoje, e Deus permite experiências semelhantes em nossa realidade para que possamos reconhecer que tudo o que nós temos hoje, tudo o que conseguimos obter vem unicamente dele, porque é dele que procede tudo de bom, toda boa dádiva e todo o dom perfeito (Tg 1.17).
Ninguém, em lugar ou em tempo algum, ninguém além de Deus era capaz de saciar a fome e a sede dos hebreus no deserto durante 4 longas décadas, assim como Jesus diz que só ele pode saciar a alma dos famintos (Mt 5.6) e sedentos (Jo 6.32-35) e dos cansados (Mt 11.28). Somente Deus pode dar direção a um povo perdido e desorientado (Jo 14.6).
Por mais difíceis que sejam as provações elas são uma dádiva de Deus e quando perseveramos nas provações aprendemos com elas que a Sua graça é suficiente e de que somos fortes na fraqueza (2 Co 12.7-10).
Se seus olhos não se fixarem nas provações você será capaz de perceber que Deus continua presente, que ele é o mesmo ontem, hoje e eternamente, e assim como ele providenciou a satisfação de todas as necessidades de seu povo no deserto ele também é o Deus provedor hoje (Hb 13.8) e continuará sendo assim para sempre porque dele, por ele e para ele são todas as coisas (Rm 11.36).
AS PROVAÇÕES REVELAM E REPROVAM A INCREDULIDADE - 10. 5-11
Quando os hebreus saíram do Egito todos eles passaram pelas mesmas experiências. Todos ouviram as mesmas ordens. Todos passaram pelas mesmas provações e todos igualmente receberam as mesmas bênçãos: todos foram igualmente libertos da escravidão e da opressão de faraó.
Mas não lhe intriga que mesmo assim Deus não se agradou da maioria deles (10.5)? Não é perturbador pensar que a maioria deles não viu realizado seu sonho de chegar à terra prometida, pelo contrário, tombaram prostrados no deserto (Nm 14.29-30).
A resposta para esta intrigante questão é: eles não entraram na terra prometida porque foram rebeldes e incrédulos (v. 6 e 11). Centenas de milhares pereceram por causa da incredulidade. Centenas de milhares, milhões pereceram e estão perecendo por causa da incredulidade. Israel foi provado e pereceu em sua incredulidade e talvez você conheça alguém que faz parte e quer que você também faça parte da maioria e vivem imaginando coisas más (Ez 38.10).
Mas você deve se perguntar: qual o destino da maioria?
A maioria dos que saíram do Egito acabou perecendo no deserto. Foram provados em diversas situações e reprovados continuamente porque eram incrédulos - eram murmuradores, desobedientes, rebeldes, idólatras. Não é conveniente fazer parte da maioria dos que morrem.
O crente deve rejeitar enfaticamente seus convites e resistir firmemente às suas pressões mesmo no pior dos dias (Ef 6.13). O crente deve fazer parte da ‘minoria dos escolhidos’ (Mt 20.16), da minoria crente, como Calebe e Josué, os únicos homens adultos daquela geração que saiu do Egito e que entraram em Canaã.
Os demais, os que entraram na terra prometida, cresceram no deserto - muitos deles nasceram ali! Mas todos cresceram durante a prova, viram que a incredulidade e rebeldia de seus pais os privaram das bênçãos - aqueles pais incrédulos fizeram seus filhos amargar os sofrimentos do deserto por 40 longos anos de peregrinação, mas mesmo assim, neste período todo, não houve sequer um único dia de desamparo.
A incredulidade e rebeldia se manifestaram e se manifestam em:
(1) cobiça (10.6; veja Nm 11.4),
(2) idolatria (10.7; veja Ex 32.4-6),
(3) imoralidade (10.8; veja Nm 25.1-18),
(4) provar a Deus (10.9; veja Nm 21.5-6)
(5) murmuração (10.10; veja Nm 16.41, 49).
Foi por essas atitudes de rebelião e incredulidade que a maioria ficou prostrada no deserto! Esses fatos estão registrados como advertência para nós hoje (10.6 e 11). O nosso Deus é amoroso, mas é igualmente justo!
A incredulidade desonra Deus e Deus repudia, envergonha pune a incredulidade!
AS PROVAÇÕES REVELAM E APROVAM A FÉ NO DEUS VIVO - 1Co 10.12-13
Já vimos que um dos principais problemas dos fariseus era a hipocrisia. Mas no caso deles o problema era mais grave porque eles realmente acreditavam que eram aquilo que aparentavam. O personagem se tornou a personalidade - e esta é uma característica da hipocrisia: julgar a si mesmo além do que realmente é e por isso Paulo diz aos crentes para serem moderados no autojulgamento(Rm 12.3).
Em Corinto havia crentes que se julgavam a si mesmos superiores, mais desenvolvidos espiritualmente e desprezavam os demais irmãos - e não compreendiam que a bandeira que hasteavam, a da superioridade (Fp 2.3) na verdade evidenciava sua própria carnalidade (1Co 3.3).
Para evitar a armadilha da hipocrisia Paulo oferece uma linha de ação que não é nenhum método mágico. Ele exorta os crentes para serem vigilantes porque assim poderão permanecer de pé e não caírem (10.12).
As tentações (provações) são comuns a todos os seres humanos. A fidelidade de Deus não permite que sejamos tentados além do nosso limite, mas provê para nós uma saída vitoriosa! (10.13)!!!
A perseverança na fé em meios às provações faz do crente um bem aventurado porque através delas os crentes são aprovados e se tornam frutíferos (Tg 1.2-4; e ainda Tg 1.12; veja também 1Pe 1.6-9).
