quinta-feira, 14 de junho de 2012

QUAL A CONSISTÊNCIA DA SUA OBRA?

_001A historia dos três porquinhos ilustra, entre outras coisas, o que as pessoas podem fazer com diferentes materiais e, ainda, qual a durabilidade destas edificações.

Há alguns anos o Brasil ficou impressionado com o desabamento de edifícios no Rio de Janeiro. Construídos pela empresa SERSAN, do ex-deputado Sérgio Naya. A empresa construiu os edifícios sem a base adequada, e usando material inadequado, como ferragens fora dos padrões especificados e, o pior e mais maldoso erro da empresa, a utilização de areia da praia que era proibida por causa da sua salinidade, que rapidamente corroeu os ferros e ocasionou o desabamento dos prédios. Resultado: ruína da empresa SERSAN, da carreira política do Sérgio Naya e ruina financeira de muitas famílias, além de vários mortos.

À partir destas informações olhamos para o texto sagrado de I Co 3.11-15 com a seguinte indagação: qual a consistência da maneira como estamos edificando na nossa vida?

11 Porque ninguém pode lançar outro fundamento, além do que foi posto, o qual é Jesus Cristo. 12 Contudo, se o que alguém edifica sobre o fundamento é ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno, palha, 13 manifesta se tornará a obra de cada um; pois o Dia a demonstrará, porque está sendo revelada pelo fogo; e qual seja a obra de cada um o próprio fogo o provará. 14 Se permanecer a obra de alguém que sobre o fundamento edificou, esse receberá galardão; 15 se a obra de alguém se queimar, sofrerá ele dano; mas esse mesmo será salvo, todavia, como que através do fogo.

Quais as verdades que podemos aprender deste texto? O que Paulo teria a nos dizer sobre esse texto se pudéssemos perguntar-lhe: Paulo, o que você quer mesmo nos dizer? A primeira pergunta é: qual o assunto do qual Paulo está tratando, de um modo geral? E a resposta é: o que a Igreja está fazendo com todos os dons que lhe tem sido confiados? Lembremos do que temos visto: Paulo já havia identificado a Igreja como uma lavoura, e, usando esta metáfora, mostrou que ele, Apolo e os demais, eram apenas cooperadores, uns com os outros, na lavoura de Deus, a Igreja. Enquanto ele plantou, Apolo e os demais regaram, mas a honra do crescimento vem de Deus. Em outro lugar Paulo faz uso da metáfora do corpo para ilustrar as diferentes partes que compõem o corpo [I Co 12:12 Porque, assim como o corpo é um e tem muitos membros, e todos os membros, sendo muitos, constituem um só corpo, assim também com respeito a Cristo. 13 Pois, em um só Espírito, todos nós fomos batizados em um corpo, quer judeus, quer gregos, quer escravos, quer livres. E a todos nós foi dado beber de um só Espírito. 14 Porque também o corpo não é um só membro, mas muitos] e, aqui, ele usa uma terceira maneira de olhar para a Igreja, como um edifício. E é usando esta comparação que ele mais uma vez pretende lembrar à Igreja em corinto algumas verdades que eles esteavam esquecendo. Há algo que é essencial a qualquer edifício que se pretenda construir com um mínimo de durabilidade: uma base sólida. Enquanto os coríntios discutiam quem era mais importante, se Paulo, Apolo ou Pedro, Paulo lhes diz que cada um tem seu lugar e importância. Um planta, outro rega, mas Deus é insubstituível porque é dele que vem o crescimento.

