A BASE DA NOVA VIDA É O QUE JESUS FEZ (12)
Como vimos, o sacrifício de Cristo não é uma celebração temporária e repetitiva. Quando algo precisa ser repetido continuamente é porque não tem eficácia permanente – como, por exemplo, uma comida, um copo com água, um banho, uma noite de sono – tudo isto é bom, é eficaz, mas não é permanente, precisa ser repetido porque é necessário.
E este é o caso dos sacrifícios dos hebreus: eles tinham eficácia simbólica e educativa, não efetiva. Cristo, no entanto, é diferente. Se fosse como os sacrifícios hebreus ele precisaria oferecer a si mesmo várias vezes (Hb 9.28), mas isto não é necessário e pretender fazê-lo é uma blasfêmia contra a suficiência de sua obra (Jo 19.30). O ensino das Escrituras é que Cristo ofereceu-se uma única vez, e isto não pode ser repetido, como sacrifício pelos pecados e assentou-se à destra de Deus Pai (Hb 10.12).
Apesar de ser um cumprimento dos tipos mostrados no Antigo Testamento a morte de Cristo teve algumas características diferentes. O bezerro era oferecido pelos pecados do sacerdote e de sua casa antes de entrar no santuário (Lv 16.6), mas evidentemente Cristo não precisou de uma oferta pelo seu próprio pecado porque ele não tinha pecado algum (Hb 4.15).
O bode era oferecido pelos pecados do povo – mas sua carne não era consumida porque era impura, corrupta, e deveria ser queimada fora da cidade (Lv 16.10; 16.15) enquanto Cristo chama seus discípulos a comunhão com ele por meio de sua carne e de seu sangue (Jo 6.53).
Mas tudo isto apontava para o sacrifício do cordeiro de Deus conhecido antes da fundação do mundo (1Pe 1.19-20) por meio do qual o pecado do mundo é tirado (Jo 1.29). O derramamento do sangue do cordeiro de Deus que substitui o pecador é um ato de justiça de Deus (Rm 5.18-19), e por ele Deus santifica, que tira o pecado, a condenação e a morte (Rm 5.12) dando vida aos que o recebem como seu Senhor e salvador (Jo 1.12).
O CRENTE SE IDENTIFICA COM JESUS
Uma diferença fundamental entre o que os judeus experimentavam e o que é oferecido em Cristo é que embora os animais fossem considerados como recebendo o pecado os pecadores não se identificavam com eles – é por isso que sua carne não é consumida, diferente das carnes dos dízimos, votos e ofertas pacíficas.
No entanto, o cristão se identifica com o seu cordeiro. Ele come de sua carne, ele bebe de seu sangue (Jo 6.53). O cristão é convocado para compor a universal assembléia dos eleitos de Deus (Hb 12.22). Os que são chamados por Cristo são chamados para deixar o mundo, e são chamados de igreja de Deus. E igreja quer dizer ‘comunidade dos que foram chamados para uma reunião fora de suas casas’.
“Então saiamos” (toinun ecerxwmeqa) é uma determinação para se expor publicamente como cristão. E é curioso que no momento da prisão todos fogem e se dispersam (Mc 14.50).
No momento do julgamento Pedro nega a Jesus (Mc 14.72). No momento da crucificação aparentemente somente João estava presente (Jo 19.26).
Não era incomum que os parentes das pessoas crucificadas se ausentassem da cidade ou chegassem até mesmo a se mudarem definitivamente da região por causa da vergonha de ser apontando como ‘parente do crucificado’, algo muito semelhante ao que foi feito no Brasil com as partes do corpo de Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes.
Mas o cristão não foge, não se esconde - ele sai da cidade, mas não para fugir, ele vai ao encontro de quem o substituiu na cruz. Ele vai ao patíbulo, vai à cruz, ele não se envergonha e se identifica com Jesus porque sabe que o evangelho é o poder de Deus para a salvação de todo o que crê (Rm 1.16).
O crente sabe que a morte de Jesus foi a sua morte, sabe que aquele lugar era o lugar que lhe era devido (Rm 6.4) para que ele fosse habilitado a ter nova vida, a vida de Cristo (Gl 2.20).