Mas a perseverança é fruto da vigilância - o perseverante é aquele que não caiu, aquele que permaneceu firme. E a ordem bíblica é: preste atenção crente, se você acha que é bom, que é forte, que é capaz ou qualquer coisa parecida lembre-se que você é incapaz de se autossustentar. Você só existe, só respira, só faz o que faz porque Deus quer que você seja assim. Você existe em Deus (At 17.28) e se ele quiser seus dias acabam no exato instante que ele retirar o seu Espírito (Jó 34.15).
Quando o ouro é provado o fogo não destrói o ouro. Ele queima as impurezas - e as que não são queimadas são separadas dele. O fogo purifica o ouro e faz com que ele brilhe mais! O crisol também não destrói a prata - ele faz com que o metal seja revelado mesmo como prata.
O mesmo acontece com o crente no meio da provação. Quando o crente é provado por Deus o seu caráter vai sendo lapidado, sua fé vai sendo evidenciada e nisto tudo ele manifesta a gloria de Deus em sua vida (Pv 17.3; veja também Pv 27.21; e também Mt 5.16).
Todas as tentações e provações que o crente enfrenta estão dentro do plano de Deus - e Deus sabe exatamente o que você é capaz de suportar. Ninguém é tentado como se fosse o super-homem. Ninguém é provado como se fosse o incrível Hulk. Cada individuo é tentado como um ser humano com forças limitadas. Os coríntios que cometiam pecados absurdos, assim como os hebreus no deserto porque atendiam aos interesses e inclinações de seus corações corruptos. Nenhuma tentação é super-humana. Esta é a primeira parte da verdade contida no v. 13.
Mas Paulo vai além e diz para uma igreja cheia de problemas e de pecados que aqueles que confiam sua vida a Deus serão tentados, serão provados, mas também receberão o livramento para suportá-la. Isto quer dizer que Deus livrará o crente das provações? Não, não necessariamente. Pode ser que Deus livre nas provações - e nisto Ele é ainda mais glorificado. Foi o que aconteceu com o trio de amigos de Daniel jogados na fornalha incandescente (Dn 3.17-18). Foi isto o que aconteceu com o próprio Daniel na cova dos leões (Dn 6.20).
Lembre-se nas suas provações e tentações: confie em Deus e obedeça sua Palavra. Guarde em seu coração: A fé honra a Deus e Deus honra a fé!
CONCLUSÃO
Eu quero concluir com uma história que nos ajuda a entender a natureza das provações. No Séc. XVIII a Marinha mercante inglesa estava tendo prejuízo porque muitos navios estavam se afundando por excesso de carga afinal, quanto mais mercadoria, maior o lucro - mas, quanto maior o peso, maior a probabilidade de problemas na estrutura dos navios e maior dificuldade de navegar.
Antes que a crise se instalasse o parlamento resolveu aprovar uma lei que obrigava cada navio a ter um sinal facilmente identificável pelos fiscais ingleses espalhados por todo o mundo, inclusive aqui no Brasil. Este sinal no casco dos navios servia simplesmente para indicar o limite de carga. Assim, eles saberiam que, se a carga ficava aquém do limite estabelecido o navio estava dando prejuízo por trabalhar com capacidade ociosa, mas se ia além do limite, dava prejuízo porque naufragava.
Todos deveriam trabalhar no seu limite - nem mais, nem menos. Isto ilustra o fato de que quando somos provados no limite de Deus, tornamo-nos maduros e frutíferos na obra do Senhor (1Co 15.58)! Este é o nosso alvo!
Frutificar para glória do Senhor.
Quando eu criança conhecia poucos materiais para construir casas: madeira, ramos finos de árvore e barro (pau a pique), adobe e alvenaria. Somente na adolescência fui conhecer os blocos furados. As casas mais antigas eram de adobe, eram mais robustas, paredes mais largas, mas era quase impossível pendurar alguma coisa mais pesada em suas paredes porque os ‘adobes’ eram apenas areia e cal, e se esfacelavam com relativa facilidade embora ainda existam muitas casas assim hoje.
Já aquelas cujas paredes eram feitas de alvenaria eram mais finas mas também eram mais resistentes (e obviamente este era um material mais caro). Você podia pendurar o que quisesse nelas.
Mas qual a diferença entre o adobe e a alvenaria. O primeiro era simplesmente seco ao sol. Já a alvenaria era colocada em fornos e o barro era submetido a altas temperaturas até ganhar resistência. O que não era experimentado era mais fraco. O crente que não é provado é menos resistente - e talvez isto explique os numerosos exemplos de fé e resiliência do passado. Sua fé foi provada e aprovada, e a provação da fé produziu perseverança (Tg 1.2-4) em contraste com o grande número de ‘ex-crentes’ que se decepcionam com a igreja.
Os ex-crentes não são pessoas que se decepcionaram com Deus porque Deus é fiel em todas as suas promessas. Estas pessoas se decepcionaram com o que lhes foi ensinado sobre Deus, coisas que muitas vezes não correspondiam à realidade - foram enganados ou se auto enganaram. É por isso que abandonam a fé diante das primeiras provas (1Jo 2.19) como Jesus advertiu ao contar a parábola do semeador (Mt 13.20-22).
Que tipo de fé você tem? Que tipo de crente você é? A igreja do Senhor foi edificada sobre o fundamento firme que é o próprio Senhor Jesus Cristo - sobre homens e mulheres que eram fracos em si mesmos, mas tiveram sua fé edificada sobre a rocha e quanto foram provados resistiram ao temporal (Mt 7.24-25).