domingo, 27 de outubro de 2013

O QUE VOCÊ PODE FAZER PARA QUE SUA IGREJA SEJA O QUE ELA DEVE SER

O QUE A IGREJA DE DEUS DEVE SER

1 Paulo e Timóteo, servos de Cristo Jesus, a todos os santos em Cristo Jesus, inclusive bispos e diáconos que vivem em Filipos, 2 graça e paz a vós outros, da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo.
Paulo é o autor da carta, e estava acompanhado por Timóteo. Esta é uma das últimas cartas de Paulo, praticamente uma palavra de despedida, pois não sairia mais da prisão até a sua morte. Preso, mas não aprisionado. Sua mente e coração não estavam presas pelas cadeias, pelo contrário, suas algemas contribuíam para o avanço do evangelho.
Ressaltamos a apostolicidade da carta, sua autoridade, mas, ao mesmo tempo, a simplicidade e o interesse de Paulo pela Igreja que “ele gerou” em cadeias (At 16). Paulo fala a todos os santos, mencionando que entre eles, e não acima deles, há bispos e diáconos. Mas, ao mesmo tempo, lembra au passant que cabe aos bispos e aos diáconos a tarefa de incentivar e conduzir os demais unidos no serviço constante ao Senhor.
A eles Paulo deseja a experiência da graça perdoadora e salvadora, a paz de quem vive em harmonia com Deus e com seus irmãos. Tudo isto fruto da comunhão com o Pai Celeste e com o Senhor Jesus Cristo. Onde há a graça e a paz do Senhor, há harmonia e onde há harmonia entre os crentes e com o Senhor, a graça se manifesta, a paz é vivenciada e o corpo é abençoado (Ef 4.16).

UMA IGREJA COOPERADORA

3 Dou graças ao meu Deus por tudo que recordo de vós, 4 fazendo sempre, com alegria, súplicas por todos vós, em todas as minhas orações, 5 pela vossa cooperação no evangelho, desde o primeiro dia até agora. 6 Estou plenamente certo de que aquele que começou boa obra em vós há de completá-la até ao Dia de Cristo Jesus.
Paulo diz lembrar-se de algumas características da Igreja em Filipos, e ele torna esta Igreja uma presença constante em suas orações porque ele a conhecia como uma Igreja cooperadora para a expansão do evangelho, das boas novas (euaggelion). De que maneira uma Igreja pode ser cooperadora?
I. Através da vida comunitária sadia, da comunhão, da assistência mútua, da correção e da santidade. Não há como ser Igreja cooperadora com o evangelho se não viver o evangelho (koinonya);
II. Através da pregação do evangelho aos incrédulos, anunciando-lhes a salvação unicamente em Jesus Cristo. A verdadeira Igreja de Cristo tem como missão principal adorar a Deus e esta adoração não está dissociada do anúncio da salvação aos pecadores (kerygma);
III. Através do discipulado, do testemunho, do viver e do explicar a razão da fé que carrega no coração, mostrando porque se vive de maneira diferente do sistema de pensamento que cerca o cristão (didaskalia).
Propositalmente deixei de colocar entre os tópicos da cooperação a contribuição financeira e a oração, porque entendo que estas duas “formas” de cooperação do evangelho são apenas reflexos da comunhão, do anuncio e do aprendizado da vida cristã.

UMA IGREJA AMOROSA

7 Aliás, é justo que eu assim pense de todos vós, porque vos trago no coração, seja nas minhas algemas, seja na defesa e confirmação do evangelho, pois todos sois participantes da graça comigo. 8 Pois minha testemunha é Deus, da saudade que tenho de todos vós, na terna misericórdia de Cristo Jesus.
Paulo descreve a Igreja filipenses como uma Igreja que habitava em seu coração porque havia lutado lado a lado com ele, apesar de suas algemas, apesar do perigo de serem considerados inimigos do império a Igreja não o abandonou. A razão para isto é que a Igreja amava a Deus, amava a mensagem que Paulo anunciava e, sem dúvida, amava também a Paulo.
Não podiam agir diferente. Lembremos que o primeiro convertido em Filipos, um carcereiro, um homem que estava encarregado de não permitir a liberdade de ninguém, estava pronto a tirar a própria vida porque achava que havia falhado - e pela lei da época ele respondia com a própria vida por isso, independente da causa. E, salvo pela não fuga de Paulo e Silas, queria, também, experimentar a verdadeira liberdade que só há em Cristo Jesus.
O que uniu o judeu Paulo e os gentios filipenses? Nada menos que a graça de Deus em Jesus Cristo. Graça que é maior que a vida, maior que a morte, maior que coisas do passado ou do futuro (Rm 8.35-39).

UMA IGREJA EM DESENVOLVIMENTO

9 E também faço esta oração: que o vosso amor aumente mais e mais em pleno conhecimento e toda a percepção, 10 para aprovardes as coisas excelentes e serdes sinceros e inculpáveis para o Dia de Cristo, 11 cheios do fruto de justiça, o qual é mediante Jesus Cristo, para a glória e louvor de Deus.
Não há nada mais triste que uma Igreja morta. Nada mais desanimador do que uma Igreja decadente. Aliás, chega a ser um contrassenso uma Igreja não estar viva, pois se é Igreja do Senhor, tem o Espírito vivificante do Senhor atuando nela.
Paulo ora para que o amor e o conhecimento existentes naquela Igreja continuem aumentando para que a Igreja não entre em estagnação, e, deixando de ser fonte de águas vivas. Quando uma Igreja deixa de ser fonte de águas passa a ser poço, poça, deixa de ser fonte de vida e alimenta agentes causadores de morte.
Paulo argumenta que, crescendo na graça e no conhecimento do Senhor, crescendo espiritualmente e intelectualmente, crescendo numericamente, aquela Igreja terá alguns privilégios:
· experiência das coisas excelentes de Deus [não diz quais, mas certamente a glória eterna está incluída, o gozo da presença do Senhor Jesus e da comunhão dos santos);
· apresentar-se perante o Senhor no grande dia do juízo sem medo porque não carregarão a culpa da omissão, da timidez, do relaxamento na obra do Senhor;
· estar na presença de Deus com frutos de justiça nas mãos, ao contrário daqueles para os quais o Senhor voltará as costas (Is 1.15).

CONCLUSÃO

Como fazer parte de uma Igreja assim? Onde está esta Igreja? Esta Igreja pode, antes de estar em algum lugar, ser alguém. Ser você. Ela só estará em algum lugar, em alguma cidade, em algum endereço se, primeiro, os cristãos forem o que devem ser. Sua Igreja (comunidade) só será como esta da qual Paulo se lembra se você for como os crentes dos quais Paulo se lembrava. A mudança começa em você. Antes de pensar em procurar uma Igreja prefeita, busque ser perfeito diante de Deus e dos homens.

domingo, 13 de outubro de 2013

HIPOCRISIA: MÁSCARAS NÃO ESCONDEM O CORAÇÃO


NÃO PENSE SER MAIS DO QUE REALMENTE É.

Já escrevi anteriormente sobre dois problemas sérios com os quais a Igreja tem que se defrontar: a heresia e a apostasia. A heresia é um movimento pendular, de dentro para fora e retornando trazendo novidades que são extra e antibíblicas. A heresia é o desejo de ir além, de saber, de conhecer ou praticar coisas que não estão entre as exigências de Deus para seus santos, no que é apenas o joio crescendo e causando transtornos na lavoura de trigo.
A apostasia é um movimento de dentro para fora, isto é, o abandono da doutrina conhecida e anteriormente aceita. É uma negação prática do que se afirmou aceitar e crer, mas que no fundo é apenas o movimento de quem sempre esteve fora do corpo para fora da comunidade. É um não membro da Igreja invisível se retirando da Igreja visível.
O que é hipocrisia? Hipocrisia é a afirmação deliberada e habitual de bondade e elevada espiritualidade, é a aparência de santidade que apenas esconde um coração cujo propósito é continuamente mau, ainda que para alcançar seus objetivos faça coisas recomendáveis, aceitáveis e até mesmo desejáveis. A origem da palavra remonta ao uso grego de máscaras no teatro, isto é, um ator que representava um papel que, contudo, não era ele realmente.
Mas o sentido primário do uso bíblico do termo (facilmente verificável na septuaginta) é para traduzir a palavra ímpio do Antigo Testamento - indicando que o hipócrita, na verdade, é um ímpio que pretende passar-se por santo, um inconverso que consegue aparentar vida piedosa (II Tm 3.5 ...tendo forma de piedade, negando-lhe, entretanto, o poder. Foge também destes) mas que, no fundo, ainda não sabe o que é conhecer e ser conhecido por Deus (Mt 7.21-22 Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. Muitos, naquele dia, hão de dizer-me: Senhor, Senhor! Porventura, não temos nós profetizado em teu nome, e em teu nome não expelimos demônios, e em teu nome não fizemos muitos milagres?).
Mas um dia as máscaras caem - talvez algumas só diante do julgamento imparcial e perfeito do Senhor Jesus, mas cairão (Ml 3.18 Então, vereis outra vez a diferença entre o justo e o perverso, entre o que serve a Deus e o que não o serve).
Li recentemente num blog que “Todos nós usamos máscaras em algum momento da vida. A vida em sociedade nos força a isso. Não podemos ser 100% sinceros o tempo todo, já que ninguém aguentaria ouvir verdades o tempo todo”. Não deixa de ser irônico e cruel que uma sociedade hipócrita nos obrigue a ser hipócrita - e mais cruel ainda é saber que esta denúncia se aplica também à Igreja que sabe que a falsidade é filha do diabo (Jo 8.44 Vós sois do diabo, que é vosso pai, e quereis satisfazer-lhe os desejos. Ele foi homicida desde o princípio e jamais se firmou na verdade, porque nele não há verdade. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira).
A Escritura considera a hipocrisia um auto engano - e quem engana a si mesmo consegue convencer-se de que não precisa de conversão, arrependimento e mudança de vida (At 26.20 ...mas anunciei primeiramente aos de Damasco e em Jerusalém, por toda a região da Judéia, e aos gentios, que se arrependessem e se convertessem a Deus, praticando obras dignas de arrependimento).

