Todos conhecem a historia de Chapeuzinho Vermelho, que foi incumbida por sua mãe de levar mantimentos para a avó que residia numa floresta, dando-lhe instruções claras para que se mantivesse segura. Entretanto, Chapeuzinho Vermelho só foi enganada porque estava predisposta ao auto engano. Ela tinha sido advertida sobre qual o caminho mais seguro e os riscos de se falar com estranhos. E ela desobedeceu às orientações recebidas.
Nos crimes de estelionato, ou o popular conto do vigário, há um fator comum a maioria das vítimas: a grande maioria só foi iludida porque acreditava estar levando grande vantagem, ganhando algo de maneira rápida e fácil. Acreditando estarem enganando, estavam, na verdade, sendo presa fácil para os enganadores. É este o princípio usado pelos espertalhões nas famosas mensagens de celular afirmando que você ganhou casas, carros e outros prêmios. Se eu realmente tivesse ganho cada casa e carro que já me informaram serem meus seria dono de uma frota e de uma cidade. E é justamente sobre o perigo do autoengano que o apóstolo Paulo nos fala:
18 Ninguém se engane a si mesmo: se alguém dentre vós se tem por sábio neste século, faça-se estulto para se tornar sábio. 19 Porque a sabedoria deste mundo é loucura diante de Deus; porquanto está escrito: Ele apanha os sábios na própria astúcia deles. 20 E outra vez: O Senhor conhece os pensamentos dos sábios, que são pensamentos vãos. 21 Portanto, ninguém se glorie nos homens; porque tudo é vosso: 22 seja Paulo, seja Apolo, seja Cefas, seja o mundo, seja a vida, seja a morte, sejam as coisas presentes, sejam as futuras, tudo é vosso, 23 e vós, de Cristo, e Cristo, de Deus.
I Co 3.18-23
O apóstolo Paulo começa esta passagem com uma advertência direta aos crentes: "não vos enganeis", "ninguém se engane a si mesmo". Existem uma pessoa a quem é muito difícil enganar, e uma a quem é impossível: a si mesmo e a Deus. Tem gente que consegue enganar a muitas pessoas por muito tempo – mas tem alguns que conseguem enganar a pessoa que lhes conhece melhor: a si mesmos. É evidente que tal autoengano é altamente danoso a si mesmo. Assim como em assuntos materiais, comerciais, profissionais, emocionais e tantos outros é possível enganar-se a si mesmo, espiritualmente também pode acontecer de alguém estar se enganando, julgando-se por um padrão deturpado e inadequado, muito inferior aos critérios estabelecidos pela palavra de Deus. Inúmeros estão professando uma religião vã e vazia, seguindo rituais e regras, mas com o coração longe do Senhor [Mt 15.8]. Há muitos no lugar certo, na hora certa, mas com a motivação errada. Mas como é possível enganar-se em questões espirituais. Um dos meios e acreditar somente nas suas próprias impressões, experiências, capacidades e conclusões. Uma questão que se faz pertinente é: é possível que pessoas sinceras, estejam equivocados em questões espirituais?
O Novo Testamento apresenta-nos dois personagens que, apesar de seu zelo e sinceridade, estavam errados em sua religiosidade. E é curioso que ambos estejam envolvidos com a Igreja de Corinto. O primeiro deles é Paulo e seu extremado zelo farisaico [Fp 3.4-6]. O segundo é Apolo, que conhecia apenas o batismo de João Batista [At 18.24-25]. Eram sinceros, mas estavam errados. A bíblia também fala de gente insincera tentando parecer cristã, como Simão, o enganador [At 8.9] e Judas Iscariotes, que, embora discípulo de Jesus, roubava da bolsa o dinheiro que havia para a manutenção de Jesus e dos apóstolos [Jo 12.6]. Vamos nos deter apenas no estudo daqueles que são sinceros. Eles precisam ser alertados para que corrijam seus caminhos. Os insinceros precisam ser advertidos do julgamento, pois são como joio no meio do trigo [Mt 13.30] e precisam se arrepender. Estes precisam ser evangelizados e convertidos [At 26.20]. Como um cristão pode deixar-se enganar em sua vida espiritual? Paulo adverte os coríntios a esse respeito e suas advertências servem para os crentes do Senhor que se reúnem aqui na Igreja Presbiteriana de Gurupi e para todos os demais. Diz-nos ele que a primeira maneira de as pessoas se enganarem é segundo suas inclinações pessoais e carnais
SENDO SÁBIO NESTE SISTEMA DE PENSAMENTO
Nos dias de Paulo dois sistemas de pensamento predominavam. Dois métodos de enxergar o mundo, com algumas variações, influenciavam a cultura, a ética e a religião do império romano do séc. I.
