domingo, 29 de janeiro de 2012

MENSAGEM PARA HOJE: MUITOS QUE DEVEM SER UM SÓ

P2210123Mensagem na II Igreja Presbiteriana em Gurupi, no dia 29 de janeiro de 2012.

Parte de uma sequência de estudos em I Coríntios. Texto devocional: I Co 1.10-17

A cidade de Corinto havia sido uma importante cidade grega na antiguidade – e nos tempos do apóstolo Paulo era uma importante cidade cosmopolita, mas de mentalidade oriental. A história mostra que os orientais de mentalidade greco-romana eram dados a debates filosóficos e posicionamentos a respeito das mais diversas opiniões, que eram rapidamente assumidos, causando divisões e distúrbios que passavam tão logo surgisse uma nova opinião a ser debatida. Por atrair gente de todas as regiões Corinto logo passou a contar com uma igreja cristã composta de judeus com apreço pela história e costume judaicos [Pedro], gregos e romanos adeptos da filosofia e da lógica [Paulo] e gentios de outras nacionalidades inclinados à oratória e ao emocionalismo [Apolo]. Aos escrever aos coríntios Paulo lhes lembra que eles deviam falar a mesma linguagem, evitar as divisões e andar em unidade com a mesma disposição mental buscando, todos, a mesma coisa: a glória de Deus.

Sabemos das brincadeiras na II IPG a respeito dos "da casa de Cloe". Pouco sabemos sobre ela, se era uma senhora coríntia com negócios e familiares em Éfeso ou o contrário, uma vez que as duas cidades eram importantes na região e tinham constante atividade comercial. "Os da casa de Cloe" eram, ou familiares ou servos, talvez cristãos, que logo informaram o apóstolo Paulo dos problemas na Igreja. A meu ver não se trata de fofoca, mas de um pedido de ajuda a quem, de fato, poderia ajudar, uma vez que Paulo fora o fundador daquela comunidade alguns anos antes. E agora ela enfrentava problemas que poderiam causar danos em sua espiritualidade e em seu testemunho.

Alguns coríntios, de espírito faccioso, movidos pela inveja e desejo de controle sobre a comunidade [Tg 3:16: Pois, onde há inveja e sentimento faccioso, aí há confusão e toda espécie de coisas ruins], aproveitando a tendência natural do coração dos coríntios, estavam colocando irmãos em Cristo, servos do mesmo Deus, proclamadores da mesma mensagem como opositores aos olhos dos coríntios: Pedro e a lei, Paulo e a lógica professoral que foi, inclusive, quem levou Apolo ao conhecimento do batismo com o Espírito Santo [At 19.1-7], Apolo e a eloquência emocional – At 18.24: Nesse meio tempo, chegou a Éfeso um judeu, natural de Alexandria, chamado Apolo, homem eloqüente e poderoso nas Escrituras]. Não há evidências que houvesse desentendimento ou disputa entre estes pregadores – que eram, curiosamente, todos judeus. Mas aspectos da forma de apresentarem a mensagem estavam sendo destacados exageradamente para colocá-los como se fossem líderes de um partido religioso.

Paulo destaca a existência de 04 partidos religiosos em Corinto: paulino, apolista, petrino e cristão. Os paulinos afirmavam a autoridade apostólica de Paulo, lembravam o fato de que ele foi o implantador da Igreja em sua segunda viagem missionaria, seus ensinos coerentes e profundos a respeito da convergência do Antigo Testamento para Cristo, o messias. Os petrinos queriam que, a despeito do fato de terem crido e serem batizados com o Espírito Santo, os coríntios também se submetessem à circuncisão e à obediência aos rituais judaicos, mesmo já tendo uma definição sobre o assunto pelo concílio realizado em Jerusalém anos antes [At 15.19-21: Pelo que, julgo eu, não devemos perturbar aqueles que, dentre os gentios, se convertem a Deus, mas escrever-lhes que se abstenham das contaminações dos ídolos, bem como das relações sexuais ilícitas, da carne de animais sufocados e do sangue. Porque Moisés tem, em cada cidade, desde tempos antigos, os que o pregam nas sinagogas, onde é lido todos os sábados]. Os apolistas enfatizavam a eloquência de Apolo como melhor pregador que Paulo e, ao mesmo tempo, sem as exigências de Pedro. Diziam que a lei havia passado e que Paulo também não tinha mais direitos sobre eles. Defendiam que ele, Apolo, era o pastor ideal para aquela cidade dada a acalorados debates sobre o que quer que seja. Por fim, havia um partido que, numa pretensa superioridade, afirmavam não serem partidários nem de Paulo, nem de Apolo, nem de Pedro. Diziam-se do partido de Cristo, menosprezando os demais. Com esta atitude de menosprezo por parte do corpo, apesar de usarem o nome de Cristo, simplesmente demonstravam não conhece-lo verdadeiramente, pois estavam indispostos a suportarem os irmãos nas suas fraquezas. A conclusão de Paulo é que:

· TODOS ERRAVAM EM FOMENTAR AS DIVISÕES sob qualquer que fosse o pretexto. Ele já havia mencionado no v. 10 que os cristãos deveriam evitar as contendas, as divisões, porque elas dificultavam o testemunho da Igreja diante dos gentios hostis – eles estavam se esquecendo que todos os cristãos são uma unidade em Cristo Jesus. Paulo introduz esta idéia ao perguntar: acaso Cristo está dividido? A resposta que deveria seguir-se é: não, Cristo é um só. Não pode haver dos cristos, dois salvadores, dois messias, dois deuses.

