...SAÍRAM
DO NOSSO MEIO!
SAÍRAM? ENTÃO, NÃO ERAM DOS NOSSOS.
O que é apostasia? A
definição que ofereço é a que segue: “é abandonar a proximidade com Cristo e
com os santos ao perceber que esta proximidade não se tornará comunhão por
causa das inclinações do coração daquele que apostata”.
Apostasia
é o abandono da comunhão, da doutrina correta (ortodoxia) e da prática correta (ortopraxia), mas não implica em abandono da fé genuína,
porque é impossível alguém abandonar o que nunca possuiu e que apenas
aparentava (hipocrisia).
A
palavra apostasia significa “perder o equilíbrio”, “separar-se de uma base que
serve de apoio indispensável”, “cair”, “abandonar a retidão”. No sentido
cristão ela assume o sentido de insubordinação mediante rebeldia moral e
espiritual, queda das convicções religiosas.
Ao
mesmo tempo podemos considerar a apostasia um gravíssimo erro espiritual porque a Palavra atesta que aqueles que
abandonam a Igreja, depois de terem conhecido a luz da verdade, se encontram em
estado pior que o anterior (II Pe
2:20 Portanto,
se, depois de terem escapado das contaminações do mundo mediante o conhecimento
do Senhor e Salvador Jesus Cristo, se deixam enredar de novo e são vencidos,
tornou-se o seu último estado pior que o primeiro).
Torna-se ainda mais escravo do pecado, escravo de satanás e réu da perdição
eterna.
É
por isso que não é de admirar que seja mais difícil trazer de volta para o seio
da Igreja um apóstata (que se julga cheio de razões para abandonar a Igreja,
numa atitude de insubmissão e rebeldia contumaz, pretendendo-se superiores aos
que ficaram) do que levar uma pessoa pela primeira vez ao evangelho. Nestes
tempos de politicamente corretos os apóstatas tem sido eufemisticamente
designados de “desigrejados”.
Mas
sabemos que há casos de arrependimento e retorno à sensatez - II Tm 2:26 ...mas também o retorno à sensatez, livrando-se
eles dos laços do diabo, tendo sido feitos cativos por ele para cumprirem a sua
vontade).
Para
o convertido a apostasia temporária é um perigo que rodeia a Igreja
constantemente, e este perigo é ainda mais grave onde há ignorância das
doutrinas, falta de amor cristão, indiferença para com o ensino da Palavra,
transformação dos canais de edificação em mero entretenimento, falta de amor
mútuo. Todos estes males agravam o risco de que, esquecendo-se de que do Senhor
vem a satisfação de todas as nossas necessidades (Sl 23:1 O SENHOR é o meu pastor; nada me faltará) o
cristão busque em cisternas rotas o que deveria estar recebendo da fonte de
águas tranquilas (Jr 2:13 Porque
dois males cometeu o meu povo: a mim me deixaram, o manancial de águas vivas, e
cavaram cisternas, cisternas rotas, que não retêm as águas).
Entretanto,
o inconvertido não pode evitar a apostasia, pois sua natureza é
comparada à de um animal que, livrando-se da impureza, retorna à podridão (II Pe 2:22 Com
eles aconteceu o que diz certo adágio verdadeiro: O cão voltou ao seu próprio
vômito; e: A porca lavada voltou a revolver-se no lamaçal).
Mas,
e o convertido, como evitar o perigo da apostasia? Como evitar que, lavado no
sangue de Cristo, volte a chafurdar-se na lama? Atitudes como meditação diária
e constante, com obediência à Palavra, cuidado e vigilância em sua vida
devocional, prática de exercícios devocionais particulares e comunitários,
envolvimento nas atividades da Igreja, guarda do dia do Senhor, assiduidade ao
culto, submissão às autoridades e amor aos demais membros do corpo de Cristo
são instrumentos de fortificação da alma.