O primeiro sistema de pensamento prevalecente na época, o epicurismo também pode ser encontrado na bíblia desde os dias de Noé [Lc 17.27]. A sistemática, racionalização e organização filosófica desta cosmovisão leva o nome do filósofo grego Epicuro, que defendia a idéia de que a carne, a matéria, não tem utilidade alguma e, portanto, não precisa se cuidados morais ou espirituais, não devendo se submeter a regra alguma, podendo ser degradada da forma que se desejar porque seria apenas a prisão do espírito, este sim tão bom que não poderia sofrer qualquer espécie de mal ou degradação. Se a carne é irrecuperável, então não haveria razões para se cuidar dela. E seus discípulos foram levando isto às últimas consequências, visando apenas satisfazer seus apetites, com ou sem excessos. A máxima era: faça o que te dá prazer, faça o que quiseres, quando e quanto puderes. Estas idéias estavam presentes na igreja e podem ser vistas inclusive na celebração da ceia na comunidade cristã em Corinto [ceia que não era tão comunitária assim, como podemos ver em I Co 11.20-22].
O segundo sistema de pensamento vigente nos dias do apóstolo Paulo, menos platônico e mais aristotélico, também tinha seus atrativos para os cristãos e levava o nome de estoicismo, defendendo o oposto exato do epicurismo, isto é, embora partilhassem das mesmas idéias quanto à natureza animal e espiritual do homem, entendia que o espírito, por ser superior, deveria exercer domínio sobe a carne, subjugando-a e negando-lhe a realização de suas vontades. Ceder aos ditames da carne era sinônimo e evidência de fraqueza, de falta de caráter. Viviam com o básico e muitas vezes negavam-se mesmo os prazeres lícitos, com abstinência de alimentos, casamento, etc. Embora Paulo pareça um estóico em determinados momentos [I Co 9.27] o que ele defende, na verdade, e que o cristão deve exercer o fruto do espirito, tendo autocontrole [Gl 5.23] opinião que é compartilhada pelo apóstolo Pedro [II Pe 11.3-8]. Paulo incentiva o bom testemunho, [I Tm 3.7], a luta contra os apetites carnais, contra o pecado [Rm 7.22-25], mas não a renúncia às alegrias da vida comum [Fp 2.2]. Podemos perceber que essas ideias se apresentavam também dentro da Igreja, tanto com matizes gregos quanto através dos legalistas judaizantes.
O EVANGELHO COMBATE FILOSOFIAS VAZIAS
Neste contexto a proclamação do verdadeiro evangelho faz diferença. É o evangelho do Deus que se fez carne, que assumiu uma existência material, podendo ser tocado, visto, esmurrado, vilipendiado, chicoteado e pregado em uma cruz era visto como loucura pelos gentios, um absurdo e negado pelos sábios que chamavam os cristãos de vis e ignorantes, ao mesmo tempo em que evidenciavam sua tolice adorando imagens [At 17.22: Então, Paulo, levantando-se no meio do Areópago, disse: Senhores atenienses! Em tudo vos vejo acentuadamente religiosos], endeusando os imperadores e personagens míticos, e exigindo dos cristãos e judeus que adorassem aquilo que consideravam má, a matéria. Onde está a sabedoria disso? Onde está a sabedoria dos homens do nosso tempo que se proclamam cristãos mas que professam um cristianismo rebelde, impuro porque cheio de superstições e imagens, vazio porque destituído do verdadeiro Cristo, adorando outro [Gl 1.6-9], não segundo as escrituras.
A tendência greco-romana da Igreja coríntia [vale ressaltar que nossa cultura, latina, também é de formação greco-romana] os estava levando a seguir filosofias vazias, religiões vãs, desembocando numa sabedoria mundana e inútil de um mundo que, na prática negava a Cristo chegando ao ponto de alguns não aceitarem a pregação da encarnação [I Jo 4:2-3] e da ressurreição de Cristo [I Co 15.12] exatamente como os gentios faziam [At 17.32]. Como chamar isso de cristianismo se estavam trocando a bênção da comunhão com Deus pela comunhão com o mundo [I Jo 2.15].