Podemos refletir sobre estas verdades à partir da seguinte pergunta: o que a Igreja está fazendo com o que Deus lhe tem proporcionado? Como parte desta Igreja precisamos entender que:

I. O ÚNICO FUNDAMENTO VÁLIDO É JESUS CRISTO

11 Porque ninguém pode lançar outro fundamento, além do que foi posto, o qual é Jesus Cristo.

Somente um tolo constrói alguma coisa sem estabelecer fundamentos. Jesus mostra isto ao contar a parábola do construtor [Mt 7.24-27:24 Todo aquele, pois, que ouve estas minhas palavras e as pratica será comparado a um homem prudente que edificou a sua casa sobre a rocha; 25 e caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e deram com ímpeto contra aquela casa, que não caiu, porque fora edificada sobre a rocha. 26 E todo aquele que ouve estas minhas palavras e não as pratica será comparado a um homem insensato que edificou a sua casa sobre a areia; 27 e caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e deram com ímpeto contra aquela casa, e ela desabou, sendo grande a sua ruína]. Para Cristo o ponto fundamental é: sobre o que a Igreja está edificando? Onde a Igreja está edificando? Qual é a sua base? Do ponto de vista de Cristo, e ele está certo, a única base realmente permanente é a Palavra de Deus. Jesus usa o símile "quem ouve a minha palavra é semelhante a", referindo-se àquilo que forma a base do pensamento, filosofia, dirigindo as escolas, as certezas, aquilo em que se confia, acredita, em que se coloca a fé. Jesus também afirma ser a base de todo fundamento da fé [Ef 2:20 edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo ele mesmo, Cristo Jesus, a pedra angular], aquele por meio de quem a fé vem [At 3:16 Pela fé em o nome de Jesus, é que esse mesmo nome fortaleceu a este homem que agora vedes e reconheceis; sim, a fé que vem por meio de Jesus deu a este saúde perfeita na presença de todos vós], o único caminho, a verdade exclusiva [Jo 14: 6 Respondeu-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim], o único que tem vida em si mesmo e pode dá-la a quem quiser [Jo 5:26 Porque assim como o Pai tem vida em si mesmo, também concedeu ao Filho ter vida em si mesmo].

Existem fundamentos bons e ruins. Fundamentos adequados e inadequados. No caso da Igreja o fundamento que foi estabelecido é o melhor disponível. Paulo, novamente, chama a responsabilidade de ser o iniciador do trabalho, pois foi ele o pioneiro, aquele que estabeleceu os fundamentos, a parte mais importante de um edifício, e o fundamento que ele estabeleceu é Jesus Cristo, a rocha eterna [I Pe 2:4 Chegando-vos para ele, a pedra que vive, rejeitada, sim, pelos homens, mas para com Deus eleita e preciosa]. Cristo é o único fundamento que vale a pena. Paulo adverte os seus discípulos que qualquer outro fundamento é inútil, e lembra que nem anjos nem ele tem o direito de estabelecer outro fundamento [Gl 1:8 Mas, ainda que nós ou mesmo um anjo vindo do céu vos pregue evangelho que vá além do que vos temos pregado, seja anátema. 9 Assim, como já dissemos, e agora repito, se alguém vos prega evangelho que vá além daquele que recebestes, seja anátema].

A base da Igreja é Cristo, só há verdadeira Igreja se ela está edificada sobre a fé no Senhor e salvador Jesus Cristo. Todo edifício tem que ter uma base, mas, normalmente, ela é a parte do edifício menos observada. Lamentavelmente a Igreja em corinto estava esquecendo a base para se preocupar com aspectos secundários da construção – bonitos, atrativos, coloridos e bem arrumados. Tudo isto é muito bonito, mas a base não deve ser esquecido. A SERSAN cometeu o equivoco de não se preocupar com a base da sua fundação. E tudo ruiu.

Paulo exclui como fundamento da Igreja todas as filosofias de seu tempo: platonismo, aristotelismo, estoicismo, epicurismo, neoplatonismo, mistérios orientais e todos os sofismas correntes. Isso também exclui as filosofias do nosso tempo, o modernismo, o materialismo, o existencialismo, o pós-modernismo e tudo o mais que possa aparecer. Só Cristo, só ele é o fundamento da fé. Só através dele alguém pode ter vida real e eterna [Jo 10:10 O ladrão vem somente para roubar, matar e destruir; eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância]. Não há outro fundamento, não pode haver outro fundamento senão tudo que for construído ruirá. Não importa qual seja o fundamento que tem usado neste momento, mesmo que ele pareça o evangelho [Gl 1:8 Mas, ainda que nós ou mesmo um anjo vindo do céu vos pregue evangelho que vá além do que vos temos pregado, seja anátema. 9 Assim, como já dissemos, e agora repito, se alguém vos prega evangelho que vá além daquele que recebestes, seja anátema], ele precisa ser substituído pelo único que tem valor: Jesus Cristo. Ele é o único fundamento que você precisa. Muita gente está construindo sobre todo tipo de fundamento, mas quantos estão edificando sobre o que realmente é eterno? Sobre o que realmente é permanente? Isso é especialmente importante numa época onde as pessoas estão edificando seu cristianismo sem Cristo, baseado no humanismo, no liberalismo teológico rejeitando a Palavra de Deus como autoridade.

