O SACERDÓCIO DE CRISTO
RESULTA EM INTREPIDEZ
19 Tendo, pois, irmãos, intrepidez
para entrar no Santo dos Santos, pelo sangue de Jesus, 20 pelo novo e vivo caminho que ele
nos consagrou pelo véu, isto é, pela sua carne,
O ensino geral das Escrituras é que o
homem está voluntariamente afastado de Deus por causa de seus pecados (Is 59.2 Mas as vossas iniqüidades fazem separação entre vós e o vosso Deus; e os
vossos pecados encobrem o seu
rosto de vós, para que vos não ouça). Isto não é uma figura de linguagem - embora fisicamente seja
impossível alguém se ausentar da presença de Deus (Sl 139:7 Para onde me ausentarei do
teu Espírito? Para onde fugirei da tua face?) o
pecado produz efetiva separação de Deus, separação espiritual e morte eterna.
Isso é exemplificado na primeira atitude de Adão logo após pecar (Gn 3:8 Quando ouviram a voz do
SENHOR Deus, que andava no jardim pela viração do dia, esconderam-se da presença do SENHOR Deus, o homem e
sua mulher, por entre as árvores do jardim).
Ordinariamente
o homem não busca Deus. Isso pode parecer estranho com tanta religiosidade no
mundo, mas o fato é que o homem não busca o Deus verdadeiro, ele cria seus
próprios deuses (Rm 1:25 ...pois eles mudaram a verdade de Deus em mentira, adorando e
servindo a criatura em lugar do Criador, o qual é bendito
eternamente. Amém!). É Deus quem vem buscar o homem através de seu filho
Jesus Cristo (Lc 19:10 Porque o
Filho do Homem veio buscar e salvar o perdido). Somos ensinados de que temos recebido de maneira
inquestionável - e imperdível por estar ligado inseparavelmente a Cristo (εχοντες). É
imperdível pois o verbo está no aoristo e por isso temos intrepidez (παρρησιαν) confiança
destemida, segurança para entrar no que era vedado, era inacessível antes do
sacerdócio de Cristo ser manifesto.
Entramos no
lugar santo pelo novo caminho, pelo ‘portão aberto’, literalmente “ir caminho
adentro” (εισοδον),
publicamente, à vista de todos e sem medo de rejeição (Jo 6:37 Todo aquele que o Pai me dá, esse virá a mim; e o que
vem a mim, de modo nenhum o lançarei fora). O que antes tinha uma barreira, era oculto por um véu
impeditivo, agora é aberto por Cristo, a porta, o novo e vivo caminho (Jo 14:6 Respondeu-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e
a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim) que foi tornado acessível por meio do
seu sangue, isto é, por causa de sua oferta no Calvário pelo qual ele
estabeleceu a nova aliança (Mt 26:28 ...porque
isto é o meu sangue, o sangue da
nova aliança,
derramado em favor de muitos, para remissão de pecados).
Cristo
consagrou um novo e vivo caminho, um meio de livre isto acesso a Deus (ενεκαινισεν). Consagrar
significa fazer novo, renovar, inaugurar, dedicar ou instituir (Hb 9:18 Pelo que nem a primeira aliança foi sancionada — εγκεκαινισται – sem sangue). Há uma nova aliança em vigor,
sancionada, estabelecida pelo sangue de Cristo - e esta dá ao crente uma bênção
que não pode ser desprezada: a bênção de acesso intrépido, destemido, ao Senhor
Deus.
O CRENTE SE APROXIMA DE
DEUS COM INTREPIDEZ E SEM MEDO
21 e [tendo] grande sacerdote sobre a casa de Deus, 22 aproximemo-nos, com sincero
coração, em plena certeza de fé, tendo o coração purificado de má consciência e
lavado o corpo com água pura.
