segunda-feira, 5 de outubro de 2015

EVIDÊNCIAS DA NOVA VIDA EM CRISTO - Cl 3.11-17

O apóstolo Paulo, que passou da morte para a vida, de perseguidor a perseguido, de blasfemo a pregador, de insolente a piedoso (I Tm 1:13) ensina aos colossenses que estar em Cristo é uma mudança completa, não apenas o abandono do mal mas também a prática do bem (I Pe 2:15) através das boas obras que o Senhor, de antemão, preparou para que seu povo andasse nelas (Ef 2:10) como evidência de terem se convertido a Deus (At 26:20).
Ele não apenas ordena aos colossenses – e a todos os crentes – que se desviem das obras infrutíferas das trevas (Ef 5:11) como também passem a praticar as obras da luz. Ele não apenas diz para eles se despirem dos trapos que caracterizavam o velho homem mas, também, que se revistam do novo homem. Ele diz para eles se despojarem dos penduricalhos do velho homem, que, como pesos, lhes causariam obstáculos à sua caminhada como, também, lhes diz para vestirem nova armadura.
12 Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de ternos afetos de misericórdia, de bondade, de humildade, de mansidão, de longanimidade. 13 Suportai-vos uns aos outros, perdoai-vos mutuamente, caso alguém tenha motivo de queixa contra outrem. Assim como o Senhor vos perdoou, assim também perdoai vós; 14 acima de tudo isto, porém, esteja o amor, que é o vínculo da perfeição. 15 Seja a paz de Cristo o árbitro em vosso coração, à qual, também, fostes chamados em um só corpo; e sede agradecidos. 16 Habite, ricamente, em vós a palavra de Cristo; instruí-vos e aconselhai-vos mutuamente em toda a sabedoria, louvando a Deus, com salmos, e hinos, e cânticos espirituais, com gratidão, em vosso coração. 17 E tudo o que fizerdes, seja em palavra, seja em ação, fazei-o em nome do Senhor Jesus, dando por ele graças a Deus Pai (Cl 3.12-17).

INTRODUÇÃO

 O início deste capítulo incentiva os crentes a mortificarem o velho homem no corpo da sua carne, não atendendo às suas concupiscências. Literalmente o texto diz para deixar “necrosar’ aquilo que já está morrendo, já está vencido e não deve ser alimentado para ter alguma forma de sobrevida.
Dar alento ao velho homem é como segurar um bastão de cobre num campo aberto durante uma tempestade. Assim como o bastão atrai os raios, o velho homem e suas práticas tem sobre si a sentença da ira de Deus – sobre ele, virá, inevitavelmente, a punição do santo em face aos pecados nos quais o velho homem se deleita.
Vamos nos debruçar um pouco mais sobre essa luta – luta que é de cada homem nascido de novo. Só não a luta quem já está morto (Ef 2:1) ou quem já descansou no Senhor, tendo combatido o bom combate e completado a carreira (II Tm 4:7). É uma luta que cada um de nós enfrenta, e, às vezes, é fragorosamente derrubado, embora não derrotado porque nossa vitória é a vitória de Cristo, pela fé (Rm 5:2) porque ele fez o que nos era impossível, cumprir as exigências da lei (Gl 2:16).

