sábado, 14 de abril de 2012

O PODER DEVE RESIDIR NA MENSAGEM, NÃO NA FORMA OU NO MENSAGEIRO

1 Eu, irmãos, quando fui ter convosco, anunciando-vos o testemunho de Deus, não o fiz com ostentação de linguagem ou de sabedoria. 2 Porque decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado. 3 E foi em fraqueza, temor e grande tremor que eu estive entre vós. 4 A minha palavra e a minha pregação não consistiram em linguagem persuasiva de sabedoria, mas em demonstração do Espírito e de poder, 5 para que a vossa fé não se apoiasse em sabedoria humana, e sim no poder de Deus.

I Co 2.1-6

pregadorA MENSAGEM É MAIS IMPORTANTE QUE O MENSAGEIRO

Em todo o capítulo 1 o apóstolo Paulo intenta demonstrar que os frutos da sabedoria humana são inferiores tanto em qualidade quanto em essência à chamada "loucura" de Deus. E os próprios coríntios eram uma prova clara e inquestionável disso: se pela 'loucura' e 'fraqueza' de Deus eles foram salvos, o que estavam colhendo da sabedoria do mundo era divisões, partidarismo e tristeza, com irmãos disputando uns com os outros a primazia – que deveria ser, primariamente, de Cristo.

Embora não seja tão comum e até pareça fora do propósito da carta, uma vez que Paulo não desejava chamar a atenção para ninguém além de Cristo, ele chama os coríntios para olharem para ele. As outras vezes que ele havia feito isto foi sempre para lembrar o que ele não fez, isto é, ele jamais buscou a sua própria glória ou nome. Mas nesta seção ele faz a mais absoluta questão de lembrar o que ele fez em Corinto: ele lhes levou a mensagem, de maneira definitiva e completa. Ele anunciou o testemunho que havia recebido do próprio Deus [I Co 11.23: Porque eu recebi do Senhor o que também vos entreguei: que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão...; 15.3: Antes de tudo, vos entreguei o que também recebi: que Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras...], tendo sido chamado em tempo e modo diferente dos demais apóstolos, mas sendo ele mesmo, Paulo, apóstolo do Senhor.

A afirmativa de Paulo: eu estive entre vós testemunhando de Deus chama a atenção para o que Deus fez na sua vida e dos próprios coríntios, como se dissesse: vocês são uma prova cabal do nosso apostolado [I Ts 1.9: ...pois eles mesmos, no tocante a nós, proclamam que repercussão teve o nosso ingresso no vosso meio, e como, deixando os ídolos, vos convertestes a Deus, para servirdes o Deus vivo e verdadeiro...]. Mas, voltando à centralidade da mensagem, Paulo passa a exortá-los quanto ao conteúdo da mensagem, e não quanto ao mensageiro ou a forma em que a mesma é apresentada. Primeiramente vamos nos deter para observar os aspectos negativos abordados por Paulo quanto à apresentação da mensagem, sempre lembrando que a sabedoria humana pode ser mais um empecilho, um estorvo, um corpo estranho à mensagem:

UMA MENSAGEM SEM OSTENTAÇÃO DE LINGUAGEM

A mensagem não deve ser entregue com ostentação de linguagem: Paulo demonstra em diversas situações ter amplo conhecimento da língua grega, considerada a língua filosófica por excelência, quando um simples sinal ou letra poderia transformar um conceito correto na mais hedionda heresia. Um profundo conhecimento doutrinário pode ser uma bênção ou uma terrível maldição, a depender do coração do mensageiro. Pode-se conhecer profundamente as doutrinas das grandezas de Deus e transmiti-las com termos teológicos e filosóficos corretos, mas, áridos e vazios. Pode-se fazer discursos de extraordinária beleza, mas não ser a mensagem de Deus ao coração dos pecadores. Pode não ser o que Deus quer que seja dito, o que os pecadores precisam ouvir – pode ser apenas o que o pregador que falar. Pode-se pregar sobre os efeitos soteriológicos da onipotente graça do mediador unigênito e não dizer a ninguém que só há salvação no nome de Jesus Cristo. Para falar palavras bonitas havia inúmeros mestres, sofistas, perambulando pelas ruas de todo o mundo greco-romano.

Mas, apesar de as palavras de salvação serem belas, mais belos deveriam ser os caminhos daqueles que as anunciam, caminho de fidelidade, de obediência, de simplicidade, de veracidade [Rm 10.15: E como pregarão, se não forem enviados? Como está escrito: Quão formosos são os pés dos que anunciam coisas boas!]. O ministério presbiteriano é especialmente perigoso neste aspecto, pois a maioria dos ministros presbiterianos é exigido duramente quanto ao que e como vai pregar. Inúmeras são as provas para verificar não apenas o conteúdo, mas também a forma, a maneira de apresentar a mensagem, as ilustrações, o gestual, o tom de voz... hermenêutica, homilética, pregação prática diante de professores com a missão de criticar – e alguns o fazem impiedosamente [embora não impiamente]. E muitos caem na armadilha de se tornarem tão bons oradores que escondem a mensagem do evangelho sob uma capa de palavras bonitas e difíceis. Passam a entregar um discurso ao invés de uma mensagem. O que falam ficaria bem em um livro, em uma gravação – mas muitos saem da Igreja ainda famintos, sem alimento para a alma, sem direção para a vida, como ovelhas sem pastor. Por isso Paulo, mesmo sendo considerado pelos estudiosos modernos um dos maiores mestres da língua grega de seu tempo, transmite a mensagem na língua comum, do homem comum, utilizando-se de conceitos que todos, homens e mulheres, cultos e letrados, ricos e pobres, servos e senhores, possam não apenas entender, mas, também, atender. Paulo afirma não querer que sua ostentação [literalmente, desejo de mostrar superioridade ou excelência no falar] escondesse a mensagem simples e pura do evangelho.

