Um dos lemas que marcaram a Igreja reformada foi "Fides Reformata, Ecclesia Reformanda". Ao cunharem esta expressão em latim [era a língua literária universal do sec. XVI] eles queriam, de maneira sucinta e direta, dizer duas coisas extremamente importantes para a profissão da sua fé em contraponto a Igreja católico-romana.
Em primeiro lugar, a expressão fides reformata traduzia o pensamento de todos os reformadores: a fé cristã precisava de uma reforma urgente, voltando aos seus fundamentos. Não propunham uma mudança pelo simples fato de acharem que seria bom mudar porque isso seria, simplesmente, trabalhoso e inútil - propunham uma mudança de um lugar errado, a idolatria institucionalizada, para a rocha perene, a Palavra de Deus [Mt 7.24].
Os reformadores julgavam necessário que a Igreja se despojasse de todos os acréscimos que havia recebido ao longo um processo de paganização que durara mais de um milênio e retornasse à simplicidade do evangelho [por isso a expressão sola scriptura acrescida do complemento posterior tota scriptura].
Fides reformata, significa, então, o abandono do paganismo e da idolatria institucionalizada e o retorno aos padrões escriturísticos, onde toda afirmação tem que ser provada pelas Escrituras ou então ser rejeitada como indigna de credo. Isto explica a frase de Lutero em Worms, afirmando que se não fosse convencido pelas Escrituras e pela lógica de algum erro, era-lhe impossível ir contra a sua consciência.
Há alguns anos houve uma tentativa de, mediante um jogo de palavras, fazer que a Igreja assumisse como lema "fides reformanda" e não "reformata", curiosamente esta proposta foi feita utilizando-se a revista de teologia da nossa Igreja, Fides Reformata. Sua defesa era de que a fé precisa ser revista de acordo com os tempos no qual a Igreja está inserida, como se o ensino das Escrituras precisasse ser adaptado ao presente século. Entretanto, continuamos com o termo reformata porque cremos que, embora a maneira de viver em cada era possa ser revista para se adequar à cultura, entretanto, os princípios das Escrituras devem prevalecer sobre os costumes locais.
Exemplificando hipoteticamente: em uma sociedade que proibisse os homens de usar as cores verde, vermelho e amarelo, reservando-a para uso exclusivo das mulheres, nenhum cristão ousaria usar uma camiseta arco-íris. Em países onde o uso da cruz é tido como ofensivo as casas onde os crentes se reúnem trazem relevos de ramos de trigo ou uvas para que os cristãos identifiquem o seu lugar de culto.
Mas nenhuma doutrina fundamental deve ser comprometida. Mesmo onde se crê que Jesus Cristo é apenas um dos muitos profetas antigos, no caso do islamismo, os cristãos continuam anunciando a Cristo como o Filho de Deus, o único salvador dos crentes [At 4.12].
Em culturas onde Maria é colocada como co-redentora e mediadora os cristãos continuam anunciando Cristo como único redentor e mediador [I Tm 2.5].
Em culturas onde o secularismo afirma ousadamente que Deus está morto os cristãos continuam proclamando: Ele ressurgiu dos mortos e vivo está.
Em culturas que se prostram diante de pedaços de paus, ou de metais e pedras [sejam preciosos ou não], ou até de animais o cristão verdadeiro continua lembrando que o Senhor abomina tal prática [Ex 20.4] e que é grande tolice a confecção de imagens para adoração [Is 41.6-7] e não leva a nada [Os 4.12].
Os tempos podem até mudar - mas a fé genuína é perene [Jd 1.3].
Continua...
2 comentários:
Rev. Marthon, excelente artigo! Grato por compartilhar conosco um pouco de sua sabedoria!!!
Rev. Marthon, excelente artigo! Grato por compartilhar conosco um pouco de sua sabedoria!!!
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