A DUPLICIDADE TEMPORAL DA BÊNÇÃO DA DISCIPLINA
Hb 12.11 Toda disciplina (παιδεια], com efeito, no momento [em que é aplicada] não parece ser motivo de alegria, mas de tristeza; ao
depois, entretanto, produz fruto pacífico aos que têm sido por ela exercitados,
fruto de justiça.
I.
NINGUÉM SE ALEGRA COM A APLICAÇÃO DA DISCIPLINA
Ninguém gosta de ser disciplinado,
qualquer que seja a forma. Mesmo a mais branda das disciplinas, ainda que seja
uma simples conversa, causa algum tipo de mal-estar. A maioria de nós tem
experiência neste assunto - tanto como aquele que é disciplinado como quem
disciplina. E é desconfortável. Somente pessoas hipócritas ou com algum tipo de
distúrbio (psicopatas, sociopatas e semelhantes) sentem prazer em aplicar a disciplina.
Nem
mesmo Deus, que é perfeito, justo e santo, tem prazer na aplicação da
disciplina, mesmo quando ela é aplicada sobre os mais perversos dos homens (Ez 18.32) -
embora faça isso com amor (Hb 12.6). Mas a disciplina (παιδεια) deve ser aplicada sobre quem precisa ser orientado.
Não
disciplinar é errado, é pecaminoso (Pv 13.24).
Esqueça psicólogos e pedagogos modernos, esqueça pseudoeducadores - o péssimo
resultado de suas ideias está à vista de todos, porque não há
educação sem disciplina. Pedagogia inclui disciplina. Fique com a
bíblia que diz que quem não corrige quem precisa de disciplina o ‘aborrece’, é
como se o odiasse (שנא) - e é claro que Deus não odeia seus
filhos, ele os ama.
A disciplina
não é momento de alegria para ninguém (χαρας), pelo contrário. O ensino aqui é que ela deve causar
tristeza (λυπης). Causa tristeza para quem corrige por ver alguém que ama
incorrendo em erro, em pecado, fora do padrão de santidade exigido por Deus aos
seus filhos (Mt 5.48).
Deus não
espera que você saia todo alegre quando o Espírito aplicar a Palavra de Deus ao
seu coração corrigindo suas más ações, seus pecados. Ele quer que você se
lamente, que você pranteie, e que, ao menos interiormente, você se veja como
alguém abominável, capaz de atitudes abomináveis, e se arrependa no pó e na
cinza (Jó 42.6) porque você vê que a morte é a única coisa
que você merece. Quem não pranteia ao receber a correção do Espírito pela
Palavra não percebeu a gravidade de suas ações ou não entendeu o significado da
correção.
II. A DISCIPLINA DE DEUS
PRODUZ RESULTADOS ABENÇOADORES
A disciplina que vem de Deus produz
resultados: benéficos e definitivos. A expressão ‘ao depois’ (υστερον), ou seja,
depois da tristeza inicial, indica aquilo que vem por último, isto é, o
resultado - depois disso não há mais nada a ser feito. Então devemos perguntar:
qual o resultado definitivo da disciplina aplicada por Deus?
Vamos lembrar
que disciplina de Deus é um ato tanto corretivo como educativo - e embora
produza desconforto, cause alguma dor e entristeça o coração de quem é
disciplinado, ela não tem o objetivo de destruir - o objetivo dela é fazer com
que o crente não seja reprovado. Ao invés de fazer a tristeza prevalecer (δε) o fruto da
disciplina tem duas características: ela produz fruto pacífico e fruto de
justiça.
E este é um
detalhe que precisamos anotar antes de prosseguirmos: a disciplina de Deus é
produtiva, diferente das instituições correcionais de presos brasileiras, que
são, na verdade, universidades do crime. Ela não é inócua, não abre uma
possiblidade de resultados: ela tem resultados porque Deus determinou que sua
Palavra produzisse resultados (Is 55.11). Ela
é produtiva. Sempre.
O primeiro
resultado definitivo da disciplina de Deus é a produção de fruto pacífico.
Lembre-se que é uma carta escrita aos hebreus e faz referência a costumes e
religião hebraicas. O fruto pacífico é aquilo que é entregue por gratidão,
aquilo que não é obrigatório por causa de um pecado (Lv 7.13). O
fruto pacífico é resultado do reconhecimento de que a aplicação (γεγυμνασμενοις) da disciplina de Deus é benéfica na vida dos crentes (Jr 29.11). Este
reconhecimento produz gratidão pela disciplina de Deus.
Também
aprendemos que a correção produz fruto de justiça (δικαιοσυνης)? O fruto da obediência é o resultado do arrependimento,
da conversão para Deus em fé (At 26.20). Não
se trata de ter justiça própria (Fp 3.9) mas
de ter a justiça de Abraão, isto é, a justiça que é dada a quem crê (Rm 4.13), a
justiça da fé.