II. HÁ DIVERSOS MATERIAIS DISPONÍVEIS

12 Contudo, se o que alguém edifica sobre o fundamento é ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno, palha,

Paulo estabeleceu os fundamentos da Igreja em Corinto. Entretanto, sobre este fundamento outros edificariam. Apolo, homem poderoso nas Escrituras, continuou o trabalho iniciado. Mas agora eles tinham que andar por si mesmos. Já não contavam com Paulo, não contavam com Apolo. Eles, dado o tempo decorrido, já não precisavam mais de tutores externos. Deveriam andar com seus próprios pés, fazer suas próprias escolhas. Eles deveriam escolher com que materiais edificariam suas vidas. Paulo cita vários [mas não todos] os tipos de materiais que eles poderiam usar. A questão que ele levanta é: o material que você está usando é valioso [ouro, prata ou pedras preciosas] ou não [madeira, feno ou palha]? Como sabemos que Paulo não está se referindo a um edifício concreto, mas está falando da vida da Igreja, devemos pensar: que tipo de materiais as pessoas estão usando para edificar suas vidas? O fundamento é um, Cristo, mas e os materiais escolhidos e a estrutura edificada? Cada um fará a sua segundo suas inclinações, interesses e dedicação.

Quando entramos em um edifício notamos, com uma rápida olhada, diversos materiais com os quais eles são edificados. Dependendo da riqueza do construtor encontramos ouro, prata, madeira, pedra, vidro, palha. Há elementos mais fáceis de trabalhar, mais leves de se transportar. Há aqueles que requerem maiores esforços, mas com maior ou menor habilidade, empenho de tempo, e esforços pode-se fazer construções bonitas e confortáveis. E é possível que cada um de nós esteja confortável com o que tem construído. Talvez estejamos satisfeitos com o que temos edificado. Talvez nos deleitemos com o brilho do ouro, com a placidez da prata, com a multiplicidade das cores e efeitos das pedras preciosas. Sei que há quem prefira a rusticidade da madeira, o cheiro do feno, a flexibilidade da palha. Qual material temos usado? A Igreja em Corinto estava dividida entre dois materiais: legalismo ou eloquência. Havia tendências libertinas e discriminação social. Havia ricos e pobres. Como é certo que Paulo não está falando de uma construção literal – não cita tudo que é possível usar, como ferro, areia, cimento – ele está chamando nossa atenção para os diferentes estilos de vida a que chamamos cristianismo.

Que tipo de filosofias tem orientado suas escolhas? Na época de Paulo ele lidou com o platonismo, com o aristotelismo, com o epicurismo, com o estoicismo e, já, com o nascente gnosticismo e suas muitas variantes, negando a encarnação [II Jo 1:7 Porque muitos enganadores têm saído pelo mundo fora, os quais não confessam Jesus Cristo vindo em carne; assim é o enganador e o anticristo] e a ressurreição de Jesus Cristo [I Co 15:12 Ora, se é corrente pregar-se que Cristo ressuscitou dentre os mortos, como, pois, afirmam alguns dentre vós que não há ressurreição de mortos? 13 E, se não há ressurreição de mortos, então, Cristo não ressuscitou. 14 E, se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação, e vã, a vossa fé; 15 e somos tidos por falsas testemunhas de Deus, porque temos asseverado contra Deus que ele ressuscitou a Cristo, ao qual ele não ressuscitou, se é certo que os mortos não ressuscitam]. Estas filosofias passaram, ressurgiram, novas começaram como o materialismo, cientificismo, o evolucionismo, o existencialismo e tantos outros ismos.

