terça-feira, 26 de junho de 2012

BRASIL TEM MAIOR CONCENTRAÇÃO DE SUBSTÂNCIA CANCERÍGENA EM COCA COLA

Um estudo divulgado nos Estados Unidos pelo Centro de Ciência de Interesse Público (CSPI, na sigla em inglês), nesta terça-feira (26), mostra que as latas do refrigerante Coca-cola vendidas no Brasil têm a mais alta concentração da substância 4-metil imidazol (4-MI), que, em altas quantidades, poderia levar ao câncer.

Quantidade de 4-MI por 355 ml de refrigerante: Brasil [267 mg]; Quênia [177 mg]; Canadá [160 mg]; Emirados Árabes Unidos [155 mg]; México [147 mg]; Reino Unido [145 mg]; Estados Unidos (Washington) [144 mg]; Japão [72 mg]; China [56 mg].

As latinhas analisadas no país apresentaram 267 mg de 4-MI por 355 ml de refrigerante. A substância é usada na fabricação do corante caramelo. Pelas normas brasileiras, estabelecidas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), seu uso é permitido, “desde que o teor de 4-metil imidazol não exceda no mesmo a 200mg/kg (duzentos miligramas por quilo)”. O valor encontrado nas latinhas brasileiras está abaixo do limite da Anvisa, mas é o mais alto entre os países analisados. O Quênia fica em segundo lugar, com 177 mg de 4-MI por 355 ml, seguido por Canadá (160 mg), Emirados Árabes Unidos (155 mg), México (147 mg), Reino Unido (145 mg), Estados Unidos (Washington - 144 mg), Japão (72 mg) e China (56 mg). A pesquisa foi feita pelo mesmo instituto de pesquisas que, em março fez o mesmo alertapara a substância em latinhas de refrigerante encontradas na Califórnia. Depois disso, a Coca-cola alterou sua fórmula e a taxa de 4-Mi local caiu para 4 mg por 355 ml. Em 8 de março, a Coca-Cola Brasil informou em nota que os ingredientes e as quantidades utilizados nos seus produtos “seguem rigorosamente os limites estabelecidos pela Anvisa e pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento”. No dia seguinte, em outra nota, a empresa afirmou: "O corante caramelo utilizado em nossos produtos é absolutamente seguro". Também em março, o toxicologista Anthony Wong, diretor do Centro de Assistência Toxicológica do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (Ceatox), explicou ao G1 que a substância se mostrou tóxica para ratos e camundongos na concentração de 360 mg/kg, que é pouco menos que o dobro do limite legal no Brasil. O especialista explicou que o órgão mais exposto ao câncer nesses animais foi o pulmão. O fígado também ficou sujeito a diversas alterações, incluindo câncer. Além disso, foram registradas mudanças neurológicas, como convulsões e excitabilidade.

sábado, 23 de junho de 2012

O PERIGO DOS ATALHOS ESPIRITUAIS

imageTodos conhecem a historia de Chapeuzinho Vermelho, que foi incumbida por sua mãe de levar mantimentos para a avó que residia numa floresta, dando-lhe instruções claras para que se mantivesse segura. Entretanto, Chapeuzinho Vermelho só foi enganada porque estava predisposta ao auto engano. Ela tinha sido advertida sobre qual o caminho mais seguro e os riscos de se falar com estranhos. E ela desobedeceu às orientações recebidas.

Nos crimes de estelionato, ou o popular conto do vigário, há um fator comum a maioria das vítimas: a grande maioria só foi iludida porque acreditava estar levando grande vantagem, ganhando algo de maneira rápida e fácil. Acreditando estarem enganando, estavam, na verdade, sendo presa fácil para os enganadores. É este o princípio usado pelos espertalhões nas famosas mensagens de celular afirmando que você ganhou casas, carros e outros prêmios. Se eu realmente tivesse ganho cada casa e carro que já me informaram serem meus seria dono de uma frota e de uma cidade. E é justamente sobre o perigo do autoengano que o apóstolo Paulo nos fala:

18 Ninguém se engane a si mesmo: se alguém dentre vós se tem por sábio neste século, faça-se estulto para se tornar sábio. 19 Porque a sabedoria deste mundo é loucura diante de Deus; porquanto está escrito: Ele apanha os sábios na própria astúcia deles. 20 E outra vez: O Senhor conhece os pensamentos dos sábios, que são pensamentos vãos. 21 Portanto, ninguém se glorie nos homens; porque tudo é vosso: 22 seja Paulo, seja Apolo, seja Cefas, seja o mundo, seja a vida, seja a morte, sejam as coisas presentes, sejam as futuras, tudo é vosso, 23 e vós, de Cristo, e Cristo, de Deus.

I Co 3.18-23

O apóstolo Paulo começa esta passagem com uma advertência direta aos crentes: "não vos enganeis", "ninguém se engane a si mesmo". Existem uma pessoa a quem é muito difícil enganar, e uma a quem é impossível: a si mesmo e a Deus. Tem gente que consegue enganar a muitas pessoas por muito tempo – mas tem alguns que conseguem enganar a pessoa que lhes conhece melhor: a si mesmos. É evidente que tal autoengano é altamente danoso a si mesmo. Assim como em assuntos materiais, comerciais, profissionais, emocionais e tantos outros é possível enganar-se a si mesmo, espiritualmente também pode acontecer de alguém estar se enganando, julgando-se por um padrão deturpado e inadequado, muito inferior aos critérios estabelecidos pela palavra de Deus. Inúmeros estão professando uma religião vã e vazia, seguindo rituais e regras, mas com o coração longe do Senhor [Mt 15.8]. Há muitos no lugar certo, na hora certa, mas com a motivação errada. Mas como é possível enganar-se em questões espirituais. Um dos meios e acreditar somente nas suas próprias impressões, experiências, capacidades e conclusões. Uma questão que se faz pertinente é: é possível que pessoas sinceras, estejam equivocados em questões espirituais?

O Novo Testamento apresenta-nos dois personagens que, apesar de seu zelo e sinceridade, estavam errados em sua religiosidade. E é curioso que ambos estejam envolvidos com a Igreja de Corinto. O primeiro deles é Paulo e seu extremado zelo farisaico [Fp 3.4-6]. O segundo é Apolo, que conhecia apenas o batismo de João Batista [At 18.24-25]. Eram sinceros, mas estavam errados. A bíblia também fala de gente insincera tentando parecer cristã, como Simão, o enganador [At 8.9] e Judas Iscariotes, que, embora discípulo de Jesus, roubava da bolsa o dinheiro que havia para a manutenção de Jesus e dos apóstolos [Jo 12.6]. Vamos nos deter apenas no estudo daqueles que são sinceros. Eles precisam ser alertados para que corrijam seus caminhos. Os insinceros precisam ser advertidos do julgamento, pois são como joio no meio do trigo [Mt 13.30] e precisam se arrepender. Estes precisam ser evangelizados e convertidos [At 26.20]. Como um cristão pode deixar-se enganar em sua vida espiritual? Paulo adverte os coríntios a esse respeito e suas advertências servem para os crentes do Senhor que se reúnem aqui na Igreja Presbiteriana de Gurupi e para todos os demais. Diz-nos ele que a primeira maneira de as pessoas se enganarem é segundo suas inclinações pessoais e carnais

SENDO SÁBIO NESTE SISTEMA DE PENSAMENTO

Nos dias de Paulo dois sistemas de pensamento predominavam. Dois métodos de enxergar o mundo, com algumas variações, influenciavam a cultura, a ética e a religião do império romano do séc. I.

O primeiro sistema de pensamento prevalecente na época, o epicurismo também pode ser encontrado na bíblia desde os dias de Noé [Lc 17.27]. A sistemática, racionalização e organização filosófica desta cosmovisão leva o nome do filósofo grego Epicuro, que defendia a idéia de que a carne, a matéria, não tem utilidade alguma e, portanto, não precisa se cuidados morais ou espirituais, não devendo se submeter a regra alguma, podendo ser degradada da forma que se desejar porque seria apenas a prisão do espírito, este sim tão bom que não poderia sofrer qualquer espécie de mal ou degradação. Se a carne é irrecuperável, então não haveria razões para se cuidar dela. E seus discípulos foram levando isto às últimas consequências, visando apenas satisfazer seus apetites, com ou sem excessos. A máxima era: faça o que te dá prazer, faça o que quiseres, quando e quanto puderes. Estas idéias estavam presentes na igreja e podem ser vistas inclusive na celebração da ceia na comunidade cristã em Corinto [ceia que não era tão comunitária assim, como podemos ver em I Co 11.20-22].

O segundo sistema de pensamento vigente nos dias do apóstolo Paulo, menos platônico e mais aristotélico, também tinha seus atrativos para os cristãos e levava o nome de estoicismo, defendendo o oposto exato do epicurismo, isto é, embora partilhassem das mesmas idéias quanto à natureza animal e espiritual do homem, entendia que o espírito, por ser superior, deveria exercer domínio sobe a carne, subjugando-a e negando-lhe a realização de suas vontades. Ceder aos ditames da carne era sinônimo e evidência de fraqueza, de falta de caráter. Viviam com o básico e muitas vezes negavam-se mesmo os prazeres lícitos, com abstinência de alimentos, casamento, etc. Embora Paulo pareça um estóico em determinados momentos [I Co 9.27] o que ele defende, na verdade, e que o cristão deve exercer o fruto do espirito, tendo autocontrole [Gl 5.23] opinião que é compartilhada pelo apóstolo Pedro [II Pe 11.3-8]. Paulo incentiva o bom testemunho, [I Tm 3.7], a luta contra os apetites carnais, contra o pecado [Rm 7.22-25], mas não a renúncia às alegrias da vida comum [Fp 2.2]. Podemos perceber que essas ideias se apresentavam também dentro da Igreja, tanto com matizes gregos quanto através dos legalistas judaizantes.

O EVANGELHO COMBATE FILOSOFIAS VAZIAS

Neste contexto a proclamação do verdadeiro evangelho faz diferença. É o evangelho do Deus que se fez carne, que assumiu uma existência material, podendo ser tocado, visto, esmurrado, vilipendiado, chicoteado e pregado em uma cruz era visto como loucura pelos gentios, um absurdo e negado pelos sábios que chamavam os cristãos de vis e ignorantes, ao mesmo tempo em que evidenciavam sua tolice adorando imagens [At 17.22: Então, Paulo, levantando-se no meio do Areópago, disse: Senhores atenienses! Em tudo vos vejo acentuadamente religiosos], endeusando os imperadores e personagens míticos, e exigindo dos cristãos e judeus que adorassem aquilo que consideravam má, a matéria. Onde está a sabedoria disso? Onde está a sabedoria dos homens do nosso tempo que se proclamam cristãos mas que professam um cristianismo rebelde, impuro porque cheio de superstições e imagens, vazio porque destituído do verdadeiro Cristo, adorando outro [Gl 1.6-9], não segundo as escrituras.

A tendência greco-romana da Igreja coríntia [vale ressaltar que nossa cultura, latina, também é de formação greco-romana] os estava levando a seguir filosofias vazias, religiões vãs, desembocando numa sabedoria mundana e inútil de um mundo que, na prática negava a Cristo chegando ao ponto de alguns não aceitarem a pregação da encarnação [I Jo 4:2-3] e da ressurreição de Cristo [I Co 15.12] exatamente como os gentios faziam [At 17.32]. Como chamar isso de cristianismo se estavam trocando a bênção da comunhão com Deus pela comunhão com o mundo [I Jo 2.15].

A segunda maneira das pessoas se enganarem é buscar

ADQUIRIR SABEDORIA QUE É LOUCURA DIANTE DE DEUS

Desde o Éden a humanidade tem cometido este erro irracional. Ao invés de ouvir ao criador, prefere dar ouvidos à criatura [Gn 3.4-5]. Ao saírem do jardim continuam cometendo os mesmos erros [Gn 4.7]. O problema, diz-nos o apóstolo Paulo, é que inculcam-se por sábios, tornam-se loucos, metem em sua cabeça que são mais sábios que Deus [Rm 1.22]. Esquecem-se das advertências do Senhor de que os seus caminhos são mais elevados do que os caminhos dos homens [Is 55.8-9]. Esquecem-se de que o Senhor tem uma visão panorâmica de toda a situação pois habita num alto e sublime trono [Sl 113.5] de onde se inclina para ver o que fazem os filhos dos homens [Sl 113.6]. É uma tolice tão grande quanto oferecer um bolo feito com ingredientes estragados, ovos podres e feito em recipientes contaminados a quem estava presente a todo o processo de feitura dos mesmos. Isto me traz à memória a anedota de um ladrão que queria ensinar seu filho a roubar. Na escola bíblica o garoto havia aprendido que Deus tudo vê, do alto do seu trono. O pai, então, o leva para uma de suas "aventuras" e lhe diz que, antes de saltar um muro para invadir uma propriedade, deve olhar para a direita, esquerda e para trás para se certificar de que não há nenhuma testemunha. Como não vê atitude alguma na criança, pergunta-lhe qual o problema. O filho questiona-o se não se esqueceu de nenhuma direção. O pai repete o ensinamento enquanto a criança olha fixamente para uma direção, e, então, lhe diz: Pai, o senhor esqueceu-se de falar do alto, de onde Deus tudo vê. Ele está nos olhando o tempo todo.