Jesus é o
novo e vivo caminho e é também o grande sacerdote (ιερεα μεγαν) que
se coloca perante todos aqueles que pertencem à ‘casa de Deus’. Não há dúvida
de que o sacerdócio de Jesus, intercedendo (Hb 7:25 Por isso, também pode salvar totalmente os que por ele
se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles) e oferecendo-se como sacrifício como pagamento
substitutivo pelos que lhe pertencem (1Tm 2:6 ...o qual a si mesmo se deu em resgate por todos: testemunho que
se deve prestar em tempos oportunos) traz benefícios e responsabilidades para seu povo.
APROXIMAR-SE DO SENHOR
A primeira
destas responsabilidades ou deveres espirituais é o de aproximar-se do Senhor (προσερχωμεθα). Parece
algo natural querer estar perto de Deus, mas isto é exatamente o que o homem
natural não quer. Desde a transgressão do primeiro homem a atitude comum a
todos é a de fugir e de resistir a Deus.
Pelo
sacerdócio de Cristo o crente não precisa de sangue de animais - ele pode ser
ele mesmo, pode se aproximar de Deus, e esta aproximação acontece com quatro
características:
Ele pode se
mostrar sem máscaras e com sincero coração (αληθινης καρδιας). E é só
com integridade que alguém pode de fato se aproximar de Deus, porque, Deus só
se deixa encontrar por quem o busca de todo o coração (Jr 29:13 Buscar-me-eis e me achareis quando me buscardes de todo o vosso coração). Se você deseja se aproximar de Deus
então você deve fazê-lo com sincero coração.
A segunda
característica é plena certeza de fé. Trata-se de uma fé completa e
confiante (πληροφορια) que não duvida nem fraqueja, não vacila (Tg 1:6 Peça-a, porém, com fé, em nada
duvidando; pois o que duvida é semelhante à onda do mar,
impelida e agitada pelo vento) e que se apresenta diante do trono de graça do Senhor em busca de
socorro (Hb 4:16 Acheguemo-nos, portanto, confiadamente, junto ao trono da graça, a fim de
recebermos misericórdia e acharmos graça para socorro em
ocasião oportuna).
A terceira
característica é um coração purificado de má consciência. Mas como isso é
possível se a bíblia diz que ninguém pode purificar o seu coração e ficar limpo
do seu pecado (Pv 20:9 Quem pode
dizer: Purifiquei o meu coração, limpo estou do meu pecado?)? Como obter o favor do Deus que é bom
para com os de coração limpo (Sl 73:1 Com efeito, Deus é bom para com Israel, para com os de
coração limpo) se o homem
é incapaz de purificar seu coração? A resposta é o sacrifício propiciatório de
Cristo que purifica a consciência do pecador (Hb 9:14 ...muito mais o sangue de Cristo, que,
pelo Espírito eterno, a si mesmo se ofereceu sem
mácula a Deus,
purificará a nossa consciência de obras
mortas, para servirmos ao Deus vivo!
A quarta
característica é a lavagem do corpo com água pura. Não se trata de um mero
banho. Um banho com água e sabão pode trazer uma falsa sensação de limpeza, mas
não purifica coração (Pv 30:12 Há daqueles que são puros aos próprios olhos e que
jamais foram lavados da sua imundícia). Nem água nem sangue comum lavam
pecados. Somente aqueles que nascem da água e do Espírito (Jo 3:5 Respondeu Jesus: Em verdade, em verdade
te digo: quem não nascer
da água e do Espírito não pode entrar no reino de Deus) são de fato objeto do lavar
regenerador por meio do sangue de Cristo (Tt 3:5 ...não por obras de
justiça praticadas por nós, mas segundo sua misericórdia, ele nos
salvou mediante o lavar regenerador e
renovador do Espírito Santo).
Este é um
privilégio que você, que foi chamado para crer em Jesus, que foi substituído na
cruz do calvário pelo justo (1Pe
3:18 Pois também Cristo morreu,
uma única vez, pelos pecados, o
justo pelos injustos, para conduzir-vos a Deus; morto, sim, na carne, mas
vivificado no espírito), como crente que é não pode deixar de aproveitar - estar
na presença de Deus, gozar de sua intimidade, que ele só reserva para os que o
temem (Sl 25:14 A
intimidade do SENHOR é para os que o temem, aos quais ele dará a conhecer a sua
aliança).
