domingo, 23 de junho de 2024

O CRISTÃO E OS JOGOS DE AZAR: ONDE O CRENTE SE ENCAIXA

PRIMEIRA LEGISLAÇÃO

Decreto-Lei 3.688, 3/10/1941 – LEI DAS CONTRAVENÇÕES PENAIS

Art. 50: estabelece pena de 3 meses a 1 ano, e multa, perda de móveis e objetos de decoração de locais que exploram jogos de azar em lugar público ou acessível ao público com ou sem pagamento de entrada.

Definição: jogo de azar é o jogo em que

Ø o ganho e a perda dependem exclusiva ou principalmente da sorte;

Ø as apostas sobre corridas de cavalos fora de hipódromos ou de locais onde sejam autorizadas;

Ø as apostas sobre qualquer outra competição esportiva.

Os cassinos e outros estabelecimentos foram proibidos e foi estabelecida uma multa para os praticantes dos jogos de azar.

A pena pode ser aumentada se envolver pessoas menores de 18 anos.

APOSTAS ON-LINE

A internet e a popularização dos jogos on-line exigiram uma atualização da legislação. A Lei 13.756 de 12/12/2018 permitiu a exploração das apostas de quota fixa (as .bet), com o apostador tentando prever o resultado de eventos reais cujo prêmio é definido no momento da aposta.

CAÇA-NÍQUEIS ON-LINE

Nesta categoria está o jogo do tigrinho. O Decreto Lei 9.215, de 30/04/46, mesmo não prevendo a modalidade tem sido aplicado a eles. Geralmente atuam fora do Brasil permitindo a participação de brasileiros. As operações são tecnicamente ilegais, mas não são fiscalizadas.

TRADES

Tem aparência de operação em bolsa de valores, mas se trata de uma série de movimentos de aposta na subida de preços de ações (algumas nem sequer estão conectadas com uma bolsa de valores reais) onde geralmente os usuários começam ganhando, mas à medida que as ‘apostas’ são realizadas o algoritmo aumenta as perdas intercaladas com vitórias-isca para animar os jogadores.

Geralmente quem ganha é a empresa por trás destes jogos e os vendedores de métodos de operação – o prejuízo para o cidadão comum é praticamente absoluto.

Não há previsão legal para essa prática porque ela aparenta ser movimentação em bolsa de valores – neste caso, crimes nesta área são previstos pelas leis que regem o consumo e a economia popular.

EM TRAMITAÇÃO

Projeto de lei 442/91. Propõe a legalização e regulação de cassinos, bingos, jogos on-line e apostas esportivas com destinação de parte dos recursos para programas sociais e de saúde pública. Foi votado no Senado recentemente.

JURISPRUDÊNCIA

O STF tem mantido a regulamentação de 1946 considerando a legitimidade do Estado em regular e proibir os jogos de azar, inclusive sobre as apostas on-line.

REFERÊNCIAS LEGAIS

1.     Decreto-Lei nº 3.688, de 3 de outubro de 1941 (Lei das Contravenções Penais).

2.     Decreto-Lei nº 9.215, de 30 de abril de 1946.

3.     Lei nº 13.756, de 12 de dezembro de 2018.

4.     Projeto de Lei nº 442/1991.

5.     Decisões e jurisprudência do STF sobre jogos de azar.

A BÍBLIA E OS JOGOS DE AZAR

A bíblia não menciona diretamente jogos de azar, mas apresenta princípios que podem ser aplicados pelos cristãos para avaliar esta prática controversa.

I. O PRINCÍPIO DA MORDOMIA

Tudo o que temos sob nosso cuidado pertence a Deus (Sl 24.1 Ao SENHOR pertence a terra e tudo o que nela se contém, o mundo e os que nele habitam) – somos administradores dos recursos que nos são confiados (os ‘talentos’). O ensino bíblico é que o Senhor concede a cada um segundo a sua capacidade e necessidade (Mt 25.15 A um deu cinco talentos, a outro, dois e a outro, um, a cada um segundo a sua própria capacidade; e, então, partiu) e a contrapartida exigida é que o administrador apresente fidelidade na administração (Lc 16.10 Quem é fiel no pouco também é fiel no muito; e quem é injusto no pouco também é injusto no muito. 11 Se, pois, não vos tornastes fiéis na aplicação das riquezas de origem injusta, quem vos confiará a verdadeira riqueza? 12 Se não vos tornastes fiéis na aplicação do alheio, quem vos dará o que é vosso?).

II. O PRINCÍPIO DO FRUTO DO TRABALHO

O trabalho não é uma maldição para o homem pois foi instituído no Éden (Gn 1.28 E Deus os abençoou e lhes disse: Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todo animal que rasteja pela terra) – e não trabalhar nunca produz satisfação espiritual.

A bíblia valoriza o trabalho honesto e o ganho legítimo como fruto do sustento (Gn 3.19 No suor do rosto comerás o teu pão, até que tornes à terra, pois dela foste formado; porque tu és pó e ao pó tornarás) e até mesmo o uso do que é ganho com trabalho para adoração ao Senhor é mais aceitável do que ganhos por outros meios (2Sm 24.24 Porém o rei disse a Araúna: Não, mas eu to comprarei pelo devido preço, porque não oferecerei ao SENHOR, meu Deus, holocaustos que não me custem nada. Assim, Davi comprou a eira e pelos bois pagou cinqüenta siclos de prata).