A Escritura nos diz que buscar a sabedoria do mundo é loucura, fazer-se sábio aos seus próprios olhos é inútil [Is 5.21], e buscar a glória do reconhecimento humano é tão fugaz quanto a névoa da manhã [Tg 4.14] e a erva do campo. Lamentavelmente é o que vemos. Não há qualquer problema em tornar-se um cientista, possuir muitos títulos acadêmicos. Toda verdade é verdade de Deus e glorifica a Deus se usada de acordo não com o acúmulo de informações adquiridas, mas de acordo com a sabedoria que Deus dá [Ec 2.26]. Temos a obrigação de sermos os melhores naquilo que fizermos pois servimos a Deus [Cl 3.24]. O problema está em querer, em buscar, em almejar ser sábio aos olhos dos homens, em acumular conhecimento sem com isso glorificar a Deus [Mt 6.2]. De que adianta encher a parede de diplomas, ter um extenso currículo no sistema Lattes, ter a aprovação de inúmeras bancas e, no final, não ter o nome no livro da vida e não contar com a aprovação do Senhor Jesus no dia do julgamento [Mt 25.26]. Paulo fez, anteriormente, três afirmações muito importantes: o cristão foi em tudo enriquecido pela palavra de Cristo [I Co 1.5], tem a mente do Senhor [I Co 2.16] e tem, finalmente, o Espírito de Deus que sonda as profundezas do Senhor [I Co 2.10] e testifica ao nosso espírito sobre quem somos [Rm 8.14] e nos diz que tipo de atitudes são esperadas de cada um de nós [Tg 4.17]. Mas saber não basta, é preciso saber o certo e colocá-lo em prática [Tg 1.22].

Inutilmente o homem acha que seu conhecimento, sua sabedoria das coisas terrenas pode dar-lhe alguma chance de se tornarem capazes de escapar da ira de Deus, como fizeram os homens de Babel, talvez pela lembrança e terror de um novo dilúvio, esquecendo-se da promessa de Deus de não mais destruir a terra de maneira semelhante [Gn 9.14-15] como se uma torre de barro cozido e betume pudesse resistir a outro cataclismo igual, caso Deus o enviasse. Sua astúcia, na verdade, só os enreda cada vez mais, só faz deles cada vez mais merecedores da ação punitiva de Deus. É como jogar xadrez seguindo, ao pé da letra, um manual para jogadores iniciantes enfrentando, do outro lado, o autor do próprio manual que tem larguíssima experiência. Ele saberá com antecedência dezenas de lances possíveis, e o xeque-mate é apenas uma questão de tempo.

É inútil a astúcia dos homens porque Deus conhece todos os pensamentos dos homens [Sl 139.4] e as motivações de seus corações. Não é possível enganar a Deus. Engana-se a justiça dos homens. Mas é impossível fugir à justiça divina. O homem consegue enganar até a si mesmo com um pouquinho de racionalização, escondendo seus propósitos reais sob os mais diversos argumentos [Hb 4.12]. Mas é impossível fugir do julgamento de Deus, que prometeu esclarecer todas as coisas [Ec 12.14], no tempo próprio de Deus [I Tm 5.24]. Já mencionamos que, antes mesmo que a palavra nos chegue à língua, isto é, antes que organizemos nossas idéias, Deus já conhece tudo o que iremos falar ou fazer. Um bandido pode fugir às forcas da lei porque é capaz de surpreendê-la. Mas ninguém consegue surpreender a Deus. Deus não está sujeito ao imponderável. Para Deus não existem possibilidades – é ele quem determina o que há de vir.

Outro motivo pelo qual a astucia dos homens é inútil porque os pensamentos dos homens são fúteis, pequenos, vãos, e, geralmente, inconsistentes. Epicurismo ou estoicismo? Racionalismo ou materialismo? Para cada problema os homens costumam apresentar diversas soluções, mas todas conflitantes em algum ponto. O que é apontado hoje como a grande solução logo se torna obsoleto e problemático. A grande verdade logo é ultrapassada por outra verdade que a exclui. Sempre foi assim o que saiu das mãos dos homens. A verdade definitiva dos homens logo tem que se deparar com outras grandes verdades definitivas que são igualmente contraditórias, até que os homens chegaram à conclusão de que não há verdade absoluta. E tenho que concordar, com uma ressalva: não há verdade absoluta que tenha origem no homem. É só isso o que podemos esperar de alguém que é passageiro. Como esperar certezas de alguém cujo coração é enganoso e corrupto [Jr 17.9]. A análise da vida e do mundo à partir de um engano não pode, de maneira alguma, produzir certezas. Rebeldia contra o autor da verdade, mesmo que não gostemos dele e dela, não é capaz de levar o homem a resultados corretos. Paulo demonstra o quão o homem é inconsistente quando expõe, de maneira crua e dura, a sua própria luta contra o pecado. Ele queria ser o modelo para todos os que creem, e sabe ser este o propósito de Deus com sua chamada [I Tm 1.16], exortando os crentes a imitarem-no naquilo em que ele conseguia imitar a Cristo [I Co 11.1: Sede meus imitadores, como também eu sou de Cristo] de maneira que outros também se sentissem motivados a glorificarem a Cristo [Mt 5.16], mas, mesmo afirmando que já não é ele quem vive, mas Cristo vive nele [Gl 2.20] continua lutando contra o pecado sem consegui-lo vencer completamente em sua própria carne [Rm 7.23], mas prossegue, sabedor que a vitória é certa [Rm 7.24-25]. O sábio apóstolo Paulo, capaz de falar várias línguas, conhecedor do oriente médio e da Europa, educado aos pés de um dos maiores mestres do seu tempo, Gamaliel [At 22.3: Eu sou judeu, nasci em Tarso da Cilícia, mas criei-me nesta cidade e aqui fui instruído aos pés de Gamaliel, segundo a exatidão da lei de nossos antepassados, sendo zeloso para com Deus, assim como todos vós o sois no dia de hoje], destaque entre os religiosos de sua nação [Gl 1.14: E, na minha nação, quanto ao judaísmo, avantajava-me a muitos da minha idade, sendo extremamente zeloso das tradições de meus pais] tem de admitir que tudo isto é nada, apenas um fardo [Fp 3.8], até que finalmente prostra-se aos pés de Cristo, rende-se a ele e encontra o que a religiosidade e o nacionalismo não lhe deu: alívio para sua alma cansada [Mt 11.28].

Muito antes de Paulo as Escrituras já afirmavam aquilo que ele teve que aprender: as astúcias, os pensamentos, os caminhos do homem conduzem à morte [Pv 16.25], lembrando que somente em Cristo temos o caminho de vida [Jo 14.6]. A decorrência logica desta futilidade dos pensamentos, das realizações e caminhos dos homens é o fato de que é um terrível engano gloriar-se nestas coisas [Jr 17.5]. Paulo insiste em demonstrar que os atalhos são perigosos e inúteis, com lobos vorazes à espreita, ao lembrar que ninguém deve se enganar

GLORIANDO-SE EM HOMENS

Tudo o que os coríntios possuíam era uma dádiva de Deus [Tg 1.17]. Entretanto eles esqueciam-se disso e se digladiavam tentando pertencer a escolas de pensamento, como era comum entre os gentios que buscavam influência, poder e prestigio, dividindo-se ao afirmarem pertencer a Paulo, a Apolo, a Pedro ou a um Jesus que eles mesmos criaram, fazendo acepção de pessoas [I Co 11.33]. Paulo lhes pergunta: que é Paulo ou Apolo, ou Pedro? E a contundente resposta é: meros instrumentos para conduzi-los à fé. Como instrumentos, ou como servos, nada podiam possuir. Eram inteiramente de Cristo, e Cristo os havia dado aos coríntios. A ênfase de Paulo é que homem algum era senhor da fé, do coração e da consciência de quem quer que seja, como ousadamente declarou Lutero na dieta de Worms, no alvorecer da reforma protestante do séc. XVI, correndo o risco de ser morto ali mesmo. Ele, Paulo, e os demais apóstolos, não queriam ser senhores de ninguém, como ele faz questão de afirmar [I Co 8.6]. Pelo contrário, eles se sentiam como instrumentos nas mãos de Deus, prontos a se deixarem gastar [II Co 12.15] e até mesmo viam como uma dádiva serem considerados dignos de sofrerem por causa de Cristo [I Pe 4.13].

CONFIEMOS NO DOADOR, NÃO NAS DÁDIVAS

É um evidente engano confiar em qualquer das coisas deste mundo em busca de satisfação espiritual, como bem atesta Salomão em todo o livro de Eclesiastes. Jesus nos adverte que, mesmo que o homem venha a ganhar o mundo inteiro, o que é uma impossibilidade absoluta, isto de modo algum resolve o problema maior de sua alma [Mc 8.36]. Tudo o que há no mundo é insuficiente para o resgate de apenas uma alma [Sl 49.7]. Este resgate só pôde ser pago por um preço, o preço mais alto, o sangue do próprio filho de Deus vertido numa cruz de injustiça [Mc 10.45]. Ao mesmo tempo Paulo afirma que tudo é dádiva de Deus para o bem estar de seus filhos. A questão que precisa ser levantada é: porque aqueles que hão de herdar o mundo se esforçam por tornarem-se servos destas mesmas coisas? Porque os herdeiros sujeitam-se à servidão de outros homens e suas ideias fúteis, de coisas que ajuntadas em montões perderão seu brilho e valor, e serão deixadas para trás? Porque os herdeiros da vitória de Cristo [I Jo 5.4] sujeitam-se a servir, direta ou indiretamente, à serpente que já teve sua cabeça esmagada? Nem homens nem objetos devem ser entronizados na vida do cristão, nem mesmo o tempo deve ser motivo de preocupação para os servos de Deus. Paulo afirma que tudo nos é dado. O passado já passou, as coisas velhas já passaram, tudo, em Cristo, foi feito novo [II Co 5.17] e portanto, andemos em novidade de vida [Rm 6.4].

O presente, de bonança ou ansiedade, de tranquilidade ou de lutas, é enfrentado na certeza da companhia do general invicto [Mt 28.20] que conduz seu povo de vitória em vitória, de glória em glória [II Co 3.18]. Nenhuma coisa da vida deve desanimar o cristão [Rm 8.38-39], nem mesmo a iminência da morte assustava Paulo [Rm 8.36]. O cristão deve estar pronto a enfrentar escárnio e zombaria [I Co 4.13], prisões e acoites [II Co 11.23]. Paulo via a morte não como uma derrota, mas como o momento de completar a sua carreira e afirmar que guardou a fé [II Tm 4.7] e assim receber das mãos do soberano Senhor a sua coroa de glória. Homens, coisas, situações do seu tempo ou do porvir: para Paulo tudo isto nada mais era do que a manifestação do senhorio de Cristo, a experimentação de sua boa vontade na vida daqueles que a ele se sujeitaram, de mente e coração [Rm 12.2] e se humilharam sob a sua poderosa mão [I Pe 5.6]. Tudo é nosso, diz Paulo. Certamente era-lhe incompreensível ver aqueles que tinham o próprio Deus como Senhor correndo atrás de meras migalhas de homens que nada tinham. Como entender tamanha correria, tamanha insatisfação, se a Palavra diz que aquele que tem Deus como pastor não tem carência de mais nada [Sl 23.1], porque aquele que entrega o seu caminho ao Senhor e nele confia dele recebe tudo o mais, tudo o que realmente necessita [Sl 37.5]. Ter o reino de Deus é ter tudo, e tudo o que tem é mero acréscimo. Uma vez que o objetivo de Paulo é nos advertir sobre os perigos do auto engano, ele declara que nem os pensamentos dos homens, nem mesmo os próprios homens, por mais amados ou influentes que sejam, tem qualquer chance de atingir o alvo estabelecido por Deus [Rm 3.23]. Como não podem atingir por si mesmos, muito menos podem fazê-lo por outras pessoas. E nisto que os coríntios cometiam grave erro, porque

O ENGANO NÃO CONDUZ AO ALVO CERTO

Se compararmos a caminhada cristã como uma jornada para casa, como a bíblia o faz [Fp 3.20] chamando-nos de peregrinos [I Pe 2.11] então devemos ser criteriosos na direção que tomamos. Quem quer ir para o norte não pode tomar uma condução que se dirige para o sul. Qualquer pessoa com um mínimo de inteligência consegue entender que é um absurdo cometer um erro destes. Como atingir o alvo proposto pelo Senhor usando meios que ele não estabeleceu? Lembremos o exemplo da morte de Uzá [I Cr 13.7-11]. A arca deveria ser levada pelos levitas, não em um carro de boi. Quando Davi fez da maneira correta as coisas correram bem e ele conseguiu levar a arca para Jerusalém.