I Tm 4.1-5
1 Ora, o Espírito afirma expressamente que, nos
últimos tempos, alguns apostatarão da fé, por obedecerem a espíritos
enganadores e a ensinos de demônios,
2 pela hipocrisia dos que falam mentiras e que têm
cauterizada a própria consciência,
3 que proíbem o casamento e exigem abstinência de
alimentos que Deus criou para serem recebidos, com ações de graças, pelos fiéis
e por quantos conhecem plenamente a verdade;
4 pois tudo que Deus criou é bom, e, recebido com
ações de graças, nada é recusável,
5 porque, pela palavra de Deus e pela oração, é
santificado.
____
I. A APOSTASIA NÃO É SURPRESA
Para os cristãos a apostasia não é nenhuma surpresa
por dois motivos.
O primeiro é histórico: ao longo de toda a história
da fé sempre houve apóstatas, incluindo, em determinado momento, até mesmo todo
o povo de Deus desde o começo de sua história (At 7:39-40 A quem
nossos pais não quiseram obedecer; antes, o repeliram e, no seu coração,
voltaram para o Egito, dizendo a Arão: Faze-nos deuses que vão adiante de nós;
porque, quanto a este Moisés, que nos tirou da terra do Egito, não sabemos o
que lhe aconteceu), em seu
desenvolvimento durante o período dos juízes (Jz 2:12
Deixaram o SENHOR, Deus de seus pais,
que os tirara da terra do Egito, e foram-se após outros deuses, dentre os
deuses das gentes que havia ao redor deles, e os adoraram, e provocaram o SENHOR
à ira) e mesmo nos dias de Jesus, quando
os discípulos o abandonaram (Jo 6.66
À vista disso, muitos dos seus discípulos o abandonaram e já
não andavam com ele), inclusive um
dos doze a quem ele escolheu (Jo
17.12 Quando eu estava com eles,
guardava-os no teu nome, que me deste, e protegi-os, e nenhum deles se perdeu,
exceto o filho da perdição, para que se cumprisse a Escritura).
Mas a apostasia não tem lugar no coração dos que
conhecem a Cristo como o filho de Deus (Jo 6:68 Respondeu-lhe
Simão Pedro: Senhor, para quem iremos? Tu tens as palavras da vida eterna) e se mantém atentos para não serem
enganados (II Ts 2:3 Ninguém,
de nenhum modo, vos engane, porque isto não acontecerá sem que primeiro venha a
apostasia e seja revelado o homem da iniqüidade, o filho da perdição).
Outro motivo para que não nos surpreendamos com a
apostasia é o fato de que o Senhor afirmou, de maneira muito clara, que ela
aconteceria (Mt 24.10-13 Nesse tempo, muitos hão de se escandalizar,
trair e odiar uns aos outros; levantar-se-ão muitos falsos profetas e enganarão
a muitos. E, por se multiplicar a iniqüidade, o amor se esfriará de quase
todos. Aquele, porém, que perseverar até o fim, esse será salvo).
A Igreja pode ser surpreendida pelo momento e pelo
modo de insurreição apóstata - mas nunca pelo fato de tal insurreição acontecer
e muitos abandonarem a doutrina bíblica. A própria doutrina bíblica prevê e
explica a apostasia como um movimento de um coração não regenerado rebelando-se
contra leis espirituais que não deseja cumprir. Embora a palavra seja agradável
aos crentes (Sl 19:10 São mais desejáveis do que ouro, mais do que
muito ouro depurado; e são mais doces do que o mel e o destilar dos favos) é um duro jugo para os inconversos (Jo 6:60 Muitos dos seus discípulos, tendo ouvido tais
palavras, disseram: Duro é este discurso; quem o pode ouvir?) ela é
pesada e desagradável para os descrentes.
Para o Senhor da Igreja não há surpresa nenhuma
quando surge um movimento apóstata - ele conhece o coração do homem (Jo 2:23-25 Estando
ele em Jerusalém, durante a Festa da Páscoa, muitos, vendo os sinais que ele
fazia, creram no seu nome; mas o próprio Jesus não se confiava a eles, porque
os conhecia a todos. E não precisava de que alguém lhe desse testemunho a
respeito do homem, porque ele mesmo sabia o que era a natureza humana).