Porque, se alguém julga ser alguma coisa, não sendo nada, a si mesmo se engana.
 Gl 6.3

I. CONSIDERANDO A POSSÍVEL UTILIDADE DA HIPOCRISIA
É muito comum considerar e defender a hipocrisia como se fosse uma máscara para disfarçar a verdade em momentos “oportunos” ou complicados que exigem a necessidade de ser “politicamente correto”.
Seria bom ser hipócrita de vez em quando? Seria possível ser hipócrita por uma “boa causa”? É comum ouvir que “não é preciso tacar a verdade na cara das pessoas o tempo todo; nem a pessoa mais cruel do mundo tem coragem de fazer isso”.
Seria isso benéfico? Vale a pena mentir para manter a sociedade andando bem?  Que sociedade deve ser preservada? “Este mundo” deve ser preservado? Se este for o preço, então é melhor mentir que falar a verdade, evitando “conflitos”? Que conflitos serão evitados? Já não há conflitos sérios o suficiente para acrescentarmos ao caldeirão já efervescente mais um pecado, o da mentira, ainda que bem intencionada, se é que há mentira bem intencionada. Ou, crentes, há?
Há quem defenda que a hipocrisia seletiva e cheia de boas intenções deva ser usada apenas em caso de necessidade, quando se sabe que a verdade “vai magoar alguém sem necessidade”. Mas, e aqueles que usam máscaras o tempo todo e que de tal  forma se acostumam com isso que não conseguem mais se livrar delas?
E como fica o cristão nesta questão? Pode ele produzir fruto ruim (hipocrisia) se está ligado à videira verdadeira, Jesus?  Pode da boa árvore, que é Jesus, frutificar hipocrisia? Como justificar que uma árvore boa dê mau fruto? (Lc 6.43-44 Não há árvore boa que dê mau fruto; nem tampouco árvore má que dê bom fruto. Porquanto cada árvore é conhecida pelo seu próprio fruto. Porque não se colhem figos de espinheiros, nem dos abrolhos se vindimam uvas).
Ou devemos considerar que Jesus estava equivocado e que é aceitável que uma árvore boa produza maus frutos - tendo, portanto, que admitir que uma árvore má também poderá produzir um bom fruto.