Enquanto os coríntios disputavam entre si a quem seguiriam, a quem declarariam pertencer Paulo lhes lembra que há um só Senhor. Eles não pertenciam nem a Paulo nem a Apolo. Não deveriam ser devotos de homem ou mulher alguma, por mais importantes que tenham sido na historia da redenção. Como nos dias de Paulo, ainda hoje os homens continuam errando nesta importante área de suas vidas, continuam seguindo a Pedro, a Paulo, a Francisco, Antonio, José ou Maria. Recentemente vi uma postagem na internet que descreve bem o tamanho da tolice que é dizer-se pertencente a homens e não ao próprio Senhor Jesus. Duas pessoas, uma cristã evangélica e outra seguidora de certo personagem do panteão de objetos de culto romano conversavam, e a romanista pergunta: porque vocês insistem tanto em dar exclusividade a Cristo e não Buscam também o favor de sua mãe. A outra pessoa responde: se você precisar de um médico, e for ao consultório dele, e ali encontrar não o medico, mas a mãe dele, você se deixaria operar por ela? É evidente que não, responde a primeira. Então, como esperar que outra pessoa que não o salvador resolva nossos problemas espirituais? Não foi Pedro, nem Paulo, nem Apolo, nem Maria quem morreu por nós [I Ts 5.9-10]. Foi Cristo. Nenhum deles recebeu o nome acima de todo nome [Fp 2.9]. Somente diante de Jesus os joelhos devem dobrar-se e confessá-lo como Senhor [Fp 2.10].

Foi o sangue de Cristo o preço pelos nossos pecados. Ele nos comprou, somos dele. Mesmo sua mãe, Maria, orientou [porque já não orienta mais, está morta] as pessoas a buscarem-no e atenderem ao que ele mandar. E sua palavra diz que em ninguém mais há salvação [At 4.12]. Só é verdadeiro cristão quem é de Cristo. Só é cristão de verdade quem está em Cristo Jesus [II Co 5.17]. Ser encontrado em Cristo é o mais sublime alvo da vida de um cristão [Fp 3.8]. Jesus nos assegura que cuida de cada um dos que o Senhor lhe dá [Jo 10.28], recebendo-o e protegendo-o com seu poder.

BÊNÇÃOS DE PERTENCER A CRISTO

Ser encontrado em Cristo, pertencer-lhe, tem também fortes implicações no relacionamento do cristão com Deus. Significa ser transformado, deixando de ser mera criatura [Mc 16.15] para tornar-se filho de Deus [Jo 1.12]. Significa ser retirado da condenação e ser colocado em lugares celestiais [Ef 2.6]. Significa deixar de ser filho da ira para tornar-se parte do reino do filho do seu amor [Cl 1.13]. Mas isso só acontece na vida daqueles que são verdadeiramente de Cristo. Quem é de Paulo vai pro lugar onde todos os que não são de Cristo vão. Quem é de Pedro também vai para o mesmo lugar. Quem é de homem ou mulher não vai habitar nos lugares celestiais, mas sim no lugar de condenação, o inferno porque só passa da morte para a vida quem é de Cristo [Jo 5.24]. Só é feita nova criatura quem está em Cristo Jesus. Não existe outro meio de pertencer a Deus. O único é aquele que o próprio Deus estabeleceu, que é através de seu filho. Quem está no filho, quem o tem, tem a vida eterna. Por isso devemos tomar todo o cuidado e nos empenharmos para não deixarmos o caminho do Senhor e andarmos por atalhos. Eles são tentadores, mas são desvios da rota [Sl 14.3] e levam os incautos por jornadas mais longas, difíceis ou inseguras. Errar o caminho é fruto do desconhecimento, da ignorância [At 17.30], mas abandonar o reto caminho é desobediência, tolice e impiedade [Hb 10.29].

Já recebi muitas propostas para ganhar prêmios para os quais jamais me inscrevi. Já ganhei casas e carros que nunca recebi – nem fui buscar. Já me propuseram meios de ganhar dinheiro sem sair de casa e praticamente sem trabalhar, mesmo agora, sendo pastor há mais de uma década. Já me convidaram para pirâmides financeiras, firmas de representação onde eu teria apenas que conseguir outras pessoas que trabalhariam para mim ou que, por sua vez, conseguissem outras pessoas que trabalhariam por elas ou que por sua vez, e assim indefinidamente. E não é só na área financeira que os tais atalhos me aparecem. Também há atalhos morais, espirituais, eclesiásticos. Convites para encontros, cursos, congressos e eventos que prometem a solução para todos os problemas da vida e da Igreja. Só falta o selo das organizações Tabajara. Se a igreja não cresce, dezenas de propostas surgem, todas revolucionarias e imediatistas, como se o evangelho estivesse errado nestes séculos todos e o método miojo lhe fosse superior. Mas sabemos que quem come só miojo fica flácido e fraco, exatamente como quem se alimenta de um evangelho vazio de poder.

O que você quer para a sua vida espiritual e emocional? Fim dos problemas de relacionamento? Eu os tenho, queria que eles acabassem. Fim da letargia, apatia e falta de crescimento da Igreja? Eu quero vê-la crescer, quero que a Igreja logo se divida por falta de espaço, e não por falta de comunhão. Os crentes não estão colocando em prática suas dores e talentos? Eu quero uma igreja absolutamente amadurecida espiritualmente. Só que já sei que tudo isto não será resolvido num evento mágico de fim de semana, ou num curso rápido de 4 passos para " " [deixo aqui, propositalmente, o espaço em branco para você preencher como melhor lhe apetecer. O problema é que, embora concordemos com Paulo quando afirma que o crente anda por fé e não por vistas [II Co 5.07] acabamos sendo como mariposas atraídos pelo brilho da lâmpada, corremos em busca do que vemos e tocamos. Temos enorme fascinação pelo instantâneo, pelo caminho mais curto, mais fácil, menos íngreme. Queremos atingir as alturas, mas queremos ir de elevador. O caminho da obediência é difícil, e ao lado dele há outros caminhos, e muitos alegres caminhantes que nos parecem andar mais rápido. Não é esta a sensação que temos no transito congestionado, na fila do banco ou supermercado? Sempre haverá quem nos convide para o caminho mais fácil, e há muitos doutores em facilidades ao nosso redor. Chamo a isso de cultura do analgésico. Porque perder tempo tratando das causas se os sintomas podem ser aliviados com um simples Doril? Porque não ir direto ao alvo pretendido, mesmo passando por tudo o que estiver à nossa frente? Porque não comprar o diploma ao invés de assistir anos de aulas enfadonhas e fazer provas difíceis? Nossa geração é imediatista e é, também, preguiçosa. Preferimos o fast food ao trabalho de preparar o alimento quotidiano. Preferimos o café solúvel ao café torrado em casa. Queremos que alguém faca a resenha do livro que deveríamos ler. E espiritualmente queremos que alguém ande o caminho, que cresça, e que, depois nos leve nos ombros em 4 ou 5 passos rápidos para se chegar lá.

UM SÓ CAMINHO, VÁRIOS ATALHOS

É importante sabermos que não há atalhos para alcançar o alvo que Deus nos propôs. Há um caminho. Um só caminho. E este caminho não é seguindo homens influentes – seguir a homens é um atalho que vai dar no inferno. A vida espiritual de Paulo só me serve enquanto eu aprendo com ele como viver a minha própria vida. Seus exemplos são importantes, mas é a minha vida que eu devo viver. A obediência de Moisés, de Abraão e de tantos outros não me traz benefício além de me orientar como obedecê-lo também. As coisas da vida não são empecilhos, mas instrumentos para nosso crescimento. As tribulações fortalecem o cristão, provam sua fé [Tg 1.3], e, por isso, devemos suportá-las pacientemente [I Pe 2.20] e com bom ânimo.

Nossa necessidade de alimento espiritual só pode ser satisfeita com um exame das Escrituras [Jo 5.39], analisando-a criteriosamente como os bereanos [At 17.11] e não bebendo largos goles que nos são oferecidos por gurus carismáticos, que falam alto e com empolgação, mas sem conteúdo e sem vida. Seus ensinos são tão firmes quanto barracas de palha edificadas na areia da praia. O caminho do cristão é seguir após Jesus [Lc 9.23], mas isso exige abrir mão de tudo, deixar tudo para lado e estar disposto a nada ter além do sobrenome cristão. Não há mágica, como descobriu Simeão, o mago enganador [At 8.18-19], mas que era enganado por satanás em seu caminho de perdição [Pedro, porém, lhe respondeu: O teu dinheiro seja contigo para perdição, pois julgaste adquirir, por meio dele, o dom de Deus. Não tens parte nem sorte neste ministério, porque o teu coração não é reto diante de Deus].

Há caminhos que parecem direitos aos homens, mas não são os caminhos de Deus. Só o caminho de Deus conduz à vida. E este caminho é guardar os mandamentos de Jesus [Jo 15.14]. Mesmo que os outros caminhos lhe pareçam direitos [Pv 14.12] ou, como preferimos, mais diretos, mais rápidos, mais fáceis. Na caminhada espiritual não é o caminho mais seguido que é o melhor. O caminho que tem mais gente, o mais largo é, na verdade, o caminho dos muitos chamados, mas não é o caminho dos que foram escolhidos [Mt 22.14] pela vontade graciosa de Deus [Ef 1.4-5].

Nosso caminho é mais alto, mais íngreme, mais estreito, com menos gente. E às vezes só não estaremos sozinhos porque o próprio Senhor nos faz companhia [Mt 28.20]. Evitemos os atalhos porque eles não são os caminhos de Deus. Para o céu não existem atalhos. É como fazer musculação: alguns fazem exercícios constantes, durante um período longo, outros preferem anabolizantes. Os resultados dos primeiros são duradouros, mas os anabolizantes tem matado muitos do coração e, também, deixado pessoas flácidas, impotentes. Para dizermos de outra maneira: shows, marketing, efeitos visuais ou emocionalismo não produzem o que só a cruz de Cristo é capaz de produzir. Produz igrejeiros, mas não cristãos. Cristo nos chama para tomarmos a nossa cruz e segui-lo [Lc 9.23], e para isso não haverá substituto. Sem a cruz não há santidade. Sem a cruz não há salvação. Andar por outros caminhos é tentar anular a cruz, é anular a cruz para si, isto é, não usufruir de seus efeitos, de sua eficácia [I Co 1.17]. Já dissemos que o homem não mudou absolutamente nada desde os tempos dos faraós – também não mudou desde os dias do apóstolo Paulo. Se o homem não mudou em sua essência, Deus também não [Ml 3.6]. Seu propósito eterno continua sendo executado exatamente como planejado, sem necessidade de ajustes. Não adianta tentar alternativas, caminhos mais fáceis, atalhos. Não imaginemos que possamos zombar de Deus: colhemos aquilo que plantamos [Gl 6.7], chegamos ao fim dos caminhos que escolhemos, a menos que percebamos o erro e tornemos ao caminho certo.

Mas existem dois perigos que devem ser evitados, aos quais devemos estar muito atentos: a pressa, mesmo no caminho certo, pode produzir danos. Numa viagem o excesso de velocidade pode produzir feridas, tanto no bolso quanto no corpo. Quando nos referimos à agricultura, há tempo próprio para todas as coisas. Há tempo de arar, e tempo de semear. A pressa em plantar, fora do tempo ou sem o esforço do arar, pode produzir plantas fracas e com baixa produtividade. E era exatamente isso o que estava acontecendo em Corinto: um cristianismo superficial, embora de aparência relativamente produtivo, pois abundavam em manifestações extraordinárias, entretanto, ali não se encontrava o mais excelente caminho: o amor [I Co 12.31]. Faltava o exercício do amor que identificava o verdadeiro crescimento espiritual. Mais uma vez quero lembrar as palavras de Jesus: devemos nos esforçar por entrar pela porta estreita [Mt 7.13], andando no caminho estreito que conduz à vida. Não confunda ser liderado por homens que Deus escolhe e capacita por confiança cega à parte da verdade escriturística, mesmo que antenticada por sinais e maravilhas [II Ts 2.9] e com o poder de satanás enganando os incautos [Rm 16.18].

NÃO CONFIE NAS COISAS DESTE MUNDO

É importante que tenhamos em mente que não podemos confiar nas coisas deste mundo, sejam elas materiais, filosóficas, morais ou religiosas. Todas estas coisas são passageiras, e o que e passageiro não pode produzir o eterno. O material não é capaz de produzir qualquer bem espiritual. Quando abandonamos nossa confiança em coisas deste mundo, finalmente estamos prontos a lembrar a verdade fundamental que Paulo se esforçava por instruir os coríntios: eles pertenciam a Cristo, pois foi Cristo quem morreu por eles. Foi Cristo quem venceu a morte. Foi Cristo quem ressuscitou como penhor da nossa ressurreição [Ef 1.14].

