10 Assim também vi os perversos receberem sepultura e entrarem no repouso, ao passo que os que frequentavam o lugar santo foram esquecidos na cidade onde fizeram o bem; também isto é vaidade.
11 Visto como se não executa logo a sentença sobre a má obra, o coração dos filhos dos homens está inteiramente disposto a praticar o mal.
12 Ainda que o pecador faça o mal cem vezes, e os dias se lhe prolonguem, eu sei com certeza que bem sucede aos que temem a Deus.
13 Mas o perverso não irá bem, nem prolongará os seus dias; será como a sombra, visto que não teme diante de Deus.
Ec 8.10-13
COMO NÃO PERDER A FÉ
ENQUANTO OS ÍMPIOS PROSPERAM
Eu não tenho a menor dúvida de que os ímpios efetivamente prosperam. Em todos os lugares que olhamos, em todas as esferas, aparentemente vemos os ímpios exibindo orgulhosa e triunfantemente a sua impiedade, no que a bíblia chama de excesso de devassidão (1Pe 4:4-5).
A política brasileira é dominada por, em sua grande maioria, homens e mulheres que respondem a dezenas de processos na justiça, inclusive criminais. A economia conta com empreiteiros e empresários que se caracterizam por fazer o menor esforço possível, com o mínimo necessário de justiça, para construir fortunas ainda que destituídas de qualquer honra.
Mesmo se a procura for em lugares onde se espera encontrar maior comprometimento com a bondade, com a verdade, com o amor mútuo a decepção é mais comum do que o suportável.
Os ímpios prosperam. E prosperam em todos os ambientes. Um olhar de relance para a Igreja, em sua longa história, mostra que nem mesmo os muros santos deixaram de ser assaltados pela impiedade e maldade. A Igreja teve os seus Simões e Bórgias. Conspurcou-se e chafurdou na lama do mundanismo e do pecado. Conspirações colocavam e tiravam dirigentes dos governos eclesiásticos, não fugindo ao que já é descrito nas páginas das Escrituras (Gl 5:15).
Servos fiéis são tratados como gado e religiosos ímpios, desonestos, dissimulados e avarentos fazem comércio com a vida e piedade dos crentes (2Pe 2:3) sob uma enganosa capa de piedade.
Frustração, desconforto e até mesmo uma quase admiração, como é refletido no dito popular nada sábio “Se não pode vencê-los, junte-se a eles”. Talvez seja este o sentimento que assola o coração de muitos crentes fiéis, como aconteceu com o salmista ao observar a felicidade com que vivem os perversos (Sl 73:2-3). E com isto muitos vão paulatinamente se afastando da Igreja, o que em nada resolve o problema porque crente foi feito em Cristo Jesus para viver a sua vida espiritual na Igreja.
Sim, os ímpios e muitas vezes desqualificados continuarão a prosperar. Continuarão a praticar as suas impiedades e oprimir os santos de Deus. Lamentavelmente haverá opressão, cinismo e outros males até mesmo nos santos arraiais, usando o nome de Deus de maneira acintosamente desrespeitosa e arrogante, e, o que é mais frustrante, por muito tempo ainda, até que chegue o dia da ceifa (Mt 13:30) e os que assim agem recebam o seu devido galardão. O joio continuará a prosperar em meio ao trigal do Senhor. Ao crente cabe continuar clamando em angústia e perturbação de alma: Até quando, Senhor! Até quando!!!? (Sl 6:3).
O que a Palavra de Deus tem a dizer a crentes sinceros que observam este estado de coisas, fora e dentro da Igreja, e estão sendo tomados de desânimo e outros sentimentos como frustração e desalento? Tenho firme convicção que a Palavra de Deus tem resposta para esta e outras indagações. Com base nesta convicção, apresento esta singela mensagem, com o objetivo de ajudar os crentes a não perderem a fé no soberano governo de Deus mesmo quando os ímpios, efetivamente, prosperam e se dão (muito) bem, enquanto os crentes lutam diariamente para atender à injunção do profeta Malaquias:
Ele te declarou, ó homem, o que é bom e que é o que o SENHOR pede de ti: que pratiques a justiça, e ames a misericórdia, e andes humildemente com o teu Deus [Mq 6.8].
Mas como fazer isso? Como andar confiantemente diante de Deus vendo os ímpios prosperarem. A resposta do sábio está registrada em Ec 8.12:
12 Ainda que o pecador faça o mal cem vezes, e os dias se lhe prolonguem, eu sei com certeza que bem sucede aos que temem a Deus.
As orientações para que o crente não abandone a sua fé ao observar a prosperidade dos ímpios serão abordadas em três etapas:
i. O pecador fará o mal uma centena de vezes (o sentido, óbvio, é de continuidade, não de um número limitado de maldades, assim como as setenta vezes sete da maldição de Lameque (Gn 4:24 - Sete vezes se tomará vingança de Caim, de Lameque, porém, setenta vezes sete) ou da resposta de Jesus a Pedro (Mt 18:22);
ii. Os dias dos pecadores se prolongarão, e muitos deles prosperarão todos os dias de sua vida, e eles viverão dias tranquilos se dando bem em seus empreendimentos e artimanhas;
iii. Os crentes devem deixar o seu olhar de desalento com um misto de inveja e cobiça para esta prosperidade e lembrarem-se que lhes cabe temer ao Senhor.