A segunda maneira das pessoas se enganarem é buscar
ADQUIRIR SABEDORIA QUE É LOUCURA DIANTE DE DEUS
Desde o Éden a humanidade tem cometido este erro irracional. Ao invés de ouvir ao criador, prefere dar ouvidos à criatura [Gn 3.4-5]. Ao saírem do jardim continuam cometendo os mesmos erros [Gn 4.7]. O problema, diz-nos o apóstolo Paulo, é que inculcam-se por sábios, tornam-se loucos, metem em sua cabeça que são mais sábios que Deus [Rm 1.22]. Esquecem-se das advertências do Senhor de que os seus caminhos são mais elevados do que os caminhos dos homens [Is 55.8-9]. Esquecem-se de que o Senhor tem uma visão panorâmica de toda a situação pois habita num alto e sublime trono [Sl 113.5] de onde se inclina para ver o que fazem os filhos dos homens [Sl 113.6]. É uma tolice tão grande quanto oferecer um bolo feito com ingredientes estragados, ovos podres e feito em recipientes contaminados a quem estava presente a todo o processo de feitura dos mesmos. Isto me traz à memória a anedota de um ladrão que queria ensinar seu filho a roubar. Na escola bíblica o garoto havia aprendido que Deus tudo vê, do alto do seu trono. O pai, então, o leva para uma de suas "aventuras" e lhe diz que, antes de saltar um muro para invadir uma propriedade, deve olhar para a direita, esquerda e para trás para se certificar de que não há nenhuma testemunha. Como não vê atitude alguma na criança, pergunta-lhe qual o problema. O filho questiona-o se não se esqueceu de nenhuma direção. O pai repete o ensinamento enquanto a criança olha fixamente para uma direção, e, então, lhe diz: Pai, o senhor esqueceu-se de falar do alto, de onde Deus tudo vê. Ele está nos olhando o tempo todo.
A Escritura nos diz que buscar a sabedoria do mundo é loucura, fazer-se sábio aos seus próprios olhos é inútil [Is 5.21], e buscar a glória do reconhecimento humano é tão fugaz quanto a névoa da manhã [Tg 4.14] e a erva do campo. Lamentavelmente é o que vemos. Não há qualquer problema em tornar-se um cientista, possuir muitos títulos acadêmicos. Toda verdade é verdade de Deus e glorifica a Deus se usada de acordo não com o acúmulo de informações adquiridas, mas de acordo com a sabedoria que Deus dá [Ec 2.26]. Temos a obrigação de sermos os melhores naquilo que fizermos pois servimos a Deus [Cl 3.24]. O problema está em querer, em buscar, em almejar ser sábio aos olhos dos homens, em acumular conhecimento sem com isso glorificar a Deus [Mt 6.2]. De que adianta encher a parede de diplomas, ter um extenso currículo no sistema Lattes, ter a aprovação de inúmeras bancas e, no final, não ter o nome no livro da vida e não contar com a aprovação do Senhor Jesus no dia do julgamento [Mt 25.26]. Paulo fez, anteriormente, três afirmações muito importantes: o cristão foi em tudo enriquecido pela palavra de Cristo [I Co 1.5], tem a mente do Senhor [I Co 2.16] e tem, finalmente, o Espírito de Deus que sonda as profundezas do Senhor [I Co 2.10] e testifica ao nosso espírito sobre quem somos [Rm 8.14] e nos diz que tipo de atitudes são esperadas de cada um de nós [Tg 4.17]. Mas saber não basta, é preciso saber o certo e colocá-lo em prática [Tg 1.22].
Inutilmente o homem acha que seu conhecimento, sua sabedoria das coisas terrenas pode dar-lhe alguma chance de se tornarem capazes de escapar da ira de Deus, como fizeram os homens de Babel, talvez pela lembrança e terror de um novo dilúvio, esquecendo-se da promessa de Deus de não mais destruir a terra de maneira semelhante [Gn 9.14-15] como se uma torre de barro cozido e betume pudesse resistir a outro cataclismo igual, caso Deus o enviasse. Sua astúcia, na verdade, só os enreda cada vez mais, só faz deles cada vez mais merecedores da ação punitiva de Deus. É como jogar xadrez seguindo, ao pé da letra, um manual para jogadores iniciantes enfrentando, do outro lado, o autor do próprio manual que tem larguíssima experiência. Ele saberá com antecedência dezenas de lances possíveis, e o xeque-mate é apenas uma questão de tempo.
É inútil a astúcia dos homens porque Deus conhece todos os pensamentos dos homens [Sl 139.4] e as motivações de seus corações. Não é possível enganar a Deus. Engana-se a justiça dos homens. Mas é impossível fugir à justiça divina. O homem consegue enganar até a si mesmo com um pouquinho de racionalização, escondendo seus propósitos reais sob os mais diversos argumentos [Hb 4.12]. Mas é impossível fugir do julgamento de Deus, que prometeu esclarecer todas as coisas [Ec 12.14], no tempo próprio de Deus [I Tm 5.24]. Já mencionamos que, antes mesmo que a palavra nos chegue à língua, isto é, antes que organizemos nossas idéias, Deus já conhece tudo o que iremos falar ou fazer. Um bandido pode fugir às forcas da lei porque é capaz de surpreendê-la. Mas ninguém consegue surpreender a Deus. Deus não está sujeito ao imponderável. Para Deus não existem possibilidades – é ele quem determina o que há de vir.