UMA MENSAGEM SEM LINGUAGEM PERSUASIVA

Se o testemunho de Deus deveria ser apresentado sem ostentação de linguagem de sabedoria, uma segunda orientação de Paulo é que deveria ser evitada a linguagem persuasiva. O que ele quer dizer com isso? Os coríntios certamente entenderam imediatamente o que Paulo estava mencionando: os inúmeros mestres de filosofia de seu tempo que alugavam seu saber para quem pagasse mais. Eram especialistas em defender uma idéia hoje e, se necessário, contraditá-la sem parecer contraditório no discurso seguinte. Eram chamados de sofistas, mestres de um tipo de sabedoria que construía castelos de nuvens – a mesma nuvem que para um é um elefante de frente pode ser um morcego ou uma borboleta. Eles eram capazes de persuadir as pessoas com seus sofismas e silogismos. E Paulo lhes lembra que não fez isso. Ele lhes anunciou uma mensagem que era, ao mesmo tempo, um testemunho, isto é, um relato de fatos, simples, concretos, verificáveis. Não era, sob hipótese alguma, especulação. Era a apresentação de uma verdade, ou de verdades que, juntas, formavam um quadro mais amplo e verdadeiro. Desde os movimentos reavivalistas do sec. XVIII a Igreja tem enfatizado demasiadamente os métodos – e muitas vezes a discussão se deu mais sobre o uso dos métodos do que sobre o conteúdo da mensagem.

Um exemplo: em alguns avivalistas os apelos se tornaram obrigatórios, e quem não os fazia não era considerado evangelista – e quem os fazia, mesmo transformando-os em apelação e manipulação, não sofria questionamento. Os métodos e técnicas devem ser vistos sempre como instrumentos, como meros instrumentos para transmitir a mensagem. Mas em muitos lugares nós vemos o uso manipulador de determinadas técnicas de controle de grupo, lavagem cerebral, manipulação das emoções para atingir resultados efêmeros. Não é absolutamente difícil levar as pessoas a determinadas conclusões lógicas a respeito da salvação em Jesus Cristo – mas a pessoa pode concluir logicamente, concordar intelectualmente e não aceitar espiritualmente, não se converter e não ser salvo. Pregar o evangelho é mais do que proferir discursos edificantes, com boa argumentação e com uma conclusão adequada, mas, muitas vezes, sem vida. Pregar o evangelho é dar um testemunho de vida, daquilo que Deus em Cristo fez pela salvação do pecador e que tem dado fruto abundante e eterno. O maior elogio que um pregador pode receber ao fim de uma mensagem é a transformação de vida de seus ouvintes que ouviram a voz de Cristo, o crucificado e nenhum outro através da sua pregação, pois havia muitas mensagens e muitos cristos sendo pregados, mas Paulo considera todas as pregações inúteis se não anunciarem o Cristo que foi crucificado em lugar de pecadores.

UMA MENSAGEM QUE NÃO EXALTE A SABEDORIA HUMANA

A terceira colocação paulina quanto à essência da mensagem é que ela não deve ser apenas a expressão da sabedoria humana, qualificada por Paulo como algo carnal, passageiro. Mesmo a mais alta expressão da sabedoria humana passa com o tempo. O que é humano é tão passageiro quanto o homem – e só pode produzir algo passageiro e humano. Paulo já afirmou no primeiro capítulo que a sabedoria humana não produz salvação, não produz nada para a eternidade, logo, um convencimento fruto da sabedoria humana não pode produzir a fé que salva. Pode produzir crescimento numérico na igreja. Pode ajuntar gente, às vezes multidões. Pode levar muitas pessoas a fazerem coisas que, aos olhos humanos, pareça o fenômeno da conversão. Mas, se é só sabedoria humana, só vai produzir convencimento humano. Se é humano, não produz nada divino. Tiago afirma que a ira do homem não produz a justiça de Deus [Tg 1.20: Porque a ira do homem não produz a justiça de Deus]. Se a ira não produz a justiça de Deus, também a sabedoria humana não pode produzi-la. E isso fecha o argumento anterior de Paulo: quem é Paulo? Quem é Pedro? Quem é Apolo? Meros instrumentos por intermédio de quem eles creram. Mas creram em que? Em quem? Nem Pedro, nem Paulo nem Apolo podem salvá-los.