PRIMEIRA EVIDÊNCIA: MUDANÇA NAS MOTIVAÇÕES DO CORAÇÃO

12 Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de ternos afetos de misericórdia, de bondade, de humildade, de mansidão, de longanimidade.
Assim como o cristão é exortado a mortificar o velho homem, a despir-se de seus apetrechos que servem como peso e impedimento para que ele possa correr eficazmente a carreira que lhe está proposta, também é um fato que ele não pode combater o bom combate se não estiver devidamente preparado.
Por isso o apóstolo Paulo diz que o cristão deve revestir-se (mais precisamente, deve desejar e buscar deixar-se vestir) do novo homem. Da mesma maneira que sobre o velho homem permanece a ira de Deus (Jo 3:36 - Por isso, quem crê no Filho tem a vida eterna; o que, todavia, se mantém rebelde contra o Filho não verá a vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus) e seus atos são objeto da aplicação de sua justiça sobre o novo homem há alguns qualificativos que lhe dão segurança quanto à sua nova vida.
Somente os eleitos de Deus, escolhidos por sua graça desde antes da fundação do mundo (Ef 1.4-5) podem receber este revestimento. O Senhor não coloca remendo novo em pano velho (Mt 9:16), e isto indica que, assim como Nicodemos tinha que nascer de novo (Jo 3:7) qualquer outra pessoa que venha a ser revestido também, necessariamente, terá que passar pelo novo nascimento – e estes nascem pela vontade de Deus, e não de homens.
A Escritura é clara quando diz que aos seus eleitos Deus chama com o propósito de fazê-los santificados em Cristo e promoverem neles um estilo de vida santo (I Co 1:2) fruto do amor de Deus que é derramado em seus corações (Rm 5:5), aliás, novos corações porque o coração do velho homem não pode experimentar o amor de Deus, não tem nenhum discernimento sobre as coisas de Deus (I Co 2:14).
Este novo estilo de vida do novo homem expressa-se em um contraste com as antigas obras da carne que abundavam no velho homem, através de sentimentos que brotam do fundo do seu ser, sem hipocrisia. Estes sentimentos expressam-se em ações de compassiva misericórdia pelos seus semelhantes, por uma benigna integridade moral, por humildade no trato com o próximo, por um espírito de brandura e uma paciente perseverança que contrasta com a natural atitude vingativa e irada do velho homem.

SEGUNDA EVIDÊNCIA: RELAÇÕES INTERPESSOAIS SANTIFICADAS

13 Suportai-vos uns aos outros, perdoai-vos mutuamente, caso alguém tenha motivo de queixa contra outrem. Assim como o Senhor vos perdoou, assim também perdoai vós; 14 acima de tudo isto, porém, esteja o amor, que é o vínculo da perfeição. -
Por causa dos sentimentos verdadeiros, que brotam de um coração renovado pela graça de Cristo, as relações interpessoais que antes eram caracterizadas por dissenções, porfias, disputas insanas e sem sentido e que resultavam em amargura (mesmo entre irmãos – Hb 12:15), sofrem uma mudança radical. Onde havia, por exemplo, a mentira (Cl 3:9) ou as palavras torpes passamos a encontrar palavras boas para a edificação (Ef 4:29).
A ordem apostólica é para que os crentes ofereçam suporte mútuo – que se sustentem e se perdoem mutuamente. Isso seria desnecessário em uma Igreja perfeita, mas sabemos que nem em Colossos nem em Jerusalém houve uma Igreja perfeita. A Igreja perfeita é aquela que só é vista pelos olhos do Senhor, através do corpo da carne de Cristo, e que será conhecida dos homens apenas no último dia. O que conhecemos da Igreja colossenses é que era uma Igreja imperfeita, com inimigos internos e suas heresias e inimigos externos e suas armas e paganismo, como os romanos.
Este novo tipo de relacionamento mútuo não é possível em sociedades nas quis os homens ainda permanecem inclinados para seus próprios interesses – é por isso que doutrinas econômicas como o comunismo, por exemplo, nunca são, de fato, comunistas. São apenas burocracias oligárquicas. A única razão forte o suficiente para estabelecer uma verdadeira relação de mutualidade é o fato de que Cristo não apenas perdoou todos os pecados dos seus eleitos mas os chamou a uma nova relação de irmandade, tendo todos um só pai e um só Senhor (I Co 8:6).
Por causa disso, se todos são de um só Senhor, ninguém deve julgar-se de posse do direito de, mesmo com razão, acusar o próprio irmão, antes deve perdoá-lo – na mesma proporção e nas mesmas condições que foi perdoado por Deus. Um perdão incondicional, livre e gracioso.
Só existe uma forma de perdoar: movidos pelo amor de Deus, que perdoou quem não merecia e uniu a todos, embora diferentes, em um só corpo perfeito, o corpo de Cristo – e uma das piores doenças que pode atacar o corpo acontece quando o próprio corpo produzi aquilo que o aniquila, como é o caso de um câncer. Diferente desta doença, é o amor de Cristo que une todos os que nasceram de novo para que, em Cristo, alcancem a perfeição espiritual.