Outro motivo pelo qual a astucia dos homens é inútil porque os pensamentos dos homens são fúteis, pequenos, vãos, e, geralmente, inconsistentes. Epicurismo ou estoicismo? Racionalismo ou materialismo? Para cada problema os homens costumam apresentar diversas soluções, mas todas conflitantes em algum ponto. O que é apontado hoje como a grande solução logo se torna obsoleto e problemático. A grande verdade logo é ultrapassada por outra verdade que a exclui. Sempre foi assim o que saiu das mãos dos homens. A verdade definitiva dos homens logo tem que se deparar com outras grandes verdades definitivas que são igualmente contraditórias, até que os homens chegaram à conclusão de que não há verdade absoluta. E tenho que concordar, com uma ressalva: não há verdade absoluta que tenha origem no homem. É só isso o que podemos esperar de alguém que é passageiro. Como esperar certezas de alguém cujo coração é enganoso e corrupto [Jr 17.9]. A análise da vida e do mundo à partir de um engano não pode, de maneira alguma, produzir certezas. Rebeldia contra o autor da verdade, mesmo que não gostemos dele e dela, não é capaz de levar o homem a resultados corretos. Paulo demonstra o quão o homem é inconsistente quando expõe, de maneira crua e dura, a sua própria luta contra o pecado. Ele queria ser o modelo para todos os que creem, e sabe ser este o propósito de Deus com sua chamada [I Tm 1.16], exortando os crentes a imitarem-no naquilo em que ele conseguia imitar a Cristo [I Co 11.1: Sede meus imitadores, como também eu sou de Cristo] de maneira que outros também se sentissem motivados a glorificarem a Cristo [Mt 5.16], mas, mesmo afirmando que já não é ele quem vive, mas Cristo vive nele [Gl 2.20] continua lutando contra o pecado sem consegui-lo vencer completamente em sua própria carne [Rm 7.23], mas prossegue, sabedor que a vitória é certa [Rm 7.24-25]. O sábio apóstolo Paulo, capaz de falar várias línguas, conhecedor do oriente médio e da Europa, educado aos pés de um dos maiores mestres do seu tempo, Gamaliel [At 22.3: Eu sou judeu, nasci em Tarso da Cilícia, mas criei-me nesta cidade e aqui fui instruído aos pés de Gamaliel, segundo a exatidão da lei de nossos antepassados, sendo zeloso para com Deus, assim como todos vós o sois no dia de hoje], destaque entre os religiosos de sua nação [Gl 1.14: E, na minha nação, quanto ao judaísmo, avantajava-me a muitos da minha idade, sendo extremamente zeloso das tradições de meus pais] tem de admitir que tudo isto é nada, apenas um fardo [Fp 3.8], até que finalmente prostra-se aos pés de Cristo, rende-se a ele e encontra o que a religiosidade e o nacionalismo não lhe deu: alívio para sua alma cansada [Mt 11.28].
Muito antes de Paulo as Escrituras já afirmavam aquilo que ele teve que aprender: as astúcias, os pensamentos, os caminhos do homem conduzem à morte [Pv 16.25], lembrando que somente em Cristo temos o caminho de vida [Jo 14.6]. A decorrência logica desta futilidade dos pensamentos, das realizações e caminhos dos homens é o fato de que é um terrível engano gloriar-se nestas coisas [Jr 17.5]. Paulo insiste em demonstrar que os atalhos são perigosos e inúteis, com lobos vorazes à espreita, ao lembrar que ninguém deve se enganar
GLORIANDO-SE EM HOMENS
Tudo o que os coríntios possuíam era uma dádiva de Deus [Tg 1.17]. Entretanto eles esqueciam-se disso e se digladiavam tentando pertencer a escolas de pensamento, como era comum entre os gentios que buscavam influência, poder e prestigio, dividindo-se ao afirmarem pertencer a Paulo, a Apolo, a Pedro ou a um Jesus que eles mesmos criaram, fazendo acepção de pessoas [I Co 11.33]. Paulo lhes pergunta: que é Paulo ou Apolo, ou Pedro? E a contundente resposta é: meros instrumentos para conduzi-los à fé. Como instrumentos, ou como servos, nada podiam possuir. Eram inteiramente de Cristo, e Cristo os havia dado aos coríntios. A ênfase de Paulo é que homem algum era senhor da fé, do coração e da consciência de quem quer que seja, como ousadamente declarou Lutero na dieta de Worms, no alvorecer da reforma protestante do séc. XVI, correndo o risco de ser morto ali mesmo. Ele, Paulo, e os demais apóstolos, não queriam ser senhores de ninguém, como ele faz questão de afirmar [I Co 8.6]. Pelo contrário, eles se sentiam como instrumentos nas mãos de Deus, prontos a se deixarem gastar [II Co 12.15] e até mesmo viam como uma dádiva serem considerados dignos de sofrerem por causa de Cristo [I Pe 4.13].