Deus não foi surpreendido nem pela rebelião de
Satanás, e muito menos pelo pecado de Adão.
É impossível imaginar que o Deus que tem pleno
conhecimento de todas as coisas (Jo
16:30 Agora, vemos que sabes todas as
coisas e não precisas de que alguém te pergunte; por isso, cremos que, de fato,
vieste de Deus), de tudo sobre todo o universo,
inclusive os pensamentos do homem antes que sejam formulados (Sl 139:4 Ainda a
palavra me não chegou à língua, e tu, SENHOR, já a conheces toda), e tudo dispõe segundo o seu querer (Pv 21:1 Como
ribeiros de águas assim é o coração do rei na mão do SENHOR; este, segundo o
seu querer, o inclina) seja surpreendido
por alguma coisa que o homem consegue fazer.
A Palavra afirma que o Espírito do Senhor sabe tanto
quem são como de onde virão os apóstatas, e com que propósitos - atrair os
homens para si, engrandecerem-se à custa de seus seguidores e afastar os homens
de glorificarem ao Deus vivo, de maneia que, mortos espiritualmente, sejam
arrastados para o inferno junto com satanás e seus anjos (Mt 25:41 Então,
o Rei dirá também aos que estiverem à sua esquerda: Apartai-vos de mim,
malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos).
____
II. A ORIGEM DA APOSTASIA
De onde vem a apostasia? Toda apostasia é demoníaca? Ou devemos creditá-la
a interesses humanos? Ou a mera hipocrisia e dureza de coração? Ou é tudo isto
junto? Na visão de Paulo, existem pelo menos três causas para a apostasia -
causas que podem atuar isoladas ou concomitantemente.
ESPÍRITOS
ENGANADORES
Ora, o Espírito afirma expressamente que, nos
últimos tempos, alguns apostatarão da fé, por obedecerem a espíritos enganadores e a ensinos de demônios...
I Tm 4.1
Esta mesma expressão é usada por João para descrever
uma das causas da apostasia: pregadores de um falso evangelho, ou profetas da
mentira [I Jo 4.1 Amados, não deis crédito a qualquer espírito;
antes, provai os espíritos se procedem de Deus, porque muitos falsos profetas
têm saído pelo mundo fora). Paulo assume
que é do coração do homem que procedem os maus desígnios (Mt 15:19 Porque
do coração procedem maus desígnios, homicídios, adultérios, prostituição,
furtos, falsos testemunhos, blasfêmias).
O Senhor se refere a propósitos que brotam do
coração do homem, que é corrupto (Jr 17:9
Enganoso é o coração, mais do que
todas as coisas, e desesperadamente corrupto; quem o conhecerá?) e foi
justamente esta a causa do dilúvio: os maus desígnios do coração do homem (Gn 6:5 Viu o
SENHOR que a maldade do homem se havia multiplicado na terra e que era
continuamente mau todo desígnio do seu coração).
É por causa destes maus desígnios que homens
inescrupulosos ameaçam a paz e a unidade da Igreja, buscando arrastar alguns
com doutrinas muitas vezes atrativas, outras tantas esquisitas, mas verdadeiras
afrontas a Deus e à sua Palavra (Rm
16:17-18 Rogo-vos, irmãos, que noteis bem
aqueles que provocam divisões e escândalos, em desacordo com a doutrina que
aprendestes; afastai-vos deles, porque esses tais não servem a Cristo, nosso
Senhor, e sim a seu próprio ventre; e, com suaves palavras e lisonjas, enganam
o coração dos incautos).
INFLUÊNCIA DEMONÍACA
Ora, o Espírito afirma expressamente que, nos
últimos tempos, alguns apostatarão da fé, por obedecerem a espíritos
enganadores e a ensinos de
demônios...
I Tm 4.1
É obvio que o diabo não perderia a oportunidade de
perturbar a Igreja do Senhor, e ele o faz de duas maneiras.
