Já vimos que a expressão fides reformata era um lembrete aos cristãos de que sua doutrina deveria ser reformada de acordo com o fundamento dos apóstolos e dos profetas, isto é, de acordo com a Palavra de Deus. Qualquer expressão de fé que fugisse a este arcabouço deveria ser imediatamente lançada na sarjeta da historia. Concluímos no último texto que "Os tempos podem até mudar - mas a fé genuína é perene [Jd 1.3]".
Entretanto, apropriando-se da ilustração bíblica a respeito da Igreja como um edifício, os reformadores pensaram que a Igreja deveria estar sempre se reformando - e isto traz duas implicações.
A primeira delas é que a Igreja, embora perene, não é estática. Ela vai, com o tempo, perdendo seus membros que precisam ser repostos. É como fazemos em uma casa - com o tempo toda casa, por mais bem edificada e por melhores que sejam os materiais, vai se deteriorando e precisa de eventuais consertos.
Com a Igreja não é diferente - com o passar dos anos, décadas ou séculos ela vai perdendo pessoas que professavam a fé genuína e precisa agregar outras pessoas que expressem a mesma fé. Ao mesmo tempo a Igreja vai sofrendo assédio de ventos doutrinários, o coração de alguns tendem a uma reinterpretação das Escrituras que pode levar a uma releitura equivocada da fé e ao surgimento de movimentos heréticos e dissidentes. A isso os reformadores responderam: a igreja deve, sempre, estar se reformando sem abrir mão da fé reformada.
Um segundo elemento da ecclesia reformanda que precisa ser mencionado é o fato de que a Igreja está inserida em um contexto cultural altamente volátil - e às vezes a mesma denominação pode estar inserida em mais de um contexto cultural [que o digam os missionários e pastores que mudam-se do norte para o sul, do nordeste para o sudeste do Brasil].
Como um edifício, a Igreja também pode sofrer algumas reformas para se adaptar melhor aos novos tempos. Por exemplo, era absolutamente impensável nos dias dos reformadores pensar-se na contratação de um engenheiro elétrico quando se fosse fazer uma edificação pelo simples fato de que se desconhecia a eletricidade e tal necessidade era inexistente. Todavia, mesmo prédios datados do sec. XVI, o século dos reformadores, foram adaptados para as demandas do sec. XXI.
Provavelmente os reformadores teriam respostas bíblicas para as demandas do sec. XXI se vivessem no séc. XXI. Mas dificilmente se preocupariam com algumas situações que vivemos hoje simplesmente pelo fato de que eles não as viveram.
Nenhum deles, por exemplo, escreveu absolutamente nada sobre redes sociais, sobre aborto terapêutico, inseminação artificial, clonagem, transplante de órgãos, manipulação genética... Se o fizessem seriam tidos, em seu tempo, por loucos, e certamente comprometeriam a receptividade à sua mensagem. Mas é muito provável que tratassem do assunto se essa fosse sua realidade cultural.
Ecclesia reformanda é a Igreja do Senhor, vivendo no presente século como elemento de sanidade, de purificação, de esclarecimento, sem se deixar influenciar pelos maus costumes e desvios de uma geração que continua sendo má e adúltera.
Como a Igreja pode se reformar hoje? Mantendo-se constantemente vigilante e voltando-se sempre para o padrão das Escrituras, e, ao mesmo tempo, entendendo que não vive no séc. XVI embora professe a mesma fé. Deve a Igreja, então, rejeitar os padrões culturais, os costumes de seu tempo que afrontem à Palavra de Deus.
É costume do nosso tempo a vida licenciosa por parte de jovens e adultos não casados? A isto a Igreja responde sobre a continência, a abstinência, a santidade e, inclusive com o casamento.
É costume do nosso tempo a dissolução do casamento quando não se consegue resolver os problemas conjugais? A isto a Escritura responde com o perdão, com o projeto divino de cuidado mútuo.
É costume do nosso tempo o desamor parental e o desrespeito filial? A isso a Escritura responde com o dever dos pais de suprirem as necessidades dos filhos, não apenas materiais, mas emocionais e espirituais, bem como exigindo dos filhos respeito e honra, sob pena de maldição e não de bênção.
Para todas as questões do nosso tempo a Escritura traz um princípio como resposta. Exemplo? O aborto terapêutico recomendado vai ao encontro do mandamento : "não matarás". Portanto, não mate!
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