O fruto de trabalho honesto é duro costuma ser mais permanente do que o que é obtido por meios fáceis e rápidos (Pv 13.11 Os bens que facilmente se ganham, esses diminuem, mas o que ajunta à força do trabalho terá aumento) ou por meios desonestos (Ef 4.28 Aquele que furtava não furte mais; antes, trabalhe, fazendo com as próprias mãos o que é bom, para que tenha com que acudir ao necessitado).

As Escrituras advertem contra a busca impaciente por riqueza (Pv 28.20 O homem fiel será cumulado de bênçãos, mas o que se apressa a enriquecer não passará sem castigo. 21 Parcialidade não é bom, porque até por um bocado de pão o homem prevaricará. 22 Aquele que tem olhos invejosos corre atrás das riquezas, mas não sabe que há de vir sobre ele a penúria), que muitas vezes é o motivador por trás dos jogos de azar. O ensino bíblico é que a fidelidade e o trabalho honesto trazem bênçãos enquanto a ganância leva ao desastre.

III. O PRINCÍPIO DO INVESTIMENTO

O que você faz com o dinheiro que adquire é sua exclusiva responsabilidade e as consequências também, mas a bíblia orienta a não usar o dinheiro no que não é essencial (Is 55.2 Por que gastais o dinheiro naquilo que não é pão, e o vosso suor, naquilo que não satisfaz? Ouvi-me atentamente, comei o que é bom e vos deleitareis com finos manjares). Dinheiro deve ser um instrumento, e não um senhor ou fim em si mesmo.

IV. O PRINCÍPIO DO CONTENTAMENTO

O ensino das Escrituras é que os crentes devem estar satisfeitos com o que o Senhor lhes tem dado em vez de buscarem riquezas rápidas ou fáceis (1Tm 6.6 De fato, grande fonte de lucro é a piedade com o contentamento. 7 Porque nada temos trazido para o mundo, nem coisa alguma podemos levar dele. 8 Tendo sustento e com que nos vestir, estejamos contentes. 9 Ora, os que querem ficar ricos caem em tentação, e cilada, e em muitas concupiscências insensatas e perniciosas, as quais afogam os homens na ruína e perdição. 10 Porque o amor do dinheiro é raiz de todos os males; e alguns, nessa cobiça, se desviaram da fé e a si mesmos se atormentaram com muitas dores).

O amor ao dinheiro origina males de toda espécie – e é uma prova de falta de amor a Deus (1Jo 2.15 Não ameis o mundo nem as coisas que há no mundo. Se alguém amar o mundo, o amor do Pai não está nele) e certamente está incluída na quebra do décimo mandamento (Ex 20.17 Não cobiçarás a casa do teu próximo. Não cobiçarás a mulher do teu próximo, nem o seu servo, nem a sua serva, nem o seu boi, nem o seu jumento, nem coisa alguma que pertença ao teu próximo).

A cobiça através dos jogos de azar pode ser vista como uma manifestação do amor ao dinheiro, o que é contrário à instrução bíblica do contentamento e confiança na provisão de Deus (Hb 13.5 Seja a vossa vida sem avareza. Contentai-vos com as coisas que tendes; porque ele tem dito: De maneira alguma te deixarei, nunca jamais te abandonarei).

V. O PRINCÍPIO DO AMOR AO PRÓXIMO

A prática de jogos de azar sempre está relacionada a algum tipo prejuízo de alguém, levando ao vício e à perda de recursos financeiros importantes. Alguém tem que perder – e geralmente a grande maioria perde, alguns poucos e outros perdem muito – mas somente os que controlam o jogo ganham sempre.

VI. O PRINCÍPIO DA SERVIDÃO

Os jogos de azar e sua busca por riquezas fáceis (Pv 23.4 Não te fatigues para seres rico; não apliques nisso a tua inteligência. 5 Porventura, fitarás os olhos naquilo que não é nada? Pois, certamente, a riqueza fará para si asas, como a águia que voa pelos céus) causam vícios e dependências, estando geralmente associados a outras práticas, como furtos, violência, bebedice, e tem levado muitas pessoas a perderem grandes quantias, emprego, crises pessoais e familiares, mas, principalmente, o custo da liberdade pessoal.

Os jogos de azar têm resultado em perdas financeiras significativas e afetam negativamente não apenas o jogador, mas também sua família e até sua comunidade. O vicio aos jogos de azar é uma desobediência a Mt 6.24 que demonstra a incompatibilidade entre o serviço a Deus e a busca por riquezas ‘Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de odiar a um e amar o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e a Mamom’.

UMA ANÁLISE DE 1Co 6.12

Paulo escreve aos coríntios e, embora não esteja se referindo especificamente aos jogos de azar ele apresenta princípios que podem ser aplicados a diversas circunstâncias da vida, inclusive os jogos:

O PRINCÍPIO DA LICITUDE

O princípio de licitude é muito importante para a ética cristã em diversas áreas. Por exemplo, o divórcio era permitido, mas não era o que o crente deveria fazer (Mt 9.1 Entrando Jesus num barco, passou para o outro lado e foi para a sua própria cidade. 2 E eis que lhe trouxeram um paralítico deitado num leito. Vendo-lhes a fé, Jesus disse ao paralítico: Tem bom ânimo, filho; estão perdoados os teus pecados. 3 Mas alguns escribas diziam consigo: Este blasfema. 4 Jesus, porém, conhecendo-lhes os pensamentos, disse: Por que cogitais o mal no vosso coração? 5 Pois qual é mais fácil? Dizer: Estão perdoados os teus pecados, ou dizer: Levanta-te e anda? 6 Ora, para que saibais que o Filho do Homem tem sobre a terra autoridade para perdoar pecados—disse, então, ao paralítico: Levanta-te, toma o teu leito e vai para tua casa) como continua sendo hoje.