Concluindo, enfatizo uma advertência e um apelo. Lembro aos amados que é imperativo pertencer a Cristo, estar em Cristo para poder estar em Deus só pode ser salvo quem recebeu Cristo como seu senhor. Se você está em Cristo tome cuidado para não escorregar, desviando-se pelos atalhos, porque você pode vir a sofrer dano. Como apelo me dirijo àqueles que ainda não estão no caminho, rogando-lhes que atendam ao chamado do Senhor através de seus servos [Lc 14.23]. Ouça a voz do meigo salvador que ainda está chamando para ir a ele [Mt 11.28], fazendo parte do seu aprisco que ainda tem as portas abertas [Jo 10.9]. Eis que hoje é o tempo sobremodo oportuno [II Co 6.2]. Qual será a sua estrada? Você crê em Jesus como seu único e suficiente salvador? Confessa Jesus como seu Senhor? [Rm 10.10]. Entregue definitivamente sua vida nas mãos de Cristo para que não venhas a perdê-la [Mt 16.25].

terça-feira, 19 de junho de 2012

PORQUE NÃO PARTICIPAMOS DAS TAIS MARCHAS PARA JESUS

SC-IPB-2006 Doc. CXLVIII – Quanto ao Doc. 161, 168 e 289 - Ementa: Consulta quanto ao movimento “Marcha para Jesus”, à veiculação do evento no Brasil Presbiteriano e à solicitação de posicionamento da IPB. Considerando:

1) que estabelece o art. 97 na alínea “m” e em seu parágrafo único;

2) apesar de serem realizados eventos em locais diferentes por outras lideranças evangélicas, existe certa unidade entre eles quanto à natureza, ao propósito, às datas e à teologia. Tanto o uso da marca e do nome “Marcha para Jesus”, quanto a inexistência de qualquer esforço para distinguir-se daquele realizado em São Paulo-Capital demonstram tal unidade.

3) que na “Marcha para Jesus” – SP houve participação de grupos gays que se consideram evangélicos, com ampla divulgação na imprensa, sem qualquer pronunciamento por parte daliderança do evento.

4) Que o caráter teológico do evento é contrário às Sagradas Escrituras e aos Símbolos de Fé da IPB, a saber:

a) Teologia da Prosperidade;

b) Confissão Positiva;

c) Batalha Espiritual (inclusive Espíritos Territoriais);

d) Teologia Triunfalista;

e) E outros,

O SC-IPB-2006 RESOLVE:

1)                    Pronunciar-se contrário à participação de seus concílios e membros na “Marcha para Jesus” e movimentos ou eventos de natureza teológica similar;

2)                  Determinar aos concílios e aos pastores que orientem suas igrejas para que não se envolvam com eventos e movimentos dessa natureza;

[…]

quinta-feira, 14 de junho de 2012

SANTUÁRIO DE DEUS SOIS VÓS

A02216 Não sabeis que sois santuário de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?

17 Se alguém destruir o santuário de Deus, Deus o destruirá; porque o santuário de Deus, que sois vós, é sagrado.

I Co 3.16-17

A Igreja evangélica brasileira vem, ultimamente, perdendo a compreensão de algumas verdades fundamentais. Algumas doutrinas muito importantes estão sendo substituídas por conceitos culturais de origem popular romanista e também, pagã. Por exemplo, podemos afirmar que a doutrina do sacerdócio, que, biblicamente, é o direito e a responsabilidade de cada cristão colocar-se diante de Deus sem intermediários, mas que a Igreja tem substituído pelo 'ministério' profissional, onde alguns são vistos como mais poderosos que outros. Outro exemplo é o conceito de santidade, de separação pessoal para Deus. A Igreja tem esquecido que ser santo é ser separado, e ser povo de propriedade exclusiva de Deus, e ser proclamador das virtudes de seu salvador e Senhor [I Pe 2.9: Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz]. A Igreja tem trocado esta maravilhosa doutrina pelo quase endeusamento de homes e mulheres midiáticos, especialmente nos últimos 20 anos, numa volta ao paganismo e seus semideuses, ou ao romanismo e seus "santos".

A Igreja tem sido ensinada a pensar assim através dos mais diversos meios, especialmente a televisão. Estas ideias fazem parte da cultura na qual a Igreja está inserida. Todavia, a Igreja não precisa e não deve ser um mero dado cultural, ela é, em sua essência, contra cultural e não precisa aceitar isso. O evangelho pode ser contra cultural ao se opor a valores de um determinado lugar e época quando estes são ofensivos a Deus, e pode, também, ser supra cultural, isto é, trazer uma mensagem que influencia a cultura, sem se deixar influenciar pela sociedade que a cerca [Rm 12.2: E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus].

A Igreja que Paulo conhecia em Corinto estava mergulhada em um mundo tão lascivo e pagão, tão permissivo em suas práticas, tão fútil em sua filosofia quanto o que nós conhecemos. Uma musica do grupo Rebanhão tem uma estrofe que diz que "de Ramsés a Darwin, o macaco não mudou, e o homem também não". A Igreja em Corinto tinha as mesmas dificuldades que a Igreja brasileira tem. Os embates culturais da Igreja brasileira também são vivenciados pela Igreja em Gurupi.

Mas, como ser vencedora neste mundo tão corrompido [Jo 16.33: Estas coisas vos tenho dito para que tenhais paz em mim. No mundo, passais por aflições; mas tende bom ânimo; eu venci o mundo]? A resposta é: a Igreja só pode ser superior à cultura se deixar-se formatar, em sua mente e coração, pela palavra de Deus – se tiver a mente de Cristo [I Co 2.16: Pois quem conheceu a mente do Senhor, que o possa instruir? Nós, porém, temos a mente de Cristo]. Se um dos problemas da Igreja em Corinto era a filosofia, podemos nos perguntar: o que a Igreja de Deus deve saber para vencer suas lutas? Que tipo de conhecimento deve caracterizar a mente da Igreja de Cristo? Já aprendemos que o conhecimento que o mundo pode obter através de sua filosofia, religiosidade ou ciência não os leva ao conhecimento de Deus [I Co 1.20: Onde está o sábio? Onde, o escriba? Onde, o inquiridor deste século? Porventura, não tornou Deus louca a sabedoria do mundo?] mas é uma rematada loucura [Rm 1.22-23: Inculcando-se por sábios, tornaram-se loucos e mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível, bem como de aves, quadrúpedes e répteis].

É fundamental outro tipo de conhecimento, e este conhecimento só é dado pelo próprio Deus [Mt 11.27: Tudo me foi entregue por meu Pai. Ninguém conhece o Filho, senão o Pai; e ninguém conhece o Pai, senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar] mediante o seu Espírito Santo [Jo 16.13: ...quando vier, porém, o Espírito da verdade, ele vos guiará a toda a verdade; porque não falará por si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará as coisas que hão de vir] que vem dar testemunho ao Espírito do homem convertido [Rm 8.16: O próprio Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus].

Infelizmente parece que a Igreja em Corinto estava se esquecendo disto. Percebo que não é muito diferente o que está acontecendo com o caminho da Igreja contemporânea, e, assim precisamos lembrar novamente que tipo de conhecimento deve estar na mente e no coração da Igreja de Cristo?

É fundamental enfatizar, em primeiro lugar, que tipo de conhecimento a Igreja possui e não pode esquecer. Lembremos que esta era uma Igreja rica do conhecimento da palavra e do Senhor Jesus [I Co 1.5: ...porque, em tudo, fostes enriquecidos nele, em toda a palavra e em todo o conhecimento]. Informação e conhecimento bíblicos não eram problemas para a Igreja coríntia. Tiveram mestres excelentes, como Paulo e Apolo. E, tão excelentes os consideravam que estavam ousando dividir a Igreja que é de Cristo por causa deles.

Paulo começa esta seção com uma pergunta contundente: vocês não sabem? Tanto mais contundente é pelo fato de eles todos estarem afirmando que tiveram mestres excelentes, cada grupo enfatizando a sabedoria do nome que escolheram. E Paulo lhes pergunta: vocês não sabem? Vocês não foram informados? Ninguém lhes instruiu? Eu não lhes ensinei? Apolo falhou? Onde anda a sabedoria dos discípulos de Pedro?

É claro que a resposta que eles poderiam dar é: sim, nós sabemos, nós fomos instruídos. Cabia-lhes apenas abaixar a cabeça e corar de vergonha [Dn 9.7-8: A ti, ó Senhor, pertence a justiça, mas a nós, o corar de vergonha, como hoje se vê; aos homens de Judá, os moradores de Jerusalém, todo o Israel, quer os de perto, quer os de longe, em todas as terras por onde os tens lançado, por causa das suas transgressões que cometeram contra ti. Ó SENHOR, a nós pertence o corar de vergonha, aos nossos reis, aos nossos príncipes e aos nossos pais, porque temos pecado contra ti] porque demonstrando que eram apenas alunos relapsos.

Eles sabiam, mas estavam agindo como se nada soubessem. Haviam se tornado meros ouvintes, deixando de ser praticantes daquilo que não lhes interessava [Tg 1.22: Tornai-vos, pois, praticantes da palavra e não somente ouvintes, enganando-vos a vós mesmos] numa espécie de cristianismo seletivo que é tudo, menos cristianismo. Estavam cometendo um erro terrível. Os homens naturais rejeitaram a verdade de Deus e colocaram no lugar suas mentiras [Rm 1.22-23: Inculcando-se por sábios, tornaram-se loucos e mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível, bem como de aves, quadrúpedes e répteis]. Israel sofreu quando os sacerdotes rejeitaram o conhecimento do Santo [Os 4.6: O meu povo está sendo destruído, porque lhe falta o conhecimento. Porque tu, sacerdote, rejeitaste o conhecimento, também eu te rejeitarei, para que não sejas sacerdote diante de mim; visto que te esqueceste da lei do teu Deus, também eu me esquecerei de teus filhos]. A Igreja em Corinto estava sofrendo por estarem escolhendo o mesmo caminho, o que não é diferente da Igreja atual que percebo estar se esquecendo que

É TEMPLO DO ESPÍRITO SANTO

A ênfase de Paulo ao questionar "não sabeis" enfatiza o não lembrar, o não levar em consideração na hora de fazer escolhas e tomar atitudes práticas. É muito mais falta de ação do que de conhecimento que ele está falando. Ele está afirmando, pelo contrário, que a Igreja sabia que cada cristão é santuário do Espírito de Deus. E eles entendiam bem o que era um santuário. Os pagãos [do meio do qual foram retirados – Ef 4.17: Isto, portanto, digo e no Senhor testifico que não mais andeis como também andam os gentios, na vaidade dos seus próprios pensamentos] costumavam viajar dezenas e até mesmo centenas de quilômetros para visitar templos em Atenas, Éfeso, Corinto e várias outras localidades.

O conceito de santuário

Em Corinto tinha uma grande quantidade deles – calcula-se em duas centenas. Mas os crentes daquele lugar haviam aprendido que os templos e seus deuses nada significam. Mas eles sabiam que todo templo tem um lugar especial, de acesso restrito, que era onde os sacerdotes tinham ou alegavam ter seu contato com as divindades. Era o santuário. E é justamente sobre isso que Paulo lhes questiona: eles haviam se esquecido que eram este lugar especial da habitação do Espírito de Deus? Não havia como os crentes afirmarem não saber. Dizer tal tontice era o mesmo que dizer-se não cristão [Rm 8.16: O próprio Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus] e entristecer sobremaneira o Espírito de Deus, da mesma maneira que a templolatria dos antigos israelitas o fazia [Jr 7.4: Não confieis em palavras falsas, dizendo: Templo do SENHOR, templo do SENHOR, templo do SENHOR é este] e a presença deste sentimento na igreja atual também o faz. Corinto havia se dividido, faltava amor, faltava comunhão, mas acreditavam que estava tudo certo porque se reuniam de vez em quando num salão que consideravam o templo. Destruíam o verdadeiro templo, morada do Espírito, para agradar-se de um falso, feito de paredes e portas.

A falta de alegria nas coisas santas

Por outro lado o desprezo pelas coisas santas também é um grave pecado, como Israel também cometeu ao considerar ser inútil servir a Deus [Ml 3.14: Vós dizeis: Inútil é servir a Deus; que nos aproveitou termos cuidado em guardar os seus preceitos e em andar de luto diante do SENHOR dos Exércitos?] a Igreja também precisa ser lembrada que cada cristão é, individualmente, santuário do Espírito de Deus e, comunitariamente, o edifício santo, o templo do Espírito, o corpo de Cristo. Os israelitas achavam penoso servir a Deus, por isso comparavam o culto com "andar de luto", quando, na verdade, na presença do Senhor há plenitude de alegria [Sl 16.11: Tu me farás ver os caminhos da vida; na tua presença há plenitude de alegria, na tua destra, delícias perpetuamente].