TERCEIRA EVIDÊNCIA: VIDA PACÍFICA

15 Seja a paz de Cristo o árbitro em vosso coração, à qual, também, fostes chamados em um só corpo; e sede agradecidos.
Apesar de tão almejada, de tão procurada, a paz é justamente o que jamais se encontrou no planeta terra – os dados disponíveis indicam que nunca houve um período em que não houvesse guerras na terra. Mesmo o esplendor da tecnologia e da cultura, que os teólogos do sec. XIX achavam que traria a paz universal, tem resultado em mais guerras, e guerras cada vez mais sangrentas com imagens chocantes, como as que temos visto nos atos do Estado Islâmico, mas não nos enganemos, estas atrocidades não são exclusivas deles. Nunca foram.
Quando dois irmãos não conseguem se entender, alguém tem que fazer a intermediação – e o único que realmente é isento é o Senhor de ambos, Jesus. Paulo diz-nos que a paz, que é de Deus, e que é não apenas anunciada como boas novas (Ef 2:17) mas também é dada por intermédio de Cristo Jesus (Jo 14:27) é quem deve arbitrar e controlar os corações dos crentes.
O primeiro anúncio a respeito da vinda de Cristo, assim que ele nasceu, falava de paz na terra entre os homens a quem ele quer bem (Lc 2:14). É óbvio que ele estava falando da paz entre os piedosos (Rm 12:18), não entre todos os homens e nem mesmo entre os piedosos e o resto dos homens (Mt 10:34).
A paz de Deus é, assim como o novo nascimento e o revestimento de ternos e verdadeiros afetos, é uma dádiva de Deus aos seus eleitos, porque ele é Deus de paz e seus eleitos foram tornados um com ele (Rm 12:5). Esta disposição para buscar a paz é uma característica que surge do fato de estarmos em Deus, porque ele dá, aos seus, paz em todas as circunstancias (II Ts 3:16).
Paz com Deus – e, consequentemente, com os demais eleitos, santos e amados, não é algo opcional, mas é condição para a santificação, sem a qual é impossível ver ao Senhor (Hb 12:14).
E é a paz de Deus, que independe das circunstancias, que move o crente para mais perto do seu próximo e, com isso, o abençoa no processo de santificação mutua, que deve levar o cristão a uma vida de gratidão a Deus. Ele não poderia alcançar esta paz. Ela não está disponível no mercado político. Ela não pode se obtida nas bolsas de valores do mundo. Ela é fruto da comunhão com o Senhor – por isso, o coração do cristão deve estar cheio de gratidão a Deus por esta paz, e vivê-la com seu próximo.

QUARTA EVIDÊNCIA: ADORAÇÃO COMUNITÁRIA

16 Habite, ricamente, em vós a palavra de Cristo; instruí-vos e aconselhai-vos mutuamente em toda a sabedoria, louvando a Deus (Senhor), com salmos, e hinos, e cânticos espirituais, com gratidão, em vosso coração.
 Paulo afirma que em seu corpo, em seus membros, isto é, na sua carne (obviamente refere-se à sua natureza terrena, carnal, que ele incentiva os crentes a deixar necrosar, a fazer morrer – Cl 3.5) habita o pecado e de uma forma tão insinuante e poderosa que ele chega a dizer que nem mesmo compreende o seu modo de agir (Rm 7:15).
Isto não serve de desculpa – é uma triste realidade com a qual temos que lutar o tempo inteiro, vigiando sempre. O ideal é que conseguíssemos vencer sempre, mas, infelizmente, este não é o caso, e por isso o Senhor nos diz que temos um advogado junto ao pai quando pecarmos (I Jo 2:1). Não é o caso de desanimar, pelo contrário, é nosso dever lutar, mortificar a carne e clamar por ajuda do Senhor (Rm 7:24).
A resposta obtida mediante inspiração do Senhor é: contra o pecado a resposta é uma nova lei, que Paulo chama de lei do Espírito da vida (Rm 8:2) e da Palavra de Cristo, referindo-se, evidentemente, às boas novas da salvação em Cristo Jesus que lhe trouxeram libertação e alegria (Rm 7:25).
Para que a nova vida se manifeste ela é motivada pela influência, pela habitação abundante da Palavra de Cristo através da vida comunitária – assim como o perdão é mútua, também a edificação deve ser mútua. E não é só isso. A nova vida, a vida do corpo de Cristo é de tal forma comunitária que, embora admita e exija momentos de devoção individual (Mt 6:6) ela é majoritariamente vivida com os demais irmãos. Foi assim com a Igreja nos seus primeiros dias em Jerusalém (At 2:42) e é para viver assim que os cristãos são exortados pelo escritor da carta aos hebreus (Hb 10:25).
Edificação mútua, louvor comunitário, bênção de Deus impregnando a Igreja com suas Palavra – que é viva e que liberta, principalmente do velho homem, resultando em louvor que provém do coração.

