Diante da dificuldade dos coríntios entenderem que nem ele, Paulo, nem Apolo, nem qualquer outro pregador eram alguma coisa, Paulo resolve chamar-lhes a atenção para o que eles eram - enfatizando seus diferentes trabalhos.
Paulo conclama-os a serem seus imitadores naquilo que ele imitava a Cristo [I Co 4.16; I Co 11.1]. Era o Paulo que lutava contra o pecado que deveria ser imitado [Rm 7.24-25], deixando para trás muitas coisas, prosseguindo para o alvo da soberana vocação [Fp 3.14]. Paulo queria que os cristãos tivessem em mente a verdade bíblica de que todo cristão, independente de qualquer condição social, cultural ou econômica, é apenas um servo. Guarde isto: todo cristão é um servo. E, portanto, deve servir.
Paulo afirma que ele e Apolo eram apenas servos, escravos [Mt 20.26], sem vontade, sem identidade própria, sem liberdade. Servo apenas serve e nada mais [Lc 17.10]. O trabalho feito honra ao Senhor, não aos servos.
Quem construiu as pirâmides? Mesmo sem colocar uma única pedra a resposta é: Queóps, Quéfren e Miquerinos. Quem matou milhões de judeus? Adolf Hitler. Quem ganhou a II guerra? Churchil e Rooselvet sem desembarcarem na Normandia?
O grande vilão início do séc. XXI foi Osama Bin Laden. Mas ele não derrubou avião algum. Isto é para ilustrar que grande, digno de ser exaltado, seguido e adorado é o Senhor Jesus, o arquiteto, o proprietário, o dono de tudo e de todos [I Co 12.6], o autor e o consumador da fé [Hb 12.2]. A identidade de Paulo e Apolo dilui-se diante do que eles são [II Co 12.15; Gl 2.20].
Paulo e Apolo eram instrumentos para que os coríntios conhecessem a fé cristã – e cada um dentro de uma capacitação e permissão do próprio Deus [Rm 12.6].
A chave para entendermos o pensamento de Paulo é: "conforme o Senhor concedeu a cada um" [de nós – Paulo e Apolo]. Foi o Senhor que os escolheu [Jo 15.16]. É o Senhor quem concede dons aos homens, é o Senhor quem concede obreiros para a Igreja – e cada coríntio que creu no Senhor, seja por intermédio de Paulo, seja de Apolo, creu porque o Senhor lhe abriu o coração para atender às verdades de Deus.
Parece uma mera repetição do que já foi dito, mas sabemos que há servos que não executam os trabalhos para os quais foram designados – são inúteis e, no tempo próprio, receberão na justa medida do seu "não trabalho" [Mt 25.30]. Não é assim com Paulo e Apolo. Observemos que Paulo dá a Apolo a honra que Apolo tem.
Ele não desejava aumentar o seu valor diminuindo a importância do trabalho de Apolo. Ele queria que os coríntios reconhecessem que há três personagens envolvidos na existência daquela Igreja. É possível que você pergunte: três? Um é Paulo, o outro é Apolo, mas está o terceiro.
Dissemos que havia três personagens diferentes no trato da lavoura espiritual. Vejamos quem são eles:
· Paulo: Toda lavoura, em algum momento, teve alguém que tomou a terra virgem e preparou-a e, no tempo próprio, depositou a semente no solo. Esta honra, em corinto, pertence a Paulo, o servo que planta, que tinha como propósito não edificar sobre fundamento alheio [Rm 15.20]. Alguns coríntios podiam não gostar de Paulo. Podiam discordar de seus métodos. Podiam achar seu ensino duro e áspero. Paulo era um empreendedor, um visionário, percebia onde deveria plantar, e o fazia. Queria ver igrejas nascendo e pagava o preço por isso. Mas os coríntios não poderiam, jamais, tirar-lhe a honra de ser o pioneiro, o fundador. Podiam ter muitos preceptores, muitos professores, mas apenas um pai [I Co 4.15].
· Apolo: Apolo não poderia ser o pai da Igreja de Corinto. Ele não foi o fundador, não foi o pioneiro – como Paulo afirma neste mesmo capítulo, pai é apenas um, Apolo seria somente um dos preceptores, um servo que rega.
Mas isto não diminui sua importância, pelo contrário, foi tão importante na historia daquela Igreja a ponto de muitos considerarem-no mais importante do que Paulo. Sua função foi dar continuidade ao trabalho iniciado sem cometer o erro de achar que tinha que começar tudo de novo. E não é difícil encontrar falhas – ou pessoas que apontem falhas em quem já foi. Mas a visão bíblica é que Apolo não suplantou o trabalho de Paulo. Ele o complementou – ele não era um empreendedor, sua função era dar continuidade ao processo iniciado e organizado por Paulo – o trabalho de Paulo era mais imediatista, o de Apolo demandava mais tempo. Às vezes um obreiro assume um campo desqualificando o trabalho de seu antecessor. Apolo não iniciou – encontrou uma Igreja viva e a regou, alimentou-a, cuidou dela.
· Deus: embora Paulo e Apolo sejam importantes, o mais importante personagem listado por Paulo não é quem planta ou rega, mas a fonte do crescimento da Igreja. Muitos agricultores lançam a semente na terra e nada colhem. Muitas lavouras são regadas e adubadas mas nada é produzido. O trabalho de Paulo e Apolo poderia ter sido em vão, aliás, nem haveria trabalho de Apolo se Deus não tivesse abençoado o trabalho de Paulo. Se Deus não tivesse dado crescimento ao trabalho paulino não haveria necessidade do trabalho de Apolo. Deus é o personagem principal: ele é quem dá o crescimento. A afirmativa de Paulo é que o crescimento veio de Deus, mostrando que o servo que planta não é coisa alguma, e tampouco o servo que rega o é. Embora não esteja escrito, o sentido da frase é que Deus é o único que realmente deve ser lembrado pelos coríntios como o autor da sua fé, pois é ele quem dá o crescimento.
Amados, o que Paulo nos diz é que devemos trabalhar para o Senhor na certeza de que ele nos dará os resultados. Se formos fieis, se formos dedicados colheremos bons resultados [Sl 1126.6].
O trabalho é árduo, as dificuldades são muitas, mas devemos ser firmes, inabaláveis produzindo sempre, abundantemente não obra do Senhor, sabendo que, se fizermos realmente para glória de Deus, se trabalharmos fielmente, o nosso trabalho não será em vão [I Co 15.58]. Isto não é uma condicional.
Isto é uma afirmação do apóstolo Paulo, alguém que tinha a experiência de trabalhar para o Senhor e ver os resultados do trabalho aparecerem pela graça de Deus [Ef 3.20], e não por seus próprios méritos [I Co 15.10].
Trabalhemos então, na certeza de que Deus nos dará abundantes frutos para sua glória.
Rev. Marthon Mendes