II Tm 3.1-10
Amar algo ou alguém é mais do que um costume - faz parte da essência do homem. Assim é que uma pessoa que seja incapaz de amar é considerada portadora de uma patologia, uma doença. Assim são classificados os psicopatas, pessoas que, muitas vezes, conseguem apresentar um padrão de vida normal, mas acabam deixando transparecer sua psicopatia - e a principal característica dos psicopatas é justamente uma deficiência de afetividade.
A psicopatia é uma doença existente no homem - e como todas as doenças, ela não é natural, é fruto do pecado e gera outros pecados. Mas, ainda que não chegue ao limite da psicopatia, os homens sofrem de uma doença espiritual que os leva a um desvirtuamento do amor, e assim, ele acaba:
a. Amando a si mesmo [II Tm 3.2]. Eu costumo olhar para os textos bíblicos que trazem mandamentos sob a perspectiva de que, se há o mandamento, é porque ele é necessário para nos obrigar a fazer o que é necessário. O homem já tem uma lei interna que o conduz ao pecado, e, assim, Deus julgou essencial dar-lhe a sua lei, espiritual. Sabendo disso o Senhor ordenou que amássemos ao nosso próximo como amamos a nós mesmos. E não há nada que atraia mais o amor do indivíduo do que ele próprio. Toda quebra de mandamento inclui o exagerado amor a si mesmo. Qualquer pecado que mencionarmos tem no seu âmago o auto-amor, pois o pecado é sempre o desejo de possuir ou experimentar algo que é vedado pela lei de Deus. Rejeitando a Deus, o pecador transgride sua lei, e torna-se escravo de si mesmo e do diabo.
b. Amando o pecado [II Tm 3.4]. É evidente que, se o pecado não fosse algo atrativo para a nossa natureza [pecaminosa], não seria necessária nenhuma proibição para a prática do mesmo. Nós simplesmente o abandonaríamos assim que descobríssemos suas consequências ou achássemos algo mais atrativo. O problema é que nada é mais atrativo para o coração enganoso e corrupto do homem do que o pecado. O homem ama o pecado. Desde o Éden ele abriu mão da comunhão com Deus por causa do pecado. É notável que um drogadicto saiba que está viciado numa droga, que o está matando aos poucos. Um fumante sabe que está aspirando venenos que lenta e inevitavelmente o matarão, mas jocosamente afirma “não estar com pressa”. Um beberrão diz gostar da “malvada”, como certa vez vi um homem, condenado por cirrose, mandar colocar um vasilhame de bebida sobre a sua cama, instalando nele um tubo e uma pequena torneira. Sequer se levantava para beber.
c. Amando o mundo [II Tm 4.10]. Somos exortados a não amar o mundo, nem as coisas que há no mundo. A escritura apresenta um contraste entre o mundo e Deus. Este contraste pode ser mais facilmente entendido se trocarmos as palavras e colocarmos em seu lugar as coisas naturais em contraste com as espirituais. O contraste não é com as coisas materiais, porque a matéria em si mesma não é boa nem má, mas é quando se ama as coisas que Deus criou mais do que ao próprio Deus é que pecado. A troca da adoração ao Criador pelo amor às suas criaturas é uma ofensa a Deus que é comumente cometida pelo ser humano. A humanidade tem criado sistemas de valores, formas de organização levando em conta seus anseios, mas invariavelmente esquecendo-se da vontade daquele que o criou. Foi assim desde o episódio de Babel, e, infelizmente, até mesmo na igreja [do passado e do presente, judaica ou cristã] encontramos esta mesma infiltração do mundanismo.
Estes amores acalentados no coração dos homens ocupam um lugar que não lhe pertence. As Escrituras nos exortam a amar a Deus sobre todas as coisas. O amor de Eva por si própria, o desejo de crescer em conhecimento chegando a ser como Deus, experimentando a única coisa do mundo que lhe era proibida poderia ser evitado se ela, e seu esposo, simplesmente tivessem amado a Deus mais do que a seus desejos. Quem ama verdadeiramente a Deus não quebra os seus mandamentos, especialmente os quatro primeiros - e também os outros seis. Mas o amor ao próximo como a nós mesmos, também evitaria a quebra dos outros seis mandamentos. Quem ama ao próximo não rouba, não adultera, não deseja o que é do próximo, não o ofende nem mente para prejudicá-lo. Quem ama a Deus, que é amor, não consegue odiar seu próximo, muito menos intentar matar o próprio irmão. Quem intenta matar o irmão é como Caim, do maligno.
O amor do mundo, portanto, diz-nos o apóstolo, é inimizade contra Deus porque coloca no lugar de Deus uma criatura - e isto gera desobediência ao criador, o único digno de honra e louvor.
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