Quantos tipos de cristianismo existem? Não pensemos em preferencias litúrgicas, nem em ênfases teológicas – não é esta a questão no momento, ainda que cada tipo de cristianismo tenha sua própria maneira de expressão. O que precisamos entender é que, se o nosso cristianismo, se nosso estilo de vida, se os diferentes elementos que podemos usar para edificar sobre a rocha não estiverem de acordo com o plano do edificador, então, eles precisam ser mudados, pois o propósito de Deus é imutável [Ef 3:11 segundo o eterno propósito que estabeleceu em Cristo Jesus, nosso Senhor]. Cristo não vai mudar. Deus não vai mudar. Não esperemos o que é uma impossibilidade [Tg 1:17 Toda boa dádiva e todo dom perfeito são lá do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não pode existir variação ou sombra de mudança.] que o próprio Deus nos informa [Ml 3:6 Porque eu, o SENHOR, não mudo; por isso, vós, ó filhos de Jacó, não sois consumidos].

Qual tipo de material você tem usado mais comumente? Que os incrédulos se utilizem delas não é surpresa. Mas que os cristãos acabem dividindo a própria Igreja por causa desta palha é inaceitável. Os coríntios cometeram este erro. A Igreja do Senhor não deve cometê-lo novamente. Não importa se ouro ou prata, se madeira ou palha, se feno ou qualquer outra coisa. A Igreja deve se lembrar que está edificada sobre Jesus Cristo – e fazer uso dos materiais que Deus lhe deu para glória do Senhor e para seu próprio aumento.

III. TODA EDIFICAÇÃO SERÁ TESTADA

13 manifesta se tornará a obra de cada um; pois o Dia a demonstrará, porque está sendo revelada pelo fogo; e qual seja a obra de cada um o próprio fogo o provará.

Ao listar os diversos tipos de materiais que podem ser usados em uma construção Paulo deixa para os cristãos a reflexão sobre o que estão utilizando, se valiosos ou restolho. Não volta a repeti-los, mas logo adverte que o resultado terá que passar por uma "prova de fogo", isto é, uma prova diante da qual tudo o que é impuro e fraco será rejeitado. Todo construtor sabe que tipo de material pode usar e quais deve descartar, seja por inapropriado, seja por inaceitável. Não foi assim com Sergio Naya e sua empresa. Ele sabia que tinha que usar ferro de maior espessura, sabia que não podia usar areia da praia por causa da salinidade que corroeria o ferro muito rapidamente. Mas ele não levou nada disso em consideração, ou, provavelmente, levou em conta a economia que teria, levou mais em conta seus ganhos financeiros do que seu dever de obediência às leis e ao projeto previamente apresentado e aprovado.

Paulo inicia o verso 13 falando da manifestação do real valor daquilo que o cristão está edificando. A avaliação é para cada um, e este julgamento será no Dia, certamente o dia do retorno do Senhor Jesus [I Ts 5:4 Mas vós, irmãos, não estais em trevas, para que esse Dia como ladrão vos apanhe de surpresa] para exercer juízo [Hb 10.25:25 Não deixemos de congregar-nos, como é costume de alguns; antes, façamos admoestações e tanto mais quanto vedes que o Dia se aproxima]. O Senhor é senhor justo. Ele não deixa de retribuir a cada um segundo as suas obras. E para fazer isso ele tem que julgar o que eles construíram. Para o cristão o dia do retorno do Senhor é, certamente, um dia glorioso, um dia de alegria, mas será, também, o dia em que o Senhor exigirá a prestação de contas. Isso fica especialmente claro quando o Senhor conta a parábola dos servos e os talentos que cada um recebe. É o Senhor quem lhes fornece o material de trabalho – e por isso em plena justiça ele pode exigir a prestação de contas segundo a capacidade de cada um. Este detalhe precisa ser destacado: cada um recebeu material para trabalhar segundo a sua capacidade. Não há desperdício por parte do Senhor [Mt 25:15 A um deu cinco talentos, a outro, dois e a outro, um, a cada um segundo a sua própria capacidade; e, então, partiu]. O que recebeu 5 talentos trabalhou com os talentos recebidos – e teve seu trabalho aprovado na medida em que apresentou um bom resultado do uso destes talentos. A outro deu menos, mas exigiu resultados e aprovou-os na mesma proporção. A um deu menos ainda, sabia de sua capacidade, e exigiu-lhe o resultado da administração de menos responsabilidades. Seu problema foi não ter nada a apresentar – ter sido relapso, negligente e mau, julgando não a si mesmo, mas ao seu Senhor [Mt 25:24 Chegando, por fim, o que recebera um talento, disse: Senhor, sabendo que és homem severo, que ceifas onde não semeaste e ajuntas onde não espalhaste, 25 receoso, escondi na terra o teu talento; aqui tens o que é teu]. O problema não é devolver o que foi entregue, mas é nada fazer, não servir. De que adianta receber materiais para uma construção e ficar apenas a observar se eles estão guardados em um depósito seguro? Não podemos ser servos inúteis, congratulando-nos por não dar prejuízo, mas certos também de que nada fazemos. Apenas o não fazer já é um pecado contra o Senhor [Tg 4:17 Portanto, aquele que sabe que deve fazer o bem e não o faz nisso está pecando].

