Definir significa expressar exaustivamente a natureza de
alguma coisa. Na verdade, dar uma definição absoluta é algo que só Deus é capaz
de fazer, por isso nosso propósito neste texto não é definir, é descrever.
Vamos tentar descrever o que pensamos que conhecemos: a Igreja,
porque precisamos saber o que é a Igreja para ser Igreja, mais do que
representar como se num palco estivéssemos.
Homens de
grande cultura, provavelmente os dois mais cultos dentre os escritores do Novo
Testamento, Paulo e Lucas trabalham em duas frentes para nos ajudar a
compreender o que é a Igreja. O primeiro trabalha com comparações, descreve a
Igreja à partir de outras coisas presentes e que podiam ser observadas pelos
seus leitores. O segundo, como historiador que se propõe a ser, trabalha com a
descrição de ações de uma comunidade concreta, mostrando seus acertos e seus
erros.
Vamos tentar compreender, inicialmente, como
Lucas, o discípulo de Paulo, médico gentio, retrata a Igreja para nós,
lembrando, porém, que aquela não é uma Igreja perdida no passado e sua
descrição foi para nossa edificação e consolação (Rm 15:4 - Pois tudo quanto, outrora, foi escrito
para o nosso ensino foi escrito, a fim de que, pela paciência e pela consolação
das Escrituras, tenhamos esperança).
O primeiro relato que Lucas traz da Igreja
está registrado em At 2.44. Num único e sintético verso ele traz uma
característica da Igreja que nenhum cristão ousaria contraditar: a Igreja é a
comunidade dos que creram. Mas ele traz também duas características que muitos
cristãos não se interessam por praticar: estavam juntos e tinham tudo em comum.
IGREJA
É CRENTES
Não há erro gramatical na frase acima, ela
foi propositalmente escrita para enfatizar a verdadeira natureza da Igreja.
Lucas descreve a Igreja como um grupo de pessoas que criam,
verdadeiramente, no Senhor Jesus Cristo, comprometendo-se com ele não apenas ideologicamente,
culturalmente ou filosoficamente. Era um compromisso de servidão (Jo 14.21) e
recompensa (Mt 25.34).
Um servo (doulos) não possuía a liberdade de escolher que
ordem de seu Senhor deveria obedecer. Um servo servia - obedecia, independente
de qual fosse a ordem, como aconteceu com os apóstolos quando foram proibidos
de pregar pela mais alta coorte judaica disseram que se sentiam obrigados a
obedecer ao seu Senhor (At 5.29) mesmo correndo perigos.
Brigamos em concílios para organizar igrejas
(associações religiosas), brigamos na justiça por patrimônio que chamamos de
templos (são apenas prédios) mas não devemos esquecer que a Igreja é o número
de crentes que creem em Jesus, que se comprometeram com ele, que receberam-no
como seu Senhor e salvador, e que anelam por permanecer obedecendo-lhe e assim
e experimentarem a manifestação do amor do Pai nos laços do Espírito.
Alguém pode pertencer a uma denominação
religiosa com o nome de Igreja em letras garrafais escritas na parede e mesmo
assim não ser Igreja de Cristo. Curiosamente Lucas descreve a Igreja com uma
característica que não pode ser medida pelos olhos dos homens: só Deus sabe
quem é realmente sua Igreja, embora possamos conhecer-lhe os frutos (Mt 7.20).
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