O CRENTE RECEBEU UMA NOVA CIDADANIA
É evidente que o cristão, ao sair da cidade portas à fora ao encontro de Jesus está metaforicamente renunciando a algo que era sumamente importante na antiguidade, à cidadania, que lhe dava direitos especiais como vemos no caso de Paulo que pode apelar para o julgamento do próprio César (At 25.11), que não podia ser chicoteado sem julgamento (At 22.25-26).
Ao sair da cidade, renunciando a cidadania do mundo, o cristão se torna cidadão de um reino superior, preparado para ele desde a fundação do mundo (Mt 25.34), cidadão do reino de Cristo que não é deste mundo (Jo 18.36) e que é chamado de ‘a nova Jerusalém que desce do céu’ (Ap 3.12) assim como o tabernáculo onde o grande sumo sacerdote oficia em favor do seu povo é celestial.
Nenhuma cidade é a verdadeira morada dos crentes neste mundo que vivem como peregrinos aqui (1Pe 2.11) da mesma forma que viveram os patriarcas como Abraão, Isaque e Jacó, como também viveram os heróis do Antigo Testamento citados na bem conhecida galeria dos heróis da fé (Hb 11.38).
Buscar a cidade que há de vir (mellousan) nos leva a considerar o ensino do apóstolo Paulo que diz que o crente anda por fé (2Co 5.07), e que, por causa da sua fé está disposto a sofrer o que for necessário porque sabe que com certeza chegará o dia no qual tomará posse definitivamente desta cidadania que deseja ardentemente experimentar porque ela lhe foi prometida pelo próprio Senhor (Jr 33.6; Zc 8.8).
O crente aguarda, com santa ansiedade o que tem certeza que acontecerá: a nova cidade virá (epizhtoumen) e ele habitará seguro nela (Zc 8.8). Sua fé lhe dá a certeza de que todas as promessas do Senhor serão cumpridas (Hb 11.1).
A cidadania dos céus é uma cidadania eterna, ela não se desfaz, e nisto ela é diferente de toda moradia passageira, inclusive a própria vida que é comparada com um tabernáculo, isto é, com uma tenda passageira (2Co 5.1).
Quando uma pessoa muda de seu país para outro país ele precisa saber quais são as leis que regem o lugar onde ele está para não ter problemas. Há países que tem regras muito restritivas sobre bebidas, em outros (como a Coréia do Norte e o Turcomenistão) você não pode nem mesmo fazer vídeos e a lista pode ser enorme numa variedade de costumes e regras diferentes.
No mundo o homem carnal faz a vontade da carne como todo mundo faz – esta é a sua natureza e não há como esperar nada diferente disso (Rm 7.5). É o que a lei da carne faz – inclinar o homem para ações carnais tendo como resultado inimizade contra Deus (Rm 8.7) que acaba conduzindo à morte (Rm 8.6).
Mas aquele que está em Cristo é nova criatura e por estar em Cristo e ter nascido de novo (2Co 5.17) é capacitado para fazer o que o homem natural é incapaz de fazer. Ele pode oferecer em todo o tempo sacrifícios de louvor a Deus. Se alguém disser que o crente não oferece sacrifício a Deus está rejeitando o ensino da própria Escritura.
O crente não oferece sacrifício por seus pecados como os hebreus faziam porque Cristo fez isso de uma vez por todas. Mas ele entrega ofertas de gratidão com alegria como os hebreus faziam (Dt 27.7) e se apresentam a Deus com integridade, de todo o coração (Rm 12.1).
Só oferece sacrifício de louvor quem confessa a Cristo como Senhor. Os sacrifícios de louvor (que pode ser traduzido por ofertas pacíficas) eram um dos tipos de sacrifícios que não levavam em conta o pecado (qusian ainesewj). Eles são oferecidos a Deus pelos crentes em Jesus e que o confessam Jesus como Senhor e salvador e vivem permanentemente na presença de Deus (1Jo 4.15).
Este é o tipo de sacrifício que você pode oferecer. O sacrifício eficiente e perfeito por causa do pecado foi o de Cristo. A sua oferta de si mesmo a Deus só você pode fazer. Esta é a lei da nova Jerusalém por toda eternidade (Ap 15.3).