sábado, 20 de setembro de 2008

A ESCOLA BÍBLICA

A Escola Bíblica

É domingo, dia de descanso, e, para surpresa de muitos, milhares de cristãos se levantam bem cedo para se prepararem e irem em direção à Igreja. Não há nada de extraordinário acontecendo, "apenas" mais uma Escola Dominical. Mas, o que é, como surgiu e para que serve esta Escola que reúne pessoas de todas as idades em torno de um mesmo livro (embora com metodologias diferentes)? Vamos conhecer um pouco desta importante marca da Igreja evangélica mundial.

A Escola Bíblica (Dominical ou não) é uma estrutura presente em todas as denominações protestantes e em algumas pentecostistas com o objetivo de ensinar a bíblia e as doutrinas particulares de cada denominação – com ou sem ênfase no contraditório ou aplicação das mesmas aos diversos reclames do mundo moderno. Na grande maioria das Igrejas ela é realizada aos domingos e por isso é chamada de Escola Dominical (da palavra latina "Dominus", Senhor, que deu origem ao nome do primeiro dia da semana em português, domingo).

Geralmente os estudos são temáticos e capitulados, isto é, abrangem um assunto que é subdividido na maioria dos casos em 13 ou 14 sub-tópicos (estudos de um trimestre).

HISTÓRIA

A Escola Bíblica surgiu na Inglaterra, com o propósito duplo de educar e evangelizar as crianças inglesas, que ficavam sem atividades aos domingos – especialmente no período dos cultos dominicais, quando não tinham a atenção dos seus pais.

A Escola Bíblica, uma criação eminentemente protestante, tem sido atribuída ao inglês Robert Raikes (14.09.1735 – 05.05.1811), filho de Robert e Mary Raikes. Raikes foi batizado na Igreja Anglicana de Cript`s Saint Mary, na rua Southgate, Gloucester, onde foi educado antes de transferir-se para o King Kollege. Aprendeu jornalismo com seu pai, dono do Gloucester Journal (assumiria o jornal em 1757), aumentando o tamanho e melhorando o layout do jornal.

Quando procurava um jardineiro na rua Saint Catherine, em Sooty Alley, Gloucester, ele encontrou muitas crianças maltrapilhas brincando nas ruas e foi informado que aos domingos a situação era ainda pior, pois àquelas se juntavam outras mais velhas que trabalhavam de segunda a sábado nas fábricas e passavam o tempo brincando, brigando com extrema violência e entregue aos vícios (fumo, jogos e álcool, especialmente). Raikes percebeu que estas crianças estavam a um passo da criminalidade e da cadeia (outra de suas preocupações era a Reforma prisional inglesa por causa das terríveis condições das cadeias em sua época – certamente não muito diferentes das que temos hoje). Raikes trabalhava entre os detentos das prisões desde os 15 anos e não queria que aquelas crianças acabassem indo para aqueles lugares.

Raikes foi tomado de amor por estas crianças e resolveu estabelecer, com seus próprios recursos, uma escola gratuita para esses meninos, contratando quatro mulheres do bairro para lecionar (salário inicial, 1 xelim e seis pence). Conseguiu a ajuda do Rev. Thomas Stock e logo tinha uma centena de crianças de idade entre seis a quatorze anos nestas escolas que só funcionavam aos domingos. Procurava as crianças em plena rua e em casa dos pais e as conduzia ao local de reunião, fazendo-Ihes apelos para que todos os domingos estivessem ali reunidas. O início do trabalho não foi fácil. O objetivo primário desta escola, instalada na Rua Saint Catherine, era alfabetizar os alunos e ministrar-lhes aulas de religião para produzir uma sociedade melhor que a que havia. Segundo Raikes seu objetivo era modificar o caráter destas crianças através dos ensinamentos bíblicos. Assim nasceria, a 20 de julho de 1780, a Escola Dominical.

Na prática, a Escola Dominical ainda não era bíblica, era um Instituto Infantil com ensino bíblico, e operava independente das Igrejas, alfabetizando e ministrando ensino bíblico às crianças carentes. Quando algumas crianças começaram a recusar-se a ir à escola por causa das condições de suas roupas Raikes providenciou, também, banhos e cortes de cabelo para elas.