A prova é absolutamente rigorosa – por isso a metáfora do fogo, que queima a escória e mantém apenas o que é puro e valioso. Muitas vezes vemos coisas muito bonitas, mas construídas com materiais absolutamente perecíveis. Paulo diz que a essência desta construção será demonstrada, isto é, terá sua real natureza colocada diante dos olhos para ser analisada. O Senhor parece não estar interessado na quantidade, mas na qualidade, como podemos inferir da parábola dos servos em Mt 25.24-30. A idéia ali presente é que os dois primeiros produziram 100%. O servo mau e negligente nada produziu. Lembremos, é Deus quem nos dá todo o material necessário. Davi ilustra isto ao afirmar, logo depois de ter juntado todo o material necessário par a construção do templo, que nem ele nem o povo são nada, mas que a fonte de todas aquelas ofertas era o próprio Deus [I Cr 29:14 Porque quem sou eu, e quem é o meu povo para que pudéssemos dar voluntariamente estas coisas? Porque tudo vem de ti, e das tuas mãos to damos]. Tiago afirma que Deus é a fonte de toda boa dadiva, de todo dom perfeito [Tg 1:17 Toda boa dádiva e todo dom perfeito são lá do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não pode existir variação ou sombra de mudança].

A Igreja tem perdido tempo e esforços num ativismo, numa correria, e acaba produzindo muito, mas muita palha, nada que permaneça – e foi para produzir frutos permanentes que a Igreja foi chamada [Jo 15:16 Não fostes vós que me escolhestes a mim; pelo contrário, eu vos escolhi a vós outros e vos designei para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça; a fim de que tudo quanto pedirdes ao Pai em meu nome, ele vo-lo conceda]. As boas dadivas de Deus devem ser manifestas numa fé prática, numa fé que é avaliada, provada, e, pela graça de Deus, aprovada [Tg 1:3 ...sabendo que a provação da vossa fé, uma vez confirmada, produz perseverança].