Este princípio também se aplica aos jogos de azar. Ainda que uma prática seja permitida por lei isto não significa que é benéfica, moral e espiritualmente correta. Embora algo seja permitido nem sempre é proveitoso ou edificante e não deve ser adotado como prática cristã.

O PRINCÍPIO DA CONVENIÊNCIA

Os jogos de azar, embora eventualmente tragam algum lucro (grande e por isso atraem tantas pessoas) para algumas raras pessoas, invariavelmente produzem prejuízos (pequenos) para milhões de pessoas – e este é o segredo da manutenção deste mercado.

Só que, em alguns casos, chega-se a levar uma pessoa à ruína emocional, física e principalmente financeira (Pv 21.20 Tesouro desejável e azeite há na casa do sábio, mas o homem insensato os desperdiça).

Deixar de investir recursos conquistados com suor e trabalho no que não é pão (Is 55.2 Por que gastais o dinheiro naquilo que não é pão, e o vosso suor, naquilo que não satisfaz? Ouvi-me atentamente, comei o que é bom e vos deleitareis com finos manjares) pode causar tensão e conflito dentro das famílias e dos relacionamentos devido a perdas financeiras, comportamento obsessivo, prioridades sem retorno assegurado e com, quase sempre, prejuízos constantes (1Tm 5.8 Ora, se alguém não tem cuidado dos seus e especialmente dos da própria casa, tem negado a fé e é pior do que o descrente).

O PRINCÍPIO DO AUTODOMÍNIO

O princípio do autodomínio ensina que qualquer coisa que se oponha ao resultado da ação do Espírito Santo (Gl 5.22 Mas o fruto do Espírito é: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, 23 mansidão, domínio próprio. Contra estas coisas não há lei) deve ser considerado anticristão e, portanto, rejeitado imediatamente pelos cristãos.

Uma rápida olhada nas obras da carne, neste mesmo capítulo, evidencia que todas elas têm em comum a ausência de domínio próprio.

Cobiça, ira e vícios (e o jogo é viciante – experimente jogar damas, dominó, xadrez ou qualquer outro e me diga se sua mente não fica lembrando de jogadas e imaginando jogos) tiram o autocontrole das pessoas.

Autodomínio é a capacidade de controlar desejos e impulsos, e isto é vital na vida cristã (Pv 25.28 Como cidade derribada, que não tem muros, assim é o homem que não tem domínio próprio). Os jogos de azar prejudicam o autodomínio financeiro pois torna o praticante compulsivo e inconsequente.

A ÉTICA CRISTÃ

A palavra ética se refere àquelas práticas adotadas em um determinado ambiente que são consideradas aceitáveis. O problema é que o cristão é um cidadão de dois reinos e estes dois reinos possuem duas leis. Não são reinos complementares – são reinos antagônicos e possuem éticas antagônicas.

Nem tudo o que é aceitável e conveniente no mundo que jaz no maligno é aceitável para aquele que é um cidadão do reino. É preciso exercer discernimento espiritual nesta área, e, embora tenhamos falado sobre caça-níqueis, .bets, trades e outras isto também se refere às loterias federais, bingos e até as inocentes rifas na escola para resolver alguma necessidade emergencial.

É nossa responsabilidade, como igreja do Senhor, evitar o mal (e a aparência de mal) para ajudar outros indivíduos a exercerem autodomínio e a evitar comportamentos prejudicais oferecendo exemplo, apoio e orientação (Hb 10.24 Consideremo-nos também uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras. 25 Não deixemos de congregar-nos, como é costume de alguns; antes, façamos admoestações e tanto mais quanto vedes que o Dia se aproxima).

terça-feira, 11 de junho de 2024

HEBREUS 12 E A BÊNÇÃO DA DISCIPLINA DE DEUS

A DUPLICIDADE TEMPORAL DA BÊNÇÃO DA DISCIPLINA

Hb 12.11 Toda disciplina (παιδεια], com efeito, no momento [em que é aplicada] não parece ser motivo de alegria, mas de tristeza; ao depois, entretanto, produz fruto pacífico aos que têm sido por ela exercitados, fruto de justiça.

 I. NINGUÉM SE ALEGRA COM A APLICAÇÃO DA DISCIPLINA

 Ninguém gosta de ser disciplinado, qualquer que seja a forma. Mesmo a mais branda das disciplinas, ainda que seja uma simples conversa, causa algum tipo de mal-estar. A maioria de nós tem experiência neste assunto - tanto como aquele que é disciplinado como quem disciplina. E é desconfortável. Somente pessoas hipócritas ou com algum tipo de distúrbio (psicopatas, sociopatas e semelhantes) sentem prazer em aplicar a disciplina.

Nem mesmo Deus, que é perfeito, justo e santo, tem prazer na aplicação da disciplina, mesmo quando ela é aplicada sobre os mais perversos dos homens (Ez 18.32) - embora faça isso com amor (Hb 12.6). Mas a disciplina (παιδεια) deve ser aplicada sobre quem precisa ser orientado.