QUINTA EVIDÊNCIA: VIDA ÍNTEGRA

17 E tudo o que fizerdes, seja em palavra, seja em ação, fazei-o em nome do Senhor Jesus, dando por ele graças a Deus Pai.
Já vimos que deixar revestir-se do novo homem atinge as motivações, os afetos do coração do crente – seus relacionamentos pessoais são alterados, ele experimenta a paz de Cristo, o que significa paz com Deus e com os seus semelhantes, ainda que não haja paz com o mundo e ele é capacitado a viver esta nova vida alimentado pela Palavra.
Obviamente Paulo não queria fazer do cristianismo mais uma das muitas religiões de regras, preceitos e mandamentos (embora tenhamos, sim, que seguir regras, preceitos e mandamentos do Senhor – mas estes são colocados no coração, afetam as disposições interiores e não são aprendidos maquinalmente - Is 29:13). Legalismo por legalismo o judaísmo era mais antigo – e havia dezenas de outras formas religiosas semelhantes naqueles dias, onde bastava cumprir um ou outro, ou vários deveres religiosos e estava tudo certo com a divindade.
Encontramos nas Escrituras numerosas listas de coisas condenáveis – conhecemos cada uma delas, e elas servem basicamente para nos alertar sobre o quão somos pecadores, e quantos caminhos diferentes o velho homem tem para satisfazer as concupiscências de sua carne. A bíblia poderia conter um mandamento para cada uma das inclinações pecaminosas, para cada um dos erros e para cada uma das falhas, cada uma das armadilhas e dardos inflamados do inimigo – mas ela simplesmente nos adverte que o problema não está nas coisas, está em nós (Tg 1:14).
Somos ensinados a nos preparar para a batalha com as armas espirituais que Deus coloca à nossa disposição (II Co 10:4) e nos vestirmos da armadura que ele mesmo proporciona (Ef 6.13-18).
A orientação de Paulo é que tudo seja feito – seja o falar, seja o agir, todas e cada uma das ações sejam feitas de acordo com o mandato do Senhor Jesus – sem murmuração, sem contenda (Fp 2:14), mas pela mais absoluta gratidão pelo fato de ter sido liberto do império das trevas (Cl 1:13).

EXORTAÇÕES FINAIS

Sei perfeitamente, não apenas por estudo das Escrituras, mas pela experiência pessoal, assim como Paulo também tinha esta mesma experiência, que o assédio do pecado é constante. Sei que a luta de Paulo é a luta da cada um de nós aqui – em áreas diferentes, mas todos enfrentamos o assédio incessante do pecado e as armadilhas do mundo (Sl 141:9).
Sei também que a vitória sobre o pecado não pode ser alcançada pelo braço mortal – não é por nossa força que poderemos vencer o mundo, mas sim pela nossa fé (I Jo 5:4-5) naquele que venceu o mundo e nos diz que somos mais que vencedores (Rm 8:37).
E se não conseguirmos fazer tudo como deveríamos fazer, lembremos que nossas disposições interiores são santificadas pela graça de Deus que nos ajuda a fazer não o que queremos, mas o que o Espírito quer (Gl 5:17).
O erro que não podemos nos deixar enredar é o de desistir. As tribulações virão. As tentações virão. Até mesmo as quedas virão. Não podemos parar no verso 24 do capítulo 7 da carta de Paulo aos romanos. Não podemos simplesmente entrar em desespero e chorar dizendo que somos desventurados e miseráveis condenados à morte (Rm 7:24). Antes que o fôlego lhe acabasse Paulo lembra de seu Senhor e salvador Jesus Cristo e por ele dá graças (Rm 7:25).
Não, não devemos desistir nem retroceder (Hb 10:39) mas dos que prosseguem, deixando para trás os pecados anteriormente cometidos e buscando alcançar o alvo da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus (Fp 3.13-14). E se uma nova queda surgir? E se novas tribulações se apresentarem? Façamos como Paulo, lembremos que
8 Em tudo somos atribulados, porém não angustiados; perplexos, porém não desanimados; 9 perseguidos, porém não desamparados; abatidos, porém não destruídos; 10 levando sempre no corpo o morrer de Jesus, para que também a sua vida se manifeste em nosso corpo. 11 Porque nós, que vivemos, somos sempre entregues à morte por causa de Jesus, para que também a vida de Jesus se manifeste em nossa carne mortal (II Co 4.8-11).

Um comentário:

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