IV. O BOM CONSTRUTOR SERÁ APROVADO

14 Se permanecer a obra de alguém que sobre o fundamento edificou, esse receberá galardão;

Paulo nos diz que "manifesta", isto é, tornada clara, patente, visível aos olhos de todo o mundo o trabalho realizado, da mesma maneira que é impossível esconder uma cidade edificada sobre o monte [Mt 5:14 Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder a cidade edificada sobre um monte]. É pelo resultado de sua obra que o edificador será conhecido [Lc 14:28 Pois qual de vós, pretendendo construir uma torre, não se assenta primeiro para calcular a despesa e verificar se tem os meios para a concluir? 29 Para não suceder que, tendo lançado os alicerces e não a podendo acabar, todos os que a virem zombem dele, 30 dizendo: Este homem começou a construir e não pôde acabar], se será aprovado ou rejeitado. Nenhum de nós contrataria para edificar uma casa um engenheiro cujas construções costumam desabar. Nenhum de nós contrataria um mestre de obras que sempre deixa suas construções pela metade. Nenhum de nós contrataria um pedreiro que constrói paredes em "S" e que se esfacelam ao menor toque, como castelos de areia. Ao que muito foi dado, muito será cobrado. Àqueles que nada tiverem para mostrar como resultado da confiança do seu Senhor restará a reprovação. Ao olharmos em retrospectiva percebemos que o fundamento foi posto, que os materiais estão dispostos – e que há até uma planta, uma orientação para como e o que construir. A Palavra de Deus nos dá o projeto, o roteiro a ser seguido e é nossa responsabilidade não nos desviarmos dele. Mas fundamento, roteiro e materiais abundantes não formam um edifício. É preciso que tudo isto seja organizado adequadamente.

Lembremos que Paulo escreveu esta carta aos santos, aos que creram em Cristo e foram enriquecidos nele e em sua Palavra. Paulo não está tratando, neste momento, de salvação ou reprovação. Está tratando de vida cristã. Está tratando de prática diária. O ponto é: como o cristão está edificando sobre o fundamento que está posto? Eles, mestres e membros da Igreja coríntia serão provados por Deus e devem ardentemente desejar esta aprovação do Senhor [Sl 135:15 Os ídolos das nações são prata e ouro, obra das mãos dos homens. 16 Têm boca e não falam; têm olhos e não vêem; 17 têm ouvidos e não ouvem; pois não há alento de vida em sua boca.18 Como eles se tornam os que os fazem, e todos os que neles confiam]. Se esta afirmação é aplicável aos idólatras, é razoável supor que o padrão de julgamento seja o mesmo em relação as falsos mestres [como podemos ver em todo o capítulo 2 da segunda carta do apóstolo Pedro]. A aprovação de Deus será com base na qualidade da construção. É por isso que muitos dirão, no último dia, Senhor, Senhor, e receberão dura reprovação do Senhor: nunca vos conheci [Mt 7:23 Então, lhes direi explicitamente: nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a iniqüidade].

Mas aqui Paulo não está falando de salvação, mas de galardão, de recompensa, da alegrai de apresentar-se diante do Senhor, reto juiz [II Tm 4:8 Já agora a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, reto juiz, me dará naquele Dia; e não somente a mim, mas também a todos quantos amam a sua vinda] que estabelecerá uma distinção entre os que edificaram bem e os que edificaram de qualquer jeito. Entre os que foram determinados na aplicação dos recursos recebidos e os que foram relapsos. Entre aqueles que poderão dizer: "completei a carreira, guardei a fé" [II Tm 4:7 combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé] e os que nada poderão dizer. O apóstolo é insistente ao afirmar que o fundamento que está posto é perfeito, é firme, imutável, pois é o próprio Cristo. O material com o qual a Igreja deve edificar também está à sua disposição e é perfeito [Ef 4:8 Por isso, diz: Quando ele subiu às alturas, levou cativo o cativeiro e concedeu dons aos homens] e abundante [Jo 3:34 Pois o enviado de Deus fala as palavras dele, porque Deus não dá o Espírito por medida]. O crente, deve, portanto, edificar. É interessante lembrar que não é mencionado quem deve providenciar o material – é dito apenas que cada um será julgado pelo uso do material que tem à sua disposição, isto é, as escolhas que faz.

