terça-feira, 11 de junho de 2024

HEBREUS 12 E A BÊNÇÃO DA DISCIPLINA DE DEUS

A DUPLICIDADE TEMPORAL DA BÊNÇÃO DA DISCIPLINA

Hb 12.11 Toda disciplina (παιδεια], com efeito, no momento [em que é aplicada] não parece ser motivo de alegria, mas de tristeza; ao depois, entretanto, produz fruto pacífico aos que têm sido por ela exercitados, fruto de justiça.

 I. NINGUÉM SE ALEGRA COM A APLICAÇÃO DA DISCIPLINA

 Ninguém gosta de ser disciplinado, qualquer que seja a forma. Mesmo a mais branda das disciplinas, ainda que seja uma simples conversa, causa algum tipo de mal-estar. A maioria de nós tem experiência neste assunto - tanto como aquele que é disciplinado como quem disciplina. E é desconfortável. Somente pessoas hipócritas ou com algum tipo de distúrbio (psicopatas, sociopatas e semelhantes) sentem prazer em aplicar a disciplina.

Nem mesmo Deus, que é perfeito, justo e santo, tem prazer na aplicação da disciplina, mesmo quando ela é aplicada sobre os mais perversos dos homens (Ez 18.32) - embora faça isso com amor (Hb 12.6). Mas a disciplina (παιδεια) deve ser aplicada sobre quem precisa ser orientado.

Não disciplinar é errado, é pecaminoso (Pv 13.24). Esqueça psicólogos e pedagogos modernos, esqueça pseudoeducadores - o péssimo resultado de suas ideias está à vista de todos, porque não há educação sem disciplina. Pedagogia inclui disciplina. Fique com a bíblia que diz que quem não corrige quem precisa de disciplina o ‘aborrece’, é como se o odiasse (שנא) - e é claro que Deus não odeia seus filhos, ele os ama.

A disciplina não é momento de alegria para ninguém (χαρας), pelo contrário. O ensino aqui é que ela deve causar tristeza (λυπης). Causa tristeza para quem corrige por ver alguém que ama incorrendo em erro, em pecado, fora do padrão de santidade exigido por Deus aos seus filhos (Mt 5.48).

Deus não espera que você saia todo alegre quando o Espírito aplicar a Palavra de Deus ao seu coração corrigindo suas más ações, seus pecados. Ele quer que você se lamente, que você pranteie, e que, ao menos interiormente, você se veja como alguém abominável, capaz de atitudes abomináveis, e se arrependa no pó e na cinza (Jó 42.6) porque você vê que a morte é a única coisa que você merece. Quem não pranteia ao receber a correção do Espírito pela Palavra não percebeu a gravidade de suas ações ou não entendeu o significado da correção.

 II. A DISCIPLINA DE DEUS PRODUZ RESULTADOS ABENÇOADORES

 A disciplina que vem de Deus produz resultados: benéficos e definitivos. A expressão ‘ao depois’ (υστερον), ou seja, depois da tristeza inicial, indica aquilo que vem por último, isto é, o resultado - depois disso não há mais nada a ser feito. Então devemos perguntar: qual o resultado definitivo da disciplina aplicada por Deus?

Vamos lembrar que disciplina de Deus é um ato tanto corretivo como educativo - e embora produza desconforto, cause alguma dor e entristeça o coração de quem é disciplinado, ela não tem o objetivo de destruir - o objetivo dela é fazer com que o crente não seja reprovado. Ao invés de fazer a tristeza prevalecer (δε) o fruto da disciplina tem duas características: ela produz fruto pacífico e fruto de justiça.

E este é um detalhe que precisamos anotar antes de prosseguirmos: a disciplina de Deus é produtiva, diferente das instituições correcionais de presos brasileiras, que são, na verdade, universidades do crime. Ela não é inócua, não abre uma possiblidade de resultados: ela tem resultados porque Deus determinou que sua Palavra produzisse resultados (Is 55.11). Ela é produtiva. Sempre.

O primeiro resultado definitivo da disciplina de Deus é a produção de fruto pacífico. Lembre-se que é uma carta escrita aos hebreus e faz referência a costumes e religião hebraicas. O fruto pacífico é aquilo que é entregue por gratidão, aquilo que não é obrigatório por causa de um pecado (Lv 7.13). O fruto pacífico é resultado do reconhecimento de que a aplicação (γεγυμνασμενοις) da disciplina de Deus é benéfica na vida dos crentes (Jr 29.11). Este reconhecimento produz gratidão pela disciplina de Deus.