A primeira é semeando o joio no meio do trigo (Mt 13:25 ...mas,
enquanto os homens dormiam, veio o inimigo dele, semeou o joio no meio do trigo
e retirou-se), através de seus ministros (II Co 11.13-15 Porque os tais são falsos apóstolos, obreiros
fraudulentos, transformando-se em apóstolos de Cristo. E não é de admirar,
porque o próprio Satanás se transforma em anjo de luz. Não é muito, pois, que
os seus próprios ministros se transformem em ministros de justiça; e o fim
deles será conforme as suas obras) na
tentativa de enganar os eleitos - o que, evidentemente, é impossível
definitivamente.
A segunda é tentando retirar o joio levando junto o
trigo. Existem inúmeras formas de doutrina satânica sendo disseminadas -
umbanda, espiritismo, satanismo propriamente dito. Ademais, toda doutrina que
nega a Cristo é doutrina anticristã, e é, pois, uma filha do diabo independente
do uso ou rejeição da bíblia. Entretanto, há, claramente, doutrinas que são
diretamente proporcionadas pela direção demoníaca, através de entidades
espirituais disfarçadas ou não. A umbanda, por exemplo, apropriou-se de um
sincretismo com a idolatria romanista para disfarçar suas entidades animistas
africanas - mas recebe direção direta de tais entidades.
O espiritismo pretende ser o canal de comunicação
entre espíritos de luz (que eles mesmos admitem a possibilidade de serem
espíritos enganadores), homens e espíritos de mortos, uma doutrina que não
encontra respaldo nas Escrituras (Hb 9:27
E, assim como aos homens está
ordenado morrerem uma só vez, vindo, depois disto, o juízo).
Até mesmo o romanismo e suas mensagens atribuídas a
mortos (santos) ou à Maria (todos mortos, evidentemente) pode ser tão
corretamente atribuídas a ação demoníaca quanto a falsa visão que Saul
“entendeu” ser de Samuel, contra todas as evidências: alguém que deveria estar
com Deus teve que “subir” e, posteriormente, aceita que o rei se prostre ante
ele (I Sm 28:14 Perguntou
ele: Como é a sua figura? Respondeu ela: Vem subindo um ancião e está envolto
numa capa. Entendendo Saul que era Samuel, inclinou-se com o rosto em terra e
se prostrou) e ainda oferece uma profecia que
não se cumpre perfeitamente, embora Saul realmente tenha morrido, mas não no
dia predito (I Is 28:19 O
SENHOR entregará também a Israel contigo nas mãos dos filisteus, e, amanhã, tu
e teus filhos estareis comigo; e o acampamento de Israel o SENHOR entregará nas
mãos dos filisteus).
Não podemos nos esquecer do moderno pseudo
pentecostalismo e seus cada dia mais aberrantes extremos, cujos praticantes
procuram justificar suas loucuras em pretensas visões, esquecendo-se do que
Paulo disse aos gálatas - nem ele, nem anjos podiam ir além da revelação das
Escrituras (Gl 1.8-9 Mas, ainda que nós ou mesmo um anjo vindo do
céu vos pregue evangelho que vá além do que vos temos pregado, seja anátema.
Assim, como já dissemos, e agora repito, se alguém vos prega evangelho que vá
além daquele que recebestes, seja anátema).
É evidente que este pseudo pentecostalismo pode ser,
claramente, uma soma de tudo o que serve de fonte para heresias: espíritos
dispostos a enganar, homens mercadejando a fé, sob influência de satanás e
possuidores de corações hipócritas e consciências cauterizadas.
DESONESTA
HIPOCRISIA
...pela hipocrisia
dos que falam mentiras e que têm
cauterizada a própria consciência,
I Tm 4.2
Raramente a apostasia é fruto de dificuldade de
entendimento doutrinário - é muito mais de desonestidade e dissimulação
intelectual. Um exemplo claro que ilustra esta afirmação é o momento em que
muitos discípulos deixam de andar com Jesus (Jo 6:66
À vista disso, muitos dos seus
discípulos o abandonaram e já não andavam com ele)
exatamente porque compreenderam o que ele disse e o que isto significava para
suas vidas - renúncia do eu, comprometimento integral com o reino (Jo 6.60 Muitos dos seus discípulos, tendo ouvido tais
palavras, disseram: Duro é este discurso; quem o pode ouvir?).