Não disciplinar é errado, é pecaminoso (Pv 13.24). Esqueça psicólogos e pedagogos modernos, esqueça pseudoeducadores - o péssimo resultado de suas ideias está à vista de todos, porque não há educação sem disciplina. Pedagogia inclui disciplina. Fique com a bíblia que diz que quem não corrige quem precisa de disciplina o ‘aborrece’, é como se o odiasse (שנא) - e é claro que Deus não odeia seus filhos, ele os ama.

A disciplina não é momento de alegria para ninguém (χαρας), pelo contrário. O ensino aqui é que ela deve causar tristeza (λυπης). Causa tristeza para quem corrige por ver alguém que ama incorrendo em erro, em pecado, fora do padrão de santidade exigido por Deus aos seus filhos (Mt 5.48).

Deus não espera que você saia todo alegre quando o Espírito aplicar a Palavra de Deus ao seu coração corrigindo suas más ações, seus pecados. Ele quer que você se lamente, que você pranteie, e que, ao menos interiormente, você se veja como alguém abominável, capaz de atitudes abomináveis, e se arrependa no pó e na cinza (Jó 42.6) porque você vê que a morte é a única coisa que você merece. Quem não pranteia ao receber a correção do Espírito pela Palavra não percebeu a gravidade de suas ações ou não entendeu o significado da correção.

 II. A DISCIPLINA DE DEUS PRODUZ RESULTADOS ABENÇOADORES

 A disciplina que vem de Deus produz resultados: benéficos e definitivos. A expressão ‘ao depois’ (υστερον), ou seja, depois da tristeza inicial, indica aquilo que vem por último, isto é, o resultado - depois disso não há mais nada a ser feito. Então devemos perguntar: qual o resultado definitivo da disciplina aplicada por Deus?

Vamos lembrar que disciplina de Deus é um ato tanto corretivo como educativo - e embora produza desconforto, cause alguma dor e entristeça o coração de quem é disciplinado, ela não tem o objetivo de destruir - o objetivo dela é fazer com que o crente não seja reprovado. Ao invés de fazer a tristeza prevalecer (δε) o fruto da disciplina tem duas características: ela produz fruto pacífico e fruto de justiça.

E este é um detalhe que precisamos anotar antes de prosseguirmos: a disciplina de Deus é produtiva, diferente das instituições correcionais de presos brasileiras, que são, na verdade, universidades do crime. Ela não é inócua, não abre uma possiblidade de resultados: ela tem resultados porque Deus determinou que sua Palavra produzisse resultados (Is 55.11). Ela é produtiva. Sempre.

O primeiro resultado definitivo da disciplina de Deus é a produção de fruto pacífico. Lembre-se que é uma carta escrita aos hebreus e faz referência a costumes e religião hebraicas. O fruto pacífico é aquilo que é entregue por gratidão, aquilo que não é obrigatório por causa de um pecado (Lv 7.13). O fruto pacífico é resultado do reconhecimento de que a aplicação (γεγυμνασμενοις) da disciplina de Deus é benéfica na vida dos crentes (Jr 29.11). Este reconhecimento produz gratidão pela disciplina de Deus.

Também aprendemos que a correção produz fruto de justiça (δικαιοσυνης)? O fruto da obediência é o resultado do arrependimento, da conversão para Deus em fé (At 26.20). Não se trata de ter justiça própria (Fp 3.9) mas de ter a justiça de Abraão, isto é, a justiça que é dada a quem crê (Rm 4.13), a justiça da fé.

COMO INTERPRETAR A DISCIPLINA VINDA DE DEUS

I. ELA RESTAURA O VIGOR AO FRACO E DESANIMADO

12 Por isso, restabelecei as mãos descaídas e os joelhos trôpegos; 13 e fazei caminhos retos para os pés, para que não se extravie o que é manco; antes, seja curado.

 O verso 12 começa com uma conjunção (διο): por causa da eficácia da disciplina de Deus que produz frutos agradáveis ninguém deve ficar desanimado ou entristecido. Deus não agride ninguém com o objetivo de destruir: a ação disciplinar de Deus é restauradora (Mt 12.20).

Esta ação restauradora incentiva o pecador que recebeu a disciplina de Deus a não ficar prostrado. A exortação lembrada pelo escritor desta carta é uma citação do profeta Isaías (Is 35.3): as mãos frouxas devem ser fortalecidas, os joelhos vacilantes e trêmulos devem ser firmados pela confiança na justiça que vem de Deus. O escritor junta mãos descaídas e joelhos trôpegos em uma ordem: eles devem ser restabelecidos (ανορθοω). A ideia do verbo é endireitar o que está deformado, reconstruir o que está quebrado e é isto que Deus faz através da sua ação disciplinadora.

Ele muda duas coisas: a primeira coisa é restabelecer as mãos descaídas (παρειμενας). Imagine a figura: uma pessoa desanimada, com as mãos largadas ao longo do corpo sem fazer mais nada, sem produzir mais nada. Suas mãos não tem força, não tem vigor, não há nada que estejam dispostas para fazer. Não é assim que Deus quer que aqueles que são disciplinados por sua graça fiquem. Ele quer renová-los, quer restaurá-los. Em lugar de tristeza deve haver alegres cantos de livramento (Sl 126.1-2).

A segunda indica  figura é de alguém que arrasta os pés tropeçando (παραλελυμενα), que não se sustenta em pé e não consegue se movimentar ou ir a uma lugar qualquer, que não tem ânimo. Joelhos vacilantes remetem à ideia de medo, de incerteza, de insegurança - e quem experimenta a disciplina do Senhor é restaurado por uma disciplina que produz fruto e alegria.