II. CARACTERÍSTICAS DA HIPOCRISIA RELIGIOSA
A hipocrisia que contamina e caracteriza as sociedades humanas também se faz presente na Igreja, que confunde amor com omissão (Ef 4.15-16 Mas, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo, de quem todo o corpo, bem ajustado e consolidado pelo auxílio de toda junta, segundo a justa cooperação de cada parte, efetua o seu próprio aumento para a edificação de si mesmo em amor) e deixa de corrigir o faltoso mesmo sabendo que suas faltas podem vir a causar dano a todo o edifício, isto é, a toda a comunidade (I Co 3.17 Se alguém destruir o santuário de Deus, Deus o destruirá; porque o santuário de Deus, que sois vós, é sagrado). É o que chamo de hipocrisia politicamente correta mas espiritualmente destruidora.
A hipocrisia religiosa tem a ver com a consideração equivocada a respeito do que é e do que faz, diferente do que fizeram Isaías (Is 6.5 Então, disse eu: ai de mim! Estou perdido! Porque sou homem de lábios impuros, habito no meio de um povo de impuros lábios, e os meus olhos viram o Rei, o SENHOR dos Exércitos!) e Pedro diante da presença e das realizações majestosas do Senhor (Lc 5.8 Vendo isto, Simão Pedro prostrou-se aos pés de Jesus, dizendo: Senhor, retira-te de mim, porque sou pecador).
1. Cegueira para as próprias faltas
Hipócrita! Tira primeiro a trave do teu olho e, então, verás claramente para tirar o argueiro do olho de teu irmão.
Mt 7.5
O principal problema do hipócrita é que ele não se enxerga, ou, definindo com maior precisão, ele se enxerga através de um espelho deturpado, como daqueles de parques e diversão onde a realidade é tornada fantasiosa - o problema do hipócrita é que ele acredita em sua própria fantasia e enredam outros nela (Rm 16.18 ...porque esses tais não servem a Cristo, nosso Senhor, e sim a seu próprio ventre; e, com suaves palavras e lisonjas, enganam o coração dos incautos).
Isaías e Pedro, anteriormente citados, ao contemplarem a santidade e os portentosos atos de Deus conhecem a si mesmos como realmente são. E este conhecimento só é possível porque conheceram ao Deus vivo e santo. Desta maneira, se um hipócrita não se reconhece como realmente é, podemos inferir que isto é assim porque nunca conheceram a Deus  (II Ts 1.7-10 ...e a vós outros, que sois atribulados, alívio juntamente conosco, quando do céu se manifestar o Senhor Jesus com os anjos do seu poder, em chama de fogo, tomando vingança contra os que não conhecem a Deus e contra os que não obedecem ao evangelho de nosso Senhor Jesus. Estes sofrerão penalidade de eterna destruição, banidos da face do Senhor e da glória do seu poder, quando vier para ser glorificado nos seus santos e ser admirado em todos os que creram, naquele dia - porquanto foi crido entre vós o nosso testemunho) e deve aguardar o momento de, por não conhecerem a Deus, serem devidamente esclarecidos, porém sem mais tempo para arrependimento.
Conhecerão, mas não experimentarão a graça de Deus. Conhecerão, mas não receberão a dádiva do cordeiro, apenas a sua ira, pois serão convencidos da impiedade de seus pecados e hipocrisia, da justiça de Deus em condená-los e do juízo que os lança em danação (Mt 7.23 Então, lhes direi explicitamente: nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a iniqüidade), onde não terão como nem do que reclamar de seu destino porque finalmente terão seus olhos abertos para as suas próprias faltas. Fica, pois, o breve alerta da Palavra de Deus - não vos enganeis (Tg 1.16 Não vos enganeis, meus amados irmãos).
2. Negação em reconhecer a ação de Deus
Supondes que vim para dar paz à terra? Não, eu vo-lo afirmo; antes, divisão.
Lc 12.51
Um evangelho politicamente correto não é o evangelho de Cristo, é apenas palavrório de hipócritas. O hipócrita tem dois valores: o que serve para si mesmo e o que serve para os outros. Penso que um político brasileiro encarna como nenhum outro esta característica da hipocrisia reinante. O que não lhe serve em determinado momento é demonizado - mas esquece-se rapidamente do dito quando o antes rejeitado passa a lhe ser útil.
No âmbito da fé a soberania de Deus é exaltada somente quando os resultados são aqueles que o hipócrita deseja - quando é contrariado o discurso é que houve armação humana, como se o homem conseguisse, de alguma maneira, impedir o agir do braço do Senhor (Is 43.13 Ainda antes que houvesse dia, eu era; e nenhum há que possa livrar alguém das minhas mãos; agindo eu, quem o impedirá?).
Jesus adverte os religiosos do seu tempo por não perceberem que o reino de Deus era chegado (Mt 12.28 Se, porém, eu expulso demônios pelo Espírito de Deus, certamente é chegado o reino de Deus sobre vós) e, apesar dos sinais de que isto estava acontecendo (Mt 16:3 ...e, pela manhã: Hoje, haverá tempestade, porque o céu está de um vermelho sombrio. Sabeis, na verdade, discernir o aspecto do céu e não podeis discernir os sinais dos tempos?) como Jesus diz a João batista (Lc 7:22  Então, Jesus lhes respondeu: Ide e anunciai a João o que vistes e ouvistes: os cegos veem, os coxos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos são ressuscitados, e aos pobres, anuncia-se-lhes o evangelho) ainda ousavam exigir sinais (Mt 12.38 Então, alguns escribas e fariseus replicaram: Mestre, queremos ver de tua parte algum sinal) e atribuíam as realizações de Jesus exatamente àquele a quem serviam (Mt 12.24 Mas os fariseus, ouvindo isto, murmuravam: Este não expele demônios senão pelo poder de Belzebu, maioral dos demônios).
Aliás, é bom lembrar que era uma geração má e adúltera, uma geração hipócrita e incrédula (Jo 12.37 E, embora tivesse feito tantos sinais na sua presença, não creram nele) que exigia provas da ação de Deus sendo presas fáceis dos engodos de satanás (Mt 24:24 ...porque surgirão falsos cristos e falsos profetas operando grandes sinais e prodígios para enganar, se possível, os próprios eleitos).
Para não aceitarem a ação de Deus, retiram de suas bíblias a doutrina da soberania de Deus, edificam para si mesmo um deus menor e superestimam a ação dos homens ou do diabo - para o hipócrita só é de Deus, isto é, do seu deus, o que lhes satisfaz a coceira dos ouvidos (II Tm 4.3 Pois haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, cercar-se-ão de mestres segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos): e eles sabem se cercar de outros hipócritas.
3. Falta de um senso de valores equilibrado e bíblico
Disse-lhe, porém, o Senhor: Hipócritas, cada um de vós não desprende da manjedoura, no sábado, o seu boi ou o seu jumento, para levá-lo a beber?
Lc 13.15
Podemos definir senso de valor bíblico como a qualidade de tomar decisões de modo a aplicar o ensino das Escrituras a situações do dia-a-dia equilibrando misericórdia e justiça, necessidade e graça.
A hipocrisia, por não ser expressão da verdade, apresenta-se de duas maneiras. Em uma dada situação é farisaica, exigente, intransigente. É legalista e, por isso, despreza o espírito da lei do Senhor, que é boa, perfeita e agradável para os fiéis (Rm 12.2 E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus).
Um exemplo desta hipocrisia é combatida por Jesus no evangelho de Marcos (Mc 7.11-13 Vós, porém, dizeis: Se um homem disser a seu pai ou a sua mãe: Aquilo que poderias aproveitar de mim é Corbã, isto é, oferta para o Senhor, então, o dispensais de fazer qualquer coisa em favor de seu pai ou de sua mãe, invalidando a palavra de Deus pela vossa própria tradição, que vós mesmos transmitistes; e fazeis muitas outras coisas semelhantes).
Recentemente acompanhei um caso de discurso contra o sistema por parte de um hipócrita enquanto servia-se do sistema, do cargo que ocupa, de uma certa influência fruto do nome da família e de experiências pessoais para acomodar seus interesses, ao menos nos métodos, eticamente reprováveis. Em resumo, o desequilíbrio se apresenta, por este lado, sob o lema: dura lex, sed lex - porque a lei atende meus interesses.
Por outro lado, a hipocrisia também pende para o lado oposto, o de desprezo velado pela vontade revelada de Deus uma vez que, confrontado com a vontade de Deus, propõe que a mesma seja “reinterpretada” de acordo com os novos tempos, com uma nova moral vigente no mundo (Ef 2.2 ...nos quais andastes outrora, segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe da potestade do ar, do espírito que agora atua nos filhos da desobediência) que obedece a outro principio de governo (Jo 12.31 Chegou o momento de ser julgado este mundo, e agora o seu príncipe será expulso).
Chamamos isto de relativismo espiritual e moral - uma aplicação bem típica é afirmar que é válido ocultar ou falsear a verdade para não magoar alguém. Ofereço dois exemplos práticos:
1) Quando alguém diz que está indo a uma a Igreja (de caráter e ensino apenas aparentemente evangélicos) e afirma que todos os caminhos levam a Deus, ou que Deus é o mesmo para todos. O que o crente deve fazer?
a) dizer que não, somente o caminho da verdade - e esclarecer que o caminho no qual esta pessoa está é errado e conduz ao inferno.