O período de aulas era das 10.00h até as 14.00h (com intervalo para almoço) e eram ministradas aulas de Matemática, Inglês, História e Instrução Moral e Cívica. Às 17.30h eram conduzidas à Igreja do Rev. Stock para a instrução catequética. O ensino das Escrituras consistia quase sempre de leitura e recitação. Em seguida, teve início a prática de comentar os versículos lidos. Muito depois é que surgiu a revista da Escola Dominical, com lições seguidas e apropriadas. Os de melhor aproveitamento e comportamento recebiam pequenas recompensas (livros, canetas, jogos, etc.) Mas, à exemplo da educação ministrada em todo o mundo à época, os de mau comportamento recebiam castigos, até mesmo corporais.

Raikes estabeleceu o seguinte: desenvolver inicialmente uma fase experimental de três anos de trabalho. Após isso, conforme os frutos produzidos, ele divulgaria ao mundo tudo sobre o trabalho em andamento.

Nessa fase experimental (1780-1783), Raikes fundou 07 Escolas Dominicais somente em Gloucester, tendo cada uma 30 alunos em média. Os abençoados frutos do trabalho logo surgiram entre as crianças, refletindo isso profundamente nos próprios pais. Estava dando certo a experiência com a Palavra de Deus! O que pode fazer a fé em Deus e, o amor a Ele e ao próximo!

Após este período de experiências, Raikes divulgou suas idéias e também os resultados obtidos no Gloucester Journal, de sua propriedade, na edição de 03 de novembro de 1783 (data oficial de comemoração do dia da Escola Dominical inglesa).

Outros jornais logo transcreveram o relato de Raikes – e os líderes religiosos ingleses tomaram conhecimento do movimento que começava a ganhar adesões. 04 anos depois de iniciada, e um ano depois da divulgação a Escola Dominical já contava com 50.000 matriculados. Logo se verificou também que, onde se instalava com êxito a Escola Dominical a taxa de criminalidade caía, e é impressionante registrar que em 1792 não houve um só caso de crime julgado na comarca de Gloucester.

Algumas igrejas passaram a dar apoio ao trabalho de Raikes. A Escola Dominical passou das casas particulares para os templos, os quais passaram a encher-se de crianças.

A idéia ganhou rapidamente todo o Reino Unido (Inglaterra, Escócia e Irlanda) e logo os protestantes americanos importaram a idéia. Um comerciante, diácono da Igreja batista da R. Prescott, em Londres (William Fox – 1736-1826), impressionado com os resultados obtidos por Raikes chamou-o para criar a Sunday School Sciety of Grat Britain (Sociedade da Escola Dominical da Grã-Bretanha) em 1785, agora com o apoio de dois bispos anglicanos (Chester e Salisbury). Esta sociedade logo conseguiu beneméritos e conseguiu manter 300 escolas com livros, material didático e professores, publicando, também, na gráfica de Raikes, o Sunday School Companion, livro com versículos bíblicos para leitura e uso em sala. Em 1887 já havia 200 mil crianças matriculadas na Escola Dominical.

OPOSIÇÃO

Houve, entretanto, forte oposição ao movimento nascente, considerado por alguns líderes religiosos como um movimento diabólico porque funcionava à parte das Igrejas e era dirigido por pessoas sem formação pedagógica e teológica (apesar de ter o apoio de bispos). O arcebispo de Canterbury reuniu os bispos anglicanos numa tentativa de exterminar o movimento, pedindo inclusive ao parlamento britânico, em 1800, que decretasse a proibição do funcionamento das escolas bíblicas. Entendiam eles que este movimento levaria à desunião da Igreja e profanava o "Dia do Senhor". Raikes não tomava conhecimento disso e a obra tomava vulto. O jornal do qual ele era redator foi uma coluna forte na defesa e apoio da novel instituição, publicando extensa série de artigos sob o título A ESCOLA DOMINICAL, reproduzidos nos jornais londrinos. Raikes se aposentou em 1802 e faleceu em 1811, mas o decreto jamais foi aprovado. Seus alunos vieram ao seu funeral na Igreja Anglicana de Saint Mary, no mesmo local onde fora batizado. Já havia mais de 400.000 matriculados nas escolas dominicais. No ano de sua morte ocorreu, pela primeira vez, a divisão em classes, possibilitando a alfabetização de adultos.