Templolatria x mundanismo

Nem templolatria nem mundanismo. Não podemos ser como os judeus do tempo de Jesus ou de Paulo que prezavam mais a construção do que ao próprio Deus, nem como os crentes que toleravam uma falsa religião travestida de cristianismo [Ap 2.20: Tenho, porém, contra ti o tolerares que essa mulher, Jezabel, que a si mesma se declara profetisa, não somente ensine, mas ainda seduza os meus servos a praticarem a prostituição e a comerem coisas sacrificadas aos ídolos]. Não podemos ser indiferentes à chamada de Deus para que os cristãos sejam santos [I Pe 1.16: ...porque escrito está: Sede santos, porque eu sou santo]. O cristão que se esquece de que é templo do Espírito é comparado a um animal, e isso com vantagem para o animal [Is 1.3: O boi conhece o seu possuidor, e o jumento, o dono da sua manjedoura; mas Israel não tem conhecimento, o meu povo não entende].

Uma resposta prática

Qual a resposta O questionamento de Paulo, "não sabeis vós" requer uma resposta. Ou ela é positiva, sabemos, e esta sabedoria vem a se expressar de maneira clara em santificação diante de Deus e paz com a Igreja [o que estava faltando em Corinto – Hb 12.14: Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor] ou ela é negativa, apagamos, entristecemos o Espírito dentro de nós quando desprezamos a palavra profética [II Pe 1.19: Temos, assim, tanto mais confirmada a palavra profética, e fazeis bem em atendê-la, como a uma candeia que brilha em lugar tenebroso, até que o dia clareie e a estrela da alva nasça em vosso coração]. Amados, nós sabemos quem somos. Sabemos o que somos. E sabemos o que devemos fazer [Tg 4.17: Portanto, aquele que sabe que deve fazer o bem e não o faz nisso está pecando]. Outra verdade fundamental que a Igreja está se esquecendo é que ela é não apenas o templo do Espírito, o santuário onde ele se manifesta e tem prazer de estar, mas é também

A HABITAÇÃO DO ESPÍRITO DE DEUS

Contraste com a crença gentílica

Paulo faz uso da cosmogonia pagã, do que os homens gentios acreditavam, para advogar a superioridade da fé cristã sobre as superstições gentias. É uma maneira de ensinar, brandindo a verdade sem precisar evidenciar o erro. Às vezes é preciso apontar o erro para que a correção seja eficaz [Gl 1.6-7: Admira-me que estejais passando tão depressa daquele que vos chamou na graça de Cristo para outro evangelho, o qual não é outro, senão que há alguns que vos perturbam e querem perverter o evangelho de Cristo]. Mas, diferente da crença gentílica, em que os seus deuses apareciam de tempos em tempos e em lugares específicos, os cristãos podiam contar com a presença constante de Deus, cumprindo a promessa de Jesus de orientar e guiar o seu povo [Jo 16.13: ...quando vier, porém, o Espírito da verdade, ele vos guiará a toda a verdade; porque não falará por si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará as coisas que hão de vir], dando-lhe amparo [Mt 28.20: ...ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século], sabedoria [Lc 12.11: Quando vos levarem às sinagogas e perante os governadores e as autoridades, não vos preocupeis quanto ao modo por que respondereis, nem quanto às coisas que tiverdes de falar] e poder [At 1.8: ...mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra].

O cristão como morada permanente

Paulo enfatiza de maneira maravilhosa que o cristão não apenas recebe a visitação do Espírito, mas é sua morada. A vida do cristão não é um salão de eventos onde o Espírito de Deus se manifesta de tempos em tempos. Num caso desses bastaria uma limpeza ou uma santificaçãozinha de fim de semana. Mas o cristão é a morada, a habitação permanente do Espírito de Deus. Ele não é aquele hospede que chega e a gente pede para não reparar na bagunça. Ele é o morador. É o Senhor que veio tomar conta daquilo que comprou por alto preço. Ele não é um visitante como às vezes costumamos pensar e até cantar dizendo que ele é bem-vindo em nosso meio [sê bem-vindo Jesus ao nosso meio, sua face queremos contemplar...] e pedindo para que ele entre em nossa casa. Ele é o Senhor que bate à porta, para fazer o banquete de posse e habitar permanentemente.  Deus veio estabelecer morada em nós, por isso precisamos edificar bem, renovar-nos mediante uma transformação diária.

O dono da casa

Certos conceitos podem nos parecer estranhos, por isso precisamos contextualizá-los. Para entender o que Paulo quis dizer quando falou da habitação de Deus em nós imagine que você era o proprietário de uma casa, e devia a hipoteca da mesma, a ponto de o banco encaminhar documentação para tomá-la porque você deve muito mais do que a casa vale. Imagine ainda que o dono do banco, um multibilionário, te faz uma oferta: ele te dará tudo o que possui de mais preciso, toda a fortuna que possui, garantindo a satisfação de cada uma das suas necessidades por toda a sua vida, e a única condição é que ele passe a residir em sua casa, e esta esteja permanentemente limpa e agradável. Você aceitaria uma proposta destas? É exatamente isto o que Deus faz conosco, nos dá o seu tesouro, seu filho Jesus Cristo. Anula a nossa dívida e ainda nos garante a inalcançável vida eterna. E enquanto o dia glorioso não chega nos sustenta na caminhada até lá. É a única condição é que recebamos seu filho. Que creiamos nele. Que o amemos de todo o nosso coração, alma e entendimento. Que quando não conseguirmos confessemos nossa falta de conformidade com sua vontade, corrijamos nossa direção e comecemos novamente de onde nos desviamos. Seu plano não é fazer uma visita, seu propósito é estabelecer uma morada permanente. À partir do momento em que a vida do cristão se torna propriedade de Jesus [Jo 10.28: Eu lhes dou a vida eterna; jamais perecerão, e ninguém as arrebatará da minha mão] devemos nos lembrar de uma terceira verdade imprescindível:

O TEMPLO DE DEUS É SAGRADO

Implicações de ser templo do Espírito Santo

Ser o templo de Deus, a morada do Espírito de Deus tem suas implicações. E creio que cada cristão sabe destas implicações, como os coríntios sabiam. Uma prova de que sabiam é que eles discutiam entre si sobre o que podiam ou não podiam fazer, onde poderiam ir o que poderiam comer. Mas não era esta a discussão principal entre eles. Ser templo do Espírito tinha implicações muito mais serias e importantes. Ser templo do Espírito significa ser povo de propriedade exclusiva de Deus.

Deus como protetor

Significa estar nas mãos daquele que pode proteger seu povo de todo mal [Sl 91.7: Caiam mil ao teu lado, e dez mil, à tua direita; tu não serás atingido] e satisfazer cada necessidade que venhamos a ter [Mt 6.7-8: E, orando, não useis de vãs repetições, como os gentios; porque presumem que pelo seu muito falar serão ouvidos. Não vos assemelheis, pois, a eles; porque Deus, o vosso Pai, sabe o de que tendes necessidade, antes que lho peçais], de maneira que não sintamos necessidade de mais nada [Sl 23.1: O SENHOR é o meu pastor; nada me faltará]. Significa ter companhia mesmo em meio às maiores provações e angústias [Sl 23.4: Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal nenhum, porque tu estás comigo; o teu bordão e o teu cajado me consolam]. Significa ser separado para servir a Deus e ao próximo mesmo em meio a um ambiente hostil, agressivo e opressor. Significa que quem ousar tocar no que é consagrado ao Senhor [Sl 17.8-9: Guarda-me como a menina dos olhos, esconde-me à sombra das tuas asas, dos perversos que me oprimem, inimigos que me assediam de morte] estará ofendendo ao próprio Senhor [At 26.15: Então, eu perguntei: Quem és tu, Senhor? Ao que o Senhor respondeu: Eu sou Jesus, a quem tu persegues].

A mordomia cristã

Mas isso não é tudo. Significa que nós, ao mesmo tempo templo e mordomos, temos a incumbência de cuidar bem do que nos foi confiado. O templo é sagrado, isto é, separado para uso que glorifique a Deus em tudo. Para o que é sagrado não há atividade profana. Todas as atividades são santas. Comer, beber, trabalhar, estudos e lazer, amigos e família, é tudo para a glória de Deus [I Co 10.31: Portanto, quer comais, quer bebais ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus] porque fomos enviados por Jesus da mesma maneira que ele foi enviado [Jo 20.21: Disse-lhes, pois, Jesus outra vez: Paz seja convosco! Assim como o Pai me enviou, eu também vos envio] e, assim, temos que ter o mesmo propósito [Jo 4.34: Disse-lhes Jesus: A minha comida consiste em fazer a vontade daquele que me enviou e realizar a sua obra]. Séculos de condicionamento religioso e ideológico nos condicionaram a pensar em coisas santas e profanas. Classificamos as ocupações como seculares ou espirituais. Julgamos as coisas como "da Igreja" é "de fora da Igreja", e acabamos sacralizando a construção e a instituição, ao mesmo tempo em que, em muitos aspectos, banalizamos o verdadeiro templo. É possível ver irmãos defendendo com unhas e dentes aquilo em que colocamos uma placa, mas sem dar qualquer valor ao que foi selado com o Espírito Santo.

A eternidade da aliança

É importante lembrarmos que as construções de tijolos podem ser destruídas – nenhuma delas durará eternamente, e enquanto estiverem de pé poderão ser usadas para outras finalidades na mesma maneira que usamos escolas para cultos. Paulo nos lembra que somos nós, pessoas, crentes, santos, eleitos, chamados, amados, irmãos, que somos o templo do Espírito. até aqui Paulo estava trazendo à memória dos coríntios aquilo que eles já sabiam [Lm 3.21: Quero trazer à memória o que me pode dar esperança]. A razão da sua esperança precisava ser reavivada porque eles estavam olhando para outras coisas, tiraram os olhos do autor e consumador da fé, para quem deviam olhar firmemente [Hb 12.2: ...olhando firmemente para o Autor e Consumador da fé, Jesus, o qual, em troca da alegria que lhe estava proposta, suportou a cruz, não fazendo caso da ignomínia, e está assentado à destra do trono de Deus], e passaram a olhar para pessoas, estilos, filosofias, rudimentos do mundo [Cl 2.8: Cuidado que ninguém vos venha a enredar com sua filosofia e vãs sutilezas, conforme a tradição dos homens, conforme os rudimentos do mundo e não segundo Cristo]. Desprezar estas verdades é correr riscos que não valem a pena. Paulo diz que antes da conversão, embora religioso, agira como inimigo de Deus [Fp 3.6: ...quanto ao zelo, perseguidor da igreja; quanto à justiça que há na lei, irrepreensível], e seu povo fazia a mesma coisa [Rm 10.2: Porque lhes dou testemunho de que eles têm zelo por Deus, porém não com entendimento] movidos por um zelo que rejeitava o conhecimento verdadeiro. Ao invés de edificar, estava se comportando como destruidor [Rm 14.20: Não destruas a obra de Deus por causa da comida. Todas as coisas, na verdade, são limpas, mas é mau para o homem o comer com escândalo]. É evidente que a exigência quanto a comida também se aplica a todas as demais coisas, como filosofias e preferências pessoais.

Tendo em vista estas três verdades fundamentais, quais devem ser as ações dos cristãos em relação à obra de Deus?

Preservar a obra

É obrigação do cristão não danificar o que já não lhe pertence. Paulo lembra aos coríntios que ninguém deve destruir ou fazer deteriorar o santuário de Deus. Se é verdade que o Senhor vindica os seus quando perseguidos pelos inimigos da fé, quanto maior responsabilidade deve ser cobrada daqueles que pertencem à Igreja. Um dos grandes problemas da Igreja de Corinto eram as divisões, e Paulo trata do assunto com a gravidade que merece, pois fomentá-las na Igreja era promover a dissolução da sociedade que Cristo criou com o preço do seu próprio sangue [Ef 2.14-16: Porque ele é a nossa paz, o qual de ambos fez um; e, tendo derribado a parede da separação que estava no meio, a inimizade, aboliu, na sua carne, a lei dos mandamentos na forma de ordenanças, para que dos dois criasse, em si mesmo, um novo homem, fazendo a paz, e reconciliasse ambos em um só corpo com Deus, por intermédio da cruz, destruindo por ela a inimizade].

A carne não é instrumento de edificação

Mas os coríntios estavam dividindo o edifício que o Senhor estabeleceu, agindo segundo a carne [Rm 8.13: Porque, se viverdes segundo a carne, caminhais para a morte; mas, se, pelo Espírito, mortificardes os feitos do corpo, certamente, vivereis] e sabemos que a carne milita contra o Espírito [Gl 5.17: Porque a carne milita contra o Espírito, e o Espírito, contra a carne, porque são opostos entre si; para que não façais o que, porventura, seja do vosso querer] e, assim, uma casa dividida não pode subsistir [Mc 3.24: Se um reino estiver dividido contra si mesmo, tal reino não pode subsistir]. É um pecado muito sério dividir o que o Senhor uniu a tal alto preço, contaminando a família da fé com os frutos da carne [Gl 5.19-21: Ora, as obras da carne são conhecidas e são: prostituição, impureza, lascívia, idolatria, feitiçarias, inimizades, porfias, ciúmes, iras, discórdias, dissensões, facções, invejas, bebedices, glutonarias e coisas semelhantes a estas, a respeito das quais eu vos declaro, como já, outrora, vos preveni, que não herdarão o reino de Deus os que tais coisas praticam]. Observe que das 15 obras da carne a maioria, 8, envolve destruição da unidade da Igreja. Destruir a unidade do corpo de Cristo é um pecado que requer a devida disciplina por parte do Senhor da Igreja.