Quem experimenta a disciplina do Senhor sai da apatia para a vibrante adoração ao Senhor (Sl 32.3-4). A ação restauradora de Deus opera de tal maneira que mesmo o que não tem nenhum vigor tem forças para o que devem fazer (Is 40.29).

 II. ELA INDICA O CAMINHO CERTO E SEGURO

É muito comum que pessoas religiosas achem que basta não fazer o que é errado para que Deus seja, de alguma maneira, impulsionado a recompensar sua justiça. É obvio que parte da vida cristã envolve confessar o pecado e deixá-lo (Pv 28.13). O ensino bíblico é que a confissão e abandono do pecado faz o pecador que se submete à disciplina divina alcance misericórdia.

O apóstolo Paulo resume esta verdade ao lembrar do seu ministério dizendo que pregava ensinando a necessidade de que as pessoas se arrependessem, buscassem piedosamente a Deus e praticassem obras que demonstrassem verdadeiro arrependimento (At 26.20) como exemplificado no seu ensino para a igreja em Éfeso (Ef 4.28): não bastava abandonar o pecado, é necessário fazer o que é justo para, inclusive, ajudar o fraco a não pecar (Pv 30.8-9).

A ordem para fazer caminhos retos é uma obediência ao mandamento do Senhor de endireitar os caminhos (Is 40.3) é dirigida aos que são disciplinados. Costumamos confundir disciplina como algo que produz sofrimento, mas a disciplina também traz consolo aos angustiados (2Co 1.4), e este consolo tem um aspecto que não podemos esquecer: ele é instrumento para ajudar outros que passam pelas mesmas provas, isto é, aqueles que são mais fracos, que tem maiores dificuldades de caminhar, os mancos.

É maravilhoso lembrar que a ação de Deus na vida de um crente tem, também, o propósito de abençoar outras pessoas, curando-os com o consolo já dado aos crentes por meio de sua disciplina. Isto quer dizer que até mesmo os sofrimentos dos santos do passado são instrumento de Deus para abençoar a sua igreja no tempo presente (2Co 1.6).

Somos provados não apenas para que a nossa fé seja aprovada (Tg 1.3) mas também para que outros sejam edificados pela maneira como Deus conduziu mesmo as adversidades para a bênção de seu povo e realização de seu propósito santo e eterno.

domingo, 2 de junho de 2024

APRENDENDO COM A FILHA DE FARAÓ: O PERIGO DE TERCEIRIZAR O CORAÇÃO DOS FILHOS

 Êxodo 2.1-10

TRÊS ERROS COMETIDOS PELA FILHA DE FARAÓ NA EDUCAÇÃO DE MOISÉS

A história de Moisés começa com uma ordem absurda de um governante egípcio que não tinha nenhum comprometimento histórico ou gratidão pelas bênçãos para a nação decorrentes da atuação de José no episódio dos anos de fartura seguidos de fome, cerca de quatro séculos antes.

Era uma nova dinastia que se levantava no Egito e os judeus não eram egípcios e eles acreditavam que os estrangeiros, que eram uma grande parte da população, representavam um perigo de rebelião em potencial, por isso o faraó decidiu que eles não deveriam aumentar em número, determinando que todas as crianças das famílias hebreias, do sexo masculino, que nascessem à partir daquela data deveriam ser impiedosamente assassinadas.

Um casal hebreu, Anrão e Joquebede, já tinha um casal de filhos (Miriã e Arão). Tiveram a sorte de que seu primeiro filho do sexo masculino, Arão, nasceu antes desta ordem maligna.

Quando o segundo filho nasceu o amor pela criança os impeliu a preservarem sua vida (Hb 11:23 Pela fé, Moisés, apenas nascido, foi ocultado por seus pais, durante três meses, porque viram que a criança era formosa; também não ficaram amedrontados pelo decreto do rei), mas logo isto se tornou uma missão muito difícil porque aquela criança, como toda criança chorava – e seu choro durante a noite poderia denunciá-los.

Com medo de serem encontrados eles tomam uma decisão que deve ter sido muito dolorida – precisam se desfazer da criança, e tomam uma atitude que para nós parece extremamente absurda: colocar a criança em um cesto impermeabilizado e colocar no rio Nilo que costuma ser infestado de crocodilos, entre outros animais.

Mesmo que não houvesse nenhum animal feroz ali as chances de a criança sobreviver eram totalmente nulas. É claro que eles escolheram um lugar apropriado, onde poderia aparecer pessoas que pudessem ver a criança – mas era pouco mais que uma esperança que alguém achasse a criança e resolvesse cuidar dela. O mais provável é que um egípcio apresentasse a criança às autoridades para o cumprimento do decreto do faraó.

Notamos que Miriã permaneceu nas proximidades – talvez com a intenção de retomar a criança no fim do dia para uma nova tentativa no dia seguinte, mas ela pouco poderia fazer se um animal feroz ou um egípcio achasse a criança.

O Deus que dirige a história, que conhece e atende às necessidades de seus filhos mesmo antes que eles clamem já está agindo (Is 65:24 E será que, antes que clamem, eu responderei; estando eles ainda falando, eu os ouvirei) e assim a criança foi achada por uma mulher que tinha um lugar especial na sociedade egípcia: ninguém menos que a filha de faraó que identificou a criança como um dos filhos dos hebreus e depois de uma sugestão muito inteligente de Miriã resolveu criá-lo como se fosse seu próprio filho – mas sob certas condições, isto é, desde que isso não trouxesse nenhuma espécie de mudança em sua vida, pelo menos não naquele momento.