É a fé em Jesus Cristo quem os salva. Mas a fé só é alcançada ouvindo a mensagem fiel do Senhor que salva. Como crerão corretamente se não ouvirem o testemunho do Senhor? Como a sabedoria humana e carnal poderia produzir a fé no divino, no espiritual? Qualquer um que sustente a sua esperança no conhecimento meramente intelectual está esperando em si mesmo ou em alguém que não é e não pode, mesmo que queira, ser o salvador. Nos dois primeiros tópicos Paulo enfatiza a maneira de falar, mas, agora, ele chama a atenção especificamente para o que está sendo dito. Se ele falasse com ostentação, persuasão ou sabedoria humana, a gloria seria do homem – e na haveria salvação para os pecadores, porque a base da salvação é Cristo, somente Cristo. Paulo queria que a fé dos coríntios estivesse baseada somente no poder de Deus, demonstrado através do que o Espírito Santo fazia por seu intermédio. A palavra "demonstração" [apodexeis] foi retirada do uso dos tribunais referindo-se a uma prova inquestionável, como um exame de DNA em uma criança para determinar a sua paternidade. E, acima de tudo, a simplicidade como Paulo entregou a mensagem não a tornava tola, pelo contrário, evidenciava ainda mais o seu poder. Se a sabedoria dos profundos argumentos dos homens nada conseguira, Deus, com uma mensagem simples [arrependam-se, creiam no evangelho, convertam-se a Deus e vivam uma vida digna que demonstre este arrependimento – At 26.20: ...mas anunciei primeiramente aos de Damasco e em Jerusalém, por toda a região da Judéia, e aos gentios, que se arrependessem e se convertessem a Deus, praticando obras dignas de arrependimento].

UMA MENSAGEM BASEADA NO PODER DE DEUS

A mensagem a ser entregue tem que ser inteiramente baseada no poder de Deus, como Paulo qualifica a mensagem salvadora através da obra redentora de Cristo Jesus [I Co 1.23-24: ...mas nós pregamos a Cristo crucificado, escândalo para os judeus, loucura para os gentios; mas para os que foram chamados, tanto judeus como gregos, pregamos a Cristo, poder de Deus e sabedoria de Deus.]. Paulo conclui esta seção à partir de uma expressão que indica uma finalidade clara e precisa [hina], "a fim de que", com o "propósito de". A Escritura afirma que Deus tem apenas um propósito, um grande e majestoso plano em desenvolvimento, e ele será executado plenamente por causa do poder de Deus, independente da sabedoria ou falta dela por parte do homem. Os convertidos precisam ser verdadeiramente convertidos, e isso só se dará pelo poder de Deus. Não por linguagem persuasiva, teorias elaboradas ou argumentação técnica ou emotiva.

É por isso que o falso evangelho, emotivo, persuasivo e técnico, fruto de pesquisas de marketing e desejoso de atender às coceiras nos ouvidos carnais [II Tm 4.3: Pois haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, cercar-se-ão de mestres segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos] alcança multidões, e o evangelho simples é tão desagradável ao homem natural, carnal [I Co 2.14: Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente]. Se Cristo afirma aos cansados e sobrecarregados espiritual, ética, moral e emocionalmente um simples "vinde a mim" [Mt 11.28: Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei] os homens acrescentam intermediários, cruzes, escadarias e coisas semelhantes. Para os que estão sedentos e famintos ele promete, de graça, alegria e alimento, os homens insistem em pedágios, campanhas, correntes, votos e ofertas [Is 55.1-3: Todos vós, os que tendes sede, vinde às águas; e vós, os que não tendes dinheiro, vinde, comprai e comei; sim, vinde e comprai, sem dinheiro e sem preço, vinho e leite. Por que gastais o dinheiro naquilo que não é pão, e o vosso suor, naquilo que não satisfaz? Ouvi-me atentamente, comei o que é bom e vos deleitareis com finos manjares. Inclinai os ouvidos e vinde a mim; ouvi, e a vossa alma viverá; porque convosco farei uma aliança perpétua, que consiste nas fiéis misericórdias prometidas a Davi].

Amados, é o poder de Deus, somente o poder de Deus, nada além do pode de Deus, por mais engenhoso e lógico que pareça. Qualquer coisa que vá além disso é inútil, é anátema [Gl 1.8-9: Mas, ainda que nós ou mesmo um anjo vindo do céu vos pregue evangelho que vá além do que vos temos pregado, seja anátema. Assim, como já dissemos, e agora repito, se alguém vos prega evangelho que vá além daquele que recebestes, seja anátema.], mesmo que vindo de anjos ou de apóstolos [e isto no tempo em que havia verdadeiros apóstolos, entre os quais Paulo se incluía com veemência – I Co 9.1-2: Não sou eu, porventura, livre? Não sou apóstolo? Não vi Jesus, nosso Senhor? Acaso, não sois fruto do meu trabalho no Senhor? Se não sou apóstolo para outrem, certamente, o sou para vós outros; porque vós sois o selo do meu apostolado no Senhor].

Nenhum comentário:

FAÇA DESTE BLOG SUA PÁGINA INICIAL