Interesse pela unidade da Igreja

O cristão, que tem a mente de Cristo [I Co 2.16: Pois quem conheceu a mente do Senhor, que o possa instruir? Nós, porém, temos a mente de Cristo], deve se interessar pelas mesmas coisas que são do interesse de Cristo, afinal, não temos um Cristo esquizofrênico, que deseja uma coisa, nos dá sua mente para desejarmos outra. E sabemos que o interesse de Cristo é o bem estar, a edificação da sua Igreja.  Não é à toa que a Escritura nos exorta a batalhar pela fé que uma vez por todas foi entregue aos santos [Jd 1.3: Amados, quando empregava toda a diligência em escrever-vos acerca da nossa comum salvação, foi que me senti obrigado a corresponder-me convosco, exortando-vos a batalhardes, diligentemente, pela fé que uma vez por todas foi entregue aos santos]. O cristão sabe que Cristo morreu para estabelecer uma só Igreja [Ef 4.5: ...há um só Senhor, uma só fé, um só batismo], a sua Igreja [Mt 16.18: Também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela], o povo proclamador de sua vontade [I Pe 2.9: Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz]. A advertência paulina para os "destruidores" da unidade, não da Igreja do Senhor porque é impossível destruí-la, é que, na medida em que pecam, também eles sofrem, são disciplinados. Mais uma vez devemos lembrar que o verbo fteiro não implica em aniquilação como querem os adventistas e testemunhas de Jeová, nem tampouco a perda de salvação como ensinam os arminianos, mas significa que

A PUNIÇÃO É SEVERA

Podemos entender, do fato de que Deus é justo juiz, que quem comete um pecado grave será severamente punido. O principio que Paulo apresenta é que cada cristão que se colocar contra a unidade da Igreja será severamente punido por Deus. Como vimos anteriormente, um mau trabalhador sofre dano, isto é, sofre prejuízo, não tem a recompensa da aprovação de que é digno o trabalhador que exerce com dedicação o seu trabalho [Pv 22.29: Vês a um homem perito na sua obra? Perante reis será posto; não entre a plebe].

A ofensa foi feita a Deus

Imaginemos a seriedade com que Deus trata quem causa dano ao santuário do seu Espírito. Para efeito de comparação, no Antigo Testamento qualquer violação do templo era punida com a morte, mesmo que esta violação seja bem intencionada [Ne 6.11: Porém eu disse: homem como eu fugiria? E quem há, como eu, que entre no templo para que viva? De maneira nenhuma entrarei]. Seria correto supor que a violação do templo espiritual seria menos significativa ou menos ofensiva? É claro que não. Assim é de se esperar de cada cristão o batalhar pela fé, a firme oposição a heresias, a erros e até à pura e simples hipocrisia.

O ofendido disciplina o ofensor

As Escrituras nos lembram que somos o templo do Espírito, por isso santos. Se somos mesmo santos, não podemos ser profanados, e a profanação implica em disciplina, justa, inexorável [Ap 3.19: Eu repreendo e disciplino a quantos amo. Sê, pois, zeloso e arrepende-te]. Amados, longe de nós nos alarmarmos com a certeza da disciplina do Senhor sobre os profanadores do seu santo templo. Pelo contrario, devemos nos alegrar com a certeza de que o nosso Deus é realmente conosco, está não apenas presente ao nosso lado, mas está em nós. Veio não apenas nos visitar, mas fazer me nós morada permanente, para todo o sempre.

A certeza da disciplina do Senhor alegra o crente

Alegremo-nos porque somos o santuário onde Deus habita. O Espírito sela os crentes como propriedade exclusiva de Deus. Nossa alegria é fruto da certeza de que nosso nome está escrito nos céus [Lc 10.20: Não obstante, alegrai-vos, não porque os espíritos se vos submetem, e sim porque o vosso nome está arrolado nos céus]. Alegremo-nos pela certeza de que essa habitação é permanente. Não se trata de uma visita esporádica, mas de uma presença que se torna permanente pela vontade do Deus imutável.

Podemos viver na certeza de que Deus não vai nos abandonar, qualquer que seja o motivo. Podemos ter a convicção de que nada nos separará do amor de Deus [Rm 8.38-39: Porque eu estou bem certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as coisas do presente, nem do porvir, nem os poderes, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor].

A alegria é fruto da segurança em Cristo

Alegremo-nos porque Deus não permitirá que o santuário do seu Espírito seja violado impunemente. Ninguém escapará impune se ousar causar dano ao que Cristo está edificando [Os 2.10: Agora, descobrirei as suas vergonhas aos olhos dos seus amantes, e ninguém a livrará da minha mão]. Ninguém poderá arrebatar das mãos de Cristo o que pai lhe deu [Jo 10.28: Eu lhes dou a vida eterna; jamais perecerão, e ninguém as arrebatará da minha mão]. E tentar fazê-lo é uma blasfêmia contra o Senhor que é soberano.

De tudo isto, podemos então tecer algumas

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Alegremo-nos com as palavras de advertência do apóstolo aos cristãos. Um vigoroso alerta contra as divisões e um poderoso incentivo à unidade. É um absurdo pensar em crescimento se lutarmos uns contra os outros, como costuma acontecer com frangos feridos que se devoram mutuamente. Fazer parte da Igreja quer dizer estar sob seus cuidados, sob sua proteção, ser mantido pela graça de Deus. Fazer parte da Igreja de Cristo significa ter sobre si a bênção de Deus; significa receber a bênção de pertencer a um novo povo, uma nova comunidade – significa a certeza de morar numa nova cidade, habitar novos céus e nova terra. Lembremos as palavras do escritor aos hebreus, quando corremos de um lado para o outro e, às vezes, sacrificamos a comunhão dos santos [Hb 13.14-16]:

Na verdade, não temos aqui cidade permanente, mas buscamos a que há de vir. Por meio de Jesus, pois, ofereçamos a Deus, sempre, sacrifício de louvor, que é o fruto de lábios que confessam o seu nome. Não negligencieis, igualmente, a prática do bem e a mútua cooperação; pois, com tais sacrifícios, Deus se compraz.

Fazer parte desta Igreja significa ter nova vida, imperdível, plena de sentido, eterna. Se você já tem, glorifique a Deus em seu viver [I Pe 2.12: ...mantendo exemplar o vosso procedimento no meio dos gentios, para que, naquilo que falam contra vós outros como de malfeitores, observando-vos em vossas boas obras, glorifiquem a Deus no dia da visitação] e se esforce por vivenciar cada vez mais esta bênção. Se ainda não, entregue-se às mãos bondosas do Senhor, descanse nele [Mt 11.28: Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei], receba Cristo em sua vida [Jo 1.12: Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que crêem no seu nome] experimente a habitação do Espírito Santo e viva essa nova e plena vida [Jo 6.47: Em verdade, em verdade vos digo: quem crê em mim tem a vida eterna].

QUAL A CONSISTÊNCIA DA SUA OBRA?

_001A historia dos três porquinhos ilustra, entre outras coisas, o que as pessoas podem fazer com diferentes materiais e, ainda, qual a durabilidade destas edificações.

Há alguns anos o Brasil ficou impressionado com o desabamento de edifícios no Rio de Janeiro. Construídos pela empresa SERSAN, do ex-deputado Sérgio Naya. A empresa construiu os edifícios sem a base adequada, e usando material inadequado, como ferragens fora dos padrões especificados e, o pior e mais maldoso erro da empresa, a utilização de areia da praia que era proibida por causa da sua salinidade, que rapidamente corroeu os ferros e ocasionou o desabamento dos prédios. Resultado: ruína da empresa SERSAN, da carreira política do Sérgio Naya e ruina financeira de muitas famílias, além de vários mortos.

À partir destas informações olhamos para o texto sagrado de I Co 3.11-15 com a seguinte indagação: qual a consistência da maneira como estamos edificando na nossa vida?

11 Porque ninguém pode lançar outro fundamento, além do que foi posto, o qual é Jesus Cristo. 12 Contudo, se o que alguém edifica sobre o fundamento é ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno, palha, 13 manifesta se tornará a obra de cada um; pois o Dia a demonstrará, porque está sendo revelada pelo fogo; e qual seja a obra de cada um o próprio fogo o provará. 14 Se permanecer a obra de alguém que sobre o fundamento edificou, esse receberá galardão; 15 se a obra de alguém se queimar, sofrerá ele dano; mas esse mesmo será salvo, todavia, como que através do fogo.

Quais as verdades que podemos aprender deste texto? O que Paulo teria a nos dizer sobre esse texto se pudéssemos perguntar-lhe: Paulo, o que você quer mesmo nos dizer? A primeira pergunta é: qual o assunto do qual Paulo está tratando, de um modo geral? E a resposta é: o que a Igreja está fazendo com todos os dons que lhe tem sido confiados? Lembremos do que temos visto: Paulo já havia identificado a Igreja como uma lavoura, e, usando esta metáfora, mostrou que ele, Apolo e os demais, eram apenas cooperadores, uns com os outros, na lavoura de Deus, a Igreja. Enquanto ele plantou, Apolo e os demais regaram, mas a honra do crescimento vem de Deus. Em outro lugar Paulo faz uso da metáfora do corpo para ilustrar as diferentes partes que compõem o corpo [I Co 12:12 Porque, assim como o corpo é um e tem muitos membros, e todos os membros, sendo muitos, constituem um só corpo, assim também com respeito a Cristo. 13 Pois, em um só Espírito, todos nós fomos batizados em um corpo, quer judeus, quer gregos, quer escravos, quer livres. E a todos nós foi dado beber de um só Espírito. 14 Porque também o corpo não é um só membro, mas muitos] e, aqui, ele usa uma terceira maneira de olhar para a Igreja, como um edifício. E é usando esta comparação que ele mais uma vez pretende lembrar à Igreja em corinto algumas verdades que eles esteavam esquecendo. Há algo que é essencial a qualquer edifício que se pretenda construir com um mínimo de durabilidade: uma base sólida. Enquanto os coríntios discutiam quem era mais importante, se Paulo, Apolo ou Pedro, Paulo lhes diz que cada um tem seu lugar e importância. Um planta, outro rega, mas Deus é insubstituível porque é dele que vem o crescimento.

Podemos refletir sobre estas verdades à partir da seguinte pergunta: o que a Igreja está fazendo com o que Deus lhe tem proporcionado? Como parte desta Igreja precisamos entender que:

I. O ÚNICO FUNDAMENTO VÁLIDO É JESUS CRISTO

11 Porque ninguém pode lançar outro fundamento, além do que foi posto, o qual é Jesus Cristo.

Somente um tolo constrói alguma coisa sem estabelecer fundamentos. Jesus mostra isto ao contar a parábola do construtor [Mt 7.24-27:24 Todo aquele, pois, que ouve estas minhas palavras e as pratica será comparado a um homem prudente que edificou a sua casa sobre a rocha; 25 e caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e deram com ímpeto contra aquela casa, que não caiu, porque fora edificada sobre a rocha. 26 E todo aquele que ouve estas minhas palavras e não as pratica será comparado a um homem insensato que edificou a sua casa sobre a areia; 27 e caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e deram com ímpeto contra aquela casa, e ela desabou, sendo grande a sua ruína]. Para Cristo o ponto fundamental é: sobre o que a Igreja está edificando? Onde a Igreja está edificando? Qual é a sua base? Do ponto de vista de Cristo, e ele está certo, a única base realmente permanente é a Palavra de Deus. Jesus usa o símile "quem ouve a minha palavra é semelhante a", referindo-se àquilo que forma a base do pensamento, filosofia, dirigindo as escolas, as certezas, aquilo em que se confia, acredita, em que se coloca a fé. Jesus também afirma ser a base de todo fundamento da fé [Ef 2:20 edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo ele mesmo, Cristo Jesus, a pedra angular], aquele por meio de quem a fé vem [At 3:16 Pela fé em o nome de Jesus, é que esse mesmo nome fortaleceu a este homem que agora vedes e reconheceis; sim, a fé que vem por meio de Jesus deu a este saúde perfeita na presença de todos vós], o único caminho, a verdade exclusiva [Jo 14: 6 Respondeu-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim], o único que tem vida em si mesmo e pode dá-la a quem quiser [Jo 5:26 Porque assim como o Pai tem vida em si mesmo, também concedeu ao Filho ter vida em si mesmo].