Ela era como a maioria das pessoas. Uma mulher de bom coração, cheia de boas intenções. Ela se torna a salvadora de Moisés – e Miriã, que estava por perto, percebeu que havia surgido uma oportunidade.

Sob ordens da filha de faraó uma egípcia até amamentaria a criança, mas faria isto a contragosto. Talvez ela não quisesse que a nacionalidade desta criança fosse divulgada entre seus patrícios e nada mais conveniente que uma pobre hebreia que ficaria feliz em ganhar uns trocados em troca de um serviço fácil: amamentar e cuidar de uma criança longe dos olhos dos egípcios.

Miriã oferece os serviços de uma hebreia para ser a ama de leite e cuidadora de Moisés – e assim Joquebede recebe o primeiro auxílio maternidade de que se tem notícia na história: ela teria recursos e proteção estatal para criar o próprio filho em sua própria casa até que ele estivesse grande – tempo suficiente para que ele soubesse quem era, quem era seu povo e quem era seu Deus (Pv 22:6 Ensina a criança no caminho em que deve andar, e, ainda quando for velho, não se desviará dele).

Outra característica que quero destacar é que aquela mulher confiava nas pessoas.

Ela aceita a indicação de uma menina estranha, uma hebreia, sem questionar o que ela estava fazendo ali e porque não tentou salvar a criança. Ela aceita a pessoa indicada pela menina também sem se questionar ou investigar se aquela menina não seria filha da mulher que ela indicou que por sua vez estava lactente e não tinha uma criança para amamentar. Ela simplesmente aceita a indicação, com confiança absoluta, e volta aos seus afazeres habituais, fossem eles quais fossem.

Ela é como a maioria dos pais, entregam seus filhos para que alguém indicado por alguém que não conhece cuide deles enquanto vão cuidar de seus próprios afazeres, vão trabalhar para manter quem cuide de seus filhos, vão em busca de realizações em sua vida social, em seus estudos, em sua carreira. Vão investir tempo em sua saúde, lazer e isto se aplica também ao tempo investido em sua vida religiosa. São tantas coisas, tantos cuidados do mundo a exigir sua atenção e, habilidade e prioridade.

Também é oportuno lembrar que os faraós se casavam com suas irmãs, assim, não seria impossível que a filha de faraó se tornasse a esposa do próximo faraó – e ela tinha que estar preparada para algo assim no ambiente altamente competitivo das coortes.

A Bíblia diz que tudo que foi registrado em suas páginas tem o propósito de edificar o povo de Deus (Rm 15:4 Pois tudo quanto, outrora, foi escrito para o nosso ensino foi escrito, a fim de que, pela paciência e pela consolação das Escrituras, tenhamos esperança).

O chanceler alemão Otto von Bismark disse que ‘os tolos dizem que aprendem com seus próprios erros, eu prefiro aprender com os erros dos outros’. Ele adaptou um provérbio chinês que diz que ‘os sábios aprendem com os erros dos outros, os tolos com os próprios erros e os idiotas não aprendem nunca’.

O que nós somos? O que nós temos sido? Vamos considerar que ‘legalmente’ Moisés era filho da filha de faraó e que Joquebede era apenas sua ama de leite. O que podemos aprender com esta mulher, cheia de boas intenções, confiante e provavelmente muito ocupada, mas que cometeu três erros graves:

A FILHA DE FARAÓ TERCEIRIZOU A CRIAÇÃO

Sempre exaltamos a ação providencial de Deus e a bênção que Joquebede recebeu para criar seu próprio filho. E, de fato, isto é maravilhoso. Mas, se olharmos para esta anônima filha de faraó, ela cometeu um grande erro que muitas pessoas estão cometendo, especialmente em nosso tempo de multi-ocupações: ela terceirizou a criação de seu filho.

Não há dúvidas de que ela se preocupou para que ele tivesse o melhor possível: alimento adequado desde os primeiros dias de vida. Ele precisava ser alimentado por leite materno – ela providenciou.

Ela se preocupou para que ele tivesse alimento de boa qualidade e em quantidade quando fosse desmamado pagando um bom salário para Joquebede. Ela também cuidou para que ele tivesse roupas e talvez até brinquedos – talvez de melhor qualidade do que a dos meninos da sua rua ou de qualquer outro menino hebreu porque, para todos os efeitos, ele era o filho da filha de faraó.

Ela precisava de uma pessoa que cuidasse dele integralmente porque sua agenda não permitia: ela providenciou uma cuidadora (e ainda ganhou uma família inteira para ajudar porque é óbvio que ela logo descobriu que Miriã era, no mínimo, filha de Joquebede).

Ela precisava de alguém que se levantasse de madrugada quando ele chorasse, que preparasse um remédio quando ele estivesse febril, que segurasse em suas mãos quando ele desse os primeiros passos e que cuidasse de seus joelhos quando estivessem ralados nos primeiros tombos – e ela conseguiu contatando Joquebede.

Ela precisava de alguém para quem ele corresse todo sorridente quando capturasse o primeiro inseto ou o primeiro bichinho, ou o protegesse quando ele fosse brincar com um animal que poderia lhe causar algum dano – e junto com Joquebede tinha Anrão, Arão e Miriã para fazer isso.