b) incentivar, dizendo que é muito bom que este alguém tenha encontrado o caminho - e quem sabe convidá-lo para conhecer a sua Igreja.
2) Quando morre um notório descrente (especialmente se teve uma vida pautada por boa conduta ética) e precisamos consolar um parente e o mesmo diz que “fulano agora está com Deus, descansou, passou desta para uma melhor”. É hora de:
a) dizer que a melhor eternidade é reservada apenas para aqueles que verdadeiramente creram em Jesus Cristo, que perderam a sua vida por amor de Cristo;
b) dizer a célebre frase: “É verdade, agora está descansando”, mesmo sabendo que a recompensa para os incrédulos é o inferno (II Co 4.3-4 Mas, se o nosso evangelho ainda está encoberto, é para os que se perdem que está encoberto, nos quais o deus deste século cegou o entendimento dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, o qual é a imagem de Deus).
Em ambos os casos dizer a verdade e equilibrá-la com a piedade e o amor é possível, e necessário, pois não há prova de amor quando se despreza a oportunidade de avisar ao pecador do seu mau caminho (Ez 3.18 Quando eu disser ao perverso: Certamente, morrerás, e tu não o avisares e nada disseres para o advertir do seu mau caminho, para lhe salvar a vida, esse perverso morrerá na sua iniqüidade, mas o seu sangue da tua mão o requererei), o que é, afinal, uma responsabilidade de cada cristão.
4. Ignorância da vontade de Deus
Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque devorais as casas das viúvas e, para o justificar, fazeis longas orações; por isso, sofrereis juízo muito mais severo! Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque rodeais o mar e a terra para fazer um prosélito; e, uma vez feito, o tornais filho do inferno duas vezes mais do que vós!
Mt 23.14-15
O profeta Oséias testemunha um grave problema na Igreja do seu tempo, isto é, em todo o Israel: um povo que estava sendo destruído porque estava se afastando do seu Deus, deixando de conhece-lo, rejeitando deliberadamente andar segundo seus caminhos (Os 46 O meu povo está sendo destruído, porque lhe falta o conhecimento. Porque tu, sacerdote, rejeitaste o conhecimento, também eu te rejeitarei, para que não sejas sacerdote diante de mim; visto que te esqueceste da lei do teu Deus, também eu me esquecerei de teus filhos).
Em seus embates com os religiosos incrédulos do séc. I em apenas um momento Jesus acusa-os de não ter conhecimento verdadeiro da Palavra por não aplicarem a palavra revelada a suas vidas e assim experimentarem do poder de Deus (Mc 12.24 Respondeu-lhes Jesus: Não provém o vosso erro de não conhecerdes as Escrituras, nem o poder de Deus?).
A Nicodemos Jesus chamou de douto (Jo 3.10 Tu és mestre em Israel e não compreendes estas coisas?), mas disse claramente aos fariseus que eram hipócritas pois, enquanto chamavam-no de mestre (Mc 12.13-15 E enviaram-lhe alguns dos fariseus e dos herodianos, para que o apanhassem em alguma palavra. Chegando, disseram-lhe: Mestre, sabemos que és verdadeiro e não te importas com quem quer que seja, porque não olhas a aparência dos homens; antes, segundo a verdade, ensinas o caminho de Deus; é lícito pagar tributo a César ou não? Devemos ou não devemos pagar? Mas Jesus, percebendo-lhes a hipocrisia, respondeu: Por que me experimentais? Trazei-me um denário para que eu o veja) tinham o desejo no coração de mata-lo (Jo 7.19 Não vos deu Moisés a lei? Contudo, ninguém dentre vós a observa. Por que procurais matar-me?), negando, entretanto, este intento no primeiro confronto (Jo 7.20 Respondeu a multidão: Tens demônio. Quem é que procura matar-te?), mas depois deixaram de fazê-lo (Jo 8.40-41 Mas agora procurais matar-me, a mim que vos tenho falado a verdade que ouvi de Deus; assim não procedeu Abraão. Vós fazeis as obras de vosso pai. Disseram-lhe eles: Nós não somos bastardos; temos um pai, que é Deus).
5. Hipervalorização das ações e tradições humanas
Hipócritas! Bem profetizou Isaías a vosso respeito, dizendo: Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim. E em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos de homens.
Mt 15.7-9
É comum afirmações de fé com base na história pessoal, familiar ou mesmo uma confiança cega em “modos de fazer” ao invés de uma entrega verdadeira ao Senhor Jesus. O problema é que o tradicionalismo não liberta, pelo contrário, oprime, como lembra Jesus ao mostrar a hipocrisia dos fariseus (Mt 23.15 Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque rodeais o mar e a terra para fazer um prosélito; e, uma vez feito, o tornais filho do inferno duas vezes mais do que vós!).
O meio de obter liberdade é pelo conhecimento e prática da verdade (Jo 8:32 ...e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará) e não pela prática de meras tradições vãs (I Pe 1:18 ...sabendo que não foi mediante coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados do vosso fútil procedimento que vossos pais vos legaram).
O problema das tradições é que elas se resumem ao que os homens podem fazer. E uma religião que se resume ao que os homens podem fazer despreza a graça de Deus em Cristo. Os judeus pensavam assim antes da crucificação de Jesus (Lc 10:25 E eis que certo homem, intérprete da Lei, se levantou com o intuito de pôr Jesus à prova e disse-lhe: Mestre, que farei para herdar a vida eterna?) mas esta intenção já demonstra um coração não regenerado.
Eles continuam acreditando que regras e coisas que podem fazer conseguiriam fazê-los merecedores de algum favor especial de Deus (At 2:37 Ouvindo eles estas coisas, compungiu-se-lhes o coração e perguntaram a Pedro e aos demais apóstolos: Que faremos, irmãos?) mesmo depois de terem ouvido a mensagem de salvação em Jesus, crucificado e ressurreto.
Mas esta tendência de acreditar que feitos podem ser mais importantes que a graça de Deus não se limita aos hebreus, também pôde ser encontrada entre os greco-romanos (At 16.30 Depois, trazendo-os para fora, disse: Senhores, que devo fazer para que seja salvo?).
Foi preciso que Paulo afirmasse enfaticamente a morte do homem sem Deus (Ef 2.5 ...e estando nós mortos em nossos delitos, nos deu vida juntamente com Cristo, —pela graça sois salvos) e a inutilidade das realizações e tradições humanas (Ef 2.8-9 Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie).
Talvez um dos momentos mais claros e marcantes da confiança cega que o tradicionalismo pode trazer ao coração dos homens, afastando-os de Deus e da obediência à sua Palavra (Jr 7.9-10 Que é isso? Furtais e matais, cometeis adultério e jurais falsamente, queimais incenso a Baal e andais após outros deuses que não conheceis, e depois vindes, e vos pondes diante de mim nesta casa que se chama pelo meu nome, e dizeis: Estamos salvos; sim, só para continuardes a praticar estas abominações!) enquanto acreditam que o simples fato de ir à Igreja e fazer certas coisas lhes garante o favor de Deus (Jr 7.4 Não confieis em palavras falsas, dizendo: Templo do SENHOR, templo do SENHOR, templo do SENHOR é este).
O problema é que Israel e o templo foram destruídos - mas apenas o verdadeiro santuário permanece de pé (I Co 3.16 Não sabeis que sois santuário de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?). Esta é uma advertência para que não confiemos em nada que o homem possa edificar, mas, tão somente, naquilo que o Senhor deseja que fique de pé.
6. Amor pela glória humana
E, quando orardes, não sereis como os hipócritas; porque gostam de orar em pé nas sinagogas e nos cantos das praças, para serem vistos dos homens. Em verdade vos digo que eles já receberam a recompensa.
Mt 6.5
Às vezes nos surpreendemos de tal maneira que não queremos admitir que uma pessoa seja apenas uma hipócrita porque, em muitos casos, os hipócritas fazem mais que os demais. E eles fazem assim porque querem ser vistos, como a figueira cheia de folhas (Mt 21.19  ...e, vendo uma figueira à beira do caminho, aproximou-se dela; e, não tendo achado senão folhas, disse-lhe: Nunca mais nasça fruto de ti! E a figueira secou imediatamente). O problema é que o hipócrita deseja ser glorificado entre os homens - e este é um mal que mesmo crentes podem praticar (Jo 14.42 Contudo, muitos dentre as próprias autoridades creram nele, mas, por causa dos fariseus, não o confessavam, para não serem expulsos da sinagoga; porque amaram mais a glória dos homens do que a glória de Deus) e isto Deus não admite (Is 48.11 Por amor de mim, por amor de mim, é que faço isto; porque como seria profanado o meu nome? A minha glória, não a dou a outrem).
Mas cuidado, pois não é suficiente apenas pensar que  é cristão, porque amar a glória do mundo é muito arriscado e pode indicar que não ama verdadeiramente a Deus (I Jo 2.15 Não ameis o mundo nem as coisas que há no mundo. Se alguém amar o mundo, o amor do Pai não está nele). Aquele que ama o mundo, e não busca a Deus, em primeiro lugar (Mt 6:33  ...buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas)  está cometendo um terrível engano (Gl 6.3 Porque, se alguém julga ser alguma coisa, não sendo nada, a si mesmo se engana).