Eles queriam uma religião que pudessem “praticar” (Lc 10:25 E eis que certo homem,
intérprete da Lei, se levantou com o intuito de pôr Jesus à prova e disse-lhe:
Mestre, que farei para herdar a vida eterna?) e Jesus
lhes oferece uma religião que era muito mais que isso, mais que um estilo de
vida, era uma nova vida (Jo 6.63 O espírito é o que vivifica; a carne para
nada aproveita; as palavras que eu vos tenho dito são espírito e são vida) como ele mostra com absoluta clareza para
Nicodemos (Jo 3:3 A isto, respondeu Jesus: Em
verdade, em verdade te digo que, se alguém não nascer de novo, não pode ver o
reino de Deus).
Observe que os apóstatas julgam-se no direito de
julgar o ensino de Jesus, colocando-se acima do mestre, como fizeram os judeus
e, há pouco tempo, foram seguidos pelo herético Edir Macedo em vídeo datado de
31 de dezembro de 2012:
“Pensa comigo, por favor. O primeiro milagre que
Jesus realizou foi numa festa de casamento quando ele transformou a água em
vinho. Eu fiquei perguntando: ‘Meu Deus, o primeiro milagre que o Senhor faz
não é a cura de um enfermo, não é a libertação de um oprimido, não é a salvação
de um ser humano. O senhor transformou água em vinho?’ E esse vinho, o que fez?
Alegrou apenas os convidados daquela festa de casamento. Não fez mais nada. Ou
fez? Qual foi o benefício que a transformação de água para vinho trouxe para o
Reino de Deus?”
“Qual foi o benefício que a
transformação de água em vinho trouxe para o reino de Deus? Houve algum
benefício? Não. É justo que o Senhor tenha transformado em água em vinho sem
beneficiar qualquer pessoa e não tenha transformado a vida de uma pessoa para
nova criatura e tenha a mesma qualidade de vida?”
“Eu não aceito essa
situação. Minha inteligência se nega a aceitar. O meu coração diante do
conhecimento que nós temos da Tua palavra e da justiça de Deus, não passa na
minha cabeça, é inaceitável”.
Macedo usa a desonesta [como todo apóstata e
herético ele não poderia ser honesto) tática argumentativa de chamar a pessoa a
“pensar com ele” - insinuando implicitamente que quem ousar discordar está,
automaticamente, classificado de “não pensante”. Então, podemos insistir na
afirmação de que não é falta de entendimento, mas essencialmente desonestidade
intelectual, preferência pela mentira e rejeição da verdade que move o apóstata
(Rm 1.24-25 Por isso, Deus entregou tais homens à
imundícia, pelas concupiscências de seu próprio coração, para desonrarem o seu
corpo entre si; pois eles mudaram a verdade de Deus em mentira, adorando e
servindo a criatura em lugar do Criador, o qual é bendito eternamente. Amém!).
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III. AS ARMADILHAS DA APOSTASIA
A apostasia não se apresenta com um convite para o abandono da fé.
Geralmente ela se apresenta como uma interpretação mais profunda ou atualizada,
ou, pelo contrário, uma tentativa de voltar a práticas há muito tornadas obsoletas
pela vitória de Cristo na cruz e a liberdade dela decorrente, que alguns,
inadvertidamente, transformam em libertinagem (Jd 1:4 Pois
certos indivíduos se introduziram com dissimulação, os quais, desde muito,
foram antecipadamente pronunciados para esta condenação, homens ímpios, que
transformam em libertinagem a graça de nosso Deus e negam o nosso único
Soberano e Senhor, Jesus Cristo).
CONTROLE
DE RELACIONAMENTOS
3 que proíbem
o casamento e exigem
abstinência de alimentos que Deus criou para serem recebidos, com ações de
graças, pelos fiéis e por quantos conhecem plenamente a verdade;
I Tm 4.3
Os relacionamentos são a mais básica necessidade
emocional horizontal do ser humano, que foi criado para viver em companhia de
outro ser (Gn 2:18 Disse mais o SENHOR Deus:
Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma auxiliadora que lhe seja idônea) que lhe seja igual e complementar (Gn 2:23 E disse o homem: Esta, afinal, é
osso dos meus ossos e carne da minha carne; chamar-se-á varoa, porquanto do
varão foi tomada).