Paulo afirma que, como prudente construtor, lançou o melhor fundamento – e diversos materiais estão disponíveis para edificar-se sobre este fundamento e devemos lembrar o que já foi dito anteriormente, que toda boa dádiva e todo dom perfeito são originários em Deus [Tg 1:17 Toda boa dádiva e todo dom perfeito são lá do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não pode existir variação ou sombra de mudança], e ainda que todos os recursos vem de Deus e apenas os usamos em sua obra [I Cr 29:14 Porque quem sou eu, e quem é o meu povo para que pudéssemos dar voluntariamente estas coisas? Porque tudo vem de ti, e das tuas mãos to damos]. E Paulo afirma ainda que cada um será julgado pelo uso feito. Nossa geração tem à sua disposição recursos inimagináveis pelo apóstolo Paulo. Na maior parte do mundo não há impedimentos ou proibições para que o cristão viva sua fé, pelo contrário, cobra-se dele esta vivência. Temos todas as informações que precisamos – todo tipo de informação, sejam elas técnicas ou tecnológicas. Para o cristão compromissado com o Senhor a provação é não apenas inevitável mas absolutamente desejável, porque ele sabe que o seu Senhor não julga segundo as aparências [Jo 7:24 Não julgueis segundo a aparência, e sim pela reta justiça], com equidade [Sl 17:2 Baixe de tua presença o julgamento a meu respeito; os teus olhos vêem com eqüidade].

Paulo coloca duas condicionais para que alguém tenha a sua obra aprovada, independente dos recursos:

· Sua obra tem que permanecer – grande ou pequena, vistosa ou simples, sua obra tem que permanecer, tem que permanecer de pé ao ser provada, pois foi para isso que o fomos chamados, para darmos frutos permanentes [Jo 15:16 Não fostes vós que me escolhestes a mim; pelo contrário, eu vos escolhi a vós outros e vos designei para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça; a fim de que tudo quanto pedirdes ao Pai em meu nome, ele vo-lo conceda].

· Sua obra tem que ter sido edificada sobre o fundamento posto, que é Jesus Cristo. É importante lembrar que nenhuma obra permanecerá se não for edificada sobre o Jesus Cristo – mas ainda assim há as que não permanecerão, mesmo se edificadas sobre a base adequada. Ninguém é chamado para estabelecer novos fundamentos, para sermos criativos ou cheios de novidades. Quando Davi cometeu este equívoco e Israel teve que chorar a morte de Uzá [compare I Cr 13.7-11 com Ex 25.10-16]. Lembremos as palavras de advertência do Senhor: seus mandamentos foram dados para serem cumpridos à risca [Sl 119:4 Tu ordenaste os teus mandamentos, para que os cumpramos à risca].

V. A OBRA INÚTIL SERÁ REJEITADA

15 se a obra de alguém se queimar, sofrerá ele dano; mas esse mesmo será salvo, todavia, como que através do fogo.

Como já mencionamos, não se trata de discutir se a pessoa receberá ou não a salvação – ainda mais que sabemos que ela não se dá por obras, mas pela graça de Deus [Ef 2:8 Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; 9 não de obras, para que ninguém se glorie]. Todos os eleitos do Senhor serão salvos – e como a salvação é dada pela graça, para quem Deus quer, para pecadores indignos, isto independe de obras. Mas há cristãos que não se dedicam, não servem como deveriam, edificam sobre a rocha com a palha das filosofias de seu tempo, sobre a confiança de uma religiosidade morna e muitas vezes sem sentido.

A palavra nos ensina uma possibilidade bem desagradável de vivenciar: a de que aquilo que estamos nos esforçando tanto para fazer pode não ter valor algum. Nossa obra pode ser queimada, não passando com sucesso pela prova do Senhor. Não se trata da mesma rejeição dada aos obreiros da iniquidade, mas de crentes que edificam de maneira relapsa, irresponsável, impensada e inconsequente. Fazem de qualquer jeito como se não estivessem servindo ao Senhor [Cl 3:23 Tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo o coração, como para o Senhor e não para homens, 24 cientes de que recebereis do Senhor a recompensa da herança. A Cristo, o Senhor, é que estais servindo]. Quando o Senhor avaliar o que estamos fazendo é certo que rejeitará muito do que estamos fazendo, mesmo que com muito esforço e boas intenções – mas aqui a palavra chama a atenção para o fato de que escolhas deliberadas estão sendo feitas para a feitura de algo que sabe-se desagradará ao Senhor. Não há como esperar a aprovação de Deus numa situação destas. É como fazer uma oração para pedir que uma falcatrua dê certo e ainda atribuir o resultado à ação de Deus, como aconteceu no escândalo recente no Distrito Federal.