Ela conseguiu tudo isso – mas não viveu nada disso, não experimentou nenhum destes momentos. Ela terceirizou a criação de seu filho, terceirizou o momento de criação de laços afetivos, terceirizou as afeições do coração de seu filho, mesmo que aparecesse esporadicamente, talvez uma vez por semana, ou em cada lua cheia, ou algo parecido quando sua agenda lhe permitisse. Ela terceirizou a criação de seu filho – e renunciou ao som de seu choro, deixou de dar aquele beijo terapêutico que sara tudo, não soube o prazer de receber aquele abraço apertado e nem se lambuzou do beijo molhado de Moisés em seu rosto.

E tudo isto é um erro, um erro que muitos continuam cometendo contratando cuidadoras, babás, creches, escolas infantis, comprando celulares e computadores de última geração enquanto correm com suas agendas comprometendo a próxima geração de sua família.

Precisamos aprender com o erro desta mulher – e não fazer a mesma coisa. Devemos nos lembrar que os sábios aprendem com os erros dos outros – e devemos ser sábios aprendendo com os erros desta mulher bem intencionada.

A FILHA DE FARAÓ TERCEIRIZOU A EDUCAÇÃO

A bíblia diz que Moisés foi instruído em toda a ciência dos egípcios (At 7:22 E Moisés foi educado em toda a ciência dos egípcios e era poderoso em palavras e obras), o que quer dizer que sua ‘mãe’ anônima proporcionou para ele a oportunidade de estudar na Universidade Faraônica do Nilo. E este talvez seja o seu grande sonho – colocar seu filho e sua filha para estudar na melhor universidade do Brasil ou do mundo. E não há mal algum nisso.

Mesmo assim sua ‘mãe’ errou. Não neste momento, mas ela errou ao confiar a outra mulher (embora ela pudesse confiar em Joquebede, que fez o melhor possível), de outra cultura e de outra religião a educação de seus filhos. Aquela mulher entregou seu filho para uma mulher que tinha uma cultura diferente da sua, que tinha uma religião diferente da sua para contar para ele sobre a criação do mundo – e o relato bíblico é muito diferente e até antagônico aos mitos da criação egípcios.

Aquela mulher falava do Deus único, do Deus verdadeiro, do Deus criador de todas as coisas e isto contrastava totalmente com as crenças da filha de faraó e do Egito de seus dias que acreditavam em uma multidão de deuses parecidos com animais. Talvez elas não soubessem, mas travavam uma batalha silenciosa na qual Joquebede formatou a visão de mundo de Moisés, ensinando-o no caminho em que ele deveria andar – e ele jamais se desviou deste caminho.

Ele ouviu sobre Deus, ele conheceu o Senhor, ele obedeceu ao Senhor e foi instrumento de Deus para libertação da escravidão no Egito. Tudo isto foi plantado em seu coração pelas histórias que Anrão, Joquebede ou Miriã lhe contavam durante o jantar, ou frequentando as reuniões dos hebreus, ou antes de dormir ao fazerem suas orações.

Moisés aprendeu sobre Deus enquanto cantava cânticos infantis com seus irmãos ou brincando com outras crianças. Houve tempo suficiente para ele receber uma visão de mundo hebreia antes de chegar o momento de ir morar com sua mãe egípcia, quando ele já era grande e não precisava mais de uma babá em tempo integral – provavelmente depois dos 5 anos de idade.

Parece pouco tempo, mas pergunte aos pedagogos qual o período mais importante da formação de uma criança. Neste período ela aprende a língua, ela formula conceitos de certo e errado, aprende sobre atos e consequências. Todo o conhecimento que vem depois será assentado sobre esta base: será instrumento para aplicação desta formação.

Este erro desta mulher continua sendo cometido por muitos pais que não supervisionam a educação de seus filhos, não veem o que eles estão aprendendo nem corrigem quando erros são ensinados. É como colocar uma criança em seus anos mais tenros de formação para estudar em uma escola adventista, espírita, idólatra ou secular (e sabemos como é o ensino ideologizado das nossas escolas). Estas experiências vão formatar o coração da criança. Quem está fazendo isto para você e talvez contra você e contra seu Deus?

A FILHA DE FARAÓ TERCEIRIZOU O RESULTADO

A filha de faraó obteve os resultados que pretendia – embora estes resultados não fossem os mais adequados: seu filho teve os cuidados necessários nos primeiros anos de sua infância e chegou a uma idade que não precisava mais dos cuidados de uma hebreia. Para ela havia chegado a hora de ter o seu filho.

À partir de então Moisés passa a ser educado na corte, se torna um conhecedor da ciência egípcia, mas o que a filha de faraó não sabia era que o coração de Moisés foi ‘roubado’, sua estrutura de pensamento já havia sido construída à partir do modelo hebreu e não egípcio, e tudo isto com o patrocínio dela própria, por uma serva hebreia.

Todos os elementos que foram colocados na vida de Moisés poderiam produzir os resultados que não nos cansamos de exaltar na vida de Moisés. Ele foi educado na coorte egípcia, mas sua mente e seu coração eram hebreus até o momento em que ele precisou fazer uma escolha – e ele escolheu segundo a inclinação de seu coração (Hb 11:24 Pela fé, Moisés, quando já homem feito, recusou ser chamado filho da filha de Faraó, 25 preferindo ser maltratado junto com o povo de Deus a usufruir prazeres transitórios do pecado).