COMO INTERPRETAR A
DISCIPLINA VINDA DE DEUS
I. ELA RESTAURA O VIGOR AO
FRACO E DESANIMADO
12 Por
isso, restabelecei as mãos descaídas e os joelhos trôpegos; 13 e fazei caminhos retos
para os pés, para que não se extravie o que é manco; antes, seja curado.
O verso 12 começa com uma conjunção (διο): por causa
da eficácia da disciplina de Deus que produz frutos agradáveis ninguém deve
ficar desanimado ou entristecido. Deus não agride ninguém com o objetivo de
destruir: a ação disciplinar de Deus é restauradora (Mt 12.20).
Esta ação
restauradora incentiva o pecador que recebeu a disciplina de Deus a não ficar
prostrado. A exortação lembrada pelo escritor desta carta é uma citação do
profeta Isaías (Is 35.3): as mãos frouxas devem ser
fortalecidas, os joelhos vacilantes e trêmulos devem ser firmados pela
confiança na justiça que vem de Deus. O escritor junta mãos descaídas e joelhos
trôpegos em uma ordem: eles devem ser restabelecidos (ανορθοω). A ideia do
verbo é endireitar o que está deformado, reconstruir o que está quebrado e é
isto que Deus faz através da sua ação disciplinadora.
Ele muda duas
coisas: a primeira coisa é restabelecer as mãos descaídas (παρειμενας). Imagine a figura: uma pessoa desanimada, com as mãos
largadas ao longo do corpo sem fazer mais nada, sem produzir mais nada. Suas
mãos não tem força, não tem vigor, não há nada que estejam dispostas para
fazer. Não é assim que Deus quer que aqueles que são disciplinados por sua
graça fiquem. Ele quer renová-los, quer restaurá-los. Em lugar de tristeza deve
haver alegres cantos de livramento (Sl 126.1-2).
A segunda
indica figura é de alguém que arrasta os
pés tropeçando (παραλελυμενα), que não se sustenta em pé e não consegue se movimentar
ou ir a uma lugar qualquer, que não tem ânimo. Joelhos vacilantes remetem à
ideia de medo, de incerteza, de insegurança - e quem experimenta a disciplina
do Senhor é restaurado por uma disciplina que produz fruto e alegria.
Quem
experimenta a disciplina do Senhor sai da apatia para a vibrante adoração ao
Senhor (Sl 32.3-4). A ação restauradora de Deus opera de tal
maneira que mesmo o que não tem nenhum vigor tem forças para o que devem fazer (Is 40.29).
II. ELA INDICA O CAMINHO CERTO E SEGURO
É muito comum que pessoas religiosas achem
que basta não fazer o que é errado para que Deus seja, de alguma maneira,
impulsionado a recompensar sua justiça. É obvio que parte da vida cristã
envolve confessar o pecado e deixá-lo (Pv 28.13). O
ensino bíblico é que a confissão e abandono do pecado faz o pecador que se
submete à disciplina divina alcance misericórdia.
O apóstolo
Paulo resume esta verdade ao lembrar do seu ministério dizendo que pregava
ensinando a necessidade de que as pessoas se arrependessem, buscassem
piedosamente a Deus e praticassem obras que demonstrassem verdadeiro
arrependimento (At 26.20) como exemplificado no seu ensino
para a igreja em Éfeso (Ef 4.28): não bastava abandonar o pecado, é
necessário fazer o que é justo para, inclusive, ajudar o fraco a não pecar (Pv
30.8-9).
A ordem para
fazer caminhos retos é uma obediência ao mandamento do Senhor de endireitar os
caminhos (Is 40.3) é dirigida aos que são disciplinados.
Costumamos confundir disciplina como algo que produz sofrimento, mas a
disciplina também traz consolo aos angustiados (2Co 1.4), e
este consolo tem um aspecto que não podemos esquecer: ele é instrumento para
ajudar outros que passam pelas mesmas provas, isto é, aqueles que são mais
fracos, que tem maiores dificuldades de caminhar, os mancos.
É maravilhoso
lembrar que a ação de Deus na vida de um crente tem, também, o propósito de
abençoar outras pessoas, curando-os com o consolo já dado aos crentes por meio
de sua disciplina. Isto quer dizer que até mesmo os sofrimentos dos santos do
passado são instrumento de Deus para abençoar a sua igreja no tempo presente (2Co 1.6).
Somos
provados não apenas para que a nossa fé seja aprovada (Tg 1.3) mas
também para que outros sejam edificados pela maneira como Deus conduziu mesmo
as adversidades para a bênção de seu povo e realização de seu propósito santo e
eterno.
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