Numerosas seitas apostatas exigiam de seus membros
dedicação integral, proibindo o casamento - no que foram imitados pela Igreja
romana em meados do séc. XI como uma forma de manter intacto o patrimônio da
Igreja e, ao mesmo tempo, dispor do trabalho em tempo integral de seus membros.
Não é difícil mostrar que esta abstinência é uma
forma de negação de submissão à vontade de Deus que afirma que não é bom que o
homem esteja só, e, ainda, que o leito conjugal é uma benção (Hb 13:4 Digno de honra entre todos seja o
matrimônio, bem como o leito sem mácula; porque Deus julgará os impuros e
adúlteros).
RESTRIÇÕES
ALIMENTARES
3 que proíbem o casamento e exigem abstinência de alimentos que Deus criou para serem recebidos, com
ações de graças, pelos fiéis e por quantos conhecem plenamente a verdade;
I Tm 4.3
A apostasia se revela também pela negativa em
receber, com ações de graças, de tudo o que Deus criou e deu para servir de
alimentação do sua criatura.
Também não é incomum nas seitas apóstatas a
proibição de determinados alimentos, considerados puros pelo Senhor antes (Mc 7.18-19 Então,
lhes disse: Assim vós também não entendeis? Não compreendeis que tudo o que de
fora entra no homem não o pode contaminar, porque não lhe entra no coração, mas
no ventre, e sai para lugar escuso? E, assim, considerou ele puros todos os
alimentos) e após a ressurreição (At 10:15 Segunda
vez, a voz lhe falou: Ao que Deus purificou não consideres comum).
Encontramos esta prática em instituições como o
adventismo (especialmente carne de porcos e semelhantes) e o romanismo (semana
“santa”), mas também está presente no budismo (qualquer carne), no hinduísmo
(carne de vaca) e outras.
SACRALIZAÇÃO
DE PESSOAS
Geralmente movimentos apóstatas são fruto de pessoas com personalidade
impactante, e conseguem arrastar após si pessoas mais fracas e influenciáveis.
Podemos ver numerosos exemplos nos dias atuais, quando pregadores de si mesmo
arrastam multidões sem oferecer-lhes nada que ao menos se pareça com o alimento
da Palavra de Deus.
Também vemos esta sacralização em relação à memória
de pessoas que foram importantes dentro da instituição e, em alguns casos, nem
foram reais, como os santos romanos.
SACRALIZAÇÃO
DE DIAS E DATAS
Quem distingue entre dia e dia para o Senhor o faz; e quem come para o
Senhor come, porque dá graças a Deus; e quem não come para o Senhor não
come e dá graças a Deus.
Rm 14:6
O restabelecimento da guarda de dias santos - não
apenas no sabatismo, mas também no romanismo é uma forma de apostasia porque
tira o foco que deve ser sempre no autor e consumador da fé, Jesus (Hb 12:2 ...olhando firmemente para o
Autor e Consumador da fé, Jesus, o qual, em troca da alegria que lhe estava
proposta, suportou a cruz, não fazendo caso da ignomínia, e está assentado à
destra do trono de Deus) para colocar
na obediência a mandamentos que já foram ab-rogados porque cumpridos por Cristo
Jesus, o nosso descanso.
SACRALIZAÇÃO
DE ATOS
...sabendo que não foi mediante coisas corruptíveis, como prata ou ouro,
que fostes resgatados do vosso fútil procedimento que vossos pais vos legaram,
I Pe 1:18
Assim como Pedro, Jesus denuncia um grave problema
religioso do ser humano: considerar o que tem sido feito como mais importante
do que o que se deve fazer (Mc
7.11-13 Vós, porém, dizeis: Se um homem
disser a seu pai ou a sua mãe: Aquilo que poderias aproveitar de mim é Corbã,
isto é, oferta para o Senhor, então, o dispensais de fazer qualquer coisa em
favor de seu pai ou de sua mãe, invalidando a palavra de Deus pela vossa
própria tradição, que vós mesmos transmitistes; e fazeis muitas outras coisas
semelhantes).