Existem fundamentos bons e ruins. Fundamentos adequados e inadequados. No caso da Igreja o fundamento que foi estabelecido é o melhor disponível. Paulo, novamente, chama a responsabilidade de ser o iniciador do trabalho, pois foi ele o pioneiro, aquele que estabeleceu os fundamentos, a parte mais importante de um edifício, e o fundamento que ele estabeleceu é Jesus Cristo, a rocha eterna [I Pe 2:4 Chegando-vos para ele, a pedra que vive, rejeitada, sim, pelos homens, mas para com Deus eleita e preciosa]. Cristo é o único fundamento que vale a pena. Paulo adverte os seus discípulos que qualquer outro fundamento é inútil, e lembra que nem anjos nem ele tem o direito de estabelecer outro fundamento [Gl 1:8 Mas, ainda que nós ou mesmo um anjo vindo do céu vos pregue evangelho que vá além do que vos temos pregado, seja anátema. 9 Assim, como já dissemos, e agora repito, se alguém vos prega evangelho que vá além daquele que recebestes, seja anátema].

A base da Igreja é Cristo, só há verdadeira Igreja se ela está edificada sobre a fé no Senhor e salvador Jesus Cristo. Todo edifício tem que ter uma base, mas, normalmente, ela é a parte do edifício menos observada. Lamentavelmente a Igreja em corinto estava esquecendo a base para se preocupar com aspectos secundários da construção – bonitos, atrativos, coloridos e bem arrumados. Tudo isto é muito bonito, mas a base não deve ser esquecido. A SERSAN cometeu o equivoco de não se preocupar com a base da sua fundação. E tudo ruiu.

Paulo exclui como fundamento da Igreja todas as filosofias de seu tempo: platonismo, aristotelismo, estoicismo, epicurismo, neoplatonismo, mistérios orientais e todos os sofismas correntes. Isso também exclui as filosofias do nosso tempo, o modernismo, o materialismo, o existencialismo, o pós-modernismo e tudo o mais que possa aparecer. Só Cristo, só ele é o fundamento da fé. Só através dele alguém pode ter vida real e eterna [Jo 10:10 O ladrão vem somente para roubar, matar e destruir; eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância]. Não há outro fundamento, não pode haver outro fundamento senão tudo que for construído ruirá. Não importa qual seja o fundamento que tem usado neste momento, mesmo que ele pareça o evangelho [Gl 1:8 Mas, ainda que nós ou mesmo um anjo vindo do céu vos pregue evangelho que vá além do que vos temos pregado, seja anátema. 9 Assim, como já dissemos, e agora repito, se alguém vos prega evangelho que vá além daquele que recebestes, seja anátema], ele precisa ser substituído pelo único que tem valor: Jesus Cristo. Ele é o único fundamento que você precisa. Muita gente está construindo sobre todo tipo de fundamento, mas quantos estão edificando sobre o que realmente é eterno? Sobre o que realmente é permanente? Isso é especialmente importante numa época onde as pessoas estão edificando seu cristianismo sem Cristo, baseado no humanismo, no liberalismo teológico rejeitando a Palavra de Deus como autoridade.

II. HÁ DIVERSOS MATERIAIS DISPONÍVEIS

12 Contudo, se o que alguém edifica sobre o fundamento é ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno, palha,

Paulo estabeleceu os fundamentos da Igreja em Corinto. Entretanto, sobre este fundamento outros edificariam. Apolo, homem poderoso nas Escrituras, continuou o trabalho iniciado. Mas agora eles tinham que andar por si mesmos. Já não contavam com Paulo, não contavam com Apolo. Eles, dado o tempo decorrido, já não precisavam mais de tutores externos. Deveriam andar com seus próprios pés, fazer suas próprias escolhas. Eles deveriam escolher com que materiais edificariam suas vidas. Paulo cita vários [mas não todos] os tipos de materiais que eles poderiam usar. A questão que ele levanta é: o material que você está usando é valioso [ouro, prata ou pedras preciosas] ou não [madeira, feno ou palha]? Como sabemos que Paulo não está se referindo a um edifício concreto, mas está falando da vida da Igreja, devemos pensar: que tipo de materiais as pessoas estão usando para edificar suas vidas? O fundamento é um, Cristo, mas e os materiais escolhidos e a estrutura edificada? Cada um fará a sua segundo suas inclinações, interesses e dedicação.

Quando entramos em um edifício notamos, com uma rápida olhada, diversos materiais com os quais eles são edificados. Dependendo da riqueza do construtor encontramos ouro, prata, madeira, pedra, vidro, palha. Há elementos mais fáceis de trabalhar, mais leves de se transportar. Há aqueles que requerem maiores esforços, mas com maior ou menor habilidade, empenho de tempo, e esforços pode-se fazer construções bonitas e confortáveis. E é possível que cada um de nós esteja confortável com o que tem construído. Talvez estejamos satisfeitos com o que temos edificado. Talvez nos deleitemos com o brilho do ouro, com a placidez da prata, com a multiplicidade das cores e efeitos das pedras preciosas. Sei que há quem prefira a rusticidade da madeira, o cheiro do feno, a flexibilidade da palha. Qual material temos usado? A Igreja em Corinto estava dividida entre dois materiais: legalismo ou eloquência. Havia tendências libertinas e discriminação social. Havia ricos e pobres. Como é certo que Paulo não está falando de uma construção literal – não cita tudo que é possível usar, como ferro, areia, cimento – ele está chamando nossa atenção para os diferentes estilos de vida a que chamamos cristianismo.

Que tipo de filosofias tem orientado suas escolhas? Na época de Paulo ele lidou com o platonismo, com o aristotelismo, com o epicurismo, com o estoicismo e, já, com o nascente gnosticismo e suas muitas variantes, negando a encarnação [II Jo 1:7 Porque muitos enganadores têm saído pelo mundo fora, os quais não confessam Jesus Cristo vindo em carne; assim é o enganador e o anticristo] e a ressurreição de Jesus Cristo [I Co 15:12 Ora, se é corrente pregar-se que Cristo ressuscitou dentre os mortos, como, pois, afirmam alguns dentre vós que não há ressurreição de mortos? 13 E, se não há ressurreição de mortos, então, Cristo não ressuscitou. 14 E, se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação, e vã, a vossa fé; 15 e somos tidos por falsas testemunhas de Deus, porque temos asseverado contra Deus que ele ressuscitou a Cristo, ao qual ele não ressuscitou, se é certo que os mortos não ressuscitam]. Estas filosofias passaram, ressurgiram, novas começaram como o materialismo, cientificismo, o evolucionismo, o existencialismo e tantos outros ismos.

Quantos tipos de cristianismo existem? Não pensemos em preferencias litúrgicas, nem em ênfases teológicas – não é esta a questão no momento, ainda que cada tipo de cristianismo tenha sua própria maneira de expressão. O que precisamos entender é que, se o nosso cristianismo, se nosso estilo de vida, se os diferentes elementos que podemos usar para edificar sobre a rocha não estiverem de acordo com o plano do edificador, então, eles precisam ser mudados, pois o propósito de Deus é imutável [Ef 3:11 segundo o eterno propósito que estabeleceu em Cristo Jesus, nosso Senhor]. Cristo não vai mudar. Deus não vai mudar. Não esperemos o que é uma impossibilidade [Tg 1:17 Toda boa dádiva e todo dom perfeito são lá do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não pode existir variação ou sombra de mudança.] que o próprio Deus nos informa [Ml 3:6 Porque eu, o SENHOR, não mudo; por isso, vós, ó filhos de Jacó, não sois consumidos].

Qual tipo de material você tem usado mais comumente? Que os incrédulos se utilizem delas não é surpresa. Mas que os cristãos acabem dividindo a própria Igreja por causa desta palha é inaceitável. Os coríntios cometeram este erro. A Igreja do Senhor não deve cometê-lo novamente. Não importa se ouro ou prata, se madeira ou palha, se feno ou qualquer outra coisa. A Igreja deve se lembrar que está edificada sobre Jesus Cristo – e fazer uso dos materiais que Deus lhe deu para glória do Senhor e para seu próprio aumento.

III. TODA EDIFICAÇÃO SERÁ TESTADA

13 manifesta se tornará a obra de cada um; pois o Dia a demonstrará, porque está sendo revelada pelo fogo; e qual seja a obra de cada um o próprio fogo o provará.

Ao listar os diversos tipos de materiais que podem ser usados em uma construção Paulo deixa para os cristãos a reflexão sobre o que estão utilizando, se valiosos ou restolho. Não volta a repeti-los, mas logo adverte que o resultado terá que passar por uma "prova de fogo", isto é, uma prova diante da qual tudo o que é impuro e fraco será rejeitado. Todo construtor sabe que tipo de material pode usar e quais deve descartar, seja por inapropriado, seja por inaceitável. Não foi assim com Sergio Naya e sua empresa. Ele sabia que tinha que usar ferro de maior espessura, sabia que não podia usar areia da praia por causa da salinidade que corroeria o ferro muito rapidamente. Mas ele não levou nada disso em consideração, ou, provavelmente, levou em conta a economia que teria, levou mais em conta seus ganhos financeiros do que seu dever de obediência às leis e ao projeto previamente apresentado e aprovado.

Paulo inicia o verso 13 falando da manifestação do real valor daquilo que o cristão está edificando. A avaliação é para cada um, e este julgamento será no Dia, certamente o dia do retorno do Senhor Jesus [I Ts 5:4 Mas vós, irmãos, não estais em trevas, para que esse Dia como ladrão vos apanhe de surpresa] para exercer juízo [Hb 10.25:25 Não deixemos de congregar-nos, como é costume de alguns; antes, façamos admoestações e tanto mais quanto vedes que o Dia se aproxima]. O Senhor é senhor justo. Ele não deixa de retribuir a cada um segundo as suas obras. E para fazer isso ele tem que julgar o que eles construíram. Para o cristão o dia do retorno do Senhor é, certamente, um dia glorioso, um dia de alegria, mas será, também, o dia em que o Senhor exigirá a prestação de contas. Isso fica especialmente claro quando o Senhor conta a parábola dos servos e os talentos que cada um recebe. É o Senhor quem lhes fornece o material de trabalho – e por isso em plena justiça ele pode exigir a prestação de contas segundo a capacidade de cada um. Este detalhe precisa ser destacado: cada um recebeu material para trabalhar segundo a sua capacidade. Não há desperdício por parte do Senhor [Mt 25:15 A um deu cinco talentos, a outro, dois e a outro, um, a cada um segundo a sua própria capacidade; e, então, partiu]. O que recebeu 5 talentos trabalhou com os talentos recebidos – e teve seu trabalho aprovado na medida em que apresentou um bom resultado do uso destes talentos. A outro deu menos, mas exigiu resultados e aprovou-os na mesma proporção. A um deu menos ainda, sabia de sua capacidade, e exigiu-lhe o resultado da administração de menos responsabilidades. Seu problema foi não ter nada a apresentar – ter sido relapso, negligente e mau, julgando não a si mesmo, mas ao seu Senhor [Mt 25:24 Chegando, por fim, o que recebera um talento, disse: Senhor, sabendo que és homem severo, que ceifas onde não semeaste e ajuntas onde não espalhaste, 25 receoso, escondi na terra o teu talento; aqui tens o que é teu]. O problema não é devolver o que foi entregue, mas é nada fazer, não servir. De que adianta receber materiais para uma construção e ficar apenas a observar se eles estão guardados em um depósito seguro? Não podemos ser servos inúteis, congratulando-nos por não dar prejuízo, mas certos também de que nada fazemos. Apenas o não fazer já é um pecado contra o Senhor [Tg 4:17 Portanto, aquele que sabe que deve fazer o bem e não o faz nisso está pecando].

A prova é absolutamente rigorosa – por isso a metáfora do fogo, que queima a escória e mantém apenas o que é puro e valioso. Muitas vezes vemos coisas muito bonitas, mas construídas com materiais absolutamente perecíveis. Paulo diz que a essência desta construção será demonstrada, isto é, terá sua real natureza colocada diante dos olhos para ser analisada. O Senhor parece não estar interessado na quantidade, mas na qualidade, como podemos inferir da parábola dos servos em Mt 25.24-30. A idéia ali presente é que os dois primeiros produziram 100%. O servo mau e negligente nada produziu. Lembremos, é Deus quem nos dá todo o material necessário. Davi ilustra isto ao afirmar, logo depois de ter juntado todo o material necessário par a construção do templo, que nem ele nem o povo são nada, mas que a fonte de todas aquelas ofertas era o próprio Deus [I Cr 29:14 Porque quem sou eu, e quem é o meu povo para que pudéssemos dar voluntariamente estas coisas? Porque tudo vem de ti, e das tuas mãos to damos]. Tiago afirma que Deus é a fonte de toda boa dadiva, de todo dom perfeito [Tg 1:17 Toda boa dádiva e todo dom perfeito são lá do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não pode existir variação ou sombra de mudança].

A Igreja tem perdido tempo e esforços num ativismo, numa correria, e acaba produzindo muito, mas muita palha, nada que permaneça – e foi para produzir frutos permanentes que a Igreja foi chamada [Jo 15:16 Não fostes vós que me escolhestes a mim; pelo contrário, eu vos escolhi a vós outros e vos designei para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça; a fim de que tudo quanto pedirdes ao Pai em meu nome, ele vo-lo conceda]. As boas dadivas de Deus devem ser manifestas numa fé prática, numa fé que é avaliada, provada, e, pela graça de Deus, aprovada [Tg 1:3 ...sabendo que a provação da vossa fé, uma vez confirmada, produz perseverança].