CONFIEMOS NO DOADOR, NÃO NAS DÁDIVAS
É um evidente engano confiar em qualquer das coisas deste mundo em busca de satisfação espiritual, como bem atesta Salomão em todo o livro de Eclesiastes. Jesus nos adverte que, mesmo que o homem venha a ganhar o mundo inteiro, o que é uma impossibilidade absoluta, isto de modo algum resolve o problema maior de sua alma [Mc 8.36]. Tudo o que há no mundo é insuficiente para o resgate de apenas uma alma [Sl 49.7]. Este resgate só pôde ser pago por um preço, o preço mais alto, o sangue do próprio filho de Deus vertido numa cruz de injustiça [Mc 10.45]. Ao mesmo tempo Paulo afirma que tudo é dádiva de Deus para o bem estar de seus filhos. A questão que precisa ser levantada é: porque aqueles que hão de herdar o mundo se esforçam por tornarem-se servos destas mesmas coisas? Porque os herdeiros sujeitam-se à servidão de outros homens e suas ideias fúteis, de coisas que ajuntadas em montões perderão seu brilho e valor, e serão deixadas para trás? Porque os herdeiros da vitória de Cristo [I Jo 5.4] sujeitam-se a servir, direta ou indiretamente, à serpente que já teve sua cabeça esmagada? Nem homens nem objetos devem ser entronizados na vida do cristão, nem mesmo o tempo deve ser motivo de preocupação para os servos de Deus. Paulo afirma que tudo nos é dado. O passado já passou, as coisas velhas já passaram, tudo, em Cristo, foi feito novo [II Co 5.17] e portanto, andemos em novidade de vida [Rm 6.4].
O presente, de bonança ou ansiedade, de tranquilidade ou de lutas, é enfrentado na certeza da companhia do general invicto [Mt 28.20] que conduz seu povo de vitória em vitória, de glória em glória [II Co 3.18]. Nenhuma coisa da vida deve desanimar o cristão [Rm 8.38-39], nem mesmo a iminência da morte assustava Paulo [Rm 8.36]. O cristão deve estar pronto a enfrentar escárnio e zombaria [I Co 4.13], prisões e acoites [II Co 11.23]. Paulo via a morte não como uma derrota, mas como o momento de completar a sua carreira e afirmar que guardou a fé [II Tm 4.7] e assim receber das mãos do soberano Senhor a sua coroa de glória. Homens, coisas, situações do seu tempo ou do porvir: para Paulo tudo isto nada mais era do que a manifestação do senhorio de Cristo, a experimentação de sua boa vontade na vida daqueles que a ele se sujeitaram, de mente e coração [Rm 12.2] e se humilharam sob a sua poderosa mão [I Pe 5.6]. Tudo é nosso, diz Paulo. Certamente era-lhe incompreensível ver aqueles que tinham o próprio Deus como Senhor correndo atrás de meras migalhas de homens que nada tinham. Como entender tamanha correria, tamanha insatisfação, se a Palavra diz que aquele que tem Deus como pastor não tem carência de mais nada [Sl 23.1], porque aquele que entrega o seu caminho ao Senhor e nele confia dele recebe tudo o mais, tudo o que realmente necessita [Sl 37.5]. Ter o reino de Deus é ter tudo, e tudo o que tem é mero acréscimo. Uma vez que o objetivo de Paulo é nos advertir sobre os perigos do auto engano, ele declara que nem os pensamentos dos homens, nem mesmo os próprios homens, por mais amados ou influentes que sejam, tem qualquer chance de atingir o alvo estabelecido por Deus [Rm 3.23]. Como não podem atingir por si mesmos, muito menos podem fazê-lo por outras pessoas. E nisto que os coríntios cometiam grave erro, porque
O ENGANO NÃO CONDUZ AO ALVO CERTO
Se compararmos a caminhada cristã como uma jornada para casa, como a bíblia o faz [Fp 3.20] chamando-nos de peregrinos [I Pe 2.11] então devemos ser criteriosos na direção que tomamos. Quem quer ir para o norte não pode tomar uma condução que se dirige para o sul. Qualquer pessoa com um mínimo de inteligência consegue entender que é um absurdo cometer um erro destes. Como atingir o alvo proposto pelo Senhor usando meios que ele não estabeleceu? Lembremos o exemplo da morte de Uzá [I Cr 13.7-11]. A arca deveria ser levada pelos levitas, não em um carro de boi. Quando Davi fez da maneira correta as coisas correram bem e ele conseguiu levar a arca para Jerusalém.