Também aprendemos que a correção produz fruto de justiça (δικαιοσυνης)? O fruto da obediência é o resultado do arrependimento, da conversão para Deus em fé (At 26.20). Não se trata de ter justiça própria (Fp 3.9) mas de ter a justiça de Abraão, isto é, a justiça que é dada a quem crê (Rm 4.13), a justiça da fé.

COMO INTERPRETAR A DISCIPLINA VINDA DE DEUS

I. ELA RESTAURA O VIGOR AO FRACO E DESANIMADO

12 Por isso, restabelecei as mãos descaídas e os joelhos trôpegos; 13 e fazei caminhos retos para os pés, para que não se extravie o que é manco; antes, seja curado.

 O verso 12 começa com uma conjunção (διο): por causa da eficácia da disciplina de Deus que produz frutos agradáveis ninguém deve ficar desanimado ou entristecido. Deus não agride ninguém com o objetivo de destruir: a ação disciplinar de Deus é restauradora (Mt 12.20).

Esta ação restauradora incentiva o pecador que recebeu a disciplina de Deus a não ficar prostrado. A exortação lembrada pelo escritor desta carta é uma citação do profeta Isaías (Is 35.3): as mãos frouxas devem ser fortalecidas, os joelhos vacilantes e trêmulos devem ser firmados pela confiança na justiça que vem de Deus. O escritor junta mãos descaídas e joelhos trôpegos em uma ordem: eles devem ser restabelecidos (ανορθοω). A ideia do verbo é endireitar o que está deformado, reconstruir o que está quebrado e é isto que Deus faz através da sua ação disciplinadora.

Ele muda duas coisas: a primeira coisa é restabelecer as mãos descaídas (παρειμενας). Imagine a figura: uma pessoa desanimada, com as mãos largadas ao longo do corpo sem fazer mais nada, sem produzir mais nada. Suas mãos não tem força, não tem vigor, não há nada que estejam dispostas para fazer. Não é assim que Deus quer que aqueles que são disciplinados por sua graça fiquem. Ele quer renová-los, quer restaurá-los. Em lugar de tristeza deve haver alegres cantos de livramento (Sl 126.1-2).

A segunda indica  figura é de alguém que arrasta os pés tropeçando (παραλελυμενα), que não se sustenta em pé e não consegue se movimentar ou ir a uma lugar qualquer, que não tem ânimo. Joelhos vacilantes remetem à ideia de medo, de incerteza, de insegurança - e quem experimenta a disciplina do Senhor é restaurado por uma disciplina que produz fruto e alegria.

Quem experimenta a disciplina do Senhor sai da apatia para a vibrante adoração ao Senhor (Sl 32.3-4). A ação restauradora de Deus opera de tal maneira que mesmo o que não tem nenhum vigor tem forças para o que devem fazer (Is 40.29).

 II. ELA INDICA O CAMINHO CERTO E SEGURO

É muito comum que pessoas religiosas achem que basta não fazer o que é errado para que Deus seja, de alguma maneira, impulsionado a recompensar sua justiça. É obvio que parte da vida cristã envolve confessar o pecado e deixá-lo (Pv 28.13). O ensino bíblico é que a confissão e abandono do pecado faz o pecador que se submete à disciplina divina alcance misericórdia.

O apóstolo Paulo resume esta verdade ao lembrar do seu ministério dizendo que pregava ensinando a necessidade de que as pessoas se arrependessem, buscassem piedosamente a Deus e praticassem obras que demonstrassem verdadeiro arrependimento (At 26.20) como exemplificado no seu ensino para a igreja em Éfeso (Ef 4.28): não bastava abandonar o pecado, é necessário fazer o que é justo para, inclusive, ajudar o fraco a não pecar (Pv 30.8-9).

A ordem para fazer caminhos retos é uma obediência ao mandamento do Senhor de endireitar os caminhos (Is 40.3) é dirigida aos que são disciplinados. Costumamos confundir disciplina como algo que produz sofrimento, mas a disciplina também traz consolo aos angustiados (2Co 1.4), e este consolo tem um aspecto que não podemos esquecer: ele é instrumento para ajudar outros que passam pelas mesmas provas, isto é, aqueles que são mais fracos, que tem maiores dificuldades de caminhar, os mancos.

É maravilhoso lembrar que a ação de Deus na vida de um crente tem, também, o propósito de abençoar outras pessoas, curando-os com o consolo já dado aos crentes por meio de sua disciplina. Isto quer dizer que até mesmo os sofrimentos dos santos do passado são instrumento de Deus para abençoar a sua igreja no tempo presente (2Co 1.6).

Somos provados não apenas para que a nossa fé seja aprovada (Tg 1.3) mas também para que outros sejam edificados pela maneira como Deus conduziu mesmo as adversidades para a bênção de seu povo e realização de seu propósito santo e eterno.

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