PULAR CARNAVAL OU PULAR O CARNAVAL?
Se morrestes com Cristo para os rudimentos do mundo, por que, como se vivêsseis no mundo, vos sujeitais a ordenanças (Cl 2.20).
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Uma frase de um decadente cantor baiano explica a relação do cristão com o carnaval: “Atrás do trio elétrico só não vai quem já morreu...”
Conheço o carnaval. Já estive do lado de lá. Já fui atrás do trio elétrico na Bahia. E a frase, que nada tem de teológica, traz uma verdade teológica. Um relógio quebrado estará certo ao menos duas vezes por dia. A frase é dita no filme Um Crime de Mestre, com Anthony Hopkins, e tem sua origem em um conto persa. Agostinho defendia que toda verdade é verdade de Deus, porque ele é a causa ontológica de toda epistemologia, isto é, todo verdadeiro conhecimento só pode ter sua origem no Deus verdadeiro, ainda que o homem ou o diabo fale algumas verdades para obter seus intentos malignos.
Há algum tempo escrevi um texto (e recentemente gravei um vídeo que está em meu canal do Youtube: “Pastor aconselha a pular o carnaval”) sobre o carnaval exortando os cristãos a pularem o carnaval, isto é, não tê-lo em sua agenda. Embora eu acredite que já deveria ser absolutamente desnecessário dizer que cristãos não devem se envolver com o carnaval, cada vez mais parece imperativo tratar do assunto.
Não que o carnaval seja a mais maligna das festas pagãs, a festa da carne onde tudo vale. Tão pagão e demoníaco é o inocente "halloween" de brincadeirinha nas escolas brasileiras, ou as festas juninas com suas homenagens idólatras. O carnaval é uma festa orgíaca, sem dúvida, mas tão pagã quanto são as festas juninas, que volta meia alguns cristãos introduzem em suas Igrejas depois de darem um verniz "envangelical" sob o nome de 'festa das nações', das colheitas e até um trocadilho ridículo 'sem João com Jesus'. Desculpem, mas isto é conversa para engambelar tolos, é simplesmente uma mundanização da Igreja.
Como disse, o carnaval não é meramente uma festa pagã, embora muito semelhante aos antigos bacanais (em honra a Baco, divindade do vinho) e também aos cultos da fertilidade comuns tanto em Canaã como na Europa pré-cristã. É uma festa da carne, onde vale tudo, sensualidade, luxúria, bebidas e, cada vez mais, violência, drogas e dinheiro, cada vez mais dinheiro.
E os cristãos, o que tem com isso? Nada, ou não deveriam ter nada, embora existam 'blocos evangelizadores' saltitando alegremente em meio a orgia carnavalesca sob a desculpa de que está evangelizando os foliões, os mesmos foliões que podem ser encontrados em suas casas, em seus trabalhos, em sua escola, no trânsito e no ônibus, e em tantos outros lugares e os evangelizadores não os conseguem encontrar durante 362 dias do ano - aliás, estes ambientes são muito mais propícios à evangelização do que “atrás do trio elétrico”.
Voltemos à marchinha carnavalesca composta por Caetano Velos que se tornou clássico carnavalesco – e que alegremente cantava na década de 80: "atrás do trio elétrico só não vai quem já morreu". Embora a afirmação se referisse a morte física, sem querer, como Caifás (Jo 11.49-52), o insosso Caetano apresenta uma verdade a respeito dos cristãos – os verdadeiros cristãos não se empolgam com o carnaval simplesmente porque já estão mortos para os rudimentos do mundo (Cl 2:20) e para suas concupiscências.
Pois é. Vais assistir o desfile das escolas de samba? Vai torcer pela Mangueira ou pela Jabuticabeira? É, acredito que isto é um sinal de que estás vivo, e isto é ruim, pois ainda não morrestes com Cristo. Andas a observar os atributos da mulata globeleza (nem sei se ainda tem a tal mulata globeleza nestes tempos de politicamente correto)? Se ainda tem, e se vais, de novo é mais um triste sinal de que a vida de Cristo ainda não se manifestou. Em que parte das "boas obras que Deus preparou de antemão para que andássemos nelas" você consegue encaixar o carnaval?
Quantos cristãos não estão se comportando como Demas, acreditando que podem se comportar como mundanos por uma semana e o resto do ano como cristãos aguardando ansiosamente não a volta de Jesus, mas o próximo carnaval?
Um conselho? Pule o carnaval, risque-o da sua agenda, vá para um retiro, para um acampamento, para uma fazenda… desligue sua TV e tranque suas portas, mas pule o carnaval. Sei que a diferença parece pequena entre pular o carnaval e pular carnaval. É uma diferença tão pequena quanto a vida e a morte, a glória ou o inferno, Cristo ou o diabo. A quem você vai servir, afinal?
Assim também vós considerai-vos mortos para o pecado, mas vivos para Deus, em Cristo Jesus. Rm 6.11
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