Enquanto os coríntios disputavam entre si a quem seguiriam, a quem declarariam pertencer Paulo lhes lembra que há um só Senhor. Eles não pertenciam nem a Paulo nem a Apolo. Não deveriam ser devotos de homem ou mulher alguma, por mais importantes que tenham sido na historia da redenção. Como nos dias de Paulo, ainda hoje os homens continuam errando nesta importante área de suas vidas, continuam seguindo a Pedro, a Paulo, a Francisco, Antonio, José ou Maria. Recentemente vi uma postagem na internet que descreve bem o tamanho da tolice que é dizer-se pertencente a homens e não ao próprio Senhor Jesus. Duas pessoas, uma cristã evangélica e outra seguidora de certo personagem do panteão de objetos de culto romano conversavam, e a romanista pergunta: porque vocês insistem tanto em dar exclusividade a Cristo e não Buscam também o favor de sua mãe. A outra pessoa responde: se você precisar de um médico, e for ao consultório dele, e ali encontrar não o medico, mas a mãe dele, você se deixaria operar por ela? É evidente que não, responde a primeira. Então, como esperar que outra pessoa que não o salvador resolva nossos problemas espirituais? Não foi Pedro, nem Paulo, nem Apolo, nem Maria quem morreu por nós [I Ts 5.9-10]. Foi Cristo. Nenhum deles recebeu o nome acima de todo nome [Fp 2.9]. Somente diante de Jesus os joelhos devem dobrar-se e confessá-lo como Senhor [Fp 2.10].
Foi o sangue de Cristo o preço pelos nossos pecados. Ele nos comprou, somos dele. Mesmo sua mãe, Maria, orientou [porque já não orienta mais, está morta] as pessoas a buscarem-no e atenderem ao que ele mandar. E sua palavra diz que em ninguém mais há salvação [At 4.12]. Só é verdadeiro cristão quem é de Cristo. Só é cristão de verdade quem está em Cristo Jesus [II Co 5.17]. Ser encontrado em Cristo é o mais sublime alvo da vida de um cristão [Fp 3.8]. Jesus nos assegura que cuida de cada um dos que o Senhor lhe dá [Jo 10.28], recebendo-o e protegendo-o com seu poder.
BÊNÇÃOS DE PERTENCER A CRISTO
Ser encontrado em Cristo, pertencer-lhe, tem também fortes implicações no relacionamento do cristão com Deus. Significa ser transformado, deixando de ser mera criatura [Mc 16.15] para tornar-se filho de Deus [Jo 1.12]. Significa ser retirado da condenação e ser colocado em lugares celestiais [Ef 2.6]. Significa deixar de ser filho da ira para tornar-se parte do reino do filho do seu amor [Cl 1.13]. Mas isso só acontece na vida daqueles que são verdadeiramente de Cristo. Quem é de Paulo vai pro lugar onde todos os que não são de Cristo vão. Quem é de Pedro também vai para o mesmo lugar. Quem é de homem ou mulher não vai habitar nos lugares celestiais, mas sim no lugar de condenação, o inferno porque só passa da morte para a vida quem é de Cristo [Jo 5.24]. Só é feita nova criatura quem está em Cristo Jesus. Não existe outro meio de pertencer a Deus. O único é aquele que o próprio Deus estabeleceu, que é através de seu filho. Quem está no filho, quem o tem, tem a vida eterna. Por isso devemos tomar todo o cuidado e nos empenharmos para não deixarmos o caminho do Senhor e andarmos por atalhos. Eles são tentadores, mas são desvios da rota [Sl 14.3] e levam os incautos por jornadas mais longas, difíceis ou inseguras. Errar o caminho é fruto do desconhecimento, da ignorância [At 17.30], mas abandonar o reto caminho é desobediência, tolice e impiedade [Hb 10.29].
Já recebi muitas propostas para ganhar prêmios para os quais jamais me inscrevi. Já ganhei casas e carros que nunca recebi – nem fui buscar. Já me propuseram meios de ganhar dinheiro sem sair de casa e praticamente sem trabalhar, mesmo agora, sendo pastor há mais de uma década. Já me convidaram para pirâmides financeiras, firmas de representação onde eu teria apenas que conseguir outras pessoas que trabalhariam para mim ou que, por sua vez, conseguissem outras pessoas que trabalhariam por elas ou que por sua vez, e assim indefinidamente. E não é só na área financeira que os tais atalhos me aparecem. Também há atalhos morais, espirituais, eclesiásticos. Convites para encontros, cursos, congressos e eventos que prometem a solução para todos os problemas da vida e da Igreja. Só falta o selo das organizações Tabajara. Se a igreja não cresce, dezenas de propostas surgem, todas revolucionarias e imediatistas, como se o evangelho estivesse errado nestes séculos todos e o método miojo lhe fosse superior. Mas sabemos que quem come só miojo fica flácido e fraco, exatamente como quem se alimenta de um evangelho vazio de poder.