IV. O BOM CONSTRUTOR SERÁ APROVADO

14 Se permanecer a obra de alguém que sobre o fundamento edificou, esse receberá galardão;

Paulo nos diz que "manifesta", isto é, tornada clara, patente, visível aos olhos de todo o mundo o trabalho realizado, da mesma maneira que é impossível esconder uma cidade edificada sobre o monte [Mt 5:14 Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder a cidade edificada sobre um monte]. É pelo resultado de sua obra que o edificador será conhecido [Lc 14:28 Pois qual de vós, pretendendo construir uma torre, não se assenta primeiro para calcular a despesa e verificar se tem os meios para a concluir? 29 Para não suceder que, tendo lançado os alicerces e não a podendo acabar, todos os que a virem zombem dele, 30 dizendo: Este homem começou a construir e não pôde acabar], se será aprovado ou rejeitado. Nenhum de nós contrataria para edificar uma casa um engenheiro cujas construções costumam desabar. Nenhum de nós contrataria um mestre de obras que sempre deixa suas construções pela metade. Nenhum de nós contrataria um pedreiro que constrói paredes em "S" e que se esfacelam ao menor toque, como castelos de areia. Ao que muito foi dado, muito será cobrado. Àqueles que nada tiverem para mostrar como resultado da confiança do seu Senhor restará a reprovação. Ao olharmos em retrospectiva percebemos que o fundamento foi posto, que os materiais estão dispostos – e que há até uma planta, uma orientação para como e o que construir. A Palavra de Deus nos dá o projeto, o roteiro a ser seguido e é nossa responsabilidade não nos desviarmos dele. Mas fundamento, roteiro e materiais abundantes não formam um edifício. É preciso que tudo isto seja organizado adequadamente.

Lembremos que Paulo escreveu esta carta aos santos, aos que creram em Cristo e foram enriquecidos nele e em sua Palavra. Paulo não está tratando, neste momento, de salvação ou reprovação. Está tratando de vida cristã. Está tratando de prática diária. O ponto é: como o cristão está edificando sobre o fundamento que está posto? Eles, mestres e membros da Igreja coríntia serão provados por Deus e devem ardentemente desejar esta aprovação do Senhor [Sl 135:15 Os ídolos das nações são prata e ouro, obra das mãos dos homens. 16 Têm boca e não falam; têm olhos e não vêem; 17 têm ouvidos e não ouvem; pois não há alento de vida em sua boca.18 Como eles se tornam os que os fazem, e todos os que neles confiam]. Se esta afirmação é aplicável aos idólatras, é razoável supor que o padrão de julgamento seja o mesmo em relação as falsos mestres [como podemos ver em todo o capítulo 2 da segunda carta do apóstolo Pedro]. A aprovação de Deus será com base na qualidade da construção. É por isso que muitos dirão, no último dia, Senhor, Senhor, e receberão dura reprovação do Senhor: nunca vos conheci [Mt 7:23 Então, lhes direi explicitamente: nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a iniqüidade].

Mas aqui Paulo não está falando de salvação, mas de galardão, de recompensa, da alegrai de apresentar-se diante do Senhor, reto juiz [II Tm 4:8 Já agora a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, reto juiz, me dará naquele Dia; e não somente a mim, mas também a todos quantos amam a sua vinda] que estabelecerá uma distinção entre os que edificaram bem e os que edificaram de qualquer jeito. Entre os que foram determinados na aplicação dos recursos recebidos e os que foram relapsos. Entre aqueles que poderão dizer: "completei a carreira, guardei a fé" [II Tm 4:7 combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé] e os que nada poderão dizer. O apóstolo é insistente ao afirmar que o fundamento que está posto é perfeito, é firme, imutável, pois é o próprio Cristo. O material com o qual a Igreja deve edificar também está à sua disposição e é perfeito [Ef 4:8 Por isso, diz: Quando ele subiu às alturas, levou cativo o cativeiro e concedeu dons aos homens] e abundante [Jo 3:34 Pois o enviado de Deus fala as palavras dele, porque Deus não dá o Espírito por medida]. O crente, deve, portanto, edificar. É interessante lembrar que não é mencionado quem deve providenciar o material – é dito apenas que cada um será julgado pelo uso do material que tem à sua disposição, isto é, as escolhas que faz.

Paulo afirma que, como prudente construtor, lançou o melhor fundamento – e diversos materiais estão disponíveis para edificar-se sobre este fundamento e devemos lembrar o que já foi dito anteriormente, que toda boa dádiva e todo dom perfeito são originários em Deus [Tg 1:17 Toda boa dádiva e todo dom perfeito são lá do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não pode existir variação ou sombra de mudança], e ainda que todos os recursos vem de Deus e apenas os usamos em sua obra [I Cr 29:14 Porque quem sou eu, e quem é o meu povo para que pudéssemos dar voluntariamente estas coisas? Porque tudo vem de ti, e das tuas mãos to damos]. E Paulo afirma ainda que cada um será julgado pelo uso feito. Nossa geração tem à sua disposição recursos inimagináveis pelo apóstolo Paulo. Na maior parte do mundo não há impedimentos ou proibições para que o cristão viva sua fé, pelo contrário, cobra-se dele esta vivência. Temos todas as informações que precisamos – todo tipo de informação, sejam elas técnicas ou tecnológicas. Para o cristão compromissado com o Senhor a provação é não apenas inevitável mas absolutamente desejável, porque ele sabe que o seu Senhor não julga segundo as aparências [Jo 7:24 Não julgueis segundo a aparência, e sim pela reta justiça], com equidade [Sl 17:2 Baixe de tua presença o julgamento a meu respeito; os teus olhos vêem com eqüidade].

Paulo coloca duas condicionais para que alguém tenha a sua obra aprovada, independente dos recursos:

· Sua obra tem que permanecer – grande ou pequena, vistosa ou simples, sua obra tem que permanecer, tem que permanecer de pé ao ser provada, pois foi para isso que o fomos chamados, para darmos frutos permanentes [Jo 15:16 Não fostes vós que me escolhestes a mim; pelo contrário, eu vos escolhi a vós outros e vos designei para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça; a fim de que tudo quanto pedirdes ao Pai em meu nome, ele vo-lo conceda].

· Sua obra tem que ter sido edificada sobre o fundamento posto, que é Jesus Cristo. É importante lembrar que nenhuma obra permanecerá se não for edificada sobre o Jesus Cristo – mas ainda assim há as que não permanecerão, mesmo se edificadas sobre a base adequada. Ninguém é chamado para estabelecer novos fundamentos, para sermos criativos ou cheios de novidades. Quando Davi cometeu este equívoco e Israel teve que chorar a morte de Uzá [compare I Cr 13.7-11 com Ex 25.10-16]. Lembremos as palavras de advertência do Senhor: seus mandamentos foram dados para serem cumpridos à risca [Sl 119:4 Tu ordenaste os teus mandamentos, para que os cumpramos à risca].

V. A OBRA INÚTIL SERÁ REJEITADA

15 se a obra de alguém se queimar, sofrerá ele dano; mas esse mesmo será salvo, todavia, como que através do fogo.

Como já mencionamos, não se trata de discutir se a pessoa receberá ou não a salvação – ainda mais que sabemos que ela não se dá por obras, mas pela graça de Deus [Ef 2:8 Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; 9 não de obras, para que ninguém se glorie]. Todos os eleitos do Senhor serão salvos – e como a salvação é dada pela graça, para quem Deus quer, para pecadores indignos, isto independe de obras. Mas há cristãos que não se dedicam, não servem como deveriam, edificam sobre a rocha com a palha das filosofias de seu tempo, sobre a confiança de uma religiosidade morna e muitas vezes sem sentido.

A palavra nos ensina uma possibilidade bem desagradável de vivenciar: a de que aquilo que estamos nos esforçando tanto para fazer pode não ter valor algum. Nossa obra pode ser queimada, não passando com sucesso pela prova do Senhor. Não se trata da mesma rejeição dada aos obreiros da iniquidade, mas de crentes que edificam de maneira relapsa, irresponsável, impensada e inconsequente. Fazem de qualquer jeito como se não estivessem servindo ao Senhor [Cl 3:23 Tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo o coração, como para o Senhor e não para homens, 24 cientes de que recebereis do Senhor a recompensa da herança. A Cristo, o Senhor, é que estais servindo]. Quando o Senhor avaliar o que estamos fazendo é certo que rejeitará muito do que estamos fazendo, mesmo que com muito esforço e boas intenções – mas aqui a palavra chama a atenção para o fato de que escolhas deliberadas estão sendo feitas para a feitura de algo que sabe-se desagradará ao Senhor. Não há como esperar a aprovação de Deus numa situação destas. É como fazer uma oração para pedir que uma falcatrua dê certo e ainda atribuir o resultado à ação de Deus, como aconteceu no escândalo recente no Distrito Federal.

Ser salvo como que através do fogo indica alguém que obteve a salvação de uma maneira já inesperada, em que ninguém acreditava mais, como se escapando de um incêndio através das chamas. A expressão sofrerá ele dano indica o contrário dos que obterão galardão. Mas quais são os requisitos para que aquilo que fazemos seja não seja rejeitada. Se já dissemos os requisitos para que seja aceita [estar solidamente edificada em Cristo e ter valor permanente] podemos, entretanto, ir mais adiante e buscar, nesta mesma carta, informações adicionais.  Cristo enriquece a sua Igreja [I Co 1:5 ...porque, em tudo, fostes enriquecidos nele, em toda a palavra e em todo o conhecimento] e a motivação da Igreja em servi-lo é decorrente do que ele já tem feito por ela. Nossa motivação deve ser, em primeiro lugar, a glória de Deus [I Co 10:31 Portanto, quer comais, quer bebais ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus], usando com fidelidade as suas dádivas, com pureza de coração sem deixar misturar nada impuro. O profeta Micaías colocou como meta de sua vida nada fazer além da vontade do Senhor, só falar o que o Senhor ordenasse. E sua historia continua luzindo na bíblia – ao contrario do que fizeram inúmeros outros de sua era.

Devemos nos lembrar que para com Deus a nossa obrigação é levar o melhor. Malaquias adverte os judeus de seu tempo porque eles levavam para Deus o coxo, o dilacerado, as sobras ou aquilo que rejeitavam. É isto não é honrar a Deus. Para Deus, o melhor, eis a exortação de Malaquias. Para quem nos dá não apenas o fundamento, mas, também, o material, então cabe-nos fazer o melhor. Isto me faz lembrar uma frase muito comum, que é dizer que tem "muita fé" em alguma coisa. Só que uma fé equivocada, depositada numa esperança inútil, certamente conduzirá a lugar algum, gerando somente frustração e nada mais. Era de se esperar que, se a obra de alguém não passasse pela prova, ele seria destruído junto com sua obra, mas estamos falando de um Deus gracioso e seu relacionamento com aqueles que resolveu salvar, tornando-os seus filhos, para isso pagando um altíssimo preço. Eles serão salvos – mas sem recompensa, sem galardão. Serão salvos, como todos os demais, pela graça, entretanto sem terem experimentado a alegria de terem, aqui e agora, trabalhado o dia inteiro para o dono da vinha já recebendo a participação na colheita e, ainda, na certeza de ter mantimento para levar para casa.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como a Igreja de Deus, quase 2000 anos depois, pode entender e colocar em pratica este ensino? O que é sem sombra de dúvida é que o fundamento permanece, ele ainda está à nossa disposição, porque o fundamento é o próprio Cristo, e nenhum outro fundamento pode ser colocado. Também é sem sombra de dúvidas que temos à nossa disposição todos os elementos para a construção que devem ser usados sabiamente [Lucas 16.9 E eu vos recomendo: das riquezas de origem iníqua fazei amigos; para que, quando aquelas vos faltarem, esses amigos vos recebam nos tabernáculos eternos], os dons e talentos de Deus para nós [Rm 11.29 ...porque os dons e a vocação de Deus são irrevogáveis]. Também não podemos duvidar de que, de tudo quanto fizermos, prestaremos contas [Ec 12.14 Porque Deus há de trazer a juízo todas as obras, até as que estão escondidas, quer sejam boas, quer sejam más], mesmo que sejam apenas palavras [Mt 12.36 Digo-vos que de toda palavra frívola que proferirem os homens, dela darão conta no Dia do Juízo]. Resta-nos sermos dedicados, fieis no uso destes materiais que temos recebido, porque cada um será cobrado na medida da abundancia do que lhe foi confiado. A melhor opção é ser firme e inabalável, e trabalhar constante e fielmente, na certeza de que, se feito no Senhor, nosso trabalho não será em vão e produzirá abundantemente [I Co 14.58 Portanto, meus amados irmãos, sede firmes, inabaláveis e sempre abundantes na obra do Senhor, sabendo que, no Senhor, o vosso trabalho não é vão].


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