. TODOS ERRAVAM EM SEGUIR HOMENS pois nenhum deles foi crucificado para salvar os coríntios. E, mesmo que tivessem sido, seu sacrifício teria sido em vão porque somente o sangue de Cristo purifica de pecados [I Jo 1:7: Se, porém, andarmos na luz, como ele está na luz, mantemos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo pecado]. Nenhum discípulo de Jesus deve esquecer que somente Jesus salva [At 4:12: E não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos]. Nenhum deles fora salvo pela abundante filosofia existente entre os greco-romanos, nem pelo legalismo judaizante, nem pelo emocionalismo dos cultos de mistérios orientais. Foram salvos por Cristo, o filho de Deus, que ofereceu-se para criar um só povo para si.

. TODOS ERRAVAM EM SUPERVALORIZAR SINAIS, mesmo aqueles que não chamavam tanto a atenção – e que eram abundantes . Parece que um dos meios de se pertencer a determinado grupo era ter sido batizado por um dos apóstolos ou por um dos seus seguidores. Assim, Paulo chama a atenção para o fato de que o sacramento do batismo, um rito de iniciação na comunidade da fé, não tornava ninguém mais ou menos cristão. É curioso que fora o próprio apóstolo Paulo [ou sob sua direção] o responsável pelo batismo de Apolo. E ele não o menciona em sua carta, embora mencione pessoas que eram conhecidos por todos, mas que muito provavelmente não estavam envolvidos nas disputas [Crispo, Gaio – certamente um homem próspero, que em pelo menos uma ocasião hospedou Paulo - e Estéfanas]. Apenas lembra que tanto ele quanto os demais líderes evangelistas eram apenas enviados de Cristo para pregar o evangelho [v. 17: Porque não me enviou Cristo para batizar, mas para pregar o evangelho; não com sabedoria de palavra, para que se não anule a cruz de Cristo] e, eventualmente, batizar os conversos para que entrassem na Igreja – não para criar partidos em torno de si.

A conclusão que Paulo lhes apresenta é que, se a Igreja estava dividida, se este era o padrão e o normal, então, haveria algo de errado em Cristo, uma vez que ele morrera para criar um povo [Tt 2:14: o qual a si mesmo se deu por nós, a fim de remir-nos de toda iniqüidade e purificar, para si mesmo, um povo exclusivamente seu, zeloso de boas obras], estabelecendo uma só Igreja cujos componentes tem seus nomes arrolados nos céus [Hb 12:23: e igreja dos primogênitos arrolados nos céus, e a Deus, o Juiz de todos, e aos espíritos dos justos aperfeiçoados]. Se esta Igreja não é um só corpo, não está unida num só espírito [Fp 1:27: Vivei, acima de tudo, por modo digno do evangelho de Cristo, para que, ou indo ver-vos ou estando ausente, ouça, no tocante a vós outros, que estais firmes em um só espírito, como uma só alma, lutando juntos pela fé evangélica] então os coríntios são chamados a concluírem que a responsabilidade é daquele que não conseguiu cumprir seu propósito: Cristo.

Uma vez que esta conclusão é ilógica e herética, e os coríntios não admitiriam isto, logo, Paulo faz com que, imediatamente, eles olhem para o outro lado da questão: se Cristo não falhou, então a falha deveria estar neles, na Igreja. Nada é mais fácil do que iniciar uma dissenção e uma divisão. Nosso sangue latino [e os coríntios eram uma mistura de povos e culturas, como nós, brasileiros] é inclinado às opiniões – sempre as temos, e as oferecemos livremente a quem as pedir e mesmo a quem não as pede. Entretanto, nada é mais difícil do que resolvê-las. Alguém disse que começar uma dissensão é tão fácil quanto amassar uma folha de papel. Unir os que foram divididos e feridos é tão difícil quanto fazer o papel voltar a ser exatamente o que era.

O pecado dos coríntios estava em ter "coceira nos ouvidos" e, ao mesmo tempo, ter a língua pronta a falar sem antes refletir. O sábio nos adverte que não é bom proceder sem refletir, e peca quem é precipitado [Pv 19:2 ]. Devemos dar graças a Deus porque, na Igreja de Corinto, havia pessoas como "os da casa de Cloe", que, ao invés de tomar partido, procuraram ajuda onde ela estava disponível. Devemos tomar cuidado com aqueles que, como Doegue, cuja fofoca a respeito de onde estava Davi foi responsável pela morte de 80 sacerdotes [I Sm 22:22]. Doegue não queria ajudar o povo de Deus, ele queria a destruição do ungido do Senhor, Davi. Cloe não queria o mal da Igreja – queria vê-la em paz, unida e edificada na palavra. Coloquemos em prática o ensino de Paulo em Ef 4:29: Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe, e sim unicamente a que for boa para edificação, conforme a necessidade, e, assim, transmita graça aos que ouvem.

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