Sacramentar a tradição faz com que as pessoas fechem
os olhos para Jesus. A Igreja inúmeras vezes se esconde atrás do “sempre
fazemos assim” para não obedecer a Cristo ou aos apelos de almas que se perdem
e um movimento apóstata valorizar sobremaneira uma determinada prática, mesmo
que esta não tenha fundamento bíblico, apenas por causa da antiguidade da
mesma.
____
IV. COMO ENTENDER A APOSTASIA
A Escritura chama os apóstatas de “anticristos”. É
evidente que não está se referindo ao anticristo (II Ts 2.3-4 Ninguém, de nenhum modo, vos engane, porque
isto não acontecerá sem que primeiro venha a apostasia e seja revelado o homem
da iniqüidade, o filho da perdição, o qual se opõe e se levanta contra tudo que
se chama Deus ou é objeto de culto, a ponto de assentar-se no santuário de
Deus, ostentando-se como se fosse o próprio Deus) que
coloca-se em oposição ao filho (I Jo
2.22 Quem é o mentiroso, senão aquele que
nega que Jesus é o Cristo? Este é o anticristo, o que nega o Pai e o Filho). João chama os promotores da apostasia de
anticristos, predecessores e tipos do anticristo que encarnará a apostasia
final.
Os apóstatas possuem algumas características que
podemos identificar no ensino de João (I Jo
2.18-19 Filhinhos,
já é a última hora; e, como ouvistes que vem o anticristo, também, agora,
muitos anticristos têm surgido; pelo que conhecemos que é a última hora. Eles
saíram de nosso meio; entretanto, não eram dos nossos; porque, se tivessem sido
dos nossos, teriam permanecido conosco; todavia, eles se foram para que ficasse
manifesto que nenhum deles é dos nossos).
Eles sairão do meio da Igreja, e, por
isso, conhecerão muito bem sua estrutura, seus pontos fortes e sua
vulnerabilidade. Entretanto, a Igreja não deve sentir-se surpresa nem
desanimada, ainda que esta saída lhe cause dor, como uma operação para retirar
um objeto estranho que feria o corpo e o prejudicava.
Por conhecerem a Igreja eles farão críticas
verdadeiras, embora seus objetivos sejam perniciosos. Podemos, inclusive,
aprender com os apóstatas quando eles apontam nossas falhas, embora não devamos
lhes seguir os maus passos.
Eles serão diferentes da Igreja, porque,
embora parecessem ser parte dela, nunca foram realmente convertidos. Vieram
para o seio da Igreja por motivos os mais diversos possíveis, e muitos deles
nem foram injustos: família, necessidade de companhia, amizades, busca de
conhecimento, relacionamentos sadios. Mas sua natureza não mudou.
Se fossem parte da Igreja não poderiam ter sido
arrebatadas das mãos do Senhor (Jo
20.27-29 As minhas ovelhas ouvem a minha voz;
eu as conheço, e elas me seguem. Eu lhes dou a vida eterna; jamais perecerão, e
ninguém as arrebatará da minha mão. Aquilo que meu Pai me deu é maior do que
tudo; e da mão do Pai ninguém pode arrebatar).
Eles sairão para evidenciar diferenças entre os
crentes e os inconversos. Sairão porque não eram parte da Igreja, eram joio no
meio do trigo, podiam até ser confundidos com a Igreja mas no tempo de
produzirem os frutos serão como a figueira estéril: sua aparência será apenas fachada,
não darão frutos e não permanecerão.
Eles servirão de alerta para a Igreja. Sua
presença e sua apostasia servirão de lição e advertência para os fiéis, que
devem aprender que sem Cristo nada podem fazer (Jo 15:5 Eu sou a videira, vós, os ramos.