A PRIMEIRA ESCOLA DOMINICAL NA AMÉRICA

A primeira Escola Dominical cujo funcionamento é reconhecido nos Estados Unidos (e na América, portanto) funcionou na fazenda de William Elliot, em 1802 (mais tarde seu funcionamento passou a ser na Igreja de Oak Grave, Accomac, Virgínia. Logo elas se espalhariam rapidamente por todo o país, sendo organizadas para ensinar crianças e adultos. Foi nos Estados Unidos que a Escola Dominical foi usada, prioritariamente, como meio de ensinar a Bíblia (e as doutrinas particulares de cada denominação) aos membros em regime semanal. Em 1824 a União Americana de Escolas Dominicais já possuía escolas em 17 estados (eram 34 à época, hoje são 50). Mas a característica da laicidade das escolas dominicais permanecia, embora já com a presença de profissionais do magistério.

A ESCOLA DOMINICAL NO BRASIL

Em 1836 (25 anos antes da chegada do Rev. Ashbell Green Simonton) o Rev. Justin Spaulding organizou no Rio de Janeiro uma congregação que contava com 40 freqüentadores (ingleses e americanos). No mesmo ano abriu uma Escola Dominical que chegou a ter 30 alunos, dos quais alguns brasileiros. Mas somente em 19 de agosto de 1855 um casal de missionários escoceses independentes, Rev. Robert (um médico que fora ateu) e Mrs. Sarah Poulton Kalley fundaria, em Petrópolis, a que é considerada a primeira Escola Dominical brasileira, com 05 crianças (contou-lhes a história de Jonas) – mas seu trabalho floresceu e alcançou todo o Brasil. Esta Escola Dominical deu origem à Igreja Evangélica Fluminense. No local onde funcionou a primeira escola dominical encontra-se um colégio (colégio Opção, R. Casemiro de Abreu) onde ainda e possível encontrar um memorial que registra este momento singular da história do evangelho em nossa terra.

Atualmente a Escola Bíblica Dominical envolve todos os membros da Igreja, em todas as faixas etárias e possuiu uma estrutura própria, mas certamente se desviou do propósito inicial de Sir Raikes: alfabetizar e instruir para a vida em sociedade.

Durante muito tempo, só crianças freqüentavam a Escola Dominical. Os adultos ingressaram depois. Hoje, em inúmeros lugares, ocorre o inverso: quase só adultos são beneficiados, ficando as crianças em último plano.

A alfabetização foi deixada de lado e o ensino ministrado é principalmente bíblico. No Brasil, a maioria das comunidades adota a EBD matinal e os cultos à noite, mas um número cada vez mais numeroso realiza a Escola Bíblica antes do início dos cultos ou até mesmo aos sábados (não estou me referindo aos sabatistas). Em países como Estados Unidos e na Inglaterra, todas as atividades dominicais acontecem durante a manhã.

A IMPORTÂNCIA DA ESCOLA DOMINICAL

Nosso país enfrenta os mesmos problemas enfrentados pela Inglaterra setecentista – delinqüência juvenil, famílias desestruturadas, vícios, etc. Somente a Palavra de Deus tem orientação segura para a resolução destes problemas – embora tão rejeitada pelas autoridades e até mesmo pelos crentes.

Infelizmente até mesmo a Igreja está se esquecendo do potencial da Escola Bíblica (dominical ou não) como instrumento de propagação da vontade de Deus, reestruturando famílias, orientando para a vida tanto no âmbito social (entre os homens) quanto espiritual (do espírito com Deus).

Não podemos desperdiçar este importante instrumento de Deus para bênção da sua Igreja: não podemos dormir (literal ou não) enquanto o mundo precisa desesperadamente da mensagem anunciada na Escola Bíblica: Só Jesus Cristo salva.

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