A filha de faraó queria que seu filho fosse um egípcio, certamente sonhava que ele adotasse a cultura egípcia, que se tornasse um líder entre os egípcios e, obviamente, que cultuasse aos muitos deuses egípcios. Mas para obter este resultado ele teria que ter seu coração e sua mente no modelo egípcio. Mas havia um obstáculo que ela não havia previsto: a serva hebreia cuidou diligentemente para que isto não acontecesse.

Desde o nascimento Moisés foi educado por uma família hebraica, sua comida e sua bebida eram as comidas dos hebreus, suas vestes durante muito tempo foram a de uma criança hebreia entre hebreus, sua língua materna era o hebraico e é consenso entre os neuro linguistas que isto impacta a forma como uma pessoa pensa.

No fim, o resultado da educação que Moisés recebeu é que ele era apenas um hebreu que cresce e recebe educação na ciência dos egípcios – mas não se torna um egípcio, mesmo entre os egípcios, como Daniel não se tornou um babilônico mesmo na coorte babilônica.

O erro daquela mulher foi achar que dar a seu filho a melhor educação formal seria suficiente para garantir que os seus sonhos (os sonhos dela) e projetos para a vida de seu filho seriam realizados.

É tolice pensar que a educação formal vai curar as deficiências da formação do coração e do caráter. A criança vai se lembrar do que aprendeu na terna infância por toda a sua vida. Embora este texto tenha sido escrito muito tempo depois, com certeza ele poderia tranquilamente ser invocado por Moisés. Ele se lembrava do que aprendera com seu pai. Ele se lembrava do que aprendera ainda na mais tenra infância com sua mãe – e isto foi o fator decisivo para que a educação na coorte egípcia não mudasse o seu caráter:

Pv 4:3 Quando eu era filho em companhia de meu pai, tenro e único diante de minha mãe, 4 então, ele me ensinava e me dizia: Retenha o teu coração as minhas palavras; guarda os meus mandamentos e vive; 5 adquire a sabedoria, adquire o entendimento e não te esqueças das palavras da minha boca, nem delas te apartes.

Não é de espantar que muitos filhos de cristãos se afastem da igreja – porque não receberam os mandamentos do Senhor, não foram criados e educados no caminho do Senhor por seus pais – mesmo que muitos conhecessem o caminho para os cultos da igreja.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pais devem ser muito cuidados para não terceirizarem o coração de seus filhos. A filha de faraó errou – e o coração de Moisés foi trabalhado por seus pais e seus irmãos. Para nós isto foi uma bênção de Deus – e foi mesmo. Mas para aquela mulher foi uma tragédia.

Muitos pais estão terceirizando a criação de seus filhos a cuidadores e creches. Muitos pais estão terceirizando a educação de seus filhos a cuidadores e professores, muitos deles militantes. Muitos pais estão terceirizando até mesmo a edificação de seus filhos para a igreja e negligenciam seus deveres paternos.

Quero concluir com três perguntas sumamente importantes, tão importantes que devo advertir que elas não são perguntas retóricas para terminar uma mensagem, mas perguntas absolutamente práticas e que você precisa pensar muito sobre elas, e quem sabe tomar providências a respeito.

E se você já tem filhos crescidos, talvez você não possa fazer muito por eles, a não ser pedir perdão e tentar caminhar junto com ele. E talvez você venha a ter netos. Netos não são bichinhos para você estragar – netos podem ser uma segunda chance de você acertar, ajudando seus filhos como exemplos de vida e fé pra eles.

A primeira pergunta é: você conhece quem está ensinado seus filhos? Você conhece os professores de seus filhos? Conhece a metodologia e a cosmovisão das pessoas que trabalham com seus filhos? Sabe pelo menos os nomes destas pessoas?

A segunda pergunta também muito importante é: você sabe o que está sendo ensinado aos seus filhos por babás, cuidadores e professores? Você acompanha o conteúdo dos ensinos ministrados, inclusive na igreja?

O que seus filhos estão aprendendo ferem aquilo em que você crê, como você acha que deve ser conduzida sua casa, agridem a sua fé com evolucionismo, existencialismo, doutrinação marxista ou progressista, ensinos anticristãos ou heréticos como festas juninas, só para citar um exemplo? Tem veneno ideológico e até teológico misturado com o ensino?

Você está preparado para os resultados na vida de seus filhos? Você deseja colher que tipo de frutos na vida de seus filhos? Você acompanha o que está sendo plantado no coração de seus filhos? Se você não sabe o que está sendo plantado, como pode ter certeza de que colherá os melhores frutos?

Não são as pessoas de sua confiança, mesmo que sejam honestas e bem-intencionadas, que farão um projeto de educação para a vida para seus filhos.

Não são os professores e educadores que farão um projeto de educação para a vida de seus filhos porque muitos deles nem sabem que fazem parte de um projeto muito maior que tem trazido resultados trágicos para os nossos tempos.

Não é a igreja quem vai fazer um projeto teológico/cristão para a vida de seus filhos, especialmente porque muitas delas já estão contaminadas com o mundanismo e o modernismo.

A responsabilidade pela criação, educação e edificação de meus filhos é minha. A escola pode dar informação, a igreja pode ajudar a ensinar princípios bíblicos, mas a responsabilidade é minha. Assim como é de cada um de vocês em relação aos seus filhos.

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