E perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas
orações (At 2.42).
Consideramos a Igreja como a comunidade dos
que creem em Jesus Cristo como seu Senhor e Salvador de acordo com as
Escrituras. Se esta característica for desprezada, nada mais sobra. A Igreja
deixa de ser o corpo de Cristo para ser uma instituição humana como outra
qualquer. Partindo do princípio de que a comunidade dos que creem é o corpo de
Cristo, então devemos notar que a Igreja é uma comunidade, um corpo que vive em
comunhão, que busca o próprio bem estar. Membros da verdadeira Igreja não
intentam o mal uns contra os outros porque senão devem ser considerados como um
câncer desobediente (Jo 14.15) inserido no corpo que nunca experimentou o
amor de Cristo (1Jo 4.8).
O que me chama a atenção na Igreja é a
perseverança na prática do que é bom. Não há proveito algum, e algumas vezes há
até males, em continuar insistentemente fazendo o que bem entende. Isto nem
deve sequer ser considerado como perseverança, mas como ímpia teimosia. Um dos
grandes problemas de Israel é que aquela nação se caracterizava por ser um povo
de dura cerviz, isto é, um povo que, não muito diferente da Igreja
contemporânea, persevera em seus próprios e maus caminhos.
Apesar de
entendermos a palavra doutrina como indicativo de algo árido, acadêmico,
não era neste sentido que Lucas dava à palavra didaxh (de
onde vem a palavra portuguesa didática). O didakê era o ensino por meio de
palavras que se expressava em ações. Era incompreensível para a Igreja
primitiva que alguém pudesse dizer que havia aprendido de Cristo mas este
aprendizado não se expressasse em ações concretas. Tiago, um dos autores do
Novo Testamento, nos diz que a mera aceitação de informações teológicas sem a
prática das mesmas é mera bravata, é, na prática, uma mentira. Para Tiago um
incrédulo é menos danoso para a comunidade cristã do que um professo que não
pratica sua fé (Tg 2.18).
A Igreja perseverava em aprender e praticar o
que era ensinado pelos apóstolos, e fazia isto não apenas no templo, como,
também, de casa em casa e certamente no seu dia-a-dia a ponto de não haver
nenhum necessitado entre eles. Iam por toda parte anunciando o Evangelho do
reino. Os diáconos e demais membros da Igreja não esperavam que os apóstolos
anunciassem a Jesus Cristo como o Senhor e salvador.
Não temo afirmar que o grande problema da
Igreja moderna não é desconhecimento da verdade, mas a ignorância da verdade de
Deus. Deixe-me explicar: os membros da Igreja ouvem, semana após semana,
sermões, mensagens e estudos, leem textos e recebem mais mensagens através dos
meios de comunicação. Mas não interioriza, não faz como o salmista, guardando
no coração a Palavra de Deus para não pecar contra o Senhor (Sl
119.11). A prática da Igreja é mais de plateia do
que de perseverança. Vê, ouve, assiste, mas, lamentavelmente, quando colocada
sob os holofotes, logo se percebe que há mais discurso que prática. Mas ainda
há tempo para a Igreja - e, por favor, não pense em reunião ou instituição,
porque Igreja é você.