Quem permanece em mim, e eu, nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada
podeis fazer), mantendo-se vigilantes para que
não caiam (I Co 10:12 Aquele,
pois, que pensa estar em pé veja que não caia).
____ VI. A
COLHEITA DO APÓSTATA
A Escritura afirma que o estado daquele que abandona
a fé é pior que o seu estado anterior, geralmente num nível moral inferior por
causa das contaminações do mundo, deixando-se enredar pelas armadilhas do mundo
e de satanás. Seu estado é pior do que o anterior porque, tendo sido
considerados livres até pelo inimigo (que não conhece corações e não tem como
saber quem é convertido ou não) agora retornam, duplamente humilhados (Jd 1:12 Estes homens são como rochas
submersas, em vossas festas de fraternidade, banqueteando-se juntos sem
qualquer recato, pastores que a si mesmos se apascentam; nuvens sem água
impelidas pelos ventos; árvores em plena estação dos frutos, destes
desprovidas, duplamente mortas, desarraigadas).
____
VII. O ANTÍDOTO
Para que o cristão não seja enredado pelos laços
armados pelo diabo e pelas ramas e raízes do joio que ele planta, é necessário
que faça uso dos meios de graça, da administração da Igreja e da comunhão com
os santos.
Ninguém pode resistir às ciladas do inimigo sem
estar alimentado pelo Espírito do Senhor através de sua Palavra. Jesus deu-nos
o exemplo ao ser tentado, embora detentor de todo o poder ele preferiu vencê-lo
pela Palavra (I Jo 5:3 Porque este é o amor de Deus: que guardemos
os seus mandamentos; ora, os seus mandamentos não são penosos).
Outra importante fonte de poder é o usufruto dos
sacramentos, tanto o batismo onde confessamos a Cristo como Senhor como a Santa
Ceia, quando renovamos nossa comunhão com Deus e com a sua Igreja (I Jo 1:3 ...o que temos visto e ouvido
anunciamos também a vós outros, para que vós, igualmente, mantenhais comunhão
conosco. Ora, a nossa comunhão é com o Pai e com seu Filho, Jesus Cristo).
Deus também nos dá o governo da Igreja como um
importante instrumento de crescimento e purificação (Hb 13:17 Obedecei aos vossos guias e sede
submissos para com eles; pois velam por vossa alma, como quem deve prestar
contas, para que façam isto com alegria e não gemendo; porque isto não
aproveita a vós outros).
Uma última e difícil consideração a respeito dos
apóstatas é a orientação da Palavra no sentido de que os mesmos devem ser
identificados e evitados pela Igreja para que ela não seja contaminada. Em
outras palavras, a Igreja não deve receber reconhecidos apóstatas em seu meio
com os braços abertos (II Ts 3:14 Caso
alguém não preste obediência à nossa palavra dada por esta epístola, notai-o;
nem vos associeis com ele, para que fique envergonhado) porque os mesmos portam veneno em seus
lábios (Os 10:4 Falam palavras vãs,
jurando falsamente, fazendo aliança; por isso, brota o juízo como erva venenosa
nos sulcos dos campos).
Não
adianta querer ganhar ou manter reconhecidos apóstatas no seio da Igreja porque
isto é um prejuízo, é um dano. É melhor deixa-los partir. Como diz o título
deste texto, é melhor vê-los partir porque isto é uma profilaxia do Espírito
Santo em sua Igreja, para mantê-la pura para o noivo (II Pe 3.14-17 Por essa razão, pois, amados, esperando
estas coisas, empenhai-vos por serdes achados por ele em paz, sem mácula e
irrepreensíveis, e tende por salvação a longanimidade de nosso Senhor, como
igualmente o nosso amado irmão Paulo vos escreveu, segundo a sabedoria que lhe
foi dada, ao falar acerca destes assuntos, como, de fato, costuma fazer em
todas as suas epístolas, nas quais há certas coisas difíceis de entender, que
os ignorantes e instáveis deturpam, como também deturpam as demais Escrituras,
para a própria destruição deles).
Manter apóstatas mediante carinhos e concessões é um adultério espiritual e um
câncer, um estímulo à septicemia espiritual na Igreja.
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