QUAL A VONTADE DE DEUS PARA SUA VIDA
É estranho - mas ao mesmo tempo é comum ouvir crentes sinceros (e alguns já com alguma relativa experiência de vida cristã) dizendo que querem descobrir a vontade de Deus para suas vidas.
Que um neófito tenha algum tipo de dúvida é normal, é esperado afinal ele é um novo na fé, ele recebeu a nova vida em Cristo e precisa crescer na graça e no conhecimento do Senhor (2Pe 3.18) passando do alimento básico, as primeiras instruções sobre a fé, sobre a doutrina e até sobre a conduta ética e moral cristã para, finalmente, o alimento sólido (Hb 5.14), quando finalmente deixa de ser um discipulando e passa a ser um discípulo que faz discípulos.
É realmente muito estranho um cristão dizer que não sabe qual é a vontade de Deus para sua vida. Normalmente isto acontece porque as pessoas querem regras de conduta e não princípios de vida cristã. E este texto traz princípios que o cristão sincero pode aplicar à sua vida.
Um crente não precisa de regras espirituais. Um crente precisa se relacionar com Deus, temer ao Senhor e viver em intimidade com ele (Sl 25.14).
Ao caminhar para a conclusão desta carta o escritor traz algumas orientações práticas. Para muitos a galeria dos heróis da fé é o coração da carta este último capítulo poderia ser a receita: como ser um herói da fé.
Como um crente poderá se tornar um cristão que marca positivamente todos aqueles com quem vier a conviver, que servirá de modelo a todos quantos virem a crer (1Tm 1.16)?
Este texto tem algumas peculiaridades que expressam a conclusão da pedagogia de Deus: ele traz uma ordem, um método, uma decisão, um incentivo baseado em uma garantia.
SEJA CONSTANTE
A expressão ‘seja constante’ deste texto (menetw) quer dizer, entre outros significados, ficar, permanecer, ‘não tornar-se outro diferente’ do que deve ser. O cristão não pode ser uma pessoa impelida de um lado para o outro de acordo com as mudanças de opiniões ou circunstâncias (Ef 4.14).
O cristão deve ser aquele que, por causa de sua fé, é firme e inabalável (1Co 15.58), e sua firmeza não vem dele mesmo, mas pela certeza de que ele serve ao Senhor e o Senhor não deixa de recompensar os que o servem com fidelidade (Cl 3.23-24).
Apesar de muito do cristianismo da atualidade viver se preocupando mais com uma série de coisas (ecologia, política, economia etc.) do que com o que é essencial há algo que a igreja não deve esquecer em tempo algum: de cumprir o mandamento de Cristo (Jo 13.35) que é o que capacita a igreja a caminhar como corpo (1Co 12.27) e ajudarem-se mutuamente (Gl 6.2) na luta pela fé que uma vez por todas foi entregue aos santos (Jd 1.3).
Aqui os cristãos são incentivados a, literalmente, serem ‘firmemente fraternos (filadelfia)’. Filadelfia se refere ao amor fraterno, ao amor de amigos ou que irmãos cultivam entre si.
Existem outras coisas nas quais os cristãos devem ser firmes: na confissão de nossa fé, na doutrina, mas o autor que nos dá a lista dos ‘heróis da fé’ também nos dá a receita - ninguém é verdadeiro discípulo de Cristo se não for capaz de amar aos próprios irmãos (1Jo 4.20).
Qualquer cristão que quiser saber qual a vontade de Deus para sua vida deve começar obedecendo ao mandamento de amar ao seu próximo (Gl 5.14) especialmente ao seu irmão (Tg 2.8).
É óbvio que um cristão do Séc. XXI não entrará com seu nome na galeria dos heróis da fé mas certamente poderá ser lembrado como um ‘dos quais o mundo não era digno’ (Hb 11.37-38).
COMO SER FRATERNALMENTE FIRME
Como ser fraternalmente firme é uma pergunta importante, que os cristãos deveriam se fazer. Esta passagem nos dá quatro instruções, quatro princípios que podem ser facilmente lembrados.
SEJA HOSPITALEIRO
A primeira instrução está no verso 2: cabe ao cristão o dever de não negligenciar a hospitalidade ou mais precisamente ter amor pelos estrangeiros (filocenia). A hospitalidade era um dever sagrado no antigo oriente. Não havia hotéis, não havia restaurantes na beira da estrada e não havia supermercados, ou lanchonetes , ou restaurantes, ou postos 24h. O dever da hospitalidade era algo sagrado e podia ser uma questão de vida ou morte em muitas ocasiões.
A hospitalidade seria muito importância para os cristãos que seriam obrigados a andarem errantes pelo mundo por causa da fé.
O mandamento de não negligenciar a hospitalidade significa, positivamente, cuidar dos necessitados, impedindo que estes venham a perecer ou até mesmo a pecar por necessidade (Ef 4.28).
Jesus ensinou que é dever cristão cuidar das necessidades uns dos outros (1Jo 3.17) - sem isso fica claro que esta pessoa não tem nenhum amor por Jesus mesmo sendo religioso (Mt 25.35).
Não me deterei em analisar o final deste versículo que é uma menção histórica a Ló, por exemplo, que praticou a hospitalidade recebendo anjos em sua casa (Gn 19.1-3).