O CRENTE MANTÉM FIRME SUA CONFISSÃO E ESPERANÇA SEM VACILAR
21 e tendo grande sacerdote sobre a casa de Deus, (...) 23 Guardemos firme a confissão
da esperança, sem vacilar, pois quem fez a promessa é fiel.
GUARDAR FIRME A CONFISSÃO DA ESPERANÇA
A segunda
responsabilidade é guardar firme (κατεχωμεν), que significa não deixar escapar,
reter, manter sob sua posse. É a mesma palavra que afirma o poder de Deus de
impedir a manifestação do anticristo. O cristão guarda com firmeza a confissão
de sua esperança (ομολογιαν της ελπιδος).
Anteriormente o escritor já havia chamado aqueles que guardam a confissão com
firmeza de santos irmãos e participantes da vocação celestial
para atentarem na firmeza de Jesus em guardar firme a confissão, isto é,
anunciar o propósito da sua vinda e sua identidade (Hb 3:1 Por isso, santos irmãos, que
participais da vocação celestial, considerai atentamente o Apóstolo e Sumo
Sacerdote da nossa confissão, Jesus) diante do sinédrio ou de Pôncio Pilatos.
Somos
incentivados por causa de Cristo nosso grande sumo sacerdote, que penetrou nos
céus, a conservar firmemente o testemunho de que cremos em Jesus Cristo e que
ele é o salvador de todos os que creem (Hb 4:14 Tendo, pois, a Jesus, o Filho de Deus, como grande sumo sacerdote
que penetrou os céus, conservemos firmes a nossa confissão), como fizeram os apóstolos diante do
mesmo sinédrio, diante de ameaças e agressões, repetindo o que o Senhor Jesus
há havia feito antes (At 5:29 Então, Pedro e os demais apóstolos afirmaram:
Antes, importa obedecer a Deus do que aos homens).
O cristão
não pode vacilar porque tem Cristo como seu modelo, e é assistido pelo próprio
Espírito Santo que testemunha ao seu espirito que ele é um filho de Deus (Rm 8:16 O próprio Espírito testifica com
o nosso espírito que somos filhos de Deus) e o Espírito faz o crente lembrar de
todas as coisas que ele aprendeu com o Senhor e sua Palavra (Jo 14:26 ...mas o Consolador, o Espírito Santo, a quem
o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas e
vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito).
O crente (πιστος) guarda
firme sua confissão de fé e mesmo em face da morte não vacila pois sabe em quem
tem crido (2Tm 1:12 ...e, por isso, estou sofrendo estas coisas; todavia, não me envergonho,
porque sei em quem tenho crido e estou certo de que ele é poderoso para
guardar o meu depósito até aquele Dia). Sua fé está firmada nas promessas do
Deus que não mente (Tt 1:2 ...na
esperança da vida eterna que o Deus que não pode mentir prometeu antes dos tempos
eternos) e por isso guarda com
prazer em seu coração a lei do Senhor seu Deus (Sl 37:31 No
coração, tem ele a lei do seu Deus; os seus passos não vacilarão) e tem certeza de que o Senhor está ao
seu lado e jamais o abandonará (Mt 28:20 ...ensinando-os a guardar todas as
coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século).
OS CRENTES DEVEM SE ESTIMULAR AO AMOR E BOAS OBRAS
21 e tendo grande sacerdote sobre a casa de Deus, (...) 24 Consideremo-nos também uns aos outros, para nos
estimularmos ao amor e às boas obras.