A bíblia fala de pessoas que amaram o presente século (II Tm 4.10 Porque Demas, tendo amado o presente século, me abandonou e se foi para Tessalônica; Crescente foi para a Galácia, Tito, para a Dalmácia) fazendo exatamente o contrário da exortação bíblica de “não tomar a forma deste século”, isto é, não ter a mente e o coração dominados pelo sistema de valores e práticas imperantes em nosso tempo (Rm 12.2 E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus).
III. A HIPOCRISIA SERÁ DESMASCARADA
Os hipócritas são motivo de escândalo mas são, ao mesmo tempo, melindrosos. Amam a mentira, a desfaçatez e se escandalizam com aquilo que deveriam amar, a verdade. Preferem fazer suas obras no silencio, nas trevas, porque não querem que elas sejam trazidas à luz (Jo 3.20-21 Pois todo aquele que pratica o mal aborrece a luz e não se chega para a luz, a fim de não serem arguidas as suas obras. Quem pratica a verdade aproxima-se da luz, a fim de que as suas obras sejam manifestas, porque feitas em Deus).
É muito fácil identificar um hipócrita: ele fala suavemente (II Co 11.13 Porque os tais são falsos apóstolos, obreiros fraudulentos, transformando-se em apóstolos de Cristo), acaricia o ego [e em alguns casos o ombro) daquele a quem deseja enganar (II Tm 4.3 Pois haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, cercar-se-ão de mestres segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos), sempre aparentando grande piedade  (II Tm 3.5 ...tendo forma de piedade, negando-lhe, entretanto, o poder. Foge também destes) e preocupação com as coisas e as pessoas, mas tudo o que desejam é enganá-los (I Jo 3.7 Filhinhos, não vos deixeis enganar por ninguém; aquele que pratica a justiça é justo, assim como ele é justo).
O alerta bíblico é para que os eleitos não se deixem enganar (I Jo 2.26 Isto que vos acabo de escrever é acerca dos que vos procuram enganar) examinando não apenas as palavras, mas as atitudes, os frutos que estas árvores podres produzirão: frutos podres tais quais ela é (Mt 7.20 Assim, pois, pelos seus frutos os conhecereis). Um hipócrita nunca aceita o confronto, nunca aceita trazer os argumentos e os fatos à luz, porque sua máscara será claramente percebida. Logo ficará fácil perceber que seu amor e sua preocupação é apenas fachada para esconder um coração perverso (Jd 1.12 Estes homens são como rochas submersas, em vossas festas de fraternidade, banqueteando-se juntos sem qualquer recato, pastores que a si mesmos se apascentam; nuvens sem água impelidas pelos ventos; árvores em plena estação dos frutos, destes desprovidas, duplamente mortas, desarraigadas).
A exortação bíblica é que não amemos apenas de palavras - amor falso, declaratório mas não essencial (I Jo 3.18 Filhinhos, não amemos de palavra, nem de língua, mas de fato e de verdade). Mas o fato é que toda hipocrisia mais cedo ou mais tarde é desmascarada, e o hipócrita tem seu caráter exposto. Geralmente um hipócrita argumenta, usando a bíblia de um modo peculiar e deturpado,  que não se deve apontar o argueiro no olho do outro (Lc 6.42 Como poderás dizer a teu irmão: Deixa, irmão, que eu tire o argueiro do teu olho, não vendo tu mesmo a trave que está no teu? Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho e, então, verás claramente para tirar o argueiro que está no olho de teu irmão). A bíblia não diz para não tirar o argueiro, ensina que não se deve condenar o outro sendo que é tão condenável quanto, mas julgando-se sem erro. É obvio que deve-se tirar o argueiro do olho do irmão (Gl 6.2 Levai as cargas uns dos outros e, assim, cumprireis a lei de Cristo). É falta de amor e desobediência a Deus não avisar o perigo que o outro está correndo (Ez 3.18 Quando eu disser ao perverso: Certamente, morrerás, e tu não o avisares e nada disseres para o advertir do seu mau caminho, para lhe salvar a vida, esse perverso morrerá na sua iniqüidade, mas o seu sangue da tua mão o requererei).
O que acontecerá com um hipócrita quando for confrontado com sua hipocrisia? Quando a palavra desnudar-lhe o coração e trazer suas obras más para a luz? Certamente eles se escandalizarão (Mt 15.12-14 Então, aproximando-se dele os discípulos, disseram: Sabes que os fariseus, ouvindo a tua palavra, se escandalizaram? Ele, porém, respondeu: Toda planta que meu Pai celestial não plantou será arrancada. Deixai-os; são cegos, guias de cegos. Ora, se um cego guiar outro cego, cairão ambos no barranco). Devemos nos preocupar em que os hipócritas se escandalizem? Parece-nos que esta não é a preocupação de Jesus quando diz que “ai do homem que causa escândalo” (Mt 18.7 Ai do mundo, por causa dos escândalos; porque é inevitável que venham escândalos, mas ai do homem pelo qual vem o escândalo!) porque sua preocupação é com os pequeninos, e não com os ímpios (Mt 18.6 Qualquer, porém, que fizer tropeçar a um destes pequeninos que crêem em mim, melhor lhe fora que se lhe pendurasse ao pescoço uma grande pedra de moinho, e fosse afogado na profundeza do mar).
Quanto aos hipócritas, seu caráter é bem conhecido por Jesus (Mt 15.7-9 Hipócritas! Bem profetizou Isaías a vosso respeito, dizendo: Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim. E em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos de homens), sabe que, por eles, o reino dos céus seria fechado aos homens (Mt 23.13 Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque fechais o reino dos céus diante dos homens; pois vós não entrais, nem deixais entrar os que estão entrando!) enquanto se aproveitam dos que conseguem enganar (Mt 23.14 Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque devorais as casas das viúvas e, para o justificar, fazeis longas orações; por isso, sofrereis juízo muito mais severo!) porque não conseguem vê-los como realmente são: rochas submersas, prontas a afundar navios incautos.
 IV. A HIPOCRISIA SERÁ RECOMPENSADA
Para não pensarmos que a hipocrisia é um pecado menor e sem importância, precisamos observar o que Jesus pensa do assunto. Diz-nos que os  servos maus e negligentes serão lancados no mesmo lugar em que os hipócritas (Mt 24.51 ...e castigá-lo-á, lançando-lhe a sorte com os hipócritas; ali haverá choro e ranger de dentes). Sobre esta declaração de Jesus convém observar que:
 I. A recompensa dos hipócritas não é o Reino de Deus
Os hipócritas não herdarão o reino dos céus porque ali não haverá mais lágrimas (Ap 21.4 E lhes enxugará dos olhos toda lágrima, e a morte já não existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras coisas passaram).
 II. A recompensa dos hipócritas não será agradável
Jesus afirma que o lugar dos hipócritas será “fora” do lugar reservado a Abraão, Isaque, Jacó e os santos do Senhor (Lc 13.28 Ali haverá choro e ranger de dentes, quando virdes, no reino de Deus, Abraão, Isaque, Jacó e todos os profetas, mas vós, lançados fora), lugar descrito como de gozo e antítese ao lugar onde os descrentes e ímpios serão lançados (Lc 16.22-23 Aconteceu morrer o mendigo e ser levado pelos anjos para o seio de Abraão; morreu também o rico e foi sepultado. No inferno, estando em tormentos, levantou os olhos e viu ao longe a Abraão e Lázaro no seu seio).
 III. A recompensa dos hipócritas é o inferno
Jesus diz que os maus servos serão lançados com os hipócritas “onde haverá choro e ranger de dentes”. Este lugar é denominado de inferno, lugar onde os perversos receberão a justa recompensa por sua perversidade (Sl 9.17 Os perversos serão lançados no inferno, e todas as nações que se esquecem de Deus).
Ali é lugar de juízo, isto é, de punição, e não de gozo (II Pe 2.4 Ora, se Deus não poupou anjos quando pecaram, antes, precipitando-os no inferno, os entregou a abismos de trevas, reservando-os para juízo) e o único direito do ímpio no inferno é o jus sperneandis (Mt 8.12 Ao passo que os filhos do reino serão lançados para fora, nas trevas; ali haverá choro e ranger de dentes). Deve-se esclarecer que por filhos do reino Mateus chama os judeus - que se autoproclamavam filhos de Abraão (Lc 3.8 Produzi, pois, frutos dignos de arrependimento e não comeceis a dizer entre vós mesmos: Temos por pai a Abraão; porque eu vos afirmo que destas pedras Deus pode suscitar filhos a Abraão) os mesmos que não receberam Jesus (Jo 1.11 Veio para o que era seu, e os seus não o receberam) e não foram tornados filhos de Deus (Jo 1.12-13 Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que crêem no seu nome os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus).
De nada adiantará parecer crente - o Senhor conhece o coração dos homens (At 1.24 E, orando, disseram: Tu, Senhor, que conheces o coração de todos, revela-nos qual destes dois tens escolhido) e sabe que são insensatos (Rm 1.21 ...porquanto, tendo conhecimento de Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças; antes, se tornaram nulos em seus próprios raciocínios, obscurecendo-se-lhes o coração insensato) e vê o que cada um está fazendo (Sl 113.5-6 Quem há semelhante ao SENHOR, nosso Deus, cujo trono está nas alturas, que se inclina para ver o que se passa no céu e sobre a terra?), mesmo nas trevas (Sl 139:12 ...até as próprias trevas não te serão escuras: as trevas e a luz são a mesma coisa), e dará a cada um a sua justa recompensa (Ap 22.12 E eis que venho sem demora, e comigo está o galardão que tenho para retribuir a cada um segundo as suas obras).
Assim, um último aviso aos hipócritas, mesmo aos mais religiosos deles:
Não vos enganeis: de Deus não se zomba; pois aquilo que o homem semear, isso também ceifará.