O que você quer para a sua vida espiritual e emocional? Fim dos problemas de relacionamento? Eu os tenho, queria que eles acabassem. Fim da letargia, apatia e falta de crescimento da Igreja? Eu quero vê-la crescer, quero que a Igreja logo se divida por falta de espaço, e não por falta de comunhão. Os crentes não estão colocando em prática suas dores e talentos? Eu quero uma igreja absolutamente amadurecida espiritualmente. Só que já sei que tudo isto não será resolvido num evento mágico de fim de semana, ou num curso rápido de 4 passos para " " [deixo aqui, propositalmente, o espaço em branco para você preencher como melhor lhe apetecer. O problema é que, embora concordemos com Paulo quando afirma que o crente anda por fé e não por vistas [II Co 5.07] acabamos sendo como mariposas atraídos pelo brilho da lâmpada, corremos em busca do que vemos e tocamos. Temos enorme fascinação pelo instantâneo, pelo caminho mais curto, mais fácil, menos íngreme. Queremos atingir as alturas, mas queremos ir de elevador. O caminho da obediência é difícil, e ao lado dele há outros caminhos, e muitos alegres caminhantes que nos parecem andar mais rápido. Não é esta a sensação que temos no transito congestionado, na fila do banco ou supermercado? Sempre haverá quem nos convide para o caminho mais fácil, e há muitos doutores em facilidades ao nosso redor. Chamo a isso de cultura do analgésico. Porque perder tempo tratando das causas se os sintomas podem ser aliviados com um simples Doril? Porque não ir direto ao alvo pretendido, mesmo passando por tudo o que estiver à nossa frente? Porque não comprar o diploma ao invés de assistir anos de aulas enfadonhas e fazer provas difíceis? Nossa geração é imediatista e é, também, preguiçosa. Preferimos o fast food ao trabalho de preparar o alimento quotidiano. Preferimos o café solúvel ao café torrado em casa. Queremos que alguém faca a resenha do livro que deveríamos ler. E espiritualmente queremos que alguém ande o caminho, que cresça, e que, depois nos leve nos ombros em 4 ou 5 passos rápidos para se chegar lá.
UM SÓ CAMINHO, VÁRIOS ATALHOS
É importante sabermos que não há atalhos para alcançar o alvo que Deus nos propôs. Há um caminho. Um só caminho. E este caminho não é seguindo homens influentes – seguir a homens é um atalho que vai dar no inferno. A vida espiritual de Paulo só me serve enquanto eu aprendo com ele como viver a minha própria vida. Seus exemplos são importantes, mas é a minha vida que eu devo viver. A obediência de Moisés, de Abraão e de tantos outros não me traz benefício além de me orientar como obedecê-lo também. As coisas da vida não são empecilhos, mas instrumentos para nosso crescimento. As tribulações fortalecem o cristão, provam sua fé [Tg 1.3], e, por isso, devemos suportá-las pacientemente [I Pe 2.20] e com bom ânimo.
Nossa necessidade de alimento espiritual só pode ser satisfeita com um exame das Escrituras [Jo 5.39], analisando-a criteriosamente como os bereanos [At 17.11] e não bebendo largos goles que nos são oferecidos por gurus carismáticos, que falam alto e com empolgação, mas sem conteúdo e sem vida. Seus ensinos são tão firmes quanto barracas de palha edificadas na areia da praia. O caminho do cristão é seguir após Jesus [Lc 9.23], mas isso exige abrir mão de tudo, deixar tudo para lado e estar disposto a nada ter além do sobrenome cristão. Não há mágica, como descobriu Simeão, o mago enganador [At 8.18-19], mas que era enganado por satanás em seu caminho de perdição [Pedro, porém, lhe respondeu: O teu dinheiro seja contigo para perdição, pois julgaste adquirir, por meio dele, o dom de Deus. Não tens parte nem sorte neste ministério, porque o teu coração não é reto diante de Deus].
Há caminhos que parecem direitos aos homens, mas não são os caminhos de Deus. Só o caminho de Deus conduz à vida. E este caminho é guardar os mandamentos de Jesus [Jo 15.14]. Mesmo que os outros caminhos lhe pareçam direitos [Pv 14.12] ou, como preferimos, mais diretos, mais rápidos, mais fáceis. Na caminhada espiritual não é o caminho mais seguido que é o melhor. O caminho que tem mais gente, o mais largo é, na verdade, o caminho dos muitos chamados, mas não é o caminho dos que foram escolhidos [Mt 22.14] pela vontade graciosa de Deus [Ef 1.4-5].