INCENTIVO MÚTUO
A terceira
responsabilidade do crente é a de ter laços de comunhão tão íntimos na
comunidade da fé que um cuida do outro, considerando com toda a atenção a
melhor maneira para o progresso de todos na fé (kατανοωμεν αλληλους). Diferente do que
habitualmente se nota esta consideração não é para encontrar falhas ou pecados
e então acusar os irmãos de falhas - este papel não cabe ao cristão, este é o papel
do diabo (Ap 12:10 Então, ouvi grande voz
do céu, proclamando: Agora, veio a salvação, o poder, o reino do nosso Deus e a
autoridade do seu Cristo, pois foi expulso o acusador de nossos irmãos, o mesmo que os
acusa de dia e de noite, diante do nosso Deus).
Quando
alguém na igreja se deleita com o pecado do outro e o traz à baila, provocando
escândalo e vergonha faz o trabalho do adversário do Senhor (Pv 17:9 O
que encobre a transgressão adquire amor, mas o que traz o assunto
à baila separa os
maiores amigos) e com
isso, ao invés de buscar mediante esforço diligente manter a unidade do
Espírito (Ef 4:3 ...esforçando-vos
diligentemente por preservar a unidade
do Espírito no vínculo da paz) se torna um destruidor da harmonia e
da comunhão dos crentes.
Esta
responsabilidade atribuída aos cristãos vai expressar o fruto do Espírito na
vida da igreja - o cristão vai amar seu irmão, vai ajudar seu próximo a levar
suas cargas (Gl 6:2 Levai as cargas uns dos outros e, assim, cumprireis a lei de Cristo).
Os filhos
das trevas sabem muito bem da importância do incentivo mútuo. Para fazer o que
é mal eles incentivam-se uns aos outros para obterem seus resultados malignos (Is 41:6 Um ao outro ajudou e ao seu próximo disse: Sê forte) e a igreja precisa aprender que não
pode abandonar seus próprios soldados pelo meio do caminho, pelo contrário,
deve incentivar-se mutuamente.
Esta
consideração mútua envolve o incentivo à prática do amor e das boas obras
porque, afinal, foi para isto que os crentes foram resgatados por Cristo (Ef 2:10 Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as
quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas), para que não haja crentes acomodados
(παροξυσμον) que
precisam ser provocados, irritados para que neste comodismo, tomarem a
forma do mundo (Rm 12:2 E não vos conformeis com este século, mas
transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis
qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus), amando o presente século e até, no
caso de alguns que estarão confortavelmente instalados na igreja mas não
guardarão firmes a confissão, naufragarem na fé (1Tm 1:19 ...mantendo fé e boa consciência, porquanto
alguns, tendo rejeitado a boa consciência, vieram a naufragar na fé).
Seria muito
oportuno que cada crente se perguntasse como está seu desempenho quanto a estas
responsabilidades.
O CRENTE DEVE CUMPRIR SUA
RESPONSABILIDADE
Seria muito
oportuno que cada crente se perguntasse como está seu desempenho quanto a estas
responsabilidades. É muito bom saber que temos um sumo sacerdote que se
compadece de nossas fraquezas e que abriu um novo e vivo caminho para que
tenhamos acesso ao Pai Celeste. Isto é muito bom, mas isto também foi feito com
um propósito. O Senhor nos tirou das trevas e nos trouxe para a o reino do seu
Filho com um propósito (1Pe 2:9 Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de
propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que
vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz).
Cristo se
entregou para formar um povo exclusivamente seu com um propósito bem definido (Tt 2:14 ...o qual a si mesmo se deu por nós, a fim de
remir-nos de toda iniquidade e purificar, para si mesmo, um
povo exclusivamente seu, zeloso de boas obras). Este novo caminho que Cristo abriu exige uma resposta
positiva e ativa do crente:
i. Que ele
se mantenha próximo do Senhor, gozando de sua intimidade porque teme ao Senhor;
ii. Que ele
guarde firme a confissão da sua esperança pois confia na promessa de Jesus de
estar sempre ao seu lado;
iii. Que ele
incentive e aceite incentivo e admoestações por parte de outros cristãos.
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