Gl 6:7

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

APOSTASIA: QUANDO PERDER SIGNIFICA GANHAR.

...SAÍRAM DO NOSSO MEIO!
SAÍRAM? ENTÃO, NÃO ERAM DOS NOSSOS.
O que é apostasia? A definição que ofereço é a que segue: “é abandonar a proximidade com Cristo e com os santos ao perceber que esta proximidade não se tornará comunhão por causa das inclinações do coração daquele que apostata”.
Apostasia é o abandono da comunhão, da doutrina correta (ortodoxia) e da prática correta (ortopraxia), mas não implica em abandono da fé genuína, porque é impossível alguém abandonar o que nunca possuiu e que apenas aparentava (hipocrisia).
A palavra apostasia significa “perder o equilíbrio”, “separar-se de uma base que serve de apoio indispensável”, “cair”, “abandonar a retidão”. No sentido cristão ela assume o sentido de insubordinação mediante rebeldia moral e espiritual, queda das convicções religiosas.
Ao mesmo tempo podemos considerar a apostasia um gravíssimo erro espiritual porque a Palavra atesta que aqueles que abandonam a Igreja, depois de terem conhecido a luz da verdade, se encontram em estado pior que o anterior (II Pe 2:20 Portanto, se, depois de terem escapado das contaminações do mundo mediante o conhecimento do Senhor e Salvador Jesus Cristo, se deixam enredar de novo e são vencidos, tornou-se o seu último estado pior que o primeiro). Torna-se ainda mais escravo do pecado, escravo de satanás e réu da perdição eterna.
É por isso que não é de admirar que seja mais difícil trazer de volta para o seio da Igreja um apóstata (que se julga cheio de razões para abandonar a Igreja, numa atitude de insubmissão e rebeldia contumaz, pretendendo-se superiores aos que ficaram) do que levar uma pessoa pela primeira vez ao evangelho. Nestes tempos de politicamente corretos os apóstatas tem sido eufemisticamente designados de “desigrejados”.
Mas sabemos que há casos de arrependimento e retorno à sensatez - II Tm 2:26 ...mas também o retorno à sensatez, livrando-se eles dos laços do diabo, tendo sido feitos cativos por ele para cumprirem a sua vontade).
Para o convertido a apostasia temporária é um perigo que rodeia a Igreja constantemente, e este perigo é ainda mais grave onde há ignorância das doutrinas, falta de amor cristão, indiferença para com o ensino da Palavra, transformação dos canais de edificação em mero entretenimento, falta de amor mútuo. Todos estes males agravam o risco de que, esquecendo-se de que do Senhor vem a satisfação de todas as nossas necessidades (Sl 23:1 O SENHOR é o meu pastor; nada me faltará) o cristão busque em cisternas rotas o que deveria estar recebendo da fonte de águas tranquilas (Jr 2:13 Porque dois males cometeu o meu povo: a mim me deixaram, o manancial de águas vivas, e cavaram cisternas, cisternas rotas, que não retêm as águas).
Entretanto, o inconvertido não pode evitar a apostasia, pois sua natureza é comparada à de um animal que, livrando-se da impureza, retorna à podridão (II Pe 2:22 Com eles aconteceu o que diz certo adágio verdadeiro: O cão voltou ao seu próprio vômito; e: A porca lavada voltou a revolver-se no lamaçal).
Mas, e o convertido, como evitar o perigo da apostasia? Como evitar que, lavado no sangue de Cristo, volte a chafurdar-se na lama? Atitudes como meditação diária e constante, com obediência à Palavra, cuidado e vigilância em sua vida devocional, prática de exercícios devocionais particulares e comunitários, envolvimento nas atividades da Igreja, guarda do dia do Senhor, assiduidade ao culto, submissão às autoridades e amor aos demais membros do corpo de Cristo são instrumentos de fortificação da alma.