Ser salvo como que através do fogo indica alguém que obteve a salvação de uma maneira já inesperada, em que ninguém acreditava mais, como se escapando de um incêndio através das chamas. A expressão sofrerá ele dano indica o contrário dos que obterão galardão. Mas quais são os requisitos para que aquilo que fazemos seja não seja rejeitada. Se já dissemos os requisitos para que seja aceita [estar solidamente edificada em Cristo e ter valor permanente] podemos, entretanto, ir mais adiante e buscar, nesta mesma carta, informações adicionais.  Cristo enriquece a sua Igreja [I Co 1:5 ...porque, em tudo, fostes enriquecidos nele, em toda a palavra e em todo o conhecimento] e a motivação da Igreja em servi-lo é decorrente do que ele já tem feito por ela. Nossa motivação deve ser, em primeiro lugar, a glória de Deus [I Co 10:31 Portanto, quer comais, quer bebais ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus], usando com fidelidade as suas dádivas, com pureza de coração sem deixar misturar nada impuro. O profeta Micaías colocou como meta de sua vida nada fazer além da vontade do Senhor, só falar o que o Senhor ordenasse. E sua historia continua luzindo na bíblia – ao contrario do que fizeram inúmeros outros de sua era.

Devemos nos lembrar que para com Deus a nossa obrigação é levar o melhor. Malaquias adverte os judeus de seu tempo porque eles levavam para Deus o coxo, o dilacerado, as sobras ou aquilo que rejeitavam. É isto não é honrar a Deus. Para Deus, o melhor, eis a exortação de Malaquias. Para quem nos dá não apenas o fundamento, mas, também, o material, então cabe-nos fazer o melhor. Isto me faz lembrar uma frase muito comum, que é dizer que tem "muita fé" em alguma coisa. Só que uma fé equivocada, depositada numa esperança inútil, certamente conduzirá a lugar algum, gerando somente frustração e nada mais. Era de se esperar que, se a obra de alguém não passasse pela prova, ele seria destruído junto com sua obra, mas estamos falando de um Deus gracioso e seu relacionamento com aqueles que resolveu salvar, tornando-os seus filhos, para isso pagando um altíssimo preço. Eles serão salvos – mas sem recompensa, sem galardão. Serão salvos, como todos os demais, pela graça, entretanto sem terem experimentado a alegria de terem, aqui e agora, trabalhado o dia inteiro para o dono da vinha já recebendo a participação na colheita e, ainda, na certeza de ter mantimento para levar para casa.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como a Igreja de Deus, quase 2000 anos depois, pode entender e colocar em pratica este ensino? O que é sem sombra de dúvida é que o fundamento permanece, ele ainda está à nossa disposição, porque o fundamento é o próprio Cristo, e nenhum outro fundamento pode ser colocado. Também é sem sombra de dúvidas que temos à nossa disposição todos os elementos para a construção que devem ser usados sabiamente [Lucas 16.9 E eu vos recomendo: das riquezas de origem iníqua fazei amigos; para que, quando aquelas vos faltarem, esses amigos vos recebam nos tabernáculos eternos], os dons e talentos de Deus para nós [Rm 11.29 ...porque os dons e a vocação de Deus são irrevogáveis]. Também não podemos duvidar de que, de tudo quanto fizermos, prestaremos contas [Ec 12.14 Porque Deus há de trazer a juízo todas as obras, até as que estão escondidas, quer sejam boas, quer sejam más], mesmo que sejam apenas palavras [Mt 12.36 Digo-vos que de toda palavra frívola que proferirem os homens, dela darão conta no Dia do Juízo]. Resta-nos sermos dedicados, fieis no uso destes materiais que temos recebido, porque cada um será cobrado na medida da abundancia do que lhe foi confiado. A melhor opção é ser firme e inabalável, e trabalhar constante e fielmente, na certeza de que, se feito no Senhor, nosso trabalho não será em vão e produzirá abundantemente [I Co 14.58 Portanto, meus amados irmãos, sede firmes, inabaláveis e sempre abundantes na obra do Senhor, sabendo que, no Senhor, o vosso trabalho não é vão].


Nenhum comentário:

FAÇA DESTE BLOG SUA PÁGINA INICIAL