Nosso caminho é mais alto, mais íngreme, mais estreito, com menos gente. E às vezes só não estaremos sozinhos porque o próprio Senhor nos faz companhia [Mt 28.20]. Evitemos os atalhos porque eles não são os caminhos de Deus. Para o céu não existem atalhos. É como fazer musculação: alguns fazem exercícios constantes, durante um período longo, outros preferem anabolizantes. Os resultados dos primeiros são duradouros, mas os anabolizantes tem matado muitos do coração e, também, deixado pessoas flácidas, impotentes. Para dizermos de outra maneira: shows, marketing, efeitos visuais ou emocionalismo não produzem o que só a cruz de Cristo é capaz de produzir. Produz igrejeiros, mas não cristãos. Cristo nos chama para tomarmos a nossa cruz e segui-lo [Lc 9.23], e para isso não haverá substituto. Sem a cruz não há santidade. Sem a cruz não há salvação. Andar por outros caminhos é tentar anular a cruz, é anular a cruz para si, isto é, não usufruir de seus efeitos, de sua eficácia [I Co 1.17]. Já dissemos que o homem não mudou absolutamente nada desde os tempos dos faraós – também não mudou desde os dias do apóstolo Paulo. Se o homem não mudou em sua essência, Deus também não [Ml 3.6]. Seu propósito eterno continua sendo executado exatamente como planejado, sem necessidade de ajustes. Não adianta tentar alternativas, caminhos mais fáceis, atalhos. Não imaginemos que possamos zombar de Deus: colhemos aquilo que plantamos [Gl 6.7], chegamos ao fim dos caminhos que escolhemos, a menos que percebamos o erro e tornemos ao caminho certo.
Mas existem dois perigos que devem ser evitados, aos quais devemos estar muito atentos: a pressa, mesmo no caminho certo, pode produzir danos. Numa viagem o excesso de velocidade pode produzir feridas, tanto no bolso quanto no corpo. Quando nos referimos à agricultura, há tempo próprio para todas as coisas. Há tempo de arar, e tempo de semear. A pressa em plantar, fora do tempo ou sem o esforço do arar, pode produzir plantas fracas e com baixa produtividade. E era exatamente isso o que estava acontecendo em Corinto: um cristianismo superficial, embora de aparência relativamente produtivo, pois abundavam em manifestações extraordinárias, entretanto, ali não se encontrava o mais excelente caminho: o amor [I Co 12.31]. Faltava o exercício do amor que identificava o verdadeiro crescimento espiritual. Mais uma vez quero lembrar as palavras de Jesus: devemos nos esforçar por entrar pela porta estreita [Mt 7.13], andando no caminho estreito que conduz à vida. Não confunda ser liderado por homens que Deus escolhe e capacita por confiança cega à parte da verdade escriturística, mesmo que antenticada por sinais e maravilhas [II Ts 2.9] e com o poder de satanás enganando os incautos [Rm 16.18].
NÃO CONFIE NAS COISAS DESTE MUNDO
É importante que tenhamos em mente que não podemos confiar nas coisas deste mundo, sejam elas materiais, filosóficas, morais ou religiosas. Todas estas coisas são passageiras, e o que e passageiro não pode produzir o eterno. O material não é capaz de produzir qualquer bem espiritual. Quando abandonamos nossa confiança em coisas deste mundo, finalmente estamos prontos a lembrar a verdade fundamental que Paulo se esforçava por instruir os coríntios: eles pertenciam a Cristo, pois foi Cristo quem morreu por eles. Foi Cristo quem venceu a morte. Foi Cristo quem ressuscitou como penhor da nossa ressurreição [Ef 1.14].
Concluindo, enfatizo uma advertência e um apelo. Lembro aos amados que é imperativo pertencer a Cristo, estar em Cristo para poder estar em Deus só pode ser salvo quem recebeu Cristo como seu senhor. Se você está em Cristo tome cuidado para não escorregar, desviando-se pelos atalhos, porque você pode vir a sofrer dano. Como apelo me dirijo àqueles que ainda não estão no caminho, rogando-lhes que atendam ao chamado do Senhor através de seus servos [Lc 14.23]. Ouça a voz do meigo salvador que ainda está chamando para ir a ele [Mt 11.28], fazendo parte do seu aprisco que ainda tem as portas abertas [Jo 10.9]. Eis que hoje é o tempo sobremodo oportuno [II Co 6.2]. Qual será a sua estrada? Você crê em Jesus como seu único e suficiente salvador? Confessa Jesus como seu Senhor? [Rm 10.10]. Entregue definitivamente sua vida nas mãos de Cristo para que não venhas a perdê-la [Mt 16.25].
2 comentários:
Sábias palavras!
Shalom Adonai!!!
...sábias palavras!
Shalom Adonai.
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