I Tm 4.1-5
1 Ora, o Espírito afirma expressamente que, nos últimos tempos, alguns apostatarão da fé, por obedecerem a espíritos enganadores e a ensinos de demônios,
2 pela hipocrisia dos que falam mentiras e que têm cauterizada a própria consciência,
3 que proíbem o casamento e exigem abstinência de alimentos que Deus criou para serem recebidos, com ações de graças, pelos fiéis e por quantos conhecem plenamente a verdade;
4 pois tudo que Deus criou é bom, e, recebido com ações de graças, nada é recusável,
5 porque, pela palavra de Deus e pela oração, é santificado.
____ I. A APOSTASIA NÃO É SURPRESA
Para os cristãos a apostasia não é nenhuma surpresa por dois motivos.
O primeiro é histórico: ao longo de toda a história da fé sempre houve apóstatas, incluindo, em determinado momento, até mesmo todo o povo de Deus desde o começo de sua história (At 7:39-40 A quem nossos pais não quiseram obedecer; antes, o repeliram e, no seu coração, voltaram para o Egito, dizendo a Arão: Faze-nos deuses que vão adiante de nós; porque, quanto a este Moisés, que nos tirou da terra do Egito, não sabemos o que lhe aconteceu), em seu desenvolvimento durante o período dos juízes (Jz 2:12 Deixaram o SENHOR, Deus de seus pais, que os tirara da terra do Egito, e foram-se após outros deuses, dentre os deuses das gentes que havia ao redor deles, e os adoraram, e provocaram o SENHOR à ira) e mesmo nos dias de Jesus, quando os discípulos o abandonaram (Jo 6.66 À vista disso, muitos dos seus discípulos o abandonaram e já não andavam com ele), inclusive um dos doze a quem ele escolheu (Jo 17.12 Quando eu estava com eles, guardava-os no teu nome, que me deste, e protegi-os, e nenhum deles se perdeu, exceto o filho da perdição, para que se cumprisse a Escritura).
Mas a apostasia não tem lugar no coração dos que conhecem a Cristo como o filho de Deus (Jo 6:68 Respondeu-lhe Simão Pedro: Senhor, para quem iremos? Tu tens as palavras da vida eterna) e se mantém atentos para não serem enganados (II Ts 2:3 Ninguém, de nenhum modo, vos engane, porque isto não acontecerá sem que primeiro venha a apostasia e seja revelado o homem da iniqüidade, o filho da perdição).
Outro motivo para que não nos surpreendamos com a apostasia é o fato de que o Senhor afirmou, de maneira muito clara, que ela aconteceria (Mt 24.10-13 Nesse tempo, muitos hão de se escandalizar, trair e odiar uns aos outros; levantar-se-ão muitos falsos profetas e enganarão a muitos. E, por se multiplicar a iniqüidade, o amor se esfriará de quase todos. Aquele, porém, que perseverar até o fim, esse será salvo).
A Igreja pode ser surpreendida pelo momento e pelo modo de insurreição apóstata - mas nunca pelo fato de tal insurreição acontecer e muitos abandonarem a doutrina bíblica. A própria doutrina bíblica prevê e explica a apostasia como um movimento de um coração não regenerado rebelando-se contra leis espirituais que não deseja cumprir. Embora a palavra seja agradável aos crentes (Sl 19:10 São mais desejáveis do que ouro, mais do que muito ouro depurado; e são mais doces do que o mel e o destilar dos favos) é um duro jugo para os inconversos (Jo 6:60 Muitos dos seus discípulos, tendo ouvido tais palavras, disseram: Duro é este discurso; quem o pode ouvir?) ela é pesada e desagradável para os descrentes.
Para o Senhor da Igreja não há surpresa nenhuma quando surge um movimento apóstata - ele conhece o coração do homem (Jo 2:23-25 Estando ele em Jerusalém, durante a Festa da Páscoa, muitos, vendo os sinais que ele fazia, creram no seu nome; mas o próprio Jesus não se confiava a eles, porque os conhecia a todos. E não precisava de que alguém lhe desse testemunho a respeito do homem, porque ele mesmo sabia o que era a natureza humana).
Deus não foi surpreendido nem pela rebelião de Satanás, e muito menos pelo pecado de Adão.
É impossível imaginar que o Deus que tem pleno conhecimento de todas as coisas (Jo 16:30 Agora, vemos que sabes todas as coisas e não precisas de que alguém te pergunte; por isso, cremos que, de fato, vieste de Deus), de tudo sobre todo o universo, inclusive os pensamentos do homem antes que sejam formulados (Sl 139:4 Ainda a palavra me não chegou à língua, e tu, SENHOR, já a conheces toda), e tudo dispõe segundo o seu querer (Pv 21:1 Como ribeiros de águas assim é o coração do rei na mão do SENHOR; este, segundo o seu querer, o inclina) seja surpreendido por alguma coisa que o homem consegue fazer.
A Palavra afirma que o Espírito do Senhor sabe tanto quem são como de onde virão os apóstatas, e com que propósitos - atrair os homens para si, engrandecerem-se à custa de seus seguidores e afastar os homens de glorificarem ao Deus vivo, de maneia que, mortos espiritualmente, sejam arrastados para o inferno junto com satanás e seus anjos (Mt 25:41 Então, o Rei dirá também aos que estiverem à sua esquerda: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos).
____ II. A ORIGEM DA APOSTASIA
De onde vem a apostasia? Toda apostasia é demoníaca? Ou devemos creditá-la a interesses humanos? Ou a mera hipocrisia e dureza de coração? Ou é tudo isto junto? Na visão de Paulo, existem pelo menos três causas para a apostasia - causas que podem atuar isoladas ou concomitantemente.
ESPÍRITOS ENGANADORES
Ora, o Espírito afirma expressamente que, nos últimos tempos, alguns apostatarão da fé, por obedecerem a espíritos enganadores e a ensinos de demônios...
I Tm 4.1
Esta mesma expressão é usada por João para descrever uma das causas da apostasia: pregadores de um falso evangelho, ou profetas da mentira [I Jo 4.1 Amados, não deis crédito a qualquer espírito; antes, provai os espíritos se procedem de Deus, porque muitos falsos profetas têm saído pelo mundo fora). Paulo assume que é do coração do homem que procedem os maus desígnios (Mt 15:19 Porque do coração procedem maus desígnios, homicídios, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos, blasfêmias).
O Senhor se refere a propósitos que brotam do coração do homem, que é corrupto (Jr 17:9 Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto; quem o conhecerá?) e foi justamente esta a causa do dilúvio: os maus desígnios do coração do homem (Gn 6:5 Viu o SENHOR que a maldade do homem se havia multiplicado na terra e que era continuamente mau todo desígnio do seu coração).
É por causa destes maus desígnios que homens inescrupulosos ameaçam a paz e a unidade da Igreja, buscando arrastar alguns com doutrinas muitas vezes atrativas, outras tantas esquisitas, mas verdadeiras afrontas a Deus e à sua Palavra (Rm 16:17-18 Rogo-vos, irmãos, que noteis bem aqueles que provocam divisões e escândalos, em desacordo com a doutrina que aprendestes; afastai-vos deles, porque esses tais não servem a Cristo, nosso Senhor, e sim a seu próprio ventre; e, com suaves palavras e lisonjas, enganam o coração dos incautos).
INFLUÊNCIA DEMONÍACA
Ora, o Espírito afirma expressamente que, nos últimos tempos, alguns apostatarão da fé, por obedecerem a espíritos enganadores e a ensinos de demônios...
I Tm 4.1
É obvio que o diabo não perderia a oportunidade de perturbar a Igreja do Senhor, e ele o faz de duas maneiras.
A primeira é semeando o joio no meio do trigo (Mt 13:25 ...mas, enquanto os homens dormiam, veio o inimigo dele, semeou o joio no meio do trigo e retirou-se), através de seus ministros (II Co 11.13-15 Porque os tais são falsos apóstolos, obreiros fraudulentos, transformando-se em apóstolos de Cristo. E não é de admirar, porque o próprio Satanás se transforma em anjo de luz. Não é muito, pois, que os seus próprios ministros se transformem em ministros de justiça; e o fim deles será conforme as suas obras) na tentativa de enganar os eleitos - o que, evidentemente, é impossível definitivamente.
A segunda é tentando retirar o joio levando junto o trigo. Existem inúmeras formas de doutrina satânica sendo disseminadas - umbanda, espiritismo, satanismo propriamente dito. Ademais, toda doutrina que nega a Cristo é doutrina anticristã, e é, pois, uma filha do diabo independente do uso ou rejeição da bíblia. Entretanto, há, claramente, doutrinas que são diretamente proporcionadas pela direção demoníaca, através de entidades espirituais disfarçadas ou não. A umbanda, por exemplo, apropriou-se de um sincretismo com a idolatria romanista para disfarçar suas entidades animistas africanas - mas recebe direção direta de tais entidades.
O espiritismo pretende ser o canal de comunicação entre espíritos de luz (que eles mesmos admitem a possibilidade de serem espíritos enganadores), homens e espíritos de mortos, uma doutrina que não encontra respaldo nas Escrituras (Hb 9:27 E, assim como aos homens está ordenado morrerem uma só vez, vindo, depois disto, o juízo).
Até mesmo o romanismo e suas mensagens atribuídas a mortos (santos) ou à Maria (todos mortos, evidentemente) pode ser tão corretamente atribuídas a ação demoníaca quanto a falsa visão que Saul “entendeu” ser de Samuel, contra todas as evidências: alguém que deveria estar com Deus teve que “subir” e, posteriormente, aceita que o rei se prostre ante ele (I Sm 28:14 Perguntou ele: Como é a sua figura? Respondeu ela: Vem subindo um ancião e está envolto numa capa. Entendendo Saul que era Samuel, inclinou-se com o rosto em terra e se prostrou) e ainda oferece uma profecia que não se cumpre perfeitamente, embora Saul realmente tenha morrido, mas não no dia predito (I Is 28:19 O SENHOR entregará também a Israel contigo nas mãos dos filisteus, e, amanhã, tu e teus filhos estareis comigo; e o acampamento de Israel o SENHOR entregará nas mãos dos filisteus).
Não podemos nos esquecer do moderno pseudo pentecostalismo e seus cada dia mais aberrantes extremos, cujos praticantes procuram justificar suas loucuras em pretensas visões, esquecendo-se do que Paulo disse aos gálatas - nem ele, nem anjos podiam ir além da revelação das Escrituras (Gl 1.8-9 Mas, ainda que nós ou mesmo um anjo vindo do céu vos pregue evangelho que vá além do que vos temos pregado, seja anátema. Assim, como já dissemos, e agora repito, se alguém vos prega evangelho que vá além daquele que recebestes, seja anátema).
É evidente que este pseudo pentecostalismo pode ser, claramente, uma soma de tudo o que serve de fonte para heresias: espíritos dispostos a enganar, homens mercadejando a fé, sob influência de satanás e possuidores de corações hipócritas e consciências cauterizadas.
DESONESTA HIPOCRISIA
...pela hipocrisia dos que falam mentiras e que têm cauterizada a própria consciência,
I Tm 4.2
Raramente a apostasia é fruto de dificuldade de entendimento doutrinário - é muito mais de desonestidade e dissimulação intelectual. Um exemplo claro que ilustra esta afirmação é o momento em que muitos discípulos deixam de andar com Jesus (Jo 6:66 À vista disso, muitos dos seus discípulos o abandonaram e já não andavam com ele) exatamente porque compreenderam o que ele disse e o que isto significava para suas vidas - renúncia do eu, comprometimento integral com o reino (Jo 6.60 Muitos dos seus discípulos, tendo ouvido tais palavras, disseram: Duro é este discurso; quem o pode ouvir?).
Eles queriam uma religião que pudessem “praticar” (Lc 10:25 E eis que certo homem, intérprete da Lei, se levantou com o intuito de pôr Jesus à prova e disse-lhe: Mestre, que farei para herdar a vida eterna?) e Jesus lhes oferece uma religião que era muito mais que isso, mais que um estilo de vida, era uma nova vida (Jo 6.63 O espírito é o que vivifica; a carne para nada aproveita; as palavras que eu vos tenho dito são espírito e são vida) como ele mostra com absoluta clareza para Nicodemos (Jo 3:3 A isto, respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo que, se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus).
Observe que os apóstatas julgam-se no direito de julgar o ensino de Jesus, colocando-se acima do mestre, como fizeram os judeus e, há pouco tempo, foram seguidos pelo herético Edir Macedo em vídeo datado de 31 de dezembro de 2012:
“Pensa comigo, por favor. O primeiro milagre que Jesus realizou foi numa festa de casamento quando ele transformou a água em vinho. Eu fiquei perguntando: ‘Meu Deus, o primeiro milagre que o Senhor faz não é a cura de um enfermo, não é a libertação de um oprimido, não é a salvação de um ser humano. O senhor transformou água em vinho?’ E esse vinho, o que fez? Alegrou apenas os convidados daquela festa de casamento. Não fez mais nada. Ou fez? Qual foi o benefício que a transformação de água para vinho trouxe para o Reino de Deus?”
“Qual foi o benefício que a transformação de água em vinho trouxe para o reino de Deus? Houve algum benefício? Não. É justo que o Senhor tenha transformado em água em vinho sem beneficiar qualquer pessoa e não tenha transformado a vida de uma pessoa para nova criatura e tenha a mesma qualidade de vida?”
“Eu não aceito essa situação. Minha inteligência se nega a aceitar. O meu coração diante do conhecimento que nós temos da Tua palavra e da justiça de Deus, não passa na minha cabeça, é inaceitável”.