LEMBRE-SE DOS OPRIMIDOS
O segundo princípio é lembrar-se dos encarcerados (desmioj), daqueles que estão cativos e prisioneiros em grilhões, ou daqueles que sofrem privações por causa da fé. É muito fácil esquecer-se de quem está preso e por isso a ordem aqui é: lembrem-se, não se esqueçam (mimnhskw).
Jesus disse que este deveria ser um dos deveres dos cristãos para com seus irmãos aos quais Jesus chama de pequeninos (Mt 25.39-40).
Sabemos que existem defensores de opinião diversa a respeito deste assunto, existindo até especialistas teológicos no assunto de visitação em prisões (e sim, quem está preso pode e deve ser evangelizado apesar da opinião diversa do governo brasileiro atual), mas eu entendo que Jesus está se referindo especialmente àqueles que estão sofrendo por causa da sua fidelidade em testemunhar que creem em Jesus.
Este é o caso do apóstolo Paulo (2Tm 1.8) e outros cristãos que seriam lançados em prisões por causa da fé (Ap 2.10) e as Escrituras dizem claramente que ninguém deve sofrer como malfeitor, assassino ou por praticarem coisas inconvenientes (1Pe 4.15), ou seja, se sofre por estas coisas está preso com justiça.
HONRE SEUS COMPROMISSOS
O terceiro princípio é o de honrar os votos de fidelidade - neste caso aqui representados pelos votos conjugais.
O casamento é o exemplo supremo de aliança entre os seres humanos onde um homem e uma mulher, embora pertencentes à mesma espécie, são diferentes entre si mas pelo matrimônio são tornados um (Gn 2.24) e não é por acaso que é um dos mais belos símbolos do relacionamento do Senhor com sua igreja (Ap 21.2).
O matrimônio é mencionado aqui neste texto como exemplo de aliança - e uma aliança deve ser considerada digna de ser honrada, deve ser considerada superior a si próprio e deve ser mantida a todo custo, não deve ser profanada sob pena de receber de Deus o mesmo julgamento que está reservado para os impuros (1Co 6.9) que são aqueles que abrem mão da sua pureza em troca de qualquer coisa (pornoj).
Lembre-se que o Senhor disse, nesta mesma carta aos hebreus, que não deve haver nenhuma tolerância para a existência de impuros e profanos no meio do seu povo como já vimos ao estudar Hb 12.16 sobre a expressão ‘impuro e profano’.
O termo profano usado pelo autor aponta para uma pessoa acessível às tentações, que pode ser facilmente atraída para a impureza, que não suporta a provação (1Co 10.13) e muito menos é capaz de resistir à provação (Tg 1.12).
CONTENTE-SE EM DEUS
O quarto princípio está intimamente ligado ao terceiro e é apresentado aqui como uma consequência direta dele: o crente deve considerar a provisão de Deus como suficiente, contentando-se com o se tem.
Qualquer cristão conhece o salmo que exalta o pastoreio do Senhor. Este é um dos salmos mais conhecidos de toda a bíblia e tem sustentado muitos crentes em situações de dor e provação, mas ele é também uma exortação à confiança na providência de Deus (Sl 23.1).
Este assunto é de tal forma importante que os dez mandamentos se encerram com uma exortação à confiar na providência Deus e não buscar satisfação nem mesmo nas coisas boas do mundo (Ex 20.17).
É por causa da cobiça que as pessoas são vencidas pela tentação.
Alguém já disse que se a prática do pecado fosse algo ruim ninguém pecaria, como aconteceu com Eva no jardim (Gn 3.6).
O problema é que as consequências do pecado são trágicas (Rm 5.12).
Tiago ensina que cada um é tentado pela própria cobiça - e é a cobiça, o desejo pelas coisas materiais (o que pode ser possuído) ou imateriais (o que pode ser experimentado), que atrai, seduz, concebe e dá a luz o pecado que traz o amargo resultado da morte (Tg 1.14-15).
O descontentamento com o que se tem, e a cobiça demonstra que não existe confiança na suficiência de Deus, não existe fé verdadeira na presença providente de Deus que afirma em diversos textos que vai suprir cada uma das necessidades dos que confiam nele (Sl 84.11).
O Senhor prometeu suprir as necessidades de quem ouvi-lo. Ele conduziu o povo no deserto sem que suas roupas se gastassem em seus corpos ou suas sandálias se estragassem em seus pés (Dt 29.5). Jesus pergunta aos seus discípulos se algo lhes faltou e eles admitem que não (Lc 22.35).
Jesus prometeu estar com seus discípulos todos os dias, até a consumação dos séculos (Mt 28.20) e isto deve bastar ao crente.
A determinação de Jesus é que o crente confie no Senhor sabendo que ele suprirá cada uma de suas necessidades (Mt 6.8).
A certeza que o crente tem é que o Senhor fará com que todas as coisas cooperem para que as promessas de Deus sejam inteiramente realizadas, e os que nele creem sejam abençoados (Rm 8.28).
Você pode confiar em Deus porque ele prometeu que, antes mesmo que você perceba sua necessidade, ele já estará agindo para te abençoar (Is 65.24).
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