Macedo usa a desonesta [como todo apóstata e herético ele não poderia ser honesto) tática argumentativa de chamar a pessoa a “pensar com ele” - insinuando implicitamente que quem ousar discordar está, automaticamente, classificado de “não pensante”. Então, podemos insistir na afirmação de que não é falta de entendimento, mas essencialmente desonestidade intelectual, preferência pela mentira e rejeição da verdade que move o apóstata (Rm 1.24-25 Por isso, Deus entregou tais homens à imundícia, pelas concupiscências de seu próprio coração, para desonrarem o seu corpo entre si; pois eles mudaram a verdade de Deus em mentira, adorando e servindo a criatura em lugar do Criador, o qual é bendito eternamente. Amém!).
____ III. AS ARMADILHAS DA APOSTASIA
A apostasia não se apresenta com um convite para o abandono da fé. Geralmente ela se apresenta como uma interpretação mais profunda ou atualizada, ou, pelo contrário, uma tentativa de voltar a práticas há muito tornadas obsoletas pela vitória de Cristo na cruz e a liberdade dela decorrente, que alguns, inadvertidamente, transformam em libertinagem (Jd 1:4 Pois certos indivíduos se introduziram com dissimulação, os quais, desde muito, foram antecipadamente pronunciados para esta condenação, homens ímpios, que transformam em libertinagem a graça de nosso Deus e negam o nosso único Soberano e Senhor, Jesus Cristo).
CONTROLE DE RELACIONAMENTOS
3 que proíbem o casamento e exigem abstinência de alimentos que Deus criou para serem recebidos, com ações de graças, pelos fiéis e por quantos conhecem plenamente a verdade;
I Tm 4.3
Os relacionamentos são a mais básica necessidade emocional horizontal do ser humano, que foi criado para viver em companhia de outro ser (Gn 2:18 Disse mais o SENHOR Deus: Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma auxiliadora que lhe seja idônea) que lhe seja igual e complementar (Gn 2:23 E disse o homem: Esta, afinal, é osso dos meus ossos e carne da minha carne; chamar-se-á varoa, porquanto do varão foi tomada).
Numerosas seitas apostatas exigiam de seus membros dedicação integral, proibindo o casamento - no que foram imitados pela Igreja romana em meados do séc. XI como uma forma de manter intacto o patrimônio da Igreja e, ao mesmo tempo, dispor do trabalho em tempo integral de seus membros.
Não é difícil mostrar que esta abstinência é uma forma de negação de submissão à vontade de Deus que afirma que não é bom que o homem esteja só, e, ainda, que o leito conjugal é uma benção (Hb 13:4 Digno de honra entre todos seja o matrimônio, bem como o leito sem mácula; porque Deus julgará os impuros e adúlteros).
RESTRIÇÕES ALIMENTARES
3 que proíbem o casamento e exigem abstinência de alimentos que Deus criou para serem recebidos, com ações de graças, pelos fiéis e por quantos conhecem plenamente a verdade;
I Tm 4.3
A apostasia se revela também pela negativa em receber, com ações de graças, de tudo o que Deus criou e deu para servir de alimentação do sua criatura.
Também não é incomum nas seitas apóstatas a proibição de determinados alimentos, considerados puros pelo Senhor antes (Mc 7.18-19 Então, lhes disse: Assim vós também não entendeis? Não compreendeis que tudo o que de fora entra no homem não o pode contaminar, porque não lhe entra no coração, mas no ventre, e sai para lugar escuso? E, assim, considerou ele puros todos os alimentos) e após a ressurreição (At 10:15 Segunda vez, a voz lhe falou: Ao que Deus purificou não consideres comum).
Encontramos esta prática em instituições como o adventismo (especialmente carne de porcos e semelhantes) e o romanismo (semana “santa”), mas também está presente no budismo (qualquer carne), no hinduísmo (carne de vaca) e outras.
SACRALIZAÇÃO DE PESSOAS
Geralmente movimentos apóstatas são fruto de pessoas com personalidade impactante, e conseguem arrastar após si pessoas mais fracas e influenciáveis. Podemos ver numerosos exemplos nos dias atuais, quando pregadores de si mesmo arrastam multidões sem oferecer-lhes nada que ao menos se pareça com o alimento da Palavra de Deus.
Também vemos esta sacralização em relação à memória de pessoas que foram importantes dentro da instituição e, em alguns casos, nem foram reais, como os santos romanos.
SACRALIZAÇÃO DE DIAS E DATAS
Quem distingue entre dia e dia para o Senhor o faz; e quem come para o Senhor come, porque dá graças a Deus; e quem não come para o Senhor não come e dá graças a Deus.
Rm 14:6
O restabelecimento da guarda de dias santos - não apenas no sabatismo, mas também no romanismo é uma forma de apostasia porque tira o foco que deve ser sempre no autor e consumador da fé, Jesus (Hb 12:2 ...olhando firmemente para o Autor e Consumador da fé, Jesus, o qual, em troca da alegria que lhe estava proposta, suportou a cruz, não fazendo caso da ignomínia, e está assentado à destra do trono de Deus) para colocar na obediência a mandamentos que já foram ab-rogados porque cumpridos por Cristo Jesus, o nosso descanso.
SACRALIZAÇÃO DE ATOS
...sabendo que não foi mediante coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados do vosso fútil procedimento que vossos pais vos legaram,
I Pe 1:18
Assim como Pedro, Jesus denuncia um grave problema religioso do ser humano: considerar o que tem sido feito como mais importante do que o que se deve fazer (Mc 7.11-13 Vós, porém, dizeis: Se um homem disser a seu pai ou a sua mãe: Aquilo que poderias aproveitar de mim é Corbã, isto é, oferta para o Senhor, então, o dispensais de fazer qualquer coisa em favor de seu pai ou de sua mãe, invalidando a palavra de Deus pela vossa própria tradição, que vós mesmos transmitistes; e fazeis muitas outras coisas semelhantes).
Sacramentar a tradição faz com que as pessoas fechem os olhos para Jesus. A Igreja inúmeras vezes se esconde atrás do “sempre fazemos assim” para não obedecer a Cristo ou aos apelos de almas que se perdem e um movimento apóstata valorizar sobremaneira uma determinada prática, mesmo que esta não tenha fundamento bíblico, apenas por causa da antiguidade da mesma.
____ IV. COMO ENTENDER A APOSTASIA
A Escritura chama os apóstatas de “anticristos”. É evidente que não está se referindo ao anticristo (II Ts 2.3-4 Ninguém, de nenhum modo, vos engane, porque isto não acontecerá sem que primeiro venha a apostasia e seja revelado o homem da iniqüidade, o filho da perdição, o qual se opõe e se levanta contra tudo que se chama Deus ou é objeto de culto, a ponto de assentar-se no santuário de Deus, ostentando-se como se fosse o próprio Deus) que coloca-se em oposição ao filho (I Jo 2.22 Quem é o mentiroso, senão aquele que nega que Jesus é o Cristo? Este é o anticristo, o que nega o Pai e o Filho). João chama os promotores da apostasia de anticristos, predecessores e tipos do anticristo que encarnará a apostasia final.
Os apóstatas possuem algumas características que podemos identificar no ensino de João (I Jo 2.18-19 Filhinhos, já é a última hora; e, como ouvistes que vem o anticristo, também, agora, muitos anticristos têm surgido; pelo que conhecemos que é a última hora. Eles saíram de nosso meio; entretanto, não eram dos nossos; porque, se tivessem sido dos nossos, teriam permanecido conosco; todavia, eles se foram para que ficasse manifesto que nenhum deles é dos nossos).
Eles sairão do meio da Igreja, e, por isso, conhecerão muito bem sua estrutura, seus pontos fortes e sua vulnerabilidade. Entretanto, a Igreja não deve sentir-se surpresa nem desanimada, ainda que esta saída lhe cause dor, como uma operação para retirar um objeto estranho que feria o corpo e o prejudicava.
Por conhecerem a Igreja eles farão críticas verdadeiras, embora seus objetivos sejam perniciosos. Podemos, inclusive, aprender com os apóstatas quando eles apontam nossas falhas, embora não devamos lhes seguir os maus passos.
Eles serão diferentes da Igreja, porque, embora parecessem ser parte dela, nunca foram realmente convertidos. Vieram para o seio da Igreja por motivos os mais diversos possíveis, e muitos deles nem foram injustos: família, necessidade de companhia, amizades, busca de conhecimento, relacionamentos sadios. Mas sua natureza não mudou.
Se fossem parte da Igreja não poderiam ter sido arrebatadas das mãos do Senhor (Jo 20.27-29 As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me seguem. Eu lhes dou a vida eterna; jamais perecerão, e ninguém as arrebatará da minha mão. Aquilo que meu Pai me deu é maior do que tudo; e da mão do Pai ninguém pode arrebatar).
Eles sairão para evidenciar diferenças entre os crentes e os inconversos. Sairão porque não eram parte da Igreja, eram joio no meio do trigo, podiam até ser confundidos com a Igreja mas no tempo de produzirem os frutos serão como a figueira estéril: sua aparência será apenas fachada, não darão frutos e não permanecerão.
Eles servirão de alerta para a Igreja. Sua presença e sua apostasia servirão de lição e advertência para os fiéis, que devem aprender que sem Cristo nada podem fazer (Jo 15:5 Eu sou a videira, vós, os ramos. Quem permanece em mim, e eu, nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer), mantendo-se vigilantes para que não caiam (I Co 10:12 Aquele, pois, que pensa estar em pé veja que não caia).
____ VI. A COLHEITA DO APÓSTATA
A Escritura afirma que o estado daquele que abandona a fé é pior que o seu estado anterior, geralmente num nível moral inferior por causa das contaminações do mundo, deixando-se enredar pelas armadilhas do mundo e de satanás. Seu estado é pior do que o anterior porque, tendo sido considerados livres até pelo inimigo (que não conhece corações e não tem como saber quem é convertido ou não) agora retornam, duplamente humilhados (Jd 1:12 Estes homens são como rochas submersas, em vossas festas de fraternidade, banqueteando-se juntos sem qualquer recato, pastores que a si mesmos se apascentam; nuvens sem água impelidas pelos ventos; árvores em plena estação dos frutos, destes desprovidas, duplamente mortas, desarraigadas).
____ VII. O ANTÍDOTO
Para que o cristão não seja enredado pelos laços armados pelo diabo e pelas ramas e raízes do joio que ele planta, é necessário que faça uso dos meios de graça, da administração da Igreja e da comunhão com os santos.
Ninguém pode resistir às ciladas do inimigo sem estar alimentado pelo Espírito do Senhor através de sua Palavra. Jesus deu-nos o exemplo ao ser tentado, embora detentor de todo o poder ele preferiu vencê-lo pela Palavra (I Jo 5:3 Porque este é o amor de Deus: que guardemos os seus mandamentos; ora, os seus mandamentos não são penosos).
Outra importante fonte de poder é o usufruto dos sacramentos, tanto o batismo onde confessamos a Cristo como Senhor como a Santa Ceia, quando renovamos nossa comunhão com Deus e com a sua Igreja (I Jo 1:3 ...o que temos visto e ouvido anunciamos também a vós outros, para que vós, igualmente, mantenhais comunhão conosco. Ora, a nossa comunhão é com o Pai e com seu Filho, Jesus Cristo).
Deus também nos dá o governo da Igreja como um importante instrumento de crescimento e purificação (Hb 13:17 Obedecei aos vossos guias e sede submissos para com eles; pois velam por vossa alma, como quem deve prestar contas, para que façam isto com alegria e não gemendo; porque isto não aproveita a vós outros).
Uma última e difícil consideração a respeito dos apóstatas é a orientação da Palavra no sentido de que os mesmos devem ser identificados e evitados pela Igreja para que ela não seja contaminada. Em outras palavras, a Igreja não deve receber reconhecidos apóstatas em seu meio com os braços abertos (II Ts 3:14 Caso alguém não preste obediência à nossa palavra dada por esta epístola, notai-o; nem vos associeis com ele, para que fique envergonhado) porque os mesmos portam veneno em seus lábios (Os 10:4 Falam palavras vãs, jurando falsamente, fazendo aliança; por isso, brota o juízo como erva venenosa nos sulcos dos campos).
Não adianta querer ganhar ou manter reconhecidos apóstatas no seio da Igreja porque isto é um prejuízo, é um dano. É melhor deixa-los partir. Como diz o título deste texto, é melhor vê-los partir porque isto é uma profilaxia do Espírito Santo em sua Igreja, para mantê-la pura para o noivo (II Pe 3.14-17 Por essa razão, pois, amados, esperando estas coisas, empenhai-vos por serdes achados por ele em paz, sem mácula e irrepreensíveis, e tende por salvação a longanimidade de nosso Senhor, como igualmente o nosso amado irmão Paulo vos escreveu, segundo a sabedoria que lhe foi dada, ao falar acerca destes assuntos, como, de fato, costuma fazer em todas as suas epístolas, nas quais há certas coisas difíceis de entender, que os ignorantes e instáveis deturpam, como também deturpam as demais Escrituras, para a própria destruição deles). Manter apóstatas mediante carinhos e concessões é um adultério espiritual e um câncer, um estímulo à